segunda-feira, 10 de março de 2025
Kasa Branca
"Kasa branca", de Luciano Vidigal (2024)
Escrito e dirigido por Luciano Vidigal, "Kasa Branca" tem como um dos produtores, Cavi Borges, o midas do cinema independente no Brasil. O filme ganhou os troféus Redentor de melhor direção e fotografia. O drama me fez lembrar muito de "A casa de Leo", dos diretores Luciana Bezerra e Gustavo Melo. Ambos são frutos de cria do audiovisual da comunidade do Vidigal, e trazem no elenco boa parte de atores do Nós do Morro: Guti Fraga, Roberta Rodrigues, Babu Santana. E o mais importante: sem deixar de lado a criminalidade e a violência contra os moradores das comunidades, constantemente achacados por policiais corruptos, os filmes falam sobre altruísmo, a rede de apoio de amigos e moradores das comunidades onde moram.
O filme foi rodado em Chatuba, Mesquita, e também no Vidigal. Dé (Grande Jaum) é um jovem que mora com sua avó, Dona Almirinda (Teca Pereira). O pai de Dé (Babu Santana) está distanciado dele e da mãe. Almirinda está com Alzheimer. Eles estão sem pagar aluguel, estão com dívidas, e Dé não pode trabalhar, pois não tem com quem deixar a avó. Ele conta com a ajuda dos amigos Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco) para levara. avó para os lugares onde ela mais amava estar, através de fotos encontradas.
O filme encanta pelo olhar humanista sobre os personagens, em um retrato neo realista de pessoas que batalham pelo seu cotidiano. Com uma fotografia que evoca os primeiros trabalhos de Spike Lee, e por isso tendo recebido o mais que merecido prêmio de iluminaçãono Festival do Rio, "Kasa Branca" aponta a sua câmera para a urbanidade do subúrbio, captado com lentes apaixonantes e uma trilha sonora aconchegante e melancólica.
Patrick
"Patrick", de Gonçalo Waddington (2019)
Um filme sobre pedofilia nunca será um passatempo para quem for assistir. "Patrick" é cruel, trágico, um filme sobre infâncias perdidas. Co-produzido por Portugal e França, o filme é a estréia de Gonçalo Waadington na direção, e ele co-escreveu o roteiro. Livremente inspirado no caso do menino do menino Rui Pedro, desaparecido em 1998. O filme começa em Paris: Patrick (Hugo Fernandes).tem 20 anos. Ele namora um homem mais velho, Thomas, em um apartamento luxuoso. Patrick frequenta baladas e flerta com mulheres mais jovens. Um dia, quando Thomas sai, Patrick decide fazer uma festa regada à drogas no apartamento. A polícia é acionada e Patrick vai preso. Um investigador protuguês o liberta da prisão, dizendo que ele e a família dele estavam à procura dele por 12 anos. Ao chegar na casa de sua mãe, em uma área rural de Portugal, Patrick é chamado de Mario por sua mãe. Mas tanto a mãe quanto Patrick já não se reocnhecem mais. Patrick constantemente liga para Mark, o pedófilo que o sequestrou, querendo retornar. Mas Mark não o quer mais, ele já poassou da idade.
De ritmo lento, o espectador vai aos poucos entendendo as situações do cotidiano de Patrick; as sessões de depilação que ele faz é para ficar com o corpo liso e aparência de menino, para que Mark, o pedófilo, o queira de volta. As relações com as mulheres, envolvendo violência, é um retrato do que ele sofreu, e se tornou vítima da síndrome de Estocolmo. Mas a imagem mais dolorosa, é quando Patrick encontra na casa de Mark um menino de 8 anos, e tem uma conversa com ele. Ali, o filme mostra ao que veio, em desempenhos fortes de todo o elenco.
Fuga da meia noite
"Mideunaiteu", de Oh-Seung Kwon (2021)
Thriller de suspense sul coreano, na linha de "The chaser", ou seja, tenso e repleto de reviravoltas que mexem com os nervos do espectador. Toda a ação acontece em uma noite de Seul. Um serial killer, Do Shik (Wi Ha Joon) vaga pela noite com a sua van, buscando mulheres indefesas para matá-las. Ele vê mãe e filha com deficiência auditiva, Kyung Mi (Jin Ki-joo) e a mãe, (Kil Hae-yeon). Quando ele vai atrás da mãe, ele cruza com uma garota, So Jung (Kim Hye-Yoon), e decide ir atrás da jovem. Kyung Mi acaba testemunhando a tentativa de So Jung, que foge. O irmão de So Jung, o policial Tak So (Park Hoon), está preocupado que sua irmã ainda não chegou em casa. Acontece que o serial killer decide ir atrás da surda Kyung Mi, e a noite vira uma jornada de caça de gato e rato.
Para quem gosta de um thriller, o filme cumpre o que promete. Mas quem se irrita fácil com decisões estúpidas dos personagens, talvez melhor nem assistir ao filme Toda a hora tem uma situação irritante, e o desfecho então, é fora do comum e nada plausível. O elenco é ótimo, além do ritmo e da direção das cenas de ação.
Blue night
"Blue night", de S.P.Bhaskaran (2018)
Curta Lgbtqiap+ indiano, "Blue night" apresenta dois melhores amigos, interpretados por Praveen Khumar e Mohammed Jasir. Os personagem não têm nome. Os dois dividem o quarto, que está zoneado. Um dos rapazes diz que tem que arrumar o quarto, pois sua namorada chegará no dia seguinte pela manhã. O rapaz diz ao outro que ele e a namorada perderão a virgindade. OS amigos arrumam toda a bagunça. No final, para comemorar, eles colocam uma música e dançam. E na dança, seus corpos se aproximam, e o desejo também aflora.
Um filme simples e de orçamento muito baixo, "Blue night" aposta na simplicidade e no custo zero para trazer uma história de amizade que s etransforma em revelações: o amor de um amigo pelo outro. Os atores são corretos, a trilha sonora eletrônica ajuda a dar uma atmosfera de sedução.
domingo, 9 de março de 2025
Pedra, papel e tesoura
"Piedra, papel y tijera ", de Martín Blousson e Macarena García (2019)
Originalmente uma peça de teatro escrita e dirigida por Macarena García, com as atrizes Agustina Cerviño (Magdalena) e Valéria Giorcelli (Maria José). A peça se chamava "Sangre di mi sangre" e a sua dramaturgia e estrutura faz referências a dois clássicos do terror: 'O que teria acontecido com Baby Jane?" e "Louca obsessão". A própria MAcarena adaptou para o cinema, e decidiu dirigir junto de Martin Blousson, ambos estreando na direção cinematográfica. Macarena manteve as mesmas 2 atrizes, mas substituiu o ator Matias Marmorato por Pablo Sigal, no papel de Jesus.
O filme acontece todo em uma única locação, a casa de dois andares dos irmãos Maria José e Jesus, em Buenos Aires. A casa pertenceu ao pai, recém falecido. Jesus quer ser cineasta e grava com sua irmã uma versão pessoal de "O mágico de Oz", com Maria no papel de Dorothy. Um dia, Magdalena, a meia irmã de ambos, que mora na Espanha, chega para reclamar a parte de sua herança. Os irmãos não querem vender a casa. Ao ir embora e prometendo acionar um advogado, Magdalena cai da escada. Ao acordar, se v6e em uma cama, com os pés quebrados, sme poder andar. Maria José e Jesus passam a provocar e torturar Magdalena com jogos sádicos.
Os diretores conseguiram dar um toque de cinema a um texto essencialmente teatral e claustrofóbico. Os 3 atores contribuem muito para manter o interesse do espectador, e o texto mantém a tensão e a curiosidade de como irá acabar. É um filme sobre perversidade, ambição, doenças mentais e violência doméstica, provocando traumas nos filhos.
