quarta-feira, 31 de maio de 2023

Alucinações do passado

"Jacob's ladder", de Adrian Lyne (1990) Cult do cineasta Adrian Lyne, mais conhecido pelos dramas eróticos "9 1/2 semanas de amor", "Atração fatal" e o muiscal 'Flashdance", todos enormes sucessos de público mas destruídos pela crítica. Mas com "Alucinações do passado", aconteceu o oposto: o filme foi enorme fracasso de público, mas os críticos aplaudiram. Escrito por Bruce Joel Rubin, que ganhou o Oscar de melhor roteiro 1 ano depois, por "Ghost, do outro lado da vida", "Jacob's ladder" , seu título original, foi a maior influência para a criação dos games 'Silent hill". O filme também traz o debut de Macaulay Culkin no cinema, estourando em Hollywood no mesmo ano com 'Esqueceram de mim". O filme é um drama com elementos de suspense e horror, e traz um tema muito comum em dramas de guerra, mas com um desfecho que faria M. Night Shyamalan orgulhoso: um plot twist muito antes de "o Sexto sentido", e que deixou todo o público pasmo. Os traumas da guerra são recorrentes dos veteranos de guerra, principalmente do Vietnã. Jacob (Tim Robbins) é sobrevivente de um ataque no Vietnã, onde boa parte de seu pelotão morreu. Cinco anos depois, em 1975, Jacob mora em Nova York e trabalhda como carteiro. Ele mora em um pequeno apartamento com sua amante Lizzie (Eleisabeth Pena). Antes de ir pra guerra, Jacob perdeu seu filho (Culkin), morto em um acidente de bicicleta. Sua esposa pediu divórcio. Repleto de traumas, Jacob se alistou no Vietnã, sofrendo mais torturas psicológicas. Nos dias d ehoje, ele tem tido alucinações que não consegue explicar, até que é procurado por sobreviventes da guerra que dizem que eles foram usados como cobaias em um experimento com drogas sintéticas, que os faziam ficar mais violentos. Um filme excepcional, com Tim Robbins em total destaque no papel do amargurado e traumatizado Jacob. O título original tem duolo sentido, e a cena final é muito melancólica. Ótima fotografia, que dá o tom triste ao filme, e uma direção de arte que retrata a decadência de NY da época.

As almas que dançam no escuro

"As almas que dançam no escuro", de Marcos DeBrito (2021) "Prefiro queimar no inferno a perdoar quem matou minha filha". Essa frase sintetiza o filme de Marcis DeBrito, roteirista, cineasta e produtor de "As almas que dançam no ecsuro". Em seu filme anterior, "Condado macabro", DeBrito abraçou o slasher juvenil. Nesse novo filme, mesclando drama psicológico e sobrenatural, a referência óbvia vem de "Coração satânico", clássico de Alan Parker com Mickey Rourke e Ribert De Niro, esse encarnando Louis Cypher, o popular capiroto. Em ambos os filmes, temos o protagonista em uma busca, como em um filme de detetive. Temos também o capeta, aqui interpretado pelo ator fetiche de Marcos deBrito, Francisco Gaspar. E temos também..bom, não posso falar, que configura spoiler. Adaptado de seu próprio livro, "Palavras interrompidas", o longa foi rodado no município de Mongaguá, baixada santista. O protagonista é Carlos (Paulo Vespúcio), que ao se deprar com o corpo de sua filha Fernanda (Elisa Telles), é notificado pelo IML que foi suicídio. Mas Carlos acredita que ela foi morta e decide ir atrás do assassino. Realizado com baixíssimo orçamento, o longa tem a marca de seu diretor, que investe em atores pouco conhecidos da mídia, mas com muita vontade de fazer os projetos independentes acontecerem. O longa concorreu em diversos festivais de gênero, entre eles, o Cinefantasy de 2021.

5 casas

"5 casas", de Bruno Gularte Barreto (2022) Vencedor do Cine-Ceará do prêmio de melhor documentário e vencedor da mostra de longas-metragens gaúchos do 50o Festival de Cinema de Gramado, "5 casas" é um docuemntário sobre memória. O documentarista Bruno Gularte Barreto nasceu em Dom Pedrito, município do interior do Rio Grande do Sul, e décadas depois, retorna para a fazende de seu avô, onde morou com seus pais e seus irmãos por muitos anos. Seus pais morreram de câncer ( que uma moradora ratribui aos agrotóxicos) e desde então, a família decidiu se mudar de lá pra cidade grande. O motivo de Bruno retornar para a fazenda é porque o telhado do galpão aonde ficavam caixas e objetos que guardaram há anos voou com um temporal. AO abrir as caixas, é inevitável o resgate das memórias, desde fotos de criança e da família, a objetos que remetem a pessoas. Bruno decide entrevistar 5 pessoas que fizeram parte de sua memória: um velho fazendeiro que cuidava da fazenda ( e que morreu uma semana depois de dar a entrevista), uma freira expulsa da escola onde era a diretora, um jovem sofrendo preconceito por ser gay, e uma professora idosa lutando para manter a sua casa. O filme intercala depoimentos com imagens poéticas de natureza morta, pessoas posando e outros registros com olhar cinematográfico e artístico, justificado pela profissão de Bruno, artista visual, trazendo composições que na montagem, interagem com os depoimentos. Um bom filme, repleto de melancolia e uma narração do próprio Bruno em voz intimista.

No outro encontro você

"No outro encontro você", de André Bushatsky (2022) Co-escrito, produzido e dirigido por André Bushatsky, "No outro encontro você" tem o formato de produções rodados durante a pandemia: uma única locação, equipe reduzida e poucos atores confinados em um ambiente. No caso, uma bela casa de campo, local onde os irmãos Bia e Marcelo passaram toda a infância e adolescência junto de seus pais, e palco de muitas memórias. Já adultos e na faixa dos 30 anos, os irmãos decidem passar um último final de ano na casa. A mãe morreu, e o pai decidiu vendê-la. Bia (Carol Tilkian) e seu irmão, Marcelo (Bruno Autran) convidam o casal de amigos, Michele (Julia Ianina) e Rodrigo (Geraldo Rodrigues) para passar a data com eles. Bia é uma artista plástica em crise criativa e que não conseguiu se mostrar ao mercado como artista. Marcelo é um postulante a empreendedor, mas nenhum de seus projetos inspira confiança em ninguém. Rodrigo está cheio de dívidas e gasta o dinheiro em jogatinas, sem conhecimento da esposa nem dos amigos. E Michele vive um romance com um outro amigo do casal, que também os visita. O filme é uma lavação de roupa suja do início ao fim, sme espaço para otimismo ou humor. Tudo é repleto de pessimismo, um retrato muito melancólico sobre uma geração que não deu certo nem possui a mínima pista para saírem de seu lugar de conformismo, imobilidade e sensação de fracasso, tanto profissional, quanto pessoal. O grande mérito do filme é escalar um elenco de atores pouco conhecidos na mídia, mas de grande talento, atuando em registro naturalista, bastante espontâneos.

O dia começou ontem

"El diz comenzou ayer", de Julián Hernández (2022) O cineasta Julián Hernámdez é uma das maiores vozes do cinema LGBTQIAP+ no México. Seus filmes trazem bastante realismo e protagonista às voltas com descobertas sexuais em intensas e poéticas cenas de sexo. "O dia começou ontem" nos apresenta a Saul (Esteban Calcedo), um jovem gay que tem dificuldade e insgeurança durante uma relação sexual. Evitando penetração, ele busca outras formas de se satisfazer sexualmente. Quando ele conhece Orlando (Cristhian Díaz Cruz), um estudante de educação física desejado por outros gays da universidade, durante a realização de um exame de HIV, sua percepção sobre sexualidade e confiança mudma: Orlando é HIV, mas não quer ficar preso em rótulos e vive a sua vida intensamente. Os dois acabam se envolvendo e Sauyl tem a sua primeira e verdadeira experiência sexual com Orlando. Um lindo filme, tratando de forma delicada e snsível temas ainda tabus, buscando performances realistas e viscerais de seus protagonista,s que dão vida a uma bela e tesuda cena de sexo.

terça-feira, 30 de maio de 2023

Todo mundo vai para o hospital

"Everybody goes to the hospital", de Tiffany Kimmel (2022) Premiada animação realizada durante um ano com stop moption, "Todo mundo vai para o hospital" foi escrito e dirigido por Tiffany Kimmel. Baseada em história real, com referências da própria cineasta, que nascida em Oregon em família realigiosa, teve um olhar de mundo totalmente baseado no olhar de sua mãe. A personagem do filme é uma menininha que mora com seus pais e seu ursinho d epelúcia em uma casa isolada da cidade. Quando ela adoece de apendicite, ela é levada ao hospital. Seus pais agem friamente, e a menina é obrigada a fazer uma cirurgia, que dá errado. Com um atmosfera que lembra os contos macabros de Tim Burton, o filme oferece um mundo assustador pelo olhar de uma menina que não compreende a frieza do ambiente hospitalar, onde ela é obrigada a ficar afastada dos pais e a ser tratada por equupe médica que ela nunca viu na vida, portando assustadores instrumentos cirúrgicos. Uma fábula dark, um filme primoroso realizado com muio esmero técnico.

