sábado, 27 de julho de 2013

Eu, Pierre Riviére, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão...

"Moi, Pierre Rivière, ayant égorgé ma mère, ma soeur et mon frère...", de René Allio (1976) Essa obra-prima estava faltando na minha filmografia. Filmado em 1976, narra a história real de Pierre Rivière, um jovem camponês da região de Aunay, que no dia 3 de junho de 1835, degolou sua mãe, irmã e irmão, dizendo ter sido um ato comandado por Deus. Mais tarde, perante um juiz, narrando os fatos passados que antecederam o crime, o espectador vai entendendo os reais e possíveis motivos de tal ato bárbaro. O filme usa uma narrativa extremamente ousada: mescla ficção, documentário, depoimentos de camponeses reais e imagens de arquivo. O cineasta René Aillio incluiu no elenco camponeses de verdade da região aonde aconteceu o crime (Normandia francesa) para dar veracidade aos personagens. Esse naturalismo das interpretações confere veracidade, uma vez que a região é muito distante do grandes centros e a população vive como se estivesse em outra época. Os gestuais, oratória, são impactantes. O filme é baseado no livro "Eu, Pierre Riviere", elaborado pelo filósofo e pensador Michael Foucault, que na época pegou o depoimento de Pierre e deu a ele um tratamento mesclado à psicologia e trabalhos com pacientes supostamente dementes. O caso Pierre em 1835 fi considerado o primeiro onde a luz da ciência e a luz dos processos jurídicos se uniram para poder tentar entender o porquê dos crimes: terá Pierre agido friamente, ou era ele um ser doente mental? O filme induz que a atitude da mãe dele, que sempre humilhou seu pai, poderia ter sido uma das razões. Pierre também é apresentado como misógino, e muito protetor de seu pai. Incrível a sua artiiculação e inteligência: como camponês iletrado, ele comprava livros e estudava. Seu depoimento, escrito por ele, é extremamente bem argumentado. O filme se utiliza dessa voz off em 1a pessoa para discorrer quase que um ponto de vista de Pierre vendo o mundo que o rodeia. Aliás, a atuação de Charles Hebert, que interpreta Pierre, é assombrosa. Aos 16 anos na época, ele recria com um trabalho de corpo e feições a insanidade do personagem, provocando apatia e compaixão do espectador. Definitivamente não é alguem com quem a gente quer topar por aí. Seu olhar psicótico é assustador. A primeira cena do filme já é um primor de realização: No cenário do crime, os 3 corpos no chão, perante uma poça de sangue. O filme tem uns movimentos de câmera muito bons, e enquadramentos que parecem quadros pintados. Belíssima fotografia. A narrativa é extremamente fria, como se estivessem fazendo a autópsia de um corpo. Definitivamente um clássico. Nota: 8

2 comentários:

  1. Excelente sinopse! Acabei de ver o filme e procuro fazer uma relação comparativa com o filme os miseráveis de Jose Dayan.

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  2. Excelente sinopse! Acabei de ver o filme e procuro fazer uma relação comparativa com o filme os miseráveis de Jose Dayan.

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