terça-feira, 31 de março de 2020

A próxima vítima

"A próxima vítima", de João Batista de Andrade (1983) Clássico policial brasileiro, baseado em fatos reais e com o roteiro escrito pelo célebre roteirista Lauro César Muniz. A direção é de João Batista de Andrade, realizador da obra-prima "O homem que virou suco". A fotografia é de Antônio Meiiande, que já tinha trabalhado em várias pornochanchadas e trouxe uma atmosfera de decadência à noite de São Paulo, no bairro do Brás. O elenco é de feras: Antônio Fagundes, Louise Cardoso, Gianfrancesco Guarnieri, Othon Bastos e os vencedores de ator coadjuvante e atriz revelação em Gramado, Aldo Bueno e Mayara Magri, estreando nas telas. Ambientado em 1982, durante as eleições para Governador, logo após a anistia, retrata, além do ambiente político, os assassinatos de prostitutas no bairro do Brás, por um serial killer. Os crimes são abafados pelas eleições. O repórter David (Fagundes) é enviado pelo seu redator chefe, Goulart de Andrade (interpretando a si próprio) para cobrir os crimes. David vai a contragosto, pois gostaria de cobrir as eleições. David é um homem honesto e politizado. Ele luta por melhores dias e também defende a classe marginalizada. Assim que ele conhece a jovem prostituta Luna (Magri), por quem se apaixona, ele abraça a matéria, pois teme que ela seja a próxima vítima. A delegado da polícia quer colocar a culpa no namorado de uma das prostitutas (Aldo Bueno), só pelo fato dele ser negro. David quer defendê-lo, dizendo que ele não é o assassino, mas a polícia insiste em prender o rapaz. Um filme bastante ousado para a época, retratando racismo, misoginia, machismo e jornalismo sensacionalista, além de policiais corruptos. O filme foi rodado durante a campanha eleitoral, quando os candidatos ao Governo de São Paulo eram: Franco Montoro, Janio Quadros, Lula, Ulisses Guimarães, entre outros. São imagens documentais, uma característica do cinema de João Batista de Andrade, que em todos os seus filme,s traz esse olhar investigativo, incluindo a população real nas imagens, como testemunhas oculares da ação. A mensagem que o filme traz é bastante pessimista: podem trocar o governo, pois tudo continuará igual. O elenco está excelente, muitos elogiam esse como sendo o melhor trabalho de Fagundes. Duas cenas antológicas: a que envolve Aldo Bueno sendo entrevistado por Fagundes, e a cena de Guarnieri em seu puteiro, cuidando de uma paciente ( ele também é dentista) enquanto as prostitutas ao fundo tranam na cama.

Aprendendo a andar de skate em uma zona de guerra (se você é uma menina)

"Learning to Skateboard in a Warzone (If You're a Girl) ", de Carol Dysinger (2019) Vencedor do Oscar de melhor curta documentário em 2020, o filme é um emocionante projeto feito e dirigido à mulheres. A equipe da diretora Carol Dysinger é quase que em sua totalidade formado por mulheres, com exceção da equipe local que ela teve que contratar no Afeganistão para poder obter permissão de filmar lá. Aliás, Carol somente conseguiu filmar lá por ter visitado o País nos últimos 15 anos, dando aula para jovens alunos que estudam cinema, e também por falar a língua local. O filme apresenta a ONG Skateistan, fundada em 2007 na capital do País, Kabul,. pelo skatista australiano Oliver Percovich. A grande missão de Oliver era promover educação e condições para que os alunos no futuro se tornassem cidadãos letrados e motivados a lutar por um País melhor. Desde 2007, mais de 8 mil crianças foram atendidas nas várias Ongs espalhadas em países de terceiro mundo. Metade dos alunos são meninas, e é esse o foco do filme. No Skateistan, as meninas aprendem a usar skate, não somente como esporte, mas também para que elas possam ter segurança, coragem para enfrentar o desafio de cair e se levantar, sempre, promovendo motivação e auto-estima. Ali também elas aprender a estudar, ler, se alimentam. Muitos pais são contra a ida das meninas até a Ong, pois o Afeganistão é conhecido por ser um dos países com piores condições de vida para as mulheres. A partir de determinada idade, as mulheres são proibidas de estudar e as meninas de saírem de casa. Segundo informações do filme, muitas menina são sequestradas na rua, estupradas e assediadas, e isso faz com que os pais a tranquem em casa. A família que tem uma filha sequestrada é desonrada. O filme é dividido em capítulos, como se fossem o passo a passo para se aprender a andar de skate, e é muito lindo acompanhar as mesmas alunas, que começam inseguras, no final, estarem com a auto-estima elevada. O filme é um sopro de esperança para uma nação desprovida de direitos humanos, especialmente para as mulheres, e as professoras, que ensinam o empoderamento, relatam que sofrem em casa o bullying dos irmãos. Hino à sororidade.

Jonas

Jonas
"Jonas", de Christophe Charrier (2018) Melancólico drama LGBTQI+ , que fala sobre homofobia e de que forma a violência contra os gays transforma a vida de pessoas. O filme de passa em 2 épocas, com os mesmos personagens: em 1997 e 2015. Jonas (Nicolas Bauwens e Félix Maritaud na fase adulta) é um adolescente que vive uma vida normal com seus pais e na escola. Quando um novo aluno surge em sua turma, Nathan (Tommy-Lee Baïk), a vida de Jonas se transforma por completo. Nathan se torna seu melhor amigo e juntos, experimentam a descoberta da homossexualidade. Diante da homofobia dos colegas da turma, os dois precisam manter a discrição. Mas Nathan quer conhecer a boite gay da cidade,e leva Jonas com ele. 18 anos depois, Jonas se tornou um homem rebelde. Trabalha como enfermeiro, mas vive transando com homens diferentes, que ele conhece no aplicativo Grindr. Quando ele avistar um rapaz, Leonard, pensamentos do passado retornam à sua mente, em um trauma que ele nunca conseguiu resolver. "Jonas" tem atuações ótimas de todo o elenco. A história é densa, triste e contém um certo suspense, pois somente no desfecho ficamos sabendo o que aconteceu no passado que transformou a vida de todos. Boa edição que alterna os tempos narrativos. O cineasta Christophe Charrier., que também escreveu o roteiro, traz uma história de dor e traumas com muita sutileza.