Meu álbum de amores

"Meu álbum de amores", de Rafael Gomes (2022) Drama musical romântico, "Meu álbum de amores' fecha a trilogia Corações Sentimentais do diretor Rafael Gomes, iniciada com o ótimo "45 Dias Sem Você" (2018) e seguida por "Música Para Morrer de Amor"(2019). Seus protagonistas são jovens que sofrem por amor, e passam todo o filme ressignificando o grande amor de suas vidas, uma grande dôr de cotovelo, embalada por novos romances e trilha sonora repleta de MPB. O elenco enorme que Gabriel Leone, Carla Salle, Clarisse Abujamra, Maria Luiza Mendonça, Laila Garin, Olivia Torres, Lorena Comparato, Bella Camero, Rafael de Bona, Bruna Guerin, entre outros. Gabriel Leone interpreta dois papéis: o jovem Julio, dentista de 25 anos, apaixonado pela namorada Alice (Carla Salle). com quem convive há cinco anos. Um dia, Alice decide dar um fim no relacionamento, sem motivo aparente, e viaja, deixando Julio desnorteado. Ele recebe a notícia de que é filho de Odilon Ricardo, um famoso cantor brega dos anos 70 (também Leone). A notícia é dada por Felipe (Felipe Frazão), um influencer que ele descobre ser seu meio irmão. Juntos, eles precisam entregar as cinzas para aquela que foi o grande amor de Odilon, e para isso, vão atrás das mulheres da vida dele, ao memso passo que Julio conhece novas mulheres e novas tentativas de romance passam a acontecer. Não é fácil amar nos filmes de Rafael Gomes. Como sofrem seus protagonistas. Mas o verdadeiro amor é uma visão romântica dos filmes de Gomes, e isso traz uma nostalgia de filmes onde o espectador torcia pelo amor do casal. A parte técnica do filme é muito boa, com fotografia, figurino e direção de arte contando história. Um filme simpático, com ótima atuação do elenco.

Do jeito que elas querem- O próximo capítulo

"Book club- The next chapter", de Bill Holderman (2023) Continuação do sucesso de 2018, 'Do jeito que elas querem", que trazia um grupo de 4 amigas na faixa dos 60 anos e de como elas lidavam de forma bem humorada com a idade, etarismo, sexualidade, amizade, amor e literatura. Elas decidem ler "Cinquenta tons de cinza" e de que forma a obra trazia elementos relevantes para elas, com muita picardia. Agora, as quatro amigas estão próximas dos 70 anos, e a personagem de Vivian já começa a narração em off perguntando a si mesma: 'Como uma mulher de 70 anos se prepara pra se casar?" O filme começa na pandemia, lockdown, e as 4 amigas estão cada uma presa em suas casas, e continuam s efalando pelo zoom. Até que a pandemia tem fim e as quatro decidem se ver novamente. Vivian vai se casar, Diane quer jogar as coinzas do falecido, Sharon não tem vontade para faezr muita coisa e Sharon decide por todas: Viajarem para a Itália, e Vivian se casar em toscana e Diane jogar as cinzas por lá. A aventura vai para Roma, Veneza, Toscana, tendo como base dessa vez o livro 'O alquimista", de Paulo Coelho. Um filme que tenha no elenco as 4 divas Jane Fonda, Diane Keaton, Mary Steenburgeen e Candice Bergen já merece sre visto pelo evento de reunir quatro mulheres que contribuíram para o audiovisual e na vida pública, em ativismos políticos. O figurino e maquiagem do filme capricha e as caracterizações são exuberantes e as deixam como se a cada cena, saíssem do salão. Do elenco masculino, temos os veteranos Craig T. Nelson , Giancarlo Giannini , Andy García e Don Johnson. As locações nem é preciso dizer, são um convite para uma próxima viagem. Um filme bobinho, sessão da tarde, que respeita o ritmo das atrizes e as deixa com muito glamour.

Peões

"Peões", de Eduardo Coutinho (2002) Excelente documentário lançado por Eduardo Coutinho em 2004, "Peões" venceu os pr6emios de melhor filme no Festival de Brasília 2004, e de melhor documentário no Grande prêmio do cinema brasileiro em 2005. O filme vem a reboque do primeiro mandato do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, ocorrido em 2002. Mas o grande tema do filme não é Lula, e sim, os metalúrgicos que participaram das greves históricas, ocorridas no Abc paulista em 1979 e 1980, ainda na ditadura militar. As greves eram proibidas pelo governo, mas líderes como Lula foram fundamentais para que os traalhadores das fábricas lutassem pelos seus direitos. O filme entrevista ex-metalúrgicos, sindicalistas e trabalhadores que não tiveram a mesma sorte que Lula e outros líderes que acabaram fazendo parte do governo. COmeçando no município de Varzea Alegre, ceará, em 2002, a câmera acompanha ex-metalúrgicos e trabalhadores que após a greve, decidiram retornar para as suas casas. A maioria desempregado ou vivendo com um salário miserável, apostaram todas as suas fichas na eleição de Lula, esperando que ele olhe agora para os pobres e para os ex-trabalhadores que foram fundamentais para as greves. O filme apresenta trechos de documentários históricos, como "O abc da greve", onde vemos Lula e outros sindicalistas, além dos trabalhadores, lutando nas ruas por condições melhores de emprego. No fundo, é um filme muito melancólico e comovente, mostrando um país que continua pobre e com regiões sem qualquer perspectiva de melhora na educação, saúde e aposentadoria.

segunda-feira, 29 de maio de 2023

12 homens e uma sentença

"12 angry men", de Sidney Lumet (1957) Obra-prima irretocável do cinema, "12 homens e uma sentença" é dos poucos filmes que deveria ser obrigado a ser revisto de tempos em tempos. É uma aula de cinema, de atuação, de decupagem e de narrativa. E é muito difícil fazer o público ficar atento a um filme de 1:45 horas e que acontece inteiramente em um único ambiente, a sala do juri, onde 12 jurados precisam decidir o veredito sobre um crime. Sidney Lumet teve a façanha de evitar de fazer um teatro filmado e construiu tudo em cima do elenco e da forma como contar o filme: através das lentes. À medida que o filme vai avançando e ficando mais tenso e em princípio sem solução, a lente vai se fechando, tornaod-se mais claustrofóbica. Tamanha criatividade rendeu 3 indicações ao Oscar: melhor filme, roteiro e direção, na magnífica estreía de Sidney Lumet no cinema, vindo de uma série de trabalhos para a tv. O Oscar, perdeu para "A ponte do Rio Kwai". O mais curioso para mim, no entanto, é a presença de Henry Fonda, que também produziu o filme. No ano anterior, em 1956, ele protagonizou "O homem errado", de Alfred Hitchcock, cujo protagonista era o inverso de seu personagem em "12 homens e um condenado": ele era um homem acusado de um crime e precisava ser inocentado. O traballho de todo o elenco é incrível, e cada um dos 12 personagens tem uma discreta característica própria. Mérito de Lumet, conhecido por ser um dos maiores diretores de atores do cinema americano.

domingo, 28 de maio de 2023

Transamazonia

"Transamazonia", de Débora Mcdowell, Renata Taylor e Bea Morbach (2020) No dia 27 de setembro de 1972 foi inaugurada a BR-230, mais conhecida como rodovia Transamazônica. O objetivo era conectar o Nordeste ao Norte do País, com 4.260 km, passando por sete Estados, no projeto mais ufanista do governo de Medici, durante a ditadura militar. O impacto foi desastroso para as florestas, fauna e populações indígenas. Houve um aumento da prostituição nos locais, o que motivou a obra prima "Iracema, uma transa amazônica", de Jorge Bodansky e Orlando Senna em 1974. Em 2017, as diretoras Débora Mcdowell, Renata Taylor e Bea Morbach percorreram vários municípios do Amazonas e Pará e entrevistaram integrantes da comunidade trans e travestis. O filme mostra a determinação e a luta da comunidade contra a transfobia, homofobia e a dificuldade em conseguir emprego e uma vida mais digna. Logo de cara, o filme faz um paralelo da construção da estrada da Transamzônia com o governo de Bolsonaro, mostrando como a onda conservadora foi desastrosa para a copmunidade trans, alvo de ataques. No município de Lábrea, somos apresnetados à Marcelly, 35 anos, desempregada. Depois em Marabá, Pará, conhecemos Melissa, estudante de direito de 21 anos e mãe. Todas vivem à beira da rodovia transamazônica, e os municípios foram criados a partir de sua construção. Uma das diretoras, a ativista trans Renata Taylor, é do Belém, fundadora do Grupo de Resistência de Trans e Travestis da Amazônia (Gretta). O filme traz imagens mostrando um Brasil do terceiro mundo, que ao som de techobrega, revela um mundo de desemprego e caos social e econômico. Mas o foco principal é para o preconceito contra a comunidade LGBTQIAP+. As entrevsitas são bastante dramáticas, mas também, bem humoradas, quando elas debatem entre si. E é incr;ível como o poder das novelas da Globo continua muito forte na região.

