quarta-feira, 7 de agosto de 2019
Os mortos não morrem
“The dead don't die”, de Jim Jarmusch (2019)
Filme que abriu o Festival de Cannes 2019, “Os mortos não morrem” é a incursão de Jim Jarmusch no universo dos zumbis. Jarmusch já havia trabalhado com o gênero terror em “Amantes eternos”, com vampiros como protagonistas. Mas todo mundo que adora os mortos-vivos sabe que eles são uma metáfora contra o capitalismo, fascismo e que os zumbis representam uma sociedade morta e apática. Aqui não seria diferente. Jarmusch joga o seu petardo na América de Donald Trump, com direito a um monólogo existencialista de um eremita mendigo representado por Tom Waits, dando um tom sombrio e melancólico a um mundo que caminha para o Apocalipse.
Jarmusch traz um elenco fabuloso para dar vida a essa paródia/manifesto: Adam Driver, Bill Murray, Tilda Swinton, Danny Glover, Selena Gomez, Chloë Sevigny, Steve Buscemi ( fazendo aquele tipo rabugento que só ele sabe fazer) e para fechar a chave de ouro das participações estelares, Iggy Pop no papel de um zumbi viciado em café.
Aliás, os zumbis desse filme agem como seres humanos e têm desejos mundanos como qualquer um teria: querem wi-fi, vinho, roupas da moda. Em Cleverland, cidade com menos de mil habitantes, a pacata e monótona rotina é quebrada quando a noite demora a se pôr. Celulares não funcionam mais, relógios param, tudo causado pela extração de petróleo nos polos sul e norte que mexeram com o eixo da rotação terrestre. Essa ação do homem contra a natureza provoca o reavivamento dos mortos, e os zumbis passam a atacar os moradores da cidade. Entre eles, os policiais Cliff, Ronni e Mindy (Murray, Driver e Sevigny). Tilda Swinton interpreta uma médica legista meio dublê de Mestre Yoda, com direito a quimono e espada e sabedoria oriental para matar os zumbis.
A brincadeira de Jarmusch é provocar o espectador: quem são os zumbis? Os mortos-vivos, ou os vivos apáticos que agem como pessoas mortas? Ë divertido rever Bill Murray, Adam Driver e toda essa galera interpretando naquele estilo bem de Jarmusch, totalmente apáticos, sem vida, dando falas pausadas. Os zumbis são caracterizados como os seres dos anos 80 de George Romero, totalmente trash, sem o apelo computadorizado de “The walking dead”. Inclusive quando um é morto, sai fumaça preta de seu corpo.
Divertido no início, o filme vai perdendo graça quando se torna repetitivo. Se fosse um curta, seria uma obra-prima. Como longa, fica valendo a brincadeira de um dos grandes cineastas americanos, que decidiu fazer uma crítica à sua maneira do mundo em que vivemos.
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Achei muito bom, mas cansa mesmo.
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