sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O desejável Mr Sloane

"Entertaining Mr Sloane", de Douglas Hickox(1970) lássico cult inglês de 1970, adaptação cinematográfica da peça do dramaturgo Joe Orton, aqui chamada de "O nosso hóspede". Joe Orton escreveu várias peças polêmicas, provocando risos ao falar da morte. Ele foi assassinado aos 34 anos de idade pelo seu amante, que o matou com 9 marteladas na cabeça. Essa história foi filmada por Stephen Frears no longa "O amor não tem sexo", com Gary Oldman e Alfred Molina. Em menos de 3 anos, Joe Orton escreveu várias peças clássicas, até hoje encenadas mundo afora, como "O olho azul da falecida", "O que o mordomo viu", "Brincando com a morte ", "O servo fiel", entre outros. O Cineasta Douglas Hickox dirigiu o também clássico "Teatro da morte", com Vincent Price interpretando um ator Shakesperiano que resolve matar os críticos que falaram mal de sua performance. O texto de "O desejável Mr Sloane" é uma farsa de humor negro, que lembra "Ensina-me a viver" e "Matadores de velhinhas", e também "Teorema", de Pasolini, e na época foi um verdadeiro escândalo, ao falar de Casamento gay, menage a trois, misoginia, fetiche, narcisismo, relacionamento aberto e voyeurismo. Kath (Beryl Reid, brilhante) é uma mulher de meia idade, viúva e solitária. Ao visitar um velório, ela conhece o jovem Sloane (Peter McEnery), um rapaz sedutor que mora no cemitério. Atraída sexualmente pelo rapaz, Kath o convida para vir morar com ela e seu pai. O pai de Kath imediatamente reconhece Sloane como o homem que assassinou o seu patrão, mas Kath não acredita. Ed, irmão de Kath, vem visitar a família e ao se deparar com Sloane, se sente seduzido e o contrata como seu chofer. A partir daí, Sloane passa a ser disputado sexualmente pelos irmãos, até que no final, após matar o pai deles, ele aceita e casar com os dois. Repleto de sensualidade ( e imagino que para a época deve ter sido um mega escândalo , com closes no corpo nu e na cueca branca de Sloane o tempo todo) o filme tem performances arrebatadoras do trio principal. Narrativamente, o filme me lembrou bastante de "Quem tem medo de Virginia Wolf", ambientado quase todo dentro da casa. A atuação de Beryl Reid chega a lembrar a de Elisabeth Taylor, em um personagem patético e constrangedor. Sua caracterização, com vestidinho curto e dentadura, é sensacional. Esse é um texto que valia ser remontado aqui no Brasil, pois fala de temas muito pertinentes, como relação de poder, machismo e depressão na terceira idade.

A canção de uma vida

"Song one", de Kate Barker-Froyland (2014) Vez ou outra, o Cinema independente americano lança um filme onde a música é o elemento de conexão entre os protagonistas. Foi assim em "Apenas uma vez", e em "Mesmo se nada der certo", esse último, com Keira Knightley e Mark Ruffallo. Agora, Anne Hathaway dá uma de produtora e lança "A canção de uma vida", também produzido pelo falecido cineasta Jonathan Demme, que dirigiu Anne em "O casamento de Rachel". Um ano depois de vencer o Oscar de melhor Atriz coadjuvante, pelo seu papel em "Os miseráveis", Anne lança mão de seu talento musical e canta de novo no drama romântico dirigido por Kate Barker-Froyland, seu filme de estréia, que ela também escreveu. Mas o filme não é um musical. Anne interpreta Franny, uma estudante de Antropologia que volta do Marrocos após tomar conhecimento que o sue irmão músico Henry sofreu um acidente e está em coma em um hospital. Franny se sente culpada por ficar mais de 6 meses sem se comunicar com Henry; ele largou a faculdade para ser músico, e por esse motivo, Franny se irritou e nunca mais falou com ele. Ao mexer em suas cosias, Franny encontra ingresso para o show do cantor folk James Forester (Johnny Flynn), de quem Henry é grande fã. Franny vai ao show e se apresenta a James. Entre os dois surge uma grande atração. Não fosse um drama independente levado a sério pela cineasta, o filme poderia facilmente ser um filme cristão. Afinal, quantos filmes cristãos a gente já não ouviu falar, dizendo que a "Música e fé curam?" O filme infelizmente não tem a emoção e encantamento dos filmes acima citados. Falta aquela fagulha o olhar dos protagonistas, apesar de serem bons atores. Mas a gente não torce muito. E o filme é bastante óbvio. Mary Steenburgen, que andava bastante sumida, interpreta Karen, mãe de Franny e Henry. Jonnhy Flynn é o mesmo ator do ótimo filme de suspense inglês "Beast".

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Histórias que nosso Cinema ( não) contava

"Histórias que nosso Cinema ( não) contava", de Fernanda Pessoa (2018) Documentário totalmente diferente do que eu esperava, o que de certa forma me surpreendeu. Tive a mesma sensação ao assistir ao premiado 'Cinema novo", de Eryk Rocha. Os dois são interpretações bastante pessoais e experimentais de movimentos cinematográfico brasileiro, brilhantemente editados. Aqui, o editor Luiz Cruz faz um trabalho formidável. Junto da Diretora, assistiram a mais de 100 filmes representativos da pornochanchada, selecionando trechos de quase 30 filmes. O que mais chama atenção, para quem não nunca assistiu a nenhum desses filmes, é constatar que atores consagrados de hoje em dia, na época, eram estrelas desses filmes ingenuamente eróticos: Antonio Fagundes, Teresa Rachel. José Lewgoy, Vera Fisher, Maria Lucia Dahl, Roberto Bonfim, Denise Dumont, etc. Eu esperava assistir a um documentário tradicional, com trechos de filmes, e entrevistas e depoimentos de atores, estudiosos e técnicos. Mas isso não acontece. O que vemos, é uma colcha de retalhos de trechos de filmes, editados de forma temática ( sem uso de legendas ou cartelas): Fernanda Pessoa quiz mostrar que o gênero pornochanchada, rejeitado por uma boa parcela da população e dos críticos, por serem associados à sacanagem e à vulgarização da mulher, também eram usados como fachada para mensagens que na época, ditadura militar dos anos 70, seriam abolidos de filmes tradicionais. São críticas à tortura, uso da greve como arma política, violência policial, perseguição aos esquerdistas e comunistas, etc

As herdeiras

"Las herederas", de Marcelo Martinessi (2018) Escrito e dirigido pelo Cineasta paraguaio Marcelo Martinessi, esse drama Venceu inúmeros prêmios em Festivais internacionais, como Cartagena, San Sebastian, Berlin ( de onde saiu com o Prêmio de melhor atriz para Ana Brun, no papel de Chela) e aqui no Festival de Gramado 2018, saiu com 6 Troféus, entre eles de melhor filme, filme popular, filme da crítica, Diretor, Atriz ( dividido pelas 3 protagonistas) e roteiro. Metaforicamente, o filme fala sobre a decadência da sociedade paraguaia. Acompanhamos o drama de Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarita Irun), casal de lésbicas da terceira idade, que moram em uma casa outrora gloriosa, e agora decadente. Chela, introvertida e de caráter depressivo, vende o que herdou da família : Quadros, talheres, móveis, para poderem sobreviver, e nas horas vagas, pinta. Diferente de Chela, Chiquita é extrovertida, animada e gosta de se divertir. Um dia, Chiquita é presa por sonegação fiscal. Chela é obrigada a sair e se sustentar, acabando por trabalhar como motorista particular de senhoras que jogam carteado. Na casa de uma das senhoras, ela conhece a fogosa Angy ( Ana Ivanova), por quem acaba nutrindo um sentimento forte. Com performances arrebatadoras, o filme encanta pela sua simplicidade. É um filme que fala sobre o amor, e não tem medo de assumir a sua veia de melodrama latino. Carismáticas, e defendidas com muita garra pelo elenco, as personagens arrancam sorrisos, lamentos, tristeza do espectador. O time de senhoras do carteado também merece palmas pela atuação. O filme tem ritmo bastante lento, uma fotografia bastante escura. Tem um tom melancólico, como não poderia deixar de ser, mas em seu desfecho, abre um luz no fim do túnel.

