segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Seiva bruta
'Seiva bruta", de Gustavo Milan (2021)
Integrante da lista dos 15 curtas pré-indicados à uma vaga na categoria do Oscar 2022, "Seiva bruta" é escrito e dirigido pelo curta-metragista Gustavo Milan. O filme foi desenvolvido durante a trágica imigração de milhares de venezuelanos que fugiram de seu país, buscando oportunidade de emprego em países vizinhos. Milan entrevistou imigrantes venezuelanos em assentamentos em Manause escalou a atriz do premiado drama venezuelano, "Pelo malo", Samantha Castillo, ela mesmo uma imigrante que saiu da Venezuela e foi pro México.
Marta (Castillo), venezuelana, está na estrada indo em direção a Manaus, e dali, seguir para São Paulo. Ao pegar carona em um caminhão, dirigida por Vilmar (Luiz Carlos Vasconcelos), Marta conhece outro casal de venezuelanos, Alice (Brenda Moreno) e Jorge (Abilio Torres), pais de um bebê.
Alice não tem leite para dar de amamentar, e Marta, vendo o sufoco da criança, se oferece para dar de amamentar . Ela diz que teve que abandonar sua bebê com sua mãe. Durante a noitada em uma casa na estrada, Jorge revela as suas reais intenções.
O filme apresenta um mundo violento e cruel, onde cabe às mulheres se apoiarem, em um universo onde os homens são predadores. Me lembrei de "MAis pesado é o céu", e ambos os filmes mostram um mundo desesperançoso e brutal. Uma homenagem às mulheres e seu instinto materno, 'Seiva bruta" traz um apuro na direção, no excelente trabalho dos atores e na trilha sonora, de Ariel Marx.
Survive
"Survivre", de Frédéric Jardin (2024)
Divertida aventura de suspense e terror co-produzida por França e Bélgica. A crítica detonou o filme, mas eu achei um passatempo incrível por conta de um roteiro desmiolado que não tem preocupação com nenhuma verossimilhança, tornando a experiência uma montanha russa de emoções escalafobéticas. Tem de tudo: tubarões assassinos, serial killer, caranguejos asssassinos, tsunami, meteoros e claro, aquela crítica que os franceses adoram de que o ser humano está destruindo o eco sistema, que acaba se voltando contra ele (lembram do filme dos tubarões no Rio Sena?)
Totalmente filmado no deserto do Marrocos, o filme apresenta uma família de férias em uma praia do Caribe, em um iate, comemorando o aniversário do filho de 13 anos: o pai, o oceanógrafo alemão Tom (Andreas Pietschmann), sua esposa médica francesa Julia (Émilie Dequenne) e os filhos, a adolescente Cassie (Lisa Delamar) e Ben (Lucas Ebel). Estranhos meteoros caem do céu, o mar se agita. Quando a família acorda pela manhã, descobrem que o oceano desapareceu!!!!! Para piorar, tudo virou um enorme deserto. Pelo rádio, a família contacta um submarino, mas precisam chegar até lá, pois a previsão é que o mar retorne como um tsunami. No caminho, eles lidam com todo tipo de incidentes que vai atrasando o percurso da família.
O filme foi rodado com orçamento médio de 5 milhões de euros em 20 dias de filmagem. Sim, os personagens agem de forma idiota e tomam decisões etsúpidas! Sim, pela milésima vez um filme busca referências em "Um dia silencioso". Os atores são medianos, mas pro estilo de filme B, fluem muito bem. Engraçado que só ocorreu 1 dia após a seca dos oceanos, mas todos os outros sobreviventes agem como se estivessem em "The walking dead", humanos querendo eliminar humanos.
O outro lado
"Volvereis", de Jonas Trueba (2024)
Um roteiro que daria uma excelente peça de teatro com 2 personagens, 1 casal na faixa dos 35 anos de idade. Concorrendo no Festival de Cannes na mostra Quinzena dos realizadores, de onde saiu com um prêmio especial, "O outro lado" é co-escrito e dirigido por Jonas Trueba, filho do renomado cineasta espanhol Fernando Trueba, que aqui atua como personagem, o pai da cineasta Ale (Itsaso Arana). Ale tem um relacionamento com o ator Alex (Vito Sanz) por 14 anos morando juntos. Logo no início do filme, o casal já está em vias de separação, acordada entre ambos. Influenciada pela frase que seu pai lhe falou a vida toda "As pessoas devem celebrar a sua separação, e não a união", Ale sugere a Alex que façam uma festa para comemorar a separação. No início relutante, Alex liga para um de seus melhores amigos para ouvir a reação dele sobre a festa. Diante da resposta animada, o casal decide que deve faezr uma lista para convidar todos que deverão comparecer, incluindo o professor de inglês deles, que agora, por conta da separação, deverá dar aula separado. Ale fica na dúvida se chama seu pai, enquanto Alex diz que já chamou sua mãe. Durante os dias que antecedem a festa, cada um deles se reúne com amigos especiais, para passarem o último encontro juntos.
Com diálogos maravilhosos e uma melancolia deliciosa, o filme me lembrou "Harry e Sally, feitos um para o outro", onde o casal vivia discutindo às turras, mas era claro que eles se davam bem. Tem uma cena no filme reveladora e bela: quando Alex pede para Ale o dirigir para uma self tape, com diálogos que remetem à história do casal. É muito animador que Cannes tenha escalado uma comédia romÂntica para o festival, um sinal de que o gênero pode encontrar quem sabe um dia, melhores dias em grandes festivais. Os dois atores, e Fernando trueba em especial, estão excelentes no filme, trazendo carisma e verdade para as personagens, com drama e humor.
Sexo y revolucción
"Sexo y revolucción", de Ernesto Ardito (2021)
Importante documentário LGBTQIAP+ argentino, "Sexo e revolução" apresenta uma excelente pesquisa de cenas de filmes conhecidos, fotos, imagens documentais que refletem de forma poética, a tese dos autores do filme a respeito da homossexualidade na Argentina no início dos anos 70. Um filme instigante, traz depoimentos de integrantes do movimento Frente de Libertação Homossexual, surgido em 1971 para combater a homofobia e os crimes contra os homossexais. A direita peronista mandava prender a comunidade queer, mandando-os ou para a cadeia ou para instituições para doentes mentais, sofrendo todo tipo de torturas. Por outro lado, a esquerda, grupo que abraçava os homossexauis, com muitos intelectuais e artistas, passou também a ser condenada pela esquerda, principalmente o partido comunista, influenciado por Cuba: Fidel mandou prender todos os artistas e intelectuais gays e lésbicas e mandou-os para a prisão, alegando que "A homossexualidade é um produto do capitalismo decadente e um ato burguês".
O filme começa apontando sobre como o capitalismo, através do abuso de Poder sobre dominantes e dominados, propagavam a relação Patrão X empregado, homem X mulher e por último, governo e sociedade X Homossexuais. A rebelião de Stonewall e a primeira parada gay americana foram fortes influências para o movimento argentino, que foi criando forças, mesmo diante da falta de apoio dos partidos de direita e de esquerda. É um excelente documento histórico sobre o movimento Lgbt na Argentina, e o mais sedutor para os cinéfilos, traz uma coleção enorme de cenas de filmes famosos ou obscuros que retratam a homossexualidade no cinema.
Eu não sei quem você é
"I don't know who you are", de MH Murray (2024)
Premiado drama LGBTQIAP+ canadense, rodado em 3 dias e com orçamento ínfimo, "Eu não sei quem voc6e é" é um excelente drama, repleto de emoção e humanidade em uma Toronto fria e egoísta. O filme é co-escrito pelo ator Mark Clennon, que dá vida ao músico Benjamin. Morando sozinho em um pequeno apartamento alugado, Benjamin luta para manter sua segurança financeira: ele envia dinheiro para a sua família, paga o aluguel e no final, sua geladeira fica totalmente vazia e seu bolso com nenhum dinheiro reserva. Benjamin sobrevive dando aulas de flauta, instrumento que ele toca nos bares. Benjamin tem um caso ainda não resolvido totalmente com Malcolm (Anthony Diaz): o fantasma do seu ex-namorado ainda lhe assombra e ele evita relacionamentos. Uma noite, Benjamin vai para uma festa com sua melhor amiga Ariel (Nat Patricia Manuel, maravilhosa). Ao rever seu ex na festa acompanhado do novo namorado, Benjamin bebe bastante e vai embora. Na rua, ele é abordado por um homem que o agride e o estupra sem camisinha. Ariel toma conhecimento e sugere que Benjamin vá fazer exame de sangue. Para alívio, ele está negativo para HIV. Mas uma médica diz que o vírus pode s emanifestar entre 3 semanas a e 3 meses, e ara isso, ela prescreve que ele tome Prep por 28 dias, tomando a primeira dose o quanto antes, sendo que é importante ser tomado nas primeiras 72 horas. Na farmácia, Benjamin descobre que o governo não banca o remédio que custa 990 dólares. Benjamin corre contra o tempo para tentar juntar o dinheiro.
