domingo, 31 de janeiro de 2021

Os errantes


 "Los errantes", de Irene Franco (2019)

Drama independente argentino, filme de estréia da roteirista e cineasta Irene Franco, "Os errantes" é um confuso e hermético drama sobre trabalhadores de uma plantação de erva mate que se envolvem com contrabandistas.

Pedro e Simón se conhecem e chegam em um vilarejo para trabalhar em uma plantação de erva mate. Ao entrarem na floresta, se envolvem em uma negociação com contrabandistas que dá errado, e precisam fugir pela floresta para não serem mortos.
Com um ritmo bastante lento, o filme confunde o espectador, pois a narrativa é toda realista e o final em aberto parece querer dizer que a plantação tem algum elemento fantástico. Não achei nada sobre o filme para entender se é uma metáfora com algum contexto político. Não curti, achei bem chato.

Palmer

"Palmer", de Fisher Stevens (2021)
Para quem quer chorar, esse drama comovente é a pedida certa. Ambientado em New Orleans, o filme, dirigido pelo ator Fisher Stevens, é protagonizado por Justin Timberlake, que entrega uma performance carismática e firme. Mas quem rouba o filme é Ryder Allen, no papel de Sam, um menino gay de 10 anos de idade e que sonha em ser uma princesa.
Palmer (Timberlake) sai da prisão após 12 anos, por roubo. Ex-estrela de beisebol na Universidade, Palmer agora precisa recomeçar sua vida do zero, mas o mundo lhe dá as costas. Sua avó, Vivian (June Squibb) é o único elo que Palmer possui, e mora com ela. Vivian cuida de um menino, Sam, filho da vizinha Shelly (Juno Temple), mãe solteira e viciada em drogas. Quando Shelly desaparece, Sam fica na casa de Vivian e Palmer estranha o comportamento afetado do menino. Palmer vai trabalhar como zelador na escola onde Sam estuda e testemunha o bullying que o menino sofre, e se reconhece no isolamento.
Com ótimos atores no elenco de apoio, "Palmer" é um dramalhão feito para chorar, e o filme não esconde essas intenções. Ator mirim fofo, tema polêmico, trilha emotiva, tudo caminhando para provocar lágrimas do espectador, e consegue. O filme tem um tema complexo, que é a homossexualidade infantil, mas o filme trata com bastante respeito a questão da aceitação.

Matar um morto


"Matar a un muerto", de Hugo Giménez (2019)
Drama paraguaio escrito e dirigido por Hugo Giménez, concorreu no Festival de Gramado 2020. O filme é ambientado durante a ditadura paraguaia no ano de 1978, ano da Copa do mundo na vizinha Argentina. em uma ilha, dois homens, Pastor (Ever Enciso) e Dionisio (Aníbal Ortiz), de origem indígena, são encarregados de receber corpos que cegam de barco. Eles não questionam de onde vêm os corpos, apenas os enterram. Passivos em relação à tudo, a preocupação é a Copa e viver o dia a dia. Um dia, eles recebem um corpo, mas se assustam ao perceber que o homem está vivo e que eles precisam matá-lo para depois enterrá-lo. Ambos nunca mataram ninguém e agora vivem um dilema.
Com um tema bastante provocador, o filme apresenta ótima performance dos 3 atores. Os dois primeiros falam em língua guarani quando estão juntos. O filme levanta o questionamento sobre a passividade e falta de envolvimento político de cidadãos alheios ao que acontece durante o regime militar. De ritmo bastante lento, o filme pode não agradar quem não tiver uma preferência ao cinema mais autoral.

Bloody hell


"Bloody hell", de Alister Grierson (2020)
Considerado pela crítica mundial um filme que já nasceu cult, no mesmo nível de "Evil dead", "Bloody hell" é um terror com humor negro australiano que mistura ex-combatentes de guerra, uma família canibal na Finlândia e um monstro em forma de ogro Shreck, sem esquecer da história de amor como pano de fundo.
Rex (Ben O'Toole, excelente) é um ex-combatente de guerra que mora em Idaho. Ele vai para um banco e se depara com um assalto. Procurando salvar os reféns, Rex vai matando um a um os assaltantes, até que provoca um acidente que mata uma refém. Tudo foi televiosnado por câmeras de segurança. Rex fica preso por 8 anos, mas ao sair, se torna uma grande celebridade no país. Cansado com a fama involuntária. Rex decide seguir até a Finlândia e se tornar um anônimo. Só que, ao chegar la, ele é feito prisioneiro por uma família de canibais, que devoram uma de suas pernas. Tentando fugir, Rex conta com a ajuda da filha da família, Alia, que ainda não possui o dom do canibalismo.
Mesclando terror gore com um humor absolutamente caústico e insano, o filme não mede esforços e atira para todos os lados, chegando a seguir um caminho de surrealismo e bizarrice. Isso torna o filme uma produção diferenciada. Pode ser que agrade ou não, mas é inegável a coragem do roteirista e do diretor, além dos atores, de investirem em um filme tão sem noção, porra louca, mas sempre divertido.

sábado, 30 de janeiro de 2021

Abaixo de zero


"Bajocero", de Lluís Quílez (2020)
Ótimo filme de ação e suspense espanhol, protagonizado pelo excelente Javier Gutiérrez, no papel do policial Martin, que é encarregado de fazer um transporte de 6 perigosos bandidos de um presídio à outro durante a noite em uma estrada gelada com temperatura externa abaixo de zero. No caminho, uma emboscada faz a van capotar e todos os presos são um à um, eliminados por um homem misterioso.
A história é mero pretexto para incríveis cenas de ação, com muitos efeitos e filmado tudo em externa, no frio. O elenco é todo masculino, e faz repensar aqueles filmes truculentos de ação dos anos 80, só que aqui, acrescentado de violência extrema.