Beast

"Beast", de Michael Pearce (2017) Exibido em diversos Festivais, entre eles, Sundance, Toronto, Miami e Londres, "Beast" é um drama de suspense, uma fábula gótica e sensual sobre um serial killer que atua na Ilha de Jersey, Reino Unido. Moll ( Jessie Buckley), é uma mulher de 27 anos que mora com sua mãe repressora e seu pai que sofre de Parkinson. A família, de classe média alta, é aristocrática e mantém as aparências perante a sociedade. No dia do aniversário de Moll, a irmã dela anuncia que está grávida de gêmeas. irritada com a falta de atenção que lhe dão, Moll foge até um nightclub local. Lá, ela encontra um rapaz, que tenta estuprá-la na praia. Moll é salva por um jovem misterioso, Pascal (Johnny Flynn), que caça coelhos clandestinamente. Imediatamente Moll se apaixona por Pascal, muito por conta de sua temperamento libertário e anárquico. O detetive do local suspeita que Pascal é o assassino, mas Moll não acredita e protege o seu amado. Com performances arrebatadoras de Jessie Buckley, Johnny Flynn e Geraldine James, que interpreta a mãe de Moll, o filme mantém um clima de erotismo e suspense o tempo todo, até o seu desfecho inesperado. Bem dirigido, com excelente fotografia e trilha sonora instigante, o filme provoca falsas pistas o tempo todo. Apesar do ritmo lento, o que pode irritar quem quer descobrir o assassino, o filme aposta mais no drama e romance, além da quebra de convenções sociais, algo como "Hair". Vale conferir.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Grão

"Grão", de Semih Kaplanoglu (2017) Diretor da premiada trilogia turca , "Ovo", "Leite", "Mel", o cineasta Semih Kaplanoglu realiza em "Grão", um filme absolutamente ambicioso. Filmado em 3 continentes ( Turquia, Estados Unidos e Alemanha), essa ficção científica metafísica e existencial deve a sua existência a "Stalker", de Andrei Tarkovsky, clássico russo que a todo momento, é usado como referência, inclusive dando nome a um dos personagens, Andrei. Rodado em belíssimo preto e branco, com enquadramentos que parecem verdadeiras obras de arte, "Grão" apresenta uma sociedade distópica, num futuro incerto. Toda a humanidade vive por conta de alimentos gerados por mutação genética, até que um dia, todos esses alimentos começam a se deteriorar. O professor Erol (Jean-Marc Barr) é convocado para que tente descobrir o mais rápido possível uma cura para os grãos. em uma reunião com os seus superiores, ele descobre a existência do professor e cientista Cemil, que já havia alertado para a crise dos alimentos genéticos. Erol resolve ir atrás de Cemil, que tem localização incerta. ele descobre que Cemil fez um teste em sua casa e a experiência deu errado, matando sua esposa e ferindo gravemente sua filha. Por conta disso, ele resolveu se isolar. O filme é dividido tematicamente em 2 partes: a primeira se passa na cidade, e a segunda, na região desértica, na peregrinação espiritual de Erol, quando ele encontra Cemil. Essa segunda parte é belíssima, e a que mais se aproxima de "Stalker". Mas também é aí que o filme se torna insuportavelmente lento e hermético , se afastando por inteiro de qualquer tentativa de seduzir um espectador médio. Para quem quiser assistir a um filme tecnicamente impecável, é uma boa pedida. Mas atenção ao ritmo: o filme tem 123 minutos, mas parece ter o dobro de duração.

Café com canela

"Café com canela", de Glenda Nicácio e Ary Rosa (2017) Vencedor no Festival de Brasília 2017 dos prêmios de Melhor filme do juri popular, Melhor atriz ( Valdinéia Soriano, no papel de Margarida) e melhor roteiro, além de participar de importantes Festivais no exterior ( Rotterdan), "Café com canela" é um filme que emula o frescor da Nouvelle Vague, em particular, o cinema de Agnés Varda. Com uma câmera livre ( os diretores se utilizam de vários recursos estilísticos para narrar o filme) e uma montagem que lembra o clip dinâmico de "As duas faces da felicidade", o filme mescla melodrama com drama social. O filme apresenta 2 personagens femininas fortes: Margarida, uma professora em depressão desde a morte de seu filho, e que se trancou para a vida. No seu caminho, surge Violeta ( Aline Brunne), uma vendedora de coxinhas, que tenta trazer Margarida de volta ao convívio social. Outros personagens perambulam pelo filme : Ivan ( Babu Santana), um médico gay casado com Alfredo; Cidão ( Arlete Dias, divertidíssima), amiga de Violeta e fanfarrona, e o marido de Violeta, um pedreiro por quem ela se apaixonou e casou cedo. O filme é bastante simples na sua forma, mas o roteiro emociona por vários motivos: lida com a questão da morte e do luto de vários personagens; faz um resgate importante da cultura baiana e africana, através de cultos e músicas; e apresenta um lindo exemplo de sororidade ( amizade entre mulheres), um dos mais belos do cinema brasileiro. Uma cena em particular, que acontece na cozinha e que explica o título do filme, é uma cena brilhante para ser reproduzida por alunos de teatro. Destaque absoluto para o trabalho de todo o elenco. Uma verdadeira jóia.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Na partida

"Sur le depárt", de Michaël Dacheux (2011) Drama francês, acompanha a trajetória de 2 jovens namorados durante o período de 12 anos. Morando na cidade interior de Mont-de-Marsan, em Lande, os jovens Piano e Clarinete ( sim, os rapazes são músicos e têm nomes de instrumentos) são apaixonados tanto pela música, quanto por eles. Um dia, Clarinete anuncia que vai se mudar para Paris. Assim, todo ano, Clarinete retorna para a sua cidade natal, para rever Piano. Mas os anos passam, o amor vai se esvaindo e a frequência dos encontros também. O filme tem muito de François Ozon, e em determinado momento, os amantes cantam uma bela canção de amor. Mas a medida que o filme avança, o romantismo dá lugar à tristeza. Simples, poético, com lindas locações, é um filme bastante verborrágico, mas a performance dos dois atores segura o interesse do espectador.

Utaya- 22 de julho

"Utøya 22. juli ", de Erik Poppe (2018) Caralho, que filme tenso e foda! Rodado em um único plano-sequência de 72 minutos (o filme é uma reconstituição dos 72 minutos de tiroteio que um extremista de direita, de 32 anos, provocou na Ilha de Utaya, Noruega, em 2011, provocando a morte de 77 jovens, além de 99 feridos e mais de 300 com sequelas emocionais. O Cineasta Erik Poppe ( dos excelentes "Águas turbulentas" e "A escolha do rei") decidiu realizar o filme em um plano-sequência, para faezr o espectador se sentir dentro do tiroteio, completamente sem rumo, assim como os seus personagens, pegos de surpresa durante um acampamento de final de semana. Estava ocorrendo um encontro de jovens no acampamento de verão Partido trabalhador, e subitamente, os jovens começaram a ouvir tiros, que estavam sendo confundidos com fogos de artifício. O espectador acompanha a jovem Kaja, de 19 anos, que no meio do tiroteio, procura a sua irmã mas jovem. Kaja vai de um lado pro outro, salva alguns jovens, testemunha outros sendo assassinados. O assassino só é visto de relance ao fundo. O trabalho de câmera é impressionante: a câmera corre, desce precipício, entra na água, fica estática, entra em bote...fico imaginando o quanto de ensaio esse filme não teve, pois tudo é milimetricamente estudado. Os personagens no filme são fictícios, mas baseado em relatos dos sobreviventes, Exibido no Festival de Berlin 2018, de onde saiu entre vaias e aplausos. As críticas foram por conta do que os jornalistas chamaram de sadismo, pois durante o filme todo, vemos jovens correndo, gritando e sendo assassinados, como se estivéssemos em um video game. É um filme tenso, cruel, bárbaro e chocante. Uma cena em particular me impressionou, pelo trabalho das atrizes: KAja ( um trabalho excepcional de Andrea Berntzen) conforta uma jovem que levou um tiro nas costas.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

M/M

"M/M", de Drew Lint (2018) Premiado longa de estréia do Cineasta canadense Drew Lint, que também escreveu o roteiro, "M/M" é dos filmes mais fetichistas e voyeuristas a que já assisti. Extremamente erótico e sexy, o filme, todo rodado em Berlin, é um conto Lgbts que mistura "Mulher solteira procura" com filmes de temática do Doppelgager, o famoso duplo. Matthew é um jovem de Montreal que mora sozinho em Berlin. Ele trabalha em um clube de natação como "pool boy". Um dia, ele flerta com um dos frequentadores, Mathias, e de imediato fica obcecado por ele. Matthew o persegue em todos os lugares, e fica fascinado com a vida de "Sexo, garotos e techno", que consta no perfil da rede social de Mathias. Um doa, Mathias sofre um acidente de moto e entra em coma. Essa é a deixa para Matthew se apropriar da vida de Mathias, assumindo a sua casa, seus amantes e sua personalidade. Com ótima fotografia e belos enquadramentos, o cineasta Drew Lint sabe dirigir as cenas com bastante sensualidade. Seus dois jovens atores estão totalmente entregues aos personagens. É um filme bastante instigante, que certamente fará a alegria de cinéfilos em busca de filmes excitantes e misteriosos. Li em uma entrevista que o Diretor Drew Lint escreveu o roteiro baseando-se em sua própria experiência pessoal, quando esteve em Berlin e sentiu-se totalmente isolado. ele acabou realizando esse filme como uma metáfora, as 2 personalidades contraditórias que seriam a realidade e o desejo em se tornar alguém que ele não é.