Algumas decisões de roteiro e escalação de elenco eu não curti ( era óbvio que ele iria ser assaltado, e a escalação do único ator asiático para ser o atendente da farmácia frio e arrogante não me pareceu correto como identidade). Mas a excelência do elenco, e o ritmo do filme, com uma dinâmica que funciona para ser um contador do tempo que urge é bastante eficiente. O filme se torna uma forte crítica ao descaso do governo com a comunidade queer e potenciais cidadãos que se colocam em risco de contrair o HIV por falta de assistência médica gratuita. A luz no fim do túnel do filme bora crédito nos seres humanos, que mesmo em tempos de agoísmo, ainda trazem o mínimo de altruísmo.
domingo, 29 de dezembro de 2024
The dirt between my fingers
"The dirt between my fingers", de Joshua Chislett (2020)
O roteirista e diretor canadense Joshua Chislett desenvolveu o curta Lgbtqiap+ "The dirt between my hands" para falar sobre o primeiro amor gay na adolescência. Filmado como em uma narrativa de memória, o roteiro traz uma história muito triste sobre pessoas desajustadas e solitárias. Gabriel (Jack Parsons) é um gay solitário que mora com a sua mãe depressiva. Gabriel caminha à beira do rio para espairecer, até que se depara com Liam (Shawn Vincent), um jovem que sofre violência doméstica. Liam está deitado na relva. Todos os dias, Gabriel esbarra com Liam, até que Liam sente a sua presença. Os dois se deitam lado a lado no entaredcer, mas quando Gabriel toica nas mãos de Liam, ele se irrita e vai embora.
Filmado com orçamento ínfimo, o filme tem no elenco e na fotografia as suas maiores qualidades. Silencioso, quase sme diálogos, é um filme reflexivo para trazer experiência sensorial.
Into the summers
"Into the summers", de Alessandra Lacorazza (2024)
Premiado no Fetsival de Sundance 2024 com o grande prêmio do juri para melhor filme e de melhor direção para Alessandra Lacorazza, em sua estréia na direção de longa metragem. Alessandra é uma cineasta de ascendência colombiana e nascida nos Estados Unidos, e é assumidamente queer. Ela decidiu escrever essa história quando seu pai faleceu. O filme traz muito da infância e adolescência de Alessandra, através de sua alter ego no filme Violeta. Filha de Vincent (o rapper porto riquenho René Pérez Joglar, nome artístico Residente), ela e sua irmã menor Eva têm guarda compartilhada após o divórcio dos pais. O pai foi morar na cidade de Las Cruces, no Novo México, após herdar a cada de sua avó. Um típico loser, Vincent tenta voltar a estudar para poder trabalhar, mas não encontra nenhum facilitador na vida. Ele se entrega às bebidas e à um temperamentio instável, que só abranda quando recebe as suas filhas. O filme acompanha 20 anos na vida das irmãs viistando o pai em Las Cruces.
As irmãs são interpretadas por 4 pares de atrizes, sendo que o último que interpreta Violeta é o ator trans Lio Mehiel, porto riquenho (Violeta transiciona durante os anos). A passagem de tempo me fez lembrar vagamente de "Boyhood", de Richard Linklater, que teve uma proposta diferente. mas me trouxe a mesma melancolia e sensação de vida passando. A atuação de Residente é espetacular: seu personagem é triste, trágico, e por mais que ele faça muita merda, é impossível não torcer por ele, coberto de amor pelas filhas e dando suporte o tempo todo. Um filme que se assiste com um aperto no coração, pelo seu retrato sobre vidas anônimas e melancólicas.
O 5 de talleres
"El 5 de talleres", de Adrian Biniez (2014)
Escrito e dirigido pelo uruguaio Adrian Biniez, mesmo realizador do excelente "Gigante". O filme competiu em Veneza e é uma deliciosa comédia dramática repleta de romance entre o carismático casal principal, “Patón” Bonassiolle (Esteban Lamothe) e Ale (Julieta Zylberberg), casados na vida real. O filme apresenta personagens de classe média, personagens na faixa dos 30 anos, que já não são tão jovens assim e que precisam se reinventar profissionalmente. Patón é jogador do time de futebol Talleres, um clube uruguaio onde os jogadores precisam ter algum outro trabalho para se sustentarem. Quando Paton é punido em campo, ele precisa ficar 5 partidas afastado. Esse tempo ausente o deixa preocupado: prestes a se aposentar, já com 35 anos, Paton não sabe faezr mais nada. Ele abandonou os estudos e não tem graduação. Sua esposa, Ale, carinhosa e sempre presente, o ajuda a segurar a sniedade e a procurar alguma atividade futura.
Filmado com naturalismo, a qu;imica do casal é perfeita e apaixonante. O pública torce pelos dois, mesmo em momentos de discussão, a gente quer que eles fiquem bem, pois se amam e são do bem. A crise de idade, a cris eprofissional e um futuro incerto são os temas desse filme indie, filmado com pouco orçamento mas repleto de coração.
O vidreiro
"The glassworker", de Usman Riaz (2024)
Concorrendo no Festival de Annecy e na Mostra internacional de São Paulo, "O vidreiro" é a primeira animação totalmente feita à mão do Paquistão.
O país indicou o filme para representá-lo à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025.
O que mais chama atenção no filme são os seus traços, que lembra muito as animações de Hayao Myiazaki e outros filmes dos Studios Ghibli. Eu fui pesquisar e vi que era um desejo do realizador paquistanês homenagear os Studios Ghibli, e para isso, contou com a supervisão do produtor dos studios, Geoffrey Wexler. O filme se passa no início do século 20 em um local fictício, fazendo paralelo ao Paquistão e sua colonização inglesa.
Em uma pequena cidade, moram Tomas (Khaled Anam) e seu filho Vincent Oliver (Taimoor “Mooroo” Salahuddin). Tomas é viúvo e é considerado o melhor vidreiro do país, relizando verdadeiras ecsulturas, junto de seu filho, um aprendiz da técnica. Vincent deseja ir para a escola, mas seu pai diz que não vale a pena estudar, que ele próprio o ensinará. Tomas é pacifista e faz com que Vincent também tenha ideais contra as guerras. Um dia, a pequena Alliz (Mariam Riaz Paracha) entre na loja encantada com os vidros, e ela e Vibcent fazem uma amizade onde Vincent claramente se apaixona por ela. s anos se passam, a guerra se intensifica. O pai de Alliz, Coronel Amano (Ameed Riaz), convoca Tomas e Vencent para ajudarem a produzir armas, cuja base são os vidros. Vicent fica com ciúmes de Alliz, que é uma estudante de música, por ela travar amizade com Malik, um jovem aspirante a soldado.
O grande encantamento do filme é justamente a sua semelhança absurda com os filmes da Ghibli, e parece que voc6e de verdade está assistindo a um filme japonês. O filme lida com muitos temas, e tem diversas fases temporais, o que acaba esticando a rama. E ainda traz elementos sobrenaturais através da presença de um Djinn, espírito da cultura islâmica. Um bom filme pacifista, com um forte romance. Não é indicado para crianças por conta de seu conteúdo violento.
Morra monstro morra
"Muere, monstruo, muere", de Alejandro Fadel (2018)
Concorrendo no Fetsival de Cannes na Mostra un certain regard e no Festival de Sitges em 2018, "Morra monstro morra" é uma co-produção Argentina, França e Chile. O filme é um misto de gêneros, que vai do horror, fantasia, drama, thriller policial. No entanto, o cineasta Alejandro Fadel não facilita a experiência do filme para o público, e tudo torna-se hermético e sme explicação, deixando para o espectador elocubrar a sua interpretação. Me lembrou do filme do mexicano Amat Escalante, " Aregião selvagem", que apresenta um ser monstruoso escondido em uma cabana, e tambem, ecos de "Alien, o 8 passageiro" e "Veludo azul", de David Lynch. Mas tendo como narrativa uma viagem experimental e sensorial de difícil assimilação.
Na cordilheira dos Andes, uma mulher é encontrada sem cabeça. Ela é Francisca, casada com David, o principal suspeito. Francisca era amante do policial Cruz e cabe a ele tentar descandar o crime. Davi é levado para uma clínica psiquiatrica e diz que existe um monstro na região, e ele tem visões e fala coisas sem sentido, que podem ser expressas como "Morra monstro morra". Outras mulheres são encontradas sem cabeça e um grupo de policiais liderados por Cruz e seu chefe seguem montanha adentro para descobrir o assassino.
