domingo, 28 de fevereiro de 2021

Sweet boy


"Sweet boy", de Niroon Limsomwong e Sathanapong Limwongthong (2016)
Drama romântico tailandês adolescente LGBTQIA+, "Sweet boy" é bastante ousado e provocativo, com um elenco todo adolescente em cenas de homoerotismo explícito.
O filme apresenta o dilema de Naki, um estudante CDF que faz parte de um grupo de rapazes encrenqueiros. Naki é gay, mas tem medo de sair do armário e mantém sua fachada. Quando um dos colegas, Toy, passa a reparar em Naki de forma diferente, ambos dividem momentos de amizade misturado a outras sensações. Naki também teme que sua mãe homofóbica descubra a sua sexualidade.
Histórias como essa existem às centenas em filmografias Lgbt no mundo todo. O que difere esse de outras produções é a forma como os diretores filmam os corpos do elenco, com bastante tensão sexual. O elenco é bonito, mas todos péssimos atores. Vale pela diversão, um drama carregado em melodrama novelesco.

Loucuras de amor


"Loco por ella", de Dani de la Orden (2021)
Que linda essa comédia romântica espanhola, repleta de humor e emoção. O filme, escrito pela dupla Natalia Durán e Eric Navarro, se apropria do mote de "Um estranho no ninho" e o traz para o gênero do romance: o publicitário Adri (Álvaro Cervantes) conhece Carla (Susana Abaitua) em uma noite no bar e juntos prometem ter a melhor noite de suas vidas, sem saber nada de nenhum dos outros, e no dia seguinte irem embora. Mas Adri se apaixona por ela e no dia seguinte decide tentar encontrá-la Ele descobre que ela é interna de uma clínica psiquiátrica por problemas de transtorno bipolar. A única forma dele entrar lá é se internando também. Só que ao discutir com Carla, ele decide ir embora, mas descobre que é impossível. Adri precisa então passar por um período ali até receber alta. Nesse tempo, ele entende melhor a questão das doenças mentais tanto de Carla quanto de outros internos.,
Com um excelente trabalho de todo o elenco, compondo tipos extravagantes mas bastante carismáticos, o roteiro do filme caminha no limite de não desrespeitar as doenças mentais, e isso resolve bem no desenrolar da história, através do preconceito das pessoas que desconhecem a fundo os problemas. Um filme gostoso, emocionante, com ótimas piadas e diálogos. A personagem com síndrome de Tourette é impagável, falando palavrões o tempo todo.

Para Gerard


"To Gerard", de Taylor Meacham (2020)
Super premiado curta de animação escrito e dirigido por Taylor Meacham, que trabalha na Dreamworks. Inspirado em seu pai, que lhe ensinou que o importante é seguir seus sonhos, Taylor Meacham conta a história do carteiro Gerard. Ele trabalha em uma agência postal separando cartas. E;e se lembra que na sua infância, ele foi apaixonado pela arte de um mágico, que lhe deu uma moeda mágica e que ele seguisse seus sonhos. <as Gerard continuou como carteiro. Até que um dia, uma menininha surge na sua frente, e Gerrard resolve dar para ela sua moeda.
Premiado em Annecy, o maior Festival de animação do mundo, e pré=selecionado para o Oscar da categoria em 2021, "Para Gerard" é um filme para se emocionar e chorar. Lindo, poético, com uma mensagem edificante e importantíssimo para as crianças de hoje.

Parceiros da noite


"Cruising", de Willian Friedkin (1980)
Clássico trhiller LGBTQIA+, "Parceiros da noite" se tornou o 1o filme mainstraim de Hollywood a investir no universo gay de forma realista. O filme chocou a todo mundo, foi proibido em vários países e durante as suas filmagens, grupos ativistas gays tentaram paralizar a produção, alegando que o filme denegriam a sua imagem diante do grande público.
Adaptado do livro homônimo escrito pelo jornalista da The New Yorker, Gerald Walker, sobre os assassinatos cometidos contra gays em NY dos anos 70. O filme é uma obra histórica importante por revelar uma Nova York decadente, perigosa e underground, principalmente em 2 de seus maiores ícones turísticos: Time Square e Central Park, famosos até então pela zona de prostituição e sexo livre. Foi o prefeito Rudolph Giuliani e sua política de Tolerância Zero que varreu essa Nova York e a transformou no que ela é hoje em dia. Nos anos 70, Times Square era onde se concentravam casas de sexo, saunas, cinemas pornôs e à noite virava área de prostituição.
Fora isso, tanto Willian Friedkin quanto Al Pacino colocaram suas carreiras em risco. Na época, o filme foi destruido pela crítica e foi fracasso de público. O filme hoje em dia se tornou clássico, Al Pacino é reverenciado pela sua coragem em interpretar um personagem tão controverso e Willian Friedkin pela coragem artística, sem fazer qualquer tipo de concessão. O filme ficou tão realista em sua abordagem do universo gay leather e B&M, que dizem que 40 minutos do filem foram cortados. Em 2013, James franco dirigiu o filme explícito "Interior leather bar", reproduzindo as cenas de sexo explícitas retiradas do filme original.
Al Pacino interpreta Steve, um policial padrão, casado com Nancy (Karen Allen). Ele é convocado pelo Capitão Edelson (Paul Sorvino) a se infiltrar na noite gay para tentar encontrar o paradeiro do serial killer que mata gays. Steve acaba se transformando: ao se infiltrar, ele descobre segredos até então ocultos dentro de si.
Sim, o filme é homofóbico, é mega violento, é misógino. Mas ao mesmo tempo, é uma obra de arte, um filme cruel, sujo, pervertido, fetichista, ousado, corajoso, bravo e certamente, um filme que Hollywood jamais conseguirá fazer novamente. O mundo já foi mais vanguarda.

Philipino story


"Philipino story", de Benji Garcia (2013)
Drama LGBTQIA_ filipino, premiado em alguns Festivais, é escrito e dirigido por Benji Garcia.
O filme apresenta Philip, um jovem que mora com seu irmão, cunhada e sobrinha em um barraco na favela de Manilla. Philip é amante de Bastian, um homem bem mais velho, que trabalha como artista plástico. Bastian ajuda Philip financeiramente. Philip gasta todo seu dinheiro para ajudar seu irmão e sua família que passam necessidades. Quando Bastian decide dar um tempo no relacionamento, Philp se desespera e passa a se prostituir.
Drama com tintas bastante novelescas, com trilha sonora apelativa e uma trama que caminha para uma tragédia. A produção do filme é tecnicamente pobre, com baixo orçamento. Mas os bons atores, mesmo que com um roteiro que exija muitas ações melodramáticas, seguram a onda. O filme apresenta a periferia e submundo de Manilla, distante dos cartões postais.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Tom & Jerry- O filme


