domingo, 2 de outubro de 2022

Blonde


"Blonde", de Andrew Dominik (2022)
Talvez o maior dos erros dessa cinebiografia é a de não alertar o espectador desavisado de que tudo o que irá assistir em quase 3 horas de desconforto e angústia é adaptado do livro escrito por Joyce Carol Oates em 1999, e que ficcionaliza muitas das passagens apresentadas. Muitas das cenas são imaginações propostas pela escritora e pelo roteirista e diretor Andrew Dominik que nunca aconteceram. E somente isso já seria digno de desrespeitar a memória da mulher mais icônica do Cinema e da cultura dos séculos XX e XXI. Eu mesmo pesquisei em sites o que era real e ficção no filme, pois eu mesmo desconhecia, e achei muita sacanagem apresentar um filme onde os homens não valem um tostão e só estão ali para massacrar Marilyn e fazer da indústria do cinema um dos lugares mais abjetos do mundo. Sim, todos sabemos que existiram e existem predadores circulando no meio, se apropriando de pessoas indefesas, mas tornar Marilyn uma mulher que em nenhum momento procura se defender, aceitando tudo passivamente, é devastador.
Brad Pitt, que já havia trabalhado com Andrew Dominik em "O assassinato de Jesse James", faz a produção executiva. Faltou um cuidado maior na dramaturgia, que coloca inclusive as mulheres contra Marilyn, sem qualquer sinal de sororidade. O que de fato merece palmas, são a atuação de Ana de Armas, a atriz mais improvável para dar vida à Marilyn, mas o faz com dignidade e talento; as equipes de make, figurino e arte; e a fotografia e câmera deslumbrantes. O visual do filme é arrebatador, com cenas que mais parecem sonhos, mas que infelizmente, apenas adornam um conteúdo que existe apenas para chocar. A cena do estupro com Kennedy é detestável.

 

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