sábado, 26 de fevereiro de 2011

Incêndios


" Incendies", de Denis Villeneuve (2010)

Drama canadense, indicado ao Oscar de Filme estrangeiro em 2011.
O filme começa com um casal de irmãos gêmeos, que vai até o escritório de um advogado, responsável pelo testamento da falecida mãe deles. No testamento, eles recebem duas cartas, endereçadas ao pai e ao irmão. Para surpresa de ambos, que até então achavam que tanto o pai e o irmão estavam mortos. Somente a entrega dessas cartas, os irmãos poderão ler uma última carta, endereçada a ambos.
Assim começa a saga de Jeanne e Simon. Simon se revolta com a atitude da mãe, por ela esconder a existência do pai e do irmão. Jeanne entende melhor as razões de sua mãe, e parte até o Oriente médio, para descobrir as origens de sua mãe e o paradeiro de seus parentes.
O filme passa a ser narrado em duas épocas distintas: Acompanha a trajetória de Nawal, a mãe deles, durante conflitos que assolam a região que ela mora, e a viagem de descoberta de Jeanne. A verdadeira faceta de Nawal vai sendo revelada aos poucos, e os filhos descobrem que ela foi uma batalhadora, que se envolveu com ataques terroristas. e que ela guarda um terrível segredo.
O roteiro do filme é extraordinário: com uma trama mirabolante, beirando o folhetim, o filme surpreeende com as inúmeras reviravoltas. Tudo é muito bem amarrado, apesar de um tanto forçado. Mas nada que me incomodasse. É uma produção corajosa, forte, de cenas de grande impacto. A ambientação do filme é espetacular, tudo é muito realista. A interpretação dos atores é tocante, com destaque para o trabalho da atriz Lubna Azabal, no papel de Nawal.
A trilha sonora é perfeita, interagindo sons locais com música ocidental. Fotografia, edição, tudo está a serviço da narrativa.
Uma cena que particularmente me deixou arrebatado é a do ataque do ônibus. É de fazer estremecer qualquer coração mais resistente.
Um filme altamente recomendável, que me deixou muito envolvido.

OBS: COPIO ABAIXO, UM EMAI DO MEU AMIGO TIDE. É UMA RESPOSTA A COMENTÁRIOS DE AMIGOS NOSSOS EM COMUM, QUE DISSERAM ACHAR QUE O ROTEIRO ERA MUITO NOVELESCO E AS INTERAÇÕES ENTRE OS PERSONAGENS, MUITO FORÇADAS.

Pra mim, o que diferencia a tragédia grega da novela das seis e das manchetes do jornal Meia Hora não é a história em si, mas exatamente a abordagem.

No filme Incêndios, a mãe enfrenta estoicamente sua sina (e sua maldição) diante da desolação das paisagens a das almas. Segundo Aristóteles, é da natureza da tragédia mostrar os homens maiores do que são, isto é, suportando um destino cruel e maior que eles. E ninguém foge a seu destino em uma tragédia grega, pois as Erínias irão atrás de você e te encontrarão em qualquer Canadá em que você se esconda.

As tragédias gregas costumam ser mesmo cheias de coincidências inverossímeis. Tudo o que vocês falaram do filme se parecer com trama de novela das seis também se aplica, sem tirar nem pôr, a Edipo, Antígona, Electra e outros infelizes helênicos. As mesmíssimas tramas podem ser tratadas como tragédia, melodrama ou notícia sensacionalista, conforme o gosto do freguês. Eu fiquei imaginando como seriam as manchetes de um jornal sensacionalista se as tragédias gregas acontecessem (e elas se repetem a todo momento) em nosso cotidiano violento:

Medéia: Mãe mata os próprios filhos pra se vingar de ex-marido que ia casar com outra. Incêndio misterioso mata noiva e futuro sogro. Fotos na página 15


Édipo Rei: Magnata fura os próprios olhos após descobrir que casou com a mãe. Vídeo com filhos[irmãos] desconsolados ao encontrar corpo enforcado da mãe[avó] vaza na internet. Veja na página 25 infográfico com graus de parentesco projetados até a quinta geração.


Prometeu acorrentado: Falso profeta sobrevive após ter fígado parcialmente devorado por urubus. Polícia fala em possível vingança de chefão do tráfico. “Ele vê o futuro”, dizem membros da comunidade. Prefeito (candidato a reeleição) visita vítima no hospital.


Tide


Nota: 9


Um comentário:

  1. O roteiro do filme traz uma metáfora sobre as saídas para os conflitos de todo o Oriente Médio - retratando aquilo que é necessário abrir mão, por mais impossível que pareça, para desmontar uma corrente de destruição.
    Como em 127 horas, para sobreviver é preciso amputar, e mais que um braço - o apego a afetos que a própria biologia da sobrevivência atiçou.

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