segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A espera

"La espera", de F. Javier Gutiérrez (2023) Vencedor de mais de 27 prêmios em festivais de gênero, "A espera" é um filme que mescla tantos elementos, que se torna bastante imprevisível e difícil de enquadrar em algum gênero. É drama, é faroeste, é terror, é fantasia, é thriller. O diretor e roteirista F. Javier Gutiérrez dirigiu em 2008 o ótimo "3 dias", um filme apocalíptico onde um meteoro avanácrá sobre a terra e destruirá tudo. Ele foi contratado por Hollywood em 2017 para dirigir uma sequência do terror japonês, "Rings", da Samara, mas o filme ficou bem ruim. Mas ele retorna com tudo em 'A espera". O filme é ambientado em 1970, na área rural e árida de Andaluzia. Eládio (Víctor Clavijo) é contratado pelo rico fazendeiro Don Francisco (Pedro Casablanc) para se tornar o guarda das suas terras, controlando a área de caça. Eládio vem junto de sua esposa Marcia (Ruth Díaz) e seu filho de 10 anos, Floren (Moisés Ruiz). No dia da caçada, Eládio e Marcia aceitam o suborno do organizador da fazenda, Dom Carlos: dividido em 10 áreas de caça, eles aceitam dividir por 13 e assim, receber um dinheiro por foar. Mas esse evento faz com que o filho de Eládio leve um tiro acidental e morra. Deprimida, MArcia se suicida. Eládio começa então uma empreitada de vingança. O filme é lindamente fotografado e tem excelentes atores em papéis inusitados. Fiquei me lembrando o tempo todo de "A espinha do diabo", de Guillermo del Toro. Mas o final é impossível de ser previsto. O filme caminha por um lugar totalmente fora da curva, onde até lobisomem aparece!!!!! A mensagem é muito clara: uma vez pobre, sempre pobre, e os poderosos, sempre poderosos. ( "Parasita" que o diga!)

O massacre do Nova Music Festival- We will dance again

"We will dance again- Surviving the 7th october", de Yariv Mozer (2024) Importante comentar que esse aterrorizante documentário sobre o ataque do Hamas contra os frequentadores do Nova Music Festival apresenta somente o ponto de vista de Israel, e fala sobre a tragédia focada nos sobreviventes da rave de música eletrônica, além dos quase 400 assassinados no evento. O filme não comenta sobre os israelenses assassinados em kibutzes e outros lugares fora do festival. O foco é o Festival. É impossível não assistir ao filme como sendo um found footage de terror e de sobrevivência, e se um dia Hollywood for reconstituir esse dia, certamente será utilizando essa linguagem. Através de sobreviventes e de imagens amadoras de vídeo gravada por celulares tanto dos sobreviventes quanto do própria Hamas, o festival de sangue, corpos, destruição e pavor é inenarrável. O filme é chocante, e portanto, não aconselhável de ser assistido por pessoas cardíacas ou depressivas. Dividido em blocos, o filme apresneta em tempo real o corrido no Nova music festival, que começou pacificamente com muita música, dança, bebidas, como qualquer rave. O local da festa foi divulgado poucas horas antes de começar. Co-produzido pela brasileira Universo paralelo, do pai do DJ Alok, a festa seguiu normal até que no dia seguinte, 7 de outubro, às 6:49 da manhã, era possível ver foguetes tracejando no ar. Muitos frequentadores ( foram 3500) acharam normal, acostumados em ver mísseis e por isso, não fugiram d eimediato. Mas assim que entraram em seus carros, o trânsito ficou parado, e aí perceberam que a estraad estava fechada por militantes do Hamas, que matavam quem tentava atravessar a estrada. A partir daí, o filem apresenta massacre atrás de massacre, as pessoas fugindo, levando tiros, centenas de corpos espalhados. Gente escondida em banheiros, caminhonetes, tudo quanto era lugar, sendo descobertos e assassinados. O que muita gente não entendeu, era porque a polícia e exército israelense somente 6 horas depois marcou presença. O filme deixa claro que esse conflito não acabará tão cedo.

Borgo

"Borgo", de Stéphane Demoustier (2023) Co-escrito e dirigido pela cineasta Stéphane Demoustier, "Borgo" é uma produção francesa livremente inspirada em uma história real, sobre uma guarda prisional que estaria envolvida no assassinato de dois membros do crime organizado da Córsega. Antoini Quilichini e Jean Luc Codaccioni estavam chegando no Aeroporto de Bastia, em 2017, quando foram assasinados a tiros. O filme é protagonizado pela atriz francesa e descendente de algerianos Hafsia Herzi, famosa pelos filmes "O segredo do grao, "Apollonide", "O rapto" e "O rei da fuga". O filme acontece em 2 arcos temporais. Começa com os 2 homens já assassinados no aeroporto e com a polícia tentando investigar o caso e checando cameras de segurança. O filme volta ao tempo e traz Melissa (Herzi), que veio da cidade grande para Córsega, junto de seu marido desmepregado, Djibril (Moussa Mansaly), e seus dois filhos pequenos. Melissa veio para trabalhar como guarda prisional de uma penitenciária doferenciada: o local fica aberto, e os presos têm liberdade. O apelido da prisão é Ibiza. Entre os presos, está Saveriu (Louis Memmi), um jovem envolvido com facção local. Melissa e sua família têm dificuldade de se relacionar com os vizinhos racistas e xenofóbicos (o marido é negro, e os filhos, mestiços). Quando Melissa esbarra com Saveriu na rua, ele lhe pede um favor que Melissa, por passar necessidades financeiras, não consegue recusar. Um típico drama social francês, que retrata diversos temas dentro de sua estrutura de multi plots, o filme tem Melissa como linha dorsal de um mundo misógeno, racista e xenofóbico, dividido entre pessoas que tentam a todo custo manter a sua integridade moral, e a luta por vencer na vida. O tom naturalista combina com a narrativa quase documental. Hafsia Herzi é uma excelente atriz que acompanho já há mais de uma década, sempre trazendo ótimas performances.

Invasão drag

"Invasión drag", de Alberto Castro (2020) "Todos nós nascemos nús. O restante, é Drag." Essa cartela ilustra toda a admiracão que o documentarista peruano Alberto Castro traz para o seu importante filme "Invasão drag". Tendo como pano de fundo a vinda de dezenas de drags americanas, em 2017, do reality 'Rupaul's drag race",para um concurso local em Lima, Peru, o filme traz pautas importantes para um país reconhecido como conservador, homofóbico e transfóbico. A comunidade queer local se uniu e esgotou os ingressos para os shows diários. É divertido o depoimento de uma das drags, que diz que as dragas estavam em dúvida se iriam para Peru ou Brasil, por conta de insistentes pedidos doas fãs, mas decidiram por Peru. Logo na chegada do grupo no aeroporto, centenas de fãs se aglomeravam para receber as drags. O filme traz depoimentos sensíveis de integrantes queer peruanos, e também, das dragas americanas e o quão importante é para ambos os lados essa visibilidade.

domingo, 29 de setembro de 2024

Flow

"Flow", de Gints Zilbalodis (2024) Uma obra-prima espetacular, "Flow" foi indicado pela Letônia à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025, além de se candidatar ao Oscar de longa animação. O filme é uma co-produção da Letônia, Bélgica e França, e concorreu no Festival de Cannes 2024 na Mostra Un certan ragard. Venceu em Annecy, o Oscar da animação, os prêmios de Melhor Filme, Prêmio de melhor filme do Público e Prêmio de Melhor Música Original. Impressionante que seu diretor tenha apenas 29 anos, e já dirigiu outro longa excelente, 'Away", em 2019. O filme, totalmente sem diálogos, apresenta um mundo onde os humanos já não mais existem ( imagine "O planeta dos macacos", com os resquícios de civilização humana). Um gato cinza escuro mora em uma casa onde outrora vivia o seu dono, que construiu diversas estátuas de gatos ao redor. O gato procura sobreviver comendo peixes do rio e tentando escapar de cachorros faminntos e outros animais predadores. Quando inesperadamente um dilúvio de proporções épicas acontece, o gato procura sonbreviver. Quando está prestes a morrer afogado, surge um barco abandonado. O gato pula dentro da embarcação, onde se encontra uma capivara sonolenta. Assim como em a arca de Nóe, animais vão se incorporando à embarcação: um cachorro Golden, um lêmure apaixonado por peuqneos objetos e espelhos, uma cegonha. Juntos, precisam lidar com suas diferenças e seus instintos primitivos para sobreviver. A trilha sonora, a cargo também do diretor, é excepcional: melódica, triste, epica, ela surge como um transe e deixa o espectador em estado hipnótico. O filme tem momentos divertidos envolvendo o lêmure, mas de uma forma geral, me deixou bastante tenso, pois a todo momento, a morte espreita os personagens. A gente se apaixona tanto pelos animais, que não quer que nenhum morra. Aliás, em uma cena magistral , a morte de um deles acontece como um acontecimento bíblico, transcendental. É lindo demais, evocando talvez Miyazaki. Mas a mensagem final é triste demais, e certamente, a imagem da baleia irá ecoar por muito tempo na mente do espectador. A edição de som e direção de arte merecem total destaque pela forma como trabalham a emoção do espectador e nos coloca quase que dentro da fantasia proposta.