Terceira guerra mundial

"Jang-e jahani sevom", de Houman Seyyedi (2022) Os iranisnos são hábeis em fazer os protagonistas sofrerem, muitos filmes são um emaranhado de armadilhas que vão transformando a vida dos protagonistas em um beco sem saída. O público sofre junto dos personagens, em uma narrativa que beira o sadismo. Dos mais recentes, tivemos "Um herói", cujo protagonista se envolvia em dívidas cada vez maiores. Agora com "Terceira guerra mundial", a trajetória de Shakib (Mohsen Tanabandeh) será igualmente tortuosa. Sem teto, sua esposa e sua filha morreram em um terremoto recente. Shakib faz bicos para poder juntar uns trocados. Ele tem uma amante, uma jovem prostituta, Ladan, por quem ele nutre imenso carinho. Mas ela é agenciada por perigosos cafetões. Um dia, Shakib consegue um bico em um set de filmagem. Ele ajuda na cozinha. Quando o ator que interpreta Hitler é impossibilitado de estar no filme, o Diretor decide convocar Shakib para fazer o papel, mesmo sem experiência alguma em atuação. De coração bom, aos poucos, Shakib vai sendo manipulado pela equipe de filmagem e pelos gigloôs de Landa, que querem dinheiro dele. Indicado pelo Irã a uma vaga ao Oscar de filme estrabgeiro, "Terceira guerra mundial" é um filme diferente das narrativas documentais que vemos em outras cinematografias premiadas, se aproximando mais da narrativa clássica de Asghar Farhadi. O filme venceu em Veneza, na mostra paralela Horizon, os prêmios de melhor filme e ator, merecidamente. À medida que o filme vai se encaminhando ao seu desfecho, vai se tornando cada vez mais angustiante.

sábado, 27 de maio de 2023

Visões de Ramsés

"Goutte D'or", de Clément Cogitore (2022) Vencedor do prêmio de direção em Lisboa e Estoril, esse tenso drama francês, escrito e dirigido por Clément Cogitore e que concorreu no Festival de Veneza, lembra muito "Pixote", até porque o cineasta francês escalou meninos de rua de verdade para interpretar a gangue de pivetes do filme. A história é ambientada no bairro pobre da periferia Goutte D ór, um reduto de imigrantes argelinos, marroquinos, árabes, africanos, e que batalham por um espaço no bairro para brigarem pela clientela. Por conta da crise econômica e desemprego, muitas pessoas procuram os videntes, que obviamente são todos charlatões, para decsobrir o que impede eles de seguirem sua vida em paz. Entre os videntes, está Ramsés (Karim Leklou, ator argelino brilhante). Com seu pequeno grupo de trambiqueiros, eles ganham, dinheiro extorquindo as pessoas que pagam para poderem falar com seus mortos. Um dia, um menino de rua ameaça Ramsés em seu próprio prédio e rouba seu colar. Durante uma sessão espírita, Ramsés acaba tendo uma visão e descobre aonde está o corpo do menino que o assaltou, que acabou sendo morto. Esse evento irá mudar a sua vida para sempre. Filmado em quase uma única noite dentro da história, o filme é rodado com uma narrativa documenta. A primeira parte é mais lenta, mostrando o dia a dia de Ramsés com seus clientes e as intrigas com o imigrantes que reclamam que Ramsés lhes rouba clientes. A 2a parte é um filme de ação, com o envolvimento de Ramsés com uma gangue de pivetes marroquinos e a polícia.

Robôs

"Robots", de Casper Christensen e Anthony Hines (2023) Adaptação de um conto de ficção científica escrita em 1978 por Robert Sheckley em sua coletânea "The robot who looked like me", "Robôs" parte de uma premissa que já vimos muitas vezes, inclusive na série "Black mirror" no episódio "Be right back": robôs exatamente iguais aos seus donos e que os substituem em situações que eles não querem estar. É uma grande surpresa poder ver a atriz Shailene Woodley, de "A culpa é tas estrelas" e da série "Big little lies", ambas dramáticas, fazendo uma comédia maluca e no papel de uma perua compulsiva por grifes caras e para manter seu luxo dá golpes em homens que came por ela. Seu caminho se cruza com o do playboy mulherengo Charles (Jack Whitehall), filho de um poderoso magnata. Para poder curtir a vida, Charles mandou fabricar um robô de si mesmo, o que é proibido pelo governo. Os robôs Ai somente são pemritidos para executar serviços que eram realizados pelos latinos, que foram expulsos pelo governo conservador. Num de seus encontros, Charles envia o seu robô para paquerar Elaine (Woodley), que pede para ele comprar grifes para ela. Na noite que ela aceita transar, Charles pessoalmente vai. Mas um imprevisto o impede de ir e ele envia o robô. O que Charles nem o robô sabem, é que Elaine também tem um robô clandestino dela, que ela envia para o sexo. Por fim, os dois robôs adquirem sentimentos um pelo outro e decidem fugir, abandonado seus donos. Revoltados, e com medo de serem presos, Elaine e Charles vão atrás de seus robôs, que estão prestes a atravessar a fronteira para o México. O que mais lamento no filme, que parte de uma boa premissa, é a falta de timing e de explorar a spiadas para que se tornem de fato engraçadas. É nítido que muitas cenas poderiam ter sido mais engraçadas, e que os atores estão travados para se divertirem mais. Valeu por assistir Shailene em um papel fora da caixa, mas ainda assim, está devendo uma boa comédia.

Riceboy sleeps

"Riceboy sleeps", de Anthony Shim (2022) Vencedor de 28 prêmios internacionais, incluindo o Festival de Toronto, é impossível não se lembrar do premiado "Minari", filme americano escrito e dirigido por um descendente de sul coreano sobre a migração de seus pais aos Estados Unidos. Anthony Shim, descente de sul coreanos que migraram para o Canadá, traz referências de sua história para o roteiro que escreveu. Além escrever e dirigir, Anthony também interpreta um dos personagens do filme, Simon, gerente da fábrica aond evai trabalhar a protagonista, So Young (Choi Seung-yoon). Nascida na COréia do Sul na região rural em 1960, So Young foi adotada quando foi entregue a um orfanato. Ao crescer, ela se casou com um rapaz e tiveram um filho. Mas o marido era esquizofrênico e se matou na clínica. Triste, So Young decidiu migrar para o Canadá nos anos 90, junto de seu filho pequeno, Dong Hyun (Dohyun Noel Hwang). Na escola, ele sofre bullying por ser asiático e envergonhado, ele decide, ao crescer (Ethan Hwang), pintar os cabelos de loiro e usar lentes esverdeadas, além de só falar com sua mãe em inglês. Dong se torna um adoelscente rebelde e não gosta de sua cultura asiática, querendo se tornar ocidentalizado. Dong tem uma péssima relação com sua mãe, mas quando ela decsobre estar com câncer terminal, decide finalmente levar o filho até a Créia do Sul para ele conhecer as suas raízes. Um filme melodramático repleto de revezes dramáticos que vão tornando a protagonista So Young cada vez mais forte, diante de tanto sofrimento que a vida lhe impõe. O trabalho do elenco é fantástico, com muitas cenas emotivas e carregadas de sensibilidade. A direção de Anthony Shim é bastante estilizada, em muitas cenas ele filma em um único plano, com movimentos de câmera criativos.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Influencer

"Influencer", de Kurtis David Harder (2022) A geração Z provavelmente nunca ouviu falar no clássico de suspense "Mulher solteira procura", de 1992, com as estrelas da época Bridget Fonda e Jennifer Jason Leigh. Pois "Influencer" é descaradamente um remake do filme, escrito e dirigido por Kurtis David Harder, porém atalizado para as redes sociais, influencers e stories. Ambientado na Tailândia, o filme apresenta Madison (Emily Tennant), uma famosa influencer que vai até a Tailândia para produzir conteúdo para a sua rede social. Apesar de todas as postagens onde exala felicidade, Madison está triste: seu namorado, Ryan (Rory Saper) cancelou a viagem de véspera, deixando-a sozinha. Uma noite em um bar, Madison é assediada por um bêbado. Surge CW (Cassandra Nauda), uma jovem independente, que a salva. As duas acabam ficando amigas. Para surpresa de Madison, ao chegar em seu quarto de hotel, decsobre que seu passaporte foi roubado e precisa ficar 2 semanas até sair um novo. CW propõe que Madison fique em sua casa. Esse filme se tivesse um logline certamente seria "Ninguém é quem aparenta ser."O filme, com belas locações em ilhas paradisíacas, traz um filme que funciona pelo roteiro que busca fazer críticas aos influencers que vivem vidas fúteis. As atrizies estão ok, e foi uma aposta ousada da produção de investir em rostos menos conhecidos.

