terça-feira, 6 de agosto de 2013
A parede
"Die wand", de Julian Pölsler (2012)
Essa produção austríaco/alemã é de uma tristeza ímpar. Uma fábula fantástica, baseado em best-seller austríaco de Marlen Haushofer, sucesso nos anos 60, e um dos livros favoritos do cineasta. O filme narra a história de uma mulher, sem nome, que passa uns dias numa cabana numa floresta na região montanhosa da Austria. O casal que a acompanha resolve ir até o vilarejo. No dia seguinte, quando ela acorda, percebe que eles não voltaram. Ela anda pela região e misteriosamente, se depara com uma parede invisível e intransponivel, que a separa do mundo. Isolada e sem ter como sair, ela percebe que o mundo do lado de fora não existe mais. As pessoas estão congeladas, como que paradas no tempo. Ela procura então sobreviver, acompanhada de um cachorro, gato e uma vaca, e busca seus instintos de sobrevivência para suportar o passar dos anos. Uma metáfora sobre a depressão e solidão, essa fantasia dramática tem uma atuação extraordinária da atriz alemã Martina Gedeck, que passa o filme todo sem falar uma única palavra ( algumas no início do filme). Ela atua pelos sentimentos, com o olhar , sem jamais resvalar pro caricato. Entre seus filmes mais conhecidos, está "A vida dos outros". O filme é narrado em voz off, em flashback. A mulher vai escrevendo uma espécie de diário e narrando suas desventuras. Impossível não associá-lo a filmes como "Náufrago" e "As aventuras de Pi". Mas aqui, diferente dos outros, a mulher aceita sua condição de isolamento e não luta para tentar achar uma fuga. Essa jornada física e emocional é embalada com uma das fotografias mais estonteantes que vi recentemente, fora as paisagens hipnóticas das regiões austríacas. O retorno às origens, ao berço do selvagem, é uma alusão ao foco em si mesmo, ao parar um pouco e pensar no que estamos fazendo de nossas vidas. As estações do ano são registradas com muito apuro, e isso explica o porquê de ter tantos fotografos num único filme. Para os amantes de animais e sensiveis, recomenda-se pular o desfecho da história. É um golpe no coração. Melancolia em estado bruto.
Nota: 8
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Sua interpretação e resenha foram bem pertinentes, mas o filme não merecia uma nota maior? Essa "tristeza" e esse "golpe no coração" não são gratuitos. De forma simples, somos convidados a perceber como nossas vidas normais podem ser moralmente esquizofrênicas e alienadas. A migração da personagem em direção a seu ser real, a refinada interpretação do amor e da condição humana, e a sagaz identificação entre animais humanos e não-humanos faz com que tenhamos um filme realmente raro, uma preciosidade que brilha em meio a centenas de produções sem conteúdo e sem rumo.
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