sexta-feira, 20 de setembro de 2019
O Mal não espera a noite- Midsommar
"Midsommar", de Ari Aster (2019)
Ao acender das luzes, ao final da projeção, tive um deja vu, como se estivesse vendo 'Hereditário", o filme anterior do mesmo diretor, exibido há 1 ano atrás: as pessoas se olhando, muitos rindo e dizendo em alto e bom som: "Que filme merda!""
E eu pensei: "Gente, será que só eu gostei do filme?""
"Midsommar", assim como os outros trabalhos de Aster, demandam paciência e um olhar menos comercial sobre o significado do termo "entretenimento de terror". Não existem jump scares, trilha estridente, gatos que pulam do nada, facas que surgem do além: existe sim, um cineasta autoral, com total domínio de sua narrativa, seduzindo o espectador aos poucos, como em uma hipnose, sem pressa para entregar os golpes baixos. E eles são vários: cenas hiper violentas, daquelas de revirar o estômago. são rápidas, mas brutais. Ao contrário dos movimentos de travellings que percorriam os estreitos corredores da casa de "Hereditário", aqui temos steadicans que acompanham os personagens em longos trajetos pelo exterior da comunidade que se encontra no interior da Suécia.
Impossível não se lembrar do clássico "O Homem de palha": de lá, Ari Aster retirou várias referências: o incêndio, o amor livre, a dança com as fitas, a brancura da população e aquele eterno ar de que uma grande merda irá acontecer.
O filme todo é pelo ponto de vista de Dani (Florence Pugh, de "Lady Macbeth"). Após a morte trágica de seus pais e sua irmã, Dani entra em depressão. Para tentar ajudá-la, (Jack Reynor), seu namorado, a convida para vir com ele e seus três amigos da faculdade para uma comunidade na Suécia, onde a cada 90 anos, acontece uma Festividade que celebra a Vida. Estudantes de antropologia, os amigos querem estudar as atividades pagãs de seus moradores.
Ao chegarem na comunidade, os amigos são muito bem recebidos, mas logo percebem que existe algo de estranho ali e que não existe a possibilidade de ir embora.
Ari Aster tem um profundo domínio sobre a sua cena: conduzindo o filme lentamente, quase como um estudo de antropologia de seus personagens, vamos aos poucos entendendo quem é cada personagem e um pouco do vilarejo. Florence Pugh está soberba no difícil papel de Dani, repleta de camadas. Jack Reynor também tem um papel complexo e no final protagoniza uma cena que dificilmente um ator aceitaria fazer. Violento, bizarro, doentio, provocador...tudo já foi dito pela crítica. Parte do público odiou. Mas é inegável a extrema beleza das imagens, captadas pelas lentes do fotógrafo Pawel Pogorzelski, o mesmo de "Hereditário".
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