Tin & Tina

"Tin & Tina", de Rubin Stein (2023) Drama de suspense psicológico espanhol, escrito e dirigido por Rubin Stein, adaptado de seu curta homônimo que ele lançou em 2013. O filme lembra bastante os filmes de terror "A órfã", "Boa noite, mamãe" e talvez a refer6encia maior, "Os inocentes", com Debora Kerr, que inclusive faz homenagem nos créditos iniciais, com vozes infantis orando em cima das cartelas. Em 1981, pós Espanha franquista mais ainda bastante conservadora e católica, um jovem casal, Lola (Milena Smit) e Adolfo (Jaime Lorente) se casam. Mas no dia do casamento, Lola, que está grávida de gêmeos, sofre um aborto espontâneo. Como resultado, ela perde os filhos e não pode ser mãe novamente. O casal se muda para uma casa de campo, contra a vontade de Lola, que está deprimida. Adolfo, que deseja a felicidade da esposa, sugere que adotem crianças. O casal visita um convento e lá, Lola se apaixona pelos gêmeos Tin e Tina. Adolfo reluta, pois acha as crianças grandes, mas aceita. Extremamente religiosas e seguindo a Bíblia à risca, as duas crianças desejam que o casal siga os preceitos católicos. Lola não acredita em Deus por conta da sua tragédia. As crianças agem de forma estranha, e acidentes começam a contecer. Um filme mais pro drama do que para o terror, "Tin & Tina" tem um forte contexto religioso, e isso é o mais interessante no filme, que traz dois jovens atores com aparência angelical, mas que são dois verdadeiros diabos. Para quem amor "A órfã", vai curtir o filme, apesar de não ter viol6encia explícita.

Febre do Mediterrâneo

"Mediterranean fever", de Maha Haj (2022) Brilhante filme israelense vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes, dentro da Mostra Un certain regard. Escrito e dirigido pela cineasta israelense Maha Haj, o filme traz drama, humor ácido e suspense a uma trama sobre vizinhos, um tema já explorado tantas vezes no cinema, e dos mais recentes, o ótimo argentino "O homem ao lado". O filme se ambienta em Haifa, terceira maior cidade do país, depois de Jerusalém e Tel Aviv. Waleed (Amer Hlehel, ótimoi) é um escritor em crise. Sem trabalho, ele mora com sua esposa e seus dois filhos. A esposa de Waleed é quem banca a casa, além da ajuda financeira que Waleed recebe de seus pais, que cobram dele um emprego fixo. Os filhos não lhe dão muita atenção. A esposa de Waaled lhe pafa por dois anos uma psicóloga para ver se dá um jeito na depressão do marido. Mas a vida de Waaled dá uma reviravolta quando ele conhece o novo vizinho, Jalal (Ashraf Farah). Ele descobre que Jalal é envolvido com criminosos, e tem uma amante. Waleed decide se aproximar de Jala e lhe diz a verdade: quer acompanhar os passos dele para poder escrever seu novo romance, que tem um tema semelhante ao que Jalal está vivenciando. O filme tem um fino humor habilmente executado pelo elenco, e também percorre o suspense, principalmente no ato final. Um estudo maravilhoso sobre crise financeira, emocional e de relacionamento, "Febere do Mediterrâneo" mereceu totalmente o prêmio de roteiro, em uma trama criativa, original e com desfecho surpreendente.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Acho que você está em casa

"Kukira Kau Rumah", de Umay Shahab (2022) Impressionante como o roteirista e diretor indonésio Umay Shahab tenha somente 21 anos e faça um filme tão maduro, discutindo a relação entre pais e filhos através de relação de super proteção que se torna tóxica. O filme mistura drama, romance e musical, tendo muito espaço para humor, o que seria natural em um filme com jovens como protagonistas e o seu primeiro amor. mas o pano de fundo do filme é sobre bipolaridade, e aí o filme fica denso. Niskala (Prilly Latuconsina, em excelente performance) é uma jovem de 19 anos diagnosticada quando adolescente como bipolar. Por conta disso, seu pai, Dedi, a força a ficar em casa, temendo que ela sofra na escola e na rua. Os únicos amigos de Niskala são Oktavianus e Dinda, amigos desde a infância. Mas a mãe de Niskala, Mela, escondida do marido, matricula a filha na escola. Lá, ela conhece Pram (Jourdy Pranata), um jovem que de noite é cantor e músico em um bar. Logo os dois se apaixonam, e Niskala acaba indo cantar com Pram na casa noturna, provocando ciúmes nos amigos. Um delicado drama juvenil, tratado com bastante respeito tanto com os personagens quanto ao tema da bipolaridade. O filme só escorrega pro final, quando pesa no melodrama, mas ainda assim, é um bom filme vindo da Indonésia, e que curiosamente tem diversidade no elenco, com personagens negros em um país asiático.

A pequena sereia

"The little mermaid", de Rob Marshall (2023) Na história original de "A pequena sereia", escrita pelo dinamarquês Hans Christian Andersen em 1837, Ariel tinha um final infeliz: o principe se casava com sua Tia ursula disfarçada de mulher, e Ariel acabou se matando, se transformando em espuma. mas Disney é Disney e jamais seria fiel a esse final, e o desfecho todo mundo já conhece por conta da animação de 1989 da própria Disney. O filme foi um estrondoso sucesso de crítica e público, e venceu 2 Oscars: Melhor trilha sonora e Melhor Canção Original - " Under the Sea". Mas o que pouca gente sabe, é que a categoria de Oscar de longa de animação só surgiu em 2002. Até então, as poucas animações tinham que disputar a categoria com os filmes live action, como aconteceu com "A bela e a fera", em 1992. "A pequena sereia" certamente teria ganho animação se houvesse na época em que foi lançado. Eu tenho que confessar que as melhores versões de "A pequena sereia" para mim é a dos Estudios Ghibli, "Ponyo", e uma obscura versão tchace ade 1976, absolutamente criativa e vanguarda. O live action quando foi anunciado provocou grande discussão nas redes sociais pela escolha da protagonista negra Halle Bailey. Mantiveram os cabelos ruivos, mas muita gente protestou. Ao famoso elenco, foram adiiconados Javier Barden, que interpreta o rei dos mares, Mellisa Maccarthy, a vilã Ursula, Jonah Hauer-King como o príncipe Eric e o trio divertido de animais: o caranguejo Sebastião é Daveed Diggs, o linguado é Jacob Trembley e a gaivota Sabidão é Awkwafina. Não preciso nem dizer que os melhores personagens, disparado, são Ursula e Sabidão. Sebastião também diverte, mas ter um caranguejo realista fez perder muito de seu carisma. O filme é bom, funciona, mas o excesso de duração, quae 1 hora a mais que a animação, faz o filme perder o ritmo. Mas como a gente ama qualquer coisa que a Disney faça, no final das contas valeu a pena assistir.

Campeões

"Champions", de Bobby Farrely (2022) Só por uma piada apresentada no filme, fazendo jus ao meme que sempre compara Woody Harrelsson a Mathhew Macnaughney de que são irmãos, o filme já vale a pena ser visto. Uma personagem conversa com Marcus, personagem de Woody, e ele quesuiona a ela se ele é feio. Ela responde: "Você não é o Macnaughney." "Campeões" é o remaake americano do sucesso de público e crítica espanhol de 1017, "Campeones", baseado em comovente história real. A direção é de Bobby Farrelly, que desde "Green book", tem investido em filmes mais dramáticos e menos escrachados como "Quem vai ficar com Mary" e "Eu, eu mesmo e Irene". Marcus Marakovich (Harrelsson), um assistente técnico arrogante que trabalha em uma liga secundária de basquete cuja vida se desfaz quando ele discute com seu superior Phil (Ernie Hudson) durante um jogo. Na mesma noite, bêbado, bate em um carro de policial. Para evitar a prisão, Marcus aceita 90 dias de serviço comunitário treinando “adultos com deficiência intelectual”. são alunos em sua maioria portadores de síndrome de down, mas com talento para o jogo, precisando de apoio moral e alguém com paciência para treiná-los. Em princípio assustado, aos poucos a relação de Marcus com a garotada irá se transformar em uma experiência edificante e transformadora. Todo mundo já sabe como o filme irá terminar, mas tudo bem. O filme é lindo, emociona e tem um elenco sensacional, que inclui a ótima Kaitlin Olson, como Alex, irmã de um dos jogadores, Jonnhy. Madison Tevlin, como a jogadora Cosentin, é um carisma só, genial. É um filme que vale super ser visto, além de garantir boas risadas e lágrimas. A trilha sonora é recheada de músicas pops famosas.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Popuran