"Tom & Jerry- the movie", de Tim Story (2021)
Versão cinematográfica de um dos personagens mais famosos da dupla Hannah & Barbera, Tom & Jerry. O filme conta com uma excelente animação computadorizada, misturando atores e desenho. A direção é de Tim Story, mais conhecido por ter dirigido a versão para o cinema de "Shaft", e também a adaptação para os cinemas da primeira franquia de "O quarteto Fantástico".
O filme apresenta Tom & Jerry em Nova York, e como eles se conhecem. Logo de cara, ambos se tornam inimigos. Depois de muitas brigas, os dois acabam parando em um grande hotel de luxo, onde Kayla (Chloë Grace Moretz) vai pedir emprego como uma sub-gerente. Kayla rouba Cb de uma concorrente e acaba pegando o trabalho. O gerente Terence (Michael Pena) desconfia de que Kayla não aparenta ser a grande profissional. O Hotel vai ser o local do casamento do ano: os influencers Ben e Preeta armam uma grande celebração, mas Tom & Jerry acabam estragando tudo.
O filme fará mais sucesso para a criançada do que para os adultos nostálgicos. A história é bastante ingênua, e certamente uma de suas grandes referências é "Um convidado bem trapalhão", de Blake Edwards. O maior mérito é o filme manter a sequência de porradaria entre gato e rato, não fazendo concessões ao politicamente correto dos desenhos de hoje em dia.

"A viúva das sombras


"Vdova" de Ivan Minin (2020)
Para quem ainda não se cansou de assistir a centésima produção que copia o mote de "A bruxa de Blair", "A viúva das sombras" pode ser uma boa opção. Para não ficar somente nessa referência, essa produção russa ainda traz referências de "Rec", filme espanhol de terror.
Reza a lenda que uma mulher foi acusada de matar o seu marido. A população resolveu matá-la afogando-a no pântano da floresta. Desde então, segundo o filme, baseado em fatos reais, todo ano mais de 300 pessoas desaparecem na floresta próxima a Saint Peterburgo. Uma equipe de voluntário recebe o chamado que um menino desapareceu na floresta, e decidem ir resgatá-lo. Ao invés do menino, encontram uma mulher. Desorientada, a equipe resolve levá-la. Só que se perdem e não conseguem sair da floresta. A repórter que acompanha o grupo, Vika, grava tudo, mas o que irão encontrar são vestígios de que a lenda realmente existe.
O filem é tão descaradamente copiado de "A bruxa de Blair"que pelo menos duas cenas são exatamente iguais: os artefatos demoníacos inscritos nas árvores, e a pessoa que fica de costas contra uma parede em uma cabana abandonada.
A única diferença desse filme para os clássicos j;a citados, é que a linguagem do found footage só vai até determinado ponto.

Glauber, Claro


"Glauber, Claro", de César Meneghetti (2020)
Premiado documentário que retrata a fase italiana de Glauber Rocha, onde realizou o longa "Claro", de 1975, com elenco francês, americano e italiano e retrata a juventude italiana em crise com o seu Governo. Roma é vista como a capital do Imperialismo e do capitalismo. O documentário faz uma analogia dessa força que o filme teve na época, mostrando a juventude indignada, com a geração que nos dias de hoje também panfleta nas mesmas ruas representadas no filme de Glauber. Pegando depoimentos de atores, técnicos e produtores, "Glauber, Claro" apresenta uma faceta do cineasta mais polêmico da história pelo ponto de vista de quem trabalhou com ele, encantados com sua força e energia.
Com trechos do filme intercalados com depoimentos e imagens de Roma nos dias de hoje, captados em belos movimentos aéreos de drone, o filme termina com a raivosa entrevista de Glauber para a imprensa, logo depois que o juri do Festival de Veneza de 1980 anuncia os seus vencedores. Glauber estava presente em competição com "A idade da Terra", seu último filme. Dois filmes venceram o Leão de Ouro, dividindo o prêmio: 'Atlantic city, de Louis Malle, e "Gloria", de John Cassavettes. Theo Angelopoulos ganha o prêmio do juri por "Alexandee, o grande". Glauber chama Louis Amlle de cineasta de 2 classe, Cassavettes de fazer filmes comerciais usando a fachada do cinema de vanguarda e Angelopulos de fazer filmes velhos. Sobrou até para Hitchcock, a quem Glauber chama de fazer filme porcaria. Acusa o juri de ter se vendido ao cinema americano. E tudo isso, sob o olhar dos jornalistas, pasmos. Aos críticos, ele chama de decadentes. Enfim, esse é Glauber.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Yank! Uma história de amor na Segunda Guerra


"Yank! A WWII love story", de Ian Good (2005)
Filmagem do premiado musical da Broadway encenada em 2005, "Yank!" é um musical LGBTQIA+ que traz o tema sobre o amor secreto entre soldados durante a 2a guerra mundial, cercados de preconceitos, medo, insegurança e homofobia entre os oficiais e os outros soldados.
Escrita pelos irmãos Joseph e David Zellnick, o musical apresenta Stu, um jovem tímido que é obrigado a se alistar em 1943, e se torna correspondente. Ele de imediato se apaixona pelo soldado Mitch. Ambos se descobrem apaixonados um pelo outro, mas diante do forte preconceito no quartel, precisam manter esse amor de forma platônica.
Tive a sorte de assistir ao musical em uma montagem no Rio de Janeiro. É um texto lindo, melodramático, mas que traz lindas mensagens de aceitação e de amor eterno. Para românticos e amantes de uma boa novela, é imperdível, além de trazer músicas ótimas. O cenário é que é bem pobre, acentuando o baixo orçamento do espetáculo.

Uma noite de verão


"Eoneu yoreunmal bame", de Heon Kim (2016)
Logo no início de "Uma noite de verão", o espectador já se surpreende com a visceralidade desse drama LGBTQIA+ Sul coreano: uma intensa cena de sexo explícito entre dois soldados. Além disso, certamente a cena de beijo de língua mais intensa e apaixonante que ja vi em filmes.
Yong-joon e Jae-seong são soldados que fazem parte do exército vermelho da Coréia do Norte. Pêgos em flagrante fazendo sexo, os dois fogem, mas Jae-seong se acidenta e fica para trás.
3 Anos se passam: Yong-joom mora na Coréia do sul, mas trabalha como ajudante em um restaurante e é maltratado pela patroa. Ele mora com seu namorado, tae Gyu, um vagabundo que não trabalha e vive de pregar peças nas pessoas da rua. Um dia, ele acidente um garoto e o cega. O pai cobra de Yong Joon dinheiro para recompensar o acidente, mas Yong Joon não possui esse dinheiro. Para piorar, Jae -Seong consegue fugir para a Coréia do Sul em busca do seu grande amor, mas decsobre que ele está namorando outro rapaz.
Um filme trágico e sofrido, não é aconselhável para quem reclama que muitos filmes gays possuem tramas que falam sobre violência e tragédia no mundo lgbtqia+. Tudo aqui é bastante cruel, triste. Para contrabalancear, as várias cenas de sexo explícito acabam trazendo poesia para tanta dor, nem mesmo dão tesão. Ótimo trabalho dos 3 atores em uma história muito triste.