Bagman

"Bagman", de Colm McCarthy (2024) Terror que traz Sam Clafin ( da franquia "Jogos vorazes") no papel de Patrick McKee, um homem que precisa salvar seu pequeno filho Jake (Carnell Vincent Rhodes) das mãos do Bagman, uma entidade que carrega uma bolsa e coloca ali dentro as crianças que ele sequestra. A entidade parece com o Homem do saco aqui no Brasil, que castiga crianças malcriadas e as enfia no saco. Mas o saco do Brasil é de pano, e esse Bagman carrega uma mala tipo valise de couro com fecho e tudo e pega crianças boas. Quando criança, Patrick conseguiu escapar do Bagman quando se aproximou de uma mina abandonada. Seu pai diz que Bagman só pode ser derrotado de for entregue para ele algum objeto que a pessoa ame muito. Já adulto, Patrick está casado com Karina (Antonia Thomas). Após um insucesso em sua invenção, ele quebra financeiramente e retorna até a sua cidade natal junto da esposa e filho e vai morar com seu irmão e a cunhada na casa deles. Mas aos poucos, Patrick percebe que Bagman está de volta e quer pegar seu filho. Filme de baixo orçamento e isos é visível nos fraquíssimos efeitos de CGI e na figura de Bagman, que parece ter saído de um terror dos anos 80, feito somente com maquiagem amadora. Os atores são bem medianos e certamente esse filme não favoreceu em nada a carreira de Sam Caflin. A história lembra "It, a coisa", com a entidade querendo sequestar as crianças, e o que é pior, os adultos sabem mas ninguém faz nada. A única coisa que gostei e esse foi inesperado, é o seu final desesperançoso. Mas é pouco para um filme que não assusta e com personagens sem carisma.

Meu nome é Maria

"Maria", de Jessica Palud (2024) Dedicado à atriz Maria Schneider, "Maria" foi exibido no Festival de Cannes 2024 e trouxe novamente à luz dos holofotes o tema do #metoo e dos abusos contra atores e atrizes que são obrigados a se submeter à humilhação e constrangimentos no set e fora dele, em nome da arte e da carreira artística. Não é um filme fácil de se assistir, e em outros tempos, teria sido chamado de um filme "exploitation", explorando todo o sofrimento da atriz Maria Schneider, e o filme, dirigido por Jessica Palud, não economiza na violência vinda de toda parte: de sua mãe ciumenta e abusiva; de seu pai, o ator francês Daniel Gélin, que a abandonou e nunca a reconheceu; de seu agente; de diretores, artistas e claro, de Bernardo Bertolucci e Marlon Brandon, com quem trabalhou em "O último tango em Paris", de 1972, aos 19 anos de idade. O filme é adaptado da biografia escrita pela prima da atriz, a jornalista Vanessa Schneider em “Tu t’appelais Maria Schneider”. O filme dedica mais da metade de seu tempo mostrando bastidores do set do filme, até a famosa cena da manteiga. Para justificar o improviso da manteiga, Bertolucci (Giuseppe Maggio) conversa com a atriz dizendo que sempre disse à ela que o filme seria intenso. Que se tivesse dito antes a ela sobre as cenas, não teria funcionado, e que as melhores cenas vem do improviso. Nos filmes dele não tem ator ou atriz, somente filme e personagens. Marlon Brando (Matt Dillon) é apresentado como um ator arrogante e totalmente entregue aos improvisos combinados previamente com Bertolucci. Jovens atrizes repletas de sonhos, como Schneider, tiveram depressão e no caso da atriz, prejudicou toda a sua carreira artística. Ela se entregou às drogas, foi vista como uma atriz problemática nos sets e sofreu bastante com a opinião pública e a mídia. Ela veio a falecer em 2011 aos 58 anos. Nos último anos de sua vida, segundo o Wikipedia, "ela se tornou uma defensora dos direitos das mulheres, lutando principalmente por mais diretoras de cinema, mais respeito pelas atrizes e melhor representação das mulheres no cinema e na mídia."

sábado, 28 de setembro de 2024

Above the clouds

"Felhök felett", de Vivien Hárshegyi (2022) Concorrendo no prestigiado Festival de animação Annecy, essa produção húngara escrita e dirigida pela animadora Vivien Hárshegyi, inspirada em sua experiência no primeiro amor. Vivien teve uma linda história de amor, mas seu parceiro foi se entendiando e do nada, decidiu romper a relação. Frustrada, Vivien entrou em depressão e com muita dificuldade, conseguiu sair dela e seguir adiante. O filme traz uma jovem que é pedida em namoro por um rapaz. Mas inesperadamente, ela sente taquicardia e sai correndo, deixando o rapaz sozinho e sem entender nada. O filme volta ao tempo e apresenta a primeira relação da jovem, quando ela conheceu um rapaz em uma festa. Eles se apaixonaram, viveram momentos felizes, moraram juntos, tudo com uma divertida música romântica como pano de fundo. Mas o rapaz vai se entediando até quebrar o disco que estava tocando a música e daí decide abandoná-la. A jovem entra em um espiral de alucinações da qual parece não conseguir sair mais. Um filme bastante criativo, com traços que em alguns momentos me lembraram de "BEavis and Butthead", mas tem a sua própria personalidade.

O senador

"O senador", de Mauro Carvalho (2024) Os cineastas goianos Mauro Carvalho e Tiago Cazado lançaram em 2018 um cult lgbt da internet: "Primos", que alcançou um grande público com sua trama repleta de sexo, erotismo e malícia entre dois jovens primos na área rural. Mauro Carvalho também fotografou a obra. Agora, Mauro dirige, escreve e fotografa "O Senador", mais uma produção independente que traz uma trama que mistura thriller político, sexo, drama e uma crítica aos podres de Brasília, tanto na área política, quanto jornalística. O senador Arthur Alencar (Sergio Harger) é encontrado morto. Ele era casado com uma artista plástica, mas mantinha em segredo sua vida dupla: ele bancava tudo para o jovem Renan (Johnny Alcantara): apartamento, luxo, bancava a família dele, contanto que fosse fiel somente a ele, senador. Um jornalista, Victor (João Cury), que trabalha para a poderosa editora de um jornal, Teodora (Juliana Zancanaro), deseja fazer uma matéria que exponha a hipocrisia do senador. Ele acaba conhecendo Renan e conta em conseguir provas contra o senador através dele, mas acaba se apaixonando pelo rapaz. O filme pretende ser uma trama noir, com muitos mistérios e segredos que serão revelados no final. Para uma produção independente, o filme tem qualidades, mas o elenco se esforça para trazer naturalidade às suas falas forçadas. Muitos momentos beiram à caricatura.

Excursion

"Ekskurzija", de Una Gunjak (2023) Vencedor de um prêmio especial em Locarno 2023, "Excursion" foi o filme indicado pela Bósnia Herzegovínia para uma vaga ao Oscar de filme internacional 2024. O filme é uma co-produção França/Bósnia/Noruega/Croácia e Sérvia. Ambientado em Sarajevo, capital da Bósnia, o filme acompanha a rotina da adolescente Imam (Asja Zara Lagumdžija), aluna do 9o ano do ensino médio. Ela tem um grupo de amigas na escola, principalmente Hana (Nada Spaho), sua melhor amiga e confidente. Um dia, durante uma conversa entre as garotas na escola, Iman é questionada sobre uma fofoca que circula, de que ela fez sexo com um aluno mais velho, que ela tem um crush. Iman não fez sexo com ele, mas decide confirmar que sim. Paralelo, os pais estão em um conselho com a diretora para debater uma excursão que querem fazer em algum país da Europa com os alunos. Mas os pais comentam sobre uma fofoca de que houve um grupo de 7 alunas que voltaram grávidas de uma excursão escolar. O filme, em tom naturalista, traz um excelente time de jovens atores em performances fortes. 'Excursion" explora o quanto uma mentira pode agravar a vida de todos os envolvidos, e a partir daí, Iman é criticada por todos, em uma sociedade conservadora e religiosa. Bullying, assédio moral e a falta de comunicação dos pais ficam evidentes na vida de Iman, em excelente performance de Asja Zara Lagumdzija. Doloroso e impiedoso, o filme termina sem respostas claras.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