"Popran", de Shin'ichirô Ueda (2022) O cineasta japonês ficou conhecido nas rodas cinéfilas em 2017 ao lançar o genial terrir de zumbis "Plano-sequência dos mortos", onde apresenta um filme em uma única tomada de uma equipe de filmagem sendo atacada por zumbis. O seu estilo de humor que mistura trash e humor ácido retorna agora no bizarro "Popran". Uma fantasia sobre pênis que criam vida sozinho e se separam de seus donos. O filme se torna uma metáfora sobre masculinidade tóxica, assédio sexual, misoginia e o poder que um pênis propõe ao homem, como se fosse uma arma, tornado-o superior às mulheres, segundo a tese do filme. CEO de umaeditora de mangá de grande sucesso, o jovem e arrogante Tagami Tatsuya (Yoji Minagawa) tem tudo - respeito, riqueza, poder e as mulheres que ele quiser. Um dia, após ele passar a noite com uma joveem, ele acorda e descobre que seu pênis desapareceu de seu corpo, deixando apenas um pequeno buraco no lugar. Com medo de virar chacota, ele não comenta com ninguém sobre o ocorrido, mas estar sem o pÊnis o torna fragilizado. Ele descobre um grupo de auto-ajuda onde outros homens também estão sem o pênis, e fica ciente de um fato que o aterroriza: senão recuperar seu pênis em 6 dias, ele morrerá. Maluquice à toda prova, o filme parte de uma história que em outras mãos viraria um trash mega pastelão nível mil de "American pie". Mas o roteirista e diretor Shin'ichirô Ueda confere humanidade ao protagonista, que tem uma virada de personalidade na sua tragetória. Um filme com mensagem ao fim, mas até lá, o espectador precisa entrar na onda do filme.

De humani corporis fabrica

"De humani corporis fabrica", de Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor (2022) Documentário que explora o corpo humano de uma forma jamais vista, "de humani corporis fabrica", que poderia ser traduzido para "O tecido do corpo humano", pega o título empresado da publicação do médico belga André Vesálio, considerado o “pai da anatomia moderna”. Foi o autor da publicação De Humani Corporis Fabrica, um atlas de anatomia publicado em 1543. Pois a dupla de documentaristas Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor traz uma narrativa chocante, fria e arrepiante onde se utilizam das microcâmeras usadas por médicos em colonoscopia, cirurgia de próstata, de cérebro, de tumor de mama, de cesariana e mostra ao público a rotina de médicos e enfermeiros de 5 hospitais em Paris. Todos os críticos de cinema dizem que Cronemberg ficaria fascinado com o filme, por conta de suas imagens ao memso tempo grotescas, mas poéticas. Concorrendo na Quinzena dos realizadores em Cannes, o filme talvez choque mais pela frieza da equipe médica, que fala em assuntos triviais durante as cirurgias, do que pela cirurgia que mostra cortes e etc.

Ladrão de alcova

"Trouble in paradise", de Ernst Lubitsch (1932) Clássica comédia romântica americana, dirigida pelo famoso cineasta alemão Ernst Lubitsch, conhecido pelo seu toque sofisticado e cunhado em Hollywood de " Lubitsch touch". O filme foi sucesso de crítica e público, mas 2 anos depois, foi decretado o código Hays, que determinou censura aos filmes de Hollywood moralizou os costumes. 'Ladrão de alcova", que tem momentos de menção a atos sexuais ou sedução, acabou sendo engavetado. Lubitsch migrou para os Estados Unidos em 1922, convidado por Mary Pickford. Entre os seus filmes mais famosos, está "Ninotchka", com Greta Garbo, lançado em 1939 e cuja frase "E Greta Garbo ri", anunciada como marketing para o filme, deu muito certo. Em um hotel de luxo em Veneza, o ladrão parisiense Gaston Monescu (Herbert Marshall) se apaixona por uma condessa, Lily (Miriam Hopkins), que na verdade é uma ladra assim como Gaston. Os dois resolvem roubar a milionária empresária do ramo de perfumes Mariette Colet (Kay Francis). Gaston consegue emprego como secretário particular da vítima, enquanto Lily torna-se a datilógrafa da senhora. Quando são descobertos, Gaston tem de decidir-se entre o casamento com Mariette ou a fuga com Lily. Com momentos bastante divertidos, principalmente da dupla de ladrões que roubam a si próprios, o filme tem um ritmo ágil e uma direção de arte criativa que une cenários de estúdio, locações reais e maquetes. Os atores estão bastante confortáveis em seus papéis, e seria uma delícia ver esse texto montado para uma peça de teatro, que fale sobre vigaristas.

O amor mandou mensagem

"Love again", de Jim Strouse (2023) "O amor mandou mensagem" é uma homenagem aos filmes romÂnticos dos anos 90, aqueles protagonizados por Meg Ryan e que a gente amava assistir, sonhando com o final feliz dos protagonistas. Seguindo decsaradamente a cartilha do romance, o filme cativa o espectador pelo carinho com os personagens e por tratar a dôr do luto, da perda e do renascimento do amor de forma honesta e baseado nos princípios do amor verdadeiro. O mais curioso é que o filme é produzido e co-estrelado por Celine Dion, interpretando a si mesma. O filme se apropria da história real de Celine Dion, casada comn René Angélil por 28 anos e que acabou morrendo de câncer. Partindo do tema do luto, o filme nos apresenta a Mira (Priyanka Chopra Jonas), uma ilustradora de livros infantis, em luto pela morte do homem que amava, atropelado há dois anos e com quem planejava passar o resto de sua vida. Seguindo os conselhos de um garçon, ela envia mensagens para o celular do falecido, como uma forma de manter o espírito dele vivo. Acontece que o celular agora pertence a John (Sam Heughan), um jornalista de uma redação que está deprimido por ter rompido relacionamento com a namorada. Ao ler as mensagens que Mira envia, John fica encantado. Seu chefe quer que ele entreviste a cantora Celine Dion. John não curte as músicas dela nem entende o significado das letras românticas. Celina acana virando conselheira romântica de John. Ter Celine Dion não só como uma das protagonistas, e mais, como conselheira romântica e poder ter seus clássicos na trilha do filme, é um super luxo. O filme ainda traz participação de Nick Jonas como um marombeiro bobo. Mas o que importa no filme é esse romance vintage, gostoso de assistir e que fará o público se apaixonar.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Burning days

"Kurak Günler", de Emin Alper (2022) Vencedor de 29 prêmios internacionais, e concorrendo no Festival de Cannes em 2022, o drama turco "Burning days" de imediato lembra a trama de "Chinatown", obra-prima de Roman Polanski. "Burning days", assim como "Chinatown", mostram um "intruso" que chega ao local, e logo descobre que a água vira uma moeda de rando valor na região, e pior: a cidade toda é corrompida: moradores, políticos, donos de terra. O filme turco aind atraz outras camadas mais sinistras e tensas: fala sobre homofobia, misoginia, machismo, racismo. Emre (Selahattin Pasali, em brilhante atuação), um jovem promotor recém-nomeado para uma pequena cidade turca, se vê envolvido em um conflito político durante seu primeiro mandato. O promotor anterior desapareceu, sem pistas. Todos são suspeitos. O único que parece lhe dar alguma atenção e crédito é Murat (Ekin Koç), dono do único jornal da cidade. Entre os dois surge uma tensão sexual. Mas uma noite, ao aceitar ir à uma festa na casa do prefeito e de seu filho, Emre acaba ficando bêbado. No dia seguinte, ele desconbre que uma jovem cigana, presente na festa, foi estuprada por um desconhecido e para sua surpresa, ele é um dos suspeitos. Mas Emrre é enrustido e não tem coragem de se assumir como gay e dizer que não poderia ter estuprado a jovem. Com um roteiro soberbo, que vai criando uma atmosfera de tensão crescente, o filme traz performances excelentes de todo o elenco ( o filho do prefeito é assustador!!!)) e uma fotografia que por si só já mereceia um prêmio pelos planos simplesmente geniais.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Onde as borboletas voam

"Kam motýli nelétají", de Roman Nemec (2022) Vencedor de diversos prêmios em Festivais Lgbt, o drama tcheco "Onde as borboletas voam" é centrado em 2 personagens gays, mas que levam a sua homossexualidade de forma distinta. Filmado na bela capital Praga, o filme apresenta Daniel (Daniel Krejcík), um estudante rebelde. Assumidamente gay, ele vive brigando com seus pais, não tem amigos e se distancia de todos, acreditando que ninguém o entende. na sala de aula, ele não presta atenção no professor Adam Jirí Vojta, que dá aula de física. Adam por sua vez, é gay mas não assumido. Ninguém na escola sabe dele. em casa, ele mora com David (Jakub Krejca), que morre de ciúmes de Adam e seus alunos. Em uma viagem escolar, Daniel desaparece. Enquanto o procura, Adam cai em um buraco de uma mina abandonada e se deparando com Daniel, que também caiu ali. Juntos, eles exploram as cavernas, falam sobre a vida e lentamente se unem. Perdidos na escuridão, isolados do resto do mundo, ambos procuram uma saída. Os dias se passam, ninguém os procura. A fome aumenta e o desespero. Até que DAniel e Adam repensam sua forma de encarar a vida, e decidem se espelhar no outro e se reconstruírem. Um belo filme, com bons diálogos, prejudicado por excessiva duração ( o filme poderia ter meia hora a menos!!!). Mas o bom trabalkho dos atores segura o filme. os dois são bonitos: Adam mais maduro, e Daniel jovem. Um belo tratado sobre aceitação.

