quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Pinóquio

"Pinocchio", de Guillermo del Toro e Mark Gustafson (2022) O cineasta mexicano Guillermo del toro conseguiu um enorme feito: subverter. aobra de Collodi, autor do clássico "Pinóquio", e lhe trouxe outras camadas e sub-textos, coerentes nos tempos de fascismo e ultra direita no Poder. O filme é ambientado durante a 1a guerra mundial, com a Itália lutando a favor do fascismo de Mussolini. Gepeto vive feliz com seu filho Carlo. Mas uma bomba jogada por um avião italiano explode a igreja onde o menino estava. Gepeto a partir desse dia perde a vontade de viver e se torna alcóolatra, ficando ao lado do túmulo do filho. A pinha que Carlo gostava é plantada por Gepeto, e acaba sendo abençoada por um espírito da floresta, a Fada azul. Gepeto constrói um boneco à semelhança de Carlo da madeira do pinheiro e o chama de Pinóquio. A fada azul decide dar vida ao boneco, penalizada com a tristeza do idoso. Pinóquio é um boneco feliz, mas repleto d epersonalidade, diferente de quem era Carlo, e isso deixa gepeto irritado. Um dono de circo e um capitão da guarda de Mussolini sabem de Pinóquio e cada qual deseja ter ele para si. del toro muda muita coisa no roteiro: além do prólogo, toda a sequência do parque de diversões se transformou num treinamento da juventude fascista italaiana para combate na guerra. não é um filme infantil, é bastante sério e traz temas muito fortes para as crianças: a questão da adoração a Cristo, o abuso do poder dos fascistas, o fascínio pela idolatria, e principalmente, a mortalidade. Um filme brilhante, repleto de emoção e absolutamente imperdível.

Mundo estranho

"Strange world", de Don Hall (2022) Misturando descaradamente "Indiana Jones" na relação conflituosa de pai e filho, além de roubar os caracteres, o filme ainda pega emprestado 'Viagem insólita", de 87, com Dennis Quaid interpretando um cientista que viaja junto de uma equipe para o interior de um corpo humano. eprecisa lutar contra glóbulos brancos, hemácias, etc etc. Pois Dennis Quaid interpreta um explorador do clã Clade, que explora um mundo....bom, deixa pra lá, melhor assistirem ao filme senão acabarei dando spoilers. Jaeger Clade é uma lenda da exploração e sempre quis que seu filho Seracher (Jake Gyllenhaal) fosse igual a ele, mas tudo foge de controle quando Searcher não quer seguir os passos do pai. Revoltado, o pai vai embora e o filho nunca mais vê. 25 anos depois. Searcher tem uma família e virou fazendeiro: ele é casado com Meridien, uma mulher afro americxana, e são paios de um menino assumidamente gay e amante da natureza, Ethan. A capitã CAllisto (lucy Liu) procura Sercher, pois quer que ele integre uma missão para salvar o mundo deles de uma ameaça. Um roteiro muito meia bomba, repleto de lugar comum, absolutamente tudo é óbvio na trajetória da família. O que vale elogiar sim, é a total diversidade dentro dos personagens descritos e escalação das vozes, dando lugar d efala a atores afro americanos, asiáticos, indianos e lgbt. Esse será o maior trunfo de um filme que não disse ao que veio em termos de entretenimento: sem ritmo, aborrecido.

El Topo

"El Topo", de Alejandro Jodorowsky (1971) Um dos maiores cults do cinema dos anos 70 e 80, "El Topo" foi o filme que fez Alejandro Jodorowsky ser conhecido e cultuado no mundo inteiro. Foi graças a John Lennon que, impressionando com o filme, pediu para um amigo distribuir o filme. "El Topo" mescla faroeste à la Sergio Leone, com muita violência, e surrealismo, além de fazer crítica à religião e à burguesia. É uma tarfe complexa tentar explicar o que é o filme. Tem uma parte maiscoerente, e outra onde está totalmente aberta a interpretação do público. El Topo ( o próprio Alejandro Jodorowsky) cavalga pelo deserto, acompanhado de seu filho de 7 anos, que anda nú (Brontis, filho de Jodorowsky). Ao chegarem em um vilarejo, encontram todos cortos. Ele logo se depara com um coronel e seus capangas, e acaba matando todos eles. Uma mulher, escrava do coronel, pede para ir junto de El Topo. Ele deixa seu filho com os missionários e segue com a mulher. Ela é estuprada por El Topo e a partir daí, ela passa a ter visões. Ela pede para que El Topo mate 4 mestres das armas, espealhados pelo deserto. A cada mestre que El Topo mata, ele vai ficando cada vez mais se sentindo culpado, até que é feruido e salvo por um grupo de desabilitados físicios, que o levam com ele. El Topo ressurge, agora espiritualizado. CErtamente o filme sofreu influência da religião budista e da geração flower power dos hippies, na política de desarmamento e paz e amor. O filme possui muitas imagens icôniocas e surreais, mas certamente a da tortura com os 4 missionários, seduzidos e seviciados pelos capangas, e a do massacre final do grupo de desabilitados são certamente as mais chocantes, além do estupro da mulher. O filme é fruto de sua época e certamente hoje seria criticado pela objetificação feminina, mas ainda assim, é um filme que vale ser visto por sua linguagem ousada e vanguarda.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Saindo

"Coming out", de Heiner Carow (1989) Um importante drama LGBTQIAP+, "Saindo" foi o único filme com temática gay a ser realizado pela Alemanha oriental. Foi também o último filme da Alemanha Oriental lançado ao público antes da reunificação alemã e um dos últimos filmes feitos pela DEFA, o estúdio de cinema estatal do país. A curiosidade sobre o fiilme é que ele estreou no Kino International em Berlim em 9 de novembro de 1989, na noite em que o Muro de Berlim foi derrubado. Reza a lenda que boa parte da platéia só quiz sair da sessão do cinema após o filme acabar, ignorando o evento do muro. O filme tem como protagonista Philip (Matthias Freihof), um jovem professor de ensino médio. Ele se enamora com uma das professoras e têm um caso. mas quando um amigo da namorada, Mathias, surge para encontrá-la, logo surge uma paixão entre Philip e o rapaz. Philip passa a entender a sua natureza e passa a frequentar bares gays da cidade, para entender melhor o universo queer. O filme recebeu o Urso de prata no Festival de Berlim, o que equivale ao 2o lugar, e o prêmio Teddy, destinado a filmes com temática Lgbt. O filme foi rodado em locações em Berlim Oriental e de forma inédita, em locações frequentadas pela comunidade gay, mostrando de forma realista bares e boites com shows de drags e travestis. Um filme corajoso, tratando de forma séria o que é ser gay em um regime comunista, diante do olhar conservador da população e dos censores.

O ninho

"Il nido", de Roberto De Feo (2019) Escrito e dirigido pelo mesmo realizador do terror italiano da Netflix "Um clássico filme de terror", o drama de terror "O ninho" é um curioso e competente drama que mistura idéias de filmes e séries famosos, mas que não posso comentar pois será spoiler na certa, e o barato do filme é justamente tentar entender o que está acontecendo na mansão. Apenas nos 10 minutos finais tudo fará sentido no filme, e aí o espectador certamente relacionará o filme a um cineasta americano famoso e a um de seus filmes, e também a uma longeva série de sucesso. Em uma mansão isolada no meio de um bosque, cercada por grade, moram Elena, seu filho tetraplégico Samuel, de 13 anos, e outros personagens, como um médico, um padre, criadas e outras mulheres. Um dia, surgem na casa uma adolescente, Denise, da idade de Samuel, e o pai dela. O homem está ferido, e pede para que Elena, que cuida de Samuel com mão de ferro, cuide de Denise. Ela acaba sendo efetivada como criada da casa, mas o espírito jovem e livre da jovem acaba inlfuenciando Samuel, que também deseja conhecer o que existe do outro lado da mansão. Com bons atores, boa direção que mantém a atmosfera de suspense e cuirosidade até o seu desfecho, o filme certamente irá agradar amantes do cinema de terror espanhol, apesar do filme ser italiano, mas é que ele tem aquele clima de filme de arte e um ritmo mais lento do que filmes americanos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

50 tons de gay

"50 shades of gay", de Michael Waldman (2017) Documentário apresentado pelo ator Rupert Everett, um dos atores ingleses mais respeitáveis do mundo, e homossexual assumido. Ruppert é o apresentador perfeito para esse documentário que brinca com o título, uma paródia aos livros "50 tons de cinza". Em todo o Reino Unido, atos sexuais com pessoas do memso sexo era considerado crime e a pena podia chegar ao abusrdo de castração química. A descriminilização por parte do Governo inglês aconteceu na Inglaterra e no País de Gales até 1967, na Escócia até 1980 e na Irlanda do Norte até 1982. O filme comemora os 50 anos da extinção da lei na Inglaterra e o tema proposto por everett é: o que de bom aconteceu na Inglaterra após a descriminilização? Viajando por toda a Inglaterra, Everret entrevista diversos integrantes da comunidade queer, desde gays de 80 anos que viveram a época da criminilização, passando por uma história bizarra de um policial que ficava se fazendo passar por gay nos banheiros públicos, e a missão dele era vigiar se algum homem se masturbava ou ficava com o p6enis ereto, se isso acontecesse, ele dava voz de prisão. Tem também o dono de um club gay que diz que hoje em dia as drogas tomaram conta da noite, sendo ele mesmo uma vítima em potencial, quase tendo morrido pelo excesso do uso das drogas. Mas o mais curioso certamente é a viagem que everett faz até uma pequena cidade chamada Hebdon bridge, onde mais da metade da população é formada por casais de lésbicas. O melhor do filme são as entrevistas, e as imagens bastante curiosas: não podia deixar de mencionar os cluns subterrâneos onde os gays frequentavam e faziam sexo nos anos 60, eram verdadeiras masmorras fétidas e insalubres.