Free ride
"Free ride", de Shana Betz (2013)
Em 1994, a atriz Ana Paquin, então com 11 anos, fez história ao se tornar a atriz mais jovem a ganhar um Oscar de coadjuvante por "O piano". Em "Free ride", já aos 28 anos de idade, Paquin produz e protagoniza "Free ride", um drama denso baseado na história real da roteirista e cineasta Shana Betz. Em 1978, Christina (Ana Paquin) , uma mãe solteira de Ohio, escapa de um relacionamento abusivo com suas duas filhas, a adolescente MJ (Liana Liberato) e Shell (Ava Acres), de sete anos (alter ego da diretora). Ela decide viajar de carro até a Flórida, onde a amiga Sandy (Drea de Matteo) a aguarda para ajudá-las. MJ está cansada de ver sua mãe se envolvendo em relacionamentos com homens tóxicos e de se deslocarem constantemente. Elas moram em um motel e Christina vai trabalhar como faxineira de ricas mansões. Após essa etapa, Sandy à apresenta ao traficante local, para que Christina possa servir de traficante. A vida da família passa a mudar: Elas moram em uma casa, estudam em boas escolas. MJ acaba se deixando envolver pelas baladas e bebidas.
O filme é correto e traz a força de uma protagonista feminina para batalhar pela felicidade de suas filhas. Nos créditos finais, a verdadeira Christina dá depoimento dizendo que entrar no tráfico foi a única opção que ela teve para dar dignidade às suas filhas, e que não se arrepende. Ana PAquin e as jovens atrizes estão bem, e é uma pena que o filme não tenha tido boa recepção, um esforço hercúleo de Ana Paquin de dar uma guinada à sua carreira, muito presa à sua imagem de atriz mirim.
Como era gostoso o meu francês
"Como era gostoso o meu francês", de Nelson Pereira dos Santos (1971)
Clássico do cinema brasileiro, o filme, de 1971, chegou a ser censurado pelo governo por conta de sua nudez total do elenco interpretando indígenas. Com a justificativa de que nudez de inígena não era pornográfico, o filme acabou sendo liberado para maiores de 18 anos. Rodado em Paraty, com fotografia de Dub Luft, roteiro de Nelson Pereira dos Santos e diálogos em Tupi escritos por Humberto Mauro, o filme foi premiado em Brasília com Melhor Roteiro , Melhor Diálogo e Melhor Cenografia.
Em 1594, um mercenário francês interpretado pro Arduíno Colassanti é capturado pelos Tupinambás, que são amigos dos portugueses. A tribo rival, os tupiniquins, são amigos dos franceses. Os tupinambás não acreditam que o homem seja francês e ele é condenado a se devorado pela tribo, após 8 luas, segundo a tradição. Nesse período, ele é entregue à Seboipepe (Ana Maria Magalhães), sendo seu escravo e com quem se relaciona. O francês passa a adquirir hábitos da tribo: raspando a cabeçam andando nu e falando a língua deles.
O filme começa como uma farsa, e vai aos poucos trazendo um naturalismo quase documental, ao retratar o cotidiano do francês se adaptando à cultura da tribo. É um filme ousado, tanto pela nudez total do elenco, quanto pela ausência de diálogos, substituídos por letriros no estilo cinema mudo.
De repente, no último verão
"Suddendly, last summer", de Richard Eyre (1993) Em 1959, foi lançado o clássico drama "De repente, no último verão", baseado em peça de Tenesse Willians. O filme, dirigido por Joseph L. Mankiewicz, traz no elenco Elizabeth Taylor, Katherine Hepburn e Montgomery Clift em um embate psicológico sobre homofobia na sociedade conservadora americana de New Orleans de 1937. Essa versão de 1993 é produzida pela BBC e traz Maggie Smith, Rob Lowe e Natasha Richardson nos papéis de Violet, Dr Cokrowiz e Catharine. Violet é uma viúva de uma família tradicional de New Orleans. ela conversa com um médico sobre a morte de seu querido filho Sebastian, um poeta morto em circunstâncias misteriosas. A única testemunha da morte foi Catherine, que ficou catatônica e por isso, está internada em uma clínica psiquiátrica. Violet quer que façam lobotomia em Catherine, para apagar de sua memória o ocorrido com Sebastian. Em troca, ela fará uma contribuição financeira ao hospital. O médico envia o jovem médico Dr Cukrowitz, que após ouvir o relato assustador de Catherine, se opõem à lobotomia. Infelizmente, essa adaptação reforça a sua origem do texto teatral e pesa demais na condução da narrtiva, pouco cinematográfica. O resultado é um filme extremamente entediante, e mesmo com Maggie Smith e Natasha Richardson, o filme não alcança momentos de cumplicidade do espectador, muito também pela fragilidade de Rob Lowe em cena. A complexidade do personagem, composto com firmeza por Montgomery Clift, pede muito de seus conflitos com Lowe, que se mostra ainda sem maturidade para tal desafio.
Três amigas
"Trois amies", de Emanuel Mouret (2024)
Concorrendo na principal premiação do Festival de Veneza 2024, "Três amigas" é um drama sobre três melhores amigas na faixa dos 30/40 anos, e seus problemas com relacionamentos amorosos, sejam com seus maridos, amantes ou flertes. O tempo todo, fiquei pensando em "Hannah e suas irmãs', de Woody Allen, por conta do protagonismo feminino envolvendo amores e traições.
Em Lyon, onde a história acontece, estão as amigas Joan (India Hair), Alice (Camille Cotin) e Rebecca (Sara Forestier). Joan e Alice são professoras de ensino médio da mesma escola e seus relacionamentos estão por um fio. Ali, também trabalha como professor o marido de Joan, Vitor (Vincent Macaigne). Alice é casada com Eric (Gregoire Ludig). Rebecca é artista plástica e tem como amante, o marido de Alice, Eric. Após uma discussão entre Joan e Victor, esse sai para uma bebedeira, bate o carro e morre. Um novo professor entra em seu lugar, Thomas (Damien Bonnard). Ele é divorciado e se interessa por Joan, mas enlutada, ela evita qualquer envolvimento amoroso.
O filme é vendido como comédia dramática, mas eu não enxerguei nenhum momento mais leve que pudesse levar à um sorriso que fosse. Mesmo com um forte elenco, quase não me vi envolvido nas histórias dessas mulheres e respectivos homens que passam por suas vidas. Existe uma melancolia que percorre o filme, trazendo umas tristeza nessas vidas de mulheres que tinham um sonho, mas que se deixam levar por um ideal de amor romantizado. A bela fotografia e as locações de Lyon mantêm o interesse do espectador.
sexta-feira, 7 de março de 2025
No limite do destino
"Higan no futari", de Yusuke Kitaguchi (2021)
Co-escrito e dirigido pelo cineasta japonês Yusuke Kitaguchi, "No limite do destino" é seu filme de estréia. O filme concorreu na Mistra de São Paulo e outros importantes festivais. O filme é um drama minimalista sobre abandono e sobre reconexão, mas de uma forma amargurada e abusiva.
Otose Nishizono (Meiri Asahina) acaba de fazer 18 anos. Abandonada pela mãe e pelo padrasto quando criança, ela cresceu no orfanato. Emancipada, ela decide morar sozinha. Otose conseguiu um emprego em um hotel como camareira. A mãe de Otose, Yoko (Akie Namiki), surge no orfanato em busca de Otose. O gerente se nega a dar informações, mas Yoko o seduz. AO encontrar a filha, Yoko quer o seu salário, mantendo a relação abusiva.
Um filme denso e que traz uma mãe que se aproveita da filha para benefícios próprios. É um olhar cruel sobre maternidade e amor entre familiares. Não é um filme fácil de se assistir. O ritmo do filme também é bem lento. Existem sub-tramas paralelas que desviam o foco principal do filme. As atrizes são boas, e por elas vale assistir ao filme.
Notre monde
"Bota jone", de Luana Bajrami (2023)
Concorrendo no Festival de Veneza 2023, "Notre monde" é uma co-producao Kosovo e França e fala sobre uma geração d ejovens mulheres que cresceu sob a guerra de Kosovo e agora, já adultas, decidem sair de sua cidadezinha, na área rural, e estudar na capital, Pristina. Cansadas da vida conservadora que somente lhes reserva casamento e cuidar d acasa, elas decidem que querem estudar numa faculdade. Ao chegarem lá, descobrem que alunos e professores estão envolvidos em movimento pela independência do país. Zoe (Elsa Mala) e Volta (Albina Krasniqi) testemunham o desemprego, o desejo de luta por uma vida melhor. Mas Zoe e Volta acabam decsbrindo também, que mesmo se conhecendo desde crianças, pela 1a vez, elas têm ambições distintas.