Um segredo em aberto- a pedofilia em Hollywood


"An open secret", de Amy Berg (2014)
Polêmico documentário que traz um tema revoltante que acontece na indústria do audiovisual: o abuso sexual de produtores, agentes, diretores e outros manda chuvas de Hollywood contra astros infanto-juvenis. A 1a parte do filme apresente o fascínio que o estrelato traz para crianças e adolescentes, que pedem aos seus pais para os inscreverem em cursos de interpretação ou para fazer fotos para capas de revistas ou eventos. Depois, produtores de elenco e agentes falam sobre como é feito o approach de pais de crianças e adolescentes e de que forma devem se inscrever para tentar alguma participação em algum projeto. Os jovens aprendizes falam sobre o desejo de quererem ser o próximo Jonny Depp, Leonardo di Caprio, Tobey Maguire, etc.
Aí começa a parte aterrorizante: os mesmos produtores e agentes são os que foram acusados de serem predadores sexuais contra essas crianças. Entre astros famosos como Corey Feldman e Corey Haim ( que morreu aos 38 anos de overdose) , passando por atores menos conhecidos como Toddy Bridges, Mark R, Evan H, James G, Mike E, Joey C, Chris T e tantos outros que não expõem seus sobrenomes, o filme stra depoimentos de pais, juízes e até dos predadores, que procuram se defender.
Dois momentos são os mais devastadores: uma mãe fala sobre quando descobriu que os "Headshots" que um famoso fotógrafo fazia de seus filhos, estavam à venda em sites pedófilos. E isso explica o porquê dele fazer fotos dos menores sem camisas e em poses sensuais.
Outro momento é quando ouvimos o áudio de um dos predadores investindo sexualmente em um dos menores.
Em determinado ponto é citado o nome do cineasta Bryan Singer, que foi acusado de ser predador sexual por um menor recentemente. Nas cartelas finais, o filme fala sobre o que aconteceu com a carreira dos astros mirins: a maioria desistiu da profissão, alguns ficaram dependentes químicos. Os predadores continuam atuando em suas áreas. O filme é um alerta para que os pais façam pesquisas extensas nas agências onde forem cadastrar os seus filhos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Beginning


"Beginning", de Dea Kulumbegashvili (2020)
Drama com elementos de realismo fantástico co-escrito e dirigido pela cineasta Dea Kulumbegashvili ( o ator Rati Onell, que interpreta o detetive, também co-escreveu).
O filme foi indicado pela Geórgia à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2021. Vencedor de diversos prêmios internacionais, o filme fez furor em San Sebastien, de onde saiu com 4 prêmios principais: melhor filme, atriz, roteiro e direção.
Em uma cidade pequena na área rural da Geórga, Yana (Ia Sukhitashvili) é uma ex-atriz agora casada com um Pastor da Igreja das Testemunhas de Jeová. Quando a igreja sofre um atentado, Yaha se abre a um pensamento sobre o caminho que a sua vida levou, vivendo em uma sociedade patriarcal e onde ela tempo todo sofre humilhação tanto do marido quanto de outros homens.
O filme tem referências explícitas a "Jeanne Delmann", de Chantal Akerman, sobre uma mulher que não encontra motivação na rotina de seu dia a dia, e ao filme "Luz silenciosa", de Carlos Reygadas, que também é produtor executivo do filme. Ambos os filmes falam sobre o fanatismo religioso e sobre relacionamento abusivo.
Achei o filme longo, com um ritmo mega arrastado. Não curti muito, e li que muitos o consideram uma obra-prima. O desfecho não entendi, possui uma cara simbólica que me escapou.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Chacrinha- Eu vim para confundir, não para explicar


"Chacrinha- Eu vim para confundir, não para explicar", de Claudio Manoel e Micael Langer (2020)
Excelente documentário que resgata a memória de um dos maiores apresentadores e showman da tv brasileira, Abelardo Barbosa, o Chacrinha. O filme traz a história de Abelardo desde sua vinda de Surubim, Pernambuco, até o Rio de Janeiro, nos anos 40, e vai até a sua morte e cortejo que parou o Rio de Janeiro, em 1988, na câmara dos vereadores, na Cinelândia, Rio de Janeiro.
Com ótimas e divertidas cenas de arquivo do próprio Abelardo e cenas de seus programas que percorreram várias Emissoras, como Excelsior, Globo, Tupi, Bandeirantes e Record, "O programa do Chacrinha, a Discoteca do Chacrinha e por fim, O Cassino do Chacrinha era um programa onde imperava a anarquia e a improvisação, e isso durante a ditadura militar. Com tiradas eróticas, marchinhas com letras de duplo sentido e as famosas jogadas de bacalhau na platéia, além do troféu abacaxi, os programas ficaram famosos também pela presença das objetificadas Chacretes, guardadas à mão de ferro por Chacrinha nos quartos dos hotéis, e pelo famoso corpo de jurados, onde se destacava Elke Maravilha.
O filme traz depoimentos primorosos de Pedro Bial, os filhos de Abelardo, da viúva e de cantores como Silvinho Blau Blau, Evandro Mesquita, Wanderléa, Boni e Tony Belotto, contando histórias de bastidores que por si só já valiam um filme: pessoas que forneciam cocaína nos camarins, a famosa apresentação de uma mãe de santo, um suicida. E claro, os calouros, que sme eles, não haveria programa.
Um filme importante que narra um período da comunicação de massa no Brasil e a importância de uma figura como Chacrinha, que certamente, não teria sobrevivido aos tempos atuais do politicamente correto e do conservadorismo.

O senhor dos anéis


"The lord of the rings", de Ralph Bakshi (1978)
O Cineasta e animador Ralph Bakshi é bastante cultuado. Desde a série do "Homem aranha" nos anos 60, passando pelo clássico "Frtiz, o gato", e o épico musical "American pop", Ralph Bakshi traz traços de animação para um contexto mais adulto, sombrio e reflexivo, longe do universo infantil.
Lançado em 1978 e bastante aguardado pelos fãs de J.R.R. Tolkien, a animação teve péssima recepção da crítica e público, apesar de ter sido um grande sucesso de bilheteria. Com 133 minutos de duração, o filme engloba apenas os dois primeiros livros, 'A sociedade do anel" e "As duas torres". De fato, o final fica inconcluso e histórias e personagens em aberto. Ralph Bakshi chegou a lançar uma animação para a tv com a última parte da trilogia, "O retorno do Rei".
O que mais irritou as pessoas na época foi o fato de Bakshi ter suprimido muitos personagens e histórias paralelas para poder caber mais de mil páginas em pouco mais de duas horas, O filme, para economizar custos, trouxe uma técnica revolucionária: a rotoscopia. As cenas de batalha foram filmadas com atores reais e depois, frame a frame, animados. Hoje em dia, o filme é considerado por muitas pessoas como cult. Eu pessoalmente gosto bastante, mas não sou um fã inveterado. Sei de pessoas fanáticas que odeiam o desenho.
Para quem quer matar saudades da trilogia de Peter Jackson e até mesmo da trilogia dos "Hobbits", vale assistir e rever as aventuras de Frodo, Sam e Gandalf.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Demônios: Teatro da Pombagira


"Demônios, de Marcelo D’Avilla e Marcelo Denny (2018)
Encenação audiovisual do polêmico espetáculo teatral "Teatro da Pombagira: demônios", mesmo grupo teatral que trouxe "A anatomia do Fauno". No espetáculo, o grupo teatral formada somente por homens ficam nús praticamente o espetáculo inteiro, com direito à cenas de masturbação explícito, urina e outros fetiches e taras. A peça é composta por performance, teatro e musical. Divido em 3 atos coloridos, começando pelo vermelho, que simboliza a sociedade de consumo, e pegação e as taras sexuais; o ato preto, que simboliza a melancolia e a depressão entre integrantes da comunidade Queer; e o ato branco, que simboliza a sociedade fascista , que recrimina o LGBTQIA+ e tenta coloca'-lo em uma redoma, afastado da sociedade.
Extremente ousado e visceral, o espetáculo é muito provocativo e repleto de cenas explícitas.

