quinta-feira, 30 de março de 2017

A Gloria e a Graça

"A Gloria e a Graça", de Flavio Tambellini (2016) O cineasta e produtor Flavio Tambellini tem uma filmografia bastante eclética: tem policial (Bufo e Spalanzani), comédia romântica (Malu de bicicleta), Drama (O passageiro) e agora, um melodrama com tintas Almodovarianas e carregado em tintas de Wong Kar Wai, "A Gloria e a Graça", escrito por Mikael de Albuquerque e Lusa Silvestre ( de "Estômago"). Nessa história focada na emoção, acompanhamos a rotina de Graça (Sandra Corveloni), mãe solteira dos adolescentes Papoula e Moreno. Ela é massagista Ayurvérdica, e por conta disso, a filha Papoula sofre bullying na escola. Ao visitar um médico, Graça descobre que tem um aneurisma que pode fazer ela morrer a qualquer momento. Aconselhada pelo médico, ela procura seu irmão, único parente viva que poderá cuidar das crianças caso ela morra. Ao marcar um encontro com Luis Claudio, que ela não vê há 15 anos, ela leva um susto: ela agora se chama Gloria (Carolina Ferraz), um travesti, dono de restaurante, que em principio se nega a cuidar das crianças, por conta do passado mal resolvido entre as duas. As duas precisam resolver as suas diferenças antes que o pior aconteça. Passeando entre o drama, o romance a uma leve pitada de humor, o filme tem no trabalho das duas atrizes o seu ponto forte. Se a prótese dentaria de Carolina Ferraz é o equivalente ao nariz de Nicola Kidman em "As horas" ( eu só olhava para a boca de Carolina, juro), o trabalho de Carolina compensa qualquer caracterização para a personagem. Sandra, responsável pelo lado mais melodramático da trama, segura a onda, se contendo para não ficar over em cenas demasiadamente fortes de emoção. A fotografia acaba chamando muita atenção e tirando o foco da narrativa, mas o teor polemico da trama ( dentro e fora do filme, por conta da discussão sobre atores cisgeneros, prostituição, aceitação das diferenças e a pratica do bullying) valem a ida ao cinema com amigos e discutirem depois sobre as varias possibilidades de leitura para o filme. De qualquer forma, um filme ousado por aceitar que o mundo mudou, e a mentalidade das pessoas também precisa mudar.

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