domingo, 15 de setembro de 2013

O ato de matar

"The act of killing", de Joshua Oppenheimer, Anonimo e Christine Cynn (2012) Documentário produzido por Werner Herzog, é um filme contundente e bizarro. O filme faz um relato do genocídio que o governo da Indonésia praticou no país entre 65 e 66, matando 2 milhões e meio de comunistas, considerados uma praga a ser exterminada. Entrevistando os carrascos que praticavam os crimes, os cineastas fazem deles os protagonistas do filme. Considerados heróis pela população, os carrascos, que se auto-denominam gangsters, relatam as várias formas de matar os comunistas de uma forma inusitada: propõe ao diretor que eles relatem ficcionando as mortes. Assim, os carrascos interpretam os atores e ao mesmo tempo os diretores de um filme dentro do filme. Esse filme é filmado de vários gêneros distintos: musical, faroeste, drama, terror, gangsters. O projeto inicial veio de Joshua Oppenheimer, que, recém formado em cinema pela Harvard, foi convidado a dirigir um documentário sobre trabalhadores rurais na Indonésia. Porém, chegando lá, ele ficou estupefato pelos populares considerarem os assassinos dos comunistas como heróis nacionais, algo como se os alemães hoje glorificassem os nazistas. Com isso, ele resolveu mudar o foco do seu filme. Oppenheimer ficou ainda mais chocado quando soube que o Governo americano foi um dos responsáveis pelo Golpe em 65 e pela ajuda ao massacre dos comunistas na Indonésia. O filme é muito, mais muito bizarro, principalmente quando mostra as filmagens realizadas pelos gangsters. Mesmo ficcionado, é muito chocante ver como eles dão depoimentos dizendo que se inspiravam em filmes americanos para matar as suas vítimas, usando os mesmos recursos dos filmes: atropelamento, estrangulamento, etc. Tem uma cena de musical, onde uma vítima dá uma medalha para um carrasco e o agradece por tê-lo libertado do mal comunista. É antológica essa cena. Premiado como melhor documentário na Mostra Panorama do festival de Berlin 2013, o filme peca pela sua longa duração: 159 minutos. Em alguns lugares, ele é exibido em uma versão reduzida, de 111 minutos. Mas talvez o item mais polêmico no filme, seja a humanização de um dos assassinos, Anwar Congo. Mostrado como excelente avô, carinhoso com sua família e amigos, no desfecho ele sente a dôr das vítimas. Terá sido verdade essa reação dele, ou foi tudo ficção? Jamais saberemos. Nota: 7

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