The damned

"I dannati", de Roberto Minervini (2024) "1986. A guerra civil americana está em andamento, o exército dos Estados Unidos envia uma companhia de voluntários para explorar e proteger as fronteiras não mapeadas do ocidente.". Assim começa "The damned", com uma cartela avisando ao espectador o tema que irá assistir. O filme, co-produzido por Itália, Bélgica e Estados Unidos, ganhou o prêmio de melhor direção na Mostra "Un certain regard" do Festival de Cannes 2024. E durante todo o filme, é praticamente impossível não se lembrar de filmes de Terrence Malick, como "Além da linha vermelha", e "O regresso", de Inarritu, tanto por questõe stemáticas (soldados na guerra e seus dilemas morais), quanto estéticos. O filme é todo rodado com grande angular e longos planos, narrativa conhecida do fotógrafo Emanuel Lubezki, que fotografou os dois longas citados, e aqui de certa forma homenageado pelo fotógrafo Carlos Alfonso Corral. O filme traz uma lingaugem quase documental, com a câmera apontada para os soldados que passam mais da metade do filme sentados e falando sobre diversos assuntos: religião, pátria, família, enquanto tentam entender a razão pelo qual se alistaram como voluntários para lutar pelo país. Lá pelo meio do filme, acontece uma batalha ( lindamente filmada e fotografada) e que muda os rumos dos soldados, que em sua maioria, não sabe nem apontar uma arma e nunca mataram ninguém. O filme tem um ritmo muito lento e é bem arrastado e cansativo. Vale pela direção de imagens, o grande ponto forte do filme, em imagens estonteantemente bem captadas na região de Montana. As cenas onde a neve entra em cena são primorosas.

As chaves

"las llaves", de Lucas Santa Ana (2011) Comédia LGBTQIAP+ argentina, "As chaves" é um curta escrito e dirigido por Lucas Santa Ana. O filme fala sobre relacionamentos com ex-namorados que se tornam uma toxidade entre uma das partes. Matias (Luciano Pietro) e Lucho (Francisco Ortiz) chegam ao apartamento de Matias. Ambos estão repletos de tesão. Mas logo de cara, Lucho estranha o excesso de chaves no porta chaves do apartamento, e decsobre que uma delas, é do apartamento do ex de Matias, Pedro (Hernan Moran). Para piorar a situação, o apartamento é todo decorado com fotos de Pedro. Lucho pede para Matias ligar para Pedro e decidir de uma vez em acabar com o relacionamento, o que Matias faz para acabar com o fantasma do ex. Mas ao ligar, Matias e Pedro passama. discutir o relacionamento. Um filme simples, com humor e pano de fundo para discutir relacionamentos tóxicos. Poderia render , se estendido, uma ótima peça de teatro com 3 atores.

Will & Harper

'Will & Harper", de Josh Greenbaum (2024) Comovente e divertido documentário LGBTQIAP+ que traz o ator e comediante Will Ferrel envolvido em uma história de amizade. No início de sua carreira no programa "Saturday night live", Ferrel e o roteirista Andrew Steele praticamente começaram juntos. Steele escreveu diversos roteiros de longas tendo Ferrel como protagonista, como "Eurovision". Os dois tiveram as suas famílias durante o passar dos anos, e felizes com esposas e filhos. Mas durante a pandemia da covid, Ferrel recebeu um email de Steele: "Estou velha agora e, por mais ridículo e desnecessário que pareça relatar, estarei em transição para viver como uma mulher". Ferrel repensou a história de Steele, nascido na conservadora Iowa, e o quanto deve ter reprimido a sua orientação sexual. Decidido a dar força total a esse momento de transicionamento e vida nova como mulher, Ferrel convida Harper, seu novo nome, a seguir em um carro e fazerem um road movie de Nova York até Los Angeles, e no caminho, visitar antigos amigos do 'Saturday night live" e entender como os cidadãos americanos de todas as rehiões reagem à presença de uma mulher trans, em uma América ainda bastante homofóbica. O filme tem um tema obviamente delicado, e o diretor Josh Greenbaum lida muito bem com a protagonista Harper, respeitando o seu ponto de vista e suas reações. A cena onde Harper reencontra suas filhas adolescentes, e elas dão depoimentos de quando Harper anunciou a elas o seu transicionamento, é contundente. Um momento especial que amei bastante, é a participação da amiga e atriz Kristen Wiig, que eu amo muito, sendo solicitada a escrever uma música tema para o filme, que seja jazzy, country, divirta e faça chorar. E esse desafio surge nos créditos finais, com a própria tocando e cantando no violão.

Second thought

'Second thought", de Chris Stanley e Jimmy Martin (2024) Premiado curta LGBTIAP+, 'Second thought" é totalmente apresentado sem diálogos e traz uma história e visual fofos e emocionantes. Escrito e dirigido pelos próprios atores, o filme apresenta uma crítica aos relacionamentos por app como Grindr, onde o o que interessa é o sexo e não envolvimento amoroso. O filme é dividido em 2 telas e apresenta 2 jovens: (Art Bezrukavenko) e Chris (Chris Stanley). Os dois se preparam para passar um final de semana em Provincetown, Massachusetts. Chegando lá, cada um em seu hotel, a primeira coisa que fazem é ligar o Grindr e marcarem encontro. Os 2 se conectam e marcam em um restaurante de noite. Após o sexo, Art amanhece. decide ir embora, bloqueando Chris, mesmo que a noite dos 2 tenha sido maravilhosa. Chris acorda e fica triste. A surpresa vem aí: assim como no filme de michael Haneke, 'Funny games", surge um rewind na tela e o filme retorna como em uma fita VHS, e no momento do encontro do restaurante, eles jantam, conversam, passam-se os anos e são felizes. 30 anos depois, o filme os mostra casados e mais felizes do que nunca. O filme não tem medo de ser rotulado como happy end ou brega. Traz um olhar positivo sobre os apps de pegação e a possibilidade real de uma conexão que se torne em casamento. Ou para quem preferir a primeira opção, seomente para sexo. Os dos atores são uma graça, e as cores da cidade trazem um olhar otimista e solar sobre uma história queer.

Apartamento 7A

"Apartment 7A", de Natalie Erika James (2024) Quando lançaram a campanha para "Apartamento 7A", e fiquei sabendo que a protagonista seria a jovem Terry Gionoffrio, pensei: "Mas porque que eu vou querer ver um filme onde sei que a protagonista morre no final?". Para quem lembra de "O bebê de Rosemary", o casal Rosemary e Guy conhece os idosos Minnie e Roman por causa do suicídio de Terry. Bom, como somos curiosos, pensei que valeria a pena entender o motivo do suicídio de Terry, que não era explicado: ela foi morta ou se matou? E isso leva a "Apartamento 7A". Ambientado no mesmo ano de "O bebê de Rosemary", 1965, a obra original foi escrita por Ira Levin, e aqui, por 6 mãos, incluindo o da diretora Natalie Erika James. O curioso é que os abusos morais e sexuais de Hollywood atual foram transpostos para a protagonista Terry: atriz de musical, ela constantemente sofre todo o tipo de assédio e abusos. Terry (Julia Garner) sofre um acidente e impossibilitada de trabalhar. Ela se vicia em remédios para enganar a dor e continuar a fazer testes. Um dia, desesperançosa, ela esbarra com o casal de idosos Minnie (Diane Weist) e Roman (Kevin Macnally) e eles a convidam para morar em um apartamento sme ter de pagar nada. Feliz, Terry retorna ao diretor de teatro Alan (Jim Sturgess), que acaba seduzindo ela. Dias depois, terry tem alucinações com uma figura com chifres e descobre estar grávida. Diretora do ótimo terror "Deterioração", de 2020, a cineasta australiana Natalie Erika James tem como um dos produtores o ator e diretor John Krasinski. O filme é ótimo, tem excelente elenco, reconstituição de época e efeitos. Mas ao final, fica aquela pergunta: presicava? Fiquei com a impressão de que foi o mais do mesmo, até porque "O bebê de Rosemary" já é um filme perfeito por si só. O que ficou na minha mente foi a cena final, quando toca a famosa trilha "Lullaby from Rosemarys baby", de Krzysztof Komeda, aquela canção de ninar assustadora. E a sensação de que Rosemary e Guy poderiam surgir ali na última cena.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Tempestade do sul

"La sudestada", de Daniel Casabé e Edgardo Dieleke (2023) Concorrendo no Festival de Rotterdan 2023 e vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de cinema independente de Buenos Arres, "Tempestado do sul" é uma produção de baixo orçamento argentina, escrita e dirigida pela dupla Daniel Casabé e Edgardo Dieleke. O filme traz uma narrativa que mistura drama, policial noir, comédia de humor ácido, performances teatrais e surrealismo. Jorge Villafañez (Carlos Carrasco), é um homem solitário de meia idade que trabalha como detetive particular. Quando não está trabalhando, ele passa as tardes no parque observando as pessoas. Um dia, ele é contratado por um homem, Ricardo (Edgardo Castro) para investigar sua esposa, a coreógrafa Elvira Schulz (Katja Alemann), uma dançarina veterana e premiada que agora investe em dança experimental com performances teatrais. O casal está em crise e ela some de tarde, retornando horas depois. Jorge a persegue em seus ensaios no teatro e decsobre que ela pega o barco, seguindo o rio e ensaiando nua em uma casa isolada em uma ilha. Mas durante uma de suas investidas, Jorge é pego por uma tempestade, que faz cair um galho na cabeça de Elvira, que desmaia. Jorge, que estava encantado e obcecado por Elvira, encontra a chance que queria para estar perto dela. Um filme curioso e instigante, com uma ótima performance do protagonista Carlos Carrasco no papel do detetive, uma figura bastante cartunesca com colete, óculos, careca e corpo rechonchudo. As cenas de performances musicais também são bem divertidas, com os dançarinos imitando pios de pássaros e movimentos de aves. Um filme sobre obsessão, através da figura de um private eye e sua paixão platônica por uma investigada, um tema bastante recorrente nos clássicos noir e aqui, em tom de sátira e paródia.

