sábado, 9 de agosto de 2014
O homem das multidões
"O homem das multidões", de Marcelo Gomes e Cao Guimarães (2014)
Adaptação livre do conto de Edgar Allan Poe, "O homem da multidão", que narra a história de um homem que se senta em um café e observa um idoso, e o segue pelas ruas. No filme de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, essa referência ao conto só acontece no desfecho. O idoso é um espelho do personagem de Juvenal (Paulo André, do grupo Galpão), um condutor de trem do metrô em Belo Horizonte. Solitário, ele vaga pelas ruas de Belo Horizonte para se sentir "abraçado"pelas pessoas. Assim como Juvenal, Margô (Silvia Lourenço), supervisora das linhas de trem do metrô, e chefe de Juvenal, observa a solidão do amigo e se espelha na realidade dele. Prestes a se casar, ela abdica da suposta felicidade de casada para se envolver emocionalmente com a paz e independência de Juvenal. Aos poucos, ela vai entrando cada vez mais no universo dele, mas sem se tocarem ou trocarem mais do que cinco palavras.
Filmado em formato 4X $, o filme dá a impressão de estarmos vendo vídeos do Instagram. Pode ser que essa seja a intençào dos autores, a de estarmos invadindo a vida de pessoas que nem conhecemos, assim como fazem milhões de pessoas que acessam virtualmente a vida de pessoas que seguem. A fotografa estonteante de Ivo Lopes Araujo, do excelente "Tatuagem", parece se utilizar de filtros do Instagram: hora fica preto e branco, ora saturado, ora no dourado e por aí vai.
Ousado esteticamente, senti falta de uma dramaturgia que sustentasse a história de 90 minutos. Um filme composto de belos planos, bela fotografia e trilha sonora e atuações vibrantes do elenco merecia um roteiro que explorasse melhor a vida dos personagens, como no ótimo filme argentino "Medianeiras", que também usa a solidão como tema. Aliás, o filme me lembrou bastante meu curta "Pietro", pela ausência de palavras, o amor sem sentimentos e pelo sorriso esboçado no final.
Nota: 7
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