A cabana na floresta

"The cabin in the woods", de Drew Goddard (2012) Com roteiro escrito por Joss Whedon, diretor d afranquia "Os vingadores", e pelo produtor Drew Goddard, que aqui estréia na direção d elongas, "A cabana da floresta" brinca com as convenções dos filmes de terror em uma trama mirabolante e porquê não dizer, totalmente bizarra e surreal. O filme já começa estranhíssimo: em uma espécie de empresa onde cientistas trabalham, todos estão fazendo apostas. Somos então apresnetados a cinco jovens que irão passar um final de semana na cabana de um primo deles, que fica no meio de uma floresta: os cinco são estereótipos de quase todo filme de terror juvenil: o forte (Chris Hemsworth), o nerd, a piranha, a virgem e o bobo. Ao chegarem na cabana, eles descobrem um porão, e ali, um livro antigo. Ao recitarem o texto do livro, zumbis surgem e começam a atacá-los. O filme parece uma releitura de 'Evil dead", mas é mais do que isso: faz um compêndio de quase todos os filmes de terror: zumbis, lobisomem, anacondas, cenobitas, etc etc etc e coloca todos no filme. A explicação? tem que assistir ao filme para decsobrir. Mas de verdade, é uma "viagem de ácido" dos roteiristas. Não sei se curti o filme, foi um bom passatempo, mas o deboche e a porra louquice não me fizeram apreciar mais do que deveria.

Lost inside

"Lost inside", de Jeff Hindenach (2022) A pandemia da covid trouxe para a dramaturgia diversos filmes com o tema da agorafobia, ou seja, o medo de alguém sair de casa. Eu já devo ter assistido uns 5, sendo um deles com Naomi Watts. Agora chega um drama com humor e romance chamado 'lost inside", uma produção independente que rodou em diversos festivais independentes. O filme é bastante simpático, conta com apenas 3 atores ( mais algumas pequenas participações). Ele não acontece durante a pandemia, mas se apropria do fato do iusolamento para narrar a história de seu protagonista. Spencer Scruggs é Benji, um outrora famoso cantor de rock mas que não suportou o stress da profissão e dos palcos e contraiu agorafobia. Ele se mantém recluso há cinco anos em sua casa. Garret Ryan interpreta seu parceiro imaginário, Jordan, que torna a existência já desconfortável de Benji quase insuportável. Sylvia, a nova vizinha de Benji, interpretada por Serra Naiman tenta fazer com que Benjo saia de casa. O roteiro do filme é simples, com bons atores em uma produção modesta de orçamento. Tem carisma o suficiente para fazer o espectador acompanhar toda a história e torcer pelo romnace entre Benji e Sylvia, ou se divertir com a relação entre Benji e o amigo imaginário Jordan.

Blaze

"Blaze", de Del Kathryn Barton (2022) Premiado longa de estréia da roteirista e cineasta australiana Del Kathryn Barton. Del é uma artista plástica vencedora de muitos pr6emios na área das artes plásticas, e ela traz todo o seu repertório artístico e visual para o seu filme de estréia, um doloroso filme sobre uma menina de 12 anos que testemunha um estupro e um assassinato. Trazendo para o filme traumas de seu passado que ela mesmo viveu, a cineasta traduz o desconforto,a. angústia e o entendimento do que testemunhou para a sua protagonista através do lúdico e da fantasia, tal qual "Labirinto do fauno" e "Onde vivem os monstros". Blaze (Julia Savage) é uma menina de 12 anos criada por seu pai, Luke (Simon Baker). Ela é uma criança mal-humorada, e Luke trabalha duro como pai solteiro tentando entender sua filha e garantir que ela tenha tudo de que precisa. Um dia, ao voltar da escola através de um beco deserto, Blaze testemunha uma mulher sendo assediada. A mulher (Yael Stone) é espancada, estuprada e assassinada por um homem (Josh Lawson) depois que ela rejeitou seus avanços. Depois desse evento, Blaze se torna introspectiva, recusando a falar com seu pai e pessoas próximas, totalmente catatônica e chocada com o que viu. Ela expõe seus medos e fantasmas através da fantasia, usando seus brinquedos e um draghão imaginário como escape. Até que Blaze é chamada para confrontar com o homem em umm tribunal. Com uma ótima performance de Julia Savage no papel principal, o filme traz linguagens e texturas distintas. Não sei se curti tanto o filme, se achei legal a junção das artes plásticas com a fantasia da mneina, me pareceu tudo bem forçado. Mas o tema de pano de fundo é apresentado aqui de forma bastante adulta e catártica. No desfecho, blaze certamente não será mais a mesma.

domingo, 27 de novembro de 2022

O mundo de Suzie Wong

"The world of Suzie Wong", de Richard Quine (1960) A partir dos anos 50, Hollywood resolveu apontar as suas lentes para a Ásia, onde poderia explorar o exotismo das regiões, da cltura e das belas e sensuais mulheres. Foi assim em "Sayonara" 1957, com Marlon Brando; "Casa de chá num luar de agosto", 1956, idem com Marlon Brando; "Suplício de uma saudade", 1956, com Willian Holdes e Jennifer Jones fazendo o papel de uma chinesa. Adaptado do livro escrito por Richard Mason e posteriormente adaptado para a Broadway, com Willian Shatner e France Nuyen, "O mundo de Suzie Wong" deu à sua estrela, Nancy Kwan, no papel principal, o Globo de ouro de melhor estreante. Um feito e tanto para um melodrama de roteiro raso, racista, e com um olhar romântico sobre a prostituição. Talvez na época tenha sido um choque mostrar prostitutas como heroínas românticas, e para tal, foi escalado o veterano Willian Holden para dar veracidade ao papel do arquiteto Robert Lomax, que decide largar seu trabalho de escritório e passar um ano em Hong Kong para tentar viver como pintor. Ele vai morar em um cortiço, e logo se depara com as más condições de vida dos chineses pobres que vivem nas periferias. Ele acaba conhecendo Suzie Wong, uma jovem com quem ele esbarrou no barco e que se revela ser uma prostituta. Robert se apaixona por ela, mas Suzie é livre e fica com quem quiser. A jovem inglesa Kay O'Neill (Sylvia Syms), filha d epoderoso banqueiro, se apaixona pro Robert, mas ele só tem olhos para Suzie. Uma história absolutamente novelesca, que ainda tem um sub-plot do beb6e de Suzie que ela mantém em um barraco de uma favela localizada em ponto perigoso. O filme mostra o exotismo de Hong Kong para estrangeiro, repleto de olhares de Robert para comidas que ele faz cara de nojo, ou achando engraçado a cultura local. O filme vale pela belaa fotografia em technicolor, e por escalar elenco asiático, sem colocar atores a=ocidentais para interpretar papel de chin6es. Os efeitos da encosta desabando são muito bem feitas, ainda mais considerando que foram feitas eme stúdio. As imagens rodadas em Hong Kong mostram um contraste entre o luxo e a extrema pobreza da cidade. O nome Suzie Wong acabou virando, curiosamente aqui no Brasil, nome de caricatas e travestis.