Um bom drama, com ótima reconstituição de época , trilha sonora que reproduz o início da chegada da cultura ocidental no país (toca "Gorillaz" em determinando momento). As duas atrizes são ótimas e ajudam a dar veracidade às suas personagens repletas de camadas. O roteiro é co-escrito pela diretora Luana Bajrami, livremente inspirado em sua história de despertar político e social do seu país.
Studio one forever
"Studio one forever", de Marco Saltarelli (2023)
Documentário que narra a história de uma das primeiras night clubs gays de Los Angeles. O filme começa com letreiros alertando que em 2018, o prédio onde outrora funcionou a 'Studio one" havia sido colocado à venda e tinha uma possibilidade de se transformar em um hotel de luxo e retsuarante. Um grupo de ativistas lgbt se une para impedir a venda e tombar o prédio. O filme narra a origem do prédio na West Hollywood: no início do século 20, o prédio abrigava a Mitchel Camera Company, que fabricou as primeiras câmeras de filme de Hollywood. Em 1968, o edifício foi comprado e transformado na boate The Factory, e se tornou uma popular discoteca dos anos 1960, frequentada por celebridades de Hollywood. O Studio One foi fundado no mesmo local em 1974 e funcionando até 1993. A boite passou por movimentos lgnt, pela Aids, e ajudou a lançar muitas celebridades, como Roseanne Barr e Rosie O'Donnell, além de serem palco de shows de Liza Minelli e Eartha Kitt.
Para quem já viu documentários sobre a "Stdio 54" de Nova York, é um bom paralelo, pois os temas de pano de fundo são os mesmos: disco music, drogas, sexo, alienação e a idéia de que, lá dentro, o mundo era hedonista e tudo era permissivo.
A raiva
"La rabia", de Albertina Carri (2008)
Premiado drama argentino, co-produzido por Pablo Trapero, escrito e dirigido pela cineasta Albertina Carri, em co-produção Argentina e Holanda. O filme é absurdamente angustiante e chocante, não somente pelas cenas de mortes reais de animais ( o abate de um porco jorrando sangue pelo pescoço é brutal), como por cenas envolvendo nudez de uma menina de 8 anos, e mais, com crianças testemunhando um casal fazendo sexo. O filme também apresenta cenas de violência doméstica, com uma criança apanhando com rigor de um pai bruto, lembrando a obra prima dos irmãos Taviani, "Pai patrão". O título do filme tem duplo sentido: La rabia é o nome do município nos pampas argentinos, aonde acontece a história, e também representa simbolicamente a raiva embutida dentro dos personagens masculinos do filme, numa representação da masculinidade tóxica.
Duas famílias de agricultores são vizinhos: de um lado, o casal Poldo e Alejandra, pais da pequena Nati, que decidiu ficar muda. Do outro lado, Pichón, pai solteiro, e seu filho Ladeado. Pichón constantemente bate em Ladeado e o obriga a trabalhar. Ladeado descarrega sua raiva matando pequenos animais. Nati toda vez que decide chamar atenção, grita e fica nua perante as pessoas. Alejandra, por sua vez, é amante de Pichón, e eles fazem sexo sadomasoquista.
A violência está em todos os lados. Na relação abusiva entre marido/esposa e pai/filho. Nos filhos que testemunham a mãe fazendo sexo. No sofrimento dos animais. A diretora Albertina Carri não economizou nas cenas de sexo, viscerais, e nas cenas de morte de animais, e foi com muita coragem, apresenta um filme cru e polêmico. Os atores se entregam nas cenas de sexo, mas o que me chama mais atenção, é a participação das crianças no filme, e de que forma os pais dos atores mirins permitiram a participação deles no filme.
quinta-feira, 6 de março de 2025
Carcaça
"Carcaça", de André Borelli (2025)
O cinema independente e autoral brasileiro merecem ter seu valor destacado. Filmes que não obtiveram recursos financiados por editais e concursos e que foram totalmente produzidos na marra, com recusrso próprios ou através de ação entre amigos. Dois filmes trazem como ponto de partida, propostas muito semelhantes, mas de resultados e narrativas de gênero distintas. Em 2023, 'Fluxo", de André Pellenz, com Gabriel Godoy e Bruna Guerin. Em 2025, "Carcaça", de André Borelli, com Carol Bresolin e Paulo Miklos. Ambos os filmes são em preto e branco. Ambos os filmes acontecem na pandemia, com o casal principal confinado e obrigado a co-existir e co-habitar o mesmo espaço e claro, revelações e segredos surgem à tona, desestruturando e fraquejando o relacionamento. "Fluxo" é um drama. "Carcaça" aposta no thriller psicológico e na fantasia delirante, no pesadelo visto como metáfora sobre um relacionamento abusivo, onde a mulher mais jovem, Livia, é objetificada, é motivo de ciúmes, tem a sua liberdade e independência abafada pela toxidade e desconfiança extremada e paranóica de Davi.
O cineasta André Borelli escreve, dirige produz e edita o filme "Carcaça". É um filme que pode dar gatilhos para quem vive relacionamento abusivo. Carol Bresolin aposta em um trabalho visceral ainda inédito. Paulo Miklos revisita os tipos psicóticos e violentos já visto em outros trabalhos. Senti falta no roteiro de entender porqu6e esse casal existe e mora junto. O que Livia viu em Davi para querer ter uma história de vida com ele? Dinheiro? Conforto? Admiração?
Mickey 17
"Mickey 17", de Bong Joon Ho (2025)
Após a grande repercussão do mega sucesso de "Parasita", de 2019, o mundo inteiro estava na expectativa do filme seguinte do sul coreano Bong Joon Ho. E ele chegou em 2025, quando "Mickey 17" estreou no Festival de Berlim. O filme dividiu opiniões, por conta do grande burburinho e a obrigação de ser um filme tão bom ou melhor que "Parasita". Adaptado do romances escrito por Edward Ashton, de 2022, "Mickey 7", o filme, não tem como, faz relembrar dos filmes de ficação científica de Bpng Joon Ho: "O expresso do amanhã" e "Okja". Do 1o, ele traz o mundo distópico e angustiante, sobre super população e castas sociais. Do 2o, ele traz as fofas criaturas que são alvo de obsessão comestível dos humanos, uma crítica ao consumo de carne e matança de animais. A isso, junte o clássico filme "Lunar", de Duncan Jones, de 2009, um filme espetacular sobre clones no espaço, com Sam Rockwell lutando contra o seu próprio clone.
No futuro, Mickaey Barnes (Robert Pattinson) e seu amigo Timo (Steven Yeun) se endividam após um negócio que não deu certo. Devendo a agiotas,
Mickey se oferece para uma vaga em uma missão de colonização espacial para o planeta Niflheim, liderada pelo político Kenneth Marshall (Mark Ruffalo), casado com Ylfa (Toni Colette). Sme ler todo o contrato, mickey acaba se oferecendo como cobaia para uma aventura onde ao morrer, ele será clonado, para fim de expedição ao planeta, habitado por criaturas chamadas de "creepers" pelo político. Já na sua 17a versão, Mickey é dado como morto e o clone 18 surge, Mas o 17 não morreu, e ao retornar, os dois se encontram. Pela regra da clonagem, dois clones não podem co-existir, e um deve esterminar um ou outro.
Eu saí do filme sem saber se gostei ou não do filme. Tem cenas muito boas, divertidas e até emocionantes, mas tem outras que me fizeram balançar a cabeça e achar tudo muito estranho e bizarro. E essa sensação eu já tive em "Okja": fico coma impressão que a caricatura nas atuações dos atores sul coreanos, funciona dentro do universo asiático. Quando atores ocidentais tentam reproduzir esse tipo over the top e muitos tons acima, a performance me distraí e me chama muito a atenção. E isso acontece principalmente com o personagem de Mark Rufallo, certamente em seu papel mais histriônico. Ainda assim, é um filme que vale ser visto pela ousadia de Bong Joon Ho de sempre apostar em sua narrativa.
quarta-feira, 5 de março de 2025
Uma noite não é nada
"Uma noite não é nada", de Alain Fresnot (2019)
O cineasta francês radicado em São Paulo Alain Fresnot e o ator Paulo Betti são bastante versáteis nos gêneros que trabalham. Fazem drama, comédia, filmes históricos, policiais. Ambos trabalharam na comédia policial "Ed Mort", de 1997, e agora repetem a parceria no denso drama "Uma noite não é nada". O filme,e scrito por Sabina Anzuategui, Jean-Claude Bernardet e Alain Fresnot é ambientado em 1985 e traz como pano de fundo temas muito polêmicos, como depressão, suicídio, Hiv, estupro e relação tóxica entre professor e aluna. O filme é bem controverso e é um bom motivo para se assistir em grupo e ser debatido na sequência.
