sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Sex is...
"Sex is", de Marc Huestis (1993)
Lançado em 1993, o documentário Lgbtqiap+ escrito e dirigido por Marc Huestis expõe 15 depoimentos de integrantes da comunidade queer de San Francisco: uma mulher trans, uma travesti, um casal hay, um ator pornô e gays de idades variadas. Todos respondendo a pergunta do diretor: 'Sex is...". Inclusive, o diretor também dá seu depoimento. Todos falam sobre suas primeiras experiências sexuais, a saída do armário, o ambiente gay de San Francisco com seus bares, boites, saunas e áreas de pegação, seus fetiches, a homofobia. Falam também sobre como a Aids revolucionou o comportamento, até então, bastante libertino da comunidade, que segundo um dos entrevistados, "San Francisco exalava sexo em todo o lugar". Com a Aids, tudo mudou: começou-se um movimento promovendo o sexo seguro, uso de camisinhas, o aumento do consumo da pornografia, do BDSM. Tem um capítulo à parte que fala sobre fetiches por negros e latinos. Todo o filme é entrecortado entre os depoimentos e cenas de sexo explícito de filmes pornôs da época. Existem também muito material de arquivo, da cena gay de San Francisco e muitas imagens do ovo dançando nas boites ao som da Disco music.
No final, é um filme curioso, um registro de uma época da cena gay antes da internet, redes sociais e apps, onde tudo era no cruising e no olho no olho. É sexo o filme todo, tanto verbalizado, quanto sendo visto. Certamente, um filme histórico para se entender o comportamento sexual e cultural dos anos 80 e 90.
Boys in wolves clothing
"Pas comme des loups" de Vincent Pouplard (2016)
Documentário francês dirigido pelo cineasta Vincent Pouplard, que acompanhou durante 5 anos, os irmãos gêmeos Roman e Sifredi, que estão para completar 20 anos de idade. Ambos foram abandonados por sua família, quando decidiram entrar para a marginalidade. Presos em um complexo penitenciário para jovens, o diretor acabou conhecendo os dois ali. Ao serem soltos, e sem terem aonde ir, decidiram que seriam livres, morando em apartamentos, cabanas, quadras, túneis e finalmente, na floresta. Ambos dizem que nunca serão "alguém", mas sempre serão "livres". Outros jovens se juntam a eles, formando uma espécie de grupo anárquico. Os irmãos passam seus dias treinando boxe, escalando árvores, escrevendo poesias, e falando sobre suas vidas e sobre a sociedade.
É tão incrível a história desses jovens: todos bonitos, inteligentes em seus discursos, mas que, abandonados por família e pela sociedade, formaram algo como uma sociedade de "O Senhor das moscas": sem regras e livres. Um olhar bastante melancolico e perturbador sobre a juventude, repleto de imagens homoeróticas.
Grafted
"Grafted", de Sasha Rainbow (2024)
Chocado com a semelhança desse terror body horror neo zelandês com o cult de Coralie Fergeat 'A substância". Ambos falam sobre vaidade, beleza e têm a substância, ou seja, uma fórmula que precisa ser injetada no corpo para fazer a transformação. E claro, essa fórmula tem um tempo de validade, que faz com que o corpo de desfaça. Ambos são escritos e dirigidos por mulheres.
O filme começa em flashback, na China. Um homem trabalha em um laboratório em seu apartamento. Ele extrai veneno de serpentes. Sua filha pequena, Wei, o observa. O que os une, é que ambos nasceram com má formaçao na pele do rosto. O pai usa a fórmula que criou em seu rosto para ver se a pele se regenera, mas ele acaba morrendo com os efeitos. Anos depois, Wei (Joyena Sun), já adolescente, chega em Auckland, Austrália, para morar com sua tia Ling (Xiao Hu) e sua prima Angela (Jess Hong) enquanto estuda em uma universidade local. A prima é motivo de inveja e ciúme de Wei: é linda, descolada e tem namorado, além de amigas. O professor de biologia, Paul, descobre que Wei é filha de um cientista e ele quer roubar a fórmula da regeneração do tecido da pele. Durante uma discussão com sua prima, Wei acaba matando-a. Desesperada, ela arranca a pele da prima e coloca em si própria, usando a fórmula, e para sua felicidade, dá certo. Ela passa a usar a identidade de Angela. Mas ao descobrir que a pele tem tempo de vida útilo, Wei precisa arrancar pele de outros rostos.
O filme é ótimo, com cenas de gore, e uma trama bastante bizarra e eficiente. A atriz Joyena Sun está ótima no papel de Wei, uma personagem complexa e repleta de camadas. E o desfecho, se eu disser que lembra o desfecho de "A substância", ninguém irá acreditar.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Los domingos mueren más personas
"Los domingos mueren mas personas", de Iair Said (2024)
Quem gosta do tipo de humor do cineasta finlandês Aki Kaurismaki, certamente vai adorar a comédia dramática "Los domingos mueren más personas", escrito, dirigido e protagonizado por Iair Said, em seu longa de estréia. O filme é uma comédia familiar sobre uma família judia, tendo como foco David (Said). Morando na Itália, David, um homem de 30 anos, acaba de ser dispensado pelo seu namorado. David recebe um telefonema de sua mãe Dora (Rita Cordese) de que o tio de David faleceu. Ele viaja até Buenos Aires e reencontra sua irmã Elisa (Juliana Gattas), sua prima Silvia
(Antonia Zegers) e sua mãe. Ao perguntar sobre seu pai, David descobre que ele está em coma há anos, e que sua mãe pretende desligar o aparelho que o mantém vivo. Durante sua estada em Buenos Aires, David aproveita para fazer terapias mais baratas que na Euorpa, tenta ter parceiros sexuais, sem sucesso e procura aprender a dirigir carro.
O filme apresenta personagens apáticos e frios, trazendo um tipo d ehumor cástico, que provoca risos pelo desconforto. David é um personagem divrtido em sua fobia e introversão, quase um Woody Allen nos tiques e neuras. O destaque do elenco, no entanto, é a formidável Rita Cordese, na típica mãe judia possessiva e enxerida.
Quando eu me encontrar
"Quando eu me encontrar", de Amanda Pontes e Michelline Helena (2024)
Lindo filme lançado pela Embaúba filmes, "Quando eu me encontrar" é um drama indie cearense, escrito e dirigido pela dupla de roteiristas e cineastas Amanda Pontes e Michelline Helena. A partir da fuga da jovem Dayane, que decide ir embora sem falar com sua família, amigas e noivo, o filme procura conhecer as pessoas com quem Dayane se relacionou. O público nunca viu Dayane e não sabe os motivos de sua partida. Sua mãe Marluce (Luciana Souza) mora com sua outra filha, Mariana (Pipa) e sentem os efeitos da partida. Marluce quando criança foi morar com sua avó e não teve relacionamento com sua mãe. Mariana tem problemas na escola e também na relação com sua mae. O noivo de Dayane, Antonio (David Santos) estava todo feliz e comprou o enxoval. Antes o melhor vendedor da loja, Antonio agora está apático e sem ânimo para nada. Ele procura uma cantora de um bar (Di Ferreira), melhor amiga de Dayane para entender os motivos dela ir embora.
Fica implícito que Dayane foi em busca de sua liberdade e de felicidade, e que também, ela abriu as portas para que cada pessoa que ela considerava, também se auto-analizasse e se descobrisse nas suas questões. O elenco é muito bom, todos em registro naturalista, trazendo emoção e ternura para seus complexos personagens que vivem na melancolia. Simples na forma e na dramaturgia, mas coberto de emoção, "Quando eu me encontrar" é muito comovente.
The last showgirl
"The last showgirl", de Gia Coppola (2024)
Um drama muito desolador e comovente, "The last showgirl" me fez lembrar de 2 filmes: "Projeto Florida", de Sean Baker", e "A substância", de Coralie Fargeat. O filme fala sobre etarismo, sobre trocar a experiência de profissionais por pessoas mais jovens, ambientada em uma Las Vegas decadente, egoísta, sem futuro. Dirigido por Gia Coppola, a filha mais jovem de Coppola, e escrito por
Kate Gersten, é um filme de um olhar feminino cruel, sem magia, que deixa o espectador muito comovido com a trajetória de Shelly Gardner (Pamela Anderson, incrível). Ela é uma shorgirl de 57 anos, desde jovem trabalhando em uma casa de shows, a La Razzle Dazzle, que se localiza dentro de um cassino em Las Vegas. Mas o local já não atrai mais o público de antes. Eddie (Dave Bautista), produtor do show, decide substituir as veteranas por meninas mais jovens para atrair o público. É sugerido que Shelly trabalhe como garçonete, assim como Anette (Jamie Lee Curtis), que também foi dançarina e agora atende no balcão. Shelly recebe sua filha Hannah, que procura se reaproximar dela. Mas Shelly entende que a vida de shows é mais importante que a relação com a sua filha. Shelly vai procurar emprego em outra casa de show, mas é desprezada pela idade.
