domingo, 11 de agosto de 2019

Parasita

“Gisaengchung”, de Bong Joon Ho (2019) Pasmo que essa obra-prima de Bong Joon Ho não tenha ganho a Palma de Ouro de roteiro em Cannes 2019. De lá, ele saiu com o prêmio máximo, a Palma de melhor filme. Mas é o caso de roteiro, escrito pelo próprio diretor, com tantas reviravoltas surpreendentes que fica impossível não mencionar o primor da escrita. O Sul coreano Bong Joon Ho já é conhecido por cinéfilos do mundo inteiro, tendo realizado filme extraordinários como “Mother”, “O Hospedeiro” e “Memória de um assassino”, além do ótimo “Okja” e do curioso “O expresso do amanhã”. Aqui, as lentes poderosas de Joon Ho apontam para uma cruel e violenta fábula sobre os ricos e os pobres, e a tentativa de ascenção dos menos abastados. A família Kim Ki-taek (Song ang Ho, protagonista de quase todos os trabalhos do cineasta) mora com sua família ( esposa e casal de filhos) no porão decadente de um prédio na periferia de Seul. Todos desempregados, eles vivem de pequenos golpes. Quando um amigo rico do filho o procura, oferecendo para ele ser professor de inglês de uma adolescente milionária, a família encontra a chance que tanto esperava para saírem do buraco. Um a um, eles vão se empregando na casa, e para isso, armando golpes para desempregarem os empregados da casa e assumirem os seus lugares. Variando em tons, que vão da comédia ao suspense, drama e até elementos de terror, o filme se aproxima mais da metáfora de “O hospedeiro”, que mesmo sendo um filme sobre um monstro que ataca a cidade, não deixa de ser um simbolismo para falar da família e da importância da união e do laço entre os membros. Como quase todo filme sul coreano, os personagens são retratados com uma caricatura que estimula o olhar do espectador para as diferenças, aqui no caso, de classes sociais e de comportamento. De anti-heróis, a família de Kim vai se tornando heroica, deixando claro que mesmo entre os golpistas, existe amor e compaixão. O filme tem muitas referências ao cinema dos irmãos Coen, especialistas em reviravoltas na trama e tornando tudo menos óbvio. Muitos pontos altos no filme: o elenco absolutamente espetacular, a direção de Joon Ho, repleta de maneirismos criativos, a fotografia que emoldura com cores os ambientes deixando bem distintas as castas econômicas e a trilha sonora, variando com o gênero. Uma cena exemplar e antológica: a da inundação no bairro de Kim. Genial!

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