O filme deixa claro por um bom tempo que o tema é o feminicídio e que o monstro poderia ser simbólico e representar a misoginia e violência contra a mulher em uma sociedade machista. Mas o monstro de fato aparece lá no final, com um rosto que é uma vagina dentada!!!!! e um rabo que é um falo em forma de pênis. Essa bizarrice fica sem explicação e já li várias explicações sobre metáforas e coisas e tal. Mas teria sido mais inteligente que o monstro não aparecesse. O filme tem um ritmo lento e dificilmente irá agradar fãs do terror ou mesmo fàs de um cinema mais ousado e experimental.
The big dog
"The big dog", de Dane McCusker (2023)
Longa de estréia do roteirista e diretor australiano Dane Maccusker, o filme é anunciado como uma comédia de humor ácido. Eu fui assistir ao filme achando que iria achar graca, mas a verdade é que o filme é um drama sobre uma família disfuncional, cujo patriarca é um macho alfa que diante de sua empresa e família, é um poderoso e arrogante corretor de bolsa de valores, que faz da sua imagem, a de um homem vencedor e líder.
Richard Morgan (Julian Garner) é casado com Kelly (Felicity Price) e pais do adolescente introvertido e loser Sam (Michael Monk). O filme acontece todo em um único dia. Richard mantém uma relação infiel online com uma dominatrix, Princesa Page (Asha Boswarva). Ele é totalmente submisso à ela, diferente de sua imagem pública. Page se aproveita da submissão de Richard e limpa a sua conta bancária. Nesse mesmo dia, Richard havia prometido um carro novo para seu filho Sam, como presente pela sua formatura da high school. Sam se ressente de ser impopular com as mulheres e isso o faz se tornar uma pessoa misógena. Quando Kelly descobre que a conta bancária está zerada, ela entende a vida dupla do marido e toma satisfação.
Um filme que poderia render uma boa peça teatral com 4 atores, "The big dog" poderia ter sido mais divertido se o diretor tivesse apostado mais no humor e nas situações que vão se tornando incontroláveis. Mas o roteiro decide apostar mais no drama e na pauta da sororidade. Temas como suicídio adolescente são levantados mas ficam no meio do caminho. Os atores são bons, principalmente Felicity Price como a esposa Kelly, a personagem que tem mais camadas a apresentar.
sábado, 28 de dezembro de 2024
Queer
"Queer", de Luca Guadagnino (2024)
Concorrendo no Festival de Veneza 2024, "Queer" é adaptação da obra escrita pelo escritor beatnick Willian Burroughs, 'Queer", lançado em 1952 mas somente lançado 3 décadas depois nos anos 80, pelo seu forte teor explicitamente gay. Burroughs traz como protagonista seu alter ego, Willian Lee, também presente em outra obra sua, 'Almoço nu", adaptado por David Cronemberg em 1991 com o título de "Mistérios e paixões". "Queer" me fez lembrar tanto de "Mistérios e paixões" pelos seus devaneios narrativos quanto ao cult de Ken Russel, "Viagens alucinantes". Todos esses filmes apresentam longos trechos de viagens alucinógenas provocadas por uso de drogas, com cenas que remetem ao universo surrealista. (Inclusive, em uma cena, os personagens assistem a um clássico de Jean Renoir, "O testamento de orfeu", protagonizado or Jean Marais, de quem Daniel Craig parece ter se inspirado na composíção física.)
O filme é ambientado no pós guerra, início dos anos 50 na cidade do México, onde vivem expatriados americanos. Entre eles, Willian Lee (Daniel Craig), um escritor que frequenta um bar onde outros americanos gays fazme ponto. Joe Guidry (Jason Schwartzman, irreconheçivel) é um amigo gay de Willian e sempre lhe conta as aventuras com rapazes que lhe roubam pertences. Willain faz pegação com alguns rapazes, até que seu olhar bate com o do ex-oficial da marinha Eugene Allerton (Drew Starkey) na presença de uma mulher, Mary. WIllian imediatamente se sente atraído por Eugene, e aos poucos, vai se aproximando do rapaz, até que seguem para seu quarto e transam. Mas Willian deseja de Eugene muito mais do que o rapaz possa lhe oferecer. Eugene também não é assumido e vive um romance com Willian entre 4 paredes. Willian convida Eugene para ir com ele até a América do Sul, em busca de um erva (Ayuhasca), que segundo ele ouviu falar, é usado pelo exército para fazer contatos por telepatia.
O filme, co-escrito pelo roteirista Justin Kuritzkes ( o mesmo de "Rivais", também filme de Guadagnino), é dividido em 4 capítulos. Muita gente criticou o capítulo 3, ambientado na floresta amazônica e onde os personagens fazem viagens alucinógenas com o uso do Yuahasca. Eu também não curti, mas mais pela direção de arte pobre ( uma cabana cenográfica com uma floresta claramente montada) e pela desconexão do restante do filme. Mas entendo que dramaturgicamente ela é fundamental para o personagem de Eugene em sua auto-descoberta. Talvez o que eu menos tenha gostado do filme, além de sua longa duração, foi ele ter sido todo recriado em estúdio. Não me conectei com o desenho de produção do filme, que me "tirava "o tempo todo da história.
Finde
"Finde", de Nano Garay Santaló (2021)
Divertida comédia de humor ácido escrita e protagonizada pelos atores Malena Pichot e Julian Lucero, dois famosos comediantes argentinos. O filme traz como pano de fundo o lockdown provocado pela Pandemia da Covid. Brincando com o gênero de terror, o filme satiriza filmes como "O massacre da serra alétrica". O casal Agostina (Malena Pichot) e Santiago (Julian Lucero) estão em seu apartamento em Buenos Aires vivendo um stress por conta do lockdown. Sem suportar mais a barulheira dos vizinhos e chegando ao ponto de não se suportarem um ao outro, Santiago checa em um app e encontra uma pousada de campo a preços módicos. Os dois decidem sair da cidade e passar um fim de semana nessa pousada isolada. Chegndo lá, eles são recebidos pelos donos do local: o médico Emiliano (eonardo Sbaraglia) e sua esposa Lorena (Paula Grinzpan). Tudo vai às mil maravilhas, mas aos poucos Agostina e Santiago vão percebendo que o casal não é tão normal assim.
Com ótimas gags e excelentes atores, "Finde" é um exemplo de produção indie, realizada com pouco dinheiro, 2 locações e 4 atores que diverte bastante. O espectador tem que estar disposto a entrar em um roteiro maluco com personagens sem noção. Fico encantado o quanto o ator Leonardo Sbaraglia é vérstial e gosta de participar de filmes tão distintos.
Canina
"Night bitch", de Marielle Heller (2024)
"Onde está a mulher com quem me casei?". "Ela morreu no parto.".
Esse diálogo entre o casal sem nome formado por Amy Adams e Scooty Macnairy define bem o filme "Canina", adaptação do romance escrito por Rachel Yoder. O filme é uma metáfora sobre a dificuldade da maternidade, diferente dos filmes Hollywoodianos que pregam que ser mãe é só felicidade em um filme da Disney. O trailer do filme engana o espectador, pois dá a entender que a personagem de Amy Adams se transforma mesmo em uma cadela, mas isso é simbólico, dentro de uma narração em off formado por monólogos dolorosos sobre as agruras de ser mãe e desistir de seus sonhos profissionais. Diretora de "Poderia me perdoar?", que deu uma indicação ao Oscar de atriz para Melissa Maccarthy, Marielle Heller co-escreve e dirige "Canina", uma fábula surreal que rendeu várias indicações de atriz à Amy Adams. Adams é mãe de uma menino de 2 anos. Ela abdicou do desejo de ser uma artista plástica para se dedicar 100% em ser mãe. Seu marido é o típico pai que passa o dia todo no trabalho e quando chega em casa pega a melhor parte de criar o filho. Adams odeia os grupos de mães e as atividades que envolvem mães e filhos. No auge do seu stress, ela passa a sentir uma mudança corporal: seu desejo de querer sair de noite, de ficar suja, de comer carne.