Me deixe morrer como uma mulher

"Let me die a woman", de Doris Wishman (1977) Considerado um dos mais chocantes e bizarros documentários já realizados, "Me deixa morrer como mulher" foi censurado em diversos países, e é impressionante que tenha sido lançado em 1977. Repleto de cenas reais de cirurgia de transição de sexo, e também, nas reconstituições de fatos narrados,s exo explícito, o filme foi dirigido por Doris Wishman, considerada a rainha do sexploitation mundial, tendo filmado mais de 30 longa metragens do gênero. O filme obviamente traz todo um discurso datado sobre os desejos de homens em se tornarem transsexuais com mudança de sexo. O dr Leo Walton, entre uma cena reconstituída d efato real e outra, narra cientificamente com textos médicos da época, os impulsos que levam a alguém querer mudar de g6enero, além de entrevistar homens e mulheres que querem transitar. Entre as cenas bizarras e chocantes, está a de um homem que corta o seu pênis com uma marreta e uma ferramenta cortante. Outra cena insana, é a de uma recém operada que insaciável, não respeita o período de abstin6encia sexual e faz sexo. Durante o sexo, os pontos d anova vagina se rompem. Em outro momento, o Dr Leo apresenta de forma explícita uma vagina construída cirurgicamente, em super close para o espectador.

Evita

'Evita", de Alan Parker (1996) Rever o filme após tê-lo visto em seu lançamento é muuito bom, pois eu já não lembrava muito do quanto ele é vibrante, enérgico e a sua excel6encia técnica. Não me lembrava de que a fotografia é do Mestre Darius Khondji, um dos maiores fottógrafos do cinema, e cuja única indicação ao Oscar foi justamente por "Evita". Adaptação da premiadíssima e mundialmente famosa versão da Broadway de Andrew Lloyd Webber, com toda a trilha no filme, e mais a inédita "You must love me", cantada por Madonna e vencedora do Oscar, o filme foi dirigido por Alan Parker, que também escreveu o roteiro junto de Oliver Stone, que seria o diretor original. Alan Parker foi um dos maiores cineastas do cinema inglês, diretor d egrandes obras-primas, como "Pink floyd, the wall", "Mississipi em chamas", "Birdy", "Angel heart", "fama", "O expresso da meia noite", entre outros. FAlecido em 2020, deixou um grande legado em seus filmes. 'Evita" talvez tenha sido um dos seus filme smais criticados, tanto pelos argentinos, que não perdoaram a escalação de Madonna e de ser dirigido por um inglês, quanto pelos críticos. O preconceito certamente veio da escalação de Madonna, em um papel disputado por grandes atrizes. Mas Madonna sobre investir sangue e suor no papel, o que lhe rendeu o Globo de ouro de melhor atriz de musical. Dedicada, ela está magnética no filme, ao lado de Jonathan Pryce, no papel de Perón, e de Antonio Banderas, como Che Guevara, o narrador da história de Eva Perón desde a sua infÂncia até a sua morte. O fiulme é um deslumbre visual, e é absolutamente todo cantado do início ao fim, o que apavorou quem não gosta de musicais. Admito que o filme é longo, 2:15 horas, e tem momentos de barriga. Mas no final, temos um grane espetáculo, que fez grande furor na época de seu lançamento.

Holy spider

\ "Holy spider", de Ali Abbasi (2022) Vencedor da Palma de ouro de melhor atriz no Festival de Cannes 2022, para Zar Amir-Ebrahimi, no papel da jornalista RAhimi. A curiosidade é que Zar Amir-Ebrahimi é a diretora de casting do filme, e assumiu o papel porquê a atriz escolhida, ao saber que teria que contracenar sem o Rijab, desistiu. Esse fato diz muito do filme, que retrata um aterrorizante caso real ocorrido entre os anos 2000/2001 em Mashhad, a segunda capital mais populosa, depois de Teerã. Saeed Hanaei, um serial killer que assassinou 16 prostitutas, era um trabalhador e veterano da Guerra Irã-Iraque que supostamente começou sua onda de crimes quando alguém confundiu sua esposa com uma prostituta. Ele alegou que tinha Deus do seu lado, dizendo que estava em uma jihad para livrar as ruas de Mashhad de seus elementos mais corruptos. Após a sua prisão, ele foi considerado um herói para a população, por livrar as ruas de prostitutas. Impossível não associar o personagem a Travis Buckle de Robert de Niro em "Taxi driver", que também estava na mesma missão d elimpar as ruas. O desfecho do filme é das cenas mais assustadoras que vi em um filme realista, faz o espectador pensar o quanto a sociedade patriarcal e machista ataca e fere as mulheres, sem chance alguma de proteção. Ali Abbasi , que escreveu e dirigiu o filme, realizou em 2018 o estranho e excelente "Border". Nascido no Irã, foi criado na Dinamarca. O filme foi todo rodado na Jordânia, uma vez que o Irã proibiu que o filme fosse rodado lá, devido às leis conservadoras e rígidas. O filme foi indicado pela Dinamarca à uma vaga ao OScar de filme internacional 2023.

sábado, 26 de novembro de 2022

As plantas

"Las plantas", de Roberto Doveris (2015) Vencedor de prêmio especial no Festival de Berlim 2015, "Las plantas" é um drama chileno proibido de ser exibido em diversas salas da espanha, acusado de ser pronográfico. Polêmico, o filme apresenta cenas de sexo explícito envolvendo o despertar sexual de uma jovem, Florencia. Durante um verão inteiro, Florencia, de 17 anos, está em um momento crítico de sua vida: sua mãe está doente , internada no hospital; seu pai foi embora; seu tio não ajuda em nada; e ela ainda tem que cuidar de seu irmão, que está preso em um estado vegetativo persistente. Ela o lava, troca suas fraldas e se aconchega nele na cama. De vez em quando ela lê para ele uma história em quadrinhos chamada Las Plantas, que fala sobre almas de plantas que assumem o controle de corpos humanos na lua cheia. À noite, Florencia faz contato com homens pela internet. Excitada e provocada por dois amigos, ela convida os homens para sua casa, mas não os deixa entrar. Separados por uma porta d evidro, ela se masturba, e espera que os homens façam o mesmo. Um filme simbólico, onde a porta de vidro representa um obstáculo ainda a ser percorrido pela protagonista, que ainda não está pronta para o atos exual ao lado de um homem. O filme por muitos momentos sugere uma relação incestuosa com o irmão, o único homem que Florencia se deixa tocar e se acomodar, mesmo nua com ele na cama. O filme , apesar de ser ousado e corajoso, tem um ritmo lento, e ainda oferece um sub-plot pouco interessante do universo cosplay que Florencia e seus amigos fazem parte.

Bardo, falsa crônica de algumas verdades

"Bardo, falsa crónica de unas cuantas verdades", de Alejandro G. Iñárritu (2022) Darius Khondji, fotógrafo iraniano e largamente premiado, fotógrafo dos cults 'Delicatessen", "Seven" e "Amor", indicado ao Oscar por "Evita": assistir a "Bardo", filme escrito e dirigido pelo mexicano Alejandro Inarritu, é muito mais apreciar a espetacular fotografia e movimentação de câmera, do que acompanhar a cansativa trajetória existencialista do protagonista, o jornalista mexicano Silvero Gomes (Daniel Giménez Cacho), alter ego de Inarritu. Desde a primeira imagem, o espectador já fica encantado com a proeza da fotografia e da câmera, e essa sensação irá durar até o último dos quase 180 minutos do filme. O filme é um misto de "8 1/2"e "La dolce vita", de Fellini, de 'A grande beleza", de Sorrentino e de "Morangos silvestres", de Bergman. Memórias, realidade e fantasia se misturam na mente do jornalista, quando ele recebe o maior pr6emio da classe profissional nos Estados Unidos. Morando há 20 anos nos Eua, Silverio retorna ao México para uma pré comemoração, reencontrando familiares e desafetos. O filme lida com muitos temas: colonização americana no Mézico, massacre dos povos indígenas, família em crise de comunicação, rivalidade cultural Estados unidos e México, e consequentemente, xenofobia, além de uma crítica feroz à classe dos críticos e mídia, de quem Inarritu é vítima constante. No filme, ele atira sua metralhadora para todos os lados, deixando claro que após "vender sua alma" ao Diabo/EUA, ele pretende retornar às suas origens. Repleto de simbolismos, o filme é um apanhado sem fim de planos e imagens deslumbrantes, quase sempre envolvendo centenas de figurantes, e às vezes, aplicação de efeitos de pós, como no encontro do jornalista com seu pai falecido, no banheiro. Misturando humor, drama e festividade, Inarritu apresenta seu filme mais pessoal, que dividiu a crítica, mas que certamente não deixará o espectador incólume em destacar o deslumbre da fotografia.