Amor, sexo e pandemia

"Milosc, seks & pandemia", de Patryk Vega (2022) Se algum dia alguém me perguntar um exemplo de filme onde a trilha sonora não combina em nada com o filme, vou citar "Amor, sexo e pandemia". Impressionante que desde a primeira até a última cena, atrilha traz um tom de suspense e thriller que não tem nada a ver com o filme, que é uma espécie de 'Sex and the city" polonês, com muito erotismo, humor, drama e personagens afoitos por muito sexo sem culpa. Aliás, a depender desse filme a Polônia parece o paraíso do sexo, tal a forma como o roteiro apresenta os personagens, todos fogosos ou dispostos a apreciar os prazeres da carne. Três amigas na faixa dos 40/50 anos, Kaja, Nora e Olga estão em um bar conversando sobre sexo. Ali, elas conhecem o jovem Jonhhy, um rapaz desempregado e sexualmente frígido e tímido, que vai trabalhar como stripper em uma casa de show, mas tem dificuldade de se expôr em público. Ele saiu de casa, uma família de Testemunhos de Jeová, e enta a sorte. Kaja é jornalista e escreve matérias polêmicas. Nora é fotógrafa de nú artístico. Olga é uma feminista casada e com filhos, mas ao conhecer o árabe Bartek, misto de escritor e motorista de Uber, acaba se encantando à misoginia e machismo do rapaz. Mas quando a pandemia de covid chega no mundo, todos eles precisam reaprender a lidar com a sexualidade e com a solidão de uma forma abrupta. O filme tem muitas cenas de sexo e nudez, bastante ousadas. As atrizes são bastante despudoradas, e os homens, sem qualquer questão com nudez total. O filme é longo, quase duas horas, e possui muitos personagens e sub-plots que acabam enfraquecendo as histórias. Mas quem quiser assistir a um drama que às vezes até pesa no tom, com cena de estupro e suicídio, mas repleto de saliência, o filme é uma boa pedida.

The consultant

"The consultant", de Ignacio Maiso (2022) Drama psicológico inglês, um típico produto realizado durante a pandemia: um único cenário, poucos atores, muita falação. "The consultant" nos apresenta a David (John-Christian Bateman), um psiquiatra qee atende em sua casa. David é introvertido e de pouca conversa. Porém, três de seus pacientes o farão se relembrar de seus medos internos, e o passado de David acavba vindo à tona. Kate (Katie Dalton), Mike (Gareth Lawrence) e John (Alex Reecbe) possuem histórias que remetem a casos acontecidos com David. O filme desde o início já deixa claro que há algo de errado com David e com os seus pacientes. Tudo é apresentado como se quisesse que o espectador decsonfisse que aquilo que estão vendo, está realmente acontecendo. e isso é uma pena, pois estraga o prazer do desfecho que tem a revelação sobre David. O espectador acaba intuindo sobre o que acontece e boa parte já acaba sendo desvendado antes da hora. O que o filme tem de bom é a fotografia, em tons frios, realçando a melancolia e a tensão da obra.

domingo, 21 de maio de 2023

Peridot

"Peridot", de Shayne Pax (2022) Drama LGBTQIAP+ independnete americano, "Peridot" é escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Shayne Pax, de 24 anos, em um complexo de "Quero ser Xavier Dolan". O filme usa e abusa da linguagem que Dolan utiliza em seus filmes: trilha sonora com canções românticas francesas dos anos 60, câmera lenta, relação "filho" e "mãe", mesmo que não biológicos e o próprio Shayne Pax procura se caracterizar como o famoso cineasta e ator canadense. O filme é ambientado em Skid Row, distrito de Los Angeles. nas ruas da cidade, garotos de programa se prostituem nas ruas para clientes de todos os gêneros. Gabriel (Shayne Pax) e Luke (Harry Hains) são amigos e praticam golpes nos clientes, roubando pertences. Gabriel junta dinheiro para enviar para sua mãe em Illinois. Uma noite, enquanto espera um ônibus, Gabriel conhece Martha (Susan Moore Harmon), uma mulher mais velha. Ela é uma escritora e v6e em Gabriel o filho que ela teve mas que morreu. Martha mantém um relacionamento sme sexo com Gabriel, e ambos procuram se conectar através da solidão na grande cidade, O filme é dedicado ao jovem ator Harry Hains, falecido aos 27 anos no ano de 2020, encontrado morto por uso de barbitúricos. "Peridot" de certa forma lembra 'Leo Grande", drama com Emma Thompson, mas lhe falta um ator mais experiente do que Shayne Pax. Ele é bonito e fotogênico, mas não o suficiente para sustentar uma parceria com a ótima atriz Susan Moore Harmon.

Marui video

"Marui video", de Yoon Joon-Hyeong (2023) ötimo terror sul coreano, com evidentes inspirações em "Atividade paranormal" e "O chamado". O filme é um found footage, e não espere nada de novo no gênero. O que surpreende é o seu roteiro criativo, que mistura xamanismo, possessão demoníaca e casa mal assombrada, temas que os japoneses amam e os sul coreanos estão importando. Uma equipe de reportagem desaparece em frente a um templo. O chefe da reportagem, Su Chan e seus dois repórteres estavam investigando um caso ocorrido em 1992: um funcionário de uma hospedaria levou sua namorada a um dos quartos e aparentemente, sem qualquer motivo, a matou a facadas. Preso, ele alegou inoc6encia e acabou se suicidando. Todo o assassinato foi gravado, mas a fita está desaparecida. A equipe vai em busca de pessoas envolvidas com o caso. O Advogado da época se matou, mas a sua mãe entrega à equipe um vídeo que o filho gravou do celular quando estava investigando o caso ( a fita não podia ser copiada). Uma repórter, Eun hee, se junta à equipe. Quando eles visitam o cenário do crime, descobrem que o dono do quarto tem antecedentes criminais. O sobrinho dele, um jovem da família Cho, matou a mãe e a irmã à facadas e depois se matou. Ao reverem a fita do crime de 1992, a equipe observa no espelho o refelxo do garoto que assassinou a família nos anos 80. O grupo procura uma xamã para exorcizar a casa de Cho e decsobrem fatos terríveis. O filme tem muitas reviravoltas na trama, mas o excesso de nomes de personagens que entram e saem da trama acabam confundindo bastante, principalmente no seu desfecho. Mas o filme tem uma tensão e uma atmosfera que fazem valer a pena assistir, e a curiosidade para o desfecho e tentar entender a história é um trunfo do roteiro, que soube segurar a atenção do espectador.