Depois a louca sou eu


"Depois a louca sou eu", de Julia Rezende (2020)
Fazer comédia com Rivotril e outros tarjas pretas parece ser um lugar bastante perigoso, mas o roteiro de Gustavo Lipenztein e a direção de Julia Rezende entenderam essa demanda e deram a "Depois a louca sou eu", um tratamento mais dramático ao tema da ansiedade, mas tendo como pano de fundo humor e emoção.
Adaptação do livro autobiográfico da escritora e cronista Tati Bernardes, o filme acompanha Dani (Debora Falabella), uma publicitária em crise profissional, amorosa e principalmente, com a sua mãe super protetora, interpretada com inteligência pela atriz Yara de Novaes. Ao conhecer Gilberto (Gustavo Vaz), um psicanalista com ansiedade igual ou mais acentuada que a sua, Dani encontra paz. Mas logo as coisas voltam ao estado crítico, e Dani precisa aprender a lidar com os fantasmas do transtorno mental.
A grande força do filme está no trio Debora Falabella/Yara de Novaes e Gustavo Vaz, que trazem dignidade e respaldo para um tema tão espinhento e necessário. O elenco de apoio conta com atores notáveis, como Debora Lamm, Romulo Arantes, Marcelo Laham e Claudia Ventura.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Hello stranger- O filme


"Hello stranger- the movie", de Dwein Baltazar (2021)
Drama romântico LGBTQIA+ filipino rodado durante a pandemia de Covid, o filme,e scrito e dirigido por Dwein Baltazar, tem uma curiosa trajetória: em 2020, foi criada a série pro Youtube, Hello stranger", em 10 episódios. Na série, toda rodada via Zoom, vários personagens estudantes de faculdade, mantém estudo e relacionamento social pelo aplicativo. O esportista Xavier e o nerd Mico acabam se conhecendo, mas descobrem que era inimigos na escola. Mas no final da série, rola um clima romântico entre eles, mas por conta da pandemia, não podem se encontrar. Com o grande sucesso da série, a produtora Black sheep, especializada em conteúdo "Boys love/BL", resolveu filmar a versão do longa para cinema: hospedou todo o elenco e equipe em um resort e assim puderam filmar sem máscaras. No filme, a pandemia acabou e todos resolvem passar um tempo no resort para se divertir. Mico e Xavier se encontram, mas mal entendidos fazem com que se afastem.
O filme tem um roteiro bastante adolescente que não combina com a idade dos personagens. Mas acredito que a intenção dos produtores era fazer um filme ingênuo, light, com atores bonitos e descamisados em cena. Dá para assistir, é um passatempo bacana, com lindas paisagens, trilha pop e a mensagem de que toda forma de amor vale a pena.

Filho


"Son", de Ivan Kavanagh. O ator Emile Hirsch deu uma reviravolta em sua carreira até então ascendente em Hollywood e acabou ficando no rol dos Filmes B de terror. Agora ele está em "Filho", no papel do policial Paul, que investiga assassinatos onde as vítimas tem o corpo devorado. Ele acaba conhecendo Laura (Andi Matichak), uma mulher que fugiu de um sanatório, onde ela acreditava ser frequentada por adoradores do diabo. Laura tem filho, David, e juntos fogem de algo demoníaco.
O filme recicla a idéia de "A profecia", onde a criança é a filha do Diabo em pessoa. Tudo acaba se tornando óbvio. Para quem não assistiu o filme original, vale dar uma olhadinha nesse filme, que pelo menos, tem boas cenas de violência. Quando ao Emile Hirsch, uma pena que ele tenha colocado sua carreira em filmes menores.

Explota explota


"Explota explota", de Nacho Álvarez (2021)
Para quem acredita que o mundo é gay, colorido, um conto de fadas e divertido, repleto de purpurina, papel picado caindo do céu, não pode deixar de assistir "Explota explota", uma comédia romântica musical baseado nas músicas da Diva italiana Rafaella Carrá, um dos maiores ícones gays da Europa. O filme é exagerado, caricato, mas ao mesmo tempo, uma delícia de cafonice com um roteiro muito simples e ingênuo, mas tudo a serviço de homenagear Rafaella e seu mundo pop Kitsch purpurinado.
No ano de 1973, Maria ( Ingrid García Jonsson), uma espanhola, prestes a se casar com o italiano Massimiliano, desiste de se casar com ele, pega um avião e volta para Madri: órfã, sem dinheiro, sem casa, ela conhece a aeromoça Amparo (Verónica Echegui), e se tornam grandes amigas. Três meses depois, trabalhando como aeromoça, Maria conhece Pablo, que trabalha na TVE e perdeu uma mala. Quando Maria consegue resgatar a mala, ela leva até a TVE., e acidentalmente, é vista por um diretor de tv que decide colocá-la como a estrela do programa de sucesso Uma Noite de Rosa, após discutir com a estrela anterior.
Tudo no filme é over, desde figurinos, maquiagem, números musicais, em grande estilo de coreografias surreais e divertidas. A comparação com Almodovar é inevitável, ainda mais na fase do filme "Amores passageiros".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Flesh Gordon


"Flesh Gordon", de Michael Benveniste (1974)
Paródia erótica do famoso personagem criado por Alex Raymond em 1934. "Flesh gordon" foi lançado em 1974 e acabou inspirando a famosa versão de 1980, através de visual Kitsch e um cenário e figurinos carnavalescos.
O filme contém cenas de sexo explícito e os seus efeitos especiais, alternando várias técnicas, incluindo o stop motion, desenvolvido por grandes artistas acabou ficando numa lista final de indicados para o Oscar.
A produção, escrita e dirigida por Michael Benveniste, é uma adaptação totalmente obscura, mas cultuada por muitos cinéfilos que vão em busca de pérolas trash. Planeta Pornô, Penissauros, Robôs com pênis em formato de brocas assassinas, Raios de sexo, orgias, Amazonas lésbicas, é um festival de sandices, taras e fetiches que hoje em dia seria impensável realizar.
A história é uma tosquice, porem deliciosamente sacana: O Imperador Wang, o Pervertido, promove orgias em seu palácio no Planeta Pornô. No entanto, ele envia Raios de sexo para o Planeta sexo, e quem entra em seu foco, fica desesperado para fazer sexo. Flesh Gordon, um jogador de futebol, segue para o Planeta junto de sua assistente Dale e o cientista Jerkoff para tentar derrubar o Imperador.
É difícil descrever as cenas e situações toscas do filme, um festival de sandices que deixa o espectador atordoado: a cena do ataque dos dinossauros em formatos de pênis, ou o ataques dos robôs com formato de pênis assassinos são antológicas. Fora isso, o filme ainda encontra espaço para fazer referência a clássicos do cinema, como "King Kong" e "O mágico de Oz".
Diversão para quem procura fesouros trash esquecidos pela história do cinema.

