quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Nokturno

"Nokturno", de Mikhail Red (2024) O cinema de terror filipino adora trabalhar com espíritos ou entidades vindas de lendas ou folclore urbano. "Nokturno" vem corroborar essa linhagem com mais uma entidade, chamada de Kumakatok: espíritos que batem na porta 3 vezes e ao abrir a porta, a vítima escolhe entre morrer ou escolher um ente querido para morrer em seu lugar por um período de 3 dias. Jamie (Nadine Lustre) retorna para a sua cidade natal, no interior das Filipinas, após a morte de sua irmã Joanna. A mãe de Joanna e Jamie, Lilet, acredita que existe a maldição de Kumatatok, mas Jamie não acredita e acha que sua mãe é supersticiosa. Jamie quer levar seu irmão mais novo, Julius, embora com ela para Manilla, mas Lilet não deixa. Manu, namorado de Joanna, quer fazer Jamie acreditar que existe a entidade. O filme tinha tudo para ser um filme assustador, na linha de "Ring" ou "O grito". Mas a fotografia, escura demais, e os efeitos especiais, bem modestos, procuram disfarçar o baixo orçamento do projeto. O filme é óbvio e traz uma ou outra cena com certa tensão, mas a premissa é meio estranha e eu fico toda hora perguntando porque que a pessoa abre a porta se sabe que pode surgir um espírito do outro lado.

A hora do orvalho

"Il punto di rugiada", de Marco Risi (2023) Co-escrito e dirigido pelo cineasta Marco Risi, filho do famoso diretor italiano Dino Risi, "A hora do orvalho" é um melodrama com toques de comédia, mas que traz uma cena pós-crédito muito trágica e triste. Ambientado em 2018, antes da pandemia da Covid, o filme apresenta dois jovens: Carlo (Alessandro Fella) e Manuel (Roberto Gudese). Carlos é um playboy rebelde que provocou um acidente de carro após dirigir drogado e ferir a ex-namorada na batida; Manuel é um traficante de drogas que tem Carlos como cliente. Como puniçao, os dois precisam trabalhar por um ano no asilo para idosos Villa Bianca, e cuidar dos residentes. Durante a estadia, os dois acabam se envolvendo com os idosos e têm suas vidas transformadas. Com um excelente time de atores, principalmente os veteranos, trazendo dignidade à uma história que desde o início, já sabemos que será com um desfecho melancólico. O filme se passa nas 4 estações do ano e portanto, a fotografia tem grande importância na narrativa. O temaa da morte está presente do início ao fim, e as histórias dos residentes comove pela dramaticidade envolvendo doença, suicídio, solidão e amor na terceira idade. O filme lembra no seu desfecho que a Covid matou milhares de idosos na Ita'lia, país com alta concentração de pessoas de terceira idade, as maiores vítimas da pandemia.

Bigayan

"Bigayan", de Ivan Andrew Payawal (2024) Drama erótico LGBTQIAP+ filipino, do mesmo diretor de "Pretty boys" e "Table for 3". "Bigayan" apresenta um casal gay, Harvey (Jesse Quinto) e Kent (Mike Liwag). Eles estão juntos há 7 anos, em um relacionamento em aberto, onde Kent participa de orgias com outros homens e insiste para que Harvey participe. Harvey vai a contragosto, mas durante o sexo com outros homens, ele se permite apenas beijar Kent. Um dia, Harvey decide conversar com Kent sobre o seu desejo de manterem um relacionamento apenas os dois, fechado. Kent ignora os pedidos do amado, alegando que não quer constituir família e quer poder ter outros relacionamentos. A crise está instalada. Metade do filme é muito sexo e muita sacanagem, e a outra metade, focada na discussão do casal, apenas. Curioso que o diretor Ivan Andrew Payawal lançou há pouco tempo a comédia romântica teen "Pretty boys" que tem um tom totalmente diferente desse aqui. Não curti muito "Bigayan": as cenas de sexo são muito fakes e nitidamente, tudo encenado sem tesão e apenas com marcação mecanizada de corpos nus. Na parte do casal, os diálogos até que são bons, botando na pauta um comportamento que voltou com força total nos dias de hoje, que são os relacionamentos abertos, com eventos de sexo com muitos participantes. Amor ou sexo? Vale uma boa discussão, principalmente no universo queer.

Todas as longas noites

"Yoake no subete", de Shô Miyake (2024) Adaptação do romance homônimo escrito por Maiko Seo, 'All the night longs", "Todas as noites longas" é dirigido pelo mesmo cineasta do premiado drama "Samll slow but steady", sobre a história de uma boxeadora com deficiência auditiva. Agora , Shô Miyake apresenta dois protagonistas: Misa (Mone Kamishiraishi) e Takatoshi (Hokuto Matsumura). Os dois são jovens e prometiam um futuro brilhante em suas profissões de alto padrão. Mas tanto Misa quanto Takatoshi possuem doenças mentais que os impedem de se socializar e de enfrentar obstáculos maiores em seus trabalhos. Misa, recém formada, sobre de síndrome pré-menstrual, que a deixa irritada e violenta. Ela acaba perdendo o seu emprego. Ela mora com a sua mãe compreensiva, que tenta ajudá-la de todas as meneiras. Cinco meses depois, Misa consegue um trabalho na pequena empresa Kurita Optics, que produz microscópios para crianças. Os funcionários e o dono são compreensivos com a sua doença e a auxiliam. Lá, também trabalha Takatoshi, que também abdicou de seu emprego para se dedicar à fabricação dos microscópios. Ele tem síndrome do pânico, o que traz graves problemas no trabalho e com a sua namorada, toda a vez que tem surtos. Misa se identifica com Takatoshi, que d einício, é bastante arredio à ajuda dela. Mas aos poucos, os dois acabam se entendendo em suas dificuldades sociais e encontram formas de lidar com suas doenças. O cinema de Shô Miyake é bastante contemplativo, de ritmo lento, um registro quase documental de vidas mundanas onde quase nada acontece em termos de conflitos. Acompanhamos o dia a dia de personagens introspectivos, que em suas pequenas ações e movimentos, trazem um glimpse de felicidade ou tristeza, bastante comoventes em sua simplicidade. Me lembrei de "Dias perfeitos', de Win Wenders, que tem essa mesma pegada.

Apocalipse Z - O princípio do fim

"Apocalypse Z- el principio del fin", de Carles Torrens (2024) Adaptado do livro do romancista espanhol Manel Loureiro, "Apocalipse Z- O princípio do fim" é um filme de zumbis genérico igual a qualquer outro filme recente que você já viu, tipo "Guerra mundial Z" ou "Trem para Busan", ou claro, séries como "Walking dead" ou "The last of us". Nessa variação de filme de zumbis, os seres humanos são mais perigosos que os zumbis em si. Na Espanha, Manel (Francisco Ortiz). precisa lidar com o luto, após sua esposa morrer durante um acidente de trânsito. SOlitário e morando apenas com seu gato, Manel conta com o apoio emotivo de sua irmã Belén (Marta Poveda", casada e com filho pequeno. O mundo sofre uma nova pandemia, após o Covid, e todo o serviço fecha novamente. Belén e família se mudam para as Ilhas Canárias. Quando Manel decide viajar, o aeroporto e todos os serviços fecham. Para piorar, as pessoas se tornam agressivas. epassam a se matar uns aos outros. Mane;, junto de seu gato, precisam chegar até as Ilhas Canárias para se juntar à sua irmã. Mas além dos zumbis, Manel precisa lutar contra soldados ucranianos violentos. Para quem está acostumado com essa história genérica de ataque de zumbis , o filme não traz novidade alguma, e ainda sofre de falta de orçamento. O ritmo é lento e o filme acaba parecendo bem mais longo do que é. O final deixa a história em aberto para uma continuação.

Não solte!