domingo, 26 de agosto de 2018

Mater

"Mater", de Pablo D'Alo Abba (2017) Adaptação cinematográfica da peça teatral do dramaturgo argentino Claudio Tolcachir, "O vento num violino", "Mater" é uma produção independente argentina, que se utiliza de personagens marginais para falar de maternidade e paternidade. Celeste e Lena são um casal de lésbicas, que alimentam o sonho de terem um filho. A mãe de Celeste, Dora, trabalha como diarista na casa de Dario, jovem de classe média alta, que mora com a sua mãe possessiva. Mecha. Dario estuda, mas tem sérios problemas de auto estima e motivação. Sua mãe tenta desesperadamente fazer com que Dario tome um rumo na vida, sempre sem sucesso. O caminho de Dario cruza com o de Lena e Celeste: elas o obrigam a engravidar Celeste, ameaçando-o com uma faca. Mas o inesperado acontece: com o nascimento da criança, Dario quer assumir a paternidade. O roteiro da peça daria um ótimo exemplar de novela mexicana. Com uma trama mirabolante, o filme funcionaria muito melhor nas mãos de Almodovar. Mas o cineasta Pablo D'Alo Abba levou o filme a sério, e a receita não funcionou. Tem horas que a gente quer rir, mas aí percebe que não era para ser engraçado. E isso permeia toda a trama, uma vez que Mecha, a mãe de Dario, parece saída dos filmes de Almodovar, por conta de sua performance e sua caracterização. O desfecho então, virou uma loucura total. Parece comédia. Uma pena, pois o filme tinha material para levantar questionamentos sobre relação pais e filhos, e sobre o desejo de ter filhos mesmo que os pais sejam totalmente, figuras marginalizadas.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Verão de 84

"Summer of 84", de François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell (RKSS)(2018) Segundo longa do trio canadense que realizou em 2015 o super cult retrô "Turbo Kid", o filme "Verão de 84" é uma festa para fãs de "Stranger things" e outros filmes nostálgicos que revisitam os anos 80 com muitas referências pop, assim como foi com o recente "It, a coisa". Claro que não podiam faltar a cidade do interior, os meninos de bicicleta, as casas do subúrbio, a trilha sonora repleta de sintetizadores, as cores hiperrealistas e por último, um assassino que mata adolescente. Logo na primeira cena, o filme faz alusão ao clássico "A hora do pesadelo": vemos uma menina pulando corda em frente à uma casa. Uma bicicleta passa, e nela está Davey, o adolescente que acredita que qualquer um pode ser um serial killer naquela vizinhança. Ao ouvir uma notícia de que 13 garotos desapareceram na regi!ao, ele acredta que o assassino possa ser um policial que mora na frente de sua casa, Wayne. Davey junta seus 3 amigos e o grupo tenta descobrir provas que incriminem o policial. Além dos filmes cults doa nos 80, o filme também presta homenagem à "Janela indiscreta", afinal, e impossível não associar ao filme quando vemos personagens de binóculos espionando cada passo do vizinho da frente. O filme é divertido, com excelente fotografia e trilha sonora que evocam imediatamente à época. O que estraga o filme, é a sua longa duração, afinal, o filme é uma brincadeira, e ter 105 minutos, me pareceu exagerado. Mas o que salva o filme, de verdade, de ser algo mais do mesmo, são os seus últimos 20 minutos. O filem muda radicalmente de atmosfera, saindo de uma diversão de garotos meio "Conta comigo"para ir numa linha slasher qual e tal 'Sexta-feira 13". Realmente surpreende. Os meninos são ótimos, e super vale assistir com os amigos. O filme foi exibido em Sundance 2018.

Pornôcracia- As novas multinacionais do sexo

"Pornocratie: Les nouvelles multinationales du sexe ", de Ovidie (2017) Contundente documentário francês que faz uma análise sobre o declínio das Produtoras que produzem conteúdos pornôs. Nos últimos anos, muitas produtoras fecharam, e as atrizes pornôs, para se manterem em atividade, foram obrigadas a praticar cenas de sexo cada vez mais bizarras e hardcores. O motivo dessa decorrada do pornô, foi o surgimento de sites que apresentam conteúdos gratuitos, como o Youporn, RedTube, Porntube, etc, os chamados "Tubes". Eles são sites com conteúdos piratas, roubados de produtoras com conteúdos pagos, e também, postagens amadoras. Nunca se consumiu tanto conteúdo pornô como hoje em dia, mas 95% advém desses sites gratuitos. O filme apresenta também a explosão de sites de Live Cams, que contratam milhares de modelos para fazerem sexo via webcam, ganhando mixarias, mas rendendo lucros milionários para os seus donos. O filme entrevista atrizes pornôs, visita exposições de feiras de sexo, e viaja pela Hungris, Praga, Nova York, Luxemburgo, que são paraísos dos pornôs. O parte final do documentário, apresentando modelos colombianas e romenas ( países que cedem grande maioria das modelos de webcams) é bem deprimente. Tem um momento que uma das jovens diz que come fezes e bebe mijo por uns míseros trocados.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Matrimônio italiano

"Puoi baciare lo sposo ", de Alessandro Genovesi (2018) Adaptação cinematográfica de uma peça Off-Broadway, que por sua vez já brincava com o grande sucesso do Cinema "O casamento grego/My big fat greek wedding", "Matrimônio italiano" é uma simpática comédia de erros Lgbts , repleta de situações de vaudeville. Paolo e Roberto são namorados, e moram em Berlin. Todo feriado de Páscoa, Roberto retorna para a sua casa natal, na cidade de Civita, para passar uns dias com os seus pais. Mas dessa vez, Paolo deseja ir junto de Roberto, e pede para o namorado anunciar que eles irão se casar. Roberto reluta, mas diante da insistência do namorado, consente. Mas existe um problema: O pai de Roberto é prefeito da cidade, e seus pais não sabem que ele é gay. Os atores estão ótimos, e mesmo trabalhando em cima de caricaturas, conseguem ser divertidos. Tem a mulher que é apaixonada por Roberto; tem a mãe do noivo que é compreensiva; tem o melhor amigo que se revela um travesti; e o melhor de tudo: o filme termina com um inusitado número musical, ao som de "Don't leave me this way", com todos os convidados cantando e dançando, como em um grande musical da Metro. A cena é bizarra, cafona, hilária. E na última cena, que tal ver um bode falando "Bye"???? Morri de rir.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Todas as cidades do norte

"Svi severni gradovi", de Dane Komljen (2016) Escrito e dirigido pelo Cineasta Sérvio Dane Komljen, que também atua no filme, "Todas as cidades do norte" é um filme experimental, sem diálogos, cuja concepção partiu de um fato ocorrido na vida pessoal de Dane Komljen. Durante um passeio com um amigo, na região de Montenegro, quase fronteira com a Albânia, o cineasta deu de cara com a construção abandonada de um enorme hotel. Ali, ele encontrou pessoas dormindo no prédio abandonado. Dane Komljen resolveu montar o seu acampamento ali, e ficou durante um tempo observando tudo à sua volta. O filme não tem um roteiro lógico, e sua narrativa é totalmente abstrata. 2 homens moram em um prédio abandonado. Eles dormem, passam o dia sentados, observando a paisagem. Lavam roupas, tomam banho, comem. E assim segue a rotina deles. Um terceiro homem surge, mas a rotina se mantém a mesma. O filme sugere algum teor de homoerotismo, mas isso não se desenvolve. Com quase 100 minutos, o filme é um exercício hermético e praticamente insuportável de ser assistido em toda a sua duração. Mesmo assim, conseguiu ganhar alguns prêmios internacionais, e até mesmo, entrar na Competição do Festival de Locarno.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Unicórnio