Pinóquio

"Pinocchio", de Matteo Garrone (2019) Encantado com essa obra-prima dirigida por Matteo Garrone, cineasta italiano conhecido por seus dramas viscerais sobre a violência em seu País, em filmes premiados como "Gomorra" e "Dogman". O seu "Pinóquio" tem uma mistura inusitada de realismo italiano com uma fantasia dark de Tim Burton, passando muito longe do colorido da versão da Disney. Tem momentos que parece ser puro Pasolini, e isso se explica porque Garrone quiz ser fiel ao livro de Collodi. A zona rural de uma pequena cidade da Itália atravessa um período de extrema pobreza, fome e desemprego e isso é visível na formidável direção de arte, fotografia e figurinos de uma equipe técnica impecável. A maquiagem e o trabalho de pós-produção merecem aplausos: transformaram o jovem ator Federico Ielapi em um boneco de madeira absolutamente crível. existe também um universo mágico no filme, com personagens fantásticos, como a Raposa, o Gato, o Juiz Gorila, a Governanta Caracol, que também têm uma caracterização nota 1000. Na estética mais pé no chão de Garrone, a Fada mora em uma casa, e não vem em uma bolha do céu. Os momentos de fazer o queixo cair no chão ficam reservados pra cena brilhante dos meninos se transformando em burro, e do burro Pinóquio voltando a ser boneco, em uma linda cena que evoca "A forma da água", de Guilhermo del Toro, que também fará em breve a sua versão de Pinóquio. A Baleia tem um visual assustador, mais próxima da ilustração do livro. Eu fiquei apaixonado pelo Atum falante. Outro destaque absoluto do filme vai para Roberto Benigni. Ele e seu histrionismo têm detratores no mundo inteiro, principalmente depois da sua performance ao vivo na entrega do Oscar que lhe rendeu Melhor filme por "A vida é bela". Mas Benigni envelheceu, e a sua performance como Gepetto é não mais que comovente. A curiosidade, todos sabem, é que Benigni dirigiu a sua versão de Pinóquio em 2002, em uma produção da Miramax de Harvey Weinstein, e o filme foi um retumbante fracasso. Benigni interpretou Pinóquio, e infelizmente nada funcionou no filme. Agora chegou a sua deixa para se redimir com Colloddi e finalmente, dar vida de forma digna a um dos personagens. Muito provável que o filme não seduza as crianças. É uma versão bastante crua e realista da história, apesar dos momentos de fantasia. A fotografia é escura e o filme tem uma atmosfera de eterno pesadelo. Mas para os cinéfilos, é um baita presente.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Após a morte dele

"After his death", de Lior Soroka (2017) Escrito e dirigido pelo Cineasta israelense Lior Soorka, "Após a morte dele" é um drama LGBTQI+ sobre uma filha que descobre que seu pai levava vida dupla. Após a morte do pai, Ayelet descobre, ao arrumar as coisas de seu pai, fotos dele com um outro homem. aparentando felicidade. Ao perguntar para sua mãe quem é o homem, ela desconversa. Obcecada, Ayelet finalmente descobre a verdade: o homem era amante de seu pai. Ela resolve mandar um email avisando a ele da morte do pai. Quando a mãe e seu irmão descobrem que ela convidou o amante do pai para o Shloshim, eles se revoltam. O filme lembra bastante uma outra produção israelense, 'O confeiteiro". São filmes que apresentam homofobia dentro do âmbito familiar, e o silêncio que se instala para evitar de se tocar no assunto. Bela atuação de Adi Bielskio, no papel de Ayelet.

Licença

"Shabaton", de Moshe Rosenthal (2016) Ótima dramédia israelense, premiada em diversos Festivais e dirigida por um estudante da Universidade de cinema e tv de Tel Aviv. Meir é um homem de meia idade, casado e pai de duas filhas adolescentes. Meir é professor e está para pedir licença do ano seguinte, e começar a trabalhar em casa. Frustrado com a sua vida rotineira, Meir decide pintar os cabelos em casa, mas suas filhas compram a tintura errada e seus cabelos ficam descoloridos. Meir, irritado com o bullying que sua esposa e filhas lhe fazem, resolve ir para a rua e comprar uma nova tintura. No caminho, ele encontra 3 estudantes que tiveram aula com ele, e que o convidam para a gravação de um video-clip deles em uma piscina particular em um clube. Em princípio arredio, Meir aceita e aos poucos, se deixa encantar pela rebeldia dos 3 rapazes, e principalmente, pela beleza da juventude deles. Bem dirigido, com ótimo roteiro e uma fotografia muito bonita, filmado todo d enoite, "Licença" tem como pano de fundo uma história de um homem que não teve coragem de sai do armário e viveu uma vida frustrada. A grande performance do ator Uri Klauzner, admirando com discrição a beleza e semi-nudez dos garotos, é comparável à cena final de "Morte em Veneza", uma ode à juventude.

