segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Sangue do meu sangue
"Sangue del mio sangue", de Marco Bellocchio (2015)
Um dos cineastas mais prestigiados no circuito dos Festivais, o italiano Marco Bellocchio, aos 75 anos, realiza "Sangue do meu sangue", vencedor do Prêmio Fipresci da crítica em Veneza 2015. A história é dividida em 2 partes, cada uma centrada em uma época. No Séc XVII, em Bobbio ( cidade natal de Bellocchio) uma freira, Benedetta, é acusada de seduzir um Padre, que acaba se suicidando. O seu irmão gêmeo, Federico, chega ao local para impedir que o irmão seja enterrado no cemitério dos animais, destino dado aos suicidas. Para que isso não aconteça, ele precisa fazer com que a freira assuma a sua culpa e se assuma como bruxa. Federico no entanto, acaba se deixando seduzir pelos encantos da freira. A segunda parte acontece nos dias e hoje, e também localizada no mesmo convento. Ali, mora o Conde, uma figura misteriosa que somente circula de noite, e que acredita ser um vampiro. Um cobrador de impostos surge com um bilionário russo, querendo comprar o convento, o que desestabiliza o Conde, que quer manter o segredo do local intacto.
Curioso como as duas histórias foram filmadas de forma tão distinta. A primeira e melhor parte, daria um filme por si só. Gótica, sinistra e melancolicamente bela, ao som de "Nothing else matters", do Metallica, a história da mulher que ousou amar é uma crítica de Bellocchio contra a Igreja católica e a sociedade machista. A cena do rio, onde a freira é torturada para confessar a bruxaria, é antológica e um primor de realização. A excelente atriz Alba Rohrwacher faz uma pequena participação como uma camponesa seduzida pelo Padre Frederico. A segunda parte, infelizmente, não chega à genialidade da outra história. Metaforicamente, talvez queira falar sobre corrupção, decadência do modelo europeu de economia e da sociedade. Confusa em relação a qual gênero quer fazer parte ( uma mistura de romance, drama e comédia pastelão), só vale pelo desfecho, que complementa e fecha com chave de ouro o filme. O elenco está ótimo, com destaque para Lidiya Liberman, no difícil papel de Benedetta. A fotografia de Daniele Ciprì é um primor, assim como a trilha sonora de Carlo Crivelli. Em Veneza, o filme foi aplaudido por 8 minutos após a sessão. Um certo exagero, mas considerando a genialidade da primeira parte do filme, merecido.
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