Canto dos ossos


"Canto dos ossos", de Petrus de Bairros e Jorge Polo (2020)
Grande vencedor da mostra Aurora do Festival de Tiradentes 2020, "Canto dos ossos" é produzido pelos Estúdios Giz, que tem como foco produzir filmes realizados por diretores jovens, de baixo orçamento e que redefinam os filmes de gênero e que levantem a bola das classificações de gênero e multiculturalidade. O mesmo Estúdio produziu "Sem seu sangue", de ALice Furtado, exibido em Cannes 2019 e que também traz à tona os temas do cinema de horror brasileiro discutindo luta de classes e racismo. Em 'Canto dos ossos", essa discussão é pautada por um cinema Queer, trash e ppbre, mas sempre instigante.
Duas criaturas vampirescas se separam: a professora Nainana, que sai do Ceará e vem trabalhar dando aula em Búzios. E Diego, um balconista de farmácia. Durante a noite ambos caçam suas presas, mas o mundo também traz à tona as Mosntras, criaturas poderosas que querem dominar tudo.
O filme é totalmente experimental, com efeitos toscos de maquiagem e aplicações digitais bem safadas na tela. A estética é do Brasil pobre e maldito, sufocado e oprimido. Trabalhando com a metáfora. o filme redefine a eterna luta entre oprimidos e opressores.
O filme não me encheu os olhos, mas a ousadia e criatividade dos cineastas e roteiristas formandos da Faculdade de cinema da UFF nos ensina que é possível fazer um cinema urgente, marginal, udigrudi com os recursos que tivermos em mãos.

Todos os mortos

"Todos os mortos", de Marco Dutra e Caetano Gotardo (2020)
Premiado drama alegórico brasileiro, concorreu ao Urso de Ouro em Berlin 2020, sendo o unico filme brasileiro a concorrer na Mostra principal. Ganhou no IndieLisboa o prêmio de melhor filme, e em Gramado ganhou os Kikitos de ator e atriz coadjuvante, para Thomas Aquino e Alaíde Costa.
Confesso que tive dificuldades para gostar do filme, sou apaixonado por outros filmes de Dutra, como "Trabalhar cansa" e "As boas maneiras", e de Caetano Gotardo, prefiro "O que te move". "Todos os mortos" é anunciado pela mídia como terror, mas está longe de ser um filme de gênero. Talvez o grande terror seja o roteiro do filme aproximar o Brasil de 1899 do Brasil de 2020, e sofrendo das mesmas mazelas, principalmente no que se refere à questão do racismo e preconceito no país. As sequelas da escravidão permanecem no Brasil de hoje, com um racismo escondido e camuflado na sociedade. Os diretores se utilizam de um recurso que os aproxima de Shayamalan, porém ser querer provocar sustos ou surpresas no espectador, e sim, fazer uma transição discreta temporal.
Em 1899, 10 anos após a abolição da escravatura no país, a família Soarese perde o seu poder econômico. Iná, uma ex-escrava, e seu filho João, agora procuram por trabalho. Ambos acabam parando na fazenda dos Soareses, mas a escravidão segue implícita. Mas Iná representa a força da mulher negra e agora vai se impôr.
O filme tem um elenco excelente ando vida a personagens majoritariamente feminino. são performances mais teatrais, empostadas, mas não menos fortes e vibrantes. Mawusi Tulani, como Iná, e Alaíde Costa são os grandes destaques.
Participação especial das ótimas Gilda Nomacce, Tuna Dwek e Leonor Silveira.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Dead pigs


"Dead pigs", de Cathy Yan (2018)
Longa de estréia da cineasta chinesa Cathy Yan, ganhou o Prêmio do juri em Sundance e foi responsável por Cathy Yan ser convidada a dirigir o filme da Dc 'Aves de rapina", com a Harley Quinn de Margot Robbie.
Baseado em fatos reais, quando em 2015 misteriosamente milhares de porcos surgiram mortos boiando no rio de Shanghai. Cathy, que veio dos Estados Unidos ainda como jornalista como correspondente, cobriu o incidente e resolveu escrever um drama familiar onde o pano de fundo fosse a ambição imobiliária e a divergência entre tradição X modernidade na China.
Candy (Vivian Wu) é dona de um salão de beleza. Ela mora em uma casa que pertenceu aos seus parentes, e é das poucas em um terreno que será demolido para a construção de um grande empreendimento imobiliário. O seu irmão, endividado, insiste para que ela venda a casa e lhe empreste dinheiro, mas ela se recusa. Os porcos que ele cria aparecem mortos, e para evitar despesas com cremação, resolve jogar os animais no rio.
O fllme envolve 5 histórias entrelaçadas pelos dois irmãos. Misturando vários gêneros: drama, comédia e até mesmo musical, o filme traz um mosaico de tipos excêntricos em Shanghai, e também, a forte influência americana na economia e na modernização da cidade. Bem dirigido e com
ótimas performances, o filme ainda traz como produtor executivo Jia Zhengkhe, que lida com os mesmos temas em seus filmes.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Madman


"Madman", de Joe Giannone (1981)
Obscuro slasher de 1981, que veio na esteira do grande sucesso da franquia 'Sexta feira 13". Mas apesar da cópia, "Madman" é um slasher decente, com uma história batida, mas boas cenas de morte, e a saudade daquela trilha de sintetizadores. Os efeitos são toscos pro padrão de hoje em dia, mas na época certamente foi responsável por tirar sono de muita gente.
Em um acampamento, um grupo de jovens escuta um homem contar a história de Madman Marz, um homem que matou sua família, foi enforcado pela população mas o corpo desapareceu. Segundo a lenda, se o nome dele for anunciado na floresta em noite de lua cheia, ele retorna para matar.
Com referências a clássicos do slasher, como "Massacre da serra elétrica" e "Chamas da vingança", o filme diverte e dá uns bons sustos. Mas a cena de uma jovem se escondendo entro de uma geladeira é imbatível. Essa cena vai para os anais da história dos filmes de terror.