O banqueiro

"The banker", de George Nolfi (2020) Filmaço com 3 super atores, Samuel L. Jackson, Anthony Mackie e Nicholas Hoult, baseado em uma incrível história real. “O banqueiro” foi produzido pela Apple Tvv + e teve a data de estréia nos cinemas americanos adiada da data prevista por conta de um processo judicial: a filha de um dos personagens retratados, Bernard Garrett, acusou o irmão dela de ter abusado sexualmente dela e da outra irmã. Com esse escândalo, o filme acabou tendo a sua visibilidade abafada. O que é uma pena, pois o filme é ótimo e a sua história, importante para o Movimento negro nos Estados Unidos. Foi através dos bancos comprados pela dupla Bernard Garrett (Anthony Mackie) e Joe Morris (Samuel L. Jackson), que a comunidade negra conseguiu fazer empréstimos para negócios próprios. Na época, 1965, os bancos selecionavam quem eles emprestariam o dinheiro, e os critérios de seleção geralmente recaíam sobre a raça e religião. Três anos depois, foi promulgada uma lei que proíbia a recusa de empréstimos por critérios de raça, religião. Mas o mais interessante do filme vem agora: como Bernard e Joe não podiam fazer empréstimos por serem negros, colocaram Matt, o funcionário deles que era branco (Nicholas Hoult) para se fazer passar por empresário e aí sim, fazer os empréstimos. Bernard e Joe se passavam pelos motoristas e empregados dele. OCmo Mtt não tinha nenhuma instrução a respeito de contabilidade e empréstimo, ele obteve aula de Bernard e Joe, que eram letrados em matemática. O roteiro do filme, mesmo narrado de forma acadêmica, conta direitinho essa história, contando com um super elenco carismático e uma certa dose de humor, deixando o filme saboroso de ser visto.

O acrobata

"L'acrobate", de Rodrigue Jean (2019) “O acrobata” é um drama LGBTQI+ repleto de perversões: golden shower, sadomasoquismo, bondage, voyeurismo. Como pano de fundo, a mais profunda solidão que dois homens possam experimentar na grande Metrópole urbana que é Montreal. Em 1993, o cineasta canadense Denys Arcand lançou a sua obra-prima “Amor e restos humanos”, baseada em peça de teatro de Brad Fraser e que expunha a vida de jovens canadenses das mais variadas camadas sociais experimentando a solidão de Montreal. “O acrobata” poderia ser uma dessas histórias, porém com mais visceralidade. Os atores Sébastien Ricard e Yuri Paulau se entregam em performances viscerais, em cenas de sexo explícito repletas de tesão e violência. Christophe é um homem de 40 anos, um bem sucedido empresário. Solteiro, ele está prestes a comprar um apartamento ainda em obra. Ao visitar o apartamento, ele encontra Misha, um acrobata russo sem teto, que estava se escondendo ali. A mãe de Chsristphe está hospitalizada e morrendo, mas ele dedica seu tempo vago para encontros com Misha no apartamento. Misha se acidentou durante uma apresentação e foi demitido da cia de ballet aéreo. Sem dinheiro e sem moradia, ele aceita a casa e comida que Christophe lhe oferece. Em uma relação dominada por Poder, sexo e violência, Christophe e Misga precisam descobrir as suas verdadeiras personalidades. Com 140 minutos de duração, o filme do cineasta Rodrigue Jean Remete demais ao cinema do Cineasta chinês Tsai Min Liang, com planos lentos, muitas imagens de paisagens urbanas contrastando com a solidão de seus personagens. Rodrigue Jean Não tem pressa de contar a sua história. É um drama muito doloroso, melancólico e arrebatador no nível do naturalismo e intimidade de seus personagens, que se abrem totalmente para o espectador.

Midway, batalha em alto mar

"Midway", de Roland Emmerich (2019) Quando esse filme foi lançado, me perguntei o que faria eu assistir a um filme que já foi feito inúmeras vezes, sobre o tema do ataque japonês à base naval de Pearl Harbor em 1941 e que foi decisiva para os Estados Unidos, até então uma nação neutra, entrar na Guerra? A resposta para mim é uma só: assistir à maior escalação de galãs da nova geração. Somente esse festival de homens bonitos fazendo pose consegue segurar um filme interminável, repleto de cenas de ataques e bombardeios que dão inveja a qualquer jogo de video-game. Não é qualquer filme que reúne bonitões da nova e antiga safra: Luke Evans, Darren Criss, Aaron Eckhart, Patrick Wilson, Dennis Quaid, Luke Kleintank e uma cacetada de figurantes que parecem saído de algum catálogo da Abercrombie. No time feminino, as mulheres também são todas lindas e exuberantes, mas a que mais me chamou atenção foi Mandy Moore, ex Atriz e cantora adolescente e que agora se tornou uma bela mulher madura. O diretor alemão Roland Emmerich todo mundo já conhece, e faz um tipo de cinema semelhante ao de Michael Bay: mais entretenimento, menos intelecto. E isso não é uma crítica, pois o cinema passatempo tem a sua função social e cultural. O problema aqui é a falta de profundidade nos personagens, apresentados aos montes. Quando você acha que vai entender um pouco dele, pimba, ele morre. E assim vai. Em pleno Séc XXI, o filme ainda insiste em retratar os japoneses como vilões caricatos. Existe até uma tentativa de humanizar os japoneses, mas ela logo se esvai. Em determinado momento, um personagem é elogiado pela sua missão e responde: "Não fiz mais do que minha obrigação. Fui contratado para matar japoneses".Clint Eastwood fez melhor em "Cartas de Iwo Jima", apresentando os dois lados da mesma moeda. O filme é baseado em historia real, e os personagens de fato existiram. Após a batalha de Pearl Harbor, os americanos promoveram, seis meses depois, a Batalha de Midway, também no Oceano Pacífico, decisiva para tirar o poderio japonês dos mares. Eu sempre choro em filmes que retratam a vida real e nos créditos finais apresentam fotos com os personagens reais. Mas aqui, nem ouve emoção. É um filme correto, mas lhe falta justamente a alma.