"Unicórnio", de Eduardo Nunes (2018) O roteirista e Cineasta Eduardo Nunes adaptou dois contos de Hilda Hilst, "Unicórnio" e "Matamoros", e os transformou em um enredo único. Nesse seu segundo longa-metragem, Nunes novamente coloca como protagonistas 2 personagens femininas fortes, interpretadas por Patricia Pillar e Bárbara Luz. Em seu filme anterior, "Sudoeste", também tínhamos um embate emocional entre uma adulta e uma criança, interpretadas por Simone Spoladore e Raquel Bonfante. Eduardo Nunes é um grande aficcionado pelo Cinema de Tarkovsky, e isso é nítido em toda a sua obra. Outro entusiasta do Cineasta russo, o húngaro Bela Taar, acaba sendo também uma forte inspiração para o filme. Impossível não nos remetermos à obra-prima "O cavalo de Turim". No lugar do Cavalo, entra um Unicórnio. O poço é uma presença constante em ambos os filmes, é um lugar onde a água representa a vida, o elemento que mantém os personagens vivos, a motivação para sair de casa. Belamente fotografado por Mauro Pinheiro, o filme alterna locações deslumbrantes, captadas com cores fortes, na Região do Parque Estadual dos 3 picos, na região serrana do Rio, com um ambiente frio e asséptico de uma instituição psiquiátrica. O filme tem como conceito fazermos acreditar que estamos assistindo a uma fábula, um conto de fadas. O seu prólogo parece saído de Chapeuzinho Vermelho, outra provável leitura que o filme se faz pensar. A maçã é substituída pela Romã, um fruo proibido, vermelho, suculento. Mas quem representa o Lobo mau e a Chapeuzinho vermelho na história? Aí reside a surpresa na história. Mãe e filha habitam uma casa rupestre no alto de um morro. Na rotina das duas, elas enchem o balde de água, lavam roupas, cozinham. O marido está internado em uma instituição psiquiátrica ( Zé Carlos Machado). Sozinhas, elas têm a vida alterada quando um homem vem morar na casa do lado, um criador de cabras ( Lee Taylor). A sua presença desperta sexualmente o olhar da filha, que encontra na mãe uma rival para as investidas se sedução. Um filme onde a técnica prevalece ( fotografia, edição de som), o roteiro caminha lento, fazendo do filme uma experiência cinematográfica para Cinéfilos, por conta de seu hermetismo e imagens metafóricas, repletas de simbolismos religiosos e metafísicos ( muito particular ao cinema de Tarkovsky). O filme participou dos Festivais de Berlin e Festival do Rio.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O homem da caixa mágica

"Czlowiek z magicznym pudelkiem ", de Bodo Kox (2017) Premiada ficção científica polonesa, é uma homenagem ao Cinema de Terry Gillian, mais precisamente, "Brazil, o filme". Em um futuro burocrático, um homem misterioso surge desmemoriado. Ele vai trabalhar de faxineiro em uma grande Empresa, e lá ele conhece Goria, uma alta executiva. Entre eles, surge um romance improvável. Um dia, Adam encontra uma espécie de Rádio dos anos 50 em seu apartamento, e ele acaba sendo teletransportado para o ano de 1952, quando a Polônia vivia sob o regime comunista. Goria, sabendo do ocorrido, faz de tudo para resgatar o seu amado. Com impressionantes efeitos visuais, o filme traz uma narrativa muitas vezes surreal e fantástica, bem ao gosto dos fãs de Terry Gillian e de "Blade Runner", de quem ele também pega elementos emprestados. O roteiro é bastante complexo e confuso, e e mesmo me vi perdido em alguns momentos. No final, prevalece a história de amor. Curiosa produção com ótimos atores e fotografia estilizada.

domingo, 19 de agosto de 2018

Leather jacket love story

"Leather jacket love story", de David DeCoteau (1997) Cult do Cinema independente Lgbts americano, datado de 1997, "Leather Jacket love story' tecnicamente e narrativamente lembra bastante os filmes que a dupla Andy Warhol e Paul Morrisey filmaram nos anos 60: fotografia em preto e branco (rodado com filmadora 16 MM), personagens trangressores, diálogos fúteis e muitas cenas de sexo e nudez, envolvendo homens de couro, drag queens e artistas decadentes. Kyle, 18 anos, resolve sair de casa e seguir até Los Angeles, para dar voz ao seu talento de poeta. Ele frequenta um Café literário, comandado por drag queens. Ali, ele conhece Mike, um motoqueiro de 30 anos, por quem fica perdidamente apaixonado. O problema é que Mike curte um bondage e sado-masoquismo, e Kyle precisa aprender a lidar com esse lado selvagem do sexo. Mas Kyle é romântico, e sua paixão por Mike acaba sofrendo revezes. Repleto de cenas de fetiche, sado-masoquismo, masturbação, sexo grupal, o filme ignora completamente que existe o vírus do Hiv. Os personagens frequentam clubes do sexo, onde todos transam sem culpa e sem medo. O filme tem uma linguagem quase documental, e todas as cenas que envolvem sexo em clubes noturnos parecem absolutamente reais. O filme de uma forma geral é bem ruim e amador, mas por conta do seu visual totalmente low low budget, e pelo olhar cru sobre o universo gay sórdido e promíscuo de Los Angeles, vale muito como um registro de época, podendo chocar espectadores sensíveis.

Benzinho

"Benzinho", de Gustavo Pizzi (2018) Ettore Scola foi uma grande influência na minha formação cinéfila, por conta de seus dramas familiares envolvendo a classe média baixa operária italiana. Em filme como "Feios, sujos e malvados" e "Nós que nos amávamos tanto", nos apaixonamos pelos personagens absurdamente carismáticos e fanfarrões. Em "Benzinho", tive a mesma sensação de querer abraçar a todos que pertencem à família comandada por Irena (Karine Telles) e Klaus (Otávio Muller). Afinal, o que quer essa família? Um abraço já seria o suficiente. E assim como os italianos, como gritam essas pessoas! Moradores de um bairro pobre em Petrópolis, Irene e Klaus são pais de 4 filhos, todos homens. Tem Fernando (Konstantinos Sarris), de 16 anos, Rodrigo, de 10 anos, e os caçulas gêmeos, de 5 anos ( os gêmeos são filhos reais de Karine Telles e Gustavo Pizzi). Klaus é dono de uma papelaria, e Irene faz de tudo um pouco: vende quentinhas e jogos de lençol para casais, junto de sua irmã, Sonia ( Adriana Esteves), casada com o violento Alan (Cesar Troncoso). Irene está para se formar, e o casal está a anos construindo uma casa nova para a família. Um dia, Fernando é convidado a fazer parte de um time de handebol juniors na Alemanha. Esse evento irá desencadear uma montanha russa de emoções na família, principalmente em irene, que não consegue disfarçar seu medo e ansiedade pela ida do filho para o estrangeiro. Ela procura a todo custo lidar com o desapego, mas parece impossível. O roteiro, escrito pelo próprio Gustavo Pizzi com Karine Telles, apresenta uma gama de pequenos dramas, que fazem parte da rotina sofrida da família, com pitadas de humor e melancolia. Se fosse um filme americano independente, rapidamente a crítica local encaixaria o filme no gênero "Feel good movie" e o compararia à familia de loosers de "A pequena Miss Sunshine" (e olha que aqui também existe uma kombi vintage, só que vermelha!). O grande acerto do filme, foi lidar com uma roupagem simples e eficiente, sem grandes arroubos de técnica, e confiar toda a carga dramática nas mãos de atores excepcionais em suas performances. Karine Telles e Adriana Esteves são como um trovão~Que forças da natureza! Otávio Muller e Cesar Troncoso também não ficam longe, e todos têm pelo menos uma cena antológica. O jovem Konstantinos Sarris é a grande sensação do elenco, e que, com certeza, terá um belo caminho pela frente. A fotografia de Pedro Faerstein alterna Planos gerais emblemáticos e closes intimistas, sofridos. Entre momentos de poesia e a realidade nua e crua, o naturalismo do filme nos coloca ali, próximos a todos, como se fossemos aquele vizinho que está ali, acompanhando e testemunhando as pequenas batalhas diárias. Um momento para a história do cinema: A cena de Klaus e seu filho Rodrigo, comendo pudim de madrugada na cozinha, escondidos de Irene. O filme foi selecionado para o Festival de Sundance em 2018, e venceu os prêmios de Melhor filme latino-americano e da Crítica em Málaga

sábado, 18 de agosto de 2018

Ex-Pajé

'Ex-Pajé", de Luiz Bolognesi (2018) Escrito e Dirigido pelo Cineasta e e roteirista Luiz Bolognesi, também produtor do filme junto de Laís Bodanzky, "Ex-Pajé" ganhou Menção honrosa de melhor documentário no Festival de Berlin 2018, além do prêmio de melhor filme nacional no Festiva; "É tudo verdade". Uma frase dita pelo ex-Pajé Perpera Suruí resume a mensagem do filme: "Antigamente me consultavam como Pajé. Hoje em dia, os índios tomam aspirina.". Essa frase ecoa e surpreende durante os quase 85 minutos desse cruel documentário, que fala sobre o etnocídio, ou a morte cultural de um povo, no caso, os Paiter Suruí, uma tribo que habita a Floresta Amazônica em Roraima. O Documentário mostra imagens registradas em 1969, quando o Homem branco chegou na primitiva tribo que nunca havia tido contato com a civilização até então. Mas aí chegou a evangelização, a cultura dos brancos, e agora, quase 50 anos depois, a câmera de Bolognesi apresenta a mesma tribo totalmente aculturada, sem qualquer indício da cultura que um dia, já tiveram. A maioria se veste com roupas civilizadas, frequenta a Igreja evangélica, usa celulares, tablets, video-games. O filme tem como fio condutor o E-Pajé Perpera Suruí. Hoje em dia, sem falar português e sim sua língua nativa, ele trabalha na Igreja Evangélica e usa figurino de Ministro da Paz: camisa e calça social, sapatos. Ele teve que abdicar de toda a sua crendice religiosa e cultura da tribo, pois com a evangelização, o que ele pregava ( espíritos da floresta), foi considerado como culto ao demônio pela Igreja. Com imagens metafóricas, mostrando quase sempre o contraste surreal das culturas branca e indígena. Muitas cenas antológicas, e infelizmente, tristes, sobre o avanço da tecnologia na vida dos índios. A cena final, de Perpera na porta da Igreja evangélica com os índios pregando as palavras de Deus, mas o ex-Pajé olhando para a floresta, é muito tocante.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Christopher Robin: Um reencontro inesquecível