Fiquei destruído com o filme. Um verdadeiro mundo cão, tipo "salve-se quem puder", de personagens trágicas e totalmente sem persepctiva, tocando a vida sem amor. A cena de Jamie Lee Curtis dançando 'Total eclipse of the heart" é emocionante, assim como a de Pamela Anderson na audição para escalação d enova sgarotas. A conversa dela com o produtor, insistindo para ser contratada, é de cortar o coração.
Lonely blue night
"Lonely blue night", de Johnson Cheng (2020)
Premiado curta, escrito e dirigido pelo sino americano Johnson Cheng. O filme para sobre pertencimento, culturalidade e relação geracional entre mãe e filha, agora separadas poe duas culturas muito diferentes.
A mãe (Diana Lin) da adolescente Lisa (Lydia Zhou) reencontra a sua filha após anos separadas. Lisa foi enviada pelos pais chineses para estudar o ensino médio na Califórnia. A família decide realizar um jantar em um restaurante chin6es para reuniar a família chinesa e a família adotiva americana de Lisa. Para a surpresa da mãe, a filha já está bastante mudada em seu comportamento.
O fiulme é lindamente realizado. A direção posta em minimalismo, e as reações são muito sutis na relação mãe e filha. A decupagem do filme começa com planos gerais, e no seu desfecho, vai utilizando closes. É um filme simples na sua história, mas com um aprofundamnento emocional muito comovente, na sesação da mãe estar perdendo a sua filha.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Offline
"Offline", de Daniel Fure Schwarz e Mauritz Brekke Solberg (2023)
Concorrendo em diversos festivais de cinema, "Offline" é uma comédia ácida norueguesa, com um dos roteiros mais provocativos e inteligentes que assisti recentemente. O filme é uma aula de roteiro, de edição, de direção de atores e na trilha sonora. De forma quase didática, o filme apresenta uma reunião em uma produtora de comercial, na presença de seus criativos- produtores, editor, diretora- e o cliente, que estão no data show projetados. O filme ensina todos os termos que acontecem na reunião: PPM, brand, edição, iluminação, relação cielnte, agência e produtora. Quando o projeto está para ser aprovado, um representante do cliente, que é um consultor de diversidade, levanta uma questão: que os únicos 2 atores do comercial são negros, e que essa pauta pode não agradar uma fatia do público. Ele questiona ainda que o comercial poderia ser um produto visto como "woke" e provocar antipatia. A produtora questiona que a cliente esteve presente na PPM e aprovou o elenco negro, e a cliente diz que não estava na reunião. Ele sugere "clarear "a pele da atriz negra para mudar a sua etnia. Isos leva à uma discussão sobre racismo. Depois, discute-se que um dos comerciais produzidos, um menino com síndrome de down não foi aprovado por não aparentar ter down, e contrataram um ator que não é down para interpretar o papel. Para piorar a situação, em um momento de intervalo, achando que a equipe não está vendo a projeção, o concultor de diversidade se masturba, e todos da equipe ficam chocados.
O filme é baseado em história real, ocorrida com um dos diretores, que dirigiu muito comercial e tem vivência com a relação de aprovação com cliente, que sugeriu muitas coisas absurdas. São tantas as questões éticas levantadas no filme, que se torna quase que imprescindível assistir ao filme com uma turma e levantar discussões acerca dos caminhos do politicamente correto.
Avenida beira mar
"Avenida beira mar", de Maju de Paiva e Bernardo Florim (2024)
Prêmio Félix de Melhor Filme Nacional no Festival do Rio, um prêmio dedicado à temáticas queer, o drama "Avenida beira mar" é dirigido e escrito por Maju de Paiva e Bernardo Florim . Conduzido por um elenco que mescla atores veteranos com jovens atores, o filme traz um excelente trabalho de direção de atores. Andrea Beltrão, Analu Prestes, Isabel Teixeira, Emiliano Queiróz, contracenam com Milena Pinheiro, no papel da filha de Marta (Beltrão), Rebeca, e Milena Gerassi, no papel da jovem trans Mika.
O filme acompanha Marta e Rebecade mudança para o bairro de Piratininga, Niterói. Instalando-se em uma casa, Marta, que faz tratamento para câncer, tem dificuldades de comunicação com Rebeca. Rebeca acaba ficando a melhor amiga de Mika, uma jovem trans que sofre transfobia de seus pais, como sua mãe, Viviane (Teixeira), que querem que Mika assuma seu nome de cartório João Pedro e haja como menino. Na escola, Mika sofre bullying, e na praia e em um galpão, sucessivas tentativas de estupro e abuso sexual.
'Avenida beira mar" é um grito de alerta de jovens , no filme representadas por uma menina trans e uma menina negra, que não são compreendidas pelos seus pais e nem pelos adultos que os rodeiam. Inclusive a vizinha Dona Jô, que insiste que um "meenino estranho" circunda a região.
A história coloca em pauta todos os preconceitos sofridos pela garotada, e traz também uma parcela grande de adultos conservadores que não conseguem assimilar as identidades de gênero. O desfecho me lembrou a narrativa lúdica de "Noites de Cabíria", de Fellini.
Tudo vai ficar bem
"Cong jin yihou", de Ray Yeung (2024)
Vencedor dos prêmios Teddy no Festival de Berlim 2024 e prêmio Felix no Festival do Rio, dedicados a filmes com temática Lgbt, "Tudo vai ficar bem" é um drama Lgbt escrito e dirigido pelo cineasta de Hong Kong Ray Yeung. O filme é centrado no casal lésbico Angie (Patra Au) e Pat (Lin-Lin Li). Casadas há 30 anos, e agora já aos 60 anos, o casal vive feliz em seu belo e aconchegante apartamento que adquiriram juntas em vida. A família de Pat as visita durante o Fetsival do meio do outono. Nessa mesma noite, após todos irem embora, inesperadamente Pat morre. Em luto, Angie recebe o conforto de amigos e dos familiares de Pat. Mas quando a família descobre que Pat, responsável pela documentação do apartamento, não colocou a tempo o nome de Angie como a herdeira, a família de Pat abre a guarda e decide que quer tirar o apartamento de Angie e assumir o local. Angustiada e sem conseguir provar os seus direitos como esposa do relacionamento, sendo apontada apenas como "amiga", Angie recebe o conforto de suas amigas lésbicas, que procuram ajudá-la.
Um filme sensível e que na verdade me deixou muito irritado por conta dos parentes de Pat. Como diz o filme de Mario Monicelli, "Parente é serpente". Com ótimo elenco, principalmente as atrizes que formam o casal Angie e Pat, que passam muita verdade e naturalidade no relacionamento, "Tudo vai ficar bem" traz temas como lesbofobia e ganância.
Rainhas
"Reinas", de Klaudia Reynicke (2024)
exibido em importantes festivais como Sundance, Berlim e Locarno, "Rainhas", é uma co-produção Peru, Espanha e Suíça. O filme é co-escrito e dirigido pela cineasta peruana Klaudia Reynicke, livremente inspirada em sua adolescência no Peru, quandop teve que sair do país por conta da guerra civil nos anos 90. Junto de seu co-roteirista Diego Vega, ela conta uma história que fala sobre pessoas que são obrigadas a abandonar seu país e a sua história de vida e cultural. Em Lima, capital do Peru, em 1990, o país passa por uma guerra civil e uma crise econômica que matou 70 mil pessoas. Desemprego, alta inflação apavoram a sociedade. Elena Jimena Lindo) é uma mãe divorciada de Carlos (Gonzalo Molina). As filhas Lucia (Abril Gjurinovic) e Aurora (Luana Vega) moram com a mãe. Carlos atualmente está trabalhando como taxista para se sustentar. Quando Elena consegue um emprego nos Estados Unidos, ela avisa a Carlos que vai levar as filhas. Carlos reage mal e diante do inevitável, decide investir mais tempo com as suas filhas.