Agostinho (Paulo Betti) é um professor de física de um supletivo preparatório para vestibular. As suas aulas são à noite. Ele é casado com a dona de casa Januária (Claudia Mello), e pais de uma filha casada com o uruguaio Abril (Daniel Hendler). Quando Agostinho presencia uma aluna, Marcia (Luiza Braga) se masturbando em sala, nitidamente o seduzindo, Agostinho fica obcecado por ela. Imediatamente ele se apaixona por Marcia, uma jovem que traz uma nova chama na vida do depressivo e entediado Agostinho. Em um relacionamento abusivo e violento, Marcia se droga e se mostra ser promíscua. E mais: ela diz ser soropositiva. Agostinho decide se contaminar com o sangue de Marcia.
Dois diálogos foram bastante sintomáticos para mim: "Marcia (ao se picar com uma seringa: "Voc6e já viu?". Agostinho: "Só em cinema". Em outro momento, Marcia: Eu tenho Aida". Agostinho: "eu sou velho. Te amo".
É problemático quando um personagem decide se matar usando sangue contaminado por HIV. Certamente essa situação merecia um bom debate entre personagens, mas isso não acontece. De positivo, o filme traz uma fotografia dessaturada do mestre Pedro Farkas, excelente reconstituição de época e o apoio do elenco, que abraçou um filme ousado, trazendo talento e vibração aos personagens, em complexas camadas emocionais.
In The Shadow Of the Cypress
"(Dar saaye sarv)", de Hossein Molayemi e Shirin Sohani (2023)
Vencedor do Oscar de curta animação 2025, o filme iraniano "In the shadow of the cypress" levou mias de 7 anos para ser realizado, por questões financeiras e pressão do próprio governo pela temátia da história.
Um ex-capitão da marinha vive traumatizado por conta de um acidente na embarcação que ele comandava e onde morreram diversos passageiros, incluindo uma criança. Ele mantém a embarcação ancorada no mar. A filha dele mora junto, mas ela sofre com os contantes surtos do pai, que quebra quase tudo em casa. A filha decide ir embora, mas ao sair, ela se depara com uma baleia encalhada. Ela procura ajudar a baleia sozinha, mas o pai vê e a ajuda. Ma sjuntos, eles não conseguem e o pai desiste, ao contrário da filham que se mantém ao lado da baleia, protegendo-a.
O filme traz traços belíssimos para retratar as figuras do pai e filha, além da baleia. É melancólico, doloroso e o diretor utiliza a história da baleia para fazer uma óbvia metáfora da relação pai e filha, e como a resiliência e amor são importantes formas de curar uma doença mental.
Nem Julieta, nem Romeu
"Ne Giulietta, Ne Romeo", de Veronica Pivetti (2015)
Drama LGBTQIAP+ juvenil, "Nem Julieta, nem Romeu", pode ser visto como um "I love Simon" italiano, com a diferença que aqui, os pais do jovem protagonista, Rocco (Andrea Amato) tentam dissuadi0lo de que ele é gay, dizendo a famosa frase "é apenas uma fase". Rocco, 16 anos, namora Maria (Carolina Pavone), mas ele não consegue avançar quando ela deseja fazer sexo com ele. Maria acaba se tornando uma amiga compreensiva de Rocco, junto de Mauriico, o melhor amigo de Rocco. Seus pais são divorciados: sua mãe não quer aceitar que o filho é gay. O pai, que é psicológoc, quer que o filho seja seu paciente.
O filme é simpático, tem bons atores, a trama funciona, com a ajud atambém da personagem da avó, que é divertida e quem melhor entend eo neto. O personagem principal é visto com bastante respeito e suas crises são bem críveis e realistas.
terça-feira, 4 de março de 2025
A fabulosa máquina de colher ouro
"La fabulosa maquina de cosechar oro", de Alfredo Pourailly (2024)
Documentário chileno, vencedor do prêmio de melhor filme da categoria no Festival de Cine de Lima PUCP 2024.
O filme foi rodado na ilha da Terra do fogo, região conhecida pelo garimpo. Ali, mora Jorge "Toto", um garimpeiro de 62 anos, que a vida toda garimpou ouro com sua picareta, sem ajuda de maquinário. Mas devido à sua difícil condição de trabalho, e à um princípio de ataque card
iaco que teve enquanto garimpava (registrada na câmera do filme), seu filho Jorge, que é um cowboy, decide projetar uma máquina de extrair ouro, para facilitar a vida financeira de seu pai e garantir um futuro para ele, já que ele não tem seguro e nem previdência social.
O filme conta a história de amor e respeito entre pai e filho, e ocmo pano de fundo, traz outras pautas: etarismo, falta de assistencialismo do governo, abandono, e um tema jamais discutido no filme, o ecossistema atingido pelos garimpeiros.
Girls and the party
"Girls and the party", de Paloma Lopez (2021)
Melhor filme no Los Angeles Outfest 2021, "Girls and the party" é um belo e sensível olhar sobre o primeiro amor de uma adolescente, que flerta com sua amiga. 4 meninas estão no closet se preparando para uma festa: se vestem, se maquiam. Mercedes (Maya Delmont, muito semelhante fisicamente à Milly Bobby Brown) se oferece para maquiar sua amiga Julia, por quem ela tem um crush. Entre olhares e atitudes ingênuas, floresce um amor.
Lindamente filmado por Paloma Lopez, que também escreveu o roteiro, "Girls and the party" é simples na narrativa, ma spoético e lúdico no seu olhar, nos closes, na atmosfera, na direção de arte e na fotografia, que traz o tom dos filmes de Sophia Coppola.
Aneta
"Aneta", de Jiri Sádek (2024)
Documentário true crime que procura desvendar a morte de Aneta Rodová, 23 anos, ocorrido em Praga no dia 20 de setembro de 2014. Quase 10 anos depois, o documentarista Kiri Sádek abre os documentos de mais de mil páginas, entervistando a mãe da vítima, técnicos forenses de diversos países e entender o que aconteceu com Aneta. Após a prescrição, a polícia arquivou o caso. Aneta sofreu 13 facadas no coração, e a polícia considerou como suicídio, alegando que ela estava com psicose tóxica, Junto dela, estava o namorado Ahmed, um libanês que ela estava namorando e haviam recém voltado de uma viagem na República Domminicana. No quarto do lado, estava a ex-namorada de Ahmed, Katherina. Segundo o documentarista, havia algo estranho no triângulo amoroso, que envolvia ciúmes, e possivelmente, envolimento d etráfico de drogas e da máfia.
A mãe de Aneta, Ana, diz ser impossível sua filha ter dado 13 facadas sozinha no coração. Ahmed só é localizado pelo documenarista no final, mas não quiz dar entrevista. O filme em si não chega a conclusão alguma. O mais interessante, como narrativa de cinema, é a reconstituição do crime. Sadek construiu em estúdio uma réplica do apartamento com dependências, e através de câmera aérea e de atores, procura esclarecer os fatos.
Contra-ataque
"Contraataque", de Chava Cartas (2025)
"Para o Mal triunfar, basta os homens bons não fazerem nada.". Essa frase que encerra esse ótimo filme de ação mexicano, retrata bem o propósito do filme. Exaltando o exército mexicano, principalmente o grupo de elite Murciélogos (morcegos), "Contra-ataque" mostra os 2 lados inevitáveis da mesma moeda, ou seja, a corporação que protege os cidadãos: os homens de bem, e os que se deixaram corromper pelo poderoso narcotráfico, que mata militares e civis sem piedade.