A torre


"A torre", de Sérgio Borges (2019)
Adaptação do conto 'Coiote", de Roberto Freire, "A torre" é um drama experimental, erótico e hedonista dirigida por Sérgio Borges. O filme concorreu em diversos Festivais brasileiros, entre eles, Tiradentes, sempre em busca de novas linguagens.
André (Enrique Diaz) se isola em uma cabana a beira de uma floresta, após separação de sua esposa ( Maeve Jenkings), que foi embora com a filha do casal. Deprimido e de luto, André percorre a floresta de dia e de noite. Quando um raio atinge sua cabeça, memórias do passado e alucinações surgem, entre elas, a de um jovem (Caio Horowicz) totalmente nú, e logo depois, o que parece ser uma comunidade hippie naturista, onde o amor livre é a palavra do dia.
Para quem aprecia nudez masculina , o filme é um prato cheio: Enrique Diaz e Caio Horowicz se apresentam totalmente nús, sem pudores, em total imersão com a natureza. Caminhadas na floresta, banho de rio e cachoeira e a cena mais homoerótica do filme: Caio totalmente nú, em cima de um cavalo, acariciando o animal e depois, cavalgando. O filme é bastante hermético e não faz questão de explicar nada, mas para quem busca imagens de homoerotismo explícito e muito amor livre, o filme é prato cheio.

Seu coração em meu cérebro


"Your heart in my brain, de Rosa Von Praunheim (2005)
O cineasta alemão Rosa Von Praunheim é o mais cultuado e celebrado cineasta e ativista gay do país, produzindo dezenas de filmes e documentários sobre a cena LGBTQIA+ na Alemanha. Com "Meu coração em meu cérebro", de 2005, Praunheim reconstitui livremente o bárbaro crime ocorrido em 2002, quando dois homens se conheceram pela internet e fizeram um pacto de canibalismo.
O filme possui somente dois atores, que interpretam todos os papéis, incluindo os femininos. Peter (Martin Molitor) e Achim
(Martin Ontrop) são desempregados, solitários e sem amigos. Peter é casado, mas o casamento está decadente e sem comunicação. Durante um bate papo na deep web, os dois se conhecem em uma página de canibalismo. No primeiro encontro, as coisas não dão muito certo. No novo encontro, Peter vai à fundo e mata Achim, que se permite ser devorado.
Essa história j;a foi encenada até em teatro, aqui no Brasil por Gilberto Gawronski. No entanto, Praunheim faz um filme muito aquém do que poderia ter rendido. Uma versão de 2006, chamada "Grimm love", é bastante superior. A aposta de Praunheim em fazer um filme tecnicamente tosco, com atores medianos e essa narrativa onde os dois atores interpretam todos os papéis, perde a intensidade da crueza dos atos. Os efeitos também são fracos.

Filho do boi


"Filho de boi", de Haroldo Borges (2019)
Primeiro longa-metragem dirigido pelo fotógrafo Haroldo Borges, "Filho do boi"é um drama intimista, com performances naturalistas e elenco preparado por Fátima Toledo. Com uma fotografia delumbrante que se apropria da luz natural, "Filho do boi" tem como tema o já conhecido mote de um morador de uma cidade que se vê como um ser estranho, e que encontra na chegada do circo a sua chance de ir embora do lugar.
João (João Pedro Dias, excelente) é um menino de 13 anos que mora com seu pai, um fazendeiro rural de pequenas posses. A mãe de João foi embora, após se desentender com seu pai, e na cidade ela é chamada de puta e o pai, de corno e doido. João não te amigos. Um dia, chega um circo e eles estão à procura de um novo palhaço. João vai fazer testes e passa, mas seu pai o proíbe de frequentar o circo.
Além de João Pedro Dias, o filme conta com os ótimos trabalhos de Luiz Carlos Vasconcelos, no papel do pai, e de Vinicius Bustani, no papel do palhaço Salcicha. Curioso é que Luiz, na vida real, é o palhaço Chupeta, e aqui, ele interpreta um homem amargurado que odeia circo.
Boa direção de Haroldo, apostando em um olhar documental para o filme, em tons totalmente naturalistas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Alelí

 

"Aleli", de Leticia Jorge (2019)
Indicada pelo Uruguai a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2021, "Alelí" é uma comédia dramática familiar na mesma linha de "A partilha", de Miguel Falabella.
O patriarca de uma família de classe média morre. A viúva, Alba, e os 3 filhos Ernesto, Livia e Silvana se reencontram na leitura do testamento. O reencontro dos três irmãos junto à mãe fará reacender rusgas do passado. Nenhum dos 3 irmãos se dá com o outro. A casa de praia será vendida e a família decide passar um final de semana nela para poder reformar o local. A casa foi apelidada de "ALELÍ": AL de Alba e Alberto. E de Ernesto e LÍ de Lívia. Silvana nasceu depois e acabou ficando sem a homenagem.
A cineasta e roteirista Leticia Jorge, que estreou com a comedia dramática "Tanta água", traz de volta o excelente ator Nestor Guzzini, que interpreta Ernesto. As atrizes que interpretam a mãe e as irmãs também são ótimas, Impossível não pensar em "A partilha": as rusgas são as mesmas a dificuldade de se relacionarem, se se enxergarem em seus fracassos amorosos e profissionais. Um filme que diverte, mas também traz imensa melancolia de uma geração que nadou, nadou e se afogou na praia.