Alcarrás

"Alcarrás", de Carla Simón (2022) Urso de ouro de melhor filme no Festival de Berlim 2022, "Alcarrás" é um comovente e melancólico filme que fala sobre a paixão do homem da terra pelo seu ofício, mas sob constante ameaça da modernidade que mais cedo ou mais tarde, chega em seu território. Em seu segundo longa, a cineasta catalã Carla Simón retorna às suas origens. No belo "Verão 1993", ela fala sobre a sua infância. Agora, ela retorna na memória afetiva, para falar sobre uma família que vive da plantação de pêssegos na Catalunha (os pais de Carla, por décadas, plantaram pêssegos na região que dá nome ao filme, Alcarrá). O clã da família Solé é numerosa: os avôs, os dois filhos adultos, o cunhado, os cinco filhos, dois adolescentes e três pequenos. Todos de certa forma cresceram cuidando da plantação e fixzeram dela a sua vida. Subitamente, eles enfrentam o despejo iminente de seu pedaço de terra na Catalunha. O patriarca do dono das terras morreu, e o acordo verbal que ele tinha com o avô Solé dele cuidar das terras e poder plantar não está sendo mais levado em consideração. O filho do patriarca deseja fazer das terras um local para futuras instalações de placas solares, mais lucrativas que a plantação de pêssegos. Não há nada a fazer a não ser completar a colheita final. Cada integrante d afamília reage de uma forma diferente ao futuro que lhes aguarda. Na melhor tradição do cinema neo-realista italiano, a cineasta Carla SImón escalou não atores entre moradores da região, e estão todos muito bem em seus papéis. ë visível o quanto são apaixonados pela terra em que vivem, e a pele curtida de alguns entrega o quanto eles convivem com o ambiente. O fiulme fala sobre vários assuntos: trabalhadores africanos informais, baixo preço de mercado das frutas e claro, a dissoluçao familiar, principalmente para os mais jovens, que sofrem com a possibilidade de terem que tomar um outro rumo na vida. Um filme fantástico.

Corsage

"Corsage", de Marie Kreutzer (2022) Drama indicado pela Ásutria à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2023, "Corsage", dirigido e escrito ppor Marie Kreutzer, é uma releitura moderna sobre a famosa Imperatriz Elisabeth, apelidada desde criança como Sissi, e casada com o Imperador Francisco José. Sissi ficou mundialmente conhecida nos anos 50 por conta da famosa trilogia para os cinemas protagonizada por Romy Schneider. Corsage em francês significa corpete, e é essa indumentária feminina que metaforicamente explica o filme: Eloisabeth está prestes a fazer 40 anos, no ano de 1877, e a mídia. epúblico acreditam que ela está fora do peso. Ela procura apertar o corpete o mais justo possível, e simbolicamente, ela não quer se ajustar aos padrões socio culturais da época. Independente, ela procura por amantes, faz tatoo, fuma heroína, muitos elementos anacrônicos fora da época surgem no filme, fazendo referência ao filme "Maria Antonieta", de Sofia Coppola. Vicky Krieps, conquistou, no papel prinicpal, ganhou o prêmio Un Certain Regard de Melhor Atriz. Tecnicamente, o filme é espetacular, com figurino, direção de arte, fotografia, tudo impecável. O ritmo é lento e confesso que fiquei entediado várias vezes ao longo do filme. O que me segurou foi a performance de Vicky e as brincadeiras de elementos fora de época que toda hora surgem, como o Imperador retirar barbas postiças e músicas atuais sendo cantadas por músicos em cena. No desfecho, o filme se permite a romper com fatops históricos, subvertendo a morte de SIssi, que na vida real foi assassinada em 1898 por um anarquista italiano chamado Luigi Lucheni. É possível também se lembrar de "Spencer", com kristin Stewart fazendo uma releitura de Lady Di, ambas mulheres insatisfeitas e tristes com a condição de realezas, sendo obrigadas a seguir etiquetas de comportamento e se sentindo prisioneras de uma monarquia misógena e patriarcal.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Felicity

"Felicity", de John D. Lamond (1078) Clássico drama erótico australiano, buscando pegar carona no grnde sucesso comercial dos cults eróticos franceses "emanuelle" e "A história de O", filmes onde a protagonista busca prazerese fetiches através do sexo sem compromissos e muitas vezes, violento. Os filmes dessa época eram muito controversos, pois geralmente continham cenas onde a protagonista er eetsuprada e isso provocava enorme prazer sexual na personagem. Felicity (Glory Annen) é uma adolescente que mora em um internato para meninas ricas, administrado por freiras. COm os hormônios a flor da pele, felicity atiça o jardineiro e uns meninos da sredondezas s emostrando nua para eles. Insaciável, ela acaba se tornando amante d euma das alunas, Jenny. Felicity recebe uma carta de seu pai, a mandando de férias para Hong Kong e ficar na casa de um rico casal. Claro, o casal é ninfomníaco e faz sexo o tempo todo, o que deixa felicity repleta de tesão. Ela acaba sendo desvirginada por um amigo do casal, e depois, conhece uma chinesa, Mei Ling, que ela descobre ser uma prostituta e a apresenta aos prazeres do sexo sem compromisso emocional. George Miller chegou a ser cogitado para dirigir o filme, mas declinou. Lamond se baseou na textura de "Emanuelle", repleta de filtros, trazendo uma atmosfera de sonhos para o filme, deixando-o mais artístico. O filme é repleto de nudez e sexo simulado, o famoso padrão do Cine privé. A atriz Glory Annen tinha 26 anos na época, dez anos a mais que sua personagem. Hoje em dia certamente o filme seria atacado, por mostrar etsupro como uma forma fetichista da busca do prazer. As cenas em Hong Kong foram filmadas de forma documental, o que acaba se tornando um grand eregistro histórico e social da época, apresentando sem filtros uma pobreza dos habitantes das embarcações.

Roza

"Roza", de Andres Rodriguez (2022) Longa de estréia do roteirista e cineasta guatemalteco Andres Rodriguez, "Roza" foi premiado no Festival Guanajusto como melhor filme mexicano, e competiu na Mostra de são Paulo 2022. O filme é um drama muito triste e angustiante sobre a classe miserável na Guatemala, que mora na periferia, tendo que sobreviver de sub-empregos e que entrega todos os pertences à igreja, que literalmente diz aos súditos o que devem fazer. Hector (Hector Ramos) fugiu da cidade e de sua família. Nos Estados Unidos, constituiu outra família, tudo mostrado no prólogo inicial. mas ele decide retornar à cidade e à sua família, e somente no final saberemos o porqu6e. Sua esposa já não o recebe da mesma forma, o filho lhe é indiferente e sua mãe, agora viúva e reclemando que o filho não veio para o velório do pai, lhe cobra emprego e sustento da família. Hector acaba se envolvendo em situações que irão piorando a sua rotina, até chegar ao seu limite. Com uma duração curta, 76 minutos, mas o suficiente para entendermos a dinâmica da população com a sua cidade, pobreza, igreja e falta de apoio social. Hector representa o homem passivo, observador, que procura dar o último grito de resistência. Mas o filme não traz olhares otimistas e entende que o mundo está entregue aos poderosos, cabendo à população a extrema pobreza. O elenco é formado por não atores, quas euma reconsttituição de neo realismo italiano e o olhar sobre as mazelas do homem do povo.

Até os ossos

"Bones and all", de Luca Guadagnino (2022) Vencedor do merecido prêmio de direção em Veneza 2022, "Até os ossos" é adaptação do livro escrito por Camille DeAngelis, e assim como no cult francês "Grave", de Julia Ducournau, é um coming of age que envolve canibais e o utiliza como metáfora para o crescimento psicológico e o sentimento de pertencimento. Com performances excelentes de Taylor Russeel como Maren, e de Timothée Chalamet como Lee, e super destacado, Mark Rylance, que rouba totalmente todas as cenas em que aparece, como o assustador Sully, fazendo lembrar Anthony Hopkins em 'O silêncio dos inocentes". O filme lida com um grupo de pessoas especiais chamado de "devoradores", ou simplesmente, canibais. O filme não explica como essas pessoas tiveram esse dom e como surgiram, elas apenas existem misturados às pessoas. O filme é ambientado nos anos 80, no interior dos Estados Unidos, e é um road movie romântico e ao mesmo temnpo, um filme de terror brilhantemente dirigido por Guadagnino, que repete sua perceria com Chalamet, com quem havia trabalhado em 'me chame pelo seu nome", e ainda reserva uma participação especial de Chloë Sevigny, em papel aterrorizante, e de Jessica Harper, protagonista do 'Suspíria" original. Maren é abandonada por seu pai, que não suporta mais saber que a filha é canibal. Ele deixa com ela dinheiro e o endereço da avó dela. Maren segue o caminho de ônibus até ir ao encontro da avó, para saber o paradeiro de sua mãe. Mas no trajeto, conhece Sully, um outro devorador, que alega devorar pessoas já mortas, e que se afeiçoa por Maren. depois, ela conhece Lee (Chalamet), que assim como ela, perambula sem destino. Ambos se apaixonam, mas precisam lidar com o desejo de comer carne humana. Dirigindo com extrema competência um tema tão sombrio e macabro, Guadagnino tem o feito de faezr o espectador torcer pelo casal canibal, mesmo sabendo que matam pessoas inocentes para saciar a fome. A trilha sonora embala o romance do casal, emoldurado por uma bela fotografia, de Arseni Khachaturan . É um filme que mescla sensações ao espectador. Com cenas primorosas, como a de Lee com o vendedor do parque de diversões em um canavial, ou mesmo a sequ6encia final no apartamento, é um primor de realização.