"Christopher Robin", de Marc Foster (2018) O meu maior erro foi ter visto antes "Adeus Christopher Robin", drama dirigido por Simon Curtis e tendo no elenco. Domhnall Gleeson e Margot Robbie, interpretando os pais de Christopher Robin. Nesse filme, acompanhamos a relação entre Christopher e seu pai, o escritor e ilustrador Alan Milne, criador dos personagens do Ursinho Pooh e seus amigos. Mas qual foi o problema? O grande drama do filme, é que Alan se apropriou das histórias criadas pela imaginação de seu filho Robin e seus amigos de pelúcia, tendo inclusive usado a imagem do filho para criar o menino Christopher Robin das historinhas de Pooh, como o melhor amigo dele. Resultado: As histórias bombaram no mundo todo, e Robin sofreu bullying em todos os lugares, pois acabara de se transformar numa celebridade, a ponto de brigar com seu pai e nunca mais querer saber das histórias de Pooh. Nesse filme da Disney, Ewan Macgregor interpreta Christopher Robin já adulto. Mas toda a sua história real foi ignorada. Foi escrita uma história fictícia em cima do mesmo personagem. Aqui, Christopher é um homem casado e pai da pequena Madeleine. Mas sua vida ficou cinza: seu trabalho consome muito do seu tempo, e ele praticamente não dedica nenhum minuto para a sua família. Resta a Pooh e seus amigos ressurgirem de suas memórias e trazerem o encantamento da vida novamente para Christopher. Achei que o filme seria um drama, e Pooh e amigos fossem parte da imaginação de Robin. Mas não: todos vêem os bichinhos, aderindo à puta fantasia Disney. Passei o filme todo não entendendo isso, e somente agora com a cabeça fresca, compreendi a intenção do realizador do filme, o cineasta Marc Foster, mesmo diretor de "A última ceia" e "O caçador de pipas", além de "Guerra mundial Z". Assim como "O pequeno Nicolau", o filme é para adultos nostálgicos. as crianças, creio, somente irão gostar porquê os bichinhos são fofos, mas a história é melancólica demais.

Talvez uma história de amor

"Talvez uma história de amor", de Rodrigo Bernardo (2018) Longa de estréia de Rodrigo Bernardo, adaptado do livro do escritor Martin Page, "Talvez uma história de amor" é uma Comédia romântica com sabor de filme americano. A São Paulo apresentada no filme e aonde a história acontece, pertence a um País de primeiro mundo: pessoas bonitas, bem sucedidas, prédios e escritórios luxuosos, muito glamour e festas. E na terça parte final, o filme se joga para os ares cosmopolitas de nova York, para onde segue o nosso personagem Virgílio (Mateus Solano). O que surpreende de verdade nesse filme, foi a capacidade da produção de escalar um elenco gigantesco de gente famosa, fazendo pequenas participações: Marco Luque, Thaila Ayala, Paulo Vilhena, Dani Calabresa, Nathalia Dil, Ana Rios, Bianca Comparato, Totia Meireles, Jaqueline Sato, João Cortês, Gero Camilo, Juliana Didone, Elisa Lucinda e do casting americano, Cynthia Nixon, a Miranda de "Sex and the city". Virgílio é um publicitário talentoso, mas tem um problema: é cheio de tocs, e como tal, um solitário. Mas ele é feliz à sua maneira Um dia, ao voltar para casa, ele escuta na sua secretária eletrônica ( ele é todo vintage e só usa aparelhos eletrônicos muito antigos), ele escuta a mensagem de Clara, uma mulher que diz que acabou o relacionamento deles. O problema é: Virgílio não sabe quem é Clara. Ele passa o filme todo então tentando descobrir quem é a moça. O filme aposta mais no romance do que na comédia, e para quem curte, o filme é uma boa pedida. Apesar de tantos comediantes no elenco, o filme não apela para piadas ou gags. São diálogos com humor, mas nada que provoque gargalhadas. O filme tem uma estética totalmente publicitária: fotografia, direção de arte, figurinos, trilha sonora, tudo bastante clean.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Vidas à deriva

"Adrift", de Baltasar Kormákur (2018) Prato feito para quem quer sair do cinema aos prantos, "Vidas à deriva" é baseado na história real de Tami Oldham (Shailene Woodley), e Richard Sharp (Sam Claflin), ocorrido em 1983, quando eles tinham respectivamente, 24 anos e 33 anos. Tami é uma americana que resolve viajar para o Tahiti sem lenco nem documento. Trabalhando com manutenção de iates, ela acaba conhecendo o iatista e aventureiro Richard, e ambos se apaixonam. Os 2 aceitam um trabalho, de levar um iate do Taiti até San Diego, mas no caminho, enfrentam um terrível furacão, que destrói a embarcação e os deixa à deriva no mar, entre a vida e a morte. O cineasta islandês Baltasar Kormákur é aficionado por filmes catástrofes: ele dirigiu o também filme de naufrágio "Sobrevivente", e também o americano "Everest", todos os filmes baseados em fatos reais. A atriz Shailene Woodley também atua como produtora do longa. Com excelentes cenas subaquáticas, e efeitos de ação espetaculares, o filem alterna entre o romance e um drama trágico. O roteiro alterna 2 tempos: passado e presente: o filem já começa com o barco já acidentado, e daí, vai e volta no tempo, entre o casal acidentado, e o casal se apaixonando. é uma narrativa arriscada, pois a cena do acidente em si somente acontece nos 20 minutos finais. Muita gente ficou puta com o plot twist, mas foi a forma que os roteiristas encontraram para acrescentar tensão ao filme. Fico imaginando a grande dificuldade que foi fazer esse filme, que tem quase 90% das cenas em alto mar, rodadas a mais de 2 horas de distância de terra firme, para dar a sensação claustrofóbica de isolamento. Grande performance de Shailene Woodley, comovente, e um trabalho incrível de maquiagem.

Namorando uma mulher

"Coming in", de Marco Kreuzpaintner (2014) Divertida comedia romântica alemã, dirigida pelo mesmo realizador do cult "Tempestade de verão". Tom Herzner (Kostja Ullmann, ótimo) é um famoso cabeleireiro assumidamente gay e fashion de Berlin. Dono de um Mega salão, ele é casado com o seu sócio e parceiro Robert. Um dia, um empresário diz querer investir na marca de Tom, mas quer que os produtos expandam para o público feminino. Para isso, Tom se oferece anonimamente para trabalhar em um salão cuja dona é a atrapalhada e romântica Heidi (Aylin Tezel, carismática). O que Tom não esperava, é que fosse se apaixonar por Heidi, e vice-versa. Com personagens simpáticos, principalmente o núcleo de amigos gays de Tom, o filme investe em uma comédia de erros, e espantosamente para um filme alemão, ele é engraçado e bastante romântico, seguindo uma fórmula totalmente americanizada, sem que isso signifique baixa qualidade. é um deliciosos passatempo sessão da tarde, que discute gêneros, gostos, saídas e entradas de armários. Trilha sonora pop, ritmo gostoso, bom elenco.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Elefante

"Elefante", de Pablo Larcuen (2011) Premiado curta espanhol, é uma excelente parábola sobre o isolamento social e profissional. Uma fantasia muito criativa, com ótima maquiagem. Manuel é um homem de meia idade, que trabalha de forma burocrática em uma empresa. Ele somente tem um amigo. Sua família o ignora por completo. Um dia, ao visitar o médico, ele recebe um terrível diagnóstico: está se transformando em um elefante. Com apenas 9 minutos, o filme apresenta um roteiro inteligente, muito bem construído com imagens quase surreais. Tecnicamente perfeito: fotografia, efeitos, trilha sonora , edição e o trabalho quase caricato dos atores, lembrando o universo de Jean Pierre Jeunet. O desfecho é cruel, mas ao mesmo tempo, poético. https://vimeo.com/86701482