Cinco amigos que fazem parte da elite Morcegos: Capitão Guerrero (Luis ALberti), Tanque, Toro, Combo e Pollo viajam de carro em um dis de folga para a fronteira do México com Estados Unidos para fazerem compras. No caminho, eles são emboscados pelo cartel El enjambre, comandado por Josefo Aguijon, que tem acordo com o secretário de defesa do México. O grupo descobre também duas reféns que foram sequestradas pos testemunharem um crime do narcotráfico e as resgatam.
O filme é porradaria e ação o tempo todo, mas o que o difere dos filmes americanos que existem aos milhares, é a forma humanizada com que ele trabalha o roteiro, que é mais realista e menos espetacular, até pelo orçamento ser menor. O elenco é ótimo e carismático, e entre maniqueísmos dos personagens, o filme reserva um final emocionante e que fará muita gente chorar.
Parthenope, os amores de Nápoles
"Parthenope", de Paolo Sorrentino (2024)
Quando o cineasta italiano Paolo Sorrentino lançou "A grande beleza" em 2014, foi um furor: vencedor do Oscar e do Globo de ouro de filme estrangeiro, o filme arrebatou o Festival de Cannes com o seu olhar revisitando "la dolce vita", de Fellini, através de uma fotografia e uma câmera que registravam a vida dos muito ricos da Itália, com muito requinte, glamour e luxo, ornados pelas locações naturais de Roma.
Em "Parthenope", Sorrentino, que sempre foi considerado pretencioso por muitos críticos, faz um drama épico intimista, sobre o nascimento e vida de uma mulher nascida em Nápoles. E o filme acaba se tornando uma carta de amor à Nápoles, à juventude , à vida e aos amores que entram e saem de nossas vidas. Pathernope, o nome dessa mulher, é a própria Nápoles. Segundo Sorrentino falou em uma entrevista, "O filme nasceu da idéia de que a aventura da passagem do tempo na vida de um indivíduo é algo épico, algo majestoso, selvagem, doloroso e maravilhoso."
Englobando de 1950 até 2023 na vida de Pathernope, que nasce através de um parto no mar, mirando Pathernope (Nápoles), o filme apresenta uma mulher linda e exuberante, que através de sua vida, foi objeto de desejo de todos os homens, incluindo seu irmão, Raimondo, que não suporta não poder amar sua irmã e se joga de uma montanha. Parthenope (Celeste Dalla Porta, radiante) se sente culpada, e decide estudar antropologia na Universidade. Ela é cnvencida a se tornar atriz, mas a experiência é frustrante. Ela decid epela vida acadêmica. Durante todo esse trajeto, ela conhece diversos homens que a desejam, incluindo Sandrino, filho da governanta, que cresceu junto de Pathernope.
O que mais amei no filme, tenho que confessar, é quando surge a grande estrela italiana Stefania Sandrelli assumindo o lugar de Celeste, já em 2023, ano em que Napoli vence o tricampeonato italiano. Somente a sua presença traz uma dignidade enorme ao filme. Gary Oldman também faz participação, irreconheícvel, como um jornalista inglês. O roteiro, no entanto, é confuso e possui muitas sub-tramas, com personagens lindissimos. e outros bizarros e grotescos, como quando surge o filho do professor de antropologia. Duas cenas polêmicas: a inicação sexual com platéia de uma jovem da Gomorra, e a cena de sexo entre Pathernope e o cardeal.
segunda-feira, 3 de março de 2025
Dragão vermelho
"Red dragon", de Brett Ratner (2002)
Remake de um clássico thriller de terror psicológico, "Caçador de assassinos", de Michael Mann, de 1986. E mais do que isso, "Dragão vermelho", um filme lançado em 2002 e que eu já havia até esquecido, é um prequel para "O silêncio dos inocentes", com uma cena final arrebatadora e que deixa qualquer fã do filme de Jonathan Demme arrepiado.
"Caçador de assassinos" foi o filme que lançou o serial killer" Hennibal Lecter, em obra escrita por Thomas Harris. Mas ali, ele era um coadjuvante. O serial killer do filme se chama Fairytheet. Em Dragão vermelho", Hannibal Lecter também é coadjuvante, abrindo e fechando o filme. O filme de Brett Ratner subverte o início e o final do filme original, trazendo mais ação e suspense. O elenco do filme é primoroso e não tem como o filme ser ruim: Edward Norton, Anthony Hopkins, Philip Seymour Hoffman, Mary Louise Parker, Raplh Fiennes, Emily Watson, Harvey Keitel. Todos roubando as cenas em que aparecem. O fotógrafo é o mesmo do original, o italiano Dante Spinotti, trazendo tons totalmente diferentes.
Will Graham (Norton) é um detetive que consegue prender Hannibal Lecter (Hopkins), mas se aposenta, pois a experiência o traumatizou. Morando na Flórida, casado com Molly (parker) e pais de um filho, ele é convocado pelo agente Jack (Keitel) para investigar um serial killer chamado de Fairytheet, Francis (Fiennes), que assassinou 2 famílias. Francis conhece a operadora de um laboratório de revelação de filmes, Reba (Watson), que é deficiente visual, e com ela, ele busca a sua redenção. Paralelo, um repórter inconsequente, Freddy (Hoofman), investiga todas as ações de Will para chegar ao assasisno. O filme é ótimo e honra toda a franquia de Hannibal Lecter, com muita cena de ação, suspense e dinamismo.
A beira do machado
"Al filo del hacha", de José Ramón Larraz (1988)
Slasher espanhol filmado nos Estados Unidos em Big Bear Lake, Califórnia, "A beira do machado" apresenta dois melhores amigos, Richard (Page Mosely),dono de uma empresa de dedetização e casado com uma mulher mais velha, Laura, e Gerald (Barton Faulks), um nerde em computação. Um serial killer tem agido na região matando mulheres. Quando Gerald vai até um fliperama, ele conhece a estudante recem chegada Lilian (Christina Marie Lane). Os dois amigos procuram desvendar os assassinatos.
O filme é bem mediano, em o ano de seu lançamento, 1988, já era para ter tido mortes bem mais violentas. As cenas de assassinato são fracas e o machado notidamente é fake. A tensão quase não existe e o roteiro traz uma trama muito bizarra. O final é uma referência ao clássico 'A noite dos mortos vivos", de George Romero.
Girassol
"Sunflower", de Gabriel Carrubba (2023)
Drama Lgbt australiano, "Girassol" foi escrito e dirigido por Gabriel Carrubba e ganhou prêmios em festivais de gênero. O filme traz uma história já bastante vista em muitos filmes sobre saída de armário: o adolescente de 17 anos Leo (Liam Mollica) namora Monique (Olivia Fildes) e tem como melhor amigo Boof (Luke J. Morgan), com quem treina, se diverte, se masturbam pensando em garotas. Mas uma noite, quando Boof beija Leo, as coisas mudam. Leo entra em conlfito com sua sexualidade. Já não consegue faezr sexo com Monique e seus pias passam a pressioná-lo, achando que tem algo errado com ele. Leo leva uma surra dos fortões da escola homofobicos, e a única pessoa que lhe dá apoio é Cam, amigo gay de seu irmão mais novo.
O filme é previsível do início ao fim. TEcnicamente é bom, com bela fotografia e bom ritmo. Mas além da previsibilidade da história, o que mais me incomodou foram as idades dos atores, que não aparentam em momento algum com a idade dos personagens. Em um universo d ejovens de 17 anos, é importante ter frescor nos rostos e nos corpos, mas o elenco já é todo de adultos com corpos ja formados e rostos maduros. Não entendi a dceisão, mas me tirou da história do filme, que merecia algo no etsilo de "I love, Simon".
Jawline - Ascenção e queda de Austyn Tester
"Jawline", de Liza Mandelup (2018)
"Talento é sempre substituível. Essa é a natureza do negócio. Quando esses adolescentes bonitinhos fizerem 30 anos, ninguém mais vai querer saber deles. As fãs de 13 anos já estarão em outra. Nesse mundo dos influencers, toda hora surge e sai alguém."
Concorrendo no Festival de Sundance, "Jawline- Ascenção e queda de Austyn Tester" é um documentário sombrio que todo mundo que deseja ser influencer, independente de sua idade, deveria assitir. É um filme que traz relatos expositivos de dois mundos opostos: um adolescente de 16 anos que mora no interior, Austyn Tester, em Kingsport, Tenesse, e um manager de influencers bombados que mora em Los Angeles.
