domingo, 27 de maio de 2018

Os fuzis

"Os fuzis", de Ruy Guerra (1964) Após o grande sucesso de crítica e público de "Os cafajestes", de 1962, Ruy Guerra viria a lançar em 1964 um filme radicalmente diferente. Inspirado em uma história fabulesca que Ruy queria filmar na Grécia, ele acabou adaptando para o Nordeste da miséria brasileira, da opressão das armas e da religião que anestesia a população carente. Ambientado em Milagres, Bahia, região seca e paupérrima, onde a seca devastou qualquer possibilidade de alimento, um grupamento de soldados é enviado para proteger o depósito de alimentos da cidade, cujo dono é um poderoso local. Gaúcho, ex-soldado e agora motorista do caminhão, se revolta contra a violência de seus amigos soldados, e para piorar, contesta um pai que aceita a morta de sua filha de fome e nada faz para lutar. Gaúcho resolve pegar nas armas e lutar a favor dos pobres. Como quase todo filme do Cinema Novo, o filme une Religião/Ditadura e misticismo para falar, metaforicamente, da situação socio-economica do Brasil vigente, do milagre económico que nunca existiu. Com uma fotografia e câmera na mão extraordinária de Ricardo Aronovich, repleto de planos-sequencias de cair o queixo, "Os fuzis" é um filme para ser visto e debatido. Incrível que, quase 60 anos depois, tudo continua completamente igual. Elenco primoroso, capitaneado por Paulo Cesar Pereio, Maria Gladys Mello, Hugo Carvana, Atila Iorio, Nelson XAvier, Ivan Candido, Joel Barcellos e um elenco de atores locais absolutamente imagéticos, na linguagem documental muito bem registrada pelas lentes de Aronovich.

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