Aqui comento os filmes que assisto...mas sem muito saco de teorizar demais..somente comentando o básico: se gostei ou não hehehe (Comento apenas filmes vistos a partir de Outubro de 2010)
sábado, 26 de dezembro de 2015
Mountains may depart
"Mountains may depart", de Jia Zhang Ke (2015)
Faltou muito pouco para esse 8o filme de Jia Zhang Ke ser uma obra-prima. Exibido em Cannes 2015, o filme recebeu grandes elogios, mas teve gente que ficou incomodado com o caráter ambicioso da obra, que apresenta em 3 épocas distintas um olhar sobre o antigo e o novo, a tradição e a perda da identidade. A globalização sempre foi um tema caro aos filmes de Zhang Ke, que até mesmo no excelente documentário de Walter Salles sobre a sua pessoa, faz questão de falar sobre a importância da preservação da memória.
O filme começa com uma cena deliciosa e ao mesmo tempo melancólica onde a professora de dança Tao ( Zhao Tao, atriz e esposa de Zhang Ke) ensina uma coreografia exuberante ao som de "Go west", dos Pet Shop Boys. A letra da música já dá o tom da história que iremos acompanhar em mais de 2 horas: a solução está no exterior, na perda da identidade da cultura chinesa e a importação de valores capitalistas do mundo ocidental. O filme se passsa em 1999, 2014 e 2025. O que une as 3 histórias, além dos personagens, 'são 2 músicas: "Go west" e uma música romântica cantonesa.
A história começa com um triângulo amoroso, ambientado em Fenyang, cidade-natal de Zhang Ke. Tao é objeto de desejo de 2 amigos: Zhang um novo rico e que se torna dono da mina aonde trabalha Liangzi, um homem sem grandes ambições. Tao acaba se casando com Zhang, e desgostoso, Lianzi vai embora. Já em 2014, rica e divorciada, Tao volta a morar em Fenyang, enquanto o sue filho, apelidado de "Dolar" pelo seu pai, vai morar com ele em Shanghai e estuda numa escola internacional. Em 205, a história acompanha a história de Dolar, que agora mora na Australia, fala inglês e desconhece a sua cultura e a sua mãe.
O filme é um grande melodrama, mas daqueles que comovem pela sua habilidade em trabalhar os personagens de uma forma extremamente humana. Trabalhando com o seu fotógrafo de sempre, Yu Lik Wai, Zhang Ke explora as locações em planos gerais, como se engolisse os personagens.
Visualmente e tecnicamente, o filme é um grande barato: cada época tem uma cor e um formato de tela distinto. Em 1999, o formato é 1:33 e usa cores fortes. Em 2014, a tela fica 1:85 e as cores já se tornam mais cinzas, melancólicas. Em 2025, nesse futuro projetado, e embientado na Austrália, a tela fica 2:35 e as cores estouradas.
Fiquei muito impressionado pela forma de Zhang Ke filmar: planos longos, quase sem cortes, somente com uso de pans e travellings. Atores muito bem marcados em cena e um olhar extremamente preciso sobre o que realmente é importante ser mostrado para o espectador.
Uma pena que a terceira parte não seja tão primorosa quanto as duas primeiras, muito por conta de Zhao Tao quase não aparecer e ser protagonizado pelo jovem ator que interpreta Dollar. E por falar em atores, o trio principal, que conduz as 2 primeiras partes, meu Deus!!!! Arrepiado com as performances e com a inteligência com a qual interpretam e vivem os seus personagens.
A cena final é de uma beleza impressionante. Dá vontade de cair em prantos.
Nota: 9
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