domingo, 29 de março de 2020

Notas de rebeldia

“Uncoerked”, de Prentice Penny (2020) Escrito, produzido e dirigido por Prentice Penny, que estréia no cinema após dirigir séries de sucesso, como “Insecure”. Prentice Penny é um cineasta afro-americano, e conta uma história de superação e busca de sonhos sob a perspectiva de uma família batalhadora em Memphis. Tennesee. Elijah (Mamoudou Athie) trabalha de manhã em uma mercearia na sessão de vinhos, e de noite, na churrascaria de seu pai, ponto de referência no bairro de periferia onde moram. O pai de Elijah, Louis (Courtney B. Vance) quer que Elijah dê continuidade ao restaurante da família. Mas Elijah tem um sonho: ser sommelier, e para isso, precisa fazer um curso caro em Paris. A mãe de Elijah, Sylvia, recém tratada de câncer, deseja que seu filho faça o que sempre sonhou, contrariando as expectativas do marido. Bom drama que parte de uma história já contada várias vezes, a da busca do sonho, e a luta repleta de obstáculos para almejar o sucesso. Mas o desfecho me surpreendeu, pois saiu totalmente do que eu esperava. O roteirista e diretor Prentice Penny. Não quis retratar uma história de Cinderela e sim, a vida como ela é. A luta de um jovem afro-americano que sonha fazer arte de um universo totalmente dominado pela classe branca e elitista, encontra uma metáfora e simbolismo forte aqui na história. Elijah saboreia e vai degustando o vinho como processo de entender o sue lugar no mundo. O filme tem um ótimo elenco de rostos desconhecidos, todos bastante talentosos. Para apreciadores de vinho, o filme será um verdadeiro presente.

Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia

“Bring Me the Head of Alfredo Garcia”, de Sam Peckimpah (1974) Clássico de Sam Peckimpah, inspirado na obra-prima de John Houston, “O tesouro de Sierra Madre”, ambos filmes que tratam do tema da ambição a qualquer preço. Sam Peckimpah rodou esse filme no México, depois de ter seu roteiro negado em diversas distribuidoras americanas. Peckimpah já estava com a relação desgastada com os produtores que insistiam em alterar a edição de seus filmes. Nessa experiência em filmar no México, foi a primeira e única vez que ele teve total controle sobre o corte final do filme. Em uma fazenda de um rico latifundiário, a filha do Chefe está grávida. Pressionada pelo pai, que quer saber quem a engravidou, ela acaba cita o nome: Alfredo Garcia. O pai então coleção a cabeça dele à prêmio e quem o trouxer morto receberá 1 milhão de recompensa. Vários assassinos e caçadores de prêmios vão em busca de Alfredo. Quando Bennie (Warren Oates), pianista em um bar decadente , mas outrora fuzileiro da marinha, descobre a recompensa, resolve ir atrás de Alfredo. Para sua sorte, sua amante, Elita, que é arrumadeira no bar, já teve um relacionamento com Alfredo e sabe onde ele está. Os dois saem em busca do paradeiro do rapaz, junto de todos que querem a recompensa. Sam Peckimpah já era considerado na época um esteta da violência: seu modo de filmar foi referência para muita gente, e claro que ele teve inspiração nos western spaghetti italianos, principalmente de Sergio Leone: muita câmera lenta, sangue jorrando, mortes exageradas e coreografadas. O Cineasta John Woo é um que assume ter se influenciado no estilo de Peckimpah. Ter filmado no México fez uma diferença brutal ao filme, dando-lhe um tratamento mais sujo, mais realista e B. Os atores Warren Oates, no papel principal, e Isela Vega, atriz mexicana no papel de Elita estão bárbaros. A personagem de Elita é explorada pelos homens, que insistem em querer estupra-la ou arrancar suas roupas. Muito provável hoje em dia o filme seria acusado de objetificar a personagem, mas esse filme é de 1974, quando essa questão passava batido pelos produtores e diretores.