Berlin Alexanderplatz


"Berlin Alexanderplatz", de Burhan Qurbani (2020)
Épico drama adaptado da obra colossal do alemão Alfred Döblin escrito em 1929. A versão mais famosa é a de Fassbinder, com 15 horas e meia de duração, dividido em 14 capítulos e ambientado na República de Weimar. O cineasta alemão Burhan Qurbani ousa trazer a história para os dias de hoje, na Berlin cosmopolita de traficantes de drogas, assaltantes, prostitutas, transgêneros e refugiados africanos. O filme, com 183 minutos de duração, concorreu em Berlin, Rotterdan e outros importantes Festivais.
Welket Bungué é um ator nascido em Guiné Bissau e filmou dois longas brasileiros, 'Corpo elétrico" e "Joaquim". Ele interpreta o protagonista Francis, refugiado africano sobrevivente de uma tragédia na sua embarcação, onde morre sua esposa. Francis mora em um alojamento para refugiados e trabalha em uma indústria. Um dia, ele conhece Reinhold (Albrecht Schuch), que resolve lhe dar casa, comida e trabalho. Francis agora se chama Franz, e conhece a prostituta Mieze (Jella Haase), por quem se apaixona. Franz quer ser um homem bom, mas Reinhold o introduz ao mundo do crime. Mieze alerta Franz das maldades de Reinhold, mas Franz não lhe dá ouvidos.
O filme tem uma fotografia e câmera extraordinárias de Yoshi Heimrath, que abusa de cores fortes para retratar uma Berlin que mais parece ter saído daqueles filmes neon-realistas dos anos 80 de Jean Jacques Beinex. O desfecho da história me deixou muito revoltado. O filme tem uma forte carga homoerótica em vários personagens, mas a misoginia em Reinhold irrita bastante. Para compensar , as performances do elenco principal são de aplaudir em pé, principalmente Albrecht Schuch, que faz de seu Reinhold uma figura repulsiva e desprezível mas muito bem trabalhada fisicamente em sua vilania carismática e sedutora.

As 12 horas de turno


"12 hours shift", de Brea Grant (2020)
Deliciosa comédia de humor negro, na melhor tradição de Guy Ritchie e um pouco dos irmãos Coen, "As 12 horas de turno" concorreu em prestigiados Festivais, como Tribeca e Fantasia. Escrito e dirigido pela cineasta Brea Grant, o filme acompanha a enfermeira Mandy (Angela Bettis), que faz a ronda noturna. Mandy é envolvida com tráfico de órgãos, e nessa noite ela repassa um fígado para sua prima Cathy (Julianne Dowler), uma porra louca que ao entregar o fígado pro traficante, percebe que o esqueceu no hospital. Ameaçada de pegar o fígado ou ter o seu próprio arrancado, Cathy retorna ao hospital e implora para Mandy arrumar um outro fígado. Diante da negativa de Mandy, Cathy resolve ela mesma ir atrás de outro figado. Enquanto isso, o traficante vai atrás dela; um dos pacientes que é um assaltante se liberta, a enfermeira chefe, uma mulher arrogante ameaça a todos; a polícia é acionada para ir ao hospital; e Mandy precisa lidar com todas essas loucuras.
O filme lembra aquela atmosfera de sandices de "After hours", de Scorsese, onde a cada momento as coisas só tendem a piorar. É divertido, politicamente incorreto e violento. As duas atrizes principais são excelente, mesclando uma certa vilania de suas personagens com o carisma de mulheres que só querem encontrar o seu espaço.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Extra innings


"Extra innings", de Albert Dabah (2019)
Premiado em diversos Festivais de cinema judaico, "Extra innings" é um drama autobiográfico do roteirista e diretor Albert Dabah. O filme é ambientado nos anos 60 no Brooklyn. David é um menino apaixonado por beisebol, mas seus pais, Esther e Eli (Albert Dabah, o próprio diretor) o proibem e querem que ele estude e se forme em uma profissão. A família, de sírios judaicos, seguem rigidamente todos os preceitos da cultura judaica. O casal tem outro 3 filhos: Morris, um jovem esquizofrênico, Vivian, uma aspirante à atriz que vai morar na Califórnia, e Rita. David é a esperança dos pais de seguir a tradição. Mas quando Morris se suicida, tudo muda de rumo.
Um filme que fala sobre tradição, bloqueio de sonhos, suicídio, família e religião judaica. Para quem gosta de temas sobre a religião judaica, é um prato cheio, tem tudo aqui. Nada de novo, os temas de sempre, mas pelo menos, um filme decente, bem interpretado e com gostinho de melodrama. O Cineasta Albert Dabah conseguiu exorcizar com dignidade a história de sua família.

Exílio


"Exíl", de Visar Morina (2020)
Filme indicado pelo Kosovo à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2021, 'Exílio" é um drama rodado na Alemanha, e tem como tema a xenofobia.
Xhafer (Misel Maticevic) é um homem de meia idade que trabalha em uma empresa na Alemanha. Nascido em Kosovo, Albânia, ele acredita sofrer de xenofobia no trabalho e com as pessoas da cidade. Casado com a alemã Nora (Sandra Hüller, de "Toni Edermann"), e pai de três filhos, Xhafer tenta fazer sua esposa acreditar no bullying, mas ela não lhe dá muito crédito.
Premiado em diversos Festivais importantes, "Exílio" competiu em Sundance. O filme tem ótimas atuações do elenco, principalmente de Misel Maticevic, que dá vida a um personagem complexo, repleto de paranóias e pesadelos que as pessoas acreditam ser de uma pessoa surtada.O filme é longo e cansa lá pelo início do terceiro ato, mas lá pro final cresce um clima de tensão, onde o espectador acredita que o protagonista irá explodir, assim como Travis em "Taxi driver".

Vil, Má


"Vil, Má", de Gustavo Vinagre (2020)
Concorrendo no Festival de Berlin pela 2a vez, o cineasta Gustavo Vinagre, que já nos trouxe vários filmes no formato de depoimentos de figuras interessantes, excêntricas e importantes no contexto de gêneros para a sua câmera, "Lembro mais dos corvos", "A rosa azul de Novalis"), nos traz agora Edivina Ribeiro: mãe de 3 filhos, religiosa, jornalista. Por erro do cartório ( seus pais, religiosos, queriam que ela se chamasse Divina), Edivina ficou famosa por escrever durante as décadas de 70 a 90 , literatura sadomasoquista, sob o pseudônimo de Wilma Azevedo. Segundo Edivina, "Vil e Má", todos irão respeitar e obdecer.
Hoje uma mulher de 74 anos, Edivina relata casos ocorridos durante esses anos, onde ela presenciou sessões de sadomasoquismo, abuso sexual, fetiches de leitores de revistas masculinas e o melhor depoimento, quando ela separa o tpo de tortura que ocorria nos porões da ditadura com a tortura do sadomasoquismo.
O filme é entrecortado com fotos explícitas de torturas, sempre com o pênis ereto, simbolizando o prazer sexual pela dor.
Um filme curioso, que me fez relembrar do texto de João Ubaldo ribeiro e interpretada por Fernanda Torres no Teatro, "A casa dos budas ditosos". Desejando assistir uma versão ficção do filme.