Tár

"Tár", de Todd Fields (2022) Escrito e dirigido por Todd Fields, que não fazia um filme há 16 anos, desde o premiado 'Pecados íntimos", de 2006. Fields escreveu o roteiro para Cate Blanchett, e disse que se ela não quisesse fazer o filme, ele não faria com mais ninguém. e assistindo ao filme, é notório saber o porqu6e: Blanchett está absolutamente sublime, no auge de seu potencial artístico: fala alemão, rege orquestra, impossível não acreditar em seu potencial regendo uma orquestra, com todas as suas expressões corporais.Blanchett é monstuosamente formidável. Ela é Lydia Tár. Logo no prólogo, ela é entrevistada por um jornalista do The New yorker e já ficamos sabendo de seu extenso e premiado curriculo: detentora do prestigiado EGOT (vencedora do Emmy, Grammy, Tony e Oscar), regente de orquestras em Cleveland, Boston e agora em Berlim; abre bolsas para aspirantes a regentes; Além de promover seu novo livro, ela também incentiva sua futura gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. Tár ainda encontra espaço para dar palestras na escola de música Julliard. Tár é perguntada sobre o tipo de pressão que ela sente como uma mulher que alcançou o mais alto nível em um campo tipicamente dominado por homens, ao que Lydia responde que não sente essa pressão. Sua assistente, Francesca, lhe diz que encomendas têm chegado para Tár, ao que ela se recusa a receber. Mais tarde, saberemos serem de Krista, uma ex-aluna bolista de Tár, e aparentemente, foram amantes. Tár é casada com Sharon, a violoncelista da orquestra de Berlin, e juntas adotaram uma filha pequena, Petra.Tár tem uma postura e temperamento dominadores e ardilosos, o que faz a todos em seu redor a respeitarem, mediante o seu poder. Até que uma tragédia coloca toda a vida de Tár de cabeça pra baixo. O filme é longo, quase 160 minutos, e apresenta minuciosamente, sem pressa, a glória e derrocada ao fundo do poço de Tár, novamente, em atuação sublime de Blanchett. O filme é dela. O elenco está todo excelente, mas Blanchett rouba todas as atenções para si, o que lhe valeu o prêmio de atriz em Veneza 2022. É um filem angustiante, e o desfecho, um castigo impiedoso.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Armageddon time

Ärmageddon time", de James Gray (2022) Três anos depois da sua ficção cinetífica 'Ad astra", protagonizado por Brad Pitt, o cineasta americano James Gray repete a dobradinha com o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira e lança um filme semi-autobiográfico, "Armageddon time". O filme se ambienta em 1980 em Queens, Nova York. Ali, mora a família judia de Paul, um menino de 12 anos Banks Repeta). De classe média, ele mora com seu irmão e seus pais, Esther (Anne Hathaway) e Irving (Jeremy Strong), um encanador. O avô de Paul, Aaron (Anthony Hopkins) é quem dedica parte do tempo conversando com o neto sobre diversos assuntos. Paul é apaixonado pelo seu avô. No seu primeiro dia de aula, Paul acaba ficando amigo do rebelde Jonnhy (Jaylin Webb), o único menino negro da turma. Jonnhy mora com sua avó, portadora de Alzheimer, e deseja se mudar para a Flórida e morar com o irmão, mas não tem dinheiro. Paul vive às turras com os pais, pois deseja ser pintor, o que seus pais não concordam pois querem que ele tenha uma profissão decente. Paul e Jonhy decidem roubar o computador da escola e com o dinheiro, fugirem para a Flórida. O filme concorreu na seleção oficial de CAnnes 2022. É o primeiro filme de James Gray rodado com câmera digital. Com ótima fotografia de DArius Khondji e uma direção de arte muito eficiente, o roteiro de James Gray traz elementos pessoais nostálgicos, remetendo a filmes de coneastas consagrados e que revisitam sua infÂncia, como "Amarcord" e 'Roma". No entanto, o tema do racismo e de que forma a história de seu amigo Jonnhy transformmam a vida de Paul são momentos fortes do filme, defendido por um ótimo elenco, especialmente as duas crianças. A trilha sonora é recheada de clássicos pop da época.

Bantú Mama

"Bantú mama", de Ivan Herrera (2022) Indicado pela República Dominicana à uma vaga ao Oscar de filme internacional 2023, "Bantú Mama" é um comovente e belo drama co-escrito e protagonizado pela atriz Clarisse Albercht. Ela é Emmanuelle, moradora da França e que decide passar um final de semana em um caro resort na República DOminicana, nos Caribes. Ao chegar lá e aproveitar o luxo, ela acaba recebendo uma ligação de um cliente cancelando a visita. Na volta para a França, no aeroporto da República Dominicana, Emmanuele é presa pela polícia com drogas na sua mala. Ao caminho da prisão, o carro sofre um acidente e ela foge. Emma é acolhida por um trio de crianças que moram sozinhas, já que a mãe está morta e o pai está na cadeia. Dos três, apenas o mais novo, Cuki (Euris Javiel), ainda tem um ar de fantasia infantil. Sua irmã TINA (Scarlet Reyes) e seu irmão $hulo (Arturo Perez), cantor de rap, têm um ar endurecido. O barrio é pobre e violento, e as crianças aprenderam que para sobreviver, precisam ser fortes. Eles escondem Emma, e ela cuida deles como uma mãe que nunca tiveram. Com uma linda fotografia de Sebastian Cabrera Chelin, que extrai poesia de lugares improváveis, o filme tem uma curiosidade técnica: foi todo rodado com apenas uma lente. Os atores são ótimos, muiutos sem experiência, mas trazendo naturalidade e verdade aos personagens. O filme tem lindas imagens, que parecem quadros. O desfecho, apesar da crueza da vida retratada, aspira uma lufada de otimismo.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Till- A luta por justiça

"Till", de Chinonye Chukwu (2022) Baseado em uma trágica história real, a do assassinatob do adolescente negro de 14 anos Emmett Till em agosto de 1955 em Mississipi. O filme, co-escrito e dirigido pela cineasta afro-americana Chinonye Chukwu, traz como protagonista a atriz Danielle Deadwyler, no papel de Mamie Till-Mobley, mãe de Emmett. Mammie mudou do sul para Chicago justamente para fugir do racismo da região. Com ela vieram seus pais (Whoopi Goldberg interpreta sua mãe). Mamie é a única negra na empresa onde trabalha. Ela vive feliz com seu filho, trabalho e vida amorosa, apesar do racismo existente de forma mais discreta em Chicago. Quando seu filho deseja visitar os primos em Mississipi, Mamie fica apreensiva, mas deixa o rapaz ir. Emmet vai trabalhar na fazenda de algodão junto com seu tio, um pastor, e os filhos dele. Mas indo à uma loja, Emmett fica impressionado com a beleza da atendente, Carolyn. Mas não esperava que ela fosse reagir mal e pegasse uma arma. Emmett e os outro fogem. Mas de noite, tanto o dono da fazenda quanto o irmão dele, brancos, surgem e sequestram emmett, que surge morto à beira de um rio, totalmente espancado. Mamie se desespera ao ver o estado do corpo do filho, totalmente deformado, e passa a liderar no tribunal um movimento por justiça. Filmes com temas anti-racistas ambientados no Sul dos Estados Unidos dos anos 50 são bastante comuns e geralmente mostrando a violência contra os negros. Aqui, o que diferencia de tantos outros filmes, é a legitimidade de ter sido dirigido por uma cineasta negra, e por trazer uma performance poderosa de Danielle Deadwyler no papel principal. O filme, como não poderia deixar de ser, é bastante dramático e aposta em trilha emocionantes e épicas para levantar o teor emotivo.