A metáfora sobre o animal que passa a existir dentro de Adams é a representaçao de toda a angústia que ela sofre e internaliza. O filme é uma ode às mães que sofrem, que se sacrificam, que sentem dôr, se sentem violentadas em sua rotina, que não conseguem mais sentir amor aos maridos, não encontram mais tesão nas coisas que amava. É um filme corajoso, ao expôr que nem todo mundo ama ser mãe, mas que precisam encontrar um balanço entre o papel de mãe, esposa, profissional. Queria ter gostado mais do filme, mas vale por Amy Adams, uma atriz que sempre entrega.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Far from water
"Far from water", de Josh Cox (2024)
Filmado em bela praia em Provincetown, "Far from water" é um curta Lgbqtaip+ praticamente sem diálogos. Com uma fotografia que favorece as cores do entardecer, realçando as imagens do banho de mar, do céu cinzento e da relva verde. Dois jovens amigos, interpretados por Jarid Domínguez e Lucas Nealon passam uma tarde na praia. Eles riem, se divertem. Tiram as roupas, mergulham no mar, interagem com a natureza. Ao se deitarem na relva, inesperadamente, um deles beija o outro.
O filme registra um momento e as consequências desse ato. Como curta, o roteirista e diretor Josh Cox prefere não estender a história, deixando para o espectador imaginar o desenrolar da ação.
Um completo desconhecido
"A complete unkown", de James MAngold (2024)
O título do filme se refere ao refrão da música "Like a Rolling stones", uma das mais famosas do cantor, compositor, escritor e artista plástico Bob Dylan, nascido em 1941 em Minnesota. Em 2007, Todd Haynes lançou o ousado 'Ainda estou lá", uma biografia experimental sobre Bob Dylan com diversos atores interpretando o cantor, cada um em uma fase de sua carreira, incluindo Cate Blanchett. Nesse filme dirigido por James Mangold, eclético cineasta que já dirigiu "Logan", "Indiana Jones e a relíquia do destino", "Garota interrompida" e "Jonnhy e June", entre outros, a tarefa de interpretar o cantor ficou para Timothée Chalamet, que também é um dos produtores do projeto. O filme evita fazer uma biografia completa e foca na sua fase dos anos 60, quando ele chega em Nova York em 1961, ainda desconhecido, até a sua polêmica inclusão de guitarra elétrica no seu show folk, considerado uma heresia, pois o acústido é uma das prerrogativas para o gênero musical.
O roteiro, adaptado por Mangold e Jay Cocks, é baseado no livro de Elijah Wald's "Dylan Goes Electric!:. Chalamet canta todas as músicas, e sua performance é irrepreensível, trazendo seu estilo cool já conhecido para encarnar o cantor. Mangold já havia trabalhado em "Jonnhy e June"na cinebiografia musical folk, e aqui, ele traz uma deliciosa recriação da Nova York do início dos anos 60, captada com uma fotografia esmerada e uma direção de arte excelente. No elenco, Ellen Fanning interpreta a modelo Sylvie Russo e Monica Barbaro interpreta a cantora Joan Baez. Ambas formaram um triângulo amoroso com Dylan. Edward Norton é o cantor Pete Seeger e Boyd Holbrook é o cantor Jonhhy Cash, uma das influências para Dylan usar a guitarra elétrica em suas canções. O filme deixa clara a mensagem de que todo artista precisa se reinventar e encontar a sua identidade. Dylan, atualmente aos 83 anos, sedimentou a sua carreira e seu nome nessa fase retratada no filme.
Hachiko- Para sempre
"Hachiko", de Ang Xu (2024)
Terceira adaptação para os cinemas da tocante história real que ocorreu no Japão: após a morte de seu dono, o professor Hidesaburō Ueno, seu cachorro Hachiko, um Akita branco, o esperou todos os dias por 10 anos, na saída da estação de trem de Sibuya.A 1a versão foi a japonesa, de 1987, depois veio o remake americano com Richard Gere, de 2009 e agora essa versão chinesa, dirigida por Ang Xu e estrelada por 2 dos maiores atores chineses, Xiaogang Feng (também diretor de cinema respeitado na China) no papel do professor de engenharia Chen, e Joan Chen ( atriz de "O último impedrador" e premiada no drama indie americano "Caçula"), no papel de sua esposa, Li. Ambos são pais de Xinqiao (Bai Jugang), estudante ququer estudar na Universidade em Beijing, e a filha Xiaozhou (Huang Chutong), que está prestes a se casar. Eles moram em Yunyang. Todo dia, para seguir para a universidade onde dá aula, Chen precisa pegar um teleférico e um ônibus. Um dia, seu ônibus quase atropela um filhote de cachorro. Chen decide levá-lo para si, já que a cidade onde ele o encontrou está abandonada. Mas Chen sabe que sua esposa odeia cachorros e proíbe em casa, por conta de trauma na infância. Ela acaba descobrindo e pede para Chen doá-lo. Mas a 1a pessoa que leva o cachorrinho quer comê-lo no jantar. Chen o resgata e decide cuidar dele, mesmo contra a vontade de sua esposa. Quando vai para a estação de teleférico, Hachicko, já crescido, o segue e o aguarda todos os dias, para voltarem juntos para casa.
Quem já viu os anteriores, sabe que aqui vai chorar litros e litros. Porém os chineses gostam de apertar o botão do excesso no melodrama, e o filme carrega bastante nas tintas, principalmente na trilha sonora e o desfecho, que evoca o espiritismo. Mas quem ama animais, não vai se importar com nada disso. Como pano de fundo, o filme fala sobre a modernização da China e a evacuação de sua população. Um filme repleto de ótimas performances, principalmente de Joan Chen, uma atriz diga de prêmios.
Como mueren las reinas
"Como mueren las reinas", de Lucas Nazareno Turturro e Soledad San Martin (2021)
Thriller psicológico argentino, lembra a trama de "O estranho que nós amamos", dirigido por Don Siegel com Clint Eastwood e depois refilmado por Sofia Coppola com Colin Farrel. Duas imãs, Juana (Malena Filmus),17 anos e Mara (Lola Abraldes), 14 anos, são órfãs: seus pais morreram em um acidente de carro. As irmãs moram com a tia Inés (Umbra Colombo), em uma área rural da Argentina, e são apicultoras. Inês educa as garotas à ferro: as proíbe de se relacionarem com rapazes, e na região o celular não pega. Juana é mais ativa e cuida de sua irmã Mara, que é mais tímida. Quando o jovem Lucio (Franco Rizzaro), primo das meninas que não vêem há muito tempo, é obrigado pelos pais a passar um tempo na fazenda de Inês, toda a harmonia que havia na casa se dissipa. A presença do belo rapaz irá trazer instabilidade entre as irmãs. Enquanto isso, In6es se relaciona com um homem casado, Marcelo, e a aparência de mulher forte logo se dissipa, e ela vai fraquejando e tendo intenções suicidas.
O filme, já em sue título e na profissão das mulheres, deixa claro o paralelo simbólico com a organização e liderança de uma colméia, onde deve se evitar a instabilidade. O filme tem um ritmo lento e as cenas de tensão não causam o suspense esperado. O elenco é bom, as cenas de sensualidade são brandas e sugestivas. Um belo exemplar de cinema psicológico que fala sobre os primeiros impuslsos sexuais da adolescência.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Xiao Wu- Um artista batedor de carteiras
"Xiao Wu", de Jia Zhang-ke (1997)
Primeiro longa dirigido pelo Mestre chinês Jia ZhengKe, lançado em 1997 e vencedor de diversos prêmios internacionais, entre eles, Berlin. Inteiramente rodado em 16MM e com câmera na mão, "Xiao Wu" é a homenagem de ZhengKe ao cineasta Robert Bresson e sua obra-prima "Pickpocket- o batedor de carteiras". O filme foi rodado em sua cidade natal, Fenyan. Zhengke apresenta seus temas que vieram a ser recorrentes: A china em transformação: de uma China comunista à uma nova China modernizada.
O filme é todo formado por não atores, a maioria amigos do cineasta, seguindo uma tradição do neo realismo italiano, com locações reais e personagens interpretados por amadores. Xiao Wu (Wang HongWei, ator de seu próximo filme, a obra-prima "A plataforma") é um batedor de carteiras. Seus antigos comparsas abandonaram o roubo de carteiras e partiram para outras atividades lícitas. Quando um deles anuncia seu casamento e não convida Xiao Wu, esse decide se convidar e descobre que é persona non grata. Xiao Wu se envolve com a garota de programa Wei Wei, por quem se apaixona. O filme tem uma atmosfera repleta de frescor, de filme de cineasta iniciante, mas com um fundo político e social bastante forte. O tema da alienação juvenil se inicia aqui, dando sequência em seus filmes posteriores. O filme é repleto de cenas memoráveis: as caminhadas de Xiao Wu pelas ruas decadentes da cidade; as cantorias de karaokê com Wei Wei no bordel com cores vermelhas saturadas; a cena da casa de banho, e a cena final, a humilhação pública do anti-herói.