Sergio Leone- O italiano que inventou a América

"Sergio Leone - L'italiano che inventò l'America", de Francesco Zippel (2022) Você sabe a qualidade de um documnatário através dos depoentes que surgem falando sobre o tema proposto no filme. E aí o espectador se depara com relatos extremamente apaixonados de cineastas, atores, críticos de cinema e produtores que reverenciam Sergio Leone e assumem que trazem muito de seue stilo próprio de filmar para os seus projetos: Quentin Tarantino, Steven Spielberg, Martin Scorsese, Tsui Hark, Clint Eastwood, Robert de Niro, Frank Miller, Jacques Audiard, Giuseppe Tornatore, Darren Aronofsky, Jennifer Connely, Ennio Morricone, Dario Argento e Damien Chazelle. O filme é uma verdadeira aula de cinema, e obviamente, me vi em prantos em diversos momentos, principalmente quando surge ennio Morricone e revemos cenas icônicas dos filmes, impensáveis sem as trilhas. Aliás, a entrevista de Morricone ao cineasta Franceso Zippel foi a sua última em vida. O filme começa com um depoimento de Leone, que resume a sua história: "Nasci no cinema, leio cinema, vivo do cinema, vejo cinema. Para mim, o Cinema é vida e vice versa.". Filho de pais atores, seu pai, Vincenzo Leone, era também cineasta. Leone diz ter crescido em sets de filmagem, e claro, sua paixão veio daí. Leone sempre foi apaixonado pelo cinema americano, tão diferente do realizado na Europa. Spielberg se compara a Leone ao dizer que ambos colocam o filme pelo olhar da criança, do infantil. Tarantino diz que, assim como Leone, o gênero está em primeiro lugar. A parte dedicada a Clint eastwood é uma delícia: CLint não falava italiano, Leone não falava inglês, e ainda assim, fizeram 3 filmes, que alçaram Eastwood ao estrelato. O filme "Por um punhado de dólares" teve inspiração em 'Os sete samurais", de Kurosawa. Elli Wallach, ator de 'Três homens em conflito", dá um depoimento sensacional. Quando seu agente lhe disse que um diretor italiano queria convidá-lo para um filme, Wallach perguntou. "Que filmes ele faz?". O agente respondeu: "Western spaghetti.". Ao que wallach retrucou: "Que filme é esse? Parece pizza havaiana. Nunca ouvi falar." A parte onde os engenheiros de som e sonoplastas dão depoimentos é demais, falando da rivalidade com Morricone e do perfeccionismo de Leone em reproduzir os efeitos sonoros em estúdio. O produtor de cinema Arnon Milchen encontrou Leone em Cannes e o perguntou porque estava tanto tempo sem filmar, de 1971 a 1983. Leone, que havia recusado dirigir "O poderoso chefão", estava se guardando para o seu filme definitivo, que os produtores estavam se recusando a bancar. Era "Era uma vez na America", e Milchen decidiu bancar. O filme fez sucesos em Cannes, mas os chefões da Warner Bros obrigaram a reeditar o filme de 3:45 em 2:45, destruindo o projeto e certamente, favorecendo a morte precce de Leone, que morreu em 1989, aos 60 anos. O filme termina mostrando Clint Eastwood falando em italiano ao receber um Leão de ouro honorário em Veneza no ano de 2000. Quando perguntado o que falaria a Leone caso estivesse vivo, Eastwood diz: "Obrigado pelas memórias."

Love to love you Donna Summer

"Love to love you Donna Summer", de Brooklyn Sudano e Roger Ross Williams (2023) Documentário co-dirigido por Brooklyn Sudando, filha de Donna Summer e Roger Ross Williama, "Love to love you Donna Summer" concorreu nos prestigiados Festivais de Berlin e SXSW. O filme, obviamente, é um presente para os fãs de DOnna Summer, considerada a Rainha da Disco music e que ditou as regras do gênero nos anos 70 e 80. Summer revolicionou a música pop com sua voz sensual, provocando escândalos com letras de conteúdo sexual, ainda mais vindo de uma garota que cresceu dentro da Igreja Gospel. Nascida em Boston em 1948 e falecida em Nápoles em 2012, aos 63 anos, o legado de Donna Summer é eterno, influenciando ainda nos dias de hoje artistas e Djs, como por exemplo, Beyoncé, que trouxe os acordes de "I feel love" para sua música "Summer renaissence". O filme traz tudo sobre Summer, pelo olhar familiar: narrado pelas filhas, ficamos sabendo que Summer participou de uma versão de "Hair"em Nova York, e ao viajar para a Alemanha com o espetáculo, nos anos 70, se encantou pelo país e decidiu ficar por lá, trabalhando como modelo e cantora, aonde aprimorou sua voz de soprano. Ela acabou conhecendo o produtor alemão Girgio Moroder, que compôs "I love to love you", que explodiu no mundo em sua versão de 17 minutos, inaugurando a era das extended songs. Depois veio a antológica "I feel love" e tantas outras obras-primas das pistas. O Oscar veio com "Last dance". Summer se tornou a primeira artista negra a ter um clip exibido na Mtv, com 'She works hard for the money", que curiosamente, ela compôs ao ir a um banheiro durante um evento e conheceu uma senhora negra que limpava as latrinas. O filme aind afala dos amores de Donna Summer, sua relação com a Casablanca records, os abusos domésticos, drogas. Mas certamente a parte mais polêmica é a ira que a comunidade gay teve com Donna Summer: ela se tornou cristã e teria dito que a Aids seria uma vingança divina. Depois, Summer desmentiu, dizendo que foi um erro da publicação de uma revista. De qualquer forma, Donna Summer é certamente referência da música pop para a eternidade.

sábado, 20 de maio de 2023

Tom Hanks- o nômade

"Tom Hanks- The nomad", de Jake Hickman (2022) Para quem é fã do ator, diretor e produtor Tom Hanks, o documentário "Tom Hanks- o nômade", é imprescindível. Traçando toda a sua vida, desde o nascimento, passando pelo divórcio dos pais, a infância viajando com o pai e se mudando d ecasa umas 10 vezes, a entrada na escola de artes dramáticas, seu primeiro casamento, o encontro com Rita Wilson, que viria a ser sua segunda esposa, as peças de teatro, os filmes que o eternizaram, os filmes que produziu, seus 2 Oscars por "Filadélfia" e "Forrest Gump', as parcerias com Spielberg e Ron Howard...absolutamente nada fica de fora. É tão atual, que cobre o filme de Wes Anderson, "Asteroid city", que até o momento ainda nem estreou. Fala de "Elvis" e a contaminação por Covid 19 junto de sua esposa, o filme "Pinóquio". O único item que não entrou, e é óbvio que o filme não iria trazer, são as suas 2 indicações ao Framboesa de ouro em 2023 por 'Elvis". No mais, um filme didático sobre o "good boy" de Hollywood, posto que divide, segundo um jornalista, com Keanu reeves,

Lion rock

"Shi zi shan shang", de Nick Leung (2019) Dramatização da história real de Lai Chi Wai, até 2011 considerado o melhor alpinista da Ásia. Mas um acidente de moto no dia 9 de dezembro de 2011, acabou com o seu sonho de ser um esportista mundial: ele sofreu um acidente de moto que o deixou paralítico da cintura para baixo, se tornando um cadeirante. Nesse meio tempo, sua esposa, a corretora de imóveis Zoe (Michelle Wai), está grávida e precisa sustentar a família, com ajuda da mãe de Lai. Mas Lai não se deixa abater, apesar de tudo conspirar contra ele. ele decide que irá escalar a Lion Rock de Hong Kong, e para isso, ele contará com a ajuda de amigos que irão treeiná-lo e não o deixarão desistir nessa nova etapa de sua vida. O filme também traz uma trama paralela que é a adaptação de Lai Chi Wai à vida de cadeirante, fazendo uma crítica ao governo e às instituições que fazem pouco caso para pessoas com problemas de locomoção devido a desabilidade. É um filme típico de superação (5 anos depois, Lai realizaria o grande feito). O filme também dedica seu tempo a outros sub-plots: a de um pai endividado acusado de provocar o acidente, durante um tribunal, e de uma colega de alpinismo por quem Lai teve um flerte. Bons atores, um filme curioso que tenta trazer comédia à uma trama que não cabe tal gênero.

L'immensità - por amor

"L'immensità", de Emanuele Crialese (2022) Diretor trans, o roteirista e cineasta Emanuele Crialese concorreu em importantes Festivais com o seu "L'imensittá", protagonizado por Penelope Cruz: Veneza, Sundance e David di Donatello. Ambientado em Roma dos anos 70, o filme é livremente inspirado na vida do cineasta. O filme traça o paralelo entre duas mulheres de uma família de classe média alta: Clara (Penelope Cruz), uma dona de casa que se sente enclausurada em um casamento falido com seu marido Felice (Vincenzo Amato); e Adriana (Luana Giuliani), uma adolescente de 12 anos que se sente presaa um corpo que não lhe pertence, e quer que as pessoas a chamem de Andri. Clara é mãe de 3 filhos: além de Adriana, tem os pequenos Gino e Diana. Clara tem alterações de humor e junto de seus filhos, muitas vezes age com comportamento infantil, cantando, dançando e fazendo travessuras, o que faz o seu marido pensar em interná-la. Para Adriana/Andri, a única fuga possível é através da tv, se imaginando dentro dos musicais televisivos. Um mundo de escape que a faz conhecer nas redondezas do prédio onde moram, uma menina que mora com a familia em uma favela. Delicado e filmado com muita sensibilidade, 'L'aimemensitá" é um filme que deixa claro a função da arte: se tornar ume scape para os problemas pessoais e domésticos, não à toa, Emanuele criasele se tornou cineasta. Penelope Cruz está à vontade em um papel que ela já apresentou muitas vezes antes, a de dona de casa insatisfeita e presa a um mundo machista e violento. A grande revelação aqui é Luana Giuliani, em um papel bastante complexo e que ela dá conta com perfeição.