Terra das cinzas

""Ceniza negra, de Sofía Quirós (2019)
Indicado pela costa Rica a uma vaga ao OScar de filme estrangeiro em 2021, "Terra das cinzas"já fez enorme sucesso em Festivais internacionais, incluindo Cannes, de onde participou da Semana da crítica.
O filme tem como protagonista Selva (Smashleen Gutiérre), uma menina de 13 anos, que mora em um casebre no meio da floresta com seu avô, Tata, e a amante dele, Elena. Selva e Elena vivem às turras, discutindo, se xingando, mas no final sempre riem. Um dia, Elena desaparece. Tata decide então que não quer mais viver. Selva se vê perdida no mundo, mas na escola, ela ensina as outras meninas a beijar na mão e fica paquerando um garoto.
O filme lembra um pouco a narrativa do tailandês Apitchapong, que mistura elementos realistas com fantásticos. Em algumas cenas na floresta, Selva se encontra com uma mulher misteriosa, que vem a ser o espírito de sua mãe. O filme tem um ritmo bastante arrastado. É bonito, a jovem atriz é excelente, mas é um filme que custa a seduzir o espectador. Vale pela curiosidade de se conhecer o cinema pouco visto da Costa Rica.Smashleen Gutiérrez

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Rodantes


"Rodantes", de Leandro Lara (2019)
Longa de estréia do cineasta mineiro Leandro Lara (Leandro HBL), que começou a carreira como fotógrafo. Rodado em Rondônia, uma região pouco explorada na filmografia brasileira, "Rodantes" apresenta 3 personagens errantes, que acama se cruzando no final: Tatiane (Carol Abras), uma mulher que tem um trauma do passado e que se tornou prostituta; Odair (Jonathan Well) e Henry (Félix Smith). Odair é um jovem ingênuo que é explorado sexualmente pela dona de um bar e por um caminhoneiro (Murilo Grossi). Henry é um imigrante haitiano cuja esposa é morta durante uma retomada de posse de terras e foge com seus dois filhos.
Mesclando drama realista e cenas de realismo fantástico, o filme retrata um Brasil distante, um lugar aonde não se sonha, onde as pessoas sofrem pelo calor, pela pobreza, pelos infortúnios da vida. O roteiro do diretor Leandro Lara trabalha com um certo experimentalismo, um olhar estilizado sobre essas três pessoas que se encontram em um fundo do poço emocional. Os atores estão bem, mas é Carol Abras, excelente atriz paulista, que o filme reserva maior parte do tempo.

Pai


"Otac", de Srdan Golubovic (2020)
Comovente e cruel drama sérvio, vencedor de diversos prêmios internacionais, incluindo em Berlin 2020. Em uma cidade pequena da Sérvia, uma mãe leva seus dois filhos até uma fábrica. Ela ameaça os funcionários, dizendo que ela e os filhos estão passando fome e quer que paguem o salário atrasado do marido. diante da passividade de todos, ela ateia fogo em si mesma. Os filhos são levados para uma assistência social, e a mulher, internada com colapso nervoso. Nikola (Goran Bogdan, esplêndido), é o pai e marido. Ele descobre que os filhos foram dados para uma família adotiva, e o funcionário público impede que Nikola os resgate, diante da ameaça de dizer que ele é descontrolado e não tem condições de cuidar das crianças. Nikola resolve pedir ajuda ao Ministério,e vai a pé até Belgrado, por não ter dinheiro para o ônibus, com 300 km de distancia,a andando por 5 dias e noites.
O filme tem uma metáfora sobre religiosidade e perseverança. Nikola é quase um Messias, peregrinando com fé, encontrando pessoas boas e más no caminho e no final te m a referência do pão. É um filme realista, que traz cenas revoltantes sobre burocracia, corrupção que nós qui no Brasil já conhecemos bastante. Nikola, mesmo sendo pai legítimo, encontra resistência do governo para poder rever seus próprios filhos. Um trabalho fantástico de Goran Bogdan, que carrega o filme quase inteiro nas costas. A cena inicial, com a atriz que interpreta a mãe, também é antológica e forte, uma abertura chocante.

Terror mortal


"Deadly strangers", de Sidney Hayers (1975)
Clássico terror psicológico inglês de 1975, "Terror mortal" , escrito por Philip Levene, tem claras referências ao cinema de Hitchcock, principalmente de "Psicose" e "Frenesi". Todos os filmes falam de serial killers que agem por impulso sexual, perversões (como voyeurismo) e fetiches.
Um assassino escapa de um sanatório de alta periculosidade. Na mesma noite, um carro é roubado e seu dono, assassinado. No dia seguinte, Stephen ( Simon Ward), um jovem misterioso, observa Belle (Hayley Mills) em um pub. Um caminhoneiro a corteja e dá carona para ela. No caminho, o caminhoneiro mostra a real intenção: quer estuprá-la. Belle escapa e acaba pegando carona com Stephen. Ao chegar na estação de trem, ele mente para ela e diz que não tem mais trem no dia. Ele decide levá-la de carro até a cidade dela.
Shayamalan ficaria feliz em assistir esse filme, onde existe um formidável plot twist, daqueles de cair o queixo. filme oferece dicas o tempo todo, mas para isso, é preciso assistir novamente e captar as pegadinhas. Os atores estão ótimos, o filme tem aquele imperdível charme inglês e o filme sustenta a atenção o tempo todo do espectador, com pistas falsas. Ousado, o filme apresenta nudez e cenas de assédio sexual.

domingo, 24 de janeiro de 2021

Não conte à ninguém


"Não conte à ninguém", de Alex McAulay (2020)
Escrito e dirigido por Alex McAulay, "Não conte à ninguém" é um suspense com vários plot twists. Joey (Jack Dylan Grazer, o Eddie de "It, a coisa") e Matt (Fionn Whitehead) são irmãos que vivem às turras. Matt, mais velho, quer mandar o tempo todo em Joey e faz dele gato e sapato. A família é pobre: o pai morrer e a mãe é uma doente inválida. Matt propoe a Joey de invadirem a casa de uma idosa e levarem o dinheiro ali guardado. A ação é bem sucedida, mas na fuga dão de cara com um segurança, Ramby (Rainn Wilson). Ao fugirem pela floresta, Hamby acaba caindo em um poço desativado, sem poder sair. Matt pede para Joey não contar nada sobre o roubo e o homem que caiu no poço para ninguém. Em casa, Joey sofre com a angústia de deixa o homem ali sozinho, e decide ir até lá para salvá-lo.
O personagem de Matt é irritante até o limite, e tem horas que a gente deseja que fosse ele que tivesse caído no buraco. Aliás, todos os personagens, incluindo a mãe, merecia, passar um tempo nesse buraco. O filme é um bom passatempo, com um roteiro cheio de decisões idiotas de seus personagens. Mas no geral entretém, e os dois jovens atores estão bem.