Os palhaços
"los payasos", de Lucas Bucci e Tomás Sposato (2019)
"Os palhaços" é um documentário onde o espectador fica tentando entender o que é real e o que é ficcionalizado para as câmeras. No ano de 2014, o jovem curta-metragista argentinno Lucas Bucci reuniu o amigo Tomás Sposato para ser o câmera e captador de áudio do curta "Os palhaços". Lucas escalou o elenco, entre eles, Jero Freixas, na época, professor de interpretação e no curta, fazendo um papel de apoio. Para frustração de Lucas, ele inscreveu o curta em dezenas de festivais e não foi selecionado para nenhum. Mas para a surpresa deles, o filme acabou sendo selecionado para um festival no Brasil, Florianópolis: Shortcup world cup. Lucas e Tomás decidiram ir presencialmente ao avento, bancando passagem aérea e alimentação e hospedagem. Ao convidarem o elenco, apenas Jero decidiu. Lucas teve a idéia de filmar toda a viagem, com Tomás fazendo a câmera. Ao chegarem no evento, eles tiveram a pior de todas as impressões: o fetsival era amador e realizado dentro d eum bar pé sujo, com umas 20 pessoas no máximo, todas bebendo. Por questão de honra, eles decidiram que deveriam ganhar o festival e começaram a fazer campanha entre os frequentadores. Acabaram tirando o 2o lugar. Desolados, Lucas teve a idéia de continuar gravando os dias deles em Florianópolis. O sregirtsor deram mais de 90 horas e por mais de 3 anos, Lucas não sabia o que fazer com o material. Até que decidiu contratar um editor e fazer um longa sobre a experiência deles.
De início gostei bastante da proposta do filme, que fala sobre a difículdade de realizar um filme de forma independente e o mais complexo, inscrever em festivais e ser selecionado. Mas depois o filme me pareceu mais uma egolatria dos realizadores e fui perdendo o interesse, até que finalmente me resgatou no seu ato final, quando Lucas decide rever o ator Jero, agora uma estrela do Isntagram com mais de 2 milhões de seguidores, após um video viralizar com a sua esposa, também atriz, Josefina. O contraste entre a arte independente e o atual consenso de que a rede social pode performar sobre o sucesso de um artista.
Dirty filthy love
"Dirty filthy love", de Adrian Shergold (2004)
Divertida comédia dramática inglesa, "Dirty filthy love" é protagonizado por Michael Sheen. Com roteiro escrito por Jeff Pope e
Ian Puleston-Davies, o texto poderia render uma excelente peça de teatro. A esposa do arquiteto Mark Furness (Sheen), Stevie (Anastasia Griffith), pede a separação. Atordoado, Mark é acolhido pelos seus melhores amigos, Nathan (Adrian Bower) e Kathy (Claudie Blakley). Mark vai adquirindo toques e a síndrome de Tourette, que o faz xingar as pessoas aos eu redor com palavrões. Mark acaba sendo demitido do trabalho. Ao procurar ajuda médica, ele acaba conhecendo uma paciente, Charlotte (Shirley Henderson), que o convida para participar de um grupo de auto ajuda. Mas a obsessão de Mark de ainda reconquistar Stevie faz com que ele ignore que Charlotte está interessada nele.
Uma típica comédia romântica, aqui acrescentada de personagens com toques e também doenças , como câncer. O típico humor inglês dá lugar a monetos dramáticos, e o filme lida bem com os temas do relacionamento compulsivo e tóxico. A parte dos toques dos pacientes é muito divertida, sem ridicularizar as doenças. Martin Sheen é um excelente ator e aqui transita bem entre a comédia e o drama. Todo o elenco de apoio funciona muito bem. A narrativa do filme, conduzida por Adrian Shergold, traz uma linha do cinema indie, sem esquecer de agradar ao público de mainstream.
Chicken for Linda
"Linda veut du poulet !", de Sébastien Laudenbach e Chiara Malta (2023)
Melhor animação no Festival Annecy e César 2023, "Chicken for Linda" é uma criativa animação francesa escrita e dirigida pela dupla Sébastien Laudenbach e Chiara Malta. Partindo de uma premissa simples, o filme lida com a ausência, o perdão e a relação conflituosa entre mãe e filha. Linda é uma menina de 8 anos que sente a falta de seu pai, um italiano, que morreu durante a mesa de jantar quando Linda era um bebê. Ele havia preparado um prato de frango com pimentão. Já crescida, Linda mora com sua mãe, Paulette, que vive atarefada e prepara a comida congelada no microondas. Quando Linda pede um anel de sua mãe emprestado, sua mãe nega, mas diante da insistência, empresta por 1 dia. No dia seguinte, ao procurar o anel, Pauletta acredita que a filha o troocu por uma boina e a pune, levando-a para passar a noite na casa da sua irmã Astrid, uma professora de ioga. Paulette acaba encontrando o anel, que havia sido engolido pelo gato, e vai até Linda pedir perdão. Linda diz que só perdoa se a mãe preparar frango com pimentão. Paulette se desespera, pois não sabe cozinhar, mas querendo cumprir a promessa, vai atrás do frango. Para seu desespero, a cidade entrou em greve, e os mercados estão fechados. A obsessão de Linda pelo prato faz com que Pauylette roube uma galinha viva de uma fazenda, o que coloca a polícia atrás dela.
O filme tem traços experimentais e cada personagem possui uma cor. A história tem bastante ritmo, com muitas cenas de ação que vão desencadeando numa grande confusão e muitos personagens novos vão entrando nesse vaudeville. As vozes dos dubladores são muito simpáticas, tornando a experiência de se assistir ao filme um grande prazer.
A funerária
"La funerraia", de Mauro Iván Ojeda (2020)
Concorrendo no Festival de Sitges, Fantasia e Frighfest, "A funerária" é um terror sobrenatural argentino interessante, mas prejudicado pela sua fotografia muito escura demais. O filme se passa quase todo em noturna, e fico pensando que foi uma forma de baratear os custos de produção, por conta dos efeitos. O filme apresenta uma família desfuncional: Bernardo (Luis Machin), um agente funerário, casado com Estela (Celeste Gerez) e padrasto da adolescente Irina (Camila Vaccarini). A casa onde moram é uma funerária: na parte da frente, é aonde atende os clientes, e nos fundos, a casa onde moram. Aos poucos, a família vem sendo perseguida pelos espíritos dos mortos que são velados no local. Uma xamã, Ramona, é acionada para entender a presença dos mortos.
O que é interessante na narrativa, é a linguagem indie que o diretor Mauro Iván Ojeda trouxe ao filme, contendo jump scares e planos mais longos, doferente de produções Hollywoodianas que lidam com o mesmo tema da presença de espíritos. Os personagens são pouco carismáticos e eu pouco me importei com cada um deles. Fiquei mais simpatizado pela xamã do que pela família.
Desejarás o noivo de sua irmã
"Desearás al hombre de tu hermana", de Diego Kaplan (2017)
Diretor de "2 + 2", comédia erótica argentina sobre 2 casais amigos que decidem praticar o swing para apimentar a relação, o cineasta Diego Kaplan adapta o romance de Erika Halvorsen, e o transforma em um drama erótico kitsch ambientado nos anos 70. Diego Kaplan retorna com o tema dos casais trocados, só que agora, através do relacionamento conturbado de 2 irmãs, Lucía (Mónica Antonópulos) e Ofelia (Carolina Pampita Ardohain), filhas da mãe desfuncional Carmen (Andrea Frigerio). O filme já começa com uma cena super pol6emica: ambas croanças na faixa dos 8 anos, assistem a um filme de faroeste. Um cowboy cavalga no cavalo, e as dus imitam cavalgar em travesseiros. Ofelia acaba tendo um orgamso, diante do olhar incrédulo de Lucia. Já crescidas, elas são inciadas sexualmente pela mãe, que lhes apresenta dois rapazes negros. Ofélia é sexualmente ativa, enquanto Lucia é tímida e recatada. 7 anos sem severem, Lucia vai se casar com Juan (Juan Sorini). Sem avisar Lucia, a mãe convida Ofélia e seu namorado, Andrés ( o brasileiro Guilherme Winter). Ao ver Ofélia, Juan se encanta por ela.