Cottontail

'Cottontail", de Patrick Dickinson (2023) Vencedor do prêmio de melhor filme de estréia no Festival de Roma, 'Cottontail" é escrito e dirigido por Patrick Dickinson, e foi co-produzido por Reino Unido e Japão. Patrick estreía em direção de longas com o tema da cultura japonesa, que foi sua tese de mestrado ao estudar o cinema japonês. O filme, rodado em Tóquio e Reino Unido, traz como protagonista, o ator japonês Lily Franky, que esteve em "Assunto de família", de Hirokazu Koreeda, vencedor a Pama de ouro em Cannes 2018, no papel do patriarca. Lily novamente traz meelancolia e tristeza em seu personagem, agora às voltas com o luto inacabado pela morte de sua amada esposa, Akiko, de demência. O filme traz flashbacks mostrando o relacionamento dos jovens Kanzaburo, escritor, e Akiko, até a fase adulta quando ela contraiu a doença. Por conta da doença da esposa, Kanzaburo acaba se afastando de seu filho Toshi (Ryo Nishikido), sua nora e sua neta. No velório de AKiko, Kanzaburo recebe uma carta de despedida dela, com um último pedido: que as cinzas dela sejam jogadas no Lago Windermere, na Inglaterra, local que Akiko visitou quando criança com seus pais nos anos 60 e que foi um resgate de sua felicidade. Ela sempre foi apaixonada pelos livros de Beatrix Potter, autora de "Roger rabbit" e seu marido Kanzaburo desdenhava. Mas agora, ele decide cumprir o último desejo da esposa, e Toshi pede para ir junto. Belo e sensível filme, dirigido com firmeza por Patrick Dickinson, que traz com respeito uma história japonesa, assim como Win Wenders fez com "Dias perfeitos". Um ritmo extremamente lento, minimalismo nas performances e muita tristeza ao acompanharmos a felicidade do jovem casal, e logo depois, a doença da esposa, em cenas bastante dolorosas. O elenco todo é ótimo, e as lindas imagens no Japão e no Reino Unido trazem um louvor à natureza, o contraponto à urbanidade de Toquio.

Adam & Steve

'Adam & Steve", de Craig Chester (2005) Comédia romântica LGBTQIAP+ escrita, dirigida e protagonizada por Craig Chester, que resgata o tipo de humor anos 90 dos irmãos Farrelly, repleto de piadas escatológicas e grosserias. O filme abre com um prólogo ambientado em 1987: o jovem Adam (Craig Chester) é um garoto judeu que vai em uma festa vestido de gótico. Ele conhece um dos dançarinos do show apresnetado, Steve (Malcolm Gets) e vão fazer sexo no apartamento de Adam. Steve oferece cocaína para Adam, mas surge um efeito inesperado: Adam, que nunca usou drogas, tem desarranjo intestinal e defeca, e Steve, horrizado, vai embora. 17 anos depois, eles se reencontram por um acasao. Adam agora é guia turístico, e Steve é um psiquiatra. Eles não se reconhecem do passado e acabam se curtindo e namorando. os pais de Steve, Rhonda (Parker Posey) e Michael (Chris Kattan) curtem Adam e ficam sabendo que os dois vão se casar. Mas quando esse confidencia para Steve que ficou viciado em drogas por conta de um desconhecido do passado quie lhe ofereceu cocaína, Steve se sente culpado e decide romper o noivado, sem contar o motivo para Adam. O filme poderia ter sido um passatempo agradável e trazer protagonismo de dois atores gays em trama que foca no universo queer. Mas o filme é chato, sem graça, piadas bobas e principalmente, os dois atores principais não possuem química e são depsrovidos de carisma. Não tem como se apaixonar por eles, nem torcer por eles.

Robô selvagem

"The wild robot", de Chris Sanders (2024) Dirigido pelo mesmo realizador de "Lilo e Stitch", "Os Croods" e "Como treinar o seu dragão", "Robô selvagem" é uma adaptação da série de livros de Peter Brown e me fez lembrar de certa forma da obra-prima 'Wall.e", da Pixar. É o último filme totalmente produzido pela DreamWorks Animation e foi distribuído pela Universal Pictures. A história é bastante emocionante e lida com temas como maternidade e inserção em grupos, e de certa forma, lembra o conto do Patinho feio pela questão da rejeição e o amor de outros grupos, um tema que metaforicamente pode ser aplicado a muitas pautas. Roz (Lupita Nyong'o) é uma robô com inteligência artificial que acorda em uma ilha selvagem, habitada por diversos tipos de animais. Ao procurar se adaptar a todo tipo de animais, adquirindo as suas falas e gestuais, ela acidentalmente destrói o ninho de uma gansa, matando-a e quebrando diversos ovos. Apenas um ovo se mantém intacto. Mas a raposa Fink (Pedro Pascal) rouba o ovo para se alimentar. Roz vai atrás e recupera o ovo e instintivamente, choca e nasce o filhote, chamado de Brightbill (Boone storm quando criança, e Kit Connor já adolescente). O tempo passa, Bright bill cresce sob os cuidados de Roz, que cria como se fosse sua mãe, sem entender o significado da maternidade. Brightbill é rejeitado pelos outros gansos e Roz o ajuda a voar, agora com o apoio de Fink, que se torna amigo deles. Mas logo outros robôs surgem para resgatar Roz, e uma briga começa entre animais e robôs. No elenco, existem também as vozes de Mark Hamill, Bill Nighy, Ving Rhames, Catherine O'Hara e outros. O filme visualmente é muito bonito e a história muito cativante e sentimental, e certamente irá arrancar muitas lágrimas. A cena logo no início do filhote de ganso querendo o colo e carinho da robô é uma graça, fofura demais.

Ainda somos os mesmos

"Ainda somos os mesmos", de Paulo Nascimento (2024) O cineasta gaúcho Paulo Nascimento tem uma filmografia bastante eclética: filmou dramas "A oeste do fim do mundo", "Em teu nome", "Teu mundo não cabe nos meus olhos", drama juvenil "Chama a Bebel", suspenses policiais "Sme fôlego"e "Distrito 666" e drama histórico "Diário de um novo mundo", além de séries premiadas como "Chuteira preta" e 'Animal". Boa parte de seus projetos tem no elenco o seu grande parceiro profissional Edson Celulari. Pois essa parceria campeã se repete novamente no drama político "Ainda somos os memos", com a música tema composta por Belchior. O filme traz a incr;ível história de Gabriel (Luis Zaffari), estudante de medicina que decide fugir do Brasil durante a ditadura militar e sgeuir até o Chile, até decsobrir que lá, também acontece um golpe militar. Cabe a ele, assim como centenas de brasileiros, se refugiarem na Embaixada da ARgentina e buscar proteção. No Brasil, seu pai, Fernando (Edson Celulari), busca uma solução entre os militares para negociar com segurança o retorno de seu filho e dos outros refugiados. Com a marca autoral de Paulo Nascimento, o filme, uma produção independente, traz valor de produção auxiliada por uma equipe técnica e elenco que ajudam a dar uma dimensão épica e emocionante à uma história que ainda traz reflexos nos dias atuais. Carol Castro, Pedro Garcia, Nicola Siri, entre outros artistas, trazem camadas emotivas aos seus personagens. O filme foi premiado como melhor filme independente no Montreal Independent Film Festival 2023.