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Canastra Suja

"Canastra suja", de Caio Soh (2017) Formidável drama visceral, potencializado pelo trabalho excepcional de todo o elenco: Adriana Esteves, Marco Ricca, Pedro Nercessian, Cacá Ottoni (em complexa composição como uma jovem autista), Bianca Bin, David Junior e participações de atores consagrados como Millen Cortaz, Gustavo Novaes, Emilio Orciollo Netto, Bruno Padilha. Ambientado no subúrbio carioca, acompanhamos a difícil rotina de uma família de classe média baixa e a sua luta para sobreviver, dentro e fora de casa. O pai, Batista (Marco Ricca), é um alcóolatra e trabalha como manobrista em um Hotel na Barra. Sua esposa é a dona de casa Maria (Adriana Esteves), viciada em anabolizantes e que tem como amante o namorado de sua filha, Emilia (Bianca Bin). Os outros 2 filhos são o desajustado Pedro (Pedro Nercessian), que não estuda e também trabalha como manobrista no mesmo hotel de seu pai, mas é mandado embora após acusação de roubo. Rita é a filha mais nova, interpretado com maestria por Cacá Ottoni, sem esvair na caricatura de uma autista. O filme foi alvo de uma polêmica na mídia e nas redes sociais por conta de uma crítica feroz de um grande jornal, e muito por conta disso, teve a sua carreira comercial abreviada. Uma injustiça, pois a grande maioria das críticas elogiaram bastante o filme, considerando-o um dos melhores filmes do ano. O roteiro, escrito pelo próprio Caio Soh, revela de forma corajosa, a tentativa de sobrevivência de pessoas comuns diante de uma selva de pedra sem luz no fim do túnel. O suspense crescente, diante de uma eminente tragédia para todos os personagens, só fazem aumentar o interesse do espectador pelo filme. Ótima direção, direção de atores e dá para perceber que muita gente que participa do filme é formado por não atores, mas o tom naturalista do filme torna tudo bastante coeso. Particularmente, adorei a cena de Pedro Nercessian com um personagem que acontece dentro de um quarto. Que talentos!

Paciente Zero

"Pacient zero", de Stefan Ruzowitzky (2018) Conturbada produção inglesa, rodada em 2015 mas somente agora liberada para veiculação em streaming. Mais uma vez, o mundo é dominado por zumbis. Os sobreviventes que não foram contaminados, vivem em um subsolo, misturado a uma base militar. Entre eles, estão os Cientistas Gina (Natalie Dormer) e Scooter (John Bradley) e Morgan, um homem infectado mas que não contraiu a doença, e que tem o dom de falar com os zumbis, que se transformaram numa raça inteligente. Eles precisam encontrar o paradeiro do paciente zero, e assim, tentar descobrir a cura da doença. Mas os infectados também estão em busca do paciente zero, pois não querem que a doença seja erradicada. Depois de "The walking dead", ficou difícil encontrar um filme de zumbis decente. Esse aqui é ok, tem um roteiro curioso, e de quebra, 2 dos atores mais queridos de "The game of thrones", Sam e Marjorie. Stanley Tucci interpreta um líder dos zumbis.

Entre irmãs

"Entre irmãs", de Breno Silveira (2017) Adaptação do livro "A Costureira e o Cangaceiro", da escritora de Recife Frances de Pontes Peebles, é um épico melodramático dirigido pelo mesmo realizador de "Dois filhos de Francisco"e "À beira da estrada". Em todos os filmes de Breno Silveira, existe uma presença forte da trilha sonora em quase toda a narrativa, e também, destaque para uma fotografia vibrante e poética, privilegiada quase sempre por belos planos de entardecer, sua marca registrada. Com fortes protagonistas, o filme discute temas atuais como machismo, homossexualismo, luta de classes, porém ambientado no ano de 1930, em pleno Governo Vargas, que pregava sua ira contra os Cangaceiros. Na cidade de Taquaritinga do Norte, no sertão de Pernambuco, vivem as 2 irmãs, Luiza ( Nanda Costa) e Emília ( Marjorie Estiano). Pobres e órfãs, elas moram com a tia Sofia, que lhes ensina o ofício da costura. Durante uma brincadeira, Luiza cai da árvore e fica com o braço atrofiado. ela se torna amargurada, enquanto que Emilia sonha com um casamento perfeito. Crescidas, elas continuam a luta diária, quando cangaceiros surgem na região e sequestram Luiza, para que ela seja a costureira do grupo. A tia morre de sofrimento, e Emilia acaba se casando com Diego (Romulo estrela), filho do homem mais rico da cidade grande. No entanto, Emilia sofre com o casamento: sua sogra lhe cobra etiqueta, e ela descobre que Diego tem um segredo : é apaixonado por Felipe, um ativista contra o Governo de Vargas. Com uma duração excessiva de 160 minutos, explicado pelo fato do filme ter virado uma minissérie na Globo, "Entre irmãs" tem muitos personagens e tramas paralelas, que poderiam ter sido limadas da versão para o cinema. O que pesa em seu favor, é o excelente trabalho do elenco, em especial, Nanda Costa, Marjorie Estiano e Julio Machado, no papel do cangaceiro Carcará, além da participação de Letícia COlin, e um personagem solar. A curiosidade foi que durante o tempo todo, me lembrava do filme "A cor púrpura", de Spielberg, por conta de algumas similaridades na trama.

domingo, 12 de agosto de 2018

Megatubarão

"The Meg", de Jon Turteltaub (2018) Desde que Spielberg lançou "Tuubarão" em meados dos anos 70, o mar nunca mais foi o mesmo. De lá para cá, tivemos Piranhas, Orcas, Bacalhaus, Bacurau, Polvos gigantes, monstros marinhos e claro, uma centena de filmes protagonizados por Tubarões assassinos. Quando o Canal de tv a cabo Sy Fi lançou a franquia "Shaknado", os predadores brancos perderam totalmente a moral. Teve até uma versão de Tubarão fantasma. Agora, com co-produção chinesa, esse blockbuster, ambientado na Tailândia e em Shanghai, mostra um Megalodonte, o último dos tubarões pré-históricos, com tamanho superior a 70 metros. Ele surge para aterrorizar a equipe científica marinha comandado por chineses e com ajuda de americanos, entre eles, Jonas (Jason Statham), uma espécie de mercenário tipo Indiana Jones que é acionado para tentar salvar vidas de um pequeno submarino submerso e ameaçado pelo megalodonte. Bom, como se vê, o roteiro é um absurdo só, e repleto de todos aqueles clichês de praia turística e que ninguém quer ir embora mesmo que com ameaças. O elenco é encabeçado também pela maior estrela chinesa, Li BingBing. O filme é um trash de luxo, os efeitos até que são bons e o desfecho homenageia o original de Spielberg, na cena da invasão da praia. Passatempo para ir com amigos e zoar.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

As fitas de Poughkeepsie

"The Poughkeepsie tapes", de John Erick Dowdle (2007) Lançado em 2008, "As fitas de Poughkeepsie" foi retirado imediatamente das salas de cinema dos Estados Unidos e banido em muitos países pela sua extrema violência. O filme é um Mockmentary ( falso documentário), nos moldes de "A bruxa de Blair", com sua narrativa de Found footage. Poughkeepsie é uma cidade próxima de Nova Yorl. O Fbi encontrou em uma casa abandonada, mais de 800 fitas com gravações de assassinatos promovidos por um serial killer, chamado de "Carniceiro do rio". Policiais, parentes, e vários outros profissionais dão entrevistas acerca d material que é visto pelo Fbi. O filme então, alterna esses depoimentos com as cenas das fitas, rodadas pelo próprio assassino, mostrando o sequestro, assassinato e estupro de suas vitimas, tudo para parecer que sejam "snuff movies", assassinatos reais. Inclusive, existe uma cena em particular, que é das mais angustiantes e bizarras que já assisti. Uma vítima, sabendo que vai morrer, implora pela vida, dentro de um carro. Em seguida, a vemos amarrada e amordaçada, e o assassino vem se rastejando como uma aranha até ela, até enfiar 2 espetos em sua garganta. É aterrorizante. O filme só não é melhor, porque alguns dos atores que dão depoimentos, como se fossem profissionais reais, estão muito canastrões, prejudicando a verossimilhança do que é apresentado como científico. Mesmo assim, para quem curte filmes de serial killers, é imperdível. Obs: Não tenho como indicar esse filme para ninguém, É cruel, violento, e proibido para pessoas sensíveis. O Cineasta John Erick Dowdle depois rodou a franquia "Quarentena" e o terror "Demônio".