O filme é recheado de cenas polêmicas: logo de início, a menina de 8 anos tendo um orgasmo, e depois, a objetificação do corpo negro masculino. O charme da produção é a cafonice na deliciosa trilha sonora, na direção de arte, figurino e fotografia colorida. OS personagens são caricaturas de tipos, como num grande novelão. As cenas de sexo são bem apimentadas, com direito à nudez frontal. Não é divertido como "2+2", mas quem busca um filme sexy e cheio de malícia, vai curtir.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
O amor de Andrea
"El amor de Andrea", de Manuel Martín Cuenca (2023)
Realizador dos excelentes "Canibal" e "O Autor", Manuel Martín Cuenca traz o premiado drama coming of age "O amor de Andrea". O filme é em excelente drama que retrata de forma naturalista e contemplativa a história de Andrea (Lupe Mateo Barredo), uma adolescente de 15 anos. Moradora da baía de Cadiz, no sul da Espanha, uma região litorânea, ela tem 2 irmãos pequenos, Fidel e Tomaz, e os 3 moram juntos da mãe divorciada, Carmen (Irka Lugo). Carmen trabalha o dia todo e só retorna para casa de noite. Cabe à Andrea cuidar dos dois irmãos, desde cedo até o final do dia, como se fosse mãe deles: prepara caf;e, leva para a ecsola, ela mesma vai estudar, depois pega os meninos, prepara o jantar, ajuda nos estudos e os bota na cama. Andrea tem um desejo, que sua mãe não quer realizar: o de rever seu pai, Antonio (Jesus Ortiz), que simplsmente os abandonou. Andrea quer saber o motivo dele nunca mais visitála. Como sua mãe evita comentar sobre o ex, Andrea decide ela mesma ir atrás de seu pai, e diante da dificuldade de ambos os pais quererem ajudá-la, ela decide processá-los judicialmente.
Con tanta melancolia e tristeza, o filme ainda reserva sutilmente um primeiro amor para Andrea, chamado Abel, que ela quase não dá atenção, por conta do stress da história de seus pais. O filme é belíssimo, com ótimas performances e uma trama que segue lenta, mas sempre interessante e assim como Andrea, o espectador também quer saber o porque do pai não querer mais visitá-la. O filme evita sentimentalismo e melodrama e trata a história com um distanciamente emocional, mas sempre ali, a postos, para captar a essência da sutileza do olhar e dos sorrisos dos personagens. A atriz Lupe foi decsoberta entre 5 mil atrizes que fizeram o teste, e torço muito que se torne uma grande estrela.
Boy Kaldag
"Boy Kaldag", de Roman Perez Jr. (2024)
Comédia trash erótica filipina, "Boy Kaldag" tem um roteiro tão tosco e bizarro que acaba sendo engraçado pelos piores motivos possíveis: Com pênis ereto gigante feito de prótese, atores péssimos, uma trama maluca e personagens aleatórios, o filme pode certamente entrar entre os piores filmes do ano, mas quem estiver em busca de algo ruim, pode se divertir aqui.
Dakila “Dax” Dakobuto (Benz Sangalang) nasceu com um pênis gigante, e no seu parto, o pênis não passou pela vagina de sua mãe, matando-a. Morando com sua tia, Dax mora na periferia. Ao fazer serviços para sua tia, ele acaba se envolvendo com as clientes sexualmente. Mas ele acredita que possui uma maldição: todas as mulheres com quem ele transa, morrem tragicamente. Ele é convidado para um podcast erótico e lá, ele narra a sua história.
O filme é tão doido que seu ato final traz um psicopata travestido que busca vingança por possuir um pênis pequeno. Eu ficava assistindo ao filme e a cada minuto estupefato com a doideira da história, que a toda hora faz surgir um novo personagem bizarro, que vai desde um Shaman até uma enfermeira que se masturba quando dá à luz ao bebê de pênis grande. O filme expõe todo o elenco feminino à nudez e ao elenco masculino, mais precisamente Benz Sangalang, a prótese falsa, tipo a que Mark Walbherg usou em "Boogie nights".
Sonic 3
"Sonic 3", de Jeff Fowler (2024)
Terceira parte da trilogia da fabricante de games Sega e seu carro chefe Sonic (Ben Schwartz), o ouriço e seus amigos Knuckles (Idres Elba) e Tails (Colleen O'Shaughnessey). O casal Tom (James Marsden) e Maddie (Tika Sumpter), "pais "adotivos de Sonic e sua turma, também retornam, além do vilão Ivo Robotnik (Jim Carrey), que dessa vez, interpreta um papel duplo: o seu avô Gerald Robotnik, dando chance a Carrey fazer toda aquela pantomina que ele adora. A grande cereja do bolo é Keanu Reeves, que dá voz ao antagonista Shadows, uma versão de Sonic do mal, que vem para se vingar da morte de uma pessoa querida que o ajudou na sua chegada na Terra nos anos 70, Mary. Após 50 anos preso para ser estudado por cientistas, Shadows se liberta e deseja destruir a Terra.
Como o foco da franquia milionárias são as crianças, os produtores rechearam o filme de muita ação e efeitos especiais. Mas a mensagem que prevalece é a de que, mesmo os vilões, podem se transformar e ter chance de repensar a sua trajetória e quem sabe, servir ao bem da humanidade. O filme não é tão engraçado como o anterior, aqui prevalece o drama. Mas tem ótimos momentos de entretenimento. Aguardem por 2 cenas pós-créditos.
Werewolves
"Werewolves", de Steven C. Miller (2024)
Uma homenagem aos filmes de lobisomens protagonizada por Frank Grillo, um ator de filmes de ação com menos destaque do que seus companheiros mais famosos como Stallone, Liam Neeson, Keanu Reeves e Jason Statham, mas que tem um fandom enorme nos Estados Unidos pelsos seus filmes de produção mais barata e que mantém a figura do macho alfa salvador do mundo. O filme traz easter eggs de "Alien, o 8 passageiro", "Jurassic park", "O quarto do pânico" e "Uma noite de crime". Assim como esse último, a população precisa se manter viva durante uma madrugada: de tempos em tempos, a super Lua transforma quem é tocado pela sua luz em lobisomens. A população procura se defender, se trancando em casa e construindo todo tipo de armadilhas. Cientistas, liderados por Wesley (Grillo), Amy (Katrina Law) e Dr Aranda (Lou Diamond Philps) procuram encontrar uma cura para imunizar a população contra os efeitos da luz da lua. A ex-cunhada de Wesley, Lucy, e sua sobrinha Emma são sobreviventes do ataque anterior, que matou o irmão de Wesley. Quando chega a noite da super lua, no entanto, tudo dá errado, e todos precisam se proteger contra o ataque dos lobisomens.
O filme tem uma história maluca e por isso, acaba agradando quem quer um passatempo bem anos 80/90, com efeitos práticos e aqueles lobisomens no estilo de "Um lobisomem americano em Paris". Muita ação, tiros e porradaria que irá agradar quem quer apenas de divertir e sem raciocinar muito. Bom ritmo e boa ação que resulta em um desfecho divertido.
Your monster
"Your monster", de Caroline Lindy (2024)
Demitida da franquia "Pânico" por conta de mensagens de apoio à Palestina, Melissa Barrera protagonizou "In the heights (Em um bairro de Nova York" e agora "Your monster", uma fantasia de terror romântica que venceu o prêmio de melhor filme do público na edição inglesa do Festival de Sundance 2024. A roteirista e diretora Caroline Lindy realizou a versão em longa-metragem de seu curta lançado em 2019. A história é adaptação livre de sua vida pessoal: quando diagnosticada com câncer, o namorado de Lindy a abandonou.
Laura (Barrera) está fazendo um tratamento para câncer. Cansado da rotina, seu namorado, o dramaturgo e diretor teatral Jacob (Edmund Donovan) a abandona. AMbos escreveram juntos o tetxo da peça que Jacob está fazendo audições. Arrasada, Laura ganha apoio da amiga Mazie, que a leva para morar na casa da infância de Laura. Em uma noite escura e tempestuosa, Laura escuta um barulho estranho vindo do armário, e lá encontra um Monstro (Tommy Dewey), que ela acaba se lembrando como alguém recorrente em sua vida, desde a sua infância, quando ali se escondia. Ele não gosta de saber que Laura retornou para o armário, e decide ajudá-la a lutar pela sua vida novamente. Ele sugere que ela faça audição para a peça, e a ajuda a ensaiar e a tomar gosto pela vida novamente.
O filme trabalha com a metáfora para falar de depressão e das várias possibilidades de lidar com o seu próprio monstro interno, aprendo a amar ele da melhor forma possível. Com um roteiro divertido e ao mesmo tempo, emocionante, "Your monster" lembra muitos filmes, principalmente "A bela e a fera", e fala também sobre amor à arte e aos palcos de teatro.