"Never let go", de Alexandre Aja (2024) Em 2003, o cineasta francês Alexandre Aja despontou para o mundo com o excelente filme de terror "Alta tensão", um dos maiores exemplos do sub-gênero "French extreme", que nos trouxe obras como "Mártires" e "A invasora", filmes onde a violência era bastante explícita e radical. O filme chamou atenção de Hollywood e logo ele foi chamado para refilmar um clássico de Wes Craven, rebatizado de "Viagem maldita". O filme foi outro excelente exemplo da capacidade de Alexandre Aja de mexer cm os nervos do público em mais um exemplo de filme extra gore. Na sequência, dirigiu outros filmes que não obtiveram o mesmo sucesso de crítica e público, como "Piranha 3D", 'Amaldiçoados", um filme bizarro com Daniel Redcliffe interpretando um rapaz que convive com chifres. Em 2019, lançou o ótimo "Predadores assassinos", com jacarés assassinos que atacam a população durante o furacão Katrina de New Orleans. Agora, retorna com "Não solte˜", um terror sobrenatural e pós apocalíptico, protagonizado por Haley Berry. O filme lembra filmes de M. Night Shyamalan ( não posso falar do filme específico, pois será um mega spoiler, mas a idéia é totalmente roubada dele) e de Jordan Peele, especialmente "Corra!", Em "Não solte!", os roteiristas KC Coughlin e Ryan Grassby se apropriam do terror para falar de metáforas relacionadas a fanatismo religioso e sobre o amor exacerbado de uma mãe para proteger os seus filhos do mal do mundo. Berry interpreta Momma, mãe do adolescente Sam (Anthony B. Jenkins) e da criança Nolan (Percy Daggs). Eles moram em uma floresta, isolado de tudo, em um mundo pós-apocalíptico. Momma proíbe seus filhos de vagarem sozinhos pela floresta, e delimita até aonde eles podem caminhar, amarrando-os à uma corda, e para sempre andarem juntos. Segundo ela diz aos filhos, figuras monstruosas circundam a região. Após um acidente, Sam começa a questionar a veracidade da história contada por sua mãe, mas Sam é muito ligado à ela e começa a se irritar com as inquietudes do irmão mais velho. Eu queria ter gostado do filme, mas fiquei frustrado. O terror não assusta, as aparições dos espíritos da floresta são genéricas. A personagem de Berry é construída sem camadas, e passa boa tarde do tempo em um registro de uma mãe alucinada e violenta. A melhor construção fica para o filho adolescente, uma simbologia sobre os conflitos de um jovem que passa a questionar tudo que lhe é imposto pela sociedade e pela educação.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Corte no tempo

"Time cut", de Hannah Macpherson (2024) Terror slasher teen, "Corte no tempo" me remeteu o tempo todo ao recente "Dezesseis facadas", slasher de 2023 que traz exatamente o mesmo mote: uma jovem volta ao tempo, usando uma máquina do tempo criada por um cientista, e procura evitar que um serial killer mata pessoas que ela ama. Em 2024, Lucy (Madison Bailey) mora com seus pais. Mas ela, mesmos endo uma excalente estudante e estagiando na Nasa, se ressente do amor ausente de seus pais: em 2003, sua irmã SUmmer (Antonia Gentry), que ela não conheceu, foi assassinada por um serial killer. Acidentalmente, Lucy encontra uma máquina do tempo e ao mexer nela, ela retorna dias antes do assassinato de Summer, em 2003, e aí, decide intervir no passado e encontrar o serial Killer. Para isso, ela conta com a ajuda de Quinn (Griffin Gluck), um nerd que sofre bullying dos estudantes. Bom, se voc6e assistiu a "16 facadas", fica fácil de saber quem é o serial killer ( descaradamente, "Corte no tempo" parece ter copiado tudo). Não que "Corte no tempo" seja previsível ou ruim: ele entretém para quem não etsá exigindo muita coisa em um slasher ( as cenas de assassinato são leves, e o filme certamente aposta nu público mais jovem). O que é interessante no filme, é a sub-trama de pano de fundo, da jovem, Lucy, em busca do amor dos pais no passado, um sentimento que ela nunca teve no futuro.

Television

"Television", de Taj (2022) Comédia romântica indiana, com elementos de drama e fundo temático que fala sobre o quanto a posse de algum elemento faz diferença para a ascenção social. Nos anos 70, duas famílias vivem na mesma vila: a família de Tari (Kulwinder Billa) e a família de Raano (Mandy Takhar). Quando todos se reúnem pela primeira na casa de um morador que comprou uma tv, Tari e Raano se olham e se apaixonam e querem se casar. Mas a mãe de TAri impõe como condição ao casamento, que os pais de Raano querem uma tv em troca da mão da filha. O filme é bem ingênuo, com um humor cândido e atuações caricatas. Bem colorido na fotografia e na direção de arte, "Television" traz um elenco divertido em cenas bem pastelão. E como não podia deixar de ser, reserva uma cena musical bem romântica entre Tari e Raano, mas sme os ares de super produção dos filmes que costumam circular pelo mundo.

Korean town ghost story

"Koreantown ghost story", de Minsun Park e Teddy Tenenbaum (2021) Vencedor de mais de 100 prêmios internacionais, o curta de terror co-produzido por Coréia do Sul e Estados Unidos "Koreantown ghost story" parte de uma tradicional recimônia sul coreana: quando um dos filhos é prometido de casamento a alguém, mesmo na morte de um deles, o outro mantém a promessa. Hannah (Lyrica Okano) recebe um convite da Sra Moon (Margaret Cho), a mãe de Edward, um rapaz que morreu em acidente, mas quando mais jovem, foi prometido de se casar para Hannah. Sra Moon é uma famosa acunpurista e pede para Hahhan se deitar em uma maca enquanto conversam. Acontece que as agulhas que a Sra Moon colcoca em Hahan estão enfeitiçDas e fazem com que Hannah perca seus movimentos. É a deixa para que o espírito monstruoso de Edward venha revindicar a sua esposa. O filme traz elementos de humor e terror com aquela típica narrativa over de filmes sul coreanos. Os efeitos são bons e bastante eficientes para um filme de orçamento pequeno. Com ótima fotografia, direção de arte e atores, o filme traz elementos suficientes para entreter o público.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Glitter & Doom

"Glitter & Doom", de Tom Gustafson (2024) Premiado drama romântico co-produzido por Mexico e Estados Unidos, "Glitter & Doom" é um musical com canções das "Indigo girls". Eu confesso que não conhecia a dupla e fui pesquisar: elas formam uma dupla de cantoras queer americanas que surgiram nos anos 80, e trabalham com o gênero folk rock. Elas são Amy Ray e Emily Saliers, que aparecem fazendo participações no filme. O filme é um romance musical queer: Glitter (Alex Diaz), descendente de filipinos, é um estudante de escola de palhaços que sonha poder estudar na faculdade de palhaços de Paris. Doom (Alan Cammish), jovem inglês, sonha em ser um cantor no clube noturno La Fontaine. Quando os dois se conhecem, é paixão à primeira vista. Ambos possuem mães que querem que os filhos abdiquem de seus sonhos e busquem outras alternativas de trabalho, mas eles insistem que querem fazer o que amam. O filme tem uma história simples, com narrativa bem óbvia, e traz 25 canções das Indigo Girls, em versões com novas roupagens. Pela quantidade de músicas e de números musicais, o filme acabou ficando longo, quase 2 horas, e se torna repetitivo. Não sei se para mim, mas o fato de eu não conhecer nenhuma das músicas me afastou um pouco da narrativa, e são músicas que na maioria, não curti. Mas os números de coreografia são interessantes, e mesmo sendo uma produção de médio orçamento, traz valor de produção. Os atores são carismáticos e ajudam a tornar o filme mais agradável de se assistir.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O que escrevemos juntos

"Lo que escribimos juntos", de Nicolás Teté (2024) Um roteiro pronto para ser uma peça de teatro com 3 atores: um casal gay na faixa dos 30 anos e uma melhor amiga, na mesma faixa etárea. Escrito, dirigido e produzido pelo cineasta argentino Nicolás Teté, o filme contou com o apoio da Universidade del Cine e foi rodado durante 9 dias em Villa Mercedes, San Luis. De baixo orçamento, o resultado final é agradável e com bom resultado técnico. O filme fala sobre relacionamento e as diversas etapadas que passam um casal, entre momentos de euforia, alegria, melancolia, crise e recondução. Mariano (Santiago Magariños) é um designer gráfico que decidiu se tornar um criador de plantas em viveiros. Juan Diego (Ezequiel Martinez) é um escritor de sucesso. O casal está junto há 6 anos. Mariano sempre sonhou que eles mudassem para a serra e poder criar pequenas estufas para criar suas plantas. Com um livro de sucesso recém lançado, Juan decide realizar o desejo do amado, e ambos se mudam para uma casa afastada na serra. Felizes e convivendo em harmonia, o casal recebe a visita da melhor amiga de Juan, Carla (Nazarena Rozas), que veio para trazer a notícia de que está grávida. Durante a sua estadia de alguns dias, revelações, intimidades e conversas sobre família e relacionamento fazem com que Juan repense a família que está criando com Mariano, e entra em crise. O filme é assumidamente inspirado na trilogia "Antes do amnahecer", de Richard Linklater, e nos dramas independentes de Ira Sachs, segundo o diretor. Com muitos diálogos e vida em rotina, o filme se baseia em pequenas ações e um rompante na relação que surge mais pro final. Até então, é uma vida mundana e simples, de pessoas que se amam, e como tal, tem suas emoções a flor da pele. Os três atores principais são bons, e as cenas de sexo e intimidade chamam atenção pela veracidade.