Passagrana

"Passagrana", de Ravel Cabral (2024) Co-escrito e dirigido por Ravel Cabral, "Passagrana" é um misto de drama, comédia, ação, policial e romance, que traz uma narrativa fragmentada e um estilo visual que remete aos primeiros filmes de Guy Ritchie, com muitos maneirismos de câmera, edição e um uso de trilha sonora pop que traz ritmo e dinâmica. O filme traz personagens bastante definidos em seus personalidades: temos os 4 amigos de infância, que agora já jovens adultos, continuam pobres e sme perspectiva de um futuro melhor. Assim como em "Pickpocket", de Bresson, eles vivem de pequenos furtos na grande São Paulo, roubado jóias, carteiras, bolsas de transeuntes. Zoinhu (Wesley Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodelo (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry Bueno) são malandros, mas um dia, o policial corrupto Britto (Caco Ciocler) os ameaça e os obriga a descolarem 500 mil reais, caso contrário, irá matá-los. Desesperados, os amigos encontram uma solução: simular que irão filmar uma cena de assalto em um banco e para isso, abrem um teste de elenco com atores que representem o assalto, sem saberem que fazem parte de um assalto real. Entre eles, a jovem atriz vivida por Giovana Grigio, Carol Castro, vivendo ela mesma e Irene Ravache, como uma atriz veterana que vê ali a oportunidade de viver um papel que ela sempre quiz fazer, de assaltante. Luciana Paes vive uma hilária caixa do banco e Wagner Santisteban, Gabriel Muglia e Marco Luque dão vida a policiais. O diretor Ravel Castro certamente se inspirou em filmes policiais e de ação americanos para trazer a narrativa visual do filme, fotografada com esmero por Carlos Zalazick e com direção de arte de Rafael Blas. O filme traz um humor bem vindo para aliviar a tensão da trama, e a personagem de Carol Castro é divertida por viver ela mesma, e todas as piada senvolvem "Mas você é a Carol Castro?". Toda a parte técnica e o trabalho do elenco é muito boa. Demorei para embarcar na história do assalto encenado, e me questionando como todos aqueles atores em momento algum perceberam ser uma farsa. Mas depois pensei que não foi a intenção do projeto em dar credibilidade e verossimilhança à trama, e sim, se divertir com a metalinguagem do fazer cinema.

Nos embalos de Ipanema

"Nos embalos de Ioanema", de Antônio Calmon (1978) Clássico brasileiro dos anos 70 que traz o cotidiano carioca representado por uma juventude sem perspectiva de um futuro projetado, vivendo uma relaidade hedonista com muito surf, sexo, drogas e paqueras. Esse retrato pessimista de uma geração foi escrito e dirigido por Antonio Calmon, que viria a ficar famoso nacionalmente 4 anos depois com "Menino do Rio", protagonizado pelo mesmo André de Biasi que vive Toquinho, um jovem morador do subúrbio de Marechal Hermes, apaixonado por ondas em Ipanema, pela sua namorada Verinha (Angelina Muniz), que trabalha panfletando nas ruas da Zona Sul e cujo patrão, vivido por Stepan Nercessian, a flerta insistentemente. Toquinho é rebelde, malandro e quer se dar bem em todas as situações. Nunca tem dinheiro, mas sempre arruma um jeito de conseguir alguém que lhe pague um lanche, roupas novas da moda e paqueras frequentes. Toquinho é sedutor e seu charme faz com que muita gente caia em sua lábia. O filme é entrecortado pro depoimentos para um repórter anônimo, falando sobre a personalidade do rapaz para um falso documentário. Um dia, Toquinho conhece na praia Patricia (Zaira Zambelli), garota de Ipanema, filha dos ricos representados por Mauro Mendonça e Jaqueline Lawrence). Ela também só quer saber de paquera e sexo e se apaixona por Toquinho, que mente para ela e diz que mora na Barra. Sem dinheiro para sustentar o luxo de Patricia, Toquinho conhece das Bocas (Roberto Bonfim), um cafetão que lhe apresenta André (Paulo Vilaça), um rico gay que se apaixona por Toquinho e banca seus caprichos. O elenco ainda traz Yara Amaral, no papel da mãe de Toquinho e memorável na cena do hospital, e Selma Egrei. O filme é divertido e traz momentos hilários, mas no fundo, é um reflexo de uma geração desencantada e rebelde, fruto da falta de comunicação entre seus pais, desmotivados por um governo que não investe em empregos e educação. Um retrato cruel e amargo de um Brasil bonito na embalagem, mas vazio em um futuro inexistente. A trilha traz os clássicos "Sossego", de Tim Maia, e "Revelações", de FAgner.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

The front room

"The front room", de Max Eggers e Sam Eggers (2024) Robert Eggars é um diretor cultuado por seus filmes estilosos que renderam aplausos da crítica e do público: "A bruxa", "O farol", "O homem do norte". E quem diria que ele viraria influência para seus meio-irmãos, Max e Sam Eggars, gêmeos? Pois "The front door" é o filme de estréia deles, e o meio-irmão Roberr deve estar feliz com esse terror psicológico que busca referências em 'Corra!" e "O bebê de Rosemary". O casal Belinda (Brandy Norwood) e Norman (Andrew Burnap). estão grávidos. Belinda é professora em uma faculdade. Ele é defensor público. Ela desiste de dar aulas pela frustração com o ambiente de trabalho. O casal passa por apertos financeiros. Quando o pai de Norman, com quem ele não mantinha contato há muito tempo, morre, ele vai até o velório. Lá, ele reencontra a sua madrasta, Solange (Kathryn Hunter). Fanática religiosa, quando criança Norman era atormentado por ela, e decidiu romper relações. Sabendo da dificuldade do casal, Solange se oferece para pagar a hipoteca e deixá-los como os únicos beneficiários de seu testamento, mas para isso, ela quer que eles deixem ela morar com eles. Norman reluta, mas Belinda insiste. No entanto, com o tempo, Belinda percebe que a presença de SOlange irá trazer delírios para si, que ela não sabe se são reais ou não. A atriz Kathryn Hunter literalmente rouba todas as cenas em que aparece. Um misto de figura sinistra e hilária, a performance é incrível, e vê-la caminhando e manuseando as duas muletas é assustador. O filme tem como pano de fundo os temas do fanatismo religioso, o conservadorismo americano e claro, o racismo (Belinda é negra). Um filme repleto de camadas, assim como Jordan Peele faz em seus filmes.

Sing sing

"Sing sing", de Greg Kwedar (2023) Melhor filme do público no Festival SXSW 2024, "Sing sing" é uma prisão de segurança máxima localizada em Nova York. O filme, elogiado pela crítica e forte candidato aos prêmios principais do Oscar 2025, é uma dramatização de uma história real: Nos anos 90, foi criada em 'Sing Sing" um programa de reabilitação dos presos através da arte, chamada RTA. Os presos que se increveram, encontraram no teatro e no palco a força e a motivação que precisavam para seguir dia a dia no cárcere. O filme mescla atores com ex-presos reais, interpretando a si próprios. O fio narrativo é o personagem de Divine G (Colman Domingo), injustamente mantido presos. ë através do envolvimento com o teatro, desempenhando a função multi tarefa de conselho na direção, ator e roteirista, que G luta contra a injustiça. Mas quando surge um novo preso, Divine Eye (Clarence Maclin), dá-se início à uma rivalidade criativa: G quer um clássico, e Eye quer montar uma comédia, tendo como base Shakespeare e "Hamlet". O filme é uma mistura do clássico 'Um sonho de liberdade" e "Cezar deve morrer", o excelente documentários dos irmãos Taviani lançado em 2012, mostrando os presos perigosos da prisão de segurança máxima Rebibbia,localizada em Roma, e que deidiram montar "Julio Cesar", de Shakespeare. Entre os presos, haviam assassinos e estupradores. Obviamente, o material emotivo do filme é forte, trazendo cenas bastante comoventes, principalmente quando surgem imagens de vídeos reais mostrando as performances teatrais dos presos. Um filme humanista, e que traz em pauta a função terapêutica e transformadora da arte entre pessoas consideradas socialmente perdidas.

