sábado, 26 de dezembro de 2015

Mountains may depart

"Mountains may depart", de Jia Zhang Ke (2015) Faltou muito pouco para esse 8o filme de Jia Zhang Ke ser uma obra-prima. Exibido em Cannes 2015, o filme recebeu grandes elogios, mas teve gente que ficou incomodado com o caráter ambicioso da obra, que apresenta em 3 épocas distintas um olhar sobre o antigo e o novo, a tradição e a perda da identidade. A globalização sempre foi um tema caro aos filmes de Zhang Ke, que até mesmo no excelente documentário de Walter Salles sobre a sua pessoa, faz questão de falar sobre a importância da preservação da memória. O filme começa com uma cena deliciosa e ao mesmo tempo melancólica onde a professora de dança Tao ( Zhao Tao, atriz e esposa de Zhang Ke) ensina uma coreografia exuberante ao som de "Go west", dos Pet Shop Boys. A letra da música já dá o tom da história que iremos acompanhar em mais de 2 horas: a solução está no exterior, na perda da identidade da cultura chinesa e a importação de valores capitalistas do mundo ocidental. O filme se passsa em 1999, 2014 e 2025. O que une as 3 histórias, além dos personagens, 'são 2 músicas: "Go west" e uma música romântica cantonesa. A história começa com um triângulo amoroso, ambientado em Fenyang, cidade-natal de Zhang Ke. Tao é objeto de desejo de 2 amigos: Zhang um novo rico e que se torna dono da mina aonde trabalha Liangzi, um homem sem grandes ambições. Tao acaba se casando com Zhang, e desgostoso, Lianzi vai embora. Já em 2014, rica e divorciada, Tao volta a morar em Fenyang, enquanto o sue filho, apelidado de "Dolar" pelo seu pai, vai morar com ele em Shanghai e estuda numa escola internacional. Em 205, a história acompanha a história de Dolar, que agora mora na Australia, fala inglês e desconhece a sua cultura e a sua mãe. O filme é um grande melodrama, mas daqueles que comovem pela sua habilidade em trabalhar os personagens de uma forma extremamente humana. Trabalhando com o seu fotógrafo de sempre, Yu Lik Wai, Zhang Ke explora as locações em planos gerais, como se engolisse os personagens. Visualmente e tecnicamente, o filme é um grande barato: cada época tem uma cor e um formato de tela distinto. Em 1999, o formato é 1:33 e usa cores fortes. Em 2014, a tela fica 1:85 e as cores já se tornam mais cinzas, melancólicas. Em 2025, nesse futuro projetado, e embientado na Austrália, a tela fica 2:35 e as cores estouradas. Fiquei muito impressionado pela forma de Zhang Ke filmar: planos longos, quase sem cortes, somente com uso de pans e travellings. Atores muito bem marcados em cena e um olhar extremamente preciso sobre o que realmente é importante ser mostrado para o espectador. Uma pena que a terceira parte não seja tão primorosa quanto as duas primeiras, muito por conta de Zhao Tao quase não aparecer e ser protagonizado pelo jovem ator que interpreta Dollar. E por falar em atores, o trio principal, que conduz as 2 primeiras partes, meu Deus!!!! Arrepiado com as performances e com a inteligência com a qual interpretam e vivem os seus personagens. A cena final é de uma beleza impressionante. Dá vontade de cair em prantos. Nota: 9

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