Até logo, meu filho

“Di Jiu Tian Chang”, de Wang Xiaoshuai (2019) Um dos filmes mais emocionalmente devastadores que assisti nos últimos 10 anos, uma catarse de sensações que me fez chorar sem parar nos últimos 40 minutos, e escrevendo essa crônica, continuo em prantos. Co-escrito e dirigido pelo Cineasta chinês Wang Xiaoshuai, “Até logo, meu filho”, é uma aula de cinema, em todos os níveis. A começar pelo trabalho esplêndido de todo o elenco, os mesmos atores durante 30 anos de história, em um trabalho impressionante de maquiagem e de interpretação do elenco, que à medida que vai envelhecendo, vão pesado a expressão fácil e a postura corporal. O casal principal do filme, os atores Yaojun (Wang Jingchun) e Liyun (Yong Mei), ganharam respetivamente, os Ursos de Ouro de melhor interpretação masculina e feminina no Festival de Berlin 2019. Se tivesse prêmios para atores coadjuvantes, certamente os atores que interpretam o outro casal venceriam. “Até logo, meu filho”, é o filme que Jia Zheng Khe teria filmado. Muitos dos seus temas estão ali presentes: a revolução cultural na China dos anos 80, a transformação pelo qual a China passou as últimas décadas em direção à abertura econômica e como isso afeta a vida das pessoas. Junte 3 grandes clássicos contemporâneos, e você terá idéia do que é o filme: “As montanhas se separam”, de Jia Zheng Khe, “Manchester à beira mar”, de Kenneth Lonergan e “Tempo de viver”, de Zhang Yimou. A estrutura narrativa e de roteiro lembra bastante a de “Manchester à beira mar”: totalmente fragmentada, descontruída e exigindo do espectador muita atenção para amarrar as pontas. O filme começa nos anos 80, com o advento da Revolução cultural na China, imposta por Mazo Tsé Tung. Junto, veio a política do filho único, que é o pano de fundo de toda a trama: o casal Yaojun e Lyiun acaba de perder seu filho em um acidente em uma reserva, morto por afogamento. Durante a trajetória do filme, vamos descobrir que no passado, Liyun ficou grávida de um 2o filho, mas foi obrigada a abortar pela sua chefe na Fábrica ( a cena mais cruel e dolorosa do filme). Com a morte do filho, eles entram em um luto eterno, e nunca mais poderão ter outro filho. A partir daí, vários desdobramentos, que envolvem traição, suicídio, jogo de mentiras, filho adotivo, vários desdobramentos que farão o espectador apaixonado por melodramas se dobrar no sofá. Em mãos erradas, essa história poderia ter virado um baita novelão. Mas como dito acima, com o trabalho fenomenal do elenco, que interpreta no silêncio e nas feições; na fotografia dramática, de Hyun Seok Kim; na trilha sonora comovente de Dong Yingda e clar, no roteiro e na direção de de Wang Xiaoshuai, que afasta a sua câmera dos momentos mais trágicos do filme, mostrando tudo em planos abertos. Os enquadramentos, a marcação de cena, os movimentos de câmera, os silêncios e a certeza de ter realizado um dos grandes épicos emocionais e intimistas da safra recente chinesa. O filme é repleto de cenas antológicas, e entre tantas, eu destacaria a do casal andando pela cidade em busca do filho adotivo, que fugiu: a decupagem, a solidão refletida nos enquadramentos e no rosto de seus personagens, culminando em uma chuva que separa o casal. Imperdível!

Max Rose

"Max Rose", de Daniel Noah (2013) Em 2013, Cannes homenageou Jerry Lewis com uma retrospectiva de seus filmes. "Max Rose" sua experiência no drama, foi exibido com bastante sucesso no mesmo Festival. O que mais choca, é que a performance arrebatadora de Jerry Lewis não lhe trouxe indicações em nenhum Festival mundo afora, e o filme sequer foi lançado comercialmente mundo afora, um descaso amargurado como o seu personagem, um artista que por gerações, trouxe alegria e gargalhadas para uma platéia de fãs. Max Rose é um pianista de jazz aposentado. Ele sofre com a perda de sua esposa, falecida recentemente, e com quem foi casado por 65 anos, Eva (Claire Bloom). Seu filho Chris (Kevin Pollack) e sua neta Annie ( Kerry Bishé) procuram atenuar o luto de Max, mas esse responde com amargura. Para piorar a situação, ao revirar um dos pertences de Eva, Max encontra uma dedicatória datada de 1959, uma declaração de amor de um outro homem. Isso deflagra em Max uma dúvida sobre o tempo que permaneceu casado com Eva, provavelmente, uma vida de mentira e infelicidade. O filme em determinado momento me lembrou de “As pontes de Madison”, na cena onde a personagem de Meryl Streap precisa decidir entre o amor de 2 homens. “Max Rose” é um filme com performances brilhantes do elenco, incluindo Dean Stockwell no papel de Bem, suposto amante de Eva. É bem provável que os produtores não conseguiram vender o filme porque nenhum fã de Jerry Lewis iria querer vê-lo no papel de um idoso rabugento e mau humorado. É um filme triste, muito triste, daqueles de sair destruído emocionalmente no final. Mas também é um quase canto do cisne de um dos maiores artistas da história, e que aqui mostra a sua incrível versatilidade como ator dramático.

sábado, 28 de março de 2020

A tração dos pólos

"La traction des pôles", de Marine Levéel (2019) Poético romance LGBTQI+ francês, dirigido e escrito pela cineasta Marine Levéel. O filme lembra o estilo do belga Jaco Van Dormael, diretor de "O novíssimo testamento"e "O homem de duas vidas", misturando drama e realismo fantástico. O tema do filem lembra "O segredo de Brokeback mountain": na área rural francesa, a sociedade é dominada pelo conceito machista de comportamento. Logo no início, vemos uma constelação, e várias estrelas e planetas se atraindo. A próxima imagem é uma fazenda na zona rural da França. Ali vive Mark, um criador de porcos. Solitário, Mark marca encontros pelo aplicativos com outros gays não assumidos da cidade. Um dia, Victor, a paixão platônica de Mark, retorna da Nova Zelândia. Victor é um bad boy, e trabalha na fazenda vizinha usando uma colheitadeira. Quando Victor flagra Mark transando com um homem, a relação dos dois muda para sempre. Delicado e bem dirigido por Marine Levéel, o filme explora as belas paisagens rurais e as cores das fazendas, com suas flores cobrindo toda a plantação. Os dois atores estão ótimos em seus personagens, trabalhando o minimalismo.

