terça-feira, 21 de agosto de 2018

Unicórnio

"Unicórnio", de Eduardo Nunes (2018) O roteirista e Cineasta Eduardo Nunes adaptou dois contos de Hilda Hilst, "Unicórnio" e "Matamoros", e os transformou em um enredo único. Nesse seu segundo longa-metragem, Nunes novamente coloca como protagonistas 2 personagens femininas fortes, interpretadas por Patricia Pillar e Bárbara Luz. Em seu filme anterior, "Sudoeste", também tínhamos um embate emocional entre uma adulta e uma criança, interpretadas por Simone Spoladore e Raquel Bonfante. Eduardo Nunes é um grande aficcionado pelo Cinema de Tarkovsky, e isso é nítido em toda a sua obra. Outro entusiasta do Cineasta russo, o húngaro Bela Taar, acaba sendo também uma forte inspiração para o filme. Impossível não nos remetermos à obra-prima "O cavalo de Turim". No lugar do Cavalo, entra um Unicórnio. O poço é uma presença constante em ambos os filmes, é um lugar onde a água representa a vida, o elemento que mantém os personagens vivos, a motivação para sair de casa. Belamente fotografado por Mauro Pinheiro, o filme alterna locações deslumbrantes, captadas com cores fortes, na Região do Parque Estadual dos 3 picos, na região serrana do Rio, com um ambiente frio e asséptico de uma instituição psiquiátrica. O filme tem como conceito fazermos acreditar que estamos assistindo a uma fábula, um conto de fadas. O seu prólogo parece saído de Chapeuzinho Vermelho, outra provável leitura que o filme se faz pensar. A maçã é substituída pela Romã, um fruo proibido, vermelho, suculento. Mas quem representa o Lobo mau e a Chapeuzinho vermelho na história? Aí reside a surpresa na história. Mãe e filha habitam uma casa rupestre no alto de um morro. Na rotina das duas, elas enchem o balde de água, lavam roupas, cozinham. O marido está internado em uma instituição psiquiátrica ( Zé Carlos Machado). Sozinhas, elas têm a vida alterada quando um homem vem morar na casa do lado, um criador de cabras ( Lee Taylor). A sua presença desperta sexualmente o olhar da filha, que encontra na mãe uma rival para as investidas se sedução. Um filme onde a técnica prevalece ( fotografia, edição de som), o roteiro caminha lento, fazendo do filme uma experiência cinematográfica para Cinéfilos, por conta de seu hermetismo e imagens metafóricas, repletas de simbolismos religiosos e metafísicos ( muito particular ao cinema de Tarkovsky). O filme participou dos Festivais de Berlin e Festival do Rio.

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