segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Aferim

"Aferim", de Radu Jude (2015) Aferim em romeno quer dizer "Bem-feito". Com uma palavra de significados dúbios, o cineasta romeno Radu Jude traça um painel sobre a ignorância e a violência da sociedade do seu País porém retratados no Séc XIX, em 1835. Mas o mais insano nesse paralelo é descobrir que, mais de 2 séculos depois, quase nada mudou. Os governantes continuam impondo o Poder, a burocracia impera, a sociedade tem que cumprir e não pensar, as mulheres não possuem voz e a casta mais baixa da população é tratado quase como escravo. Como diz uma frase significativa do filme, "Vivemos como podemos, não como queremos." Filmado em belíssimo preto e branco, o filme venceu com louvor o Prêmio de Direção em Berlin 2015. A direção impressiona pelo uso de praticamente planos gerais para o filme todo, cenas inteiras quase que com apenas um plano. Um trabalho visual imponente, lembrando até mesmo a grandiloquência dos faroestes de John Ford. "Aferim" é como um western, porém, com uma narrativa voltada quase qua a uma parábola, protagonizada por 2 homens que mais lembram os anti-heróis Dom Quixote e Sancho Pança, aqui representados na figura do Oficial da Justiça Constandin, já quase idoso, e seu jovem filho Ionita. Obviamente querendo discutir a questão do pensamento da tradição com o do jovem questionador, o filme brilha em seus diálogos, muitos deles citações literárias, provocando quase sempre risadas pelo alto teor pejorativo e preconceituoso. É um filme que não tem medo de ser politicamente incorreto. É misógino, machista, violento, desbocado, racista. Os ciganos são tratados como animais, as mulheres, como putas. A igreja abomina a todos e esse pensamento se reproduz entre os políticos e senhores de feudos. O oficial e seu filho passam o metade do filme em busca de um escrevo cigano foragido das terras de um Senhor feudal, acusado de roubar seu ouro e trepar com a esposa do patrão. Uma vez localizado, ele agora precisa ser devolvido. O brihantismo do filme é justamente discutir nessas duas partes a possibilidade de uma mudança, uma metáfora sobre a situação da Romênia de hoje em dia. Sob a manta de uma comédia rasgada e até mesmo de galhofa, o filme possui um dos finais mais cruéis que vi recentemente. Palmas para a Direção de Arte ( reproduziram uma roda gigante de madeira!!) para os figurinos e para o elenco extraordinário. O menino escravo é um grande achado! Pena que o filme não ficou entre os finalistas para o Oscar de filme estrangeiro, uma vez que ele foi o filme indicado pela Romênia. Nota: 9

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