sábado, 21 de maio de 2016
Memórias do subdesenvolvimento
"Memórias del subdesarrollo", de Tomás Gutiérrez Alea (1968)
Clássico cubano realizado em 1968, anos depois da Revolução Cubana, que aconteceu em 1959, e financiado pelo Governo comunista, é uma mistura muito eficaz e envolvente de documentário e ficção, uma proposta já realizada exemplarmente na obra-prima "Eu sou Cuba", de Mikhail Kalatozov, de 1964.
O filme acompanha a trajetória de Sergio, um escritor intelectual, cuja família ( pais, esposa) fogem para Miami após o evento da invasão da Baía dos Porcos em 1961. Todos os burgueses e contrários ao regime que viria a se instalar fogem, porém Sergio resolve ficar, pois quer saber aonde que a Revolução fará efeito na sociedade e na política de Cuba. Isolado, sem família e amigos, Sergio sobrevive às custas dos aluguéis dos apartamentos pertencentes á sua família. Aos poucos, porém, ele vai percebendo que o Regime comunista vai se apropriando de todas as propriedades particulares da população, e que o direito à liberdade começa a ficar monitorada pelo Governo. Paralelo, Sergio se envolve com Elena, uma jovem menor de idade do povo, que tem o sonho de ser atriz.
Interessante esse paralelo entre o Regime que se instaura e esse desejo de Sergio por Elena, que logo depois vai se desencantando por ela, ao perceber que culturalmente ela nada tem a oferecer. Assim é esse magnífico filme, corajoso, que ao mesmo tempo que faz uma dura crítica ao mundo burguês e capitalista, também evoca a frustração de um sonho socialista que parece estar regrado a um regime de censura politica e social.
Se utilizando de imagens de arquivo vigorosas registrados após a Revolução, "Memórias do subdesenvolvimento" tem uma narrativa não linear, focada em flashbacks da adolescência de Sergio, uma linguagem que traz elementos da Nouvelle Vague francesa ( trechos de filmes de Brigitte Bardot surgem na tela) e do neo-realismo italiano.
Tomás Gutiérrez Alea realizou em 1993 seu filme mais famoso mundialmente, "Morango e chocolate", e veio a falecer em 96. O filme merece ser visto por cinéfilos e estudiosos pelo brilhante uso de uma narrativa que explora novos caminhos para a linguagem do cinema, até hoje ainda bem ousada.
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