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Yonlu

"Yonlu", de Hique Montanari (2017) Emocionante drama baseado na história real do adolescente Vinicius Gageiro Marques, nome artístico Younlu, músico que se suicidou aos 16 anos de idade, incentivado por internautas num fórum de potenciais suicidas. Se utilizando de ficção, animação, documentário e linguagem de video-clip, o roteirista e cineasta Hique Montanari recebeu o Prêmio Abraccine da Melhor Filme Brasileiro na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Repleto de referências cinematográficas, "Yonlu" é um filme que se apropria de linguagem pop para se aproximar dos jovens, e fazer um alerta para que se busque ajuda no caso de depressão. Younlu sofria de depressão. ele se trancava no quarto e ali, ele compôs mais de 60 canções, todas cantadas em inglês. Poliglota, ele morou em Paris dos 3 aos 7 anos de idade. Ele sofreu grande influência intelectual de seus pais: a mãe professora e psicanalista, o pai, ex-secretário de cultura. A direção de Hique é bastante criativa. A fotografia de Juarez Pavelak diferencia os vário mundos de Yonlu: o ambiente esverdeado da internet, a vida real em cores mais escuras, e uma cor mais vibrante pro momento de fantasia, como por ex, quando Yonlu se vê como um astronauta. O filme merece ser visto por todos, e ser um grande impulsionador de debates acerca da depressão entre os adolescentes e de que forma tratar essa doença. Outro tópico a ser discutido, é a influência de internautas e sites na vida de pessoas fragilizadas emocionalmente. excelente performance do ator e músico Thalles Cabral, do seriado "Manual para matar zumbis", e também, interpretou o filho de Mateus Solano na novela "Amor à vida".

Boys of life

"Boys of life", de #Blue_heart (2017) Compilação de 3 curtas metragens, protagonizados por modelos convocados pelo Instagram, "Boys of life" é um projeto que surgiu com a proposta de apresentar um mundo homoerótico e voyeurístico para espectadores que apreciam a nudez masculina e corpos esculpidos. Sem apelar para pornografia, os filmes contam com os modelos # acrodave, #Joshuabrickman e #sethfornea. Os filmes apresentam os modelos em cenas domésticas, na praia, tomando banho, malhando, tudo aquilo que existe nas campanhas da grife "Abercrombie", porém com nudez explícita. Bela fotografia, trilha intimista e uma narração em off entoando poemas de Pablo Neruda.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Billionaire boys club

"Billionaire boys club", de James Cox (2018) Dramatização de um crime ocorrido em Los Angeles em 1983, "Billionaire boys club" ficou famoso por ser o penúltimo filme protagonizado por Kevin Spacey, e que teve a sua carreira comercial e de distribuição destruída pela reputação do ator, acusado de assédio sexual. Os produtores tentaram tirar o máximo de cenas do Ator na edição final, mas foi impossível, pois seu personagem é peça chave na história. Kevin Spacey é Ron Levin, um investidor que cai na lábia de uma dupla de jovens amigos, recém formados em Harvard: Joe Hunt (Ansel Elgort, de "Baby Driver") e Dean Karmin (Taron Egerton, de "Kingsman"). Os dois amigos são ambiciosos e querem se tornar ricos. Para isso, criam um Club, "Billionaire boys club", onde os jovens ricos investem dinheiro em ouro, com a promessa de enriquecerem em 3 semanas. Só que isso não acontece: Joe e Dean torram o dinheiro em festas , mulheres etc e os investidores passam a cobrar o dinheiro investido. Em um beco sem saída, os garotos apelam para o crime. Com tantos problemas de edição, o filme acabou prejudicado. As performances do trio principal, Spacey incluso, não está boa, e todos parecem estar no automático. A direção de arte, se comparado com "O lobo de Wall Street", que trata quase que do mesmo tema, perde feio em termos de luxo e glamour. O filme é sem ritmo, longo, e muitos personagens paralelos, como a namorada de Joe, ficam meio que sobrando. De bom mesmo, só a trilha sonora, com clássicos da época, e a participação de Rosanna Arquette, que andava sumida.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

O desmonte do Monte

"O desmonte do monte", de Sinai Sganzerla (2017) Excelente documentário realizado por Sinai Sganzerla, filha do lendário casal do Cinema marginal, Rogerio Sganzerla e a atriz e cineasta Helena Ignez. O filme me fez lembrar do recente "A capital da demolição", que mostrava o absurdo da derrubada do icônico Palácio Monroe, em 1975, no Rio de Janeiro, para dar lugar às obras do metrô. O que difere os 2 filmes, é que Sinai quer trazer a sua narrativa para um público mais amplo, principalmente, os jovens: a trilha sonora mescla uma trilha pop com música clássica, indo até a acordes de Bernard Hermann em "Um corpo que cai". Tudo narrado com vigor, ironia e melancolia por Helena Ignez, em uma voz hipnótica. O morro do Castelo foi um marco fundamental para o surgimento da Cidade do Rio de Janeiro, chamada de Sebastianópolis. Habitada por índios, os portugueses e franceses aqui chegaram, e logo dizimaram a população indígena, assumindo o ligar. Ali, construi-se Igrejas, habitações, etc, sendo logo tomada por casas populares. Reza a lenda que nos subterrâneos do morro, os jesuítas enterraram tesouros. Com o passar dos anos, o desejo de destruir o Morro vem crescendo. Muitos consideravam ele nocivo ao desenvolvimento da cidade, e também tinha a questão da insalubridade, argumento usado para destituir os moradores pobres do local. Assim, em 1922, o prefeito do Rio de Janeiro resolve mandar derrubar o morro, desalojando milhares de famílias e destruindo construções históricas. Havia também a proximidade da Exposição comemorativa do centenário da criação da cidade, e o morro tinha que ser destruído o quanto antes. Fez-se empréstimo milionário a bancos estrangeiros. Parte d aterra do morro foi realocada para os bairros da Urca, Jardim Botânico. O filme critica a especulação imobiliária, desalojamento dos pobres, supremacia dos ricos e também a escravatura. Em determinando momento, a narração diz que o Brasil foi o primeiro País a importar negros da África, e o último a abolir a escravidão. Com um impressionante acervo de fotos e videos, além de registros em áudios, é um filme obrigatório e que deveria ser exibido em todas as escolas e faculdades.

Sozinho

"Alone", de Brock Torunski (2013) Premiado curta canadense, realizado com muito pouca grana e com uma atmosfera inquietante. O filme nos apresenta a um jovem homem de negócios, que há anos, é o último sobrevivente da Terra. Ele tenta viver a vida normalmente, e para não enlouquecer, ele tem pensamentos existencialistas. Simples na realização, e com uma boa idéia, mesmo que batida, bem realizada. O desfecho, em aberto, provoca o espectador, e o deixa à vontade para entender o que bem quiser. https://www.youtube.com/watch?v=wbTc81JmQTs

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O nome da morte

"O nome da morte", de Henrique Goldman (2018) Drama baseado no livro “O Nome da Morte: A história real de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas” de Klester Cavalcanti, narra a impressionante história do assassino de aluguel Júlio Santana, que de 1971 até a sua aposentadoria em 2006, matou 492 pessoas, registradas friamente em um caderno. O interessante da narrativa, é que o filme procura não demonizar Júlio, apresentado-o apenas como um assassino cruel ( apesar de, em sua trajetória, ele ter matado todo tipo de gente, desde estupradores, ladrões, devedores, etc, sem distinção de sexo ou idade). Júlio (Marco Pigossi) é um homem atormentado pela pobreza de sua família, pelo conflito moral da religião, a quem ele é devoto, sua paixão pela esposa (Fabiula Nascimento) e filhos. O que ele quer, é proporcionar conforto para todos que ele ama. Júlio foi levado pelo mundo do crime pelo seu tio Cícero ( André Mattos), que também é pistoleiro. Seduzido pela possibilidade de ganhar dinheiro, logo Júlio deixa de lado a tormenta de matar pessoas (Cícero diz a ele que basta rezar 20 Aves-Marias após o crime). Com bela atuação dos atores principais, o filme tem boa atmosfera, montagem e trilha sonora. Alguns momentos achei bruscos, principalmente as reviravoltas de alguns personagens, mas nada que prejudique o entendimento do filme.