Pasárgada

"Pasárgada", de Dira Paes (2024) Vencedor do Kikito de melhor som no Festival de Gramado 2024, "Pasárgada" foi rodado durante a pandemia da Covid, com uma equipe e elenco reduzidos, em Arraial do Sana, no município de Macaé, RJ. O filme é a estréia na direção de longa da atriz Dira Paes, que também escreveu o roteiro e protagoniza a produção. O filme traz Irene (Dira Paes), uma ornitóloga que secretamente, trabalha para uma organização de tráfico de pássaros raros, capturados na floresta. O chefe da organização é um gringo, com quem irene se comunica via Zoom. Ela também se comunica eventualmente com sua irmã (Cassia Kis), que cuida da filha de Irene, que decidiu se isolar de todos e viver solitária na floresta. Irene contrata os serviços do local Ciça (Ilzo Gonçalves), que conhece toda a região. Um dia, ele não pode ir e envia um jovem mateiro, Manuel (Humberto Carrão). Aos poucos, Irene, uma mulher calada e ríspida, vai se encantando com o jeito livre de Manuel, um apaixonado pela flora e fauna. Mas uma tragédia muda o rumo de Irenee, que entra em grande conflito. O filme é um digno representante de um gênero chamado 'Slow cinema"; contemplativo, sem pressa, planos longos. A bela fotografia, de Pablo Baião, resgata a beleza da iluminação natural da floresta. O elenco, capitaneado por Dira e Carrão, estão ótimos. Mas foi Cassia Kis quem me chamou a atenção: em uma única cena, toda atuada em plataforma Zoom, ela confirma a excelência de seu trabalho de atriz. É importante separar a Cassia atriz e Cassia militante, na hora de se avaliar a sua performance. O filme, já em seu desfecho, traz um flerte com o thriller e o elemento lúdico.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Peak season

"Peak season", de Steven Kanter e Henry Loevner (2023) Comédia romântica indie, "Peak season" é dirigido e escrito pela dupla Steven Kanter e Henry Loevner. O filme foi rodado nas belíssimas locações montanhosas de Jackson Hole, Wyoming. A história é simples e já bastante conhecida. Amy (Claudia Restrepo, quase uma sósia de Samantah Schmutz) é uma mulher na faixa dos 30 anos, uma consultora entediada com a sua vida profissional na cidade grande. Max (Ben Coleman), seu namorado e futuro marido, propõe que os dois façam uma viagem para Jackson Hole para espairecer e relaxar. Na viagem, Max recebe uma ligação do trabalho e terá que deixar Amy por uns dias sozinha na região. Ela decide contratar os serviços do guia turístico inusitado Loren (Derrick Joseph DeBlasis). TAnto Amy quanto Loren posssuem personalidades totalmente diferentes: ela, uma mulher criada na grande cidade, repleta de ansiedades e de cobranças. Ele, abandonou tudo para morar em um carro e poder ser livre, fazendo o que gosta. Amy e Loren , apesar das diferenças, entendem que existe entre os dois algo além de um vínculo profisisonal. Muitos críticos compararam o filme a "Lost in translation", de Sofia Coppola, pela forma minimalista e repleta de belezas naturais para explorar um amor jamais consumado. A química entre o casal principal é ótima e o espectador torce por eles. O dilema final da personagem é comovente.

David se va

"David se va", de Joel Villegas Saldaña (2023) Co-produção México e Estados Unidos, "David se va" é um emocionante drama apresnetando em 2 telas divididas. Rodado em 16 mm, cada tela tem o formato 4:3 e traz uma temporalidade distinta. O protagonista, David, é apresentando aos 20 anos (Angel Soto Castelo), morando nos Estados Unidos, e aos 12 anos (Hermes Carrasco Lopez), morando em Tijuana, México. David trabalha em um restaurante e de noite, ensaia com sua banda. Mas é um rapaz solitário. Um dia, ele recebe a mensagem de que seu pai, a pessoa quem ele mais amou na vida e teve que abandoar na adolescência, morreu. Ele retorna à Tijuana, e entende que aquele lugar, que ele considerava seu lar, já não lhe representa mais nada. Um belíssimo filme que traz 2 temas muito bem trabalhados pelo roteiro e pelo diretor: a memória afetiva do pai do protagonista, e a tristeza d eter que abandoná-lo; e a sensação de que seu país de origem já não é mais representativa. Linda fotografia e trilha sonora, um filme encantador, melancólico e muito bem narrado nas duas telas divididas.

domingo, 22 de setembro de 2024

Violett

"Violett", de Steven J. Mihaljevich (2023) Após assistir a esse drama psicológico australiano, fico pensando que poderia ter sido um excelente exercício de terror se o roteirista e diretor Steven J. Mihaljevich não tivesse apostado em elementos fantásticos e sobrenaturais para o filme. Fosse o filme apenas um drama de suspense pisoclógico, teria sido primoroso, até porque o plot twist final é muito bom e de fato, surpreendente, me enganou direitinho. O início parace bem óbvio, mas os últimos minutos subvertem tudo. O paralelo que o filme faz com a fábula de "Branca de neve" e a Bruxa malvada não funciona, ainda mais quando , pelo ponto de vista delirante da protagonista, ela v6e a vizinha idosa vestida como a bruxa malvada e portando a cesta com maçãs!!!!!!! Sonya (Georgia Eyers) é uma mãe em estado catatônico. Ela mora com seu marido, o médio Stan (Sam Dudley) em uma casa na floresta, junto de sua filha adolescente Violett (Valentina Blagojevic). Crianças t6em sumido na região, e Sonya avisa Violett para tomar cuidado com estranhos. não se pode falar muito da sinopse pois pode se tornar spoilers. Eu não gosto da performance da atriz principal, Georgia Eyers, e talvez tenha sido uma decisão do diretor: ela passa o filme quase todo com emoção zero, olhar catatônico e de peixe morto. Para melhor construção d ahistória, ela deveria ter tido momentos oscilantes, que mostrasse um mood diferenciado. Entendo que na sua infância ela sofreu trauma com seu pai abusivo, mas ainda assim ficou monocórdica.

Pés de peixe

"Pés de peixe", de Aldemar Matias e Larissa Ribeiro (2024) Produzido pela Rede Amazônica através de um concurso da Rede Globo promovendo a produção audiovisla fora do eixo Rio/São Paulo, "Pés de peixe" conseguiu o grande feito de ter sido exibias da comunidade, a correr. Mas a grande questdo na Tela Quente. O filme é uma comédia dramática com roteiro e direção de paraense Larissa Ribeiro e do amazonense Aldemar Matias. A idéia do projeto partiu após tomarem conhecimento da comunidade flutuante Catalão, cerca de 10 kilômetros de Manaus. A comunidade é composta por cerca de 100 acsas e todos toparam fazer parte do projeto. Quando o único gerador da comunidade quebra, os moradores anseiam por um gerador novo. Mas o seu custo é impraticável, e quando tomam conhecimento de um concurso de atletismo na pista com prêmio no valor de 40 mil, os moradores tentam convencer Guilherme (Diego Leo), professor de natação das crianças da comunidade a correr. Mas surge a grande questão: como Guilherme poderá treinar, se não existe chão na comunidade? Logo os moradores constróem uma pista flutuante para o rapaz treinar. E para alegria de todos, o maratonista Sandro Viana, vencedor da medalha de bronze nas Olimpiadas de Pequim de 2008, decide ajudá-lo a treinar. O elenco, todo composto por aryistas locais, é excelente, trazendo a brasilidade e sabor regional maravilhoso para dar credibilidade aos personagens. são todos bastante carismáticos, incluindo as crianças, espertíssimas.

Deixe-me

"Laissez-moi", de Maxime Rappaz (2023) Que filme triste! E belo!! Chorei muito em seu desfecho comovente, que me lembrou o desfecho de "As pontes de Madison", "Deixe-me" é um premiado drama suíço, co-produzido com França e Bélgica, rodado nas belíssimas locações em Valais, Suíça. Protagonizado por Jeanne Balibar, o filme no início parece que vai se tornar "Belle de jour", com Balibar trazendo a antológica personagem de Catherine Deneuve em busca de homens e prazer para saciar a sua frustração. Mas as selhenaças logo se dissipam. 'Deixe-me" é um filme que fala sobre escolhas, sobre amor materno, sobre os conflitos de um reinício e os medos e inseguranças que podem vir diante de escolhas guiadas pelo amor e paixão egoísta. Claudine é uma mulher de meia idade que mora com seu filho, Baptiste (Pierre-Antoine Dubey), um rapaz de quase 30 anos, cadeirante e com paralisia. Claudine vive em função de seu filho e trabalha como costureira para sobreviver. Todas as terças feiras, ela contrata sua vizinha idosa Chantal para passar o dia cuidando de seu filho, enquanto ela segue até o hotel da cidade. Lá, ela tem um acordo com o recepcionista Nathan (Adrien Savigny), que permite a presença dela no local, em busca de homens solitários. Claudine tem uma regra: ela faz sexo com homens que ela escolhe, mas não permite nenhum envolvimento emocional, apenas se encontrando uma única vez. Ela não busca sexo por dinheiro. Ela deseja estar com alguém. Mas um dia, ela conhece o engenheiro hidroelétrico Michael (Thomas Sarbacher), e se apaixonam. A atriz Jeanne Balibar ganhou o Cezar de melhor atriz em 2017 pro 'Barbara", e aqui, ela tra zoutra performance espetacular e com direito a uma cena tocante no final. Para quem gosta de filmes melancólicos e com o aval de ótimas performances ( o jovem Pierre-Antoine Dubey tambem impressiona em seu retrato físico e mental), é um filme imperdível.