100 coisas

"100 dinges", de Florian David Fitz (2018) Escrito, dirigido e protagonizado por Florian David Fitz, "100 coisas" é uma divertida e emocionante comédia dramática alemã. Co-protagonizado por Matthias Schweighöfer, um dos maiores astros alemães da atualidade, o filme apresenta Paul (Florian) e Anton ( Matthias), melhores amigos desde a infância. Ambos sempre foram bastante competitivos e estão em busca de um grande sucesso profissional na área de aplicativos para celular. Paul é consumista e gasta seu dinheiro comprando tudo que vê pela frente. Matthias é narcisista. Quando oferecem um aplicativo novo para uma empresa de telefonia, lhes é oferecido a possibilidade de comprá-lo por 4 milhões de euros. Paul e Mathias saem para comemorar e ficam bêbados. Ap entrarem na questão de competitividade, decidem fazer uma aposta: por 100 dias, deverão viver apenas com 1 item novo por dia, Um filme que tem como tema a valorização da amizade acima de qualquer materialismo, "100 coisas" poderia render uma ótima versão americana. Até fico admirado como o cinema alemão tem variado a sua filmografia, até então ligado a produtos mais artísticos, e entrando de cara no cinema popular. O filme tem humor, drama, romance e também, bastante nudez dos dois atores principais, subvertendo o clichê que nas comédias sempre tem mulher semi-nua.

Downhill

"Downhill", de Nat Faxon e Jim Rash (2020) Remake do excelente filme sueco "Força maior", de Ruben Östlund, de 2014, "Downhill" nem de longe chega aos pés do original. Julia Louis-Dreyfus e Will Ferrell são dois dos mais talentosos comediantes americanos que conheço. Mas a grande dificuldade do filme reescrito e dirigido por Nat Faxon e Jim Rash, é jamais se definir que filme eles querem contar. É uma comédia? É um drama? É uma sátira? Parece uma enorme traição voc6e escalar Julia Dreyfus e Will Ferrell em um filme e em momento algum, você dar uma gargalhada. O filme original tinha uma sacação brilhante que era discutir a relação desgastada de um casal pela ótica do humor negro. Aqui, a indefinição do tom do humor prejudicou demais a narrativa, o que é uma pena. O filme é bonito, rodado nos Alpes da Áustria. Julia e Farrell são dois puta atores que trabalham bem em humor e também em drama. Tem participações especiais de Miranda Otto e de Kristofer Hivju, o Tormund de "Game of Thrones". Mas a química não rolou. Talvez a melhor forma de apreciar ao filme, é para quem não assistir ao original, assistir "Downhill"sem referência. Acredito que a experiência será melhor. De qualquer forma, o humor não existe.

sexta-feira, 27 de março de 2020

International Falls

"International Falls", de Amber McGinnis (2019) Muito boa comédia dramática dirigida pela diretora Amber McGinnis, vencedor de diversos prêmios em Festivais de cinema independente. O filme se passa na cidade de International Falls, Minnesotta, e segundo o filme, com menos de 7 mil habitantes. Ficamos sabendo também que, quem visita International Falls, não vai embora jamais. É bom lembrar dessa frase no final do filme, pois fará bastante sentido. Dee (Rachael Harris) é uma mulher que vive um casamento fracassado, e mãe de duas meninas. Ela trabalha como atendente em um Hotel, onde acontecem noites de stand up comedy todo final de semana. O seno de Dee é ser comediante. Tim (Rob Huebel) é o comediante que irá se apresentar. Ele se hospeda no hotel, e Dee acaba puxando assunto com ele. Tim diz que está com um péssimo relacionamento com sua esposa, e também tem um filho. Sua carreira vai de mal a pior e para ele, resta apenas o álcool. Nos 3 dias que ele ficará hospedado no hotel se apresentando, Dee e Tim estreitam a amizade, ele ensina a ela segredos da comédia e acabam se tornando amantes. Com ótimos diálogos e performances fabulosos dos 2 atores principais, "International Falls" segue um caminho curioso: começa como comédia e vai caminhando para um desfecho bem dramático. Um retrato doloroso dos losers que apenas querem viver o presente, e nem têm forças para pensar no futuro

Lodi

"Lodi", de Tim Muñoz (2018) Polêmico drama filipino LGBTQI+, que apresenta cenas de sexo explícito em cenas de estupro. Franco (JM Martinez) é um rapaz que trabalha de dia em um Hotel como auxiliar de serviços gerais, mas de noite, trabalha como garoto de programa. Junto de seu amigo Tiger, que também é michê, eles dopam os clientes e os assaltam. Franco tem obsessão pelo jovem ator Brent (Ace Toledo), e quando descobre que o rapaz se hospedou no hotel onde ele trabalha, ele arquiteta um plano: ele entra todos os dias no quarto de Brent, coloca "boa noite Cinderela" na sua bebida Franco passa a estuprar Brent todos os dias o quarto dele, sem medir as consequências de seus atos. Os atores Ace Toledo e JM Martinez certamente foram escalados nos papéis pela beleza de ambos, mas mesmo não sento talentosos, foram bem ousados nas cenas de sexo. O filme é um alerta para os gays que contratam os garotos de programa e os levam para as suas casas, e também, uma crítica ao universo das celebridades. Como filme, a realização é amadora, mas certamente fará a alegria de espectadores voyeurs e fetichistas. O que não falta aqui é perversão, um verdadeiro festival de taras. Curiosidade: o título "Lodi" é IDOL ao contrário.