Verão fantasma

"Verão fantasma", de Matheus Marchetti (2022) Se tem algo que se deve elogiar nessa produção queern independente brasileira, bancada através de um coletivo de financiamento, é a sua ousadia. Méritos de um cineasta claramente cinéfilo, que traz muitas referências de filmes de terror,d esde os italianos Dario Argento e Mario Bava, até cults mais recentes, como "A corrente do mal" , "O grito" e tantos outros. No Brasil, a referência maior é "Sinfonia da necrópole", de Juliana Rojas, em uma mescla de terror, musical operístico e trash. "Verão fantasma" traz a corajosa mistura de história de fantasmas, saída do armário, coming of age, paixões avassaladoras e um delirante universo à la "O fantasma da ópera", protagonizado por um elenco de jovens atores. Filmado em Ubatuba, o filme apresenta Martin (Bruno Germano), 18 anos, um rapaz que fugiu de casa após discussão com seus pais possessivos e intolerantes e decidiu se refugiar na casa aonde passou a sua infância com sua prima Alice e seu amigo Daniel. Mas com os anos, os amigos se separaram: Martin e Alice foram para a cidade grande e deixaram Daniel sozinho, que acabou desaparecendo, e egundos alguns, morreu afogado. Ao chegar na casa abandonada, Martin conhece Lucas (João Felipe Saldanha", um morador da região. Ambos acabam tendo um relacionamento. Para surpresa de Martin, sua prima Alice, o namorado dela, Vitor (Matheus Paiva) e um casal de amigos. Na noite, entre bebedeiras, sexo e números musicais, todos acabam tendo visões com fantasmas. O filme tem momentos divertidos, como a ótima cena de Martin e Lucas cantando "A lenda", de Sandy e Jr no karaokê. Mas a duração excessiva, de quase 2 horas, acaba prejudicando o melhor aporveitamento da trama, que oscila entre tantos personagens que vão surgindo na trama e deixando-a às vezes confusa. Mas de grande mérito, certamente toda a trama de amor à primeira vista entre Martin e Lucas, com divertida cena da primeira noite de sexo e boa química entre os atores, e os números musicais, que podem incomodar um público que não curta números musicais, mas que me deixou delirando. A fotografia brinca com as cores do gênero "Giallio", e no final das contas, é um filme que merece aplausos pela criatividade.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

O mestre da fumaça

"O mestre da fumaça", de Andre Sigwalt e Augusto Soares (2022) Se você jamais imaginou que um dia, Bruce Lee faria um filme junto de Cheek e Chong, os reis da maconha, você está enganado: o filme existe e se chama "O mestre da fumaça", vencedor do prêmio de público na Mostra de são Paulo 2022 e do Rio Fantastik. O filme é uma celebração do cinema zoeira, feito pelo amor à sétima arte e claro, folmado como cinema independente e parcos recusrsos financeiros. E não se engane, não estamos falando de "O shaolin do sertão", filme do consagrado cineasta cearense Halder Gomes. Os roteiristas, produtores e cineastas paulistas Andre Sigwalt e Augusto Soares trazem o regionalismo paulistês, para contrapoir com o cearencês, e toda uma cultura pop por trás da maior metrópole do Brasil. Existe até uma piada com 'Cheek e Ching", com dois personagens chamados de Zhang e Zhuang, só para fazer a eterna piada de confundir os nomes. O filme não se leva a sério e na escalação do elenco asiático, que deveria ser chinês pela trama, existe uma mescla entre chineses e japoneses. No prólogo, que acontece em 1940 na China, um homem, (Ravel Andrade) é morto por uma rival, no que é chamado de "Vingança das 3 gerações". A maldição vdiz que três gerações de homens serão mortas quando atingirem 27 anos. Corta para o ano de 2022 em São Paulo. Os irmãos Gabriel (Daniel Rocha) e Daniel (Thiago Stecchini) são aprendizes de artes marciais, os terceiros da linhagem marcada pelo sangue. Eles são confrontados por descendentes das gangues rivais, uma vez que Gabriel acaba de fazer 26 anos. Para salvara. si e aos amigos, Gabriel precisa aprender a técnica d aluta de artes marciais da fumaça, que envolve fumar maconha e entrar em um transe. Assim, Gabriel segue sua peregrinação em busca do Mestre da fumaça, Yan Wu (Tony lee), para evitar que o grande vilão, Caine (Tristan Aronovich), mate a todos. Como o próprio personagem de Caine diz, ele é um pastiche de Lorenzo Lamas. O filme tem um elenco que abracou totalmente a proposta da trama. Daniel Rocha mostra que além de ótimo ator de drama, está à vontade na comédia. A estética reproduz os filmes de Bruce Lee, com os inevitáveis zooms.

Borboletas em Berlin- Diário de uma alma dividida em duas

"Butterflies in Berlin- Diary of a soul split in two", de Monica Manganelli (2019) Esplêndida animação LGBTQIAP+ co-produzida por Itália e Alemanha, traz uma corajosa e inusitada história da primeira mulher transgênero a fazer uma cirurgia de mudança de sexo em plena Alemanha nazista. Sofrendo homofobia na sua cidade no interior da Alemanha, Alex decide se mudar para a capital Berlin no ano de 1933. Em busca de um lugar no mundo e de sua identidade sexual, Alex conhece Rudolf, e ambos se apaixonam. Alex relata seu desejo de mudar de gênero, e acaba procurando o Instituto de ciência sexual, inaugurada em 1919 pelo médico judeu Magnus Hirschfield, considerado o "Einstein do sexo". Magnus criou o termo "Transsexual" e no seu Instituo ele faz estudos sobre identidade sexual. Alex faz a cirurgia de mudança de sexo, mas o local, após a cirurgia, é invadido pelos oficiais nazistas, Alex, agora Alessandra, não tem nenhuma identificação. O médico Magnus e Rudolf, por serem judeus, estão desaparecidos. Alessandra acaba indo trabalhar no Hospital judeu em Iranishe Strasse. Sua função é catalogar os pacientes entre deficientes físicos e mentais. Para sua surpresa, os incapacitados são enviados a campos de concentração. QUando recebe uma lista com homossexuais e v6e o nome de Rudolf, Alessandra se desespera e vai procurar ajuda na Mebaixada do Reino Unido em Berlin. Ela conhece Frank Folley, que despacha vistos para a Inglaterra. Ela envia listas de judeus para Frank e ele consegue enviar 10.000 para fora. Infelizmente não foi possível salvar Rudolf. Alessandra acaba sendo presa. Nos dias atuais, o diário de Alessandra é enviado ao Museu do Holocausto nos Eua, e por estar sem um desfecho, a museóloga viaja a BErlin para saber o paradeiro dela. Com uma trilha sonora repleta de música clássica, o filme é elegante e com traços de arte neo-deco, misturando experimentações, atores, colagens e fotos. Um brilhante trabalho de animação, trazendo uma comovente e heróica história que certamente deveria ser transformada em filme com atores.

A linha

"La ligne", de Ursula Meier (2022) Concorrendo no Festival de Berlin e vencedor dos prêmios de atriz (Stéphanie Blanchoud) e atriz coadjuvante (Elli Spagnolo) no Festival da Suiça, "Uma linha" é um drama bastante intenso sobre o relacionamento de 4 mulheres da mesma família, mãe e suas 3 filhas, moradoras da cidade de Port Valais, na Suíça. Christina (Valeria Bruni Tedeschi) é uma famosa pianista de música clássica. professora de piano e canto. Mãe de 3 filhas, a menor Marion (Spagnolo), e as adultas Margaret (Stephanie Blanchoud, também co-roteirista) e a grávida Louise (India Hair), cada uma com temperamentos totalmente diferentes uma da outra. Christina mantém uma relação tóxica, passiva agressiva com suas filhas, mostrando-se bipolar ao variar seu humor. Ao discutir com Margaret, que defende a irmã Marion da humilhação sofrida pela mãe fazer pouco caso do vestido que ela usava, ela acaba sendo punida: por 3 meses, precisa ficar 100 metros afastada da casa e de sua mãe, pela agressão física. A partir daí, Margareth tenta se reaproximar da família, mas todos a impedem. Christina, por causa da agressão, perde metade da audição, não podendo mais dar aulas nem se apresnetar em concertos. O filme é muito denso, e o fato de ser totalmente gritado por pelo menos metade do filme, me icnomodou bastante. Mas não posso deixar de citar o trabalho maravilhoso das 4 atrizes, mesmo que a direção tenha investido nos gritos. É um filme feminino, sobre relacionamentos tóxicos, e certamente muita gente irá se identificar.