Greice

"Greice", de Leonardo Mouramateus (2024) Premiado filme brasileiro, escrito e dirigido pelo cearense Leonardo Mouramateus. O filme venceu o prêmio de melhor filme no Olhar de cinema, e foi exibido em Rotterdan. Filmado em Fortaleza e em Lisboa, Portugal, o filme tem como protagonista Greice (Amandyra), uma estudante de Belas Artes na Universidade em Lisboa. Ela trabalha em um quiosque de rua vendendo café, e também, como assistente de produção de uma cantora portuguesa, Clea (Izabel Zuaa). Greice divide o apartamento com sua amiga fotógrafa, também brasileira, Luisa. Elas conhecem Afonso, o dono de uma casa onde desejam filmar na piscina dele para um clipe. Greice e AFonso se relacionam, mas um evento na faculdade onde um quadro é queimado faz com que os dois sejam penalizados. Irritada com o comportamento de AFonso, Greice teme ter sua residência negada. Sem avisar sua mãe, Greice retorna para Fortaleza para tentar resolver o problema do passaporte, se ecsondendo em um hotel. Ela conta com a ajuda de um amigo adbogado, Bruno, e do recepcionista do Hotel, Enrique (Dipas), com quem acaba se relacionando. O melhor do filme é certamente o seu elenco, espetacular. Trazendo drama, romance e comédia, o filme conta com as ótimas performances de Amandyra, Dipas e de um elenco de apoio maravilhoso e divertido. Fiquei apaixonado pelo hunor de FAela Maya, que faz uma funcionária do hotel, Eliete. Ela é absolutamente hilária.

Last straw

"Last straw", de Alan Scott Neal (2023) Estréia em direção de longa-metragem do cineasta americano Alan Scott Neal, "Last straw" é um terror indie de sobrevivência escrito por Taylor Sardoni. Em algum momento, me fez lembrar do brasileiro "Animal cordial", de Gabriela Amaral Almeida, onde a gerente de um restaurante de estrada precisa sobreviver à invasão do local por um grupo de mascarados violentos. Nancy (Jessica Belkin) é uma jovem que tem os motivos para ser rebelde: seu pai a obriga a trabalhar, contra a sua vontade, em um restaurante isolado de estrada. Ela está grävida de alguem que ela não sabe quem é. Ela sente saudades de sua mãe, falecida. E ainda tem que lidar com clientes violentos e abusivos. Após um grupo de adolescentes perturbar a ordem e ameaçar retornar, Nancy se estressa com a equipe do restaurante e demite todos. Sozinha na noite, ela precisa lidar com o grupo de mascarados que retorna para ameaçá-la. O filme tem pontos positivos e outros que vão contra: Os negativos são uma protagonista irritante e difícil de torcer, e um plot twist bem óbvio. Os positivos são em maior n;umero: tem violência, tem plot twist, tem um flashback interessante mudando o rumo do ponto de vista d ahistória, tem bons atores e boa direção. Pode não mudar o rumo do gênero, mas entretém com seus personagens, mesmo que a toda hora tomem decisões idiotas.

sábado, 21 de setembro de 2024

Não aceite sonho de estranhos

"Non accettare i sogni dagli sconosciuti", de Roberto Cuzzillo (2015) Drama LGBTQIAP+ italiano, "Não aceite sonho de estranhos" é um projeto de baixo orçamento, rodado com apenas 2 atores no elenco e retrata o amor entre dois gays, um italiano e um russo, na Rússia homofóbica de Putin, logo após a promulgação em 2013 de leis anti-publicidade lgbt e relacionamento entre jovens queer menores de idade, sob pena de prisão. O jovem nadador italiano Massimo (Giuseppe Claudio Insalaco) viaja para uma competição em San Petesburg. Ele conhece o tradutor russo Vladimir (Daniel De Rossi) que irá acompanhá-lo, mas eles logo se apaixonam. porém, por conta da lei contra relacionamentos gays, eles escondem a relação. O filme foi justamente criticado pelo público e crítica pela narrativa bizarra e incoerente: para aumentar o tempo de duração, foram enxertados trechos de filmes mudos ambientados na Rússica e outros nada a ver. Essa decisão sem lógica do diretor Roberto Cuzzillo torna a experiência de assistir ao filme bem irritante e fica impossível admirar a história dos dois protagonistas. O filme driblou a falta de orçamento: filmado na Itália simulando a Rússia, e escalando um ator italiano para interpretar um russo. Falta de carisma e química do elenco principal, e romantismo zero.

O dia que te conheci

"O dia que te conheci", de André Novais Oliveira (2023) Melhor filme do juri no Festival de Gostoso e produzido pela Filmes de Plástico, mesma produtora mineira de "Marte um". "O dia que te conheci" é a primeira incursão da premiada produtora no gênero da comédia romântica, com toques de drama social. Protagonizada por Grace Passô e Renato Novaes, que vem a ser irmão do roteirista e diretor André Novais Oliveira, o filme narra um dia na vida dos dois protagonistas, em uma narrativa que lembra "Antes do amanhecer", clássico de Richard Linklater. André realizou os ótimos "Temporada", 'Quintal" e "Ela volta na quinta". zeca (Novaes) é um bibliotecário de uma escola particular que divide a casa com o amigo Lucas. Zeca tem o hábiro de sempre acordar atrasado ou faltar o trabalho. Só que dessa vez, a coordenadora da escola Luísa (Passô) lhe dá a notícia de que ele está demitido. Ao final de seu expediente, Luísa dá carona para zeca retornar para seu bairro. Com a desistência de uma miga para um chopp, Luísa convida Zeca, que aceita. Ambos começam o papo falando sobre tomar tarja preta para ansiedade e depressão,e. ao longo da noite, ela vai até a casa dele. Filmado com longos planos, o filme traz simplicidade na narrativa, mas muita força nas atuações e nos sub-textos impressos nos diálogos, retratando a pressão sobre o dia a dia de pessoas comuns, que precisam cumprir metas e mal conseguem viver suas vidas com dignidade, seja ao pegar transporte público, ou tendo que se deslocar para longas distâncias para o trabalho, ou a falta de comunicação entre as pessoas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Faruk

"Faruk", de Asli Özge (2023) Vencedor do Prêmio Fipresci na Mostra Panorama do Festival de Berlim 2024, "Faruk" é uma mescla de documentário e drama, escrito e dirigido pela cinesta turca Asli Özge. Ela escala seu pai, Faruk Özge, um aposentado de 95 anos, para falar sobre memória, cultura e gentrificação em Istambul, Turquia. Co-produzido por Turquia, Alemanha e França, o filme tem momentos de fino humor, mas no geral, é arrastado e com ritmo lento. Faruk passou quase a sua vida toda morando em um prédio. Ele decsobre que o prédio será demolido para dar lugar a novas contruções. Se unindo a vizinhos, Faruk procura falar com advogados e a construtora e ver a possibilidade de reverter a situação. Entendendo que muuto provável terá que se adaptar a uma nova moradia, Faruk acredita que morrerá antes de conhecer o novo prédio. Sua filha expõe o pai em situações engraçadas e inusitadas, como seduzindo uma jovem de lingerir, ou dormindo e roncando. Mas o que mais gostei mesmo, foi ver imagens de uma Istambul menos exótica e turística, e mais urbana, como um centro metrolopitano de uma grande cidade.

A substância

"The substance", de Coralie Fargeat (2024) Vencedor da Palma de melhor roteiro no Festival de Cannes 2024, "A substância" foi o filme que colocou Demi Moore no radar das grandes premiações, sendo cotada para prêmios de melhor atriz, um feito que Moore praticamente nunca havia participado, por ser conseidarada por muito tempo como uma atriz mediana e de produções comerciais. Coralie Fargeat, tirou Moore totalmente de sua zona de conforto: Moore fica totalmente nua em cena, se descontrói e arrisca em cenas onde poucos com o seu status de Estrela permitiriam. Coralie escreveu o roteiro, homenageando clássicos do terror, como "Carrie", 'O enigma de outro mundo", "O iluminado", "A mosca", e outros ícones do gênero. Eu já havia prestado atenção em seu formdiável trabalho de direção quando em 2017 ela lançou 'Vingança", um filme onde a protagonista feminina mostra aos homens misógenos e tóxicos quem é quem manda. Benjamin Kracun, seu fotógrafo com quem trabalha em seus filmes, é espetacular, trazendo movimentos de câmera, escolha de lentes e fotografia que contam uma narrativa inovadora, ousada e criativa. O filme é uma fábula de terror sobre etarismo em Hollywood e sobre a busca da eterna juventude. Demi Moore é a estrela Elisabeth Sparkle, que já teve seus momentos de auge, mas agora, vive um momento delicado: ela comanda um programa de tv de ginástica ( algo tipo Jane Fonda), mas o produtor do programa, Harvey (Dennis Quaid, insano e genial) decide substituíla por uma jovem, por considerá-la já velha e decadente. Elisabeth fica em choque, e sofre um acidente de carro. Ao acordar se vê em um hospital, mas não sofreu ferimentos. Um enfermeiro a observa e diz que ela é perfeita. Sem entender nada, Elisabeth recebe um pen drive dele, com um produto chamado 'A substância". Indecisa sobre se aplica ou não a injeção, ela decsobre que o produto irá criar uma versão mais jovem dela, mas precisa seguir regras, como trocar de corpo a cada 7 dias e se alimentar com um produto. Assim surge Sue (Margareth Quailey, atriz de Yorgos Lanthimos em "Pobres criaturas" e "Tipos de gentileza"), que por sua beleza. ejuventude, acaba substituindo Elisabeth. Mas logo Elisabeth percebe que Sue está querendo tomar o seu lugar. O filme é longo, 141 minutos, mas eu fiquei o tempo todo fascinado com tudo: roteiro, técnica, performances brilhantes do trio principal. Todo o trabalho de câmera de Carolie é pensado, nada é aleatório. É angustiante, bizarro, corajoso, perturbador e imperdível. Uma hoemnagem explícita ao cinema de Cronemberg.

