terça-feira, 21 de julho de 2020
O orfanato
"Parwareshghah", de Shahrbanoo Sadat (2019)
Que filme extraordinário! Imaginem uma versão de drama musical à la Bollywood, de “Pixote, a lei do mais fraco”? Assim é “O orfanato”, um ousado filme dirigido e escrito pela cineasta afegã, nascida no Irã, Shahrbanoo Sadat, que concorreu no Festival de Cannes em 2019. O filme é um raro exemplar do cinema do Afeganistão, em um esquema de co-produção com Alemanha e Dinamarca. O filme se passa no final dos anos 80, quando a União Soviética ainda ocupava o Afeganistão e antes da invasão doa Talibãs. O país, pobre e bastante sofrido, é apresentado através do personagem do órfão Qodtat (Quodratollah Qadiri, brilhante). Ele é apaixonado por musicais de Bollywood, e sonha um dia ser um ator dos filmes indianos. ( Obs: os filmes indianos faziam enorme sucesso na época no Afeganistão). Qodrat vive de vender ingressos do cinema como cambista, uma prática proibida. Preso, ele é enviado a um orfanato. Lá, ele faz amizade com outros órfãos, todos sob a guarda do supervisor Anwar (Anwar Hashimi, em um trabalho lindo). Qodrat tem a sua passagem de rito ali: ele se apaixona, amigos morrem, e uma grande tragédia surge no final, tudo pelo seu olhar, transformando momentos de amor e de tristeza em números musicais de Bollywood.
A ideia do filme é semelhante ao de “O labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro. Nos momentos de grande tensão, os personagens recorrem ao lúdico.
Com uma bela e precisa direção da cineasta Shahrbanoo Sadat, o filme comove pela sua contundente visão sobre a tragédia de um país que nunca encontrou paz. O jovem elenco, formado por não atores, traz um registro naturalista muito eficaz, muito provável, próximo às suas vidas pessoais. Os números de Bollywood são belíssimos, usando a linguagem dos filmes dos anos 80. A cena final é de comover qualquer espectador de coração duro.
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