sábado, 30 de agosto de 2014

O garoto que come alpiste

"To agori troei to fagito tou pouliou", de Ektoras Lygizos (2012) O cinema grego é a minha nova paixão. É o cinema de entrega, de violência, de raiva, de grito ecoando no ar. É o Cinema mais visceral da atualidade. Mais uma vez, um cineasta grego usa o cinema como uma forma de exorcizar o monstro da recessão, da crise econômica que destruiu a Grécia. Segundo pesquisas, 9 entre 10 jovens não possuem um lar, e o nível de desemprego atingiu um patamar assustador. Baseado no livro "Fome", de Knut Hamsun, o cineasta Ektoras Lygizos faz aqui uma epopéia de um jovem depressivo. Desempregado, um cantor de 22 anos (Yiannis Papadopoulos) mora sozinho em um pequeno apartamento com o seu único amigo, um canário que vive numa gaiola. Sem dinheiro, o jovem divide o alpiste com o pássaro. Ele cata lixo na rua, invade o apartamento de um vizinho idoso e doente e come o açúcar, faz de tudo para se virar para não morrer de fome. Até mesmo, numa das cenas mais impactantes do cinema, ele se masturba, goza na mão e engole o esperma, num ato desesperado de se alimentar. Indicado pela Grécia para representar o País no Oscar 2013, esse é um filme que assusta pela sua crueza e ao mesmo tempo encanta pela poesia da tragédia humana. A atuação desse jovem ator Yiannis Papadopoulos é das cosias mais impressionantes que vi. O filme todo está em cima dele, ele leva a câmera, a história. É uma entrega de ator para seu Personagem que me comove, e fico pensando que aqui no Brasil ninguém teria a coragem de interpretar esse papel. Direção segura, fotografia que não quer brigar com a imagem, deixando espaço para o personagem comandar a cena. O elenco de apoio ( a jovem recepcionista que é paixão platônica do jovem, e o idoso do apartamento) são muito bons também). Muito triste, para quem tem animais, a cena que o jovem tenta invadir o terreno abandonado para salvar o seu pássaro. Mais um presente de ouro do Cinema grego para cinéfilos de mente aberta. O filme ganhou vários prêmios em festivais de cinema europeus, e seu jovem ator, merecidamente premiado. Que vontade de trabalhar com ele. Nota: 9

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