Rogéria; Senhor Astolfo Barroso Pinto


"Rogéria; Senhor Astolfo Barroso Pinto", de Pedro Gui (2019)
Emocionante documentário que apresenta um raio X de Rogéria, ou Astolfo Barroso do Amaral, e segundo a própria, 'a travesti da família brasileira". O filme mistura entrevistas com a própria Rogéria, dada antes de seu falecimento em setembro de 2017, aos 74 anos, material de arquivo e encenação com atores ficcionalizando momentos de sua vida. E claro, entrevistas com personalidades que passaram por Rogéria, como Bibi Ferreira, Betty Faria, Aguinaldo Silva, Jô Soares, Nany People, Jane di Castro, entre outros, e também depoimentos de seus familiares: irmãos e mãe.
O filme é realizado com muito carinho, deixando claro a importância de Rogéria para a história da cultura brasileira, seja nos palcos de teatro, televisão ou cinema. Rogéria foi maquiadora de grandes estrelas e cantoras, e se recusava a maquiar homens. Numa época onde a ditadura mandava no Brasil, desde os anos 60, Rogéria se destacou, vencendo preconceitos e jamais deixando se humilhar como artista ou homossexual. A parte divertida é quando Jane di Castro relata as aventuras sexuais da amiga, dizendo que pagavam boquete em seguranças e bombeiros para poder frequentar o Teatro Alaska. Rogéria, ou Astolfo, e segundo a entrevistada, se misturam, foi uma figura emblemática, desejada por muitos e dona de seu corpo e de suas vontades.

Twettering birds never fly: As nuvens se reúnem


"Saezuru tori wa habatakanai: The clouds gather ", de Kaori Makita (2020)
Adaptação do mangá criado por Makita Kaori, que vendeu 1 milhão e 500 mil cópias só no Japão, "As nuvens se reúnem" é um anime Yaoi. Yaoi é uma abreviação do inglês "Boys love" ou "BL": Histórias onde os protagonistas são do sexo masculino e que se amam.
Em "As nuvens se reúnem", o protagonista é Yashiro, um jovem presidente de uma empresa relacionada com a máfia japonesa, a Yakuza. Yashiro , quando criança, foi abusado sexualmente pelo sue tio, e isso fez com que ele se tornasse um masoquista: ele gosta de ver subalternos sendo espancados, ao mesmo tempo que gosta de fazer sexo com violência. Yashiro não permite que nenhum de seus subalternos, com quem faz sexo, toque nele. Até que surge o novo guarda-costas, Domeki, por quem Yashiro nutre um enorme fascínio. Domeki é impotente, e não consegue ficar com o pênis ereto. Yashiro fica obcecado e sempre que pode, faz sexo oral nele. Domeki também nutre afeição por Yashiro. enquanto isso, uma gangue rival deseja a morte de Yashiro.
Com ousadas cenas de sexo quase explícito, o filme é repleto de fetiches e taras, e apresenta uma Yakuza onde sexo com outros homens é absolutamente normal para todos os integrantes. A animação em si é pobre, se comparada com outros filmes mais populares. Mas para quem gosta de histórias de perversão e amor debaixo de sangue e violência, irá adorar esse anime.

Em um corredor escuro


"Down a dark hall", de Rodrigo Cortés (2018)
Drama de suspense gótico dirigido pelo cineasta espanhol do ótimo "Enterrado vivo", "Em um corredor escuro" é adaptado do livro escrito por Lois Duncan, autora do terror "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado".
Kat (AnnaSophia Robb) é órfã de pai, a quem ela amava, e mora com sua mãe e seu padrasto. devido à sua rebeldia, Kat é expulsa da escola. O padrasto descobre que existe um internato feminino que aceita meninas problemáticas e que fica escondido em uma floresta, chamado "Blackwood". Chegando lá, Kat e outras garotas são recebidas por Madame Duret (Uma Thurman), uma mulher misteriosa que administra o local junto de seu filho, Jules, e de outros professores. Kat no entanto estranha que algo acontece no local, e vai se deparar com fantasmas que habitam a mansão.
Um suspense gótico bastante genérico, daqueles que você já viu muitas vezes. Lembra "Suspíria", mas sem as mortes violentas, e lembra "O orfanato", mas sem tantos sustos. O elenco está ok, e Uma Thurman surge num papel estranho e caricato. Passatempo meia bomba.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Psycho goreman


"Psycho goreman", de Steven Kostanski (2020)
Aventura de monstros e ficção científica mega mega mega mega trash, que parodia filmes clássicos de terror e aventura, como "Hellraiser", "Star wars", "Fúria de Titãs", "Marte ataca!", e qualquer porcaria Z , mas a melhor definição é a de um jornalista da Variety, que o define como uma mistura insana de "Os vingadores" com os abomináveis filmes da produtora Troma dos anos 80.
Com uma trilha sonora repleta de sintetizadores e efeitos toscos e repletos de gosma e sangue podre, "Psycho goreman"conta a história de duas crianças, os irmãos Luke e Mimi. Ele mais mandona, vence um jogo com o irmão e o obriga a se enterrar vivo. Ao cavar no quintal, ele descobre uma pedra misteriosa, que Mimi pega e descobre ser uma pedra que comanda um ser alienígena. "O arquiduque da destruição", que surge para resgatar a pedra. Mas Mimi percebe que a pedra tem poder sobre o monstro: ela o renomeia de "Psycho goreman" e faz gato e sapato dele. Uma Deusa, Pandora, decide vir para a Terra e eliminar Psycho.
Cheio de politicamente incorreto (as crianças presenciam uma verdadeira chacina de inocentes e acham tudo incrível, inclusive lanchando enquanto assistem), o filme inova ao trazer crianças que não torcem por um herói. Tudo no filme é tosco, propositalmente, das atuações aos efeitos e claro, o roteiro, sem pé nem cabeça. As cenas de luta são hilárias, podres, e quando voc6e acha que não pode piorar, piora. Tivesse 20 minutos a menos, o filme teria sido mais divertido: ficou longo e tá arrastado.

Run hide fight


"Run hide fight", de Kyle Rankin (2020)
Exibido no Festival de Veneza e aclamado como uma versão Millenium de "Duro de matar', 'Elefante"e "Jogos vorazes", "Run hide fight" é a primeira produção da The daily wire, um site de mídia de conteúdo conservador americano.
em uma cidade do Texas, uma escola high school é invadida por 4 jovens em uma van que decidem se vingar de todos que provocarem bullying neles. Eles saem matando geral, alunos e funcionários, e mantém outros como reféns, entre eles, Lewis, um nerd que é obrigado pelo líder do grupo, Tristan, a transmitir live pelas redes sociais a chacina na escola. Lewis é melhor amigo de Zoe (Isabel May, muito parecida com Jennifer Lawrence) que estava no banheiro na hora da invasão. Zoe tem um temperamento rebelde, fruto da morte de sua mãe por câncer e pelo seu mau relacionamento com o pai, um ex-combatente de guerra. Zoe decide salvar os colegas e funcionários e para isso, usa as táticas de guerra que seu pai lhe ensinou quando mais jovem.
Um filme polêmico, bancado por um site conservador à favor de armamentos, e é através das armas que as pessoas são assassinadas e que os heróis salvam o dia. Todos sabem usar, desde adolescentes a adultos. O filme apresenta uma cultura armamentista, e apesar de todas as boas intenções de lutar pela sobrevivência, o que fica é um filme de ação, tipo 'Duro de matar", ambientado em uma escola onde as vítimas são adolescentes indefesos em um lugar onde teoricamente deveriam estar a salvos. Moral da história: não pratique bullying com o próximo, pois você pode ser a próxima vítima de uma bala.