Triângulo da tristeza

"Triangle of sadness", de Ruben Östlund (2022) Grande vencedor da Palma de ouro de melhor filme no Festival de Cannes 2022, é impossível não pensar na morte de sua protagonista, a jovem atriz sul africana Charlbi Dean, morta aos 32 anos de idade em Manhattan de causa misteriosa. De grande talento e de extrema beleza, Chaslbi entrega uma performance que certamente a faria uma grande estrela em Hollywood, na escala de Charlize Theron, que também começou como modelo. O filme, de quase 150 minutos de duração, eu diria, é quase que um remake de "O anjo exterminador", de Bun˜uel, onde pessoas muito ricas ficam presas em um contexto e não conseguem sair. Dessa forma, a luta de classes tona-se mais evidente, com as disparidades sobre o privilégio. Mas e se essa posição s einverter? É isso o que propõe o roteirista e diretor sueco Ruben Östlund, duas vezes premiado com a Palma de ouro de melhor filme. Ele já havia faturado em 2017 por "The square", também uma crítica impiedosa ao mundo dos ricos, vistos através do mundo da arte. Em 'Triângulo da tristeza", lidamos agora com o mundo da moda e dos poderosos, que se encontram em um luxuoso iate, comandado por um capitão alcólatra (Woody Harrelson). No iate, encontram-se ricos de várias nacionalidades, esbanjando dinheiro, enquanto a tripulação, especialmente os filipinos, tornam-se os invisíveis. Mas quando um temporal e uma explosão afundam o iate, os poucos sobreviventes tentam se virar em uma ilha deserta. Abigail (Dolly De Leon, atriz filipna, brilhante), chefe d alimpeza dos quartos, decide tomar a rédea da situação e se auto intitular a capitã, afinal, é a única que sabe pescar, fazer fogueira e outras atividades. Na ânsia do poder, Abigail acaba roubando o namorado de yaya, o também modelo Carl (Harris Dickinson). Um estudo feroz sobre relação de poder, luta de classes, machismo estrutural, o filme poderia ser uma versão empoderada de "Titanic" misturada a "O anjo exterminador". Assim como em "The square", Ruben aponta suas lentes para os fortes e também para os oprimidos, que também possuem sua chance de revanche. Seus filmes fazem pouco caso dos ricos, apresnetados como alegorias do nnababesco, da decad6encia. Poderia ter uns 20 minutos a menos, uma vez que é dividido em 3 capítulos. Mas vale muito a pena ser visto.

Serial Kelly

"Serial Kelly', de René Guerra (2021) Longa de estréia do roteirista e realizador alagoano René Guerra, "Serial Kelly" tem a proposta de apresentar ao espectador a história ficcional da primeira serial killer brasileira, Kellyane, ou Kelly (Gaby Amarantos), uma cantora de forró em Maceió, que tem um passado de abuso por conta de seu pai, e hoje em dia, carregando os traumas da violência machsita e de uma sociedade misógena e repleta de casos de feminicídio e homofobia, decide matar os homens que não prestam, acreditando assim estar fazendo um grande serviço a si mesma e à sociedade. O filme, rodado em 2017, marca também a estréia da cantora Gaby Amarantos como atriz, e esse é o grande acerto do filme. Gaby traz carisma e o filme todo é em cima da personagem. Gaby se entrega com força à personagem, em um roteiro que abraça muitos temas: crítica ao machismo, alerta aos crimes homofóbicos e transfóbicos, falta de sororidade, crítica à igreja evangélica que promove lavagem cerebral e apresenta pastores vigaristas. Os personagens masculinos no filme são na sua maioria mau caráter, abusivos, machistas, violentos e vigaristas, fazendo pouco caso da mulher. Por isso, Kelly não pensa duas vezes antes de matar. Paralleo, a policial Fabíola (Paula Cohen), que por sua vez também sofre assédio moral no trabalho por conta dos policiais e de seus chefes, está no encalço de Kelly, para prendê-la. Além de Gaby, o grande apelo e acerto do filme é escalar um elenco fora do eixo rio/SP, com elenco todo nordestino e repleto de talentos, com destaque para Igor de Araújo, no papel do impagável tempero. O filme é vendido como comédia, e lhe falta risadas, mas sobram temas para serem refletidos pelo espectador.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Para Leslie

"To Leslie", de Michael Morris (2022) Comovente e arrebatador drama escrito pelo roteirista, baseado em uma história real. Premiado em Festivais independentes como SXSW e Raindance e vencedor de prêmios, o filme está todo nas costas da atriz Andrea Riseborough, em atuação avassaladora como a mãe alcóolatra Leslie. O elenco de apoio fornece todo o suporte para Andre brilhar, com a participação luxuosa de Allisom Janney como a ex-amiga Nancy. O filme começa já nos créditos inciaiis, repleta de fotos e vídeos contando a histópria de Leslie: casada, feliz, com filho pequeno, James. E aí ela ganha na loteria 190 mil dólares que era para comprar uma casa nova, mas aí gaasta tudo com bebedeiras e perde tudo: família, amigos, casa. Quando o filme começa, Leslie está sozinha em um motel fuleiro, sendo expulsa por falta de pagamento. Sem ter aonde ir, ela procura moradia na casa do seu filho James, agora com 19 anos. mas ele conhece a. mãe que tem e diz que se ela beber novamente, será expulsa de casa. E claro, acontece. Leslie acaba retornando para sua cidade natal, onde é repelida por todos. Até que um ex-acóolatra, Sweeney ( Marc Maron ), decide apostar em leslie e lhe dá emprego de faxineira em seu motel. Resta saber se Leslie cairá novamente em tentação. O roteiro é simples, mas scrito com diálogos e situações que nos fazem torcer pela recuperação de Leslie, e a cada recaída dela, a gente a xinga, mas continua querendo ajudá-la. Muioto graças à performance inteligente de ANdrea, que traz carisma e alento em seu olhar desesperador pedindo socorro. Owen teague, que faz seu filho aos 19 anos, também traz atuaçãpo memorável. Confesso que chorei muito no final.

Adoração

"Chong ai", de Larry Yang (2019) Grande sucesso comercial na China, 'Adoração" é uma comédia dramática sobre a relação de pessoas com animais domésticos, um item imprescindível para moradores das grandes cidades, não só pela questão da solidão, como também pela segurança. O filme é ambientado em um bairro rico Qingdao, província de Shandong, norte da China. O filme acompanha 6 histórias de donos de cães e seus animais, e as relações dos donos com outras pessoas e de que forma os animais são responsáveis em fazer seus donos resolverem seus problemas pessoais ou profissionais. Tem o casal recém casado cujo cão da mulher tem ciúmes do marido; tem a mulher que descobre que seu noivo não a chama para conhecer seu apartamento porqu6e ele cria uma porca; tem a garotaa apaixonada pelo amigo cego e treina um cão para ser guia dele; tem a do entregador de comida que se afeiçoa a um cachorro abandonado na rua...enfim, para espectadores apaixonados por animais e quer se divertir e chorar bastante, o filme aqui oferece não apenas uma, mas 6 histórias para soltar lágrimas. É um filme família, simpático, mas obviamente onde as estrelas são os animaisiznhos fofos.

domingo, 20 de novembro de 2022

The african desperate

"The african desperate", de Martina Syms (2022) Longa de estréia da cineasta afro-americana Martina Syms, que co-escreveu o roteiro relatando a sua própria experi6encia em uma Universidade de artes no norte de Nova York, e a experi6encia de ter sido uma das poucas alunas negras no local. Palace (Diamond Stingily) é seu alter-ego no filme. O filme companha 24 horas da vida da aluna de belas artes: desde a sua apresentação de tese para uma banca formada por quatro professores brancos, até a sua indecisão se deve ir ou não à uma festa de formatura da turma, e a partida para Chiccago no dia seguinte, de trem e de avião. O filme mostra o desconforto de Palace na Universidade: sendo a única negra, os professores são condescendentes com ela pelo fato dela ser negra, e isso a incomoda. Fora isso, a sensação de não pertencimento a assombra. O filme foi dirigido por Martina Syms usando uma linguagem de filme de arte, com ritmo lento e uma edição frenética que mistura video-arte e também uma trilha sonoa instigante pulsante. É um filme curioso, com ótima performance de Stingily, e apresenta cenas de masturbação masculina explícita em uma exposição de um aluno. É um filme curioso, com mensagens que certamente estão ali para provocar. O filme foi exibido em diversos Festivais, entre eles, o prestigiado Rotterdam.