Indicado pelo Peru à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025, o filme é um relato dramático comovente sobre uma família que se desmantela, e também, sobre a dificuldade do desapego emocional ao país onde foi construída toda uma história. Focado nas filhas, que sofrem diante da viagem, "Rainhas" é como o pai chama suas filhas. Um excelente trabalho de atuação, em registro naturalista, com algumas doses de leve humor.
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Nenhuma noite é longa o bastante
"No night is too long", de Tom Shankland (2002)
Produção Canadá/Estados Unidos, "Nenhuma noite é longa o bastante" é uma trama de suspense, romance e drama à moda antiga. Me lembrei muito de "O talentoso Ripley" e de 'Saltburn": uma trama sobre identidade, sobre ambientes luxuosos e requintados, sobre paixão avassaladora, traição, morte e vingança. Resumindo, um grande melodrama com uma trilha sonora que remete a uma sonoridade de clássicos dos anos 40 e 50.
Tim Cornish (Lee Willians) é um estudante de faculdade. Ele é um rapaz extremamente bonito, e todas as atenções são voltadas para ele. Quando o seu olhar cruza com o do professor Ivo Steadman (Marc Warren), é paixão à primeira vista para os dois. Tim vai morar com ivo e passa a aproveitar do conforto da vida com ivo. Quando Ivo pede que Tim viaje com ele a trabalho, Tim recusa. Enciumado, Ivo viaja sozinho. Tim conhece Emily (Emily Holmes) e ambos acabam se tornando amantes. Quando ivo retorna, reclama com Tim que ele não lhe respondeu nenhuma carta. Após uma reocnciliação, ambos viajam em um cruzeiro pro Alaska. Durante uma briga, Tom provoca um acidente e mata Ivo. Ele esconde esse fato de todo mundo, e passa a usar o cartão de crédito de Ivo.
Um filme que traz um glamour e um requinte bem típicos dos dramas de Hollywood dos anos 50, "Nenhuma noite é longa o bastante" traz o ator Lee Willias que é como o personagem: é tão bonito que é dificil de desviar o olhar nas cenas em que está. A trama tem plot twists e traz uma reviravoltas bem próprias de "O talentoso Ripley".
Silent sparks
"Silent sparls", de Ping Chu (2024)
Concorrendo no Festival de Berlim 2024 na Mostra Panorama, "Silent sparks" é um thriller lgbt de Taiwan. O filme lembra muito a estética de Won Kar Wai em "Happy together", acrescentado de uma trama policial de gangsters, meio "La plata queimada", filme lgbt argentino.
Pua (Guan-Zhi Huang) é um jovem gangster que é liberado da prisão. Ele mora sozinho com sua mãe. Pua trabalha em um depósito de alimentos, mas é uma fachada. Ele retornou para trabalhar com o antigo chefe mafioso. Sua mãe ignora que ele voltou ao crime e fica precocupada que ele sai de noite. Pua acaba se envolvendo em uma tarefa que seu chefe lhe incumbiu e que deu errado, acabando por contrair uma grande dívida com seu chefe.
Mi-Ji (Ming-Shuai Shih) , ex companheiro de cela de Pua, é solto. Na prisão, Mi-Ji protegia Pua e ambos eram amantes. Pua quando sabe da libertação de Mi-ji, que se torna o braço direito do chefe de Pua, vai ao seu encontro, esperando que voltem a se tornar amantes. mas Mi-ji o ignora.
'Silent sparks" é uma história de amor e crime, paixão e frustração. O filme tem um belo visual, alternando cenas noturnas e dirunas, todas bem enquadradas e sstilizadas. Mas o filme tem uma narrativa fria, um ritmo lento e personagens sem muito carisma. Difícil acreditar e torcer pelo amor dos dois bandidos.
Retratos de Andrea Palmer
"Portraits of Andrea Palmer", de C. Huston e Joe Rubin (2018)
Uma produção indie americana, "Portraits of Andrea Palmer" é um filme desesperançoso, trágico, sobre a descida ao inferno de uma camgirl que segue para Los Angeles e se envolve com máfia da indústria pornográfica, drogas pesadas, mortes, cafetões violentos e bondage. O filme é repleto de cenas de sexo explícito, protagonizadas pelas atriz pornô Katrina Zova no papel de Andrea. É uma performance corajosa e ousada, com cenas de mutilação e autoflagelação. O corpo feminino é explorado de forma violenta, sórdida, e os diretores e roteiristasC. Huston e Joe Rubin quiseram com o filme apresnetar o lance frio e perverso da pornografia. Para dar uma atmosfera mais undergorund, o filme foi rodado em 16 mm, com fotografia escura, como se fosse um filme pornô dos anos 70. Com uma narrativa experimental, o filme é dividido em 7 capítulos, finaliando em um achacina explícita, com muito gore e vísceras. Li que após as filmagens, a atriz Katrina Zova desapareceu, dando uma característica ainda mais maldita ao filme.
Agaves al Alba
"Agaves al Alba", de Lex Rentería (2024)
Curta mexicano Lgbt, 'Agaves el Alba" traz em sua essência, uma homenagem à "O segredo de Brokeback mountain", de Ang Lee, e também lembra o filme recente de Almodovar, "Uma estranha forma de vida". O que une todos esses filmes, é a paixão entre 2 cowboys, que precisam lidar com o seu amor em um mundo homofóbico e conservador. Estilizado, com fotografia saturada e um figurino que parece copiado de "Brokeback mountain", "Agaves al Alba" foi rodado em Tequeila, na cidade de Jalisco, México. Alejandro (Abraham Ríos) está se despedindo de Miguel (Diego Ramírez). Ele quer tentar a sorte na cidade grande, como ator. Entre bebidas em um bar, Alejandro se sente incomodado com os olhares dos clientes que riem da intimidade entre os dois homens. Alejandro e Miguel vão beber fora dali, e Miguel percebe que Alejandro fica se preocupando com o que os outros pensam.
Um filme simples na sua narrativa, porém, belamente fotografado, com um visual estilizado, favorecido pelas belas locações. Um sabor de melancolia em seu desfecho, uma busca de um sonho de liberdade.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Kodama
"Kodama", de Brian Tang (2023)
Um curioso e criativo curta de fantasia e ação, escrito e dirigido por Brian Tang. Competindo no Festival SXSW em 2023, o filme parte de uma premissa instigante: e se os samurais ainda existissem nos dias de hoje? O filme é ambientado em um Estados Unidos distópico. Uma divisão da SWAT é formada por samurais modernos, que precisam lutar contra espíritos demoníacos, chamado Kodama. Artur (Brandon Soo Hoo) é um dos samurais, e precisa salvar seu pai, Hiro (Chris TAshima) , que foi levado como refém pelo Kodama.
Os efeitos são excelentes, considerando ser um curta, com direção, fotografia, montagem e trilha muito envolventes. Certamente, esse filme poderia se tornar um longa-metragem, tem conteúdo e roteiro para isso.
Farol da ilusão
"The sand castle", de Matty Brown (2024)
"No mundo, 500 milhões de crianças vivem em áreas de conflito armado. Elas têm medo constante e seus direitos sofrem violações. Como deslocamento forçado, que afeta a saúde mental. Esse filme é dedicado às crianças forçadas a viver dentro da própria imaginação para poderem sobreviver."
Esse texto parece ter saído do filme "O labirinto do fauno", de Guillermo del Toro. Mas não. ë do filme co-produzido por Líbano, mMirados árabes e Estados Unidos, escrito e dirigido pelo americano Matty Brown. O filme é estrelado pela grande diva do cinema libanês, a atriz e diretora Nadine Labaki. O filme apresenta uma família, composta pelos pais, Yasmin (Nadine Labaki) e o marido, Nabil (Ziad Bakr, além dos filhos pequenos Jana (Riman Al Rafeea) e Adam (Zain Al Rafee). Os 4 estão isolados em uma ilha, náufragos após sobreviverem à um acidente em uma embarcação duq levava refugiados turcos para a Grécia. O filme tem como pano de fundo a história real ocorrida entre os 2 países em 2020: o governo turco deu autorização para que famílias trucas seguissem de barco até a Grécia, com a garantia de que o país os receberia. Mas isso não aconteceu. A grécia impediu que entrassem no país, e muitos morreram no mar. Essa história me lembrou do filme de Agnieska Holland, "Green border", um filme aterrorizante sobre a Polônia e a Bielorrúsia travando um jogo de empurra empurra com refugiados.