Irmãos de sangue


"Brothers by blood", de Jérémie Guez.(2020)
Adaptação do livro de Peter Dexter, "Irmãos de sangue" narra a amizade e depois rivalidade entre dois primos, filhos de mafiosos de famílias opostas na Filadélfia: Peter (Matthias Schoenaerts), de família irlandesa, e Michael (Joel Kinnaman), de família italiana. No passado, Peter perdeu sua irmã em m acidente, e seu pai vingativo (Ryan Philippe) também termina em tragédia. Já adulto, Peter evita se misturar nos trabalhos escusos da família, indo treinar boxe. Mas quando Michael se torna uma pessoa cada vez mais violenta e atrapalhando os planos da máfia irlandesa, Peter é convocado contra a sua vontade, para matar Michael.
Um filme hiper mega genérico dentro do universo da Máfia, com o agravante de ter um ritmo bastante lento e quase nenhuma ação. A trama é confusa, com muitos personagens, incluindo Maika Monroe, de "A corrente do mal". No final das contas, o interesse é bem pouco de ver o filme.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Estamos perdidos para sempre


“Are we lost forever”, de David Farmar (2020)

Drama LGBTQIA+ sueco, “Estamos perdidos para sempre” teve o roteiro escrito pelo seu diretor, David Farmar, após ele mesmo experimentar o rompimento de uma relação que o deixou bastante depressivo. David usou de sua experiência para descrever a história de Adrian e Humus, um jovem casal gay que após anos de relacionamento em comum, dividindo a mesma casa, se deparam com o fatídico dia: um deles quer acabar com a relação. Adrian diz estar cansado do relacionamento e que não tem como seguir adiante, para choque de Humus. Um tempo depois, Adrian segue em relacionamentos abertos, arrumando vários parceiros sexuais. Ao rever Humus, descobre que ele está em um relacionamento estável e aparentemente feliz. O reencontro mexe com ambos.
O início do filme lembra até “Cenas de um casamento”, de Bergman ( e o fato do filme ser sueco até deixa clara essa referência). Mas o filme, em ritmo lento, traça as vidas de ambos após o rompimento. Como seguir a vida após você deixar de dividir o espaço com a pessoa que você amou por anos? Ess eé o tema proposto por David Farmar. É um filme onde pouco acontece em cena, a não ser várias cenas de sexo apimentadas. Fora isso, é o vazio do dia a dia, nutrida pela ausência e pela falta de foco.

Amphetamine


“Amphetamine”, de Warren Sombert (1966)

Clássico underground Lgbtqia+ de 1966, foi inspirado pelos filmes de Andy Warhol. O filme apresenta de forma realista e documental um grupo de jovens se drogando com heroína injetada, mostrando todo o processo de preparação e pico. No auge dos efeitos da droga, dois rapazes fazem sexo.
Um filme belo, poético, apesar das cenas bara pesadas e cruas de uso de drogas. Um olhar pessimista sobre a juventude que se expõe de forma destrutiva aos efeitos de drogas pesadas. Filmado em 16 mm e em belo preto e branco. 


Navajeros


Navajeros”, de Eloy de lá Iglesia (1980)

Clássico espanhol de 1980, “Navajeros” apresenta de forma crua a vida de adolescentes de Madri que entram no mundo do crime para poderem ter algo na vida. El Jaro (José Luís Manzano, amante do cineasta Eloy de lá Iglesia e morto de overdose de heroína em 1983) interpreta o protagonista, um líder de uma gangue que rouba, usa drogas pesadas e não teme nenhuma investida policial. Um jornalista faz uma matéria sobre delinquência juvenil e resolve seguir os passos de El Jaro. O irmão mais dele está preso e sua mãe é uma prostituta que os abandonou. El Jaro se tornar amante de Mercedes , uma prostituta mais velha que o protege. Terroristas atuam na região e a polícia vai atrás tanto dos terroristas quanto dos jovens delinquentes.
Com um roteiro excelente e um realismo que torna o filme quase um documental, o filme é repleto de cenas de uso de drogas e de sexo. Ousado, polêmico, assim como outros filmes de lá Iglesia, o filme é um registro histórico de uma Espanha recém saída do regime Franquista e tentando encontrar o seu caminho. Excelente performance dos jovens atores.

A casa Lobo


“La casa Lobo”, de Joaquin Cocina e Cristobal Leon (2018)

Exibido e premiado em importantes Festivais, como Berlin e Anecy, dedicado a animações, “A casa Lobo” é uma co-produção Chile e Alemanha dividida por dois artistas plásticos chilenos. O filme é uma narrativa experimental que utiliza a ditadura militar de Pinochet como
Pano de fundo para narrar uma história que mistura sonho, pesadelo e contos infantis.
No sul do Chile, existe uma colônia alemã administrada por um tirano que maltrata as crianças. Quando a jovem Maria deixa escapar sem querer 3 porcos, ela teme ser punida e foge pela floresta. Um lobo mal a persegue, mas ela consegue se esconder em uma casa dentro da floresta. Ao entrar na casa, Maria se depara com dois dos porquinhos, que ao passar do tempo, se transformam em duas crianças.
É complexo tentar entender o filme. É uma experiência surreal que teria sido melhor aproveitada como curta, como longa fica cansativo. Misturando stop motion e outras técnicas de animação, o filme impacta e surpreende pelo visual muitas vezes assustador, o que o fez ser divulgado como uma animacao de terror.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

O sol


"Yanguang Puzhao", de Chung Mong-Hong (2019)
Indicado por Taiwan a representar o país à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2021, "O sol"ganhou dezenas de prêmios internacionais. O filme é um drama épico, de quase 2:40 horas, um retrato devastador e emocionante de uma família classe média: o pai A-wen (Yi-wen Chen), um instrutor de auo-escola; a mãe, Qin (Samantha Kho), uma cabeleireira de um salão dentro de uma boite; o filho mais velho, A-Hao (Greg Han Hsu), o preferido do pai, bonito, inteligente, sério e estudante de medicina; e o filho mais jovem, o rebelde e problemático A-Hao (Chien-Ho Wu). Após um inidente de A-Hao com seu amigo Radish, um bandido que extorque dinheiro, A-Hao é preso. Seu pai decide que a justiça que cuide dele e o abandona à sua sorte, para surpresa de sua esposa. Uma mulher procura Qin e diz que A-Ho engravidou a filha dela. Por sua vez, A-Hao se sente pressionado em ser ser o melhor estudante. Quando A-Hao sai da prisão, anos depois, as coisas estão diferentes.
Intenso, "O sol" une poesia, violência, drama e romance em um retrato realista sobre uma família que tenta encontrar formas de se manter unida, mesmo depois de tantas tragédias. De certa forma, o filme lembra bastante o tema de "Vidas amargas", com o filho rebelde tentando provar ao pai que ele é capaz de mudar. A longa duração do filme prejudica a narrativa, ainda mais com o ritmo lento, mas vale assistir principalmente por dois momentos antológicos: o velório, emocionante, e a cena final à beira da montanha, com o casal mais velho fazendo revelações. As atuações dos atores principais é arrebatadora, e vale muito assistir.