Austyn mora com sua mãe e seu irmão mais velho em uma casa de classe média. Eles são pobres e lutam para sobreviver. O pai, que os abandonou, era abusivo e batia na esposa e nos filhos. Austyn é um influencer com 19 mil seguidores. Em seu quarto, junto a seus gatos, ele faz lives com suas seguidoras, proferindo frases de efeito e de positividade. Austyn é um jovem bonito, no perfil de Justin Bieber e de milhares de outros seguidores exatamente iguais a ele. Seu sonho é ser famoso, ganhar dinheiro e fazer tour pelo país para fàs. Em Los Angeles, Michael Weist, 21 anos, é um CEO de uma empresa que administra a vida e conteúdo de jovens influencers no perfil de Austyn. Michael controla cada vídeo, cada postagem, dizendo o que cada um deve postar e falar, censurado frased que podem vir a ser problemáticas. Ele fatura promovendo tours pelo país, apresentando os rapazs para fãs adolescentes enlouquecidas.
O filme dirigido por Liza Mandelup apresenta dois universos igualmente crueís e massacrantes, que destrói o emocional de adolescentes que não quereme studar, querem apenas a fama rápida que as redes sociais promovem. É um filme que faz refletir sobre uma indústria que entende os influencers como consumo rápido e rasteiro, sem conteúdo, apenas frses feitas e rostinhos bonitos.
Falling stars
"Falling stars", de Gabriel Bienczycki e Richard Karpala (2023)
Partindo de uma premissa interessante, "Falling stars" é uma história de terror fantástico, que parte de uma tradição que acontece anualmente: No município de San Bernardino, as bruxas existem e elas são más. Todo ano, durante a época da colheita, elas surgem com as estrelas cadentes e abduzem pessoas, que nunca mais são vistas. Três irmãos — Mike (Shaun Duke Jr.), Sal (Andrew Gabriel) e Adam (Rene Leech) acompanham um amigo, Rob (Greg Poppa) durante a noite até o deserto para verem uma bruxa que Rob diz que matou e enterrou. Chegando ao local, Adam sem querer derrame cerveja sobre o corpo da bruxa, o que libera uma maldição, fazendo Rob desaparecer. os irmãos retornam para a casa, e a mãe lhes conta como acabar com a maldição: eles devem queimar o corpo da bruxa antes do amanhecer.
Só posso dizer que esse longa daria um excelente curta de 15 minutos. O argumento é muito bom, mas disperdiçado com sub-tramas desnecesarias ( toda a parte do locutor da rádio é dispensável) , além d emuitas cenas extremamente expositivas e dialogadas, tornando a experiência muito cansativa. Uma pena, pois o filme traz uma linda atmosfera que evoca filmes dos anos 80.
Sexo, mentiras e depravação
"Sex, lies and depravity", de Jason Impey (2012)
Drama lgbt indie realizado na Inglaterra, "Sex, lies and depravity" pega emprestado o título do filme de Steven Soderbergh, 'Sex, lies and videotapes" para contar uma história barra pesada sobre abuso e violência doméstica. O roteiro é escrito pelo ator que interpreta Ethan, personagem gay que se apaixona por Jake (Leigh Sorrel). Jake é casado com Hannah e têm uma filha pequena. Jake, que é drogado, está desempregado e constantemente bate na mulher. Uma noite, ele sai de casa e vai parar em um bar gay, onde conhece Wade, um jovem traficante de drogas. Jake mente sobre a sua vida pessoal e Wade acaba se apaixonando por ele. As amigas de Wade o alertam sobre Jake, mas ele prefere não ouvir.
O filme tem uma atmosfera dos filmes dos anos 60 de Andy Warhol e Paul Morrisey: fotografia suja, camera na mãe, atores amadores e aquele clima naturalista, de filme undergournd com som ruim e fotografia granulada. No final das contas, é um filme ruim que procura passar uma aura de filme cult, no estilo do filme de Tim Roth, "The war zone", mas não tem atores que sustentem uma boa dramaturgia.
Sonhos de andróides
"Sueñan los androides", de Ion de Sosa (2015)
Curiosa e criativa adaptação do livro de Philip K. Dick, "Do the androids dreams with electric sheep?", que gerou o filme "Blade runner", de Ridley Scott em 1982. "Sonhos de andróides", diferente do filme de Scott, tem uma premissa diferente: ele traz a história dos andróides, acompanhamos as suas vidas familiares, o lazer em baladas e na rotina de trabalho, ao invés da narrativa ser do ponto de vista do caçador de andróides. Rodado com pouco orçamento, o filme é uma co-produção Espanha e Alemanha, e foi escrito, dirigido e fotografado pelo cineasta espanhol Ion de Sosa. A narrativa é extremamente fria, sme emoção, em muitos momentos parecendo um documentário. O filme, rodado em 16 mm e trazendo grabnulação vintage às imagens, é ambientado na cidade catalã de Benidorm. Assim como em 'Alphaville", de Godard, a ambientação do futuro é apresentado através d afrieza das contruções e das ruas desertas e impessoais. Ali, o caçador (Manolo Marin), surge, vestido de terno que nem um man in black, matando os andróides que convivem misturados aos humanos. O filme é apresentado em formato de sketches, apresentando idosos em suas casas, mostrando com orgulho seus ambientes e figurinos, e tambem jovens: um casal com um filho e um gay que frequenta baladas. Em um sketche divertido, o caçador se faz passar por um gay para perseguir o andróide gay.
Eu gostei do filme, ainda mais que ele traz uma narrativa que me fez lembrar dos filmes austríacos como os de Ulricj Seidl, que apresenta o universo patético do ser humano em momento absulatamente desprezíveis.
Praxis
"Praxis", de Alex Pacheco (2008)
Escrito e dirigido por Alex Pacheco, "Praxia" é um drama Lgbt experimental sobre um jovem escritor, Brian (Tom Macy) que fez sucesso com seu livro de estréia, e agora está em crise de criatividade para escrever seu 2o livro. Brian se torna dependente de Prozac e fica depressivo, tendo desejos suicidas. Ele conta com a ajuda do amigo Joe (Andre Roth) e de uma musa inspiradora. Brian fantasia desejos homoeróticos por Joe, deixando claro que muito de sua crise vem pelo fato de viver ainda dentro do armário.
Eu queria ter gostado do filme, mas infelizmente, nada no filme ajuda: os atores são fracos, a fotografia é ruim e a edição não dá ritmo ao filme. As cenas de alucinação são toscas. O roteiro é confuso. O único ponto d einteresse serve aos voyeurs: o filme é repleto de cenas de nudez total do elenco.
domingo, 2 de março de 2025
Sentimentos que curam
"Infinity polar bear", de Maya Forbes (2014)
Inspirado na história de seus pais, a roteirista e cineasta Maya Forbes trata seus personagens com carinho e respeito. Tendo como pano de fundo um tema muito sensível, ao transtorno bipolar, que acomete o personagem de Cam Stuart (Mark Ruffalo), casado com Maggie (Zoe Saldana) e pais de duas meninas, Amelia (Imogene Wolodarsky) e Faith (Ashley Aufderheide). O ano é 1978, Boston. Cam é demitido de seu emprego e tem uma crise, levando-o à internação. Ao sair, ele vai morar sozinho em um pequeno apartamento. Buscando uma renda melhor, Maggie decide se inscrever em um MBA na Universidade da Columbia em Nova York, para onde acaba sendo aceita. Mas ela precisa se mudar para NY, e não tem condicções finnaceiras para levar as filhas. Ela faz uma proposta e um desafio para Cam: que cuide das meninas pelo período de 18 meses, e ela voltando todo o final de semana para vê-las.
Com ótima reconstituição de época, "Sentimentos que curam" se valoriza pela bela performance de seu elenco: Mark Rufallo repetindo aquela persona carismática e desejando um ombro amigo, as duas atrizes mirins e Zoe Saldana, que mesmo tendo menos cenas, está correta e trazendo pautas importantes para a sua personagem, como a luta pelo espaço feminino em um mundo machista, a luta pela independência, sendo mãe, esposa, em busca de um emprego digno para dar uma via boa às filhas. O filme é narrado em tom de memória pela filha mais velha, Amelia, que é o alter ego da diretora Maya Forbes.
