sábado, 5 de outubro de 2019
A Hora do Lobo
"Vargtimmen ", de Ingmar Bergman (1968)
Um casal e seu filho se mudam para um local ermo, para que o marido tenha sossego e possa trabalhar em paz. O marido escreve. Com a solidão do lugar, o homem vai trazendo seus fantasmas do passado à tona, e ai enlouquecendo, a ponto de querer matar sua esposa.
Não, não estamos falando de "O iluminado", de Stanley Kubrick, e sim, de "A hora do Lobo", filme de 1968, lançado um ano depois de outra obra-prima de Bergman, "Persona", uma revolução na filmografia do mestre sucesso. Ambos os filmes rompem com o tipo de cinema que Bergman fazia até então, á traçados em 'O Silêncio", de 1963: uma viagem psicanalítica, na alma de seus personagens, em uma estrutura narrativa não linear, misturando realidade e fantasia, fotografados por uma aterrorizante fotografia expressionista em preto e branco de Sven Nykvst,
"A hora do Lobo" é chamado de o único filme de terror de Bergman, uma expressão talvez errônea para quem entende o gênero terror como a de sustos e jump scares. É um filme psicológico, de atmosfera gótica, com algumas cenas bizarras e obscuras, como a do assassinato de um menino, ou a de uma senhora retirando o seu rosto e botando o olho em um copo. Mas esse universo fantástico já havia sido trabalhado por Bergman em 'Morangos silvestres", quando o protagonista observa as pessoas ao seu redor e percebe que ninguém tem um rosto. Bergman gosta de trabalhar no universo onirico, da ilusão, e de lá retira os medos e temores de seus personagens.
Um casal, ela grávida, Johan (max Von Sydow) e Alma (Liv Ulmann, grávida de verdade de Bergman nas filmagens) se isolam em uma Ilha para que Johan possa pintar em paz. Moradores da região, tipos bizarros, vêem procurar Johan e o dono de um castelo os convida para um jantar. Alma sente ci;umes de uma mulher, Veronica, que acredita, já teve um caso com seu marido. Ao voltarem para casa, Johan conta para Alma relatos obscuros de seu passado. Esse relato é dado durante o que é chamado de "A hora do Lobo", que acontece entre meia noite e 6 da manhã, período que acredita-se, a maioria das pessoas morre e nascem, e quando pesadelos do passado vêem à tona.
Um filme bastante complexo, hermético e aberto a muitas possibilidades, 'A hora do Lobo"têm uma estrutura narrativa muito curiosa, metalinguística: logo no início, uma cartela preta anuncia que Johan desapareceu, e que sua esposa, Alma, irá relatar tudo através do diário encontrado, escrito pelo marido. Em off, ouvimos Bergman rodando a cena, dirigindo equipe e elenco. Bergan quer deixar claro que o que estamos vendo é uma encenação. Além dessa linguagem vanguarda, em meia hora de filme surge novamente o título do filme, e a partir daí, o filme muda de tom , tornando-se um passeio expressionista e dark pela ama de Johan. Max Vin Sydow e Liv Ulmann, parceiros constantes nos filmes de Bergman, representam como poucos as angústias de seus personagens, através de coses e de atuações minimalistas mas poderosas. A trilha sonora, acredito, foi uma outra influência para "O Iluminado".
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