Pretty boys

"Pretty boys", de Ivan Andrew Payawal (2024) Um simpático drama romântico LGBTYQIAP+ filipino, "Pretty boys" é um BL que vai deixar muita gente triste no seu final. Afinal, em todo triângulo amoroso, cada um paosta em uma decisão, e a do protagonista Grey (Tommy Alejandrino) pode não agradar alguns. Eu mesmo preferiria um outro final. Grey é um estudante assumidamente gay, e é totalmente afeminado. Se veste de forma espalhafatosa, com roupas chamativas e seu jeito de falar e agir é bem afetado. Seu melhor amigo é o igualmente gay mas mais discreto Jonas (Kiel AGuilar), e juntos, dividem anseios, alegrias e frustrações. Ambos sofrem no amor: Grey acredita que por ser afeminado, as pessoas o rejeitam. E Jonas acredita que quer ficar sozinho, sem procurar pela sua cara metade. Um dia, Yates (Markus Peterson), o grande crush da vida de Grey, retorna para a escola. Grey se anima todo e acredita que Yates está a fim dele: mas descobre que Yates está a fim de Jonas e pede ajuda de Grey para chegar nele. O filme tem um roteiro simples, mas traz um plot twist interessante mais pra frentem que deixará Grey em um grande dilema, e que faz lembrar "A garota do rosa shoking", clássico de John Hughes. Os três atores bem carismáticos, o filme tem momentos divertidos e diálogos que em alguns momentos parecem ter saído de uma novela mexicana. Mas os exageros do filme são bem vindos para um público que está a fim de curtir um bom romance.

O crítico

"The critic", de Anand Tucker (2023) Adaptação do romance escrito por Anthony Quinn em 2015, "Curtain call", "O crítico" é um drama que mistura sub-tramas que o colocam com toques de gênero suspense, lgbtqiap+ e até um fino humor inglês. Protagonizado por Sir Ian McKellen, no papel do crítico teatral arrogante e cruel Jimmy Erskine, na Londres de 1930. Ele escreve para o famoso jornal "The daily chronicle", na coluna sobre teatro. Todos o temem, e Jimmy gosta de manter essa persona respeitada e ao mesmo tempo, de um quase Deus, que humilha as pessoas. Mas quando o dono do jornal morre, seu filho, Richard Brooke (Mark Strong), o novo sucessor da empresa, decide que quer fazer mudanças na coluna de Jimmy, e ser mais caloroso nos comentários. Richard na verdade está apaixonado pela atriz Nina Land (Gemma Aterton), que se tornou a nova vítima de Jimmy, que faz críticas horríveis ao trabalho dela nos palcos. Richard quer que Jimmy elogie a performance de Nina e mais, quer que ele a chantageia para que se torne a amante dele, caso contrário, ele o demitirá. Jimmy tem um jovem secretário, Tom (Alfred Enoch), um rapaz negro que o ajuda a escrever as críticas e secretamente é seu amante. O cinema sempre reservou ao papel do crítico, quando retratado como personagem, um lugar de frivolidade, arrogância, frieza e ser desprezívele. solitário. Jimmy, de Ian Mckellen, não foge a esses adjetivos. Me lembro de Vincent Price em "As sete máscaras da morte" que decide matar um por um de seus críticos. Jimmy é o tipo de personalidade que todo ator certamente já temeu na vida e que conhece. ALguém que tem o prazer de humilhar e destruir carreiras. O filme mistura tramas com personagens que surgem, indo desde uma sub-trama policial de assassinato, até a prisão de Jimmy e Tom por atos libidinosos em público, sendo presos numa época onde a humossexualidade era proibida. É um filme para se apreciar performances, que são muito boas. Mas "O crítico" é um filme de ritmo lento e cansativo, e tantas sub-tramas acabam desviando o rumo da narrativa.

domingo, 27 de outubro de 2024

Conclave

"Conclave", de Edward Berger (2024) O cinema já nos trouxe diversos filmes sobre conclave, ou eleição para a escolha do novo Papa, realizado pelo Colégio dos cardeais. Entre eles, 'Habemus Papa", de 2011, de Nanni Moretti, e "Dois papas", de Fernando Meirelles, de 2019. Adaptado do romance escrito por Robert Harris, "Conclave" em 2016, o filme foi dirigido pelo alemão Edward Berger, do vencedor do Oscar de filme internaiconal "Nada de novo no front". O filme é um show de performances que enchem os olhos com tantos atores talentosos em cena. É o tipo de filme que recebe aplausos e prêmios, pela sua qualidade artistica, não só nas atuações, mas em todos os quesitos técnicos: fotografia, direção de arte (rodado em Roma e Latzio, os interiores foram reconstruídos no famoso estúdio Cinecittá), trilha sonora, edição, figurino, maquiagem. Mas existe p, porém, um elemento dramatúrgico, revelado nos últimos 10 minutos do filme, que trazem um dos plot twists mais inesperados que você tyerá visto nos últimos anos. E esse tema pode ser que choque religiosos mais conservadores. Ao mesmo tempo conectado com os novos tempos de pautas e diversidade, é um tapa na cara dos que prezam a manutenção do conservadorismo em uma das instituições, senão a maior, poderossa no mundo, a religião. Quando o Papa morre de infarto, imediatamente é anunciado um conclave para a escolha de seu sucessor. Cardeais do mundo inteiro seguem até o Vaticano para, dentro de um rigorosíssimo esquema de segurança, passarem a véspera e o dia da votação em total sigilo e sem contato externo. Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de supervisionar o conclave papal. Entre os candidatos à sucessão, estão: Cardeal Bellini (Stanley Tucci), de postura liberal; o Cardeal Adeyemi (Lucian Msamati), que é homofóbico; o Cardeal Tedesco (Sergio Castellitto), que foi um crítico do papa anterior, acusando-o de ser muito aberto a novas pautas dentro da igreja e que por isso, desviou os interesses do catolicismo; Cardeal Tremblay (John Lithgow), que deseja ser o novo Papa; e por último, o cardeal mexicano Benitez (Carlos Diehz), que teve a sua candidatura apoiada pelo papa anterior. Lawrence diz a Bellini que não deseja ser o novo Papa, e que para isso, ele seguirá todos os preceitos para a ecsolha do sucessor. Mas intrigas e segredos escandalosos vão surgindo e derrubando cada um dos candidatos. Isabella Rosselini interpreta uma das poucas personagens femininas, Irmã Agnes, responsável por um ótimo momento de revelação. O filme é anunciado como trhiller, mas é um excelente drama conduzido com muita competência por todos os envolvidos.

Individual circunstances

"Individual circunstances", de Jung-Wan, HanJunq e Shi-Hyuk Cha (2023) Drama romântico LGBTQIAP+ BL (Boy love) sul coreano, "Individual circunstances" foi originalmente lançado como série e esse longa é a versão condensada. O filme apresenta o jovem cineasta Ha Yeon Woo (Han Jung Wan), um prodígio que fez enorme sucesso de crítica e público com o seu primeiro filme. Mas agora, ele está em crise. Cobrando para fazer seu segundo longa, ele está sem idéias e fica inseguro se realmente vai manter o interesse do público. Ha decide entrar em contato com o jovem escritor de romances de sucesso Sung Woo Jae (Kang Joon Gyu). Eles se conheceram no passado, mas nunca mais mantiveram contatos. Triste pelo fim de um relacionamento, Sung decidiu se isolar em sua casa afastada e desde então, vive sozinho escrevendo seus livros. Quando Ha surge na sua casa propondo que ele escreva um roteiro para ele, Sung o ignora. Ha decide acampar na casa de Sung até ele lhe dar atenção. O filme é baixo orçamento e possui poucos personagens. Mas o seu roteiro, simples mas baseado nos clichês dos opostos que se atraem, é bem fofo e os personagens são muito carismáticos, auxiliados pelo talento dos dois protagonistas. É um filme que faz o público torcer pelo casal e certamente, o final vai emocionar.