Carta para a minha mãe


"Letter to my mother", de Amin Maher (2019)

Premiado curta alemão, é uma narrativa em formato documental e experimental sobre um caso de abuso sexual sofrido por um ator mirim iraniano, Amin Maher, que trabalhou no filme "Dez", de Abbas Kiarostami em 2002. Durante 4 anos, da idade dos 10 aos 14 anos, o jovem Amin Maher foi estuprado pelo cunhado de sua mãe, que o obrigava a usar calcinhas durante o ato sexual. O curioso é que no filme, onde Amin Maher contracena com sua mãe real, ele tenta falar coisas para ela mas se segura. Hoje em dia, Amin Maher é uma artista transgênero. No filme, ela se depila totalmente, e no final, se veste de mulher. O filme é narrado em off, como um relato pessoal e doloroso de um filho para sua mãe, e também contém depoimento de um psicólogo iraniano sobre o que se passa na mente de uma criança após o estupro. Um filme intenso e muito visceral, a cena da depilação dá uma enorme agonia.


Conversas de bar


"Don's plum", de R. D. Robb (2001)
Drama juvenil que concorreu no Festival de Berlin, mas cuja distribuição nos Estados Unidos foi proibida pelos atores Leonardo di Caprio e Tobey Maguire.
O filme em si é bem chato, mas os bastidores da produção são muito mais interessantes. Os produtores, roteiristas e o diretor do filme convidaram Leo di Caprio e Tobey Maguire a participarem de um curta metragem com dois dias de filmagem. Na época, 1995, os dois jovens atores ainda estavam despontando: di Caprio ainda não tinha feito "Titanic", e Maguire ainda não tinha feito "O homem aranha", filmes que os catapultaram à estrelas de Hollywood. Quando ambos descobriram depois que os produtores resolveram lançar o filme não como curta, e sim, como longa, se sentiram traídos e decidiram proibir a veiculação nos Estados Unidos e no Canadá. Até hoje, 2021, o filme não foi lançado comercialmente. Ambos ganharam o piso do sindicato.
O filme se passa nu único dia e após vários encontros e desencontros dos personagens com seus pares ou familiares, eles resolvem se encontrar num restaurante chamado 'Don's Plumb", e passam a noite toda falando bobagens, flertando, cuspindo palavras homofóbicas, pejorativas, gordofóbicas e machistas. Quase todas proferidas pelo personagem de di Caprio, que hoje em dia deve rezar para as cópias do filme serem queimadas. Na época, esses termos não eram problemáticos, mas por exemplo, em uma cena, uma mulher obesa passa por di Caprio e ele diz: "Deveriam jogar essa mulher no mar, ela é uma baleia.".
De qualquer forma, o que se pode elogiar no filme, é a liberdade de criação do diretor, que não se preocupa em agradar os espectadores. Tem se a impressão que muitas cenas e falas do filme foram improvisadas pelo elenco. O filme foi todo rodado em preto e branco.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Judas e o Messias negro


"Judas and the black Messiah", de Shaka King (2020)
Ótimo drama baseado em fatos reais, ocorrido em Chicago em 4 de dezembro de 1969. William O'Neal (Lakeith Stanfield) se filiou ao movimento Black Panther, mas na verdade ele era um infiltrado do FBI, com a missão de entregar o líder dos Black Panther Fred Hampton (Daniel Kaluuya) para a polícia poder matá-lo. Em 1990, Willian se suicidou, um dia depois de dar uma entrevista para um canal de tv, falando sobre o seu ato de traição. Após o assassinato de Frank, Willian continuou como infiltrado nos Black Panther e trabalhando pro FBI, herdando inclusive um posto de gasolina. Willian, aos 19 anos, foi preso como assaltante de carros. O agente Roy (Jesse Plemons) faz um acordo: caso Willian trabalhe como infiltrado, sua pena será diminuída e ele, recompensado.
Com uma ótima direção de Shaka King, que extrai o melhor de seus atores, "Judas e o Messias negro" possui um roteiro impressionante, e o mais curioso, o título fazer um correlato religioso em relação à traição de Judas com Cristo. Um filme instigante, necessário e que retrata, com uma história de época, a triste realidade dos dias atuais e perceber que pouca coisa mudou.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Atos aleatórios de violência


"Random acts of violence, de Jay Baruchel (2019)
Um retorno aos slashers movies dos anos 90, "Atos aleatórios de violência" é adaptação da violenta graphic novel de 2010 desenvolvida pela dupla Jimmy Palmiotti e Justin Gray.
O Cineasta, diretor e ator do filme Jay Baruchel adapta a graphic novel e narra a história de Todd, um homem atormentado por um passado. Ele é um desenhista de uma graphic novel de sucesso cujo protagonista é um serial killer chamado de "Slasherman". Todd decide dar um fim à saga do assassino, mas está sem criatividade para finalizar a história. Convencido pela namorada, Kathy, e pelo amigo Ezra, eles partem em uma road movie, incluindo a assistente de Todd, Aurora, para a cidade onde aconteceram assassinatos de um serial killer nos anos 90 e que serviram de inspiração para Todd. O que eles não imaginam é que o assassino volta a matar assim que eles chegam à cidade.
O filme é bem interessante, com visual bem de filmes dos anos 90, como "Eu sei o que vocês fizeram no ano passado". Não há nada de novo no filme, apenas a curiosidade de ver um ator comediante comandando um filme slasher. O desfecho é confuso, e sem graça. Os atores são ok, mas não dá para entender porque Todd no flashback é interpretado por um menino negro e nos dias de hoje, é branco e olhos claros. Bizarro.

Histórias extraordinárias


"Histories extraordinaires", de Federico Fellini, Louis Malle e Roger Vadin (1968)
Imagine só um filme com 3 grandes cineastas do cinema mundial, estrelado por grandes astros do cinema dos anos 60 e baseado em contos de Edgar Allan Poe? Assim é "Histórias extraordinárias", dirigido por Federico Fellini, Roger Vadin e Louis Malle, e protagonizado por Jane Fonda, Alain Delon, Brigitte Bardot, Terence Stamp e Peter Fonda. Todas as 3 histórias têm como tema um anjo vingador, em tom gótico bem apropriado aos contos de Poe.
O 1o episódio, dirigido por Vadin, é "Metzengerstein": No século 19, a condessa Federica herda uma cidade e promove orgias e festas nababescas. Um dia, ao cavalgar pela floresta, ela fica presa em uma armadilha e é salva pelo Barão Berlifitzing (Peter Fonda), por quem se enamora. O Baraão a dispensa e a Condessa se revolta, mandando queimar o castelo dele e matando os cavalos.
No 2o episódio, "Willian Wilson), ambientado no século 19 no Norte da Itália ocupada pela Áustria, se encontra o soldado Wilian (Alain Delon). Ele confessa a um padre um assassinato, e em seguida, ele vê seu duplo se jogando do alto de uma igreja, e para seu espanto, ele está apunhalo pela própria espada.
No 3o episódio, "Toby Damnit", Fellini traz a narrativa de Poe para os insanos dias da década de 60. Toby (Stamp) é um ator alcóolatra, que coloca sua carreira em risco. Ele é convencido a participar de um flme e como prêmio, ganha uma Ferrari. Toby tem a visão de uma menina com uma bola, e essa visão o atormentará.
O filme, apesar de toda sua ria ficha técnica, ficou bastante datado e é muito chato. Narrativa lenta, roteiros confusos, e performances bem caricatas de todo o elenco. Vale pela curiosidade cinéfila.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Maçãs