"Farol da ilusão" tem um plot twist que se esconde em seu tíulo brasileiro. Todo o filme é trabalho com imagens estilizadas, como memórias. A fotografia é belaa, e o CGI grita no filme. Bo final das contas, achei o final frustrante para sustentar um filme inteiro. Fui ver o filme achando que era um thriller, e encontrei um filme diferente.
Single man problems- Volume one
"Single man problems- Volume one", de Bobby Ashley e Robert Mccullough (2023)
Inicialmente uma série para o canal Tubi, lançada em 2018, "Single man problems- Volume one" é um filme lançado como longa-metragem em 2023, mas na verdade, é um compliado da série Lgbt com cenas adicionais inseridas. Os diretores e roteiristas Bobby Ashley e Robert Mccullough quiserem trazer elementos mais contemporâneos, além de intensificar a relação do protagonista, Ronnie Maxwell (Keefe Grimes), com a sua mãe.
Ronnie é um jovem de 20 anos, recém formado na faculdade em Nova York. Solteiro e sem perspectivas de trabalho ou mesmo de um romance, Ronnie divide o apartamento com seu melhor amigo, Emanuel, que namora Melinda. Ronnie quer ser roteirista, mas enquanto não pinta uma oportunidade, ele faz bicos. Emanuel aconselha Ronnie a procurar alguém para namorar. O filme traz um elenco todo negro e queer. Ronnie, durante a sua tragetória, vai afirmando a sua identidade queer entre seus amigos da cidade. O filme traz momentos de comédia romântica, mas também momentos dramáticos, quando um dos amigos de Ronnie reúne os amigos próximos para falar sobre a Prep e a importância da prevenção. A série e o filme foram realizados com orçamento baixíssimo, o que reflete no áudio ruim e na fotografia chapada. Mas os atores e o roteiro são bons, e prevalecem sobre as questões técnicas.
Mab Hudel
"Mab Hudel", de Edward Rowe (2022)
Curta inglês LGBTQIAP+, "Mab Hudel" é escrito e dirigido pelo cineasta Edward Rowe. a maior curiosidade do filme, é que os personagens falam o idioma córnico, que é uma dialeto falado na Cornualha, sudoeste da Grà Bretanha. O dialeto é totalmente diferente do inglês.
Enys (Chris Jenkins) é um jovem que joga no time de rugby da cidade, e também ajuda sua mãe e sua avó a cuidar da fazenda deles. Com o tempo todo tomado, ele ainda precisa encontrar tempo para se encontrar às escondidas com o jogador do time Hikka (Rick Yale). Ambos se encontram na praia deserta e ali vivem o seu romance, escondido de todos.
Um filme de narrativa simples, sobre personagens que vivem a sua homossexualidade reprimida pelo ambiente conservador e homofóbico, principalmente dentro do ambiente esportivo e tóxico do esporte rugby. Belas imagens captadas pela fotografia, favorecido pelas lindas locações. Bom trabalho dos atores e da direção que soube criar uma narrativa simples mas sensível.
domingo, 26 de janeiro de 2025
Oh Canadá
"Oh Canada", de Paul Schrader (2024)
Paul Schrader é um roteirista e diretor de cinema americano que ficou famoso mundialmente quando escreveu o roteiro de "Taxi driver", de Scorsese. Schrader dirigiu e escreveu muitos cults nos anos 70 a 90, como "Mishima", "A marca da pantera", "Hardcore-no mundo do sexo" e "Vivendo na corda bamba". Nos anos 2000, a sua filmografia teve em destaque "First reformed", de 2017, mas os filmes que vieram a seguir, "O contador de cartas", "Jardim dos desejos" e agora "Oh Canadá" deixaram bastante a desejar. Nem faço ideía como o filme foi selecionado para a competição oficial em Cannes 2024. Talvez pelo elenco: Richard Gere (com quem ele trabalhou em 1980 em "O gigolô americano"), Jacob Elordi e Uma Thurman. Ou pelo seu prestígio pelos seus filmes famosos. Mas. averdade é que "Oh Canada", adaptado do romance de Russel Banks, "Forgone", é bem chato e narrativamente frio. O protagonista é Leonard Fife (Richard Gere), um documentarista famoso na faixa dos 80 anos, que está com câncer terminal. Dois ex-alunos seus de documentário, Malcolm (Michael Imperioli) e Diana (Victoria Hill), decidem filmar um documentário, no estilo dos filmes que Leonard fazia, para a posteridade. Para surpresa de todos, e de sua esposa que está presente, Emma (Uma Thurman), ele decide revelar a verdade sobre sua vida. Considerado um herói pelos canadenses, país em que ele refugiou nos anos 60 após mentir no alistamento militar americano para a guerra do Vietnã, só para não ter que ir em combate, Leonard (Jacob Elordi no passado) fala sobre as mulheres com que se relacionou e toda uma sorte de mentiras que teve que criar para fugir de responsabilidades. Emma alega que ele está delirando por causa da doença, e o filme deixa para o espectador supor o que é real e o que é inventado.
O filme é bem chato e a narrativa é fria. Schrader coloca seus dois atores, Gere e Elordi, transitando entre passado e futuro, misturando aos atores das duas épocas, truque que faz também com Uma Thurman. A fotografia alterna entre cores e PB. Fiquei indiferente durante todo o tempo do filme, sendo que li emalgumas críticas que o filme seria um mea culpa de Schrader, e que Leonard seria um alter ego. Teria sido mais interessante se tivesse realizado um filme mais objetivamente narrativo.
Peso pesado
"Heavy weoght", de Jonny Ruff (2016)
Drama Lgbtqiap+ inglês, "Peso pesado" é um curta premiado sobre um boxeador que treina em uma acade,ia de boxe em Londres, Paris (Chuku Modu, também co-roteirista). Paris interage com seus colegas em um ambiente de masculinidade tóxica e hipermasculinidade. Um dia, um novo aluno chega: Connor (Jace Moody). Ele não se mistura aos outros, até que o treinador pede que Paris faça dupla com ele no treinamento. Os dois se dão bem nos treinos. Quando estão apenas os dois no vetsiário, entre conversa sobre mulheres e esporte, Connor acaba beijando Paris desprevenido, que repele com violência. Nos treinos, Paris se torna violento com Connor. Mas o beijo transformou Paris, que não é mais o mesmo, e Connor sabe disso.
Com duas ótimas performances, "Peso pesado" é um filme que comove: a cena final, dos dois homens abraçados e chorando, resume bem o meio em que eles vonvivem. Provavelmente jamais assumirão a sua homosexualidade, e devem viver na solidão e na mentira as suas vidas verdadeiras. Um filme que explora o mundo dos esportes, onde esportistas gays precisam esconder a sua orientação sexual, com medo de sofrerem homofobia e serem expulsos.
Guerra de porcelana
"Porcelain war", de Brendan Bellomo e Slava Leontiev (2024)
Finalista entre os indicados a Oscar de melhor longa documentário 2025, "Porcelain war" é uma co-produção Ucrânia, Estados Unidos e Asutrália. O filme ganhou melhor documentário no Festival de Sundance 2024.
O filme fala sobre como a arte é utlizada como um forte antídoto para os horrores aa guerra. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, o casal de artistas Slava Leontyev (que também co -dirige o filmè) e Anya Stasenko, perefre continuar no país do que fugir para a fronteira e pedir asilo. Ele é escultor de objetos em porcelana, ela os pinta. Ambos se conheceram desde pequenos, e moravam na cidade da Criméia. Com a guerra, enquanto muitos fugiram, eles decidem ir para Kharkiv, e lá se unem a outros artistas, incluindo o fotógrafo Andrey Stefnov, que largou a pintura pelas lentes de uma câmera. Todos decidem continuar a trabalhar em sua arte, como uma forma de se expressarem no patriotismo, pois como diz Slava, um país sem arte, é um país sem cultura. Slava, que é ex-combatente, ensina a todos a como portarem armas e a como se defenderem em casos de ataque. O filme apresenta uma rotina de amor à arte, através de seus trabalhos, e amor à sua pátria.
As imagens de Anya, pintando com as suas belas imagens os drones que sobrevoam a cidade destruída, é muito simbólico e uma imagem bastante comovente. O filme traz imagens chocantes da guerra, e o contraste com as belas esculturas posicionadas em locais onde a guerra destruiu. faz desse filme algo muito poderoso. É desolador acompanhar a rotina do treinamento de artistas que nunca pegaram em uma arma, tendo que aprender a se defender. Um filme arrebatador e trágico.