sábado, 26 de outubro de 2024

Levados pelas marés

"Feng Liu Yi Dai", de Jia Zhang-ke (2024) Eu sou um grande apaixonado pelo cinema de Jia Zhang-Ke, e em "Levados pelas marés", drama que concorreu no Festival de Cannes 2024, Jia revisita os temas que ele tem apresentando em quase todos os seus filmes: o amor rejeitado, a China em constante mudança para a abertura econômica e em conflitos entre o provinciano e o moderno, as memórias afetivas, a violência das gangues, a invasão da cultura ocidental através das artes e música, a decadência do maoísmo. Mas mais do que a revisitação temática, Jia revisita os seus filmes, e em alguns casos, traz citações explícitas a personagens e cenas de filme (como é o caso de "Em busca da vida'). O filme engloba 22 anos na vida de um casal, Qiaoqiao (Tao Zhao) e Bin (Li Zhubin). Nascidos na cidade de Datong, onde os homens trabalham em sua maioria na extração em minas de carvão, o filme começa em 2001. Qiaoqiao é modelo e se apresenta em fachadas de lojas para vender produtos, além de curtir baladas de música eletrônica com seu companheiro, o malandro metido com pequenos golpes. Quando Bin anuncia que quer alçar vôos maiores, se mudando para Fengjie, que vai coeçar o seu processo de modernização com a barragem das 3 gargantas, Quiaqio se desespera, se sentidno abandonada. Em 2006, ano em que Pequim foi escolhido para sediar as Olimpíadas, Qioaqiao decide ir até Fengjie procurar pro Bin, que nunca mais mandou mensagens. O filme depois pula para 2022, ano da Copa no Qatar e com o mundo ainda na pandemia. Quiaqio trabalha como caixa de mercado em um supermercado e tem uma grande surpresa. Jia Zhang Ke trabalha cada uma dessas 3 partes com um protagonismo: no 1o, o casal, o 2o, em Qioaqiao, e no 3o, com Bin. É um filme de imagens fantásticas, épicas, com texturas de câmeras variadas entre a Dv cam que o próprio Jia filmou em 2000 e variando o formato d etela ao longo da projeção. A homenagem que o diretor faz em "Em busca da vida" chega a emocionar: os mesmos dois protagonistas repetindo seuys papéis e usando o memso figurino. Idem em uma cena onde ele repete a mesma marcação de "Um toque de pecado", onde em plano único, Qiaoqiao tenta ir embora mas é repelida violentamente por Bin inúmeras vezes. E em uma sub trama ousada, Zhang Ke acena para personagens queer, em uma cena homoerótica e inédita na filmografia do cineasta.

Não se mexa

"Don't move", de Brian Netto e Adam Schindler (2024) Produzido por Sam Raimi, "Não se mexa" é um trhiller de sobrevivência sobre uma mulher suicida que é convencida por um serial killer a não se matar e quando ela está retornando para casa, ele injeta um produto nela que a imobiliza. O restante do filme, é essa mulher tentando encontrar soluções para fugir do serial killer. íris (Kelsey Asbille) é a sucida: desde a morte de seu filho, pelo qual ela se sente culpada, ela não encontra mais razões para viver. Ao subir para a mesma montanha onde o filho morreu, ela conhece o simpático Richard (Finn Wittrock), que a convence a não se matar. Mas Richard tem seus planos: ele encontra desconhecidos e os mata. O barato do filme e a razão dele existir, é como que íris, dopada e sem poder mover um músculo, poderá sobreviver? Esse mote já foi visto em outros filmes, mas aqui ele ganha um plus a mais por ter sido produzido por Sam Raimi. Mas o filme não tem a violência que se espera, é mais brando, e acaba sendo um duelo de interpretações de duas boas performances, e no caso de Kelsey, um trabalho ainda mais físico, que é o de interpretar com o olhar. O desfecho é bem Deus ex-machina, mas tá valendo, pois o filme tem a sua mensagem bem clara pro público.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Mads

"Mads", de David Moreau (2024) Filme de terror de zumbis todo rodado em um único plano-sequência, "MadS" impressiona pela sua produção: praticamente, fecharam toda uma cidade para fazer a filmagem, já que o filme circula em quase todas as ruas e interiores de diversos prédios e casas. Exibido em importantes festivais de cinema de gênero, como Sitges, "MadS" é um grande tour de force de direção, produção, fotografia, câmera e trabalho de atores e figuração, para fazer tudo funcionar em sincronia. Asism como no alemão "Victoria", ter rodado em plano sequência tem seus prós e contras: o pró é o desafio técnico que enche os olhos do espectador. O contra é que nesse tipo de narrativa, metade do filme é encheção de linguiça onde a câmera acompanha os personagens e absolutamente, nada acontece. Em um filme de terror, isso é ruim, pois faz a tensão perder impacto e torna o ritmo lento, enfadonho e tedioso. Recentemente, teve o terror "A natureza do mal", onde a câmera em estilo 'Elefante", de Gus van Sant, acompanhava ums erial killer por um acompamento, e toda a travessia fazia o filme perder o interesse. A história é simples: Um jovem, Romain (Milton Riche), está na casa de um traficante se drogando e comprando drogas para uma festa da galera. Na estrada, ele esbarra com uma jovem com aparência de doente, que acaba mordendo Romain. Aos poucos, ele vai sentindo que seu corpo está em transformação. Ele segue com sua namorada, Ana (Laurie Pavy) para a festa. A melhor amiga de Ana, Julia (Lucille Guillaume) também está por ali. Romain acaba infectando Ana com um beijo. A noite começa a tomar proporções bizarras e fora de controle. O filme realmente merece um prêmio de produção e de fotografia e câmera pela forma como conseguiram filmar nas ruas e também pela excelência técnica. Muitos momentos são brilhantes. Mas filmar em plano sequencia fez o filme perder ritmo em muitos momentos, e por mais divertido que seja acompanhar a virtuose da câmera, fica a impressão que é tudo meio que pela técnica, e nada de dramaturgia.

If I die in America

"If I die in America", de Ward Kamel (2024) Concorrendo nos Festivais de SXSW e Palm Spring, "If I die in America" é um drama LGBTQIAP+ co-produzido por Estados Unidos e Porto Rico. O filme é escrito e dirigido pelo cineasta sírio baseado nos Estados Unidos Ward Kamel. Um casal gay, Manny (v), americano, e Seemer (George Shakkour), síiro, moram felizesm em New Jersey. Após um acidente de carro que mata Seemer, Manny tenta sobreviver a um luto doloroso pela morte do marido. Mas para sua surpresa, uma enviada da família de Seemer, Dalal (Hana Chamoun), vinda do Oriente médio, precisa que Manny assine documentos para liberar o corpo de Seemer o quanto antes de volta para a Síria, pois pela tradição muçulmana, ele deve ser enterrado o quanto antes. Manny se recusa a assinar, pois quer que seu marido seja enterrado nos Estados Unidos. Trava-se uma discussão sobre quem tem os direitos sobre o corpo, e a homofobia da família de Seemer vem à tona. Um bom filme dirigido com sensibilidade por Ward Kamel, que se inspirou na história quando ele mesmo refletiu sobre, caso ele morresse nos Estados Unidos, o que aconteceria com o seu corpo. Os atores são hábeis em trazer a tensão e a ansiedade de um assunto bastante complexo.

Terrifier 3

"Terrifier 3", de Damien Leone (2024) Iniciada em 2016, a franquia "Terrifier" seguiu em 2022 e agora em 2024, onde mais uma vez, se espalham memes na rede social de que o público nas sessões de cinema desmaiaram e vomitaram. Se é verdade ou não, os produtores encontraram um filão interminável para as travessuras do palhaço assassino Art. Sim, a essa altura do campeonato todo mundo já sabe que ele não morre, pois os produtores já divulgaram que a franquia terá pelo menos mais 2 filmes. E para que assistir a um filme onde o assassino não morre? Mesma pergunta que faz as pessoas cultuarem franquias de sucesso como "Sexta feira 13" ou "A hora do pesadelo", ou "Halllowwen": para zoar junto dos serial killers e torcer que eles matem mais e mais pessoas que estão ali só para serem trucidadas, das piores formas possíveis. Pois nem "Jogos mortais" chegou perto das cenas de morte: aqui tem de tudo. Serra elétrica, machados, escalpos, ratos , explosões, etc. Todo mundo comenta da cena do chuveiro, mas pra mim a pior é a dos ratos, que maldoso esse Art!! 5 anos depois da história anterior, Sienna (Lauren LaVera) vai morar com seus tios Greg (Bryce Johnson) e Jessica (Margaret Anne Florence) e a sobrinha Gabbie (Antonella Rose). Seu irmão, Jonathan(Eliott Fullam), está na faculdade. Art ressuscita com a ajuda de Victoria e agora, a dupla sai massacrando geral, até claro, dar de cara com Sienna. "TErrifier 2" tinha 138 minutos de duração. A parte 3 tem 125 minutos. Sim, continua longo, com cenas desnecessariamente estendidas só para provocar tensão e explorar melhor as personagens e a questão sobrenatural de Sienna e sua espada. Mas certamente o público quer ver a porradaria gore extreme, e ninguém pode sequer reclamar que não foi agraciado com cenas mega hiper bizarras, amaciadas com o humor clownesco de Art. Fico imaginando aonde nos próximos filmes a chacina irá parar em termos de criatividade. E Damien Leone tem um diferencial porque ele traz qualidade técnica ao filmes, com bons atores que dão veracidade às loucuras do roteiro.