Close

"Close", de Lukas Dhont (2022) Um dos mais dolorosos e avassaladores dramas LGBTQIAP+ envolvendo crianças, "Close" é um triunfo de interpretação de todo o elenco: as duas crianças, Gustav De Waele e Eden Dambrine como Rémi e Léo, os dois amigos que acabam a amizade de forma trágica, e os adultos, especialmente Émilie Dequenne, no papel de Sophie, mãe de Remi. Ela ganhou a Palma de ouro em Cannes por 'Rosetta", obra prima dos irmãos Dardenne em 1999. "Close" foi vencedor de dezenas de prêmios, entre eles, o Grande prêmio do juri de Cennes 2022, emocionando a platéia que assistiu ao filme na Croisette. O que mais impressiona, é que o jovem protagonista, Eden Dambrine, de 12 anos, nunca havia atuado antes. o Cineasta Lukas Dhont estava em um trem e o viu, e foram os olhres e a expressão do menino que o fez convidá-lo pro papel. Lukas, nascido na Holanda, dirigiu em 2018 o premiado 'Girl", sobre um menino que percebe que seu corpo precisa de transição. Em uma cidade do interior da França, com plantações de flores, vivem os melhores amigos Rémi e Leo. Inseperáveis, Leo dorme quase sempre na casa do amigo, na cama de Rémi. Quando as aulas começam, um grupo de meninas pergunta aos meninos se eles são casal, pois nunca se separam. Léo nega, e não gosta da brincadeira. rémi não se incomoda. A partir desse momento, lëo vai se separando de Rémi, se inscreve no Hockey, se une ao grupo de meinos como afirmação de sua masculinidade. Rémi, por sua vez, não entende o que se passa com Leo. O diretor Lukas Dhont teve a idéia para o roteiro quando viu a pintura de David Hockney, de 1961, "We Two Boys Together Clinging". O filme em momento algum define a sexualidade dos meninos, e deixa qualquer interpretação para o espectador decidir. É brilhante, lindamente dirigido com muita segurança e cuidado por Lukas Dhont. Impressiona pelo talento dos meninos e pela sensibilidade artística e visual. Excelente trilha de Valentin Hadjadj e fotografia de Frank van den Eeden , valorizando as cores da plantação de flores e ao memso tempo, a melancolia que o filme se abate.

Moonage daydream

"Moonage daydream", de Brett Morgen (2022) Documentário totalmente subjetivo da vida e obra de um dos maiores artistas do século XX, o cantor, compositor e ator David Bowie. Sem seguir uma linha cronológica e dividida em blocos temáticos, "Moonage daydream" contém material de arquivo com depoimentos, cenas gravadas em shows, fotos e cenas de filmes para ilustrar quem foi Bowie e todas as suas personas, como Ziigy Stardust, a mais famosa. O filme é longo, 2:15 horas e cansa um pouco pelo excesso de imagens e cores, mas para fãs é um filme obrigatório, ainda mais que contém muitas cenas inéditas de show. É de arrepiar quando Bowie canta 'Space oddity", uma obra prima. O filme tem imagens lindas e cores , quase que um grande video clipe psicodélico, e assitir na tela grande certamente irá itensificar esse delírio visual e artístico.

Força bruta

"Beomjoidosi 2", de Lee Sang Yong (2022) Grande sucesso comercial e de crítica na Coréia do Sul, a continuação de "The outlaws", de 2017, agora chamado de "Força bruta", vem na esteira do sucesso em Hollywood de sua grande estrela, o ator Ma Dong-seok, escalado para 'Eternos", da Marvel, onde contracenou com estrelas como Angelina Jolie. "Força bruta" se passa no ano de 2008, e seu início se dá em Ho Chih Minh, capital do Vietnã. Ali, um jovem empresário, filho de um milionário sul coreano, negocia terras para construir um negócio na capital vietnamita, onde recentemente muitos sul coreanos têm chegado, tanto como turistas, como também, comerciantes. Mas o caminho do rapaz se cruza com Yoo Jong-hoon.líder de uma quadrilha que sequestra sul coreanos, pedindo resgate, e depois os mata. O detetive Ma (Ma Dong seok) e o capitão Il-man partem para o esconderijo de Jong-du e lá descobrem a quadrilha. Para piorar, como o pai do jovem não pagou o sequestro, após decsobrir que mataram seu filho, o assassino decide ir até a Coréia do Sul para matar o empresário e pegar o dinheiro. Com muita ação e cenas de luta envolvendo facas e machetes, "Força bruta" tem, além da violência, também humor, concentrado na figura do personagem Ma, um personagem sensacional que o ator Ma Dong seok encontrou em seu currículo e que somente pela sua aparência física, já seria uma piada.

sábado, 19 de novembro de 2022

To dream

"To dream", de Nicole Albarelli(2016) Drama independente inglês, estréia da roteirista e cineasta Nicole Albarelli no longa-metragem. O filme segue a história de Luke (Ed Hayter) e Tommy (Freddie Thorp), dois jovens, amigos desde a infância e que sempre sonharam em abandonar a periferia pobre e violenta de Londres e se mudarem para os Estados Unidos. Abandonando os estudos, ambos vivem de golpes. Luke vive com o seu pai abusivo, que é violento e sempre maltratou o filho. Para piorar a relação dos dois amigos, Luke passa a namorar uma garota, Nikki, provocando grandes ciúmes em Tommy. Como boa parte dos filmes ingleses, a força desse aqui está focado nos bons atores protagonistas. A exceção é Frank Jakeman, no papel do pai de Luke, que o faz de forma óbvia e irritante. Sendo um filme de baixo orçamento, alguns itens técnicos às vezes chamam a atenção pela falta de cuidados, como a fotografia que em alguns momentos aparece lavada. O teor homoerótico da relação dos amigos é light, deixando para o espectador interpretar melhor a relação de ambos.

Antes da primavera

"Ru guo you yi tian wo jiang hui li kai ni", de Li gen (2021) Delicado drama sobre amadurecimento, "Antes da primavera" traz tintas melancólicas para o protagonista, Li Xiaoli, um estudante chinês que decide passar um ano no Japão para estudar em intercâmbio e trabalhar para se sustentar em um restuarante chinês de Tokyo, o Nakumate, gerenciado por chineses que se estabeleceram no Japão. O filme parte da experi6encia própria do cineasta e roteirista Li gen, aqui representado no personagem de Li Xiaoli. O próprio Li gen estudou e trabalhou no Japão, e traz seu olhar sobre a relação conflituosa entre as duas culturas, historicamente repleta de momentos tensos. O filme acompanha um ano na vida de Li Xiaoli e a sua relação com os outros funcionários do estabelecimento e os clientes, entre eles: Guan Wei, a gerente que dá uma chance a Xiaoli porque ela se vê nele; Zhao Aoki, um colega garçom que inicialmente parece hostil a Xiaoli por causa de sua proximidade com Qiu Qiu, uma garota de quem ele gosta, além do chef de cozinha que mora há tanto tempo no japão que já não reconhece mais suas raízes chinesas. Li deixou para trás sua mãe e seu pai doente, ambos passando dificuldades financeiras, e essa situação econômica aflige Li, mas seu desejo em conhecer o mundo fala mais alto. O filme traz diversos temas: além da diversidade cultural e estranhamento entre dois países distintos e a dificuldade de adaptação, toca no tema da dificuldade dos jovens em se adaptar a um mundo cada vez mais competitivo, vivendo sob o signo do desmeprego e da crise econômica. O roteiro raz muitos sub-plots, o que atrapalha o desenvolvimento da história, mas ainda assim é um filme bastante simpático.

Setenta e sete dias

"Qi shi qi tian", de Zhao Hantang (2017) Filmado pelo período de três anos, "Setenta e sete dias" faz parte do rol de dramas sobre sonrevivência em naturezas inóspitas, que já nos trouxe os excelentes "Na natureza selvagem", "127 horas"e 'Wild". Baseado em história real, "Setenta e sete dias" conta a história de Yang Liusong (Zhao Hantang, o próprio cineasta). No ano de 2010, em Jieshan Daban, província ocidental do Tibete, China, iniciou-se a jornada espiritual de Yang. Natural de Shanghai, ele se preparou por dois anos a ser a primeira pessoa a atravessar a zona desabitada de Qiang Tang de leste a oeste, uma área desolada e desabitada de Changtang, a mais de 4.500 metros de altitude no planalto tibetano, uma região tomada por animais selvagens, como lobos e ursos. Disposto a atravessar sozinho, Yang foi até Lhasa, onde consultou o único especialista na região, o Velho Capitão, um tibetano que a pesquisou na década de 1960. Yang acaba conhecendo a fotógrafa Lan Tian (Jiang Yiyan), paraplégica após um acidente. Ela lhe dá uma carona para perto de seu ponto de partida. Yang se inspira na jornada da fotógrafa, e se despede dela. No seu trajeto, Yang precisa lidar com lobos, ursos, tempestade de areia, falta de água e nevascas para chegar ao seu detsino. Fotografado por Ping Bin Lee, fotógrafo endeusado por "Amor à flor da pele", de Wong Kar Wai e "A assassina", o filme tem na imagem seu principal chamariz. As locações são absolutamente grandiosas e fascinantes nas cores e suntuosidade. Rodado nas locações reais, é um filme com ritmo bastante lento, mas contemplativo, e que traz uma história de determinação defendida por boas performances. Fico imaginando a dificuldade que foi filmar o longa, com tantos obstáculos da natureza.