Acompanhante perfeita
"Companion", de Drew Hancock (2025)
Divertida fantasia de suspense e ação, 'Acompanhante perfeita" lembra filmes como 'Ex-machina" e até mesmo uma versão dark de "Mulheres perfeitas", com Nicole Kidman, sobre esposas e amantes que são robôs programadas para satisfazer seus amantes. Escrito e dirigido por Drew Hancock, o filme parece um episódio esticado de "Black mirror" com a sua trama que mescla fantasia e ficção científica, trazendo metáforas sobre relacionamentos tóxicos e abusos de poder, além de assédio sexual.
Josh (Jack Quaid) e Iris (Sophie Thatcher) se conhgecem em um supermercado e é amor à primeira vista. Após um tempo de relacionamento, Josh leva Íris para um final de semana na casa de um amigos, em um locaal isolado. A casa é do milionário russo Sergey, namorado de Kat, que é melhor amiga de Josh. Além deles, tambéme stá o casal gay Eli (Harvey Guillén) e Patrick (Lukas Gage). Quando um acidente ocorre, uma trama se desenrola, expondo a verdade sobre cada um na casa.
Não se pode explorar muito a sinopse da trama para não configurar como spoiler. É um filme divertido, com diversos plot twists. A violência é moderada, com uma ou outra cena mais violenta. O elenco todo é ótimo, com destaque para Sophie Thatcher, uma das missionárias de "Herege", e para Jack Quaid, que traz um personagem repleto de camadas. O final tocando 'Emotion", do The Bee Gees, é demais!
sábado, 25 de janeiro de 2025
Dysmorphic
'Dysmorphic", de Grant Swanson (2024)
"Dysmorphic" é praticamente uma versão masculina de 'A substância". O filme fala sobre vaidade, baixa auto estima e depressão. O cinesta e roteirista Grant Swanson escreveu a história baseada em sua própria história: quando adolescente, Grant não tinha o corpo padrão e se sentia rejeitado, ficando ansioso e depressivo. Aaron (Austin Ford) é um homem de 32 anos que mora sozinho. Em sua casa estão espalhadas muitas mensagens de auto ajuda e de empoderamento. Mas Aaron se acha feio e sem um corpo atraente. Ele troca mensagens no Tinder com uma garota por quem ele se apaixona, usando fotos de um modelo. Quando ela pede um encontro presencial, ele deletaa conta. Aaron cancela suas sessões online de terapia com uma psicóloga por achra que não lhe traz resultados. Ao tomar connhecimento de magias demoníacas, Aaron faz um pacto. Ele aluga um quarto para um jovem estudante bonito e musculoso, Theo (Ian S. Peterson) e acaba deseja trocar de corpo com ele.
O filme tem muita nudez e cenas de sexo e trabalha como uma parábola de terror o desejo à beleza e à admiração pelo corpo. O ator que faz Aron é muito bom, e a bem da verdade, ele não é feio e tem um corpo comum. Mas a crítica do filme é justamente pela busca dos excessos de padrão de belea, que através das redes sociais, sufocam o ser humano que nao se encaixa nos rótulos.
Esqui
'Ski", de Manque la Banca (2021)
Vencedor do prêmio Fipresci no Festival de Berlim 2021, essa co-produção Argentina e Brasil é um filme experimental, que mescla documentário, drama e fantasia. O cineasta argentino Manque La Banca nasceu em Bariloche, cidade que abriga a maior estação de esqui da América Latina. O local é repleto de contradições: luxuosos resorts frequentados por turistas milionários X descendentes de indígenas que moram na periferia e que trabalham nos resorts. O diretor entrevista turistas ( tem até brasileiros, que dizem que fugiram do calor) tem uma passagem engraçada onde um funcionário explica aos turistas que o filme que o diretor está filmando é "O resgate do soldado Ryan 4". A população periférica e pobre que atende aos turistas alerta a equipe de filmagem que nos arredores existem criaturas que atacam os resorts de noite: como o ser com garras que habita o lago Nahuel Huapi e o Capa Negra, uma criatura de olhos flamejantes.
É muito claro que o filme é uma crítica à divisão de classes e ao colonialismo que expulsos o povo indígena de suas terras. A questão é que a linguagem que o diretor utiliza para contar a história, é bem hermética e nem sempre funciona. As imagens captadas pela cÂmera da fotógrafa
Florencia Mamberti apresentam bem o contraste entre o luxo e a extrema pobreza da região.
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Riley
"Riley", de Benjamin Howard (2023)
"Riley" é um drama Lgbtq escrito e dirigido por Benjamin Howard, baseado em sua própria história, quando, na adolescência, ele era um astro do futebol no ensino médio e tinha conflitos com a sua sexualidade. essa história de protagonista em um esporte cercado por homens tóxicos em um esporte bruto, já vimos aos montes. "Riley" traz alguns elementos de conflito interessantes e tem 2 belas cenas dramáticas: quando Riley e seu crush, seu melhor amigo hetero e também jogador de futebol Jaeden (Colin McCalla) dividem o mesmo quarto, e na cena em que Riley se abre para sua namorada Skylar (Riley Quinn Scott). Mas o que estragou totalmente a minha interação com o filme, foi a escalação de elenco do ator protagonista, Jake Holley, no papel de Riley. Não que ele seja mal ator, ele está bem na performance. Mas é que o personagem tem 18 anos, e Jake nitidamente tem muito mais idade, já é um adulto de quase 30 anos. O porque de sua escalação para mim é uma incognita, mas destruiu toda a inocência e frescor do personagem. Vendo um homem adulto, me passa por alguém com experiência, o que não condiz com o personagem.
Riley é capitão de seu time de futebol na high school. Ele tem uma namorada que o ama, Skylar, e seu melhor amigo, Jaeden está sempre do seu lado. Mas Riley é gay e não consegue se abrir para o mundo, temendo sua família religiosa, seu time e sua escola. Ele vai no app e marca um encontro sexual com um homem mais velho para poder entender os seus sentimentos. Da mesma forma, ele evita a aproximação de um aluno gay, temendo que a galera ache que ele também é gay.
Cadi
"Cadi", de Erman Bostan (2024)
Vendido como filme de terror, "Cadi" é uma produção turva e o nome significa "bruxa". O filme procura buscar referências em filmes como "Os outros" e "Os inocentes", tanto na atmosfera, na ambientação e na trama sobrenatural. Mas o resultado final é muito fraco. Não há tensão, o filme é longo e arrastado demais, com 135 minutos, e mistura sob-tramas desnecessárias, como espionagem e segredos familiares.
Nos últimos dias do Império Otomano, no início do século 20, a jovem viúva Fikriye (Buse Meral) tem um casamento arranjado com o também viúvo Nasit Nefi (Furkan Andic), pais de 2 crianças. A sociedade da época não vê com bons olhos mmulheres solteiras e por isso ela acaba aceitando. Nefi foi casado duas vezes e as mulheres morreram em acidentes. Fikriye vai morar na mansão, mas percebe coisas estranhas acontecendo. Ela ouve dizer que o local é mal assombrado por uma bruxa.
O filme traz flashbacks que mostram o motivo das assombrações, e mais uma vez, um filme de terror se apropria do g6enero para fazer metáforas sobre violência doméstica e trauma do passado. Fiquei assistindo entediado o tempo todo, e o que me segurou foi a beleza dos dois protagonistas, especialmente o do ator Furkan Andic. O suspense inexiste e violência não há.
O condenado
"The damned", de Thordur Palsson (2024)
Esse filme de terror co-produzido pela Islândia, Reino Unido , Irlanda e Bélgica tem um dos finais mais tristes e desesperançosos que vi recentemente em filme de gênero. Fiquei muito triste polo plot twist nos 5 minutos finais, mas é sobre isso o que o filme fala: o pior da raça humana, o desprezo, a falta de solidariedade, o egoísmo
Ambientado no século XIX, o filme se passa em um vilarejo pesqueiro na costa da Islândia. Em uma região inóspita e isolada, mora uma pequena comunidade de pescadores, liderados por Eva )odessa Young), viúva do ex-líder dos pescadores. Dona de uma embarcação onde os pescadores saem para pescar, Eva procura racionar a comida, que está pouca por conta da péssima temporada de pesca. Quando um veleiro sofre um acidente e afunda nas pedras, Eva e os pescadores ficam em dúvida se salvam os náufragos, pois a comida é pouca para todos, e decidem deixá-los morrer. No dia seguinte, recolhem restos de alimentos e combustível do barco, e encointram uns sobreviventes agarrados às geleiras, mas não os salvam. Estranhos acontecimentos passam a acontecer, e todos acreditam que é uma entidade sobrenatural que veio para se vingar deles.