O crime sem perdão


"The detective", de Gordon Douglas (1968)
Clássico policial noir de 1968, é quarta parceria de Sinatra com o cineasta Gordon Douglas. "O detetive" é adaptado do livro escrito por Roderick Thorp e tem a homofobia e o mundo LGBTQIA+ como pano de fundo para a história, tornando o filme bastante controverso e polêmico na época do lançamento, uma ousadia inédita em apresentar guetos gays e o flerte sexual.
Joe Leland (Sinatra) é chamado para investigar o assassinato de Teddy, filho de um poderoso empresário, encontrado morto com vários golpes na cabeça e os genitais arrancados. Leland descobre que Teddy era homossexual e investiga guetos gays, até chegar em Félix, um garoto de programa que assume a culpa pelo crime. Leland está com problemas conjugais com sua esposa, Karen (Lee Remick), que o trai. Um dia, chegando no trabalho, Joe é procurado por Norma (Jacqueline Bisset), cujo marido se suicidou. Leland descobre que os casos de Teddy e de Colin, marido de Norma, parecem estar conectados.
Com uma ótima trilha sonora de Jerry Goldsmith, "O detetive" passeia pelo cinema noir, com suas mulheres fatais e suspeitas, mas com o inédito olhar sobre o mundo gay. Nessa época, os gays e o seu universo eram vistos como pessoas estranhas, suspeitas, e os bares e guetos como lugares decadentes e perigosos. Mas isso não diminui a importância desse filme, que inova em retratar os conflitos de gays que não se assumem, e como isso pode prejudicar a sua vida pública. Os diálogos são bastante ousados, e a cena do bar gay, bem provocativa para a época. Frank Sinatra está excelente, e o filme traz os jovens Lee Remick, Jaqueline Bisset e Robert Duvall se destacando em suas participações. Clássico.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Zona de combate


"Outside the wire", de Mikael Håfström (2021)
Filme de ação, aventura e ficção científica, genérico do genérico, que traz elementos de "O exterminador do futuro" e "Robocop". O filme foi produzido pelo ator Anthony Mackie, que protagoniza o filme no papel de Leo, um soldado robô de última geração, que auxilia o piloto de drone do exército Harp (Damson Idris) a lutar contra um perigoso vilão ucraniano Victor Koval, que quer ter controle das armas nucleares do mundo.
O filme demora a engatar, as cenas de ação são boas mas não mantém tanto o interesse. O que vale no filme, é a discussão sobre a ética, um tema que já existia em "O exterminador do futuro". Os atores estão ok, e parabéns ao protagonismo negro. Pipoca para assistir sem reclamar, porquê motivo tem de sobra.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Grimsey


"Grimsey", de Richard García, Raúl Portero (2018)
Drama LGBTQIA+ espanhol, todo rodado na Islândia. Captando belíssimas locações nas ilhas do País, o filme acompanha Bruno, que vem da Espanha em busca do seu ex-namorado Norberto, que viajou para a Islândia e desapareceu. Teoricamente, Norberto quiz dar um tempo de Bruno, mas esse insiste em ir atrás dele. O guia turístico Arnau ajuda Bruno na busca, junto da polícia. Quando não encontram nenhum sinal dele, Arnau sugere irem até a Ilha de Grimsey, pouco visitada pelos turistas.
Um filme de ritmo bastante lento, que acompanha o luto de um homem pelo rompimento da relação. O que mais vale no filme, muito mais do que a história, pouco interessante, é a viagem turística que o filme proporciona sobre as ilhas da Islândia. Quem é apaixonado pelo País, é um verdadeiro deleite.

Vestido de noiva


"Vestido de novia", de Marilyn Solaya (2014)
Grande sucesso de crítica e público do cinema cubano, 'Vestido de noiva" é um drama LGBTQIA+ ambientado no ano de 1994 e vencedor de diversos prêmios internacionais.
Elena Rosa (Laura De la Uz) é uma enfermeira casada com Ernesto (Luis Alberto García), um operário bronco mas totalmente apaixonado por ela. Ernesto só não gosta da amizade de Elena com a trans Sissy, dona de um salão de cabeleireiro. Elena confessa para Sissy um grande dilema: quando ela terá coragem de dizer a Ernesto que ela já foi um homem antes da transição?
Com atuações estupendas de Luis Alberto García e Laura de la uz, além de Isabel Santos como a trans Sissy e de Jorge Perugorria como Lazaro, amigo de Ernesto, "Vestido de noiva"traz belas mensagens de aceitação e evolução, mesmo diante de um ambiente homofóbico e tóxico.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Aurel


"Josep", de Aurel (2020)
Excepcional animação belga/espanhola, exibido no Festival de Cannes e vencedor de diversos prêmios internacionais. O filme narra a história real do pintor e artista plástico espanhol Josep Bartoli, através dos olhos do policial francês Serge. Em 1939, com o regime de Franco na Espanha, que perseguia artistas e intelectuais de esquerda, muitos fogem para a França, mas foram recebidos da pior maneira possível: alojados em campos de concentração, onde eram mal tratados, as mulheres estupradas, passavam fome e morriam de doenças. Bartoli desenhava os horrores que presenciava aonde podia, e isso chamou a atenção do policial Serge, que discordava da forma truculenta que seus amigos lidavam com os refugiados. Serge dá um caderno e um lápis para Bartoli, que desenha as suas impressões sobre aquele lugar. Futuramente, o filme apresenta a grande amizade que se formou entre essas duas pessoas tão distintas, e o relacionamento de Bartoli com Frida Kahlo.
Narrada de forma emocionante através das lembranças de um idoso Serge para seu neto, o filme tem traços que acompanham os desenhos originais de Bartoli. Fosse um filme de live action, "Josep" seria muito doloroso pelas suas cenas de grande impacto e bastante fortes. A cena do estupro, em especial, é dirigida de forma brutal, sem revelar nada pelo diretor Aurel. Uma linda homenagem aos artistas que mantêm a sua arte mesmo em tempos de ódio às expressões artísticas, "Josep" é uma viagem ao passado trágico, para narrar os tristes dias atuais.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Jallikattu