Viveiro

"Vivarium", de Lorcan Finnegan (2019) Queria passar por uma experiência de assistir esse filme ao lado de espectadores e ao término da sessão, olhar bem pra cara de todo mundo e juntos gritarmos: "Mas que pôrra foi essa?" Imaginem um episódio estendido de "Twilight zone" dirigido por Spike Jonze. Pois é isso que você vai assistir. Tem muito crítico comparando o filme a "O show de Truman", mas dramaturgicamente é bem diferente. "Vivarium"é uma co-produção Irlanda/Dinamarca e Bélgica, e foi exibido em diversos Festivais. No Festival de Cannes 2019, venceu um prêmio especial concedido na Mostra Semana da crítica. Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg) formam um jovem casal que pensa em finalmente, morar juntos na mesma casa. Ao procurarem um corretor em uma imobiliária bem estranha (Sinistra, melhor dizer), eles o acompanham até um condomínio afastado da cidade. Chegando lá, o casal estranha que todas as casas são exatamente iguais. O corretor apresenta a casa de Nó 09, Enquanto Tom e Gemma revistam a casa, o corretor desaparece. Ao tentarem sair do condomínio, o casal percebe que é impossível, estão perdidos em um loop eterno. Os celulares não funciona,. Todos os dias pela manhã, misteriosamente aparece uma caixa de suprimentos. Essa rotina continua por dias, até que um dia, surge uma caixa contendo um bebê dentro, com a seguinte mensagem: "Cuidem do bebê e serão soltos". Fica fácil dizer que o filme é uma metáfora sobre relacionamentos, casamento e vida conjugal que entra na rotina, e que se deteriora com a chegada do filho. Mas a forma como o filme apresenta essas idéias é bem bizarra. Na verdade, preciso tirar o chapéu a todos os envolvidos na produção, pela coragem em realizar um projeto tão inquietante, e ao mesmo tempo, louco. O trecho final apresenta ótimos efeitos, e sim, e um filme muito provocador. Imagem Potts é uma excelente atriz pouco conhecida e aqui ela está muito bem.

Meu nome é Daniel

Acabei de assistir ao ótimo documentário brasileiro "Meu nome é Daniel", que está na plataforma FILME FILME https://www.filmefilme.com.br/home "Meu nome é Daniel", de Daniel Gonçalves (2018) Dirigido e protagonizado por Daniel Gonçalves, o filme parte do desejo do próprio Daniel investigar a doença que o acomete, que jamais foi diagnosticada. A doença lhe provocou paralisia e dificuldade para falar e se locomover. Enquanto o próprio faz exames no Rio e em São Paulo , o espectador é convidado a conhecer a história de um garoto nascido em Barra Mansa, Rio de Janeiro. O seu tio comprou uma câmera VHS no final dos anos 80 e passou a registrar o cotidiano da família. Logo em seguida, o próprio pai de Daniel também comprou uma câmera. Assim, o filem é fartamente ilustrado com imagens de arquivo de toda a fase de crescimento de Daniel, focando na relação com sua mãe, que se dedicou a cuidar do filho. O bullying na ecsola, a dificuldade de encarar o mundo, o primeiro beijo, a primeira namorada, a primeira transa, os aplicativos de namoro, empregos, tentativas de estudo, a descoberta do esporte radical, enfim, todos os processos emocionais e de construção do ser humano Daniel Gonçalves são apresentados no filme. Como narrativa documental, o filme é bem didático, alternando depoimentos, imagens de arquivo e narração em Off. Estranhei apenas filme não dar voz à irmã de Daniel, que aparece desde bebê quando nasceu nos anos 90, a mãe pergunta se aAniel teve ciúmes dela e estranhamente ela não aparece já em fase adulta. O filme é um exemplo de engajamento social e de perseverança. Daniel é um rapaz que sempre se manteve ativo e jamais usou a sua doença para justificar algo que não fizesse na vida. Definitivamente, não é um filme sobre um pobre coitado, cmo ele mesmo cita em um momento, mas um filme sobre sonhos e desejos conquistados. Daniel almejou ser cineasta e o filme é o resultado do processo.

Hooked

"Hooked", de Max Emerson (2017) Escrito e dirigido por Max Emerson, "Hooked"é um drama independente americano LGBTQI+ e que fala de um assunto extremamente sério no mundo inteiro: o abandono de jovens LGBTQI+ pelos seus pais, que os expulsam de casa por não aceitarem sua orientação sexual. Em Nova York, Jack e Tom, casal de namorados, moram em um albergue destinado a jovens gays. Jack acaba de completar 18 anos, e há anos é garoto de programa. Tom trabalha para uma estilista trans. Jack tem crises emocionais por conta de seu trabalho, que envolve clientes sádicos e violentos, se entregando à drogas. Quando Jack conhece Ken, um homem de 45 anos rico, ele acredita que sua vida ir;a mudar, Mas quando descobre que Mark é casado e tem fllho, e que vive uma vida dupla, Jack se desespera. Uma visão totalmente pessimista dos marginalizados em Nova York, "Hooked" tem ótima interpretação de Conor Donnally, que interpreta o complexo personagem Jack, repleto de camadas emocionais. Um olhar triste sobre os jovens gays sem um futuro, pois abandonados, não têm estudo nem apoio social≥ No final, o filme faz um alerta para as milhares de pessoas na mesma condição do protagonista, e que a grande maioria se suicida.