"Mila", de Christos Nikou (2019)
Drama de realismo fantástico indicado pela Grécia a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro 2021, "Maçãs"é o longa de estréia do cineasta grego Christos Nikou, que por um bom tempo foi assistente de direção de Yorgos Lanthimos, o mais celebrado cineasta do país no mundo.
Assim como nos filmes de Lanthimos, a premissa de "maçãs"parte de uma id;eia absurda e fantástica: uma pandemia mundial faz com que as pessoas esqueçam sua memória de uma hora para outra. Uma ambulância é acionada e na sequência, os parentes e amigos são chamados para fazerem a pessoa recuperar a memória aos poucos. Aris (Aris Servetalis) perde sua memória dentro do ônibus. A ambulância vem, mas não aparece nenhum parente, nenhum amigo. Em casos assim, o governo oferece ao desmemoriado uma nova identidade, uma chance de recomeço. Aris é apresentado à novas pessoas, uma nova amante. Mas as coisas não acontecem como esperado.
No mínimo curioso, o argumento do filme parte de uma idéia muito criativa e original. No entanto, lá pela metade do filme, o ritmo se torna arrastado, as situações se tornam repetitivas e o filme cansa. O final é desolador e melancólico, como quase todos os filmes gregos da nova onda, que falam da crise social e econômica do país sempre de forma metafórica.

Tapete vermelho


"Red carpet", de Scott Altman (2021)
Drama independente americano, no estilo "Mumblecore"(filmes realizados com pouquíssimo orçamento", "Tapete vermelho" fala sobre a triste sina de atores e atrizes que tentam a sorte em los Angeles, meca da indústria do cinema. MAndy (Wittie Hughes) é uma jovem atriz negra, que tenta se relacionar com as pessoas certas para conseguir uma chance em um teste de elenco. Ela conhece um produtor que a apresenta a pessoas influentes, mas logo ela descobre que tudo é fachada para tráfico de drogas e de escravas sexuais. Mandy é mantida encarcerada e obrigada a se prostituir. Fugir é impossível, ela encontra ajuda em Lola, uma outra jovem que já se acostumou com a rotina do bordel.
Realizado com pouco dinheiro, o filme não esconde as suas deficiências técnicas e o amadorismo de parte do elenco. Mas é realizado com tamanho naturalismo , quase em olhar documental, que se torna uma experiência muito interessante, como se estivesse vendo os primeiros trabalhos de diretores famosos como Scorsese, Brian de Palma. Sei que é exagerada a comparação, e o filme nem é memorável, mas a estética pobre e suja do filme é algo muito interessante. Um filme cru, violento, sem pudores, remete à produções independentes do início dos anos 70. Wittie Hughes faz um trabalho visceral e corajoso.

Pari


"Pari", de Siamak Etemadi. Longa de estréia do cineasta iraniano Siamak Etemadi, que também escreveu o roteiro, "Pari" concorreu em Berlin e outros importantes Festivais de cinema.
Metáfora sobre a sociedade patriarcal iraniana e sobre a repressão feminina, "Pari" apresenta o casal Farrouk e Pari, que vão para Atenas, a primeira viagem que fazem para o exterior, para visitar o filho que está estudando há um ano ali. Para surpresa de ambos, o filho não vai recebê-los no exterior, e nem está no apartamento. Pari insiste em procurar o filho Babouk, mas o marido diz ser impossível, após todas as tentativas.
Pari representa a mulher oprimida pelo homem: ela nunca abre a boca para nada, mas aos poucos, passa a ganhar protagonismo e isso irrita o seu marido. Ao olhar do casal, eles se chocam com a cultura européia e também com a crise na Grécia: estudantes em manifestação, policiais nas ruas, desemprego, estupradores, prostitutas, casais de gays, jovens fazendo sexo na faculdade. Diante desse mundo "Dantesco", Pari precisa ganhar forças para procurar seu filho, sem jamais desistir, como uma mãe leoa. A cena de seu manto persa queimando pelo fogo da manifestação é belíssima. É um lindo filme, importante, mas confesso que não gostei do desfecho. Entendo que é a representa
cão da mãe coragem que faz de tudo para defender sua prole, mas ficou num lugar muito cruel demais, A atriz Melika Foroutan, no papel principal, está fantástica, revelando todas as nuances e facetas emocionais .

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Goodbye seventies


"Goodbye seventies", de Todd Verow (2020)
A ascenção e declínio do pornô gay dos anos 70 é o tema de "Goodbye seventies", uma espécie de "Boogie nights" dirigido por um dos papas do Cinema queer underground de Nova Yorl, Todd Verow.
Todd Verow homenageia os artistas e o cinema pornô gay realizado nos anos 70, filmando em 16mm com imagem granulada e uma fotografia lavada que dá o tom da época. Bradford é um bailarino que sonha em ser um astro da Broadway Ele se torna amigo e amante de Vinny. Quando Bradford se acidenta ao sair de uma boite gay, ele torce o pé e recebe o diagnóstico de que não poderá mais dançar, Frustrado, Bradford tenta buscar uma outra ocupação. Quando ele vai até um cinema de arte na Times Square, ele descobre que o filme apresenta cenas de sexo e por isso, se torna um point de pegação gay. Bradford decide produzir filmes pornôs gays com seus amigos e assim vai fazendo sucesso. Mas com a chegada dos anos 80, as drogas pesadas, a Aids e a pornografia produzida em VHS, todo o sonho se desmancha.
Com cenas de sexo explícito , o filme é quase que um documentário da cena gay dos anos 70: boites gays, saunas, orgias, cinemas de pegação. Um universo muito particular, mostrado com muita decadência e zero glamour.