O filme traz protagonistas absolutamente desprezíveis, com exceção de uns poucos que ainda trazem alguma humanidade mas que são colocados de lado pelos líderes. Deve ter sido muito difícil rodar o filme em uma região tão complexa, mas pode ser que tenham usado muito CGI. O que prejudica o filme para que seduza os fãs de terror, é seu ritmo extremamente lento e contemplativo, e as mortes que são poucos inspiradoras.
A cozinha
"La cocina", de Alonso Ruizpalacios (2024)
Concorrendo na competição oficial do Festival de Berlim 2024, "A cozinha" é um drama co-produzido por México e Estados Unidos. Co-escrito e dirigido pelo cineasta mexicano Alonso Ruizpalacios, o filme é tem uma fotografia e um trabalho de câmera espetaculares, comandado por
Juan Pablo Ramírez. O filme é 90 por cento ambientado dentro de um restaurante em Times square, The Grill. Estela (Anna Diaz) pega metrô e salta em Times Square, para trabalhar no The grill, recomendada pelo colega mexicano Pedro (Raul Briones), que é o cozinheiro de lá. Ambos não possuem documentos legais. Vários personagens surgem ali. Tem Julia (Rooney Mra), uma garçonete envolvida com Pedro e que revela estar grávida dele. Tem o gerente que alega que foram roubados 800 dólares do caixa e acusa os imigrantes não documentados.
O filme acontece todo em um restaurante, filmado em todos os seus ambientes e trazendo um mundo alegórico, um micro cosmo da humaniodade em todas as suas podridões;; misoginia, xenofobia, racismo, luta de classes, aborto, assédio sexual e moral. São muitos os temas e muitos os personagens, parecendo um filme mural nos moldes de Robert Altman. Mas o que mais impressiona mesmo é o trabalho da câmera, em longos planos sequencias percorrendo ambientes. E o desfecho, uma catarse impressionante liderada pelo ator Raul Briones. O filme é longo, 2hrs20, e cansativo, esse é meu único senão.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
A garota da agulha
"Pigen med nålen", de Magnus von Horn (2024)
Que porrada é "A garota da agulha", um dos filmes mais angustiantes que o público irá assistir em muito tempo. Rodado em formato de tela 4:3, com uma fotografia em preto e branco de Michal Dymek, que emula os filmes de terror clássicos, e uma trilha sonora sinistra de Frederikke Hoffmeier, o filme concorreu no Festival de Cannes 2024 e está entre os 5 finalistas ao Oscar de filme internacional 2025.
O filme ficionaliza uma aterrorizante história real: Na Copenhague de 1919, no pós 1a guerra mundial, com o país em desolação e pobre, uma mulher, Dogmar Obervy, foi presa. Ela foi conhecida como uma das maiores serial killers do país, tendo assassinado entre 9 a 25 crianças: enforcadas, ou queimadas em incineradores, ou afogadas. Dogmar tinha uma loja de doces, onde recebia mães sem condições de cuidarem de seus bebês, que os doavam para adoções. Na verdade, Dogmar mentia e ela mesmo dava um fim à elas, alegando que o mundo não merecia essas criaturas que traziam desolação para suas mães. Só que Dogmar não é a protagonista do filme. O caminho dela se cruza com o de Karoline (Vic Carmen Sonne), uma jovem que trabalha em uma fábrica de roupas. Seu marido, Peter (Besir Zeciri) lutou na guerra e nunca mais deu sinal. Acreditando que ele esteja moprto, ela pede reparação financeira para viúvas, mas como não existem provas, o governo nega. Sem dinheiro para pagar o aluguel, Karoline é expulsa do prédio. Ela acaba se envolvendo com o dono da fábrica e engravida, mas a mãe do rapaz o proíbe de se casar com ela e a expulsa também da fábrica. Peter acaba retornando da guerra com o rosto desfigurado. Karoline o repele pelo fato dele nunca ter respondido, e ele acaba indo trabalhar em um circo como atração circense. Grávida, Karoline tenta enfiar uma enorme agulha em sua vagina para abortar, mas é salva por Dogmar. Karoline acaba indo trabalhar na loja de doces de Dogmar e doa seu bebê à ela.
O filme é para quem tem estômago forte. É cruel, aterrorizante, desolador. As duas atrizes, a espetacular Trine Dyrnhol, é Dogmar, e Vic Carmen Sonne é um assombro como Karoline. As composições físicas, de corpo e as muitas emoções que ambas precisam trazer às personagens, são immpressionantes. A pequena Ava nox, como a menina Erena também traz um registro comovente para a tragédia dessas pessoas.
Trine Dyrholm
Dagmar
A partida
"La partida", de Antonio Hens (2013)
"La partida/The last match", de Antonio Hens (2013)
Intenso drama cubano, sobre 2 jovens aspirantes a jogadores de futebol que se apaixonam. Yosvani vai se casar, e o genro tem um mercado negro de mercadorias excusas. Reinier joga futebol, mas tem um filho pequeno para sustentar, a esposa e a mãe. Para manter a familia, ele se prostitui de noite na beira-mar, com o consentimento de sua mãe. Ele se oferece para turistas gays. Uma noite, bêbado, Reinier beija Yosvani e a partir daí, Yosvani se depara com uma nova realidade: se descobre gay. O filme lembra bastante o longa "Arranha-céus flutuantes", considerado o primeiro filme de temática gay polonês. O conflito psicológico do personagem que não consegue mais ser o que era, e o destino trágico abraçando a tristeza de morar num lugar que não aceita a união homossexual. Bem dirigido, performances louváveis de todo o elenco, e aquele eterno ar de decadência das locações e do modo de vida cubano. As cenas de sexo são bem ousadas, e até impressiona, tendo em consideração a censura em Cuba. Se pegarmos em comparação "Morango e chocolate", um dos primeiros filmes gays cubanos, ainda nos anos 90, podemos perceber que houve um avanço considerável na liberdade criativa e na qualidade técnica dos filmes. Nota: 8
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Ninguém a ouviu gritar
"Nadie oyó gritar", de Eloy de la Iglesia (1973)
Cult do cineasta espanhol Eloy de la Iglesia, "Ninguém a ouviu gritar" é uma mistura de gêneros: drama, romance, suspense e umas piadas de humor cínico, principalmente em seu espetacular desfecho, com direito a plot twist. Existe muita inspiração no cinema de Hitchcok, principalmente "Janela indiscreta". Elisa (Carmen Sevilla) é uma acompanhante de luxo com clientes ricos e idosos. Ela viaja de Madrid até Londres para encontrar um de seus clientes. A viagem atrasa e ela decide cancelar a viagem, deixando seu cliente irritado. Ao retornar para seu apartamento, Elisa ouve uns gritos, e pelo olho mágico, ela vê o seu vizinho Miguel (Vicente Parra) jogando o corpo de sua esposa Nuria (María Asquerino) pelo poço do elevador. Elisa se desespera quando Miguel invade seu apartamento e a obriga a se desfazer do corpo com ele. Eles levar o cadáver até o porta malas do carro e na estrada, são parados pela polícia, que pede ajuda para que levem os acidentados até o hospital. Aos poucos, Elisa vai se afeiçoando a Miguel.
A trama do filme é bastante bizarra, mas nunca de ser kitsch ou divertida. Tudo no filme é um grande barato: as performances afetadas, o homoerotismo forçado com homens sem camisa; a trilha sonora, os figurinos e o desfecho que é um verdadeiro primor, não só pelo plot twist, d efato surpreendente, mas pelo o que acontece no seu desfecho. O clip romântuco entre Elisa e Miguel com direito a banho de espuma é genial.
Redes vazias
"Leere Netze", de Behrooz Karamizade (2023)
Premiado drama co-produzido por Irã e Alemanha, "Redes vazias" é um drama ambientado em Teerã sobre um jovem casal apaixonado. Amir (Hamid Reza Abbasi) e Narges (Sadaf Asgari) são de classes sociais distintas. Amir é de uma classe mais baixa, e trabalha como atendente em uma confeitaria. Para ser aceito pelos pais de Narges e poderem se casar, Amir precisa provar que tem dotes e dinheiro. Após uma discussão, ele é demitido do emprego. Amir se desespera, e acaba encontrando trabalho em uma percaria local. Enquanto isso, os pais de Narges querem lhe arranjar um casamento com um homem rico. Amir precisa lutar contra o relógio para conseguir o dinheiro. Ele decsobre que o dono da peixaria está envolvido em contrabando de caviar, e de cide fazer parte do esquema.