Armand
"Armand", de Halfdan Ullmann Tøndel (2024)
Vencedor de melhor filme no Festival de Cannes na Mostra Camera de ouro, e presente no short list do Oscar de filme internacional 2025, indicado pela Noruega, "Armand" é escrito e dirigido por Halfdan Ullmann Tøndel. O filme vem na tradição de histórias que giram em torno de crianças que supostamente cometem um ato criminoso na escola, e como os pais e professores devem reagir a esse fato. O filme faz lembrar de "Aos teus olhos", com Daniel de Oliveira e "A caça", com Dadds Mikellsen, ambos acusados de pedofilia; "Close" e "Monster", sobre mentiras e manipulações infantis, e principalmente, "O Deus da carnificina", filme de Roman Polansl que reúne os pais dos alunos envolvidos em uma estrutura fortemente teatral. "Armand" pode render uma peça teatral exemplar, e deveria ser montada. Protagonizado por Renata Reinsve, a estrela de " A pior pessoa do mundo", no papel de Isabel, e também com um excelente elenco composto por Ellen Dorrit Petersen, no papel de Sara, e Anders (Endre Hellestveit). Isabel é mãe de Armand, e Sara e Anders, pais de Jon. Øystein Roger é o diretor da escola, Jarle. Vaulen de Thea Lambrecht é Suna, a jovem professora tímida. Vera Veljovic-Jovanovic é Ajsa, a psicóloga da escola. Isabel é atriz. Ela é convocada com urgência para a escola onde estuda o sue filho Armand, de 6 anos. Isabel se encontra com Suna, que aguarda os pais de Jon, colega de escola de Armand. Juntos do Diretor Jarle e da psicóloga Ajsa, comunicam à Isabel que Armand foi acusado pro Jon de tê-lo estuprado no banheiro da escola. Isabel se assusta e quer provas. Sara revela que por ser atriz, Isabel pode estar querendo represnetar. Sara é ex-cunhada de Isabel: seu irmão Tomas, casado com Isabel e pai de Armand, se suicidou, e segundo Sara, por um relacionamento conturbado pela presença opressiva e ausente de Isabel.
O filme traz temas como mentiras, manipulação, assédio moral, poder. Contando com um time de excelentes atores para trazerem à tona um roteiro denso e provocativo, o diretor Halfdan Ullmann Tøndel traz uma atmosfera claustofóbica, toda ambientada em uma escola soturna. O filme reserva dois momentos de realismo fantástico envolvendo números musicais, uma opção corajosa do cineasta.
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Martin Garcia
"Martin Garcia", de Anibal Garisto (2024)
Longa de ficção de estréia do documentarista argentino Anibal Garisto, "Martin Garcia" é o nome de uma Ilha que fica entre a ARgentina e o Uruguai. Na ilha, moram cerca de 120 habitantes e é um local tranquilo, parado no tempo, sem internet. No início dos anos 2000, Garisto ouviu de um colega que na ilha não tinha nenhum adolescente, e isso deu idéia para ele escrever o filme. O filme me lembrou de "Houve uma vez um verão", sobre um jovem que perde a virgindade durante uma viagem, com uma mulher mais velha. "Martin Garcia" é um belo coming of age, de ritmo lento e contemplativo, para trazer ao espectador a mesma sensação que o protagonista German (Ignacio Quesada), ao sair da conturbada Buenos AIres para uma ilha onde o ritmo é totalmente diferente do seu. A mãe de German, Karla (Mora Recalde), decide se mudar para a ilha para morar com seu namorado. German é um artista que é obrigado a deixar tudo para atrás: amigos, escola, centro urbano, internet. Ele precisa se adaptar à uma nova realidade. Aos poucos, ele vai se adaptando à natureza, à paz do local e principalmente, o primeiro amor, que floresce ao conhece a guarda florestal (Thelma Fardin), por quem se apaixona.
O filme faz parte da tradição do cinema slow movie latino: indie, lento, com bons atores e uma história onde pouco acontece, vindo da tradição dos filmes do francês Eric Rohmer, repleto de minimalismo.
Por que te vas?
"Por que te vas?", de Fabio Vallarelli (2019)
Curta argentino de humor acido, apresenta Juan (Nicolas Dezzotti), um homem na faixa dos 30 anos, que mora sozinho com sua avó. Ele está em total depressão após o rompimento com sua namorada e perde o prazer de viver. Ele vive uma rotina de apatia no trabalho, no esporte com os amigos, no lazer, em casa. Juan decide que quer se matar.
O filme tem uma linguagem que remete ao cinema de Aki KAurismaki, com o protagonista praticamente sme falas, vivendo um mundo de descontentamento. É divertido. etem um desfecho surpreendente, que brinca com metalinguagem do fazer cinema ( existe uma cena onde o personagem assiste "A noite americana", de Truffaut). O roteirista e diretor Fabio Vallarelli certamente quiz faezr uma brincadeira cinéfila com "Por que te vas?", que ainda traz uma referência explícita à obra-prima "cria Cuervos", de Carlos Saura, na famosa cena onde toca a música de Jeanette.
Ano 2000
"Y2k", de Kyle Mooney (2024)
Produzido pela famosa produtora independente americana A24, "Ano 2000" é uma aventura de fantasia apocalíptica que remete a "É o fim!", com Seth Rigen e James Franco, e também ao seriado 'Stranger things". O filme acontece no último dia do ano de 1999. O mundo teme o bug do milênio. Mas em uma pequena cidade, os dois adolescentes nerds, Eli (Jaeden Martell, de "It, a coisa") e Danny (Juliano Dennison) tentam uma forma de entrarem na festa de reveillón da galera da escola. Chegando finalmente na festa, Eli se depara com Laura (Rachel Zegler), seu crush. Mas quando chega meia noite, todas as máquinas criam vida e se rebelam, matando os frequentadores da festa. ELi, Danny, Laura e um pequeno grupo consegue fugir, mas continuam sendo perseguidos por um ser robótico que quer dominar o mundo.
Alicia Silverstone faz uma participação como a mãe de Eli,e. o vocalista da banda Limp Bizkit, Fred Durst, surge como a cereja do bolo. O filme é uma grande bobagem nostálgica, mas que perde força à medida que vai avançando. Os efeitos são fracos, a trama funcionava melhor quando estava na casa. Os personagens são bastante óbvios e estereotipados. O filme é de estréia de Kyle Mooney, um dos atores do programa de humor "Saturday night live". Faltou mais carisma aos personagens e uma trama mais original que segurasse melhor a atenção do espectador.
Implosión
"Implosión", de Javier van de Couter (2021)
Vencedor do prêmio de melhor filme na competição argentina BAFICI 2021, "Implosión" é uma mistura de ficção e documentário e parte de uma premissa muito criativa e corajosa: no ano de 2004, aconteceu de verdade um massacre em uma escola na cidade de Carmen de Patagones: um aluno pegou a arma de seu pai militar e matou 3 alunos, ferindo outros 5. O diretor Javier van de Couter, 15 anos do ocorrido, decidiu fazer uma ficção seguindo a seguinte premissa: dois dos sobreviventes do massacre decidem se vingar do aluno psicopata, que após a prisão, teve a oportunidade de mudar seu nome e se tornar invisível, acobertado pelo governo. Pablo (Pablo Saldías Kloster) e Rodrigo (Rodrigo Torres), agora na faixa dos 30 anos de idade, interpretam a si mesmos, mas em uma versão ficionalizada. Eles decidem pegar um carro e partem em uma jornada da alma, tentando localizar o aluno e assim, entender os motivos da chacina. Fica a dúvida se eles querem se vingar do rapaz. O filme se torna um road movie, e no trajeto, eles conhecem pessoas que interferem em suas vidas.
O filme tem uma premissa excelente. Com um misto de docudrama, fica difícil entender o que é real e o que é encenado, principalmente quando eles interagem com outros jovens e tomam ácido, vão para baladas. É um ato corajoso dos dois "atores" protagonistas, que incorporam a si mesmos e dessa forma, pode ser que exercoizem todo um trauma de adolescência.
Não saia
"No salgas", de Gonzalo Giménez (2023)
Quem diria que os argentinos fariam um slasher? Pois "Não saia" é um slasher que parece uma cópia de "Os estranhos", o sub-gênero do home invasion. A diferença é que o filme foi realizado com baixíssimo orçamento ( no Imdb cita 5 mil dólares) e rodado de forma totalmente independente. Milagros ( Sofía Romano) é uma jovem traumatizada pelo suicídio de sue pai. Seu namorado, Juan Pablo (Alan Yair) a convence a passar um final de semana em uma casa de férias, junto dos amigos Juana (Melanie Castellini) e Javier (Galo Grasset). O que eles não esperavam, é que um grupo de assassinos mascarados fossem invadir a casa e matar um a um.