Vítimas da tormenta
"Sciuscià", de Vittorio de Sica (1946)
Obra prima de Vittorio de SIca, "Vítimas da tormenta" é histórico por ser o 1o filme a ganhar o Oscar de filme estrangeiro em 1948, na epoca ainda chamado de Prêmio honorário, e também foi indicado a melhor roteiro. Lançado 2 anos antes da obra máxima de de Sica, "Ladrões de bicicleta", ambos representantes do neo-realismo italiano.
No pós guerra, com a Itália sendo reconstruída, o contraste entre ricos e pbres se intensifica. Dois jovens engraxates, Giuseppe Filippucci (Rinaldo Smordoni) e Pasquale Maggi (Franco Interlenghi), são melhores amigos e sonham em ter um cavalo branco. Eles juntam dinheiro, mas o valor está muito longe do que eles podem ganhar. Attila, irmão mais velho de Pasquale, arma uam cilada pro irmão: quer que ele venda dois cobertores americanos do mercado negro para uma rica cartomante. Ao chegarem lá, eles vendem, mas Attila e seus comparsas surgem se passando por policiais, e subornam a cartomante. Os dois amigos compram o cavalo, mas são presos pela polícia e levados até um reformatório infanto juvenil. Os amigos são separados, e Giuseppe cria amizade com Arcangeli, provocando ciémes em Pasquale.
Orson Welles considerou esse o melhor filme que viu na vida, por não conseguir enxergar a câmera, e siom, ver vida ali nas telas. Li numa matéria que existe um contetxo homossexual entre os dois amigos, mas isso é muito sutil, pode ser visto também como amizade pura entre dois amigos. Existem cenas de nudez total das crianças em uma cena de vestiário, fato que jamais aconteceria em um filme de hoje. A cena final é devastadora, como eram a maioria dos filmes do neo realismo, quase sempre punindo seus protagonistas pelo simples pecado de sonhar com uma vida melhor.
Caçador de assassinos
"Manhunter", de Michael Mann (1986)
Primeira adaptação do livro escrito pelo escritor Thomas Harris, "Red dragon", de 1981, trazendo a icônica personagem de Hannibal Lecktor (se chamava Lecktor), "Caçador de assassinos" e dirigido e adaptado por Michael Mann, que estava vindo do sucesso do seriado de tv "Miami Vice". Lançado em 1986, o filme traz um excelente thriller que viria a ser refilmado em 2002, com Edward Norton no papel de Will Graham, e Anthony Hopkins no papel de Hannibal Lecktor.
Will Graham (Willian Petersen) é um agente do FBi aposentado, após ter ficado com sequelas ao prender o serial killer HAnnibal Lecktor (Brian Cox). Quando um novo serial killer, apelidado de "Fada dos dentes" aparece, Graham é chamado para voltar à ativa e decsobrir o ser paradeiro.
Fotografado por Dante Spinotte, fotógrafo italiano que fez a fotografia de diversos filmes de Michael Mann e que também fotografou o remake de 2002, "Caçador de assassinos" é um filme que conta com excelente trabalho do elenco e uma atmosfera fria para retratar o universo do serial killer. Brian Cox no papel de Hannibal está ótimo, mas foi totalmente ofuscado anos depois pelo brilhantismo de Anthony Hopkins. A fotografia é bem no perfil estilizado dos anos 80, com muito uso de gelatina azul e muita fumaça nas noturnas. A cena da vítima em chamas na cadeira de rodas tornou-se icônica.
Milano
"Milano", de Cristina Vandekerckhove (2024)
Drama belga escrito e dirigido pela cineasta Cristina Vandekerckhove, é seu longa de estréia. O filme é um retrato bastante melaoncólico e depressivo de uma família desestruturada: Milano (Basil Wheatley, jovem ator deficiente auditivo) tem 12 anos, é deficiente auditivo e mora com seu pai, Alain (Matteo Simoni). Milano é um jovem solitário. Seu pai trabalha fora, fazendo diversos bicos. Milano estuda e se relaicona com vizinhos: um perigoso rebelde que mora na redondeza e que explora Milano, e uma vizinha rica, Renne ((Alexia Depicker), uma solitária de meia idade que mora com sua mãe e que nutre impulsos maternais com Milano. Milano diz a seu pai que quer muito conhecer sua mãe biológica, o que mexe com o emocional do pai.
"Milano" é um filme muito baixo astral, e o tempo todo ele traz um tom de tragédia eminente. A cineasta não traz alívio para os personagens, todos vivendo na corda bamba e sem uma perspectiva de futuro melhor. É uma descrença no ser humano, atenuada em um cavhorrinho que Milano acolhe em casa, mas que também irá sofrer as consequências da maldade humana. Mesmo com tanta tristeza, o filme traz excelentes performances do elenco, em especial de Basil Wheatley, atuando em um papel muito complexo para idade tão jovem.
Viver e morrer em Los Angeles
"To live and die in LA", de Willian Friedkin (1986)
Um clássico do cinema de ação policial, "Viver e morrer em Los Angeles" inspirou muitos filmes, entre eles, 'Drive", na revisitação de filmes doa anos 80. O filme traz todos os clichês do gênero, mas ao mesmo tempo, os subverte em um plot twist arrebatador.
Richard Chance (Willian Petersen) é um agente secreto americano, que junto de seu parceiro de longa data, Jim Hart, procuram desbaratar uma quadrilha de falsificadores de dinheiro, liderada por Eric (Willen Dafoe). Quando Hart, que estava prestes a se aposentar, morre durante uma operação, Chance promete vingá-lo. Ele ganha um novo parceiro, o tímido e honetso John Vukovich (John Pankov), que se assusta com os métodos nada convencionais de Chance de obter depoimentos, incluindo Ruth (Darlanne Fluegel), que está em liberdade condicional e é informante de Chance.
Além de WIllen Dafoe, que estava em início de carreira, o elenco traz John Turturro e Dean Stockwell como vilões. O filme traz cenas de ação poderosas, incluindo uma perseguição de carros espetacular em plena auto estrada de Los Angeles, com o carro de Chance na contra mão. Frito dos anos 80, o filme é politicamente incorreto, e se torna um grande retrato de uma época. A fotografia de Robby Muller, fotógrafo de Win Wenders em "Paris, Texas" e Lars Von Triers em "Ondas do destino", é magistral, com aquele toque dos filmes de Michael Mann, repleto de estilo. A trilha sonora de Wang Chung, trio eletrônco inglês, é primorosa e infinitas vezes copiada por todo mundo que quer fazer uma trilha de sintetizadores. Willian Petersen foi a representação máxima do policial sedutor, violento e misógeno, papel que lhe coube muito bem.
Paraquedas
"Parachute", de Brittany Snow (2023)
Vencedor do prêmio de melhor performance para Courtney Eaton no SXSW, é levemente inspirado na vida de Brittany Snow, atriz e cantora, que passou pela situação de transtorno alimentar, causado pelo excesso de preocupação com a aparência e seu corpo.
O filme apresenta Riley (Courtney Eaton), recém saída de uma clínica, internada por conta de distúrbios alimentares. Ela está buscando recompor a sua vida, se reconectando com amigos e familiares. Ela consegue um emprego como atendente em um bar onde acontece peça teatral e conhjece um rapaz, Ethan (Thomas Mann), colega de quarto do namorado de sua amiga Olivia, que logo se apaixona por Ethan. Ao irem na mesma noite na casa de Riley, ambos tentam fazer sexo, mas Riley fica desconfortável em tirar a roupa.
Um drama defendido com garra pelo elenco, em especial Curtney Eaton, em um papel bastante complexo e doloroso. Um roteiro bem construído, fotografia que busca trazer a tonalidade do drama interno da protagonista, mas sem carregar demais na aura trágica. Um filme que renderia facilmente uma boa peça de teatro.
sábado, 1 de março de 2025
Fabulosos João e Maria
"Fabulosos João e Maria", de Arnaldo Galvão (2025)
= Com roteiro do dramaturgo Flavio de Souza, "Fabulosos João e Maria" é uma animação brasileira que subverte original do conto dos irmãos Grimm e mistura temas com referência de 'Star wars" e faz críticas à reality shows, como um universo de sedução e de alienação.