O filme pode ser visto como uma parábola sobre a ganância e ambição e que leva as pessoas à destruição. É bem óbvio que o desfecho não será um happy end. O filme trabalha em tons naturalistas as performances dos atores. O filme vai construindo um crescendo de tensão, junto de uma direção e de uma montagem bastante eficientes.
Feliz ano velho
"Feliz ano velho", de Roberto Gervitz (1987)
Essa é a 1a vez que revejo esse filme após o sue lançamento em 1987, ano em que assisti e era um adolescente. É muito especial rever o filme após o grande sucesso de 'Ainda estou aqui", de Walter Salles, lançado em 2024. Ambos os filmes são baseados em livros autobiográficos de Marcelo Rubens Paiva, mas acontecem em períodos históricos distintos. O cineasta Robert Gervitz adaptou o livro de uma forma livre, alterando os nomes dos personagens e trazendo uma contextualização da psique de Marcelo (no filme chamado de Marcos (Marcos Breda). O filme começa com Marcos em seu quarto do hospital, após o acidente em que se tornou tetraplégico. É a virada de 1979 para 1980, na tv passa a corrida de São Silvestre. Marcos tem pensamentos sobre a morte, e em seu delírico, ele revê momentos de seu passado: sua relação com o pai ainda vivo (Odilon Wagner, no papel de Rubens Paiva, que foi sequestrado pela ditadura eaqui chamado de Carlos; sua relação com sua mãe, Eunice Paiva, aqui chamada de Lucia (Eva Wilma). Mostra também sua paixão pela estudante universitária Ana (Malu Mader), engajada politicamente e com quem ele entra no movimento estudantil; e sua participaçao em uma banda de rock. O elenco traz as participações de Betty Goffman, Julio Levy, Isabel Ribeiro, Marco Nanini.
Além do excelente trabalho de todo o elenco, o filme tem outro grande destaque: a fotografia de Cesar Charlone, que trabalha com as cores básicas vermelho, azul, verde para trazer sentimentos às cenas.
Sob o silêncio das águas
"He bian de cuo wu", de Wei Shujun (2023)
Concorrendo na Mostra un certain regard no Festival de Cannes, o suspense noir chinês "Sob o silêncio das águas" é adaptado do romance de Yu Hua, "Mistakes by the river. Yua Hua escreveu o roteiro para a obra-prima de Zhang Yimou, "Tempos de viver", de 1990.
O filme apresenta um policial obstinado, Ma Zhe (Zhu Yilong), morador de uma cidade rural, Banpo, durante o ano de 1995, antes da virada econômica da China. Ma Zhe trabalha para a corporação policial da cidade. Uma senhora foi encontrada morta na beira do rio, espancada até a morte. A polícia acredita que o filho adotivo da senhora, conhecido como "Louco" por conta de distúrbios mentais, é o responsável. Ele está foragido. Outras mortes acontecem. A esposa de Ma Zhe, a professora Bai Jie, está grávida e na consulta médica, a doutora diz que o filho irá nascer com problemas mentais por conta de genética. Ma Zhe passa a entrar em conflito por estar perseguindo um louco e a possibilidade de ter um filho nas mesmas condições.
Rodado em 16 MM, o que lhe confere uma textura suja interessantíssima, o filme apresenta como trilha “Moonlight Sonata” de Beethoven.
A atmosfera do filme é excelente, além do trabalho do elenco, em especial, Zhu Yilong, como Ma Zhe, em eterno conflito. O roteiro deixa muitas pontas em aberto e pode frustrar muitos espectadores, principalmente em seu desfecho.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Pumpkin guts
"Pumpkin guts", de Bryan M. Ferguson (2024)
Curta de terror bastante criativo que se apropria de todos os clichês de filmes de terror para desenvolver uma história bastante original, e que será desenvolvida pelo roteirista e diretor Bryan M. Ferguson para um longa. Buscando referências em "Halloween", "Noite do terror", 'A corrente do mal", "O iluminado" e incluindo 'Stranger things", a história acontece em 1987, na noite de Halloween. Becky (Becca Murphy) é uma babá e está cuidando de uma criança em uma casa. Ela está ao telefone com uma amiga. A campainha toca. Assustada, ela abre a porta e vê o Pumpkin guts: uma maldição que acontece toda noite de HAlloween. A pessoa que abriu a porta e o encontrou, deve abrir a abóbora e ver qual o pedido que ele faz. Caso a pessoa não cumpra, a pessoa é levada pelo Pumpkin guts para um lugar desconhecido e desaparece. No pedido, Becky deve pegar a orelha de um vizinho específico e o colocar dentro da abóbora até a meia noite. Ela corre até o vizinho, corta a orelha dele após uma luta mas decsobre algo aterrorizante.
O filme é muito criativo, tem uma ótima trilha de sintetizadores que lembra "Halloween", os créditos iniciais lembram 'O iluminado" e tudo no final é uma grande brincadeira para fãs de terror.
Servos
"Sluzobníci", de Ivan Ostrochovský (2020)
Prêmio especial no Festival de Berlim 2020, "Servos" é um excelente drama baseado em história real, ambientado na Tchecoslováquia de 1980, sob o regime comunista. Com uma fotografia exuberante de Juraj Chlpik em preto e branco e formato 4:3 (lembra muito o polonês "Ida"), o filme traz uma excelente direção de arte e trilha, compondo imagens cinematograficamente bem compostas e enquadradas.
Dois jovens estudantes, Michal e Juraj, se matriculam em um seminário teológico na Tchecoslováquia. O regime comunista está fechando igrejas e escolas católicas. Os tutores dos jovens seminaristas os educam para atenderem as exigências do partido comunista:devem decidir se irão quebrar a ética do sacerdócio que é expor para o partido as confissões que eles testemunharam, ou se submeterão à vigilância da polícisa secreta, correndo o risco de serem obrigados a se alistar no exército. Existem alguns delatores dentro da igreja, que confidenciam para o regime comunista ações que os padres andam botando em prática na escola, como ler livros proibidos.
O filme é um primor visual, e mesmo em cenas trágicas (como um de suicídio), existe uma beleza na composição do quadro. O filme traz muitas cenas homoeróticas, mesmo não sendo um filme lgbt: os jovens atores são bonitos e aparecem nús. É um retrato cruel sobre a batalha entre regime comunista e igreja católica, e que me fez lembrar também do clássico de Louis Malle, "Adeus, meninos".
Gold fish
"Gold fish", de Pushan Kripalani (2024)
Filmes que lidam com o tema do Alzheimer sempre me comove. Premiado drama co-produzido por Reino Unido, Índia e Estados Unidos, "Gold fish"fala da cobflituosa relação entre mãe e filha. Sadhana (Deepti Naval) é uma cantora lírica indiana que abandonou sua filha e família para seguir até Londres para construir a sua carreira. Agora, Sadhan está com demência. Ela liga para a sua filha já adulta, Anamika (Kalki Koechlin), para socorrê-la. Ela não consegue agendar a sua vida profissional e na vida pessoal, está tudo um caos. Anamika decide ir, e aos poucos, vai entendendo quem é a sua mãe e porque ela tomou a decisão de abandoná-la. Ao mesmo tempo, as posições se invertem: Anamika agora está na função de "mãe" de Sadhana, que depende dela para tudo. Antes que sua mãe se esqueça de tudo, Anamika precisa quesioná-la sobre o passado.
Esse texto poderia ser facilmente adaptado para um contexto brasileiro e ser transformado em uma peça de teatro com 2 atrizes. É um jogo de verdades que se torna um embate moral sobre a maternidade x carreira profissional. As duas atrizes estão impecáveis e traba;hando muitas camadas de emoção. A cena final é absurdamente bela e melancólica.
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Scraps
"Scraps", de Ryan Nordin (2024)
Drama romântico Lgbtqiap+, 'Scraps" é um filme indie americano, que homenageia o cinema de Gus Van Sant. Ambientado em uma área rural de Montanam 2003, antes das redes sociais e internet, o filme fala sobre o primeiro amor gay de um adolescente. Assim como Gus Van Sant, o cineasta Ryan Nordin escala um elenco super fotogênico, e a câmera ama seus corpos e seus rostos, vestidos como se estivessem em um catálogo da Calvin Klein. Muita câmera lenta, fotografia etérea, muito flare e claro, muito homoerotismo no ambiente de skatistas.