Surpresa de Shanghai

'Shanghai surprise", de Jim Goddard (1986) Após o grande sucesso de crítica e público de 'Procura-se Susan desesperadamente", Madonna se tornou, além da grande estrela da música pop, uma estrela de cinema. George Harrison, um dos músicos dos The Beatles, era dono da produtora de cinema Handmade films e decidiu produzir um filme que tivesse como protagonistas a cantora Madonna e seu marido da época, Sean Penn. Para isso, ele comprou os direitos do romance "Faraday's Flowers" de Tony Kenrick, publicado em 1978. A idéia era que o filme fosse uma aventura romântica repleta de humor e ação, nos moldes de "Os caçadores da arca perdida" e "A floresta de esmeralda", com um gostinho do exotismo de 'Uma aventura da África", com Humprey Bogart e Katherine Hepburn, que viviam àsa turras pelos gênios inconciliáveis, mas que no final, formassem um par româtntico. Infelizmente, e digo isso, como fã incondicional de Madonna, o filme não ficou bom, é é listado entre os piores filmes do ano de 86, tendo ganho o Framboesa de ouro para MAdonna de pior atriz no ano seguinte. O roteiro, escrito por John Kohn, Robert Bentley e Tony Kenrick não funciona, a direção de Jim Goddard é frouxa e sem ritmo e tanto Madonna e Sean Penn não estão em seus melhores dias, sem carisma e inexpressivos. O que torna o filme ser interessante nos dias de hoje, é a farra que é assistir um filme rodado em Shanghai e Macau, com ótima direção de arte, muita figuração, mas com diálogos fraquíssimos, performances duras do casal principal e cenas toscas, mas divertidas, como a da corrida de riquixá e ou a tentativa de fuga do casal, preso dentro de um baú cesto. Certamente, um filme para fàs de carteirinha de Madonna. Ela não canta no filme. George Harrison escreveu 5 canções para o filme. O filme se tornou a pior bilheteria de sua produtora e foi um enorme fracasso. No ano de 1937, em Shanghai, Madonna é Gloria Tatlock, uma missionária que tem a missão de descobrir o paradeiro de um carregamento perdido de ópio, que deverá ser fornecido a pacientes, a fim de amenizar a dôr. Para isso, ela precisa descobrir o paradeiro do aventureiro e mercenário Glendon Wasey (Sean Penn), que quer decsobrir uma forma de ir embora da China. Os dois juntos se unem em busca do ópio, mas se envolvem com militares, bandidos e traficantes.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Alemania

"Alemania", de María Zanetti (2023) Co-produção Espanha e Argentina, "Alemania" concorreu em San Sebastian e levou os prêmios de direção, roteiro e direção de arte no Cine Ceará 2023. O filme é livremente inspirado na história familiar da roteirista e diretora argentina Maria Zanetti. Ela decidiu escrever o filme em homenagem ao seu irmão, Mariano Zanetti (1975-2019), que era bipolar. O filme é ambientado em Buenos Aires dos anos 90, antes da internet e celulares. Uma família classe média formada pelos pais e 3 filhos: a mais velha, Julieta (Miranda de la Serna), que é bipolar e vive em eterna melancolia pelo fim do relacionamento com seu namorado Lucas; Lola (Maite Aguilar) e o irmão pequeno. Lola tem 16 anos e está sempre com seu walkman, que ela escuta para fugir do mundo ao seu redor. Seus pais passam pro problemas financeiros, e só quem parece entender Lola é a sua avó. Quando Lola tem a oportunidade de estudar na Alemanha por um semestre, ela fará de tudo para juntar dinheiro. Mas até lá, ela briga com os pais, com sua irmã, tenta driblar suas notas baixas, tem o primeiro amor, busca emprego para juntar dinheiro e procura entender o seu lugar no mundo. Um filme gostoso de se ver, repleto de emoções: drama comédia, romance e uma identificação imediata com o espectador pela forma doce e sensível que os personagens são tratados. Os pais, mesmo rígidos, são apaixonantes. Toda a trajetória de Lola é apresentada com muita paixão, até pela forma com que a diretora lida com seu alter ego.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

The time of Huannan

"Huan nan shi hou", de Leading Li (2023) Drama LGBTQIAP+ de TAiwan, "The time of Huannan" é uma fantasia de viagem ao tempo que apresenta a aceitação da homossexualidade em um país que por muito tempo, teve uma política homofóbica das mais radicais da Ásia. Ambientado em 1991 e 2022, pós lockdown, o filme tem como ponto de ligação o mercado de Huannan, famoso entreposto comercial de venda de comida e bebida localizado em Taipei. Nesse mercadão popular, o jovem estudante do ensino médio Chen Yao-hua trabalha no açougue de seu pai, Chen Bao-ding. Um homem avisa Yao Hua que seu pai está no terraço dançando com uma espada e pode se machucar. Yao Hua leva seu pai atormentado para casa. Um curto circuito na estação elétrica acaba atingindo Yaho Hua e msteriosamente, ele é transportado para o ano de 1991. Ele conhece a versão mais jovem de seu pai, e sem revelar quem é, ficam amigos. Yao Hua é confundido com um estudante desaparecido. Ele acaba entrando no grupo de amigos de seu jovem pai: Chang An-jian, de quem seu pai é muito amigo, e Yu Kang-ming, a única mulher no grupo. Yaho Hua acaba se relacionando com ela e para a sua surpresa, ele descobre que seu pai é gay e namora Chang An-jian. Mas por conta da proibição do país em relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, seu pai esconde o relacionamento de todo mundo, até que uma tragédia acontece. É uma pena que o filme seja tão longo, 140 minutos. O drama não sustenta tanto tempo de filme, e acaba cansando bastante com tantos sub-plots, ao invés de focar na história do pai do protagonista. O filme é defendido por bons atores, tem boa fotografia e direção de arte. É um tema importante para um filme de Taiwan, e somente em 2019, o país aceitou casamento com pessoas do mesmo sexo.

AfrAid

"AfrAID", de Chris Weitz (2024) A inteligência artificial se tornou um medo tão grande no imaginário da sociedade, que Hollywood espertamente criou um sub-gênero do terror que é todo em cima da rebeldia dos IA contra os seres humanos. Recentemente tivemos "M3gan" e "Subservience", e agora, "AfraID". Para entender o filme, basta voltar há uns anos atrás quando foi lançado o filme "Ela", com Joaquim Phoenix: e se a voz de Scarlet Johanson criasse vida própria e decidisse tecer o destino de seu dono, alterando toda a sua rotina para o seu bel prazer? Uma família aparentemente feliz: um casal e seus 3 filhos. Curtis (John Cho), Meredith (Katherine Waterston) e os 3 filhos: a adolescente Iris (Lukita Maxwell) e as crianças Preston (Wyatt Lindner) e Cal (Isaac Bae. Curtis trabalha em uma empresa de engenharia da computação e seus chefes lhe pedem que ele seja a cobaia para um experimento de AD: uma inteligência artificial, chamada AIA, (uma espécie de Alexa) foi criada e Curtis deve levá-la para sua casa e testar na rotina de sua familia. Para felicidade de todo mundo, ela ajuda Iris nos estudos e os menores em seus medos. Mas aos poucos, Aia quer assumir o controle da família. Quando os pais decidem desativá-la, entendem que é uma tarefa impossível. John Cho, ator de "Buscando...", já é figura marcada em filmes sobre tecnologia. Ele está na mesma vibe do filme anterior, transitando entre o pai de família e o homem que precisa salvá-la. Katherine Waterston está ótima como sua esposa. O filme funciona bem como passatempo, e mesmo sendo óbvio, ele traz bons sustos e boas sacadas para a vilã.