"Jallikattu", de Lijo Jose Pellissery (2019)
Indicado pela Índia à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2021, "Jallikattu" é um extraordinário exercício de direção e câmera. Em um vilarejo rural, toda a cidade está na expectativa do aoucgueiro matar um búfalo para dividir entre todos os moradores. Mas quando o animal escapa e destrói o vilarejo, todos os homens seguem na missão de encontrá-lo na floresta e matá-lo.
O filme tem um arremedo de roteiro, mas muitas mensagens metafóricas se encontram ali: castas sociais, machismo, sociedade patriarcal, violência doméstica, cobiça, instinto animal.
O filme é uma grande metáfora que compara se é o búfalo ou o ser humano que de fato age de forma bestial. O filme impressiona pelos vários planos-sequências e cenas de ação, principalmente envolvendo o animal, coreografado em cenas bizarras e repletas de pirotecnia. São mais de centenas de pessoas correndo atrás do búfalo o filme todo, dia e noite. estão de parabéns toda a equipe ténica e o enorme elenco, agindo de forma espontânea, sem jamais parecer que é tudo ensaiado. A cena final é apoteótica, lembrando de certa forma a cena de massacre de búfalo em "Apocalipse now", mas de forma mais fantástica.

Beauty boys


"Beauty boys", de Florent Gouëlou (2020) Premiado curta metragem LGBTQIA+, "Beauty boys" apresenta a história de dois irmãos morando em um pequeno vilarejo do interior da França. Leo tem 17 anos e é gay assumido. Jules, seu irmãos mais velho, é homofóbico e tem vergonha do irmão. Ambos ensaiam para um evento musical da cidade: Leo com seus amigos Yaya e Ambre, ensaiam um número musical Drag; Jules ensaia com seu amigo um número de hip hop. Esses dois universos irão colidir com bullying e muita perseverança e auto-afirmação. Com um roteiro simples mas que dá conta de trazer sua mensagem de aceitação e empoderamento, "Beauty boys" fala sobre família e sobre como harmonizar um mundo tão conservador e homofóbico. Belo trabalho do jovem elenco. A cena da Mãe Drag Cookie chegando ao som de "Betty Davis eyes" é sensacional.

O deputado


"El diputado", de Eloy de la Iglesia (1978)
Um raro drama político LGBTQIA+, "O deputado" é um filme forte e contundente, ambientado em 1977, durante a transição do governo Franquista para a democracia na Espanha. Lutas políticas, manifestações populares, briga entre a extrema direita e a esquerda. No meio disso tudo, Roberto (José Sacristán), um deputado esquerdista comunista, casado, mantém relacionamento com garotos de programa, até que se apaixona por um deles, Juanito (José Luis Alonso). Juanito é contratado para tirar fotos de Roberto fazendo sexo com ele, mas Juanito também se apaixona por Roberto e acaba traindo as pessoas que o contrataram.
Um excelente drama, que lembra bastante os filmes políticos de Costa Gavras, só que aqui, acrescentado de cenas de sexo e orgia gay, um olhar bastante ousado do mundo do basfond da prostituição masculina de jovens garotos de programa. Eloy de la Iglesia era também homossexual assumido, viciado em heroína e comunista, e não poupou realismo nas cenas. Um cult obrigatório.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

El pico


"El pico", de Eloy de la Iglesia (1963)
Um dos maiores sucessos comerciais da Espanha nos anos 80, 'El pico" rendeu uma continuação um ano depois, em 1984, igualmente bem sucedido.
O filme, polêmico e controverso, apresenta sem censura a adolescência na Espanha em busca de drogas pesadas, no caso a heroína, durante a transição para a democracia no país, após a ditadura de Franco. Na mesma época, na Alemanha, o filme "Eu, Cristiane F, 13 anos, drogada e prostituída", também fazia enorme sucesso. Era uma época onde a decadência moral e social, advindos da crise econômica, tinham como alvo a juventude, alienada e sem futuro.
Paco (José Luis Manzano, namorado do diretor) e Urko (Javier García) são melhores amigos. O pai de Paco é um general, e o de Urko, um político de esquerda. Ambos se tornam viciados em heroína e quando não conseguem mais compram, passam a roubar. A mãe de Paco toma morfina para aliviar a dor de seu câncer, e Paco, em desespero, rouba a morfina para se picar.
O mais bizarro no filme é que, toda vez que os jovens se picam, toca "Cidade maravilhosa" como pano de fundo. O filme é bastante realista e não faz concessões. Homossexualidade, falta de comunicação entre pais e filhos, drogas como escape da dura vida real. "El pico" é um filme contundente, e triste perceber que décadas depois, continuamos em situação muito pior.

Como era gostoso o meu francês


"Como era gostoso o meu francês", de Nelson Pereira dos Santos. (1971)
Concorrendo nos prestigiados Festivais de Cannes e Berlin, "Como era gostoso o meu francês" tem um roteiro baseado em cartas de aventureiros, jesuítas e desbravadores, como Hans Staden, Padre Jesuíta e Jean de Léry. Ambientado em 1954, o filme narra a tragédia de Jean, um francês que tem noções de artilharia (Arduíno Colassanti) que é feito preso pelos índios Tupinambás, conhecidos pelas práticas canibais. Os tupinambás são amigos dos franceses, e inimigos dos índios Tupiniquins, amigos dos portugueses. Os tupinambás não acreditam que o francês seja de fato francês e acreditam que ele é português e decidem devorá-lo após 8 luas. Nesse período, ele aprende a cultura da tribo e se envolve amorosamente com a mulher do cacique, Seboipepe (Ana Maria Magalhães).
O filme é todo falado em Tupi, e os diálogos em tupi foram escritos pelo cineasta Humberto Mauro. Nelson Pereira filmou em Paraty, mesma cidade onde realizou seu filme anterior, 'Asilo muito louco".
Na época, os filmes brasileiros com temáticas que falassem da cultura e povo brasileiros eram incentivados pelo governo militar, mas a censura proibiu a sua exibição, por conta dos nus masculinos ( o elenco inteiro está totalmente nu em cena). Após alguns cortes e o entendimento que a representatividade da nudez indígena não representava pornografia, o filme foi liberado. O filme tem elementos da arte antropofágica brasileira, tão em voga na filmografia após o grande sucesso de "Macunaíma".
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