quinta-feira, 27 de junho de 2019
Divino Amor
“Divino Amor”, de Gabriel Mascaro (2018)
Mais do que “ Black Mirror”, uma associação que muita gente tem feita ao filme do mesmo realizador dos ótimos “Boi neon” e “Ventos de agosto”, “Divino Amor” me remeteu o tempo todo à fantasia distópico e sem esperanças de “ A lagosta”, do grego Yorgos Lanthimos. Na fábula protagonizado por Colin Farrel, ninguém poderia ser solteiro. Todo ser humano deve formar um casal e se amar de verdade, e como punição aos que não cumprirem essa meta, se transformam em animais.
No filme de Mascaro, acompanhamos um Brasil ambientado em Recife do ano 2027. O país agora é uma Republica evangélica. Assim como em “Matrix”, rolam raves sexualizada onde a população canta músicas louvando ao senhor, e na intimidade, transam entre si, como forma de pregar amor ao próximo.
Joana (Dira Paes, fabulosa) é funcionária exemplar de um cartório. Religiosa fervorosa, ela tenta impedir que casais se divorciem, e para isso, os convence a frequentarem o “Divino Amor”, um culto terapia para casais onde todos transam como em uma orgia. Joana frequenta também um Pastor Drive Thru, interpretado por Emilio de Mello, para receber conselhos. Casada com Danilo ( Júlio Machado, excelente), que trabalha como preparador de coroas de flores em velórios, o casal tenta engravidar, sem sucesso. Danilo se descobre infértil, e pior, Joana se descobre grávida. Ela alega ser obra do Messias que está por vir.
O roteiro é uma grande alegoria que faz crítica ao núcleo familiar e à Igreja, além da burocracia do Estado. O elenco está de forma geral excelente, e é incrível testemunhar o despudor de atores como Júlio Machado e Dira Paes, totalmente nus e à vontade em cenas de sexo vibrantes. A fotografia é do uruguaio Diego Garcia, um habitué dos filmes do tailandês Apitchchapong. Direção de arte, trilha sonora do Dj Dolores, é um conjunto de tantas qualidades nesse filme metafórico e brutalmente triste e visionário que a gente sai do cinema tentando entender em que mundo vivemos e que futuro reservamos às próximas gerações.
O filme concorreu em Sundance e Berlin, além de ter sido exibido em mais de 20 Festivais.
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Filme muito bom. Gostei muito da interpretação da dira paes.
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