A acusação

"Les choses humaines", de Yvan Attal. Poderoso drama francês, dirigido pelo cineasta israelense radicado na França Yvan Attal. N avida real, Attal é casado com Charlotte Gainsbourg e ambos são os pais do ator Ben Attal, protagonista do filme, e ccom Charlotte interpretando sua mãe. O filme é um drama mesclado com drama de tribunal, onde o espectador precisa refletir sobre o ato violento ocorrido entre um jovem casal, Mila (Suzanne Jouannet) e Alexandre (Ben Attal): um estupro alegado poe Mila contra Alexandre, em uma noite onde ambos foram para uma festa. Alexandre volta dos Estados Unidos onde estuda engenharia na prestigiada Stanford para visitar seus pais recém-separados, interpretados por Pierre Arditi e Charlotte Gainsbourg. O pai é um famoso jornalista, a mãe é uma ensaísta feminista. Ele então conhece a filha da novo companheiro de sua mãe, Mila, interpretada por Suzanne Jouannet. Adam (Mathieu Kassovitz) é Adam, professor que convive com Claire (Gainsbourg) Depois de todos jantarem no apartamento apertado, mas aconchegante de Adam, Alex e Mila vão para uma festa com os amigos dele, que são todos garotos ricos como ele. No dia seguinte, Mila acusa Alex de estupro, e o caso vai para o tribunal. Com 138 minutos, o filme é dividido em 3 capítulos: o ponto de vista de Alex, o ponto de vista de Mila e o tribunal, onde o espectador precisa tomar paryido mediante os depoimentos de ambos sob o ocorrido na noite. O filme é adaptado do livro escrito por Karine Tuil, que por sua vez se inspirou no caso real ocorrido na Universidade de Stanford com o estudante Brock Turner, em 1995, acusado de ter estuprado uma aluna. A frase proferida pelo pai do rapaz no tribunal foi o que fez com que Karine escrevesse o livro, enojada pela misoginia e absurdo da fala: que seu filho não deveria ir para a prisão por “20 minutos de ação”. 20 minutos foi o tempo que Brock recorda ter acontecido na noite, tentando minimizar o estupro. "A acusação" é um filme defendido por excelentes atores e obrigatório para estudantes de advocacia.

Accatone- Desajuste social

"Accatone", de Pier Paolo Pasolini (1961) Obra-prima do cinema italiano, "Accatone" é a estréia do cineasta Pier Paolo Pasolini no cinema, lançado em 1961 e um dos últimos exemplares do cinema neo-realista italiano. O cineasta Bernardo Bertolucci também estreou no cinema no filme, como assistente de direção. Rodado em preto e branco e nas ruas de Roma, o filme conta a história de Vitório ( Franco Citti), apelidado de "Accattone" (que significa 'mendigo' em italiano. Accatone é um boa vida e vive de luxo com o dinheiro ganho com a prostituta que trabalha para ele, Magdalena.Accatone tem um grupo de amigos vagabundos que circulam com ele, todos desempregados e ladrões. Um dia, Magdalena é ferida por seus rivais e enviada para a prisão, onde fica presa por um ano. Encontrando-se sem uma renda estável e sem desejo de querer trabalhar, Accatone perde o luxo e passa fome, tentando se reconciliar com a mãe de seu filho para poder comer, mas é expulso por seus parentes; ele então encontra a ingênua Stella, uma catadora de lixo, e tenta faezr dela sua nova prostituta. Um filme formidável, que trata de temas sociais que chocaram os italianos na época: prostituição, pobreza, desemprego, temas que Fellini já havia trabalhado antes, mas que aqui mostra seu lado mais cruel e pessimista. Franco Citti está antológico no papel principal, um personagem abominável e ao memso tempo carismático. O desfecho, com Accatone sonhando com sua morte é antológico. Muitas cenas brilhantes, trazendo um olhar melancólico sobre uma cidade que esqueceu a classe pobre, relegada à periferia e morando em favelas, enquanto a cidade crecsia com a efervescência capitalista e reconstrução pós guerra.

Nada é por acaso

"Nada é por acaso", de Márcio Trigo (2022)

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O milagre

"The wonder", de Sebastian Lelio (2022) Adaptado do livro escrito por Emma Donoghue, o premiado cineasta chileno Sebastian Lelio volta a trazer protagonismo femino , depois dos sucessos de "Uma mulher fantástica", 'Gloria Bell" e 'Desobediência". Florence Pugh protagoniza a história ambientada no ano de 1862, na Irlanda. Pugh é a enfermeira Lib Wright. Ela é convocada por uma comissão de religiosos para observar uma garota chamada Anna, que parou de comer nos últimos quatro meses e aparentemente está bem. O conselho coloca Lib e a freira Michael em turnos de oito horas para ver como Anna está realmente fazendo isso. Lib e Michael não devem conversar uma com a outra sobre suas inferências para que sua revisão final da situação seja o menos influenciada possível. A conversa com os pais de Anna e os encontros frequentes com visitantes que vêm de longe para fazerem doação deixam Lib desconfiada. Um belo drama com tintas de suspense, "O milagre" discute fé e charalatanismo em uma época onde meninas eram comumente colocadas para fazerem jejuns forçados por seus familiares para angariarem comida num período histórico de muita fome e recessão. Com excelentes performances e uma fotografia deslumbrante, que enaltece a beleza das locações, o filme traz o brilhantismo da direção de Lelio, empre atento a todos os detalhe, e com protagonismo feminino ttanto de Pugh quanto da jovem Kíla Lord Cassidy, no complexo papel de Anna.

As galochas de Wangdrak

"Wang Zha de yu xue", de Lhapal Gyal (2018). Premiado drama chinês rodado no Tibet, "As galochas de Wangdrak" é uma delícia de fantasia infantil, um drama áspero da rotina de aldeões pobres de uma rgeião do Tibet, sob o olhar inocente do pequeno Wangdrak ( o formidável Druklha Dorje, um não ator). O que o pequeno Wangdrak mais quer é um par de galochas para os dias de chuva. Na região tibetana de Qinghai, a estação chuvosa está prestes a chegar. Todos os colegas têm galochas, menos Wangdrak, que calça sempre os mesmos tênis puídos, chova ou faça sol. Quando finalmente ganha as botas impermeáveis que tanto queria, o menino passa a desejar com todas as forças a chuva que não vem. Mas com a promessa da vinda de uma tempestada, depois de muito tempo, ele deseja que a chuva venha, independente dos apelos dos adultos de que a chuva vá destuir a colheita. O filme me lembrou bastante o drama também de olhar infantil "Os filhos do paraíso", premiado filme iraniano sobre um menino que deseja um par de sapatos para ir para a ecsola. Ambos os filmes lidam com o bullying na ecsola por crianças que menosprezam a pobreza do colega, sem condições de comprar um calçado. Um filme lindo, duro e com momentos de humor ingênuo e maravilhoso. O espectador ainda é agraciado com uma linda fotografia que enaltece as locações do Tibet, que memso pobres, trazem poesia e grandiosidade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Esperando Bojangles

"En attendant Bojangles", de Régis Roinsard (2022) Adaptação do livro escrito por Olivier Bourdeaut, "Esperando Bojangles" começa como um romance com tintas de humor. Na Riviera francesa do ano de 1958, o golpista e mentiroso George *Roman Duris, ator fetiche do cineasta Régis Roinsard, com quem já havia trabalhado no excelente "A datilógrafa", conta histórias mirabolantes para os ricos da festa, enquanto vai consumindo bebidas de graça. Mas a sua atenção muda completamente ao avistar a bela e iluminada Camille (Virginie Efira) dançando na varanda. logo os dois se apaixonanm, se casam e têm um belo filho, Gary (Solan Machado Graner). O tempo passa, é 1967 e todos os dias o casal dança a música 'mr Bojangles". mas aos poucos, a alegria de Camille vai se transformando, e logo ela é dignosticada como louca e internada em um manicômio. O filme muda radicalmente de tom na sua segunda metade, e vai ficando bastante dramático, mesmo com as cores vivas da fotografia e direção de arte. É um filme triste, com um desfecho acri-doce e que retrata de forma lúdica os transtornos bipolares e depressão. Me lembrei imediatamente de "Uma mulher sob a influência", de John Cassavettes, e Virginbie, mesmo que não chegue à excelência de Gea Rowlands, está vibrante como a complexa Camille. Um belo filme.