Rendez vous


"Rendez vous", de Pablo Olmos Arrayales (2019)
Rodado em um único plano sequência durante 100 minutos, sem corte, "Rendez vous" é um drama que vai se tornando em um suspense psicológico com apenas 2 atores em cena. Filmado em preto e branco, essa produção mexicana ganhou diversos prêmios internacionais, merecidamente. O filme é um tour de force de câmera, tendo a sua primeira parte rodada em externas, planos gerais, em ruas movimentadas, e o restante do filme no apartamento, claustrofóbico.
Eduardo (Antonio Alcantara) e Lili (Helena Puig) se conhecem em um encontro por aplicativo e marcam um encontro. Eduardo chega atrasado e alega que foi assaltado e levaram seu celular. Lili fica encantada por Eduardo, e conversam pelas ruas, assim como em "Antes do entardecer", de Richard Linklater, papo genérico. Lili aceita o convite para ir ao apartamento de Eduardo.
Não dá para falar sobre o filme, pois vai configurar spoiler. Quero elogiar o extenso e complexo trabalho da câmera e da fotografia, magistrais. A direção é firme e os atores estão excelente. O filme acaba tendo uns 15 minutos a mais do que deveria ter sido. Vale como exercício de narrativa e de filme de baixo orçamento.

Fale com as abelhas


"Tell it to the bees", de Annabel Jankel (2018)
Adaptação do livro de Fiona Shaw, "Fale com as abelhas" foi destruído pela crítica, que o chama de "filme ultrapaaaado" e outros adjetivos. Eu, como adoro dramalhões, amei o filme, uma novela com tema LGBTQIA+ sobre aceitação, homofobia, violência doméstica, machismo e uma sociedade ultra conservadora, tudo sob o olhar de um menino de 10 anos de idade.
Na Escócia de 1952, moram Lydia (Holliday Grainger) e seu filho Charlie (Gregor Selkirk). Lydia foi abandonada pelo marido, que para piorar, deixa de pagar o aluguel. Trabalhando em uma fábrica têxtil, Lydia mal consegue pagar o aluguel. Quando Charlie apanha na escola, ele vai até a médica Jean (Anna Paquim), recém chegada na cidade. Eles se tornam amigos, e ela o leva até sua casa, onde ele se encanta com a criação de abelhas da médica. Quando a mãe de Charlie conhece Jean, a atração mútua é inevitável. Ambas as mulheres se apaixonam, mas precisam esconder esse "amor proibido" do olhar da sociedade, e do próprio Charlie.
O filme tem vilões, tem sofrimento, tem tragédia, tudo para poder comover o espectador. É muito golpe baixo, mas de novo, quem ama drama;hão, vai adorar o filme. Como filme não traz nenhuma novidade, até porquê essa história já foi contada várias vezes. Mas a linda fotografia, direção de arte e trabalho das duas atrizes valem a sessão.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Sole mio


"Sole mio", de Maxime Roy (2019)
Drama LGBTQIA+ francês, lida com um tema complexo mas realizado com muita delicadeza e elegância pelo cineasta.
Daniel (Gall Gaspard, também co-roteirista) é um jovem cujo pai desapareceu há 4 anos sem deixar pistas, abandonando sua mãe, que não entende o porquê do sumiço. Na verdade, Daniel tem se encontrado com o pai às escondidas: seu pai agora é uma mulher trans, Lisa (Jackie Ewing). Prestes a fazer uma cirurgia de mudança de sexo, Lisa conta com o apoio do filho para lhe dar forças nessa nova rota de sua vida. No entanto, Daniel, que é encanador, dá uma bronca no pai pelo fato dele não dar a mínima satisfação para sua mãe. Daniel cobra que o pai vá procurá-la.
Com um excelente elenco, 'Sole mio" é um lindo filme que fala de valores como aceitação e inclusão em um mundo onde nem tudo é fácil de ser aceito ou explicado.

Perfil de uma mulher


"Yokogao", de Kôji Fukada (2019)
Drama japonês que concorreu em Locarno, "Perfil de uma mulher"é dirigido e co-escrito por Kôji Fukada, que em 2016 venceu o prêmio do juri na Mostra Um certo olhar no Festival de Cannes por "Harmonium".
Assim como "Harmonium", "Perfil de uma mulher"apresenta uma sub-trama onde uma filha desaparece. Ichiko é uma enfermeira que trabalha há anos para uma idosa. A família idosa tem uma filha mais jovem que é sequestrada. A polícia e os jornalistas descobrem que quem sequestrou foi Tatsuo, sobrinho de Ichiko. Logo, a vida da enfermeira é totalmente destruída: ela perde o emprego, perde família, perde a dignidade, a mídia toda em cima dela, acusando-a de estar conivente com o sequestro.
Um filme cruel que apresenta uma sociedade paternalista e machista japonesa, onde a protagonista não encontra possibilidade de defesa. Com grande atuação de Mariko Tsutsui no papel principal, o filme peca em ter uma narrativa extremamente lenta, muitas vezes confusa e longa.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Agnes Joy


"Agnes Joy", de Silja Hauksdóttir (2019)
Indicado pela Islândia a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro 2021, 'Agnes Joy" é um dramalhão escrito e dirigido pela cineasta Silja Hauksdóttir.
O filme tem como tema a forma como duas mulheres da mesma família, mãe e fila, lidam com o stress, a depressão e a vontade de serem livres e se libertarem de amarras impostas pela instituição familiar.
Rannveig, uma mulher de meia idade e trabalhando em uma empresa de cargas, é casada com Einer e mãe de Agnes, adolescente de 16 anos. Rannveig está estressada com o trabalho, cansada do casamento e pior, discute o tempo todo com Agnes, que tem vontades próprias e não quer mais fazer coisas que seis pais lhe impõem. Quando um vizinho se muda para a casa da frente, Hreinn, ambas as mulheres se envolvem emocionalmente e intimamente com ele, destruindo de vez a relação que tinham entre si.
O filme tem boas performances de Katla M. Þorgeirsdóttir e Donna Cruz, mãe e filha, mas é um filme que não traz nenhum frescor ao tema de mãe e filha disputando o mesmo homem. Vale pelas belas imagens da Islândia, e pela cena de teste de elenco entre Hreinn e Agnes, muito boa.

O dia em que me perdi


"El dia que me perdi", de Michel Zurita (2019)
Drama mexicano angustiante, sobre uma mulher, Carmen, casada com Javier e mãe de duas filhas pequenas, Xochil e Twinky.
Carmen sofre violência doméstica provocado pelo excesso de ciúmes de seu marido, que a espanca constantemente, diante de suas filhas. Carmen resolve fugir com elas. Javier descobre o paradeiro delas e sequestra as meninas. Carmen dá uma cartada final, que pode resultar em tragédia.
O filme mistura passado e presente e confunde as trajetórias de Carmen e de sua filha Xochil, já adulta. Não é um filme fácil de se ver, devido as muitas cenas de espancamento que Carmen sofre. Não recomendo esse filme para pessoas sensíveis, pois a angústia e a sensação de impotência são enormes, dá raiva. Fiquei revoltado.
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