Gus (Peder Lindell) acaba de se mudar para a cidade e vai morar com seu tio Dan, umm carpinteiro. Ele aprende a fazer skates. Gus é tímido e esconde das pessoas que é gay, ainda mais no ambiente hetero tóxico do esporte. Ali, ele tem uma melhor amiga, Tara (Sophia Schumacher). Um dia, ele conhece o skatista Bridger (Dorian Giordano), que fica encantado com o skate feito por Gus e decide ensiná-lo a andar de skate. Durante uma noite, em volta da fiogueira com a galera, Gus tem o desejo de querer falar algo mais para Bridger, mas lhe falta coragem.
Um filme delicado, que ama seus protagonistas e faz com que o espectador torça por rles. Belamente fotografado e composto por imagens bem enquadradas e sedutoras.
Ironweed
"Ironweed", de Hector Babenco (1987)
Uma das grandes obras primas de Hector Babenco, "Ironweed" foi um filme injustiçado na época do lançamento, em 1987. Foi pouco visto, muitas pessoas o consideravam desesperançoso e trágico demais, e os Estados Unidos na época estavam vivendo uma grande crise econômica e de desemprego. Eu assisti na época do lançamento e de fato saí arrasado do filme, ele é denso, pesado, o espectador sai desolado da sala do cinema. Revendo quase 40 anos depois do lançamento, fico impressionado com a qualidade técnica em todos os níveis: a fotografia do brasileiro Lauro Escorel, a direção de arte impecável nos detalhes de Jeannine Oppewall, o figurino de Joseph G. Aulisi. E claro, a direção de Hector Babenco, que conduziu dois monstros sagrados da atuação, Meryl Streep (Helen) e Jack Nicholson (Francis), que inclusive foram indicados ao Oscar de ator e atriz em 1988. O elenco formidavel traz ainda Carroll Baker como a ex mulher de Francis, Tom Waits, como o sem teto Rudy, Fred Gwynne como um barman. "Ironweed " é adaptado do romance escrito por William Kennedyde, e ganhou o Prêmio Pulitzerde de literatura.
A história se passa durante a Grande Depressão americana, em 1938. Francis Phelan abandonou a família e sua carreira após acidentalmente, ter deixado seu filho cair no chão e morrer. Tornou-se alcóolatra e sem teto. Francis matou acidentalmente um criminoso e um maquinista de um bonde, e esses fantasmas do passado o assombram. Francis se relaciona com Helen, uma ex-pianista e cantora que entru em depressão e também tornou-se alcoolatra e sem teto. Juntos, os dois procuram viver o dia a dia, no inverno rigoroso de Albany, Nova York.
As performances de Jack Nicholson e Meryl Streep são comoventes. É impressionanet o trabalho de corpo e a representação de dois alcóolatras, sem cair em clichês de bênados.
O clube dos corações partidos
"The broken hearts club", de Greg Berlanti (2000)
Um clássico lgbt dos anos 2000, "O clube dos corações partidos" é uma comédia romântica escrita e dirigida por Greg Barlanti. Ambientada em Los Angeles, em West Hollywood, o filme surgiu no mesmo ano que o excelente seriado 'Queer as folk". A diferença, é que "O clube..." é mais comedido e menos sexualizado do que a famosa série. Me fez lembrar também da série "Looking...", que também fala sobre eum grupo de amigos gays em los Angeles, mas tratando de temas mais adultos e mais dramáticos. "O clube.." é leve, divertido, não fala de Aids. Os personagens falam sobre o sue cotidiano, sobre o bofe da vez, sobre trabalho, namoros, intrigas, e todo mundo é bem resolvido, não existe homofobia na história, até porque todo mundo é gay. Logo no início, fica muito claro que o roteiro procura se aproximar da série 'Sex and the city", em todos os níveis: narrativa, locações, perfil de personagens e a representação do cotidiano.
No restaurante "The broken heart", um grupo de 7 amigos sempre se encontra para botar o papo em dia: Dennis (Timothy Olyphant),fotógrafo; Cole (Dean Cain), ator; Benji (Zach Braff), o mais jovem do grupo e que adora um marombado; Howie (Matt McGrath), estudante de psicologia que quer analisar tudo; Patrick (Ben Weber) e Taylor (Billy Porter), o mais flamboyant e que acabou de terminar um relacionamento. Tem também Jack (John Mahoney ) o mais velho e que vive dando conselhos, e o novo integrante, Kevin (Andrew Keegan). Eles também fazem parte de um time de beisebol formado apenas por gays.
É interessante assistir ao filme nos dias de hoje. Um filme que retrata a vida gay sem redes sociais, internet, sem apps de pegação, e focado nos relacionamentos tete a tete, verdadeiros. É de certa forma um filme que retrata uma fatia histórica importante da comunidade queer. Nos dias de hoje sofreria certamente algum tipo de cancelamento por conta de seu elenco, boa parte formado por atores heteros cis.
Sweets from a stranger
"Caramelle da uno sconosciuto", de Franco Ferrini (1987)
Uma revisitação do gênero italiano "Giallio", "Sweetss from a stranger" foi lançado em 1987, quando o gênero já estava em decadência. O filme parte de uma premissa excelente: co-escrito pelo diretor Franco Ferreti, ums erial killer mata prostitutas. Para se defenderem, um grupo de prostitutas cria uma espécie de esquadrão para localizar o assassino e se protegerem. Infelizmente, a intenção foi boa, até com um forte cunho social, mas a realização ficou aquém. O fato das atrizes serem fracas nem é o problema, pois acaba sendo um atrativo a mais. Mas as cenas de morte são sem graça, não mostram as mortes. O suspens eé nulo, e o ritmo do filme é bem arrastado, com muitas cenas dialogadas.
Quatro prostitutas — Lena, Angela, Nadine e Stella — se unem à polícia para localizar o assassino que anda matando as garotas nas ruas de Roma. Como todo bom giallio, o assassino usa luvas pretas de couro e uma navalha. Para quem quiser matar saudades do gênero, o filme até quebra o galho, mas quem quiser se aprofundar na narrativa, precisa assistir aos filmes dos mestres Dario Argento, Lucio Fulcci e Sergio Martino.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Aqui
"Here", de Robert Zemeckis (2024)
Adaptação da graphic novel de Richard Macguire, publicada em 2014, "Aqui" é uma ambiciosa e por vezes pretensiosa fábula sobre vida, morte, além de eventos históricos da história da humanidade e da própria história dos Estados Unidos: o princípio de tudo, com os dinossauros, mais adiante, o massacre do povo indigena que habitava nas terras, a guerra civil americana, Thomas Edison, 2a guerra, a crise da economia dos anos 90, a Covid e um futuro ainda por vir. Só que todo esse contexto, visto pelo ponto de vista de terreno, e depois, pela sala da casa que é construída ali. Robert Zemeckis continua chamando a atenção pelas suas inovações tecnológicas, e dessa vez, utilizando a Ai para rejuvenescer e envelhecer Tom Hanks e Robin Wright, casal de atores que já haviam trabalhado com Zemeckis em 'Forrest Gump".
Eu confesso que não estava curtindo o filme na primeira meia hora. Tava tudo muito confuso, fantasioso demais, as histórias se entrecruzando todas muito aleatórias. Mas quando decidem focar mais na família Young, com os pais Al (Paul Bettany), um soldado da 2a guerra, e de sua esposa Rose (Kelly Reilly), o filme ganha em emoção, embalada pela bela trilha de Alan Silvestri e pelos efeitos que vão alterando o fundo do cenário. Depois nasce o filho Richard (Tom Hanks aos 18 até a terceira idade), que apresenta aos pai sua namorada Margareth (Robin Wright), com quem irá se casar e ter uma filha, Virginia.
Através da família, o filme fala sobre abandonar sonhos profissionais, sobre manter uma unidade familiar a todo custo, sobre morte, doenças, alzheimer, derrame, desemprego, crise econômica. São muitos os temas. A montagem confunde muito a apreciação da história. Eu não li os quadrinhos, mas sei que ele divide a página com os quadros que dividem os frames, e Zemeckis faz a mesma coisa. Um filme que no fundo é bastante experimental, tem gente que vai gostar, tem gente que vao odiar.
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