Hesitation wound

"Tereddüt Çizgisi", de Selman Nacar (2023) Concorrendo no Festival de Veneza 2023, "Hesitaion wound" é uma co-produção Turquia, França, Romênia e Espanha. O filme acontece em 1 dia na vida da advogada criminalista Canan (Tülin Özen). Canan nasceu na cidade de Usak, de onde saiu para estudar no Reino Unido e trabalhar em Istambul. Ao retornar à cidade natal para defender um cliente, Musa (Oğulcan Arman Uslu), acusado de assassinar o seu chefe, Canan é repreendida pela irmã, pelos populares e pelo juiz, que a consideram uma estrangeira por não ter permanecido na cidade. A mãe de Canan está em coma vegetativo e sua irmã quer doar os órgãos, mas Canan resiste a desligar os equipamentos. Para piorar, ela está com úlcera que tem provocado tonteiras e dores. Musa diz à Canan que se ele perder a sentença, ele irá se matar, para evitar de ser torturado na prisão. Com tanta pressão, Canan precisa entender a lidar com a sua ansiedade e sua forma fria de lidar com a vida, sem saber diferenciar a vida pessoal da profissional. O filme me lembrou bastante de "Anatomia de um crime": são filmes que ficam o tempo todo nas costas de uma protagonista, que carrega o filme inteiro com performance excelente e com diversas camadas. Ambientado quase todo em um tribunal, o filme varia de drama para suspense, à medida que vai avançando. E a decisão final deve deixar os espectadores frustrados. Mas no final das contas, o que interessa ao diretor e ao roteirista e entrar na alma dessa alma, e acompanhar a turbulência de seus atos. O plano final é belíssimo, em plano geral, acompanhando a chegada de uma tempestade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Lubuk

"Lubuk", de Lee See Teck Mark (2024) Thriller de terror da Malásia, "Lubuk" apresenta Titi e seu filho Dirwan, que há décadas administram uma clínica de recuperação para pessoas sem teto e sme familiares. Ali, as pessoas chegam e permanecem, com comida, cama e roupa lavada. Nesse ambiente, os moradores se tornan amigos dos funcionários, entre eles, de uma enfermeira. Mas Titi e Dirwan possuem outros planos: na verdade, a clínica é fachada para tráfico de órgãos roubados dos moradores, que são mortos e têm todos os seus órgãos retirados. Dirwan tem um crush na enfermeira, mas ela, junto de alguns pacientes, começam a suspeitar da clínica. O filme parece aqueles filmes B dos anos 80, com muita violência e atmosfera decadente, trazendo uma narrativa assustadora e trágica. As cenas onde os pacientes são mortos , têm os órgãos retirados e depois, eles são transformados em carne moída e almôndegas onde no dia seguinte os pacientes comem!!!!!!! é bastante gráfica. Os atores que interpretam os vilões Titi e Dirwan são ótimos na performances, intensificando muito nas maldades, parecem saídos de uma novela mexicana.

Uma casa em chamas

"Casa en flames", de Dani de la Orden (2023) Drama espanhol que renderia uma excelente peça de teatro. O filme traz leves toques de humor, mas o que se sobressai é a melancolia e a dor de uma mulher de meia idade, Montse (Emma Vilarassu), que percebe que está em uma fase de sua vida onde perdeu tudo aquilo que ela acreditava fazer parte de uma estrutura que a mantivesse em pé: o marido, Carles (Alberto San Juan), a abandonou por uma outra mulher; seus dois filhos já adultos, David (Enric Auquer) e Julia (Maria Rodriguez Souto) já possuem outros interesses na vida e já não dão tanta atenção para a mãe. Para piorar, a mãe de Montse acaba de falecer. Tentando reunir toda a família novamente, Montse decide vender a casa de praia que a família tem. O que Montse acredita sera oportunidade para resgatar um amor perdido, se torna um final de semana de decsobertas muitas vezes dolorosas. Calcado no ótimo trabalho de todo o elenco, em especial de Emma Vilarassu, o filme é bem dirigido com bastante sensibilidade por Dani de La Orden. Bem enquadrado e com fotografia conectada à atmosfera da narrativa, muitas vezes me vi assistindo a um filme de Bergman, por conta dos diálogos e das situações reveladoras da história.

Teddy bear

"Teddy bear", de Konstantinos Menelaou (2022) Um curta LGBTQIAP+ grego experimental, "Teddy bear" são memórias e reminiscências de um home, que deixa seu namorado em Londres, e por isso, optou por romper com a relação, e preferiu retornar para Atenas por oportunidade de emprego. O filme é repleto de belas imagens em preto e branco, corriqueiras e do dia a dia do homem, incluindo imagens homoeróticas. Um poema visual com narração em off e que tra zum tom de melancolia e solidão.

Leviticus 20:13

"Leviticus 20:13", de Paco Torres (2023) Ótimo thriller LGBTQIAP+ espanhol sobre um homem, Damián (Antonio Sides), que decide se vingar de um grupo de padres que o estuprou quando ele tinha 7 anos de idade. Agora, um a um, ele os seduz e os mata barbaramente. Como roteiro, "Leviticus 20:13" é simples, mas na forma de contar, crua e realista, ele é brutal e violento. Com o trabalho excelente dos dois atores ( incluindo Antonio Azañeiro como Pablo), o filme acaba sendo um ótimo exemplo de filme bem dirigido com baixo orçamento, contando uma história efetiva e direta ao assunto.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Abraço de mãe

"Abraço de mãe", de Cristian Ponce (2024) Transitando entre o drama e o terror, 'Abraço de mãe" é da leva de filmes de gênero que se apropria do terror para trabalhar na metáfora e simbologia, os traumas do passado, envolvendo depressão materna e ideação de suicídio. O filme se passa em 2 épocas: em 1973, Ana criança mora sozinha com sua mãe (Chandelly Braz), uma mulher depressiva que dá leite com sonífero para sua filha. Quando Ana acorda, a casa está pegando fogo e sua mãe está inerte na cama. Em 1996, durante a grande enchente que matou mais de 200 pessoas no Rio de Janeiro, Ana (Marjorie Estiano), agora uma bombeiro, sai em uma ação junto de seus colegas para resgatar idosos de uma silo, que moram em um casarão com risco de desabamento. Acontece que o casarão esconde segredos que envolvem monstros físicos e monstros do trauma de Ana. O filme tem várias referências cinéfilas: desde o Demogorgon de "Stranger things", passando por 'Aliens, o resgate" e até momentos de "O iluminado". A ficha técnica é primorosa: além do excelente trabalho de Marjorie Estiano e de um ótimo elenco de apoio, o filme tem uma fotografia que traduz na atmosfera um requinte visual impecável, junto de uma direção de arte bastante funcional. Mas é no roteiro, escrito a várias mãos, que o filme tem seu elo mais complexo: o 3o ato é confuso, muito pela escolha de se deixar um final em aberto e ao critério do espectador de buscar conexões entre as 2 histórias de Ana, e entender se estamos diante de um grande delírio ou se tudo é real. São 2 leituras possíveis, mas que ainda dá um nó no espectador.

Meat puppet

"Meat puppet", de Eros V (2024) Premiado no Festival de Sundance 2024, o curta inglês "Meat puppet" é uma comédia de humor ácido com toques de fantasia, envolvendo um protagonista, Oz (David Jonsson), que tem síndrome de Peter Pan. No dia da formatura de sua namorada (Máiréad Tyers), a quem havia deciido estar presente, oz fica em casa brincando com seus bonecos. Uma encomenda chega: uma caixa misteriosa. Ao abrir a caixa, ele encontra uma marionete e ele acaba encaixando sua mão, curioso. Para seu desespero, Oz acaba encarnando na marionete, enquanto o seu corpo vai morrendo. Um filme de baixo orçamento mas com ótimo valor de produção, com efeitos práticos muito bem realizados, principalmente as técnicas envolvendo a marionete, que lembra muito os bonecos dos Muppets. Os dois atores são divertidos e entram no clima da brincadeira desse filme zoado e divertido.

Indefeso

"Hoa cha", de Byun Young-Joo (2012) Premiado drama de suspense coreano, "Indefeso" é adaptação do romance japonês "Kasha", escrito por Miyabe Miyuki. A trama me lembrou muito o clássico de Truffaut, "A sereia do Mississipi", com Catherine Deneuve e Jean Paul Belmondo. E também tem toques de Hitchcock em "Um corpo que cai". Todas essas tramas são focadas em uma mulher misteriosa, que se esconde sobre uma identidade que é relevada aos poucos ao espectador. Antes de se casar, o veterinário Jang Mun-ho (Lee Sun-kyun, morto em 2023 por suicidio e ator de "Parasita" ) e sua noiva Kang Seon-yeong (Kim Min-hee, de "A criada") seguem de carro para a casa dos pais de Jang. Ao pararem em um posto de conveniência na estrada, Jang salta para comprar um lanche, mas Kang decide continuar no carro. Ela recebe uma ligação. Quando Jang retorna, Kang desapareceu, sem deixar pistas. Jang dá parte na polícia, mas nenhum vestígio de Kang surge. Ao chegar em casa, ele vê que tudo de Kang desapareceu. Um amigo que trabalha no banco informa a JAng que ligou para Kang dizendo que o cartão de crédito dela foi negado por conta de uma nota de falência que ela tinha. Jang decide acionar um amigo policial, Kim, para ajudá-lo a entender aonde está Kang, e descobrem que esse não era o nome dela. O filme tem uma trama complexa e repleta de plot twists. A dupla de protagonistas é formada por alguns dos melhores atores sul coreanos, e é uma lástima a tragédia que vitimou Lee Sun-Kuyn. A direção, a trama, a edição, tudo funciona bem. O espectador fica ligado o tempo todo no filme, pois a cada minuto, novas informações surgeme. acabam contradizendo o que foi dito anteriormente. Tem que assistir prestando bastante atenção.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Abba 50 years since Eurovision

"Abba 50 years since Eurovision", de Nick Randall (2024) Documentário que traz curiosidades sobre o Abba (Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson, e Anni-Frid Lyngstad) , grupo sueco mais famoso da história da música mundial. O filme parte da premissa dos 50 anos da apresentação do grupo em 1974, no campeonato Eurovision, de onde saíram com o prêmio de melhor música por "Waterloo". O filme apresenta como surgiram cada um dos 4 integrantes do grupo. Todos eles eram cantores nos anos 60: Bjorn era do grupo pop Hootenanny Singers; Benny era do Hep stars; Agnetta e Annu tinham carreira solos como cantoras. Foi o empresário e agente artístico Stig Anderson, que empresariava a banda Hootenanny Singers, que sugeriu a Benny e Bjorn de se juntarem em um grupo. Agnetha era namorada de Bjorn, e Anni passou a namorar Benny. Em 1973, eles cantaram no Eurovision com "Ring ring", mas a música não aconteceu. Após a explosão de 'Waterloo", o grupo passou a ser convidado para shows em toda a Europa. O filme cobre todos os discos e canções mais conhecidas do grupo. Fala também da parceria de Benny e Bjorn em escrever e produzir musicais de sucesso no teatro, como "Chess", junto de Tom Rice, e depois,'Mamma Mia!", junto de Judy Craymer, que foi quem idealizou a história e o projeto, que contém músicas conhecidas do grupo. Um produtor musical dá um depoimento dizendo que "Mamma mia!" fez mais dinheiro do que todas as músicas do Abba juntos. O filme termina falando do Tour do novo disco da banda, 'Voyage", lançado em 2021. Em 2002, o grupo lançou o show com músicas conhecidas e do novo disco, chamado Voyage, no Abba arena, em Londres. O grupo foi criado digitalmente, em holografia, e desde então, tem se apresentando com casa cheia. O documentário não é tão bom quanto outros que assisti, ma strouxe informações que eu decsonhecia, além de trazer imagens do Voyage tour. Para fãs, certamente é imperdível.

My favourite cake

"Keyke mahboobe man", de Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha (2024) Premiado no Festival de Berlim 2024, onde estava em competição oficial, com os prêmios Fipresci e do juri ecumênico, as diretoras e roteiristas Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha foram proibidas de deixarem o Irã por mostrarem no filme a protagonista sem o Hijab e bebendo álcool na presença de um outro homem que não é o seu companheiro. O filme é anunciado como uma comédia romântica, e sendo um filme iraniano, achei praticamente impossível que isso acontecesse. O filme sim, tem momentos de leveza, mas não é uma comédia. É um drama romântico, mas que não permite um final feliz, afinal, estamos em um dos países mais conservadores do mundo. Dificilmente aceitariam um filme onde uma mulher de 70 anos, viúva, flertasse com um homem que ela acabou de conhecer e começasse a se envolver com ele no estilo "felizes para sempre". No Teerã, mora Mahin (Lily Farhadpour), de 70 anos, enfermeira aposentada e viúva há 30 anos. Mahim nunca mais se relacionou com outro homem e se dedicou a criar seus dois filhos. Agora crescidos e com família, ela está sozinha e se sentindo sem abandonada. Eventualmente, ela convida suas amigas para sua casa, mas os assuntos são banais. Quando ela liga para a filha, ela não tem tempo para ela. Mahli decide ir até um restuarante onde aposentados costumam almoçar. Lá, ela conhece o taxista Faramarz (Esmaeil Mehrabi). Ao descobrir que ele é solteiro, Mahli decide pegar um táxi com ele, e ao chegarem em sua casa, o convida para entrar e comer um bolo. Durante a noite, eles conversam sobre diversos assuntos, entre eles, sobre a morte. O filme poderia ser dividido em 2 partes: o cotidiano de Mahli, e depois, a sua relação com Faramarz, durante uma única noite, em sua casa. Nesse 2o ato, quase que em tempo real, os dois idosos se abrem de corpo e alma um para o outro. Os diálogos são excelentes, e as performances dos dois protagonistas, comovente. Mas não é um filme americano. Existem cenas ond eo contexto político e o patriarcado se fazem presente, como quando Mahli ajuda uma jovem a não ser presa pela polícia porque seu Hijab não estava apropriado na cabeça, ou quando ela está sozinha em um restaurante e o garçom questiona ela estar ali sozinha.

Amor eterno

"Amor eterno", de Marçal Forés (2014) Concorrendo em Sitges, "Amor eterno" é um instigante e provocativo drama de terror LGBTQIAP+ espanhol. O filme mistura "O silêncio do lago", um premiado drama erótico francês onde os personagens fazem pegação em um lago com cenas de sexo explícito, e "Até os ossos", de Luca Guadagnino, onde Timothe Chalamet se une a outros canibais para saciarem seus desejos por carne humana. Carlos (Juan Bentallé) é um professor de língua chinessa para dolescentes em uma escola. Entre seus alunos, está o tímido Toni (Aimar Vega). Sem que ninguém saiba, Carlos frequenta uma floresta da cidade, onde gays e lésbicas fazem pegação com muito sexo. Carlos é frequnte na região. Mas ali, pessoas têm desaparecido. Inesperadamente, Carlso encontra Toni no local e teme que ele o denuncie. No dia seguinte, no final da aula, Toni pede carona ao professor. Eles acabam fazendo sexo no carro. Toni fica obcecado por Carlos, mas Carlos o evita, ele não é do tipo que repete o parceiro. Os amigos de Toni surgem e decidem ajudá-lo a conquistar Carlos...para sempre. Eu gostei muito do filme: li algumas críticas e a maioria falou mal. Eu adoro filmes sórdidos e provocativos, e ess eme lembrou também o francês "Grave". Temas de canibais geralmente têm sido associados a um desejo não só pela carne humana, ma stambém, por prazer e sexo. O filme tem cenas bastante eróticas ( o plano sequencia do sexo entre Carlos e Toni é bastante intenso) e como pano de fundo, o filme fala sobre etarismo e gerontofilia, a partir do momento que um adolesente se apaixona por um homem bem mais velho.

Caindo na real

"Caindo na real", de André Pellenz (2024) Escrito por Bia Crespo e Charlie Droves, "Caindo na real" tem direção de André Pellenz, e o seu estilo cômico remete às comédias malucas dos anos 80 de David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker, como 'Top secret" e "Apertem os cintos, o piloto sumiu". São filmes que não têm medo de investir na falta de lógica, no surreal, na loucura em níveis escalafobéticos. O filme já começa com uma premissa bizarra: o Brasil acabou de instaurar a Monarquia, após o escândalo do último presidente. Tina (Evelyn Castro), uma chapeira de uma lanchonete de Marechal Hermes, é revelada como herdeira do trono. Seu primo que ela nunca conheceu, Maurício (Victor Lamoglia), filho de Marie Helene (Maria Clara Gueiros), retornam ao Brasil crentes que Maurício iria assumir. Eles decidem pedir ajuda ao conselheiro real corrupto Alaor (Maurício Manfrini) para cancelarem a Rainha nas redes sociais. Por sua vez, Tina, que se muda para Brasília, leva consigo o seu trio inseperável: a segurança Sidão (Paula Frascari), o atendente da lanchonete e tiktoker Robson (João Vitor Mello) e seu paquera, Barão (o cantor Belo), entergador da lanchonete. O elenco conta também com Carlos Moreno (como um mordomo vampiro!!!!), Elisa Pinheiro (como uma reporter fofoqueira), Claudia Alencar, o surfista Pedro Scooby, Cissa Guimarães, Flavia Garrafa e muito mais. Mas quem de verdade surpreende, trazendo um carisma enorme, é o cantor Belo. Ele faz de verdade seu personagem, com charme, sedução e leveza. As suas cenas sào ótimas e se ele investir na atuação, pode vir a se tornar um bom ator.

Sorria 2

"Smile 2", de Parker Finn (2024) Dois anos depois do grande sucesso de 'Sorria", seria inevitável uma continuação. Parker Finn, roteirista e diretor do filme anterior, retoma suas funções e faz o que seria difícil: fazer uma continuação melhor do que o original. Curiosamente, em 2024, M. Night Sgyamalan lançou o thriller de suspense "Armadilha", centrado em uma pop star fazendo um concerto. O que Parker Finn faz em seu filme, aproveitando os ensaios, relação com o público e o show em si, é infinitamente superior ao filme de Sgyamalan. Parker é alguém que estudou a cartilha de gênero e mesmo apostando em fórmulas já vistas, faz tudo com esmero e provocando sustos e tensão na narrativa. Surpreendentemente, o filme é longo: 127 minutos, nas as tramas e sub-tramas se conectam. Logo no início, existe um prólogo envolvendo o policial sobrevivente do filme anterior, em uma sequência que lembra o estilo narrativo de "Longlegs", usando lentes grandes nagulares e pans. Naomi Scott (a princesa Jasmine de 'Alladin") interpreta Skye, uma cantora pop no auge de sua popularidade, aos 27 anos. Mas sentindo-se pressionada e temendo que sua carreira desande, Skye recorre à drogas que ela compra de um traficante, Lewis (Lukas Gage). Acontece que Lewis está possuído pelo espírito malígno e ele acaba passando a maldição par Skye. No início acreditando ser tudo uma bad trip, Skye deixa passar. Mas quando mortes acontecem ao seu redor, ela procura sua namorada Gemma (Dylan Gelula). O filme remete aos clássicos "Corrente do mal" e "The ring", filmes que trazem uam entidade do mal que passa de pessoa em pessoa e existe um prazo para que a maldição se manifeste por completo. As cenas de violência e gore são bem gráficas: não à toa, sua censura é de 18 anos. Naomi Scott está excelente na personagem Skye, com muitas cenas angustiantes e lidando bem com a loucura da personagem, entre a bad trip de uma droga e o pavor da ameaça da entidade. Muita gente vai odiar o final, mas enfim.....não se podia esperar outra decisão dos produtores de Hollywood. Os efeitos são ótimos e lembram as cenas chocantes da franquia "Premoniçao".

Unicórnios

"Unicorns", de Sally El Hosaini e James Krishna Floyd (2024) Desde "Minha adorável lavanderia", de Stephen Frears, lançado em 1985, o cinema queer inglês tem flertado com protagonistas que pertencem a mundos diferentes, mas que se unem pelo amor que têm um pelo outro, uma espécie de revolução contra a opressão, xenofobia, homofobia e confronto com sociedade conservadora. Em 1992, Neil jordan nos trouxe o clássico "Traídos pelo desejo", com um terrorista do IRA envolvido com uma mulher trans, cantora de uma boite. Em 2023, o inglês "Femme", com George Mackay, já havia trazido para as telas a paixão entre um integrante de um grupo neo nazista apaixonado por uma drag queen negra. Agora em 2024, surge "Unicorns", trazendo o amor entre um jovem pai hetero, Luke (Ben Hardy, de "X-men") se apaixonando por uma drag queen indiana, Aysha (Jason Patel). Os amigos de Luke são conservadores, assim como aa família de Aysha é muçulmana e homofóbica. Luke vai até um bar e conhece Aysha, e se beijam. Mas quando descobre que Aysha é um homem, Luke vai embora. Passam-se uns dias, Aysha procura Luke na oficina em que ele trabalha e oferece a ele um trabalho de motorista de noite, para levála até os eventos onde ela faz shows. Precisando do dinheiro, Luke aceita, e aos poucosm, vai se encantando com o mundo noturno de Aysha e se deixa seduzir por seus encantos. "Unicorns" é um drama denso, repleto de cargas emocionais fortes. Ma stambém traz leveza e romance, apostando na tese de que "o amor cura todas as dores do mundo". Para quem busca um romance queer com happy end, o filme é a pedida certa.

domingo, 20 de outubro de 2024

In the blind spot

"Im toten winkel", de Ayse Polat (2023) Extraordinário drama alemão, "In the blind spot" recebeu mais de 15 prêmios internacionais, além de concorrer no Festival de Berlim 2023. Escrito e dirigido pela cineasta Ayse Polat, o filme é dividido em 3 capítulos não cronológicos e que trazem um grande suspense a um thriller político, de ação e com elementos sobrenaturais, simbolizando os fantasmas da população curda assassinada pela Turquia. Tendo como pano de fundo o conflito étinico e separatista entre curdos e turcos, o filme trás 3 linguagens distintas em sua cinematografia e na forma de contar a história: tem a câmera do cinegrafista de cena, entrevistando os personagens para um documentário; tem a câmera do filme que está sendo apresentando na ficção e tem as câmeras de celulares e câmeras escondidas, em ponto de vista de alguém filmando escondido. A edição habilmente mistura todas essas texturas e cria um filme tenso. Em cada um dos 3 capítulos, temos o ponto de vista de um núcleo de personagem: no 1o, acompanhamos uma equipe de filmagem alemã, formado pela diretora Simone (Katja Bürkle) e pelo cinegrafista Christian (Max Hemmersdorfer), que vão até o nordeste da Turquia para gravar depoimento de uma idosa curda que há 26 anos, pratica o mesmo ritual para manter viva a memória de seu filho desaparecido. A dupla contrata uma tradutora, Leyla (Aybi Era), que traz com ela uma menina de 7 anos, Melek (Çağla Yurga),filha de sua vizinha, Sibel(Nihan Okutucu). Sibel é casada com Zafer (Ahmet Varlı), integrante da polícia secreta turca. Leyla foi contratada para dar aulas de inglês à Malek. A menina, no entanto, tem visões de um amigo imaginário que quer que ela pergunte o nome de pessoas desaparecidas. Quando um advogado de direitos humanos entrevistado por SImnone é sequestrado, Simone e Cristian ficam preocupados. O 2o capítulo é focado em Zafer, e o 3o capítulo, em Malek. O filme é muito bom, os atores são excelentes, sem exceção. A menina que interpreta Malek, Çağla Yurga, é impressionante. tão pequena e tão repleta de atitude e de camadas de emoção e determinação.

Kneecap

"Kneecap", de Rich Peppiatt (2024) "Cada palavra dita em irlandês, é um tiro dado para a liberdade da Irlanda". Assim o personagem Arló (Michael Fassbender", ensina o seu filho, Moglai (Moglai Bap) a defender a língua nacional de seu país, como uma resistência aos interesses da Inglaterra. "Kneecap"(que em irlandês quer dizer "rótula" ou na gíria, "nocautear alguém no joelho com arma ou chute"). Mas "Kneecap" também é o nome de um grupo de hip hop, com letras cantadas em irlandês e inglês, formada pelo trio Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Próvaí. As letras são provocativas e trazem contetxo político, defendendo os republicanos. O filme é o representante da Irlanda para uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025, e foi o primeiro filme falado em irlandês a concorrer em Sundance, de onde saiu com o prêmio do público de melhor filme, além de ter concorrido no SXSW. O filme traz uma narrativa e uma linguagem totalmente anos 90, lembrando o tempo todo de "Transpotting" pela dinâmica, edição ágil e uma trama que envolve drogas, música e polícia. Mas mais do que isso: "Kneecap" é um filme excelente, que traz no elenco os verdadeiros integrantes da banda, interpretando a si mesmos. Ambientado em 2017, na Irlanda do Norte, o filme apresenta os melhores amigos Mo Chara e Móglaí Bap. Quanso Mo Chara é preso pela polícia e se recusa a falar em inglês, um tradutor de língua irlandesa é acionado: o professor de música JJ Ó Dochartaigh. Ao conhecer Mo Chara e Moglai Bap, JJ, que sempre quiz ser um músico, sugere que formem um grupo e cantem as letras provocativvas em irlandês. JJ tem medo que sua esposa e os colegas de trabalho o reconheçam, e decide se apresnetar em público com uma máscara. Mas eles precisam enfrentar a fúria da polícia e de grupos favoráveis à monarquia. Que filme incrível. É a estréia na direção de Rich Peppiatt, que já havia dirigido clipes para a banda. O filme é cheio de energia, divertido e ao mesmo tempo, emocionante com o seu drama de pano de fundo, de jovens que decidem liderar um movimento nacionalista defendendo o uso da sua língua como a arma contra o império inglês.

sábado, 19 de outubro de 2024

Os irmãos Menendez

"The Menendez brothers", de Alejandro Hartmann (2024) A Netflix lançou em 2024 a série "Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais", e os próprios irmãos Mendez, Erik e Lyle, disseram que a série mente sobre eles. O documentário de Alejandro Hartmann vai por um viés diferente. Traz à tona, como pano de fundo, uma campanha contra abusos sexuais contra crianças, no caso, meninos. No dia 28 de agosto de 1989, em Los Angeles, Beverly Hills, a polícia recebeu a ligação de Erik Menendez, depois das 23 horas, dizendo que chegou em casa com seu irmão Lyle, vindos do cinema, e encontraram seus pais, José e Kitty, assassinados na sala. Na época, os irmãos não foram sequer citados como suspeitos. Diante da barbaridade do crime, acreditava-se que havia sido coisa da máfia. Mas um mês depois, os irmãos gastaram o equivalente a quase 1 milhão de reais comprando carros de luxo, roupas, artigos de luxo, levantando suspeitas. Fora isso, a namorada de um psicólogos os denunciou à polícia. Os irmãos acabaram presos, e durante anos, negaram o crime. Pressionados, confessaram à polícia de que mataram seus pais em legítima defesa. Segundo os irmãos, o pai deles, José, um imigrante cubano que fugiu para os Estados Unidos após a revolução cubana, quando seus pais perderam toda a fortuna, e depois, criou um império na área musical e de aluguel de carros nos Eua, teria abusado sexualmente deles desde que tinham 9 anos de idade. A mãe, Kitty, havia sido informada, mas nada fez. A acusação alega que eles mataram pela herança de 14 milhões de dólares. A defesa, alega que eles agiram em defesa pelos abusos do pai acobertados pela mãe. Em 1996, eles fora condenados à prisão perpétua. O filme é bastante rico em imagens de arquivo e principalmente, com longos trechos gravados no tribunal, com o julgamento e depoimento dos réus. O caso ganhou a notoriedade da mídia por anos, e somente foi ofuscada pelo crime de O.J. Simpson, em 1995, que havia assassinado sua esposa. O filme finaliza apresentando campanhas recentes, incluindo no Tik tok, com centenas de vídeo da nova geração saindo em desefa dos irmãos, e eles mesmos recebendo cartas de pessoas que também haviam sido abusadas. Em 2023, os irmãos entraram com habea corpus pedindo a anulação da sentença. O filme finaliza com um crédito alertando o público sobre casos de abusos contra crianças pedindo para denunciar, deixxando claro o seu ponto de vista sobre o caso.

Yeah the boys

"Yeah the boyz", de Stefan Hunt (2024) Escrito e coreografado por Vanessa Marian, esposa do cineasta Stefan Hunt, "Yeah the boyz" é um divertido e energizante curta australiano que parte de uma premissa interessante: pelo ponto de vista de uma mulher que escreveu a história, o seu namorado é chamado pelos amigos, todos homens, para um dia de bebedeira, que segue até tarde da noite. O filme evita tratar de masculinidade tóxica, e prefere apresentar um grupo de 6 amigos que apenas querem se divertir e beber até apagarem. S einspirando no estereótipo dos homens australianos, Vanessa Marian, junto de seu marido, criaram um filme sem diálogos, composto por 5 planos sequências, alguns deles bastante coroegrafados, quase como que em um musical no estilo "West side story". Todos os 6 homens são dançarinos, e a câmera no steadicam impressiona pela movimentação que faz em cena, desenhando os movimentos dos rapazes. Um filme de técnica, com bela fotografia, que deve ter dado um trabalhão nos ensaios.

Dario Argento's World of Horror

"Il mondo dell'orrore di Dario Argento", de Michele Soavi (1985) Documentário que traz bastidores e entrevista com o mítico cineasta italiano Dario Argento, dirigido por Michele Soavi, um fã de Argento que o homenageou no cult giallio "O pássaro sangrento". Argento é o diretor que popularizou o gênero de suspense e terror Giallio mundo afora, com suas obras-primas que trazem uma estética inconfundível. Como o documentário foi lançado em 1985, ele cobre os filmes de Argento que vão de 1970 a 1985, ou seja, de "O pássaro das plumas de cristal" até "Phenomena". Os outros filmes são: "O gato de nove caudas", "Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza", "Prelúdio para matar", "Suspíria", "Tenebre", "A mansão do inferno". Além de traezr curiosidades técnicas desses filmes, o documentário ainda apresenta bastidores de filmes clássicos produzidos por Ragento, como "O despertar dos mortos", de George Romero, onde ARgento editou, ajudou na trilha e co-produziu, e "Demons, os filhos das trevas", de Lamberto Bava, que ele escreveu e produziu. Um filme obrigatório para fãs do diretor, e para quem quer aprender a fazer cinema de baixo orçamento mas com muita criatividade para driblar situações que demandaraim muito dinheiro.

Underground orange

"Underground orange", de Michael Taylor Jackson (2024) Anunciado como um filme "gênero fluído", "Underground orange" é um filme indie LGBTQIAP+ co-produzido por Argentina e Estados Unidos. Michael Taylor Jackson escreveu o roteiro, dirigiu e protagoniza essa alegoria política, social e cultural que remete muito aos filmes anarquistas dos anos 60 e 70. Uma crítica ao capitalismo, ao império americano e aos governantes de ambos os países. Yanqui (Michael Taylor Jackson) é um americano que está em Buenos Aires procurando o túmulo do pirata argentino Hippolyte Bouchard, que teve como grande feito, a conquista de Monterey, California, por alguns dias. Durante o passeio na cidade, Yanqui é assaltado por dois jovens, e perde tudo: dinheiro, passaporte, carteira. O hotel o rejeita e ele recebe a ajuda de um empresário alemão, que na verdade quer assediá-lo. Yanqui decide dormir no cmeitério. Ao acordar, encontra uma trupe experimental de teatro que encena uma cena de Diego Rivera e Frida Kahlo. O trio convida Yanqui para acompanhá-los e fazer parte da trupe. Eles querem montar um texto que critica e julga o presidente americano Henry Kissinger pelos crimes contra a Argentina, e Yanqui é o ator que faltava. O filme traz no elenco e nos personagens a diversidade de orientação sexual: lésbicas, gays, não binários, trans. Assim como em "Raspberry reich", de Bruce La Bruce, o filme é uma grande sátira político, e se apropriam do sexo, que segundo os artistas, é por onde passa a revolução. No fundo, não curti o filme, achei chato e datado. Mas valeu como provocação.

É tempo de amar

"Le temps d'aimer", de Katell Quillévéré (2023) Concorrendo no festival de Cannes 2023, "O tempo de amar" é escrito e dirigido pela cineasta francesa Katell Quillévéré e traz uma triste história de amor que começa em 1947, na França pós libertação da ocupação nazista, e se estende até os anos 60. O filme começa com um clipe em preto e branco da França libertada pelos americanos, e de como mulheres que foram obrigadas a terem relacionamento com alemães foram maltratadas e humilhadas em público. Entre elas, está Madeleine (Anaïs Demoustier) mãe de um menino e garçonete de um restaurante na Bretanha, que tenta começar uma nova vida longe de casa. Ela conhece um jovem estudante, François (Vincent Lacoste) de família burguesa que manca após contrair poliomielite. Ele lhe propõe um casamento. Ela aceita e se mudam para Paris. O tempo passa e Madeleine mente pro filho, dizendo que François é seu pai. Mas François é gay enrustido, e deseja ardentemente homens. Madeleine sabe desse segredo de François, e assim como ela, ambos guardam seus segredos. A crítica destruiu o filme, chamando-o de melodrama barato. O filme é repleto de intrigas, mentiras e jogos sexuais. Os dois atores estão ótimos. Mas como se passam décadas na história, manter Vincent Lacoste foi um erro. Ele tem cara de jovem nerd, e 20 anos depois com a mesma cara não deu credibilidade, por excelente ator que ele seja.