A história começa trazendo muitas sub-tramas e muitos personagens. Como base, João e Maria são dois irmãos ratos cujos pais decidem enviá-los para uma instituição. Os irmãos decidem fugir para a floresta, onde conhecem uma famosa apresentadora de reality. Convencidos a assinar um contrato de exclusividade com ela para fazerem parte do show, os irmãos acabam presos no castelo e decsobrem que a apresentadora na verdade é uma bruxa. Os espíritos doa avós surge para os irmãos, dizendo que no passado, a Terra era governada por ratos, mas as bruxas dominaram tudo e mataram boa parte da família deles. E que agora, precisam destruir a bruxa.
Realizado com uma equipe independente, "Fabulosos João e Maria" foi concebido em 2002 e levou quase 20 anos para ficar pronto.
Endless summer syndrome
"Le sindrome de l'été sans fin", de Kaveh Daneshmand (2023)
Incesto e pedofilia são temas explosivos e tabus em qualquer cultura. Co-produzido por França e Tchecoslováquia, "Endless summer syndrome" é o filme de estréia do cineasta e roteirista iraniano radicado em Praga Kaveh Daneshmand. Ele escolheu para seu filme de estréia um drama bastante complexo, ambientado em uma aparente família feliz, composta pelo casal de meia idade Delphine (Sophie Colon), uma advogada de alto escalão e seu marido escritor Antoine (Matheo Capelli) e os filhos adotivos multiculturais: a negra Adia (Frédérika Milano) e o turco Aslan (Gem Deger , co-roteirista do filme). Um dia, Delphine recebe uma ligação anônima: uma mulher que se diz colega de trabalho de Antoine, diz que ele revelou à ela, bêbado, estar tendo caso com um dos filhos. Delphine de início acredita ser um vigarista, mas logo ele se bota em paranóia, observando qualquer ato suspeito de seu marido perante os dois filhos.
Um filme com um tema tão polêmico só poderia dar certo tendo atores talentosos dando vida aos personagens. Todo o filme é em cima da personagem de Delphine, defendida com unhas e dentes por Sophie Colon, estreando forte no cinema. Sua performance alia muitas camadas, e de fato eu confesso que fiquei com raiva do desfecho. As cenas de sexo entre Antoine e um dos filhos é bastante erótica e repleta de tesão. Ainda assim, é difícil não pensar que é um filme que apresenta a pedofilia de forma romantizada e sexy, e fica aí uma boa pauta para discussão.
Me abrace
"Y abrazame", de Javier Rao (2017)
Terror indie argentino, "Me abrace" tem uma trama confusa e uma ficha técnica bastante amadora: elenco, fotografia, edição, direção de arte, maquiagem, o projeto tem cra de projeto feito entre amigos e exercitarem.
Joaco (Joaquin Sanchez) e Josefina (Rocio Munoz) são um jovem casal que se conhece e na mesma noite, Joaco a leva até sua casa, que ele divide com um amigo. Eles curtem a noite no quarto e quando Josefica vai até o banheiro, ela grita e chora. Joaco, preocupado, abre a porta, e encontra rastros de sangue e a janela aberta. Joaco decide saber o paradeiro de Josefina.
O filme tem um roteiro sem graça e o desfecho é pior ainda. Tudo parece uma brincadeira entre realizadores, e um final pegadinha tosco. Eu estava até achando ok pela atmosfera indie e suja, mas à medida que ia chegando ao final, fui me irritando. Nem a equipe quiz levar o filme a sério.
Las mantenidas sin sueños
"Las mantenidas sin sueños", de Martín De Salvo e Vera Fogwill (2005)
Co-Dirigido, escrito e protagonizado por Vera Fogwill, "Las mantenidas sin sueños" é um drama que traz elementos de humor ácido à narrativa, lembrando um filme de início de carreira de Almodovar. Concorrendo em importantes festivais, incluindo Rotterdan, o filme tem protagonismo feminino com atrizes de gerações diversas.
Durante a crise econômica dos anos 2000, Florencia (Fogwill) é uma jovem mãe viciada em cocaína. Antes de dar à luz sua filha Eugenia (Lucia Snieg), 9 anos, Florencia enganou sua mãe, Sara (Mirta Busnelli) dizendo que iria abortar. Na verdade, ela usou o dinheiro para comprar drogas e acabou tendo Eugenia. Florencia era pressionada por Sara a ser uma excelente estudante de medicina, mas tanta pressão tornou a jovem numa mulher problemática e viciada. Desempregada e sem luz, gás e água em casa, Eugenia é quem cuida de sua mãe, até que Florencia descobre estar grávida novamente. Ela conta com a ajuda de vizinhos do prédio, e evita que sua mãe descubra a sua gravidez.
A história do filme tinha tudo para transformar a tragetória de Florencia e Eugenia em uma grande tragédia. Mas os diretores amenizam o drama com um humor estranho, e um ótimo time de atores e atrizes que transitam entre o drama e o humor. A pequena Lucia Snieg é um grande talento, trazendo tantas camadas emotivas e muita força para a sua Eugenia.
Violência policial
"Sono otoko, kyôbô ni tsuki", de Takeshi Kitano (1989)
Longa de estréia de Kitano, "Violência policial", de 1989, foi co-escrito por Kitano, que logo ficaria conhecido mundialmente por seus filmes violentos envolvendo policiais corruptos, Yakuza e samurais.
Azuma (Kitano) é um detetive de métodos bastante violentos para poder extrair informações de suspeitos. Durante uma investigação sobre traficantes, ele descobre que seu amigo e colega da polícia, Iwaki, é quem fornece drogas dentro da corporação. Quando Iwaki é assassinado e a irmã de Azuma, Akari (Maiko Kawakami), que tem deficiência mental, é sequestrada, estuprada e forçada a se viciar em drogas, Azuma parte para a vingança.
O filme traz cenas antológicas, muito bem dirigidas, criando uma narrativa de filmes de policiais durões e violentos que muitos críticos compararam a Dirty Harry, de Clint Eastwood. A cena do estupro de Akari é brutal e o desfecho é contundente e trágico. A violência jorra em cenas com muito sangue e porradaria.
Matterhorn
"Matterhorn", de Diederik Ebbinge (2013)
Um filme surpreendente vindo da Holanda, "Matterhorn" é um drama Lgbt que traz tantas camadas, algumas deles eticamente polêmicas, soberbamente interpretado por dois atores muito bons. O filme mistura drama, romance, humor ácido e uma certa atmosfera lúdica, que faz lembrar "O pior vizinho do mundo", "O enigma de Kaspar Hauser", "Em algum lugar do jardim" e "My fair lady". A cena final, em uma boite de drags, com um cantor cantando "It's my life", de Shirley Bassey, é emocionante. "Matterhorn" foi eleito o melhor filme do público no Festival de Rotterdan 2013. Matterhorn é o nome da montanha mais conhecida dos Alpes, entre Suíça e Itália.
Fred (Ton Kas) é um homem de meia idade bastante religioso, morador de uma cidade do interior. Ele é viúvo e perdeu esposa e filho em um acidente de carro. Fred vive a sua vida monotonamente, exercendo as mesmas funções diariamente. Um dia, e;e ouve uma gritaria e vê um vizinho discutindo com um homem, Theo ((René van 't Hof)). Fred decide acolher o homem em sua casa: Theo tem deficiência mental e somente responde com 'Sim", e tem o hábito de imitar os animais. Fred vai educando Theo, e a dupla fica conhecida na cidade. Os pais convidam a dupla para animarem festas infantis. Uma noite, ao beber bastante, Fred vê Theo vestindo as roupas de sua falecida esposa e tem uma visão de que ela reencernou no homem. Fred decide se casar com Theo, provocando escândalo na cidade.
Belamente filmada, com ótima direção de atores, 'Matterhorn" é um filme que funciona quase toda em silêncio. Eticamente polêmico, ao apresentar um casamento gay, onde um dos homens não consegue discernir o que está acontecendo e portanto, aparenta estar sendo induzido, "Matterhorn" discute religião, homofobia, luto e ccpmaixão.
Assinar:
Postagens (Atom)