domingo, 6 de outubro de 2019
O Pagador de promessas
"O Pagador de promessas", de Anselmo Duarte (1962)
Até hoje, "O Pagador de promessas" é o único filme brasileiro e de toda a América do Sul a ganhar a Palma de Ouro de melhor filme , feito acontecido em 1962, mesmo ano em que foi indicado a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro.
Adaptado da obra teatral de Dias Gomes, “O pagador de promessas” é filho legítimo do neo-realismo italiano. Rodado em locações reais, em Salvador, tendo como protagonista um homem do povo e misturando atores e não atores, o filme é um clássico absoluto. Até hoje, são chocantes os temas propostos pelo texto de Dias Gomes: sincretismo religioso, preconceito, reforma agrária, imprensa marrom, abuso do Poder de Padres e sacristãos, corrupção na polícia, prostituição e assédio de cafetões contra jovens ingênuas. Muita gente critica o personagem de Zé do Burro, interpretado genialmente por Leonardo Villar, argumentando que ele perpetua a imagem do eterno caipira ingênuo e de bom coração, celebrizado pela figura do Mazzaropi. Isso é um absurdo: construído como uma espécie de parábola, de bons contra os maus, o filme necessita d eum olhar maniqueísta para que o público possa se identificar, e a história só avança por conta da bondade de Zé do Burro. Tanto que sua esposa, rosa, que começa o filme ingênua, vai aos poucos se deixando corromper pela religião e pelo gigolô da cidade (Gerardo del Rey), que mantém sob sua rédea a prostituta Marli (Norma Benguell), também sua amante e ciumenta. A história já é conhecida por todos: Zé do Burro vem do interior de Salvador e caminha por 7 léguas com a mesma cruz de Cristo, seguido por sua esposa Rosa. Zé tentou em sua cidade pedir ajuda ao padre, mas tendo o pedido negado, foi pedir ajuda em um terreiro de candomblé para que seu burro Nicolau, seu melhor amigo, ficasse bom. Yansã cumpre a promessa e o burro fica bom,. Zé resolve então ir até a Igreja de Santa Barbara, em Salvador, para cumprir sua promessa, de entrar com a pesada cruz dentro da igreja ( Santa Barbara é o correlato cristão de Yansã). Só que ao saber que o pedido foi feito para um burro, e que a promessa foi realizada em um terreiro, o Padre Olavo (Dionísio de Oliveira, excelente), impede a sua entrada, e espalha pela cidade de que Zé é Satanás disfarçado. A imprensa, através do jornalista interpretado por Othon Bastos, se apropria da história para revelar que Zé é um homem que prometeu doar parte de sua terra para os pobres, e portanto, um comunista. Os sem terra o v6eem como um Líder. Os adeptos do candomblé reverenciam Zé como alguém que leva a sua palavra até as últimas consequências. Nessa confusão toda, a polícia também chega, até culminar em um desfecho arrebatador, em uma das cenas mais belas da história do cinema brasileiro, que é a cruz com Zé por cima sendo levada pelo povo até o interior da igreja. A fotografia, deslumbrante em seu preto e branco, é do inglês H. E. Fowle, que também fotografou anteriormente o brasileiro ‘O cangaceiro”.
No elenco, também tema presença de Antonio Pitanga, como um capoeirista adepto do candomblé, e que comanda o grupo dos negros. Anselmo Duarte, na época visto apenas como um Ator galã e possivelmente um Mal diretor, calou a boca de todo mundo com esse filme poderoso, um misto de ficção e documentário. Uma obra importante, que até os dias de hoje discute a questão da multiculturalidade no Brasil e a mistura de religiões, provocando ciúmes entre as lideranças, que querem cada vez mais, promover um número cada vez maior de seguidores.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário