segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Masking threshold

"Masking Threshold", de Johannes Grenzfurthner (2021) Os austríacos são ávidos em fazer filmes de terror angustiantes, sórdidos, violentos, pérfidos e cruéis. Foi assim em “Boa noite, mamãe”, “Angústia”, “Funny games”. O premiado cineasta Johannes Grenzfurthner vai além: ele cria um terror onde por 90 minutos, acompanhamos a mente de um serial killer. Nunca vemos seu rosto, mas ouvimos ele falar por todo o tempo sobre o que ele sente internamente, algo semelhante a “Angústia”. De início, o homem (interpretado pelo próprio cineasta, mas nunca vemos seu rosto, e a voz é do ator Ethan Haslam) sofre de uma forma rara de zumbido. Ele revela que isso lhe custou um relacionamento de longo prazo e o levou a abandonar a escola, assumindo um trabalho de TI para sobreviver. Abandonou também seu cachorro, e o fez se tornar um gay anti-social. Convencido de que os médicos não podem ajudá-lo, ele decide embarcar em uma série de experimentos para diagnosticar e, com sorte, curar sua doença. Imaginando-se um tipo de cientista, ele está determinado a mapear e documentar todo o seu processo, periodicamente fazendo upload de informações on-line e até enviando alguns dados por e-mail para médicos que ele acha que podem achar seu trabalho interessante. Ele acredita que uma análise científica rigorosa pode curar sua doença. Ele está convencido de que os médicos não foram suficientemente minuciosos para chegar à raiz de seus problemas auditivos. Mas para que o trabalho dê certo, ele não pode ser importunado. Nem pela vizinha, nem por sua mãe e nem visitantes inesperados. Durante o tempo todo, o filme parece um found footage, com imagens online de material arquivo, e super classe em pequenos insetos como formigas e lesmas que são esmagadas pelo homem. Detalhe de cara saindo do ouvido e outros fluidos nojentos ate os últimos 10 minutos repletos de gore para quem conseguiu aumentar os primeiros 80 e monótonos minutos. Mas mesmo sendo chato, o filme é um primor de edição e de pesquisa de arquivo, em prol de e realizar um filme que é a descida para o inferno mental de um psicopata. Interessante e um válido projeto experimental que fica entre o mockmentary e o filme de terror abstrato. O filme ganhou mais de 16 prêmios em Festivais de cinema de gênbero.

Corra querida corra

“Run sweetheart run”, de Shana Feste (2022) Imaginem uma versão feminina de Jordan Peele fazendo um filme de terror misturado à ficção científica, suspense, ação e como pano de fundo uma crítica social ao racismo e ao mundo misógino e machista tendo uma jovem mulher negra, Cherie (Ella Balinska), tendo que lutar contra tudo e todos para literalmente, sobreviver? Assim é “Corra querida corra”, um filme de sobrevivência que parece ter buscado referência maior no último “Predador”, só que ao invés de ser ambientado na floresta, agora acontece nas ruas de Los Angeles de noite. Cherie é uma mãe solteira negra, e que precisa lutar contra colegas de trabalho assediadores e bullying moral. Seu chefe, JAmes, pede para que ela jante com um poderoso cliente, Ehtan ( Pilou Asbaek, ator dinamarquês que interpretou o vilão Euron Greyjoy em “The game of thrones’). Bonito, branco, sedutor, Cherie se deixa seduzir por ele e vai até a casa dele. Mas o que ela descobre é que ele é um caçador, cuja missão é caçar mulheres negras que querem se tornar empedradas e independentes. Com um roteiro aparentemente bizarro, o filme traz uma óbvia metáfora a favor de todas as causas femininas, embaladas em filme de ação e ficção científica, com direito a referências a vampiros. Diverte, dá raiva por decisões idiotas e também lamentar que mulheres morram por terem apoiado na sonoridade.

O Golem- Como ele veio ao mundo

“The Golem”, de Paul Wegener e Carl Boese (1920) Obra prima do cinema expressionista alemão, “O golem” foi a terceira adaptação do Cineasta Paul Wegener do mito judaico do Golem, realizados em 1915, 1917 e em 1920. As primeiras versões não existem cópias, ficando essa versão reconhecida mundialmente e que influenciou importantes filmes, entre eles, ‘Frankenstein”, de James Whale, com Boris Karloff, em 1931, inclusive com cenas idênticas, como a da menininha no final. A versão foi restaurada com trechos de cópias de diversas cinematecas do mundo. Paul Wegener co-escreveu o roteiro, dirigiu e ainda protagonizou de forma impressionante o Golem, uma imagem icônica que até hoje perdura como um dos grandes momentos da história do cinema. Ambientado em Praga do século XIX, o filme previu a ameaça contra o povo judaico que viria a tomar forma na Segunda guerra mundial. Uma comunidade judaica em Praga é ameaçada por um decreto do imperador. O respeitado Rabino Loew, um poderoso feiticeiro, recorre à antiga magia para dar vida à criatura Golem, na tentativa de salvar seu povo dos infortúnios. Loew recorre às forças das trevas e com ajuda de seu assistente e de palavras mágicas da cabala, ele dá vida ao Golem, que ele construiu com barro sagrado. O Golem desperta e o rabino inicialmente o usa como servo doméstico, ajudando, a toda a comunidade. Mas eventos acontecem, e o Golem se rebela contra todos, sequestrando a filha de Loew, Miriam e matando o enviado do Imperador, Florian, amante de Miriam. Com cenários em formas geométricas, típicas do expressionismo, e uma fotografia exuberante de Karl Freund, o filme traz a metáfora de que quando o Homem procura se assemelhar a Deus e dar vida à criaturas mortas, acaba transformando o ato em tragédia, exatamente como em “Frankeinstein”.

domingo, 30 de outubro de 2022

Alguém entre nós


 

"Byvshaya", de Evgeniy Puzyrevskiy (2017)

O cinema russo dos anos 200 tem buscado uma abertura maior com o mercado americano, e para isso, tem investido bastante nos filmes de terror, ação e ficção científica. Em “Alguém entre nós”, o cinema sobrenatural de terror dá as caras em um história que mistura sensualidade, romance e fantasmas buscando vingança. Ainda assim, por conta da cultura patriarcal e machista russa, o roteiro ainda traz traços de misoginia: as mulheres são as grandes vítimas de uma sociedade que ainda faz os homens brincarem com sentimentos femininos. O roteiro de Vladimir Batrameev ainda faz crítica ao deep fake e as montagens de fotos, trazendo consequências desastrosas à vida alheia.

 

Sasha ( Konstantin Beloshapka ) e Katya ( Vera Kincheva ) anunciam aos seus amigos Oleh ( Sergey Dvoynikov ) e Zhenya ( Ekaterina Shumakova ) que agora são noivos.  Zhenya não está entusiasmado com a notícia: ela foi namorada de Sasha antes dele conhecer Katya.

No entanto, a notícia do noivado traz à tona um evento ocorrido há anos: Sasha postou uma foto de uma jovem e inseriu sua foto, como se fossem namorados, e esse ato infantil trouxe consequências trágicas à jovem. Eventos sobrenaturais começam a ocorrer ameaçando a vida de Katya.

O filme tem uma boa premissa e entretém, apesar da história meio maluca. Mas as sequências do hospital e da igreja funcionam bem e trazem suspense. Os atores, jovens e bonitos, também são atrativos para quem busca um passatempo de terror misturado à romance. 

Poor Glenna


 "Poor Glenna", de Jean Paul DiSciscio (2021)
Sensacional homenagem aos filmes de terror dos anos 70, esse premiado curta escrito e dirigido por Jean Paul DiSciscio busca na linguagem e textura dos grindhouses a essência para o filme. Com uma ótima fotografia em tons sépia de Shaun Clarke, efeitos especiais práticos de Penny Benson, recorrendo a criaturas monstruosas dos anos 80 e trillha sonora de Steve Moore, "Poor Glenna" apresenta Glenna Piccolo (Ann Marie Shea, ótima) , mãe de um filho mutante que ela esconde no porão de sua casa. Ele se tornou uma figura monstruosa de tentáculos faminta por carne fresca. E mamãe coruja como ela é, Glenna vai buscar alimento para seu filho.
Uma delícia de se assistir, realizado com extrema competência por uma equipe mínima, pouco dinheiro mas muita criatividade e amor ao cinema de gênero.








Live forever

 


"Live forever", de Gustav Egerstedt (2020)

Genial curta musical premiado em Festivais, que faz uma brincadeira divertidíssima: reúne vítimas de serial killers, monstros e entidades demoníacas famosas e que não seguiram para as continuações das franquias. As vítimas, enquanto são mortas em reprodução de cenas fanmosas, cantam um hino à sua morte, intitulada "Live forever". Com excelente fotografia de Kenneth Ishii e maquiagem de efeitos de Soleu Astudotti, o filme diverte e é uma farra para cinéfilos amantes de terror. Os filmes sacaneados são: "Sexta feira 13", "O grito", "Madrugada dos mortos", "Alien, o 8 passageiro" e "A bruxa de Blair". 

sábado, 29 de outubro de 2022

Na estrada da felicidade


 "On happiness road", de Sung Hsin Ying (2017)
Versão longa para um curta de 13 minutos lançado em 2013, “Na estrada da felicidade” é uma afinação dramática autobiográfica. A roteirista e cineasta Sung Hsin Yin traz um retrospecto de 35 anos de sua vida, desde seu nascimento, sua infÂncia e adolescência numa pequena cidade do interior de Taiwan, morando na Rua Felicidade, e a sua fase adulta morando nos Estados Unidos. Casada com um americano, Lin Chun Hei (alter ego da cineasta), em crise no casamento, recebe uma ligação de sua mãe dizendo que sua avó, a quem Lin era muito apegada, faleceu. Retornando à sua cidade natal, Lin faz um retrospecto de sua vida: seus amigos, a rua de nome conflitante com os problemas familiares, a censura, a questão político social e econômica de Taiwan, a relação com seus pais e principalmente, a crise da fase adulta, onde Lin acredita não ter realizado nada de concreto. O filme, de quase duas horas de duração, tem traços simples mas uma história e personagens encantadores, prejudicados apenas por uma sucessão enorme de sub polis e temas, que ainda precisa guardar espaço para falar do sonho americano , de personagens que surgem a todo instante, como seu primo envolvido com literaturas proibidas pelo governo e ainda, os sonhos e fantasias que Lin recorre para fugir da sua realidade. O filme ganhou diversos prêmios internacionais e é um bom exemplo da animação de Taiwan, ainda pouco conhecida aqui no ocidente.

Super Quem - Heróis por acidente


 "Super héros malgre lui", de Pjilippe Lacheau (2022)

Philippe Lacheau é um astro francês famoso pelos seus personagens e filmes de comédia politicamente incorretas. Seus filmes são debochados e geralmente se nutrem de referências de filmes de gênero para poder fazer humor. Foi assim em “Babysitting” e em seu maior sucesso comercial, “Álibi. com”. Agora, ele traz uma paródia ferozmente vulgar e hilária, trazendo um humor sexista e carregado de sacanagem e piadas bizarras, “Super quem?”, onde tira onda com os personagens da DC comics e Marcel, tudo misturado num mesmo saco.

Philippe, que co-escreve, dirige e protagoniza, dá vida a Cedric, um ator frustrado, filho do chefe da polícia Michel (o astro de “Betty Blue”, Jean Hughes Anglade). Durante uma audição para o filme “Badman”, ele vai para o call Back mas é preterido por um outro ator. Quando o concorrente se acidenta, Cedric é chamado para dar vida a Badman. Mas durante um acidente nas filmagens, Cedric perde a memória e acredita ser Badman , e mais, precisa salvar sua esposa e filho, que acredita estarem nas mãos de um vilão. Enquanto isso, seu pai e amigos, entre eles sua irmã soldado, procuram saber onde ele se meteu.

O filme é um festival de piadas chulas que fariam um grande sucesso nos anos 90, mas hoje em dia acaba virando revisitação, e o espectador,  já vacinado contra politicamente incorreto e lugar de fala, fica sem saber se rir ou se faz de conta que achou graça. É um tipo de humor que para os dias de patrulhamento em todas as áreas perde muito de seu potencial, mas ainda assim, é corajoso por ousar passar por cima de tudo e querer rir e sacanear tudo e todos. 

Nada de novo no front


 "All quiet on the westers front", de Edawrd Berger.  Nada me deixou mais angustiado nesse drama visceral do que a trilha sonora composta por Volker Berthelmann. É arrepiante, pulsante, aterrorizante e deixa claro a tragédia que irá se instalar na vida dos jovens alemães que ingenuamente se alistaram em uma guerra em que todos eles estavam totalmente despreparados. 

Esse épico alemão, a produção mais cara da Netflix no país e indicado pela Alemanha a uma vaga ao Oscar 2023 é a terceira adaptação da obra escrita em 1929 pelo alemão Erich Maria Remarque. A primeira versão, ganhadora do Oscar de filme e direção em 1930, foi dirigida por Lewis Milestone. A 2a versão é de 1979 e essa conta com a direção do alemão Edward Berger. O roteiro mostra literalmente os horrores da guerra, um lugar comum em filmes do gênero, vistos pelo olhar de um jovem idealista. As obras primas “Vá e veja”, “O resgate do soldado Ryan”, “Os melhores anos de nossas vidas” e tantos outros são exemplos do que existem de melhor sobre o terror da guerra. O elenco jovem brilha, e entre os veteranos, a participação de Daniel Bruhl, como o escritor e político alemão Matthias Erzberger. No 3o ano da 1a guerra mundial, em 1917, jovens são convocados para se alistar na guerra contra a Tríplice Entente, que incluía Grã-Bretanha, França e Rússia. Pela primeira vez na história da guerra, tanques, armas químicas, bombas de gás,  táticas de guerra de trincheiras estavam sendo usados pelas forças alemãs, italianas e húngaras. Quatro amigos, Paul Baumer, Albert Kropp, Fraz Behm Muller e Ludwig Behm, decidem se alistar no exército motivados pelo discurso patriótico dos líderes alemães. Paul forjou a assinatura de sua mãe para fazer parte do exército e lutar a guerra por sua pátria. Mas assim que chega na trincheira, ele entende o quanto foram enganados pelo discurso dos líderes, e o quanto estão despreparados para lutar contra uma guerra onde mal entendiam os motivos.

O ator Felix Kammerer, que interpreta Paul, e Albrecht Schuch, que interpreta seu amigo otimista Katczinsky estão soberbos. A fotografia de James friend torna as imagens da mesma forma aterrorizantes, verdadeiras telas plásticas de beleza e terror. É um filme triste, com um desfecho que destrói corações. Saí arrasado. 

Nós estamos bem agora


 "Vi er okay nu", de Andy Deshaun e Rebecca Emcken (2017)

Delicado drama LGBTQIAP+ dinamarquês, com belas performances dos jovens atores Peter Ousager, como Demitri e Lasse Steen como Jonnah. Jonnah é gay e tem paixão platônica pelo seu amigo hetero Dimitri. Uma noite, Dimitri o apresenta a um rapaz. Jonnah sai com o rapaz, mas é estuprado por ele. Ao tomar conhecimento, DImitri se sente culpado e a partir daí, nutre uma relação de anjo da guarda para Jonnah, que se irrita, quando na verdade tudo o que ele quer é o amor do amigo.

Filmes dinamarqueses prezam pelo belo trabalho técnico e aqui só comprova essa tese, aliada a boas performances e uma história triste de traumas oriundos de pegações one night stands que geralmente acabam mal. Um filme que marca a diferença entre amor e tesão, e como uma paixão platônica pode destuir uma pessoa.

Momento do contato: o caso Roswell do Brasil


 "Moment of contact:the Rpswell of Brazil", de James Fox (2022)

Documentário independente americano que procura revelar o caso do Et de Varginha, incidente ocorrido no Brasil em janeiro de 1996. 26 anos depois, a produção retorna ao local, onde já até existe um museu dedicado aos Ets, e entrevista testemunhas que afirmam terem visto a nave espacial e extraterrestres. O próprio documentário diz que o filme é baseado em verdades e mentiras. O melhor do filme é o material de arquivo, que mostra imagens coletadas na época por populares, e também faz um retrospecto de casos de Ets ocorridos no Brasil, desde os anos 50, em Ubatuba. Matérias com Sandra Annenberg e Pedro Bial também se mostram curiosidades.

Não há fotografias, nem destroços de “acidentes”, nem mesmo a cobertura da TV local na época forneceu muito mais do que algumas pessoas contaram aos entrevistadores que repetiram suas histórias para a Fox e sua equipe 26 anos depois, sobre o que viram. Vários moradores, incluindo um grupo de meninas com idades entre 14 e 21 anos, tiveram um encontro próximo com um ser descrito como tendo cerca de um metro e meio de altura, com pele marrom oleosa e cabeça grande. e enormes olhos vermelhos. A cidade de Varginha foi isolada por militares e equipes de emergência e duas criaturas foram capturadas. O policial militar local Marco Cherese morreu em circunstâncias misteriosas depois de supostamente manusear uma das criaturas. O documentário apresenta entrevistas com especialistas e oficiais, incluindo o físico nuclear e ufólogo Stanton Friedman e o general da Força Aérea Brasileira José Carlos Pereira. Pessoas afirmam que os Ets foram recolhidos por militares americanos e levados aos Estados Unidos. O filme tem narração do ator Peter Coyote e entrevistas do próprio James Fox. No final, confesso que fiquei curioso de conhecer a cidade, que deve ser provavelmente toda voltada comercialmente para o Et, com vendas de souvenirs, passeios e museu.

Me alimente


 "Feed me", de Adam Leader e Richard Oakes (2022)

Mistura inusitada de comédia de humor ácido com terror, "Alimente-se" parte de uma história real para narrar a história de dois homens, Jed (Christopher Mulvin) e Lionel Flack (Neal Ward). Jed acaba de perder sua esposa, Olivia, que se suicidou por conta de distúrbios mentais relacionados à obsessão por bulimia. Inconformado, Jed passa a ter pensamentos suicidas. Ele conhece Lionel em um bar, que lhe propõe um acordo, assim que fica sabendo que Jed quer se matar:

O objetivo de Flack na vida é ajudar os outros e ele tem uma proposta bastante original para Jed – permitir que Flack coma seu corpo. Enfraquecido mentalmente, Jed aceita. E aos poucos, partes de seu corpo vão sendo devorados por Flack.
Não é um filme que costumamos indicar para as pessoas assistirem, memso tendo um tom de comédia de humor ácido como pano de fundo. Ainda assim é uma trama bizarra, doentia, e curiosamente, o tema o tema do canibalismo está super em moda atualmente, tanto por conta da série de Dhamer, quanto pela história de Armmie Hammer ou do filme com Timothe Chalamet que também interpreta um canibal. O filme muitas vezes tende à caricatura, principalmente com a construção estranha de Flack, que lembra Brad Pitt em 'Snatch porcos e diamentes", de Guy Ritchie. A direção de arte e a fotografia ajudam a dar um tom sinistro à produção.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

As histórias de meu pai


“Profession du pére”, de Jean Pierre Améris(2022)

O Cineasta francês Jean Pierre Améris realizou uma das comédias românticas que eu mais amo na vida, “Românticos anônimos”, com o seu ator fetiche Benoit Poelvoorde. Agora ambos repetem a dobradinha em “As histórias de meu pai”, que diferente do que aparenta ser pelo postar do filme, não é uma comédia, e sim, um melancólico drama sobre distúrbios mentais. O filme é adaptação do romance escrito por Sorj Chalandon, e Jean Pierre Améris misturou com histórias de sua infância. Tanto o protagonista do livro quanto Jean Pierre viveram em Lyon e tiveram pais abusivos nos anos 60.  Lyon, década de 1960. Emile (Jules Lefebvre, excepcional), tem doze anos. Seu pai, André (Poelvoorde, sempre ótimo) é um herói para Emile. Ele se diz campeão de judô, pára-quedista, jogador de futebol e até conselheiro pessoal do general de Gaulle. A mãe de Emile, Denise (Audrey Dana, também ótima) testemunha as mentiras do marido calada. Agora ele quer salvar a Argélia Francesa após anúncio de sua independência. Fascinado e orgulhoso, Emile voluntariamente segue seu pai em missões de maior perigo: perseguir, espionar, entregar cartas secretas. Emile cumpre suas ordens com toda a seriedade. Ele até recruta Luca, um novo colega de classe pé negro (Argelinos que voltaram a morar na França), para seu combate secreto. 

O filme tem uma trama bastante complexa. O personagem de Poelvoorde além de mitômano, é violento, abusador, pertence à OAS (organização ultra nacionalista que não aceita a independência da Argélia e acusa de Gaulle de traição) e maltrata também a esposa. Ele também é portador de transtorno de personalidade, e abusa da violência para adquirir seus intentos. É um filme denso, às vezes tentando entrar num universo lúdico infantil, mas logo parte para a violência novamente. Em uma cena, o cineasta homenageia “TAxi driver”, de Scorsese, quando o pequeno Emile treina o uso de arma de forma improvisada em frente a um espelho. Um belo filme, doloroso, defendido por um excelente elenco. Poelvoorde defende um personagem difícil, e o faz com brilhantismo. 

Mali twist


"Twist à Bamako", de Robert Guédiguian (2021)

“Mali twist”, de Robert Guédiguian. Premiado cineasta e realizador francês, casado com sua atriz fetiche Ariane Ascaride, protagonista de quase todos os seus filmes, como “Marie Jo e seus dois amantes”, “O fio de Ariane”, “A cidade está  tranquila”, ‘Armênia”, entre outros, Robert Guédiguian é famoso pelo cinema humanista, em defesa dos oprimidos e a favor de luta de classes.

Em “Mali twist’, Guediguian aponta suas lentes para o país de Mali, até 1960, colonizado pela França. O filme foi inspirado nas fotografias de Malick Sidibé, cujas obras abrangem dos anos 50 a 70 e reunidas em livro de mesmo nome, “Mali twist”. O filme traça um painel político, social e econômico de Mali pós independência e as consequências na vida do povo sofrido, tendo como pano de fundo uma história de amor trágica.

"Vocês intelectuais queriam fila e agora fico horas na fila". "Antes você não tinha fila mas tinha fome. Agora você pode alimentar seus filhos”. Esse diálogo sintetiza o filme, dado entre uma mulher do povo e o agente do governo Samba (Stéphane Bak), um jovem socialista, que espalha a palavra do socialismo e seus benefícios para as aldeias do Mali no ano de 1962, em Bamako. Sonhando com um futuro melhor para um Mali independente livre do domínio colonial da França, Samba e seus colegas de trabalho tentam educar os aldeões sobre como o socialismo beneficiará a todos, não apenas os ricos. Em suas viagens pelo interior, para levar as palavras e dogmas do socialismo, ele conhece Lara (Alicia Da Luz Gomes), que foge de um casamento arranjado. Samba a leva com ele, e acabam se apaixonando. O irmão de Lara e seu pretendente decidem ir atrás d jovem, por questão de honra. 

O filme tem um roteiro complexo e às vezes confuso. Tentando apresentar os benefícios do socialismo para a população e ao mesmo tempo, apresentando queixas da população e de comerciantes que questionam que o governo irá tomar posse de absolutamente tudo. Mesmo o personagem Samba vive um enorme conflito: idealista do socialismo e Marx, mas ao mesmo tempo, apaixonado pela cultura ocidental: as músicas americanas, a moda, o twist, a liberdade dos Night clubs. 

O filme finalizada no ano de 2012, com o Mali sendo tomado pelos Jihadistas, onde absolutamente tudo é proíbido: ouvir música, dançar, as mulheres devem se cobrir todas. Com uma excelente direção de arte, fotografia, maquiagem, trilha sonora e ótimos atores franceses e Malinenses, o filme corria o enorme risco de ser um exibicionismo de um cineasta francês e branco sobre uma realidade dos oprimidos e colonizados. Muitos críticos apontaram essa questão e falaram mal do filme. Achei válido e levantando questões muito importantes para os dias de hoje, principalmente, a pauta feminina, onde mulheres vivem em culturas patriarcais s milenares onde sua liberdade é arrancada. 


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O enfermeiro da noite

 


"The good nurse", de Tobias Lindholm. Roteirista de filmes mega premiados como os dinamarqueses "A caça", "Druk- mais uma rodada", "O submarino", "A comunidade", todos de Thomas Vintemberg, o roteirista e cineasta Tobias Lindholm já foi indicado ao Oscar pelo drama "Uma guerra". Agora, ele trabalha com dois atores premiados com o Oscar, Eddie Redmayne, por "Teoria de tudo", e Jessica Chainstain, por "Os olhos de tammy Faye”. O filme é adaptado do livro ”The good nurse”, de Charles Graeber, escrito em 2013. Baseado na história real de Charlie Cullen, serial killer que confessou o assassinato de 29 pacientes nos 16 anos em que trabalhou como enfermeiro, mas acredita-se que esse número chegue a 400 pacientes. Ele cumpre prisão perpétua. A outra personagem é a enfermeira Amy (Jessica Chainstain), que trabalhava no Hospital em New Jersey no ano de 2003 quando conheceu Charlie. Ambos se tornaram grandes amigos. Amy sofria do coração e Charlie a auxiliava tanto no trabalho quanto na casa dela, com suas duas filhas pequenas. Subitamente, pacientes morrem no hospital, e a polícia investiga. O próprio hospital esconde qualquer tipo de evidência, evitando serem processados.

O filme é um belo suspense clássico, com grandes performances do elenco. Mas no fundo, aproveita para discutir muitos outros temas: o problema da saúde pública, quando a maioria da população não possui planos de saúde e os atendimentos são caríssimos; a corrupção dentro dos hospitais e a solidão de pacientes e população civil nas grandes cidades. Dirigido com firmeza por Tobias Landholm, com um roteiro que transita entre o drama e suspense e na investigação policial com uma tensão que percorre o filme todo.

A última sessão de cinema


 "Chhello show", de Pan Nalin. 'A última sessão de cinema", de Pan Nalin. Fazia tempos que eu não chorava tanto com um filme. E no final, fiquei minutos em lágrimas por conta do amor que esse filme indiano declara à sétima arte, citando os maiores cineastas da história, através da narração do protagonista, o pequeno Samay (Bhavin Rabari, extraordinário!!!!), de apenas 9 anos. O filme foi indicado pela Índia a uma vaga ao Oscar 2023, e recebu inúmeros prêmios em festivais.A maioria dos críticos cita o filme como o ''Cinema Paradiso" indiano", mas o filme vai além. Ele conta de forma poética e melancólica sobre o fim do cinema de película e a entrada do cinema digital, com o extermínio de projetores, latas de negativos e as profissões dos projecionistas. Samay (Bhavin Rabari) mora com seus pais e sua pequena irmã numa pequena estação ferroviária no interior da Índia. O pai já teve posses, mas os irmãos lhe roubaram as 500 cabeças de gado. Hoje, ele tem uma barraquinha de venda de chá para vender aos passageiros que descem de trem. Samay ajuda seu pai a vender o chá. Um dia, seu pai leva a família para ver um filme no cine Galaxy, e Samay fica apaixonado pelo filme e pela fotografia. Ele decide ir toda tarde pro cinema ver um filme. Sem dinheiro, ele oferece a comida que sua mãe prepara para que o projecionista o deixe ver filmes na sua cabine, e se tornam grandes amigos. Mas o pai de Samay o proíbe de ver filmes, pois diz que é para vagabundos. Samay junta seus amigos e rouba trechos dos negativos que estão no depósito, e cria um esquema de projetar na parede de uma vila abandonada. A cena onde Samay e os amigos projetam filmes e fazem sonorização amadora é antológica. Outra cena de cortar o coração é quando ele testemunha o destino dos projetores e celulóides na fábrica, após o fim da era da película: viram talheres, tintas e pulseiras. O filme é obrigatório para qualquer cinéfilo, que irá se identificar se forma camaleônica com o protagonista. Um primor.



quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Ponte do destino

 


"Bridge of destiny", de Nguyen Huu Tien (2022)
Sensacional melodrama romântico LGBTQIAP+ vietnamita, que com uma trama mais exagerada do que qualquer novela mexicana, diverte e faz rir das reviravoltas espetaculares, principalmente uma que remete a "A pele que habito", de Almodovar. É tudo over, desde as performances, a trilha sonora exacerbada, a direção e claro, um roteiro mirabolante que confesso, dei um pulo no grande plot twist. Ah, e o elenco, mesmo passando 20 anos, continuam com a mesma fisionomia. Genial!

O filme traz sensualidade nas cenas de sexo, discretas mas bem iluminadas. Em 1999, o filho de um rico dono de terras, Thang, se apaixona por Cuong, um operário. Ambos se tornam amantes. Thang no entanto, tem uma namorada, Ha, que está grávida dele. Quando o pai de Thang descobre que seu filho é amante do Cuong, expulsa o empregado e obriga o seu filho a se casar com Ha. 20 anos se passam. Cuong agora é casado com Trung, uma bela estilista, e possuem um filho adolescente, Ha. Cuong esconde que teve um relacionamento homossexual de todos. O casal é bem de vida e bem relacionado. Até que um misterioso rapaz, amigo de Ha, surge na vida de Cuong, e fará com que ele tenha que resolver traumas do passado.

O filme é bacana, justamente por conta do excesso de melodrama. No entanto, o sub plot do namoro adolescente de Ha com uma garota, e os colegas de escola, acabam tornando o filme longo. É uma sub-trama que não acrescenta nada ao drama principal dos adultos, esse sim sensacional, uma história de vingança com sabor de novelão mexicano. 




Jaula


 "Jaula", de Ignacio Tatay. Protagonizado pela estrela espanhola Elena Amaya, de "A pele que habito", de Almodovar, "Jaula" é um ótimo suspense como os espanhóis sabem fazer muito bem, e tendo a chancela do mestre Alex de La Iglesia na produção. Elena é Paula, casada com Simón. O casal tem dificuldades para ter filhos, mas não desistem. Ao voltarem para casa, encontram uma menina de 12 anos abandonada na estrada de noite. Levada ao hospital, ela é batizada de Clara, mas ela se recusa a falar. Paula decide levá-la para sua casa, para ver se a família aparece. Estranhamente, coisas vão acontecendo, entre elas, Clara tem o hábito de desenhar-se dentro de linhas de giz. Convidados do casal encontram cacos de vidro na comida. Quando Paula decide ir atrás da polícia para encontrar algo relacionado à menina, ela encontra dados aterrorizantes.

A história de "Jaula" me remeteu imediatamente à história da pequena Madeleine Maccan, desaparecida em Portugal durante férias, inclusive a atriz se parece com ela. Mas o desdobramento da história em um aterrorizante plot twist tem deixado muita gente passada. Com ótimas performances do elenco e um roteiro complexo, o filme prende a atenção do espectador, com um desfecho assombroso. 



Scream- The inside story


 "Scream- The inside story", de Daniel Farrands (2011)

Documentário que apresenta aos fãs os bastidores do filme “Pânico”, lançado em 1996 e que revitalizou o gênero do terror slasher, que estava totalmente em baixa nos anos 90. Kevin Willianson, o roteirista, era um ator sem grande expressão e com contas atrasadas de aluguel. Ao assistir uma reportagem sobre um serial killer na Flórida que assassinou estudantes, ele decidiu escreveu um roteiro chamado ‘Scary movie”, onde misturava o universo adolescente de John Hughes, terror e comédia. Suas inspirações foram 5 clássicos do terror: "Black christmas, Sexta feira 13", "Halloween", "A hora do pesadelo” e "Quando um estranho chama”. Ele ofereceu o roteiro a vários estúdios, até que a Miramax dos irmãos Weisntein se interessaram. Eles abriram uma divisão na empresa somente para filmes de gênero chamada ‘Dimension films”. Vários diretores foram chamados: Wes Craven, o primeiro, declinou. Depois foram chamados Sam Raimi, George Romero, que igualmente declinaram. Quando Creven soube que Drew Barrymore havia sido contratada e que iria fazer a protagonista Sidney Prescoot, ele ficou interessado. O golpe final foi de um fã de 12 anos que disse que Creven deveria voltar a fazer filmes para o público de terror, e não os filmes que andava fazendo nos anos 90. Faltando 5 semanas para filmar, Drew Barrymore avisou que não queria mais fazer Sidney, e foi um rebuliço na produção. Ela queria fazer a garota do prólogo, pois para ela seria mais instigante o público achar que ela seria a protagonista, mas morreria logo nos 13 minutos. Neve Campbell foi escolhida e assim, todos do elenco, incluindo Courteney Cox, que queria fazer e teve que provar aos produtores que poderia fazer uma Bitchy. A curiosidade vem com a voz de Ghostface: coube ao ator Roger L. Jackson, que nunca mostrou seu rosto para ninguém e ficava escondido no Set, ligando de verdade para os personagens. O filme teve muitos problemas de produção, como cancelamento de locações, cortes da censura e uma bilheteria fraca no início. Mas o filme foi crescendo no boca a boca até se tornar uma das maiores bilheterias do gênero, ficando 31 semanas em cartaz: custou 16 milhões e rendeu 100 milhões de dólares. Gerou 5 filmes da franquia, sendo o último, em 2022. 


Wow!


 "Wow!", de Claude Jutra. Clássico documentário canadense de 1970, com uma narrativa experimental e que busca linguagem narrativa advinda da Nouvelle Vague francesa, especialmente os filmes de Agnes Varda. Alternando documentário e ficção, o filme traz um prólogo que lembra muito 'Zabriskie point", de Antonioni: jovens explodindo símbolos do capitalismo nas ruas de Quebec. Descobrimos que essas cenas fazem parte dos sonhos de um grupo de 9 jovens de classe média. Cada um deles dá depoimentos sobre sexo, vida e projeção de futuro, através de sonhos narrados e filmados. A cena final é um primor de realização: com linguagem totalmente naturalista, um jovem prepara um haxixe para fumar. Um colega chega, tira a base da caneta e o usa para fumar também, como se fosse um narguilé. Logo o primeiro rapaz começa a ter uma viagem psicodélica, onde ele se lembra de sua infância e as brincadeiras com sua mãe e um porco espinho. Um filme belo, livre de linguagem clássica, com lindos enquadramentos e fotografia. Destaque também para uma cena onde um dos rapazes corre pelado pelas ruas de Quebec, sob os olhos dos pedestres, chocados. 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

In from the side


 "In from the side", de Matt Carter. Um épico romântico LGBTQIAP+, "In from the side" tem 135 minutos de duração e apresenta dois belíssimos protagonistas, ambos jogadores de um time gay de rugby inglês. Os companheiros de equipe de rugby Mark (Alexander Lincoln) e Warren (Alexander King) participam de uma festinha da equipe em uma balada. Bêbados, acabam na cama. No dia seguinte, Warren se desespera: confessa para Mark que namora outro companheiro de equipe John (Peter McPherson). Mark por sua vez namora um homem mais velho. Os dois homens, no entanto, não resistem à paixão e continuam se encontrando às escondidas, escondendo o caso do resto da equipe. À medida que seus sentimentos um pelo outro se intensificam, Mark e Warren começam a questionar suas escolhas e a ameaça de serem expostos paira sobre os dois.

Rodado em lindíssimas locações na Inglaterra e Genebra, o filme tem bela fotografia e cenas do esporte rugby muito bem filmadas. No entanto, sua excessiva duração, e um roteiro clichê sobre relacionamentos e traições, não sustentam seus 135 minutos. É um novelão, com cenas de sexo assépticas e sem tesão. 


Os retaliadores


 "The retaliators", de Samuel Gonzales jr, Michael Lombardi e Bridget Smith. Premiado em diversos Festivais de filme de terror, 'Os retaliadores" é uma produção independente americana que traz referências a clássicos dos anos 80, como "The evil dead" ou "Quadrilha de sádicos". A história se passa em arredores de New Jersey, onde um pastor, Bishop (Michael Lombardi, um dos diretores), prega na sua igreja. Ele é apaixonado pelas suas duas filhas, a adolescente Sarah e a pequena Rebecca. Quando Sarah vai para uma festa, enquanto coloca gasolina, ela testemunha um traficante colocando uma vítima em seu porta malas. O traficante, Ram, persegue Sarah e a mata. Bishop, arrasado, decide buscar vingança, e encontra apoio no delegado Jed, que teve sua esposa assassinada por um serial killer que ele havia colocado na prisão há anos e que agora está solto. 

Os agitadores


 "Os agitadores", de Marco Berger. O cineasta argentino Marco Berger é dono de uma filmografia facilmente identificável e que se mostra presença obrigatória em qualquer Fetstival queer do mundo. Celebrado como uma das vozes mais potentes do cinema LGBTQIAP+, Berger durante boa parte de sua trajetória trabalhou em conjunto com o fotógrafo Marco Farina. Aqui, é a primeira vez em que não trabalham juntos, mas a estética e linguagem continua a mesma: muitos planos estilizados, como um grande comercial, mostrando corpus totalmente nus de um elenco de dez dos mais belos homens da Argentina, sem nenhum puder em cenas onde o homoerotismo se faz presente com força total. Muito tesão, voyeurismo, e para quem assistiu a outros filmes do cineasta, como "Taekwondo", que lembra bastante esse aqui, sabe o que irá encontrar. 

Um grupo de 10 amigos, jogadores de hockey, passam uma semana na rica mansão de um deles, isolada. Entre brincadeiras idiotas de machos heteros repletos de masculinidade tóxica, misoginia, homofobia, a todo momento fazem piadas sobre gays, pegando nos pênis um dos outros, nas bundas, simulando sexo anal. Um deles é gay enrustido, e com medo de seus amigos o rejeitarem, ele se sente oprimido. Até que a violência explode.

Bom, qualquer apreciador de Marco Berger sabe que o que menos importa é o roteiro. Tensão sexual é o ponto de partida, sempre, com muitas cenas em closes de genitais e corpos sarados. Fico bobo pensando aonde Berger consegue escalar todo esse elenco, que podem não ser atores fodas, mas cumprem os seus personagens com dignidade. 

Two and one


 "Two and one", de Ivan Andrew Payawal (2022)

Drama romântico LGBTQIAP+ filipino, "Two and one" exala sensualidade e muito homoerotismo ao longo de suas quase duas horas de duração. O filme apresenta dois rapazes, Tino (Miggy Jimenez) e Chan (Paolo Pangilinan). Ambos se conhecem em uma viagem de ônibus e papo vai, papo vem, já se apaixonam. Eles namoram, passeiam, até que no dia da primeira noite do sexo, descobrem que ambos são ativos sexualmente. Sem largarem mão de suas posições sexuais, eles procuram manter o relacionamento, mas chega uma hora que se torna tediosa. Ambos decidem ir em busca de uma terceira pessoa, Joaquin (Cedrick Joaquin), um trabalhador local da praia que concorda ser o passivo na relação dos dois namorados. Mas o ciúme e a traição logo toma conta do jogo.

O roteiro do filme é bem simplório, e até mesmo óbvio em seu desfecho. O que interessa aqui, é a beleza dos 3 atores, na maior parte do tempo semi-nus, e as cenas de erotismo. Para quem curte um filme exalando tesão, "Two and one" é uma boa pedida, mas não espere uma grande dramaturgia.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Terrifier


 "Terrifier", de Damien Leone (2016)

Cult de terror splasher (gênero onde o gore vai a nível extremo) lançado em 2016. O filme amealhou legião de fãs, que acabaram bancando a realização da parte 2 em 2022, famoso na mídia por fazer espectadores desmaiarem e vomitarem nas salas de cinema.

O filme se passa na noite de Halloween. Duas amigas, Tara e Dwan, perambulam pelas ruas após uma festa, e o caminho delas se cruza com Art the Clown, um palhaço assassino que usa de métodos brutais para assassinar suas vítimas.
Diferente da parte 2, o primeiro, ainda que tenha cenas chocantes de assassinatos, usa efeitos práticos visivelmente fakes para a violência, fazendo lembrar dos filmes italianos giallio dos anos 70 e 80, com mãos, cabeças mutiladas e decapitadas e muito, mas muito sangue.Uma cena que certamente fará com que eu não recomende o filme para ninguém, é quando Art serra uma mulher ao meio, da virilha à cabeça, sem cortes. Uma chacina que provocará pesadelos. Nem Pennywise usaria tanto.

Raymond e Ray


 “Raymond e Ray”, de Rodrigo Garcia (2022)

Escrito e dirigido pelo colombiano Rodrigo Garcia, filho do escritor Gabriel Garcia Marques e realizador do cult “Coisas que você pode dizer só de olhar para ela”, “Raymond e Ray” ‘um belo melodrama protagonizado por Ethan Hawke e Ewan Macgregor, ambos na casa dos 50 anos e bastante maduros fisicamente, e é um prazer assistir ao embate desses dois grandes atores em cena, acrescentado do talento de Mariel Verdu e de Sophie Okonedo.

Raymond (Ewan MAcgregor) chega na casa de Ray (Ethan Hawke). Os dois meio irmãos, de mães diferentes, tiveram uma vida infernal com o pai Harris, um abusador. Raymond anuncia que o pai faleceu e cujo último desejo era que os dois irmãos cavassem a cova dele, juntos. Ray hesita, pois o trauma que tem do pai o impede de expressar qualquer tipo de afeição. Raymond, por sua vez, também odeia o pai: ele transou com a esposa de Raymond e cujo filho na verdade, é filho de Harris! Nessa confusão familiar, repleta de traições e mentiras, os irmãos acabam se convencendo de cumprir o desejo do pai. Eles conhecem a viúva de Harris, interpretado por Verdy, e a enfermeira dele, Okonedo.

Um filme cuja força é o talento dos atores, todos ótimos. O roteiro não traz muitas novidades ao gênero de irmãos que se reconectam com passado traumático, mas a bela fotografia e a direção segura e delicada de Garcia fazem o filme ser visto. 

K


 "K", de Juan Simons. Excelente curta LGBTQIAP+ espanhol, retrata o universo toxico masculino na relação entre um garoto de programa, K, e seu amante, Nelson, que mora com seus pais conservadores e mantém como fachada um romance com uma garota. No dia do aniversário de Nelson, K faz programas para poder pagar um par de tênis que Nelson tanto quer, mas esse, que havia prometido passar a noite com K, acaba passando a noite com sua namorada.

Com trabalhos excelentes dos dois jovens atores, Miguel Angel Jimenez e Alex Queiroga, o filme exala sensualidade, paixão e tesão.

domingo, 23 de outubro de 2022

Argentina 1985


 "Argentina 1985", de Santiago Mitre (2022)

Impossível não cair em prantos de comoção ao final de ‘Argentina 1985”, quando surgem as fotos de arquivo reais de muitos dos personagens retratados no filme. O filme foi indicado pela Argentina ao Oscar de filme estrangeiro 2023, e recebeu diversos prêmios internacionais, entre eles, em San Sebastian e o Fipresci do Festival de Veneza 2022. Protagonizado pelos esplêndidos Ricardo Darín e Peter Lanzali (super galã protagonista de “O anjo”, “O clã” e “4X4”), o filme traz a história real do promotor Julio Strassera (Ricardo Darin) e seu vice, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), incumbidos de comandar um tribunal civil em 1985 cujos réus eram nada mais nada menos que 9 dos maiores criminosos militares da ditadura da Argentina que durou 7 anos e provocou milhares de assassinatos e desaparecidos políticos, entre eles, o General Videla. A Argentina tornou-se democracia em 1983, e em 1985, pela primeira vez na história, uma tribuna de civis estava condenando réus militares. Os promotores, junto de seu grupo formado por jovens advogados, e estavam sendo ameaçados anonimamente. Os militares se recusam a aceitar a legitimidade do tribunal, alegando só receberem ordens de um tribunal formado por militares. Testemunhas são convocadas, mas muitas desistem, com medo de represálias. Os promotores t6em apenas 5 meses para colher depoimentos e provas para condenar os réus, caso contrário, nada acontecerá com eles. 

O depoimento mais emocionante é o de Adriana Calvo de Laborde (Laura Paredes), sequestrada e torturada enquanto estava grávida, dando a luz para sua filha ainda sob o controle dos militares.Com uma performance extraordinária da atriz, em um monólogo arrebatador, o filme se mostra uma aula de cinema, de pesquisa história, reunindo um time de artistas brilhantes, com excelência técnica. Um filme obrigatório para se refletir o mundo em que vivemos, constantemente ameaçados em nossa liberdade em países democráticos. 

sábado, 22 de outubro de 2022

Slayers


 "Slayers", de K. Asher Levin. Há tempos eu não assistia a um filme tão ruim, e o que me doeu mais, foi ver o nome de Abigail Breslin, a menininha de "A pequena Miss Sunshine", agora já crescida, entre as protagonistas desse arremedo de filme trash com comédia de humor ácido para adolescentes. O filme pode ser visto também como uma metáfora crítica ao universo dos influenciadores, que aqui no filme são fúteis e interesseiros, desejando apenas seguidores e dinheiro, gananciosos. O filme começa com um prólogo afirmando que por milênios, sempre houve embate entre humanos e vampiros na Terra. Nos dias de hoje, fica difícil identificar quem são os vampiros, que em um placar digital, seguem vitoriosos sobre os humanos. Um grupo de influenciadores, chamado de Slayers, recebe um convite de Steven Rektor (Adam Ambruso), um vampiro disfarçado, multimilionário, que está tentando tornar o mundo um lugar melhor junto com sua esposa vampira Beverly Rektor (Malin Akerman). Para evitar que sejam massacrados pelos vampiros, o caçador de vampiros, Elliot Jones ( Thomas Jane), entra com o grupo na mansão do milionário. Um dos influenciadores é irmão de Elliot, Jack. 
Abigail Breslin interpreta Jules Jay, uma das influenciadoras mais fúteis. É triste demais vê-la em papel tão aquém de seu talento. OS efeitos, a edição, a arte gráfica, tudo é ruim. Os atores, amadores, e o roteiro, uma tristeza. 

Matriarca


 "Matriarch", de Ben Steiner (2022)

Terror co-produzido por Estados Unidos e Inglaterra, mas com atores ingleses. O filme busca na literatura do folclore celta a base para a história, mais precisamente, a Deusa "worn eater". O filme se aproxima de filmes como "O homem de palha", com elementos de rituais e sacrifícios.

Laura (Jemina Rooper) é uma publicitária de sucesso em Londres. Mas para obter tal qualificação, ela se dá ao máximo no trabalho, e para isso, ela se droga com cocaína para poder manter o pique. Uma noite, ao transar com sua namorada, ela se excede na cocaína e tem uma overdose. Estranhamente, um líquido preto e viscoso surge e a ressuscita. Sua mãe, com quem ela não falava há anos, Celia (Kate Dickie) liga e pede para que a filha retorne à cidade natal dela, no interior da Irlanda, para passar um tempo com ela. O reencontro das duas surpreende Laura: sua mãe e os vizinhos não envelheceram nada.
Um terror interessante, com uma fórmula desgastada, mas ainda assim, trazendo atmosfera e uma inusitada cena de orgia entre os idosos. As duas atrizes principais estão ótimas, e os efeitos CGI são bons para um projeto de baixo orçamento.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Terrifier 2


 "Terrifier 2", de Damien Leone. Para começar: esse filme não tem como indicar para ninguém assistir. Toda a mídia postou matérias sobre espectadores que desmaiaram e vomitaram durante as sessões, chamando ambulâncias. O filme possui inacreditáveis 138 minutos de duração, e do início ao final do filme, são cenas de assassinatos provocados pelo assassino Art the clow, da forma mais brutal e violenta possível. Todas as mortes possuem cenas esticadas, prolongando a tortura e desespero das vítimas, um sadismo ao extremo. Um exemplo de morte gráfica: uma vítima tem o couro cabeludo arrancado, seus braços arrancados e quebrados, cortada em mil facadas e ainda o assassino joga sabão em pó nas feridas para arrancar a pele e vísceras de forma mais fácil, e isso tudo com a vítima ainda viva.

Para quem busca um tortura porn mais radical que "Jogos mortais", certamente irá amar o filme. O primeiro filme, de 2016, fez enorme sucesso com a crítica e com o público, que de tão fiel, bancou a realização dessa 2a parte. Art the clown ressuscita e decide matar pessoas na noite de Halloween. Sienna e seu irmão menor Jonathan são os mocinhos do filme, mas até Art chegar neles, ele mata todos os amigos deles. O filme, apesar da duração e das mortes horrendas, é realizado como se fosse uma homenagem aos gore trash italianos dos anos 80, mas com mortes mais brutais. Esteja preparado para assistir ao filme, que tem um roteiro sem pé nem cabeça, mas o que interessa aqui é a construção do terror e os assassinatos. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Está em todos nós


 "It is in us all", de Antonia Campbell-Hughes (2022)

Drama independente irlandês, escrito e dirigido pela atriz Antonia Campbell-Hughes, em sua estréia em longas-metragens. 

O filme é um drama doloroso, pesado, melancólico, sobre um rapaz depressivo, Hamish (Cormo Javis). Sua mãe morreu e ele decide ir visitar o norte da Irlanda para morar por um tempo na casa dela, de quem esteve afastado. Hamish é um homem solitário, apesar de ter deixado sua namorada em Londres. A sua relação com seu pai é fria, e eles se comunicam via zoom, com o pai morando em Hong Kong. Um dia, ao andar de carro em uma estrada isolada, Hamish acaba batendo de frente com um outro carro. O rapaz, Evan (Rhys Manniot), sobrevive, mas seu colega adolescente morre. O fantasma da morte assombra Hamish, ao passo que Evan não sofre pela morte do colega. Evan, de 17 anos, vê em Hamish em exemplo de masculinidade e se sente atraído por ele. Hamish também sente atração, mas evita uma aproximação maior. 

Um filme que discute morte, homoerotismo, depressão, em um mundo onde homens precisam provar o tempo todo a sua masculinidade. Com um ótimo trabalho de atores e uma fotografia premiada no prestigiado Festival SXSW, o filme traz um ritmo bem lento e exige certa paciência do espectador.