Aqui é terror puro e simples, sem sub-textos nem mensagens. Um típico filme slasher sobre assassinos que decidem mattar os proprietários de uma casa, sem qualquer explicação. Pelo baixo orçamento, os efeitos são até bem razoáveis, e o diretor procura evitar mostrar nada além do que o dinheiro que não tinha possa prejudicar. Para isso, conta com bons atores, que dão credibilidade ao projeto. Claro que sempre tem os policiais que são chamados e entram na casa, aqueles clichês de sempre, mas dá pro gasto.
1978
"1978", de Luciano Onetti e Nicolas Onetti (2024)
Vencedor de mais de 12 prêmios em importantes festivais de gênero, "1978" é um terror argentino que usa a ditadura militar como pano de fundo. O filme é uma grande homenagem ao cinema dos italianos Lucio Fulcci e Lamberto Bava, e traz todas aquelas figuras demoníacas e canibais de filmes compo "Demons, os filhos das trevas" e "Terror nas trevas". Há também easter eggs para "O bebê de Rosemary" e "Evil dead". Os efeitos especiais são todos práticos, sem CGI, com a ajuda de uma excelente equipe de maquiadores de efeitos especiais.
Durante a final da Copa do Mundo entre Argentina e Holanda, em Buenos Aires, no ano de 1978, ali perto um grupo de cruéis torturadores seviciam e matam jovens guerrilheiros em uma casa isolada. Após interrogar um dos jovens, querendo saber onde estão escondidos o grupo, os torturadores seguem até uma casa e sequestram todos que estavam ali. O que eles não poderiam esperar, era que sequestraram um grupo errado: eles fazem parte de uma seita satânica que está à espera do Anticristo.
Um inesperado e bizarro terror com uma trama que se apropria do terror para fazer críticas à ditadura na Argentina e ao buso do poder, de forma criativa e que homenageia todo um cinema de horror dos anos 80. Toda a parte técnica é incrível: a fotografia, a direção de arte, a maquiagem, a trilha, edição e a direção. Um prato cheio para fãs de terror, e a Argentina prova estar na vanguarda dos melhores filmes do gênero, vide o recente "O mal que nos habita".
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Santosh- Vozes da hierarquia
"Santosh", de Sandhya Suri (2024)
Indicado pelo Reino Unido à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025, "Santosh" concorreu no Festival de Cannes 2024 na Mostra un certain regard. O filme é escrito e dirigido por Sandhya Suri e ficou entre os 15 finalistas da short list do Oscar de filme internacional. Ambientado em uma cidade rural da Índia, "Santosh" é o nome da protagonista, interpretada por Shahana Goswani. O marido de Santosh é um policial exemplar, mas morreu durante uma ação policial. Santosh fica desolada, pois ele era a única pessoa em sua vida. Uma lei na Índia permite que a viúva assuma a profissão do policial morto em ação. Santosh aceita e ecide se tornar uma policial. Mas ela é uma mulher de boa índole e aos poucos, vai entendendo que o ambiente policial é envolto por policiais sexistas, machistas e muita corrupção. Quando uma adolescente de uma casta social inferior é encontrada estuprada e assassinada, Santosh decide ir atrás do suspeito, mas sua superior, Gaeta Sharma (Sunira Rajwar) procura alertá-la sobre acontecimentos que ficam melhores se esquecidos. O filme me lembrou uma dezena de filmes americanos e esuropeus sobre corrupção na polícia e tendo um protagonista heróico que decide lutar contra o sistema. Aqui não é diferente. Dos filmes mais recentes, me lembrei muito de "The dry" (Segredos do passado) com Eric Bana. 'Santosh" lida com muitos temas, e mesmo sendo todo filmado na índia, encontrou o Reino Unido como parceiro na produção. Um bom filme, de ritmo lento, com um olhar quase antropológico sobre a condição sócio econômica de uma população miserável.
Mufasa- O Rei leão
"Mufasa- The lion king", de Barry Jenkins (2024)
Quando anunciaram que haveria um prequel de "O rei leão", eu pensei imediatamente: "Qual a graça de ver um filme onde sabemos que o protagonista morreu tragicamente?". Mesmo com as críticas ao visual hiperrealista dos animais da versão de 2019 de "O rei leão", a Disney decidiu investir novamente no live action dos animais do Reino de Simba. Como o filme fez um sucesso gigantesco de bilheteria, passano de 1 bilhão de dólares, seria inevitável que virasse uma franquia ( e podem apostar em uma nova continuação). Donald Glover e Beyonce repetem as vozes de Simba e Nala, agora grávida. Pumba (Seth Rogen), Timão (Billy Eichner) e Rafiki (John Kani) retornam igualmente, mas são todos coadjuvantes, pois como o título diz, o filme é sobre a origem do pai de Simba, Mufasa, e a sua relação com seu "irmão", Taka, e a paixão de ambos pela leoa Sarabi. O filme apresenta a rigem de Rafiki e Zuma. O vilão da vez é o leão Kiros, na voz de Madds Mikkelsen.
A Disney continua com a sua tradição de manter seus protagonistas órfãos. O trauma de perda dos pais parece ser a receita ideal para o nascimento de um herói bravo e corajoso. Dirigido por Barry Jenkins, de "Moonlight", que trouxe pautas identitárias à história e empoderamento feminino. As músicas do craque Lin Manuel Miranda dessa vez não ficam na mente e não são pops. O filme tem um apelo maior para os adultos, até porque tem pouco humor, reduzido aos flashes onde surgem Pumba e Timão quando Rafiki vai narrando a história de Mufasa para a pequena Kiara, filha de Simba e Nala. Um filme protocolar, que se assiste com interesse, mas longe do carisma e da emoção do seu original.
Under the volcano
"Pod wulkanem", de damina Kocur (2024)
Indicado pela Ucrânia à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025, "Under the volcano" é um drama sobre uma família de classe média alta da Ucrânia que está de férias nas Ilhas Canárias, em Tenerife, Espanha. O pai, Roma, a esposa, Nastia, que é madrasta dos 2 filhos de Roma; Sofia, a adolescente e Fedr, um menino de 9 anos. Toda a faília aproveita bem as férias até que chega o dia de retornar para seu país. No aeroporto, eles descobrem chocado que a Rússia bombardeou a Ucrânia, e eles não têem como retornar.
"Under the volcano" traz um paralelo interessante entre os horrores da Guerra na Ucrânia, que não vemos, e o paraíso que é a Ilha de Tenerife, com os turistas e funcionários ignorando totalmente o que ocorre na Ucrânia. A família fica sabendo do que acontece no seu país através de video calls com amigos e familiares desesperados. Os atores são todos ótimos, em especial a jovem que interpreta Sofia (Sofia Berezovska), que tem um arco maior e conhece um jovem africano, fazendo uma comparação entre a situação de Sofia e a da imigração do rapaz. A fotografia e a câmera aproveitou ao máximo as locações em Tenerife, com suas praias, um resort de alto luxo e as luzes naturais da região.
As chamas do inferno
"Don't go in the house", de Joseph Ellison (1980)
Filme slasher de 1980 alçado a cut após entrevista de Quentin Tarantino chamando o filme de "repulsivamente atraente"e o melhor tipo de trash total.". Fiquei curioso de assistir e na verdade, o filme é apenas ruim. Cmo terror é fraquissimo, não assusta nada e nem dá sustos. Talvez a curiosidade maior é que o filme é escancaradamente chupado de "Psicose", e aproveitando a onda da Disco music, o filme traz trilha sonora e uma cena longa ambientada dentro de uma Discoteca. Nesse mis de "psicose"e "Até que enfim é sexta feira", acompanhamos Donny (Dan Grimaldi), um homem na faixa dos 30 anos, que mora sozinho com sua mãe severa e religiosa. Donny trabalha em uma empresa incineradora de lixo. Um dia, após um acidente e trabalho onde um funcionário se queima, Donny volta para a sua casa e decsobre que sua mãe morreu. Desde criança, ela o punia queimando seus braços no fogo do fogão. Donnys ente-se livre com a morte da mãe, mas de repente, passa a escutar as vozes dela punindo-o, e ele a imagina perambulando pela casa. Donny passa a sequestrar mulheres e a queimá-las em sua casa com um lança chamas.
Tudo no filme é ruim: as atuações, o roteiro, os efeitos, o ritmo. A sorte do filme foi ter se tornado cult por conta de Tarantino. Prefiro, nessa vibe de psicopata anos 80 meio baixo orçamento, o clássico "Maníaco". esse sm, um filmaço.
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