Mamma Mia! E lá vamos nós de novo

"Mamma Mia! Here we go again", de Ol Parker (2018) O Cineasta inglês Ol Parker, que dirigiu os 2 filmes "Hotel Marigold", é um expert em lidar com grandes estrelas e casting enorme. e esse é um dos grandes trunfos dessa continuação do sucesso de 5 anos atrás. O elenco agora é acrescido do talento de Andy Garcia, Cher e um adorável elenco que interpreta a todos os personagens mais jovens: Lilly James ( no papel de Meryl Streep), Alexa Daves e Jessica Keenan Wynn ( Lilly James e Christine Baranski), além de Josh Dylan ( Stellan Skaasgard), Jeremy Irvine ( Pierce Brosnan) e Hugh Skinner ( Colin Firth). A trama é bem simples, ingênua até. O filme começa com Sophie (Amanda Seyfried) reinaugurando o Hotel de sua mãe, Donna, recém falecida. Para isos, ela convida a todos, mas os conflitos surgem: muitos não podem ir, cai uma tempestade que isola a ilha. Paralelo, voltamos em flashback para contar a história de Donna ( Lilly James) e seu romance com os 3 pais de Sophie, e como ela foi parar na Ilha. Óbvio que esse filme é proibido assistir para quem odeia musicais ou músicas do Abba. Para fãs, irão se deliciar com o elenco cantando músicas famosas e outras nem tanto do grupo sucesso. Cher no final, cantando "Fernando", é um plus! O desfecho é emocionante. Muita gente que assistiu ao filme anterior, n!ao gostou dessa continuação. De fato, não precisava ter, mas como o primeiro arrecadou uma fortuna, os produtores não pestanejaram. Pelo menos, não fizeram feio. Belíssima fotografia do mestre Robert D. Yeoman, fotógrafo queridinho de Wes Anderson.

domingo, 5 de agosto de 2018

Jonathan

"Jonathan", de Piotr J. Lewandowski (2016) Emocionante drama alemão, vencedor de vários prêmios internacionais. Ambientado na zona rural da Alemanha, o filme narra a história do jovem Jonathan, que trabalha na fazenda de sua família. ele mora com seu pai, Burghardt, que está com câncer terminal. Martha, a tia de Jonathan, guarda rancor de Burghardt, acusando-o de ser responsável pela morte da mãe de Jonathan. Surge um antigo amigo da família para visitar o pai de Jonathan, e Jonathan descobre então que seu pai é gay e que a mãe dele se suicidou de desgosto. Jonathan precisa aprender a lidar com a sua homofobia. Sensível, esse drama tem uma linda fotografia e trilha sonora. Filmado com extrema delicadeza, trata de temas delicados com dignidade. O desfecho me lembrou o final de "Vidas amargas". Os atores estão ótimos, e existe uma carga grande de homoerotismo no filme, que também me remeteu ao filme de Sokurov, "Pai e filho", em uma relação quase incestuosa entre ambos.

sábado, 4 de agosto de 2018

Invisível

"Invisible", de Pablo Giorgelli (2017) Co-escrito e dirigido pelo mesmo Cineasta argentino do ótimo drama "As acácias", "Invisível" acompanha o dilema moral de Ely: adolescente de 16 anos, morando com sua mãe depressiva que não sai de casa. De classe média baixa, Ely estuda mas não sente nenhuma simpatia pela escola e estudos; trabalha em uma clínica veterinária e tem como amante o filho do dono, de quem engravida. Ely se apavora e resolve fazer o aborto, que é proibido na Argentina. O tema do aborto já rendeu grandes filmes, entre eles: "4 meses, 3 semanas, 2 dias", o curta nacional "A passagem do cometa", o ucraniano "A gangue". O curioso é que o filme foi lançado em 2017, e em 2018, a Argentina deu um grande passo a favor da legalização do aborto, tendo sido aprovado em primeira instância pelos deputados, e agora cabendo a decisão pela câmera do Senado. O filme tem interpretações naturalistas, e poderia ter tido a assinatura dos irmãos Dardenne, que apontam sua câmera documental sobre a protagonista, seguindo ela para todos os lugares, íntima. Um filme humanista, "Invisível" prefere não apontar uma ideologia, apesar da decisão final da protagonista. O filme critica a industria do aborto clandestino ( a cena da médica contando o dinheiro é de uma frieza arrebatadora) e o Governo argentino, que proíbe terminantemente o aborto. Bela atuação de Mora Arenillas no papel principal. O filme competiu em Veneza.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Speech & Debate

"Speech & Debate", de Dan Harris (2017) Adaptação do premiado musical off-Broadway escrito por Stephen Karam, "Speech & Debate" lembra muitos outros filmes feitos para os adolescentes de High School, entre eles, "O clube dos cinco". A história gira em torno dos eternos temas da juventude: saída do armário, bullying, baixa auto-estima, falta de comunicação com os adultos ( pais e professores), frustração profissional. 3 estudantes de uma High School em Oregon sofrem bullying e por isso, juntam suas forças para ressuscitar o "Speech and debate" na escola, uma espécie de palco onde as pessoas podem desabafar e expôr as suas questões para o público. Diwata é a garota que sonha em ser atriz, mas é relegada ao coral enquanto o professor escolhe meninas bonitas para os papéis principais; Howie acabou de se mudar pra cidade e se considera o único gay assumido. ele quer montar uma aliança gay, mas o Reitor proíbe; e Solomon é o nerd que quer ser jornalista investigativo, mas é censurado pelo professor e reitor. Misturando drama, musical e uma pitada de humor, é impossível não se lembrar da série "Glee", ainda mais que Darren Criss faz uma pequena ponta no filme, interpretando a si mesmo. ( Criss era um dos protagonistas do seriado). O filme sofre bastante com a falta de ritmo, com a performance meia boca de boa parte do elenco e a falta de carisma dos personagens. Mesmo no desfecho, faltou emoção. Para quem gosta de musical, as músicas não empolgam e não há coreografias. Vale como passatempo sessão da tarde.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Um salto para a felicidade

"Overboard", de Rob Greenberg (2018) Longa de estréia do roteirista e diretor de séries Rob Greenberg, "Um salto para a felicidade" é a refilmagem do clássico da sessão da tarde de 1987, dirigido por Garry Marshall com o casal Goldie Hawn e Kurt Russel. Estrelado pelo maior astro do México, Eugenio Derbez, e a comediante Anna Farris, da franquia "Todo mundo em pânico", a história gira em torno de Kate, viuva mãe de 3 filhos, que trabalha como entregadora de pizza e faxineira para sustentar a família. Seu sonho é se tornar enfermeira. Um dia, ela é chamada ara limpar o Mega Iate do milionário e playboy mexicano Leonardo ( Derbez), que é arrogante e a destrata. Na mesma noite, ele sofre um acidente no iate, caindo no mar e perdendo a memória. A notícia sai no jornal, e a família de Leonardo não fica sabendo do caso, apenas sua irmã, que quer controlar o Império da família e nega que conhece Leonardo ao visitá-lo no hospital. Quando Kate toma conhecimento do caso, resolve se vingar; ela diz que é esposa dele, e faz com que ele cuide da família e de casa. O curioso é perceber que Anna Farris é quase que uma sósia de Goldie Hawn, talvez seja até por isso que ela tenha sido escalada. Eugenio Derbez praticamente repete seu personagem no Blockbuster "Não aceitamos devolução", onde interpreta um homem que descobre a paternidade e se entusiasma com essa nova possibilidade. O filme tem Eva Longoria no elenco de apoio, como a melhor amiga de Kate. O filme tem alguns bons momentos, mas no geral, falta ritmo, talvez por conta de sua longa duração, quase 2 horas. O que diferencia esse do original é que houve uma troca nos sexos dos protagonistas. Goldie no filme de 1987 era quem interpretava a ricaça arrogante. E o personagem de Kurt Russel, pai de 3 meninos bagunceiros. As meninas aqui são comportadas. Vale como sessão da tarde, apesar de insistirem na veia sedutora de Eugenio Derbez, que sempre aparece em seus filmes cercado por mulheres semi-nuas fazendo o papel do pegador.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Everybody's talking about JAmie

"Everybody's talking about Jamie", de Jonathan Butterell (2017) Musical inglês apresentado em West End, Londres, desde 2017, faz um enorme sucesso e em breve ganhará versão cinematográfica. Esse filme é um registro filmado do musical e exibido nos Cinemas. O musical é inspirado na história real de Jammie Campbell, um adolescente de 16 anos, morador da pequena cidade de County Durham, e que sonha em ser uma Drag Queen, mas sofre com o preconceito das pessoas. Sua história inspirou um documentário da BBC em 2011, "Jammie, Drag Queen at sixteen". Jamie mora com sua mãe. Ele confessa para sua amiga muçulmana da escola, o seu sonho de ser Drag Queen. Ele tem o apoio de alguns amigos , de sua mãe e da melhor amiga dela. Mas o pai homofóbico e outros alunos que fazem bullying, além da professora, fazem com que Jamie tenha medo de se expor. Ao conhecer Victor, dono da loja de Drag Queens "Victor's secret", ele vai aos poucos cedendo ao desejo de se libertar, ainda mais quando ele descobre que Victor é na verdade, a famosa Drag Queen Loco Chanelle. Chanelle diz que Jamie precisa liberar a Drag Queen que existe dentro dele, e dar um nome à ela, para assim, ela poder se tornar realidade. Nasce "Mini Me", alter ego de Jamie. O texto é repleto de clichês sobre aceitação e homofobia, mas realizado com muita delicadeza, números musicais divertidos e um elenco formidável, principalmente, a atriz que interpreta a mãe, o ator que interpreta Victor e claro, John McCrea, no papel principal.