terça-feira, 17 de setembro de 2019
Alemanha no Outono
"Deutschland im Herbst", de Werner Rainer Fassbinder, Volker Schlöndorff e mais 9 Cineastas (1978)
Poderoso drama documentário dirigido pelos mais importantes Cineastas alemães dos anos 70, todos ativistas políticos. Assistir a esse filme nos dias de hoje, do Brasil de 2019, é algo aterrorizante. É fácil perceber os paralelos entre os discursos polarizados Direita X Esquerda, e o que o filme propõe é uma ampla discussão sobre verdades, valores , a importância do Estado e de grupos combatentes do Governo. O filme provocou muita polêmica na época pela posição extremamente radical tomada por Fassbinder, que defende no filme a posição de ataques terroristas, validando os seus atos. Volker Schlöndorff se desentendeu na época com Fassbinder por não concordar com o seu pensamento radical.
“Quando se chega a um determinado grau de crueldade pouco importa quem a cometeu: ela simplesmente tem de parar”. Identificada como a frase Frau Wilker, mãe de cinco filhos em 8 de abril de 1945, logo após o término da 2a Guerra, essa frase simboliza a proposta do filme.
Dividida em pequenos curtas, cenas documentais e vinhetas animadas, o filme é um primor de realização. É um filme complexo, de difícil assimilação, pois existe uma discussão política e intelectualizada intensa durante toda a projeção, merecendo até ser convertida em peça de teatro.
O ponto de partida para o filme, são os terríveis acontecimentos políticos e sociais que afloraram na Alemanha de 1977, conhecido como "Alemanha no Outono: o clímax, após o sequestro de um avião, foi o sequestro e assassinato do empresário alemão Hanns Martin Schleyer, considerado um fascista pelos integrantes da Facção Exército Vermelho (RAF) e sequestrado pelos militantes Gudrun Ensslin, Andreas Baader e Jan-Carl Jaspe - que são encontrados mortos em sua cela na prisão de Stammheim depois de serem presos. O Estado diz que eles se suicidaram, mas o Movimento diz que foram assassinados. Esse evento inspirou o excelente "Edukators".
O filme é todo costurado pelo velório e enterro do empresário, em imagens reais, tendo o clímax no cemitério com manifestantes se desentendendo com políticos e policiais. Um momento brilhante, é quando o entrevistador pergunta a um garçon que está preparando um coquetel de recepção para os 1000 convidados do velório quem bancou o buffet: o garçon diz que foi o estado.
O episódio de Fssbinder é o mais polêmico, sem dúvida: ele mesmo interpreta um ativista de esquerda radica;l, casado com um homem mais conservador. Fassbinder atua totalmente nu, cheira cocaína. Tem uma cena espetacular dele discutindo com a sua própria mãe na cozinha: ela conservadora, defendendo o Estado, e ele, defendendo os radicais. Semelhanças com o Brasil de hoje mais clara, impossível.
Tem um outro episódio também contundente: uma professora de história começa a ter dúvidas sobre qual história ela deve contar aos seus alunos. Ela começa a rever momentos marcantes contados por livros oficiais já com olhar mais politizado.
Outro momento brilhante é quando uma produtora resolve filmar "Antígona" para um canal de Tv usando como referência, filmes de resistência dos anos 20 , como os de Eisenteisn. Mas os diretores da Tv proíbem, achando que os jovens espectadores se deixarão influenciar pela ideologia do projeto.
É de fato difícil assistir ao filme pensando como entretenimento. existem segmentos onde militantes são entrevistados e ficam meia hora dando seu ponto de vista sobre o País, a população e o caminho da sociedade. Esse filme é uma jóia, filmada na época dos acontecimentos, um Ato revolucionário de seus realizadores, que quiseram manter o mais verdadeiro possível, o que estava acontecendo no País em 1977.
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