domingo, 19 de agosto de 2018

Benzinho

"Benzinho", de Gustavo Pizzi (2018) Ettore Scola foi uma grande influência na minha formação cinéfila, por conta de seus dramas familiares envolvendo a classe média baixa operária italiana. Em filme como "Feios, sujos e malvados" e "Nós que nos amávamos tanto", nos apaixonamos pelos personagens absurdamente carismáticos e fanfarrões. Em "Benzinho", tive a mesma sensação de querer abraçar a todos que pertencem à família comandada por Irena (Karine Telles) e Klaus (Otávio Muller). Afinal, o que quer essa família? Um abraço já seria o suficiente. E assim como os italianos, como gritam essas pessoas! Moradores de um bairro pobre em Petrópolis, Irene e Klaus são pais de 4 filhos, todos homens. Tem Fernando (Konstantinos Sarris), de 16 anos, Rodrigo, de 10 anos, e os caçulas gêmeos, de 5 anos ( os gêmeos são filhos reais de Karine Telles e Gustavo Pizzi). Klaus é dono de uma papelaria, e Irene faz de tudo um pouco: vende quentinhas e jogos de lençol para casais, junto de sua irmã, Sonia ( Adriana Esteves), casada com o violento Alan (Cesar Troncoso). Irene está para se formar, e o casal está a anos construindo uma casa nova para a família. Um dia, Fernando é convidado a fazer parte de um time de handebol juniors na Alemanha. Esse evento irá desencadear uma montanha russa de emoções na família, principalmente em irene, que não consegue disfarçar seu medo e ansiedade pela ida do filho para o estrangeiro. Ela procura a todo custo lidar com o desapego, mas parece impossível. O roteiro, escrito pelo próprio Gustavo Pizzi com Karine Telles, apresenta uma gama de pequenos dramas, que fazem parte da rotina sofrida da família, com pitadas de humor e melancolia. Se fosse um filme americano independente, rapidamente a crítica local encaixaria o filme no gênero "Feel good movie" e o compararia à familia de loosers de "A pequena Miss Sunshine" (e olha que aqui também existe uma kombi vintage, só que vermelha!). O grande acerto do filme, foi lidar com uma roupagem simples e eficiente, sem grandes arroubos de técnica, e confiar toda a carga dramática nas mãos de atores excepcionais em suas performances. Karine Telles e Adriana Esteves são como um trovão~Que forças da natureza! Otávio Muller e Cesar Troncoso também não ficam longe, e todos têm pelo menos uma cena antológica. O jovem Konstantinos Sarris é a grande sensação do elenco, e que, com certeza, terá um belo caminho pela frente. A fotografia de Pedro Faerstein alterna Planos gerais emblemáticos e closes intimistas, sofridos. Entre momentos de poesia e a realidade nua e crua, o naturalismo do filme nos coloca ali, próximos a todos, como se fossemos aquele vizinho que está ali, acompanhando e testemunhando as pequenas batalhas diárias. Um momento para a história do cinema: A cena de Klaus e seu filho Rodrigo, comendo pudim de madrugada na cozinha, escondidos de Irene. O filme foi selecionado para o Festival de Sundance em 2018, e venceu os prêmios de Melhor filme latino-americano e da Crítica em Málaga

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