segunda-feira, 17 de abril de 2023

Um samurai em São Paulo

"Um samurai em São Paulo", de Debora Mamber (2022) Emocionante documentário dirigido por Debora Mamber, e que une duas culturas tão distintas, quando a judaica e a japonesa, para falar sobre luto, tragédias e reconstrução através das artes marciais, apresnetada como uma arte da sabedoria, de entender e respeitar os tempos, da respiração e do silêncio, e não apenas como um esporte que visa a luta corporal. O filme apresenta o japonês Takeda Okuda, que aos 2 anos de idade, tem lembranças dos horrores da segunda guerra mundial. A narração é da diretora e roteirista Debora Mamber, cuja avó conseguiu fugir de um trem em movimento que se encaminhava para um campo de concentração. Ela acabou vindo para o Brasil, assim como Takeda veio no início dos anos 70, com a política do Milagre econômico promovido pelo Governo militar do país. Takeda veio em missão da Associação Japonesa de Karate, para disseminar no país o estilo shotokan. Discípulo de Masatoshi Nakayama (que, por sua vez, foi aluno de Gicpai do caratê moderno). Takeda se estabeleceu no bairro do Ipiranga, e depois, em Pinheiros. Falando em japonês e um português típico de estrangeiro que não conseguiu absorver a língua portuguesa, Takeda teve como primeira esposa, Ramako, já falecida, com quem teve Tetsuo (morto em 2013, aos 38 anos) e Keiko, 49. Com Eliana Niski, com quem se casou em 2008, vieram as gêmeas Sophia e Isabella. O filme abre um espaço para falar da morte de Tetsuo, mostrando imagens dele em treinamento, e certamente, seria o herdeiro da escola de Karate do pai. Ele morreu no altar de sua mãe, de causas não esclarecidas. A narração de Debora diz que ficou impressionada como, um dia após o velório do filho, Takeda abriu a academia e continuou dando aulas, uma demonstração de como os asiáticos lidam com o luto e a morte. É um momento bem emocionante do filme. No mais, o filme possui imagens de arquivo muito encantadoras, do Japão da segunda guerra e do Brasil dos anos 70. A trilha sonora traz sonoridades asiáticas mescladas a elementos brasileiros. Um filme sobre pessoas que por adversidades da vida mudaram de país, abraçaram outras culturas, mas que nunca deixaram de reverenciar a sua terra natal e a sua serenidade.

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