Primeiro amor

"Hatsukoi", de Takashi Miike (2019) Misture os ingredientes de "True romance", de Tony Scott com roteiro de Tarantino, e "John Wick" e você terá a nova alucinação do mais prolífico cineasta japonês da história, Takashi Miike. Ele já realizou mais de 100 longas, rodando uma média impressionante de 3 filmes por ano. Autor de 2 clássicos do cinema, "Audition" e "Ichi, the killer", Miike aqui traz romance adolescente, luta de boxe, prostituição, máfia chinesa, assassinos contratados, traficantes de drogas, policiais corruptos e Yakuza em uma arrebatadora história de vingança e amor. Leo é um jovem boxeador que tenta se tornar um campeão no ringue. Após passar mal em uma disputa, ele visita um médico que após fazer uma ressonância, lhe traz uma péssima notícia: ele tem tumor no cérebro e pouco tempo de vida. O caminho de Leo se cruza com a jovem prostituta Monica, vendida pelo seu pai para pagar dívidas da Yakuza e forçada a se prostituir. Monica é usada como cobaia em uma complexa trama de tráfico de drogas, e Leo acaba p na missão de defendê-la de todos, culminando em uma chacine de 40 minutos de duração em um supermercado, quanto todos se encontram. É tanta gente na trama que a gente acaba se confundindo, e se atém mesmo as porradarias, lutas de kung fu e muito tiro e espadadas. Miike é tão insano que do nada, acrescenta uma sequência em animação, provavelmente para minimizar custos de produção. Para quem gosta de seu estilo bizarro e gore, esse é imperdível.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Mar de rosas

"Mar de rosas", de Ana Carolina (1977) Longa de estréia da então documentarista e curta-metragista Ana Carolina, lançado em 1977, "Mar de rosas"impressiona em um primeiro momento pelo seu elenco estelar: Norma Benguell, Hugo Carvana, Cristina Pereira, Miriam Muniz, Ary Fontoura e Otavio Augusto. Todos participando do delírio surrealista e iconoclasta que veio da mente de Ana Carolina, autora do roteiro, e que provavelmente buscou referências em artistas surreais, encabeçado por Bunuel. O filme é uma crítica feroz de Carolina contra a instituição da família, do patriarcado, das amarras de um sistema vigente que obriga a seguir regras e condutas ( metáfora da ditadura vigente no período das filmagens). Betinha, interpretada por uma enfurecida Cristina Pereira, representa a nova geração, aquela que quer romper com os grilhões do conservadorismo e do militarismo, que sua mãe, Felicidade (Norma Benguell) representa, impondo regras para a menina. O filme começa com Sérgio (Hugo Carvana) dirigindo o carro com Felicidade e Betinha, esposa e filha, de São Paulo até o Rio de Janeiro. O casal discute a relação, e Betinha desabafa. A família para no caminho e se hospedam em um hotel. Durante uma nova discussão, Felicidade acaba matando Sérgio à navalhadas. Ambas fogem, mas no caminho esbarram com Orlando (Otávio Augusto), um homem que se prontifica a ajudá-las quando Felicidade se acidenta em um posto de gasolina ( Betinha acendeu fogo para queimar sua mãe). Eles param em uma cidade e lá conhecem o casal Dr Dirceu (Fontoura), um dentista e poeta fracassado, e Dona Niobi (Muniz). O filme tem uma linguagem narrativa totalmente desfragmentada, costurada por delírios de Betinha. Não é um filme para todos os gostos, mas certamente, é um trabalho inquietante e que mostra, h;a quase 35 anos atrás, a força do cinema feminino, contando histórias de empoderamento e de libertação.

O caminho de volta

"The way back", de Gavin O'Connor (2020) Você já viu esse filme muitas, mas muitas vezes: Um homem com um trauma do passado se entrega ao álcool. Perde esposa, o casamento. Quando está na merda, decidem ligar para ele pedindo para retornar a treinar um time de basquete formado por adolescentes rebeldes. Ele reluta, mas aceita. No início, ele luta contra os seus demônios e contra a rebeldia dos alunos. Conquista confiança. Parece que vai ganhar o campeonato. Mas uma recaída faz, aparentemente, tudo ir por água abaixo. O final, tente imaginar como acaba. O que faz a gente querer assistir a esse filme bem previsível e qu tenta a todo momento extrair lágrimas do espectador, é Ben Afleck. Sim, ele mesmo. Isso porquê é impossível não associar o seu personagem, Jack, ao próprio Ben Afleck, No auge de sua carreira, ele tomou decisões erradas e se entregou ao álcool, destruindo a sua chance de continuar na Indústria. Agora chegou o seu momento de retomada ( Robert Downey Jr que o diga). Por Ben Afleck vale assistir ao filme. Ele está ótimo em um personagem comovete.

Palhaço para sempre

"Klovn forever", de Mikkel Nørgaard (2015) Imagine uma versão adulta e explícita da comédia americana "Debbie e Loide", interpretada pelos 2 maiores humoristas dinamarqueses, Casper Christensen e Frank Hvam, Um filme contendo muitas cenas de sexo, closes explícitos em pênis eretos, e muita piada misoginia, machismo, racismo e situações envolvendo pedofilia. "Palhaços para sempre" é continuação do mega sucesso de bilheteria "Palhaços", um filme que uniu pela 1a vez os dois humoristas em um mesmo projeto, amigos de longa data. Franck, casado e com filha pequena, se tornou um homem mais responsável e dono do lar. Casper continua o mesmo pôrra louca de sempre, transando com todas as mulheres e aproveitando a vida da melhor possível. Inconformado com a vida de casado e careta de Frank, Casper vive seduzindo o amigo para fazer alguma merda, como um bom adolescente que ele não é ( os amigos estão na faixa dos 40 anos de idade). Eles estão para lançar um livro que fala sobre a amizade duradoura deles, pois ambos são celebridades na Dinamarca. Mas quando Casper decide se mudar para Los Angeles, a amizade é coloca à prova. Frank, inconsolável, decide ir até Ls Angeles trazer seu amigo de volta., O filme é repleto de todas as piadas politicamente incorreta que você possa imaginar. Eu particularmente fiquei muito irritado com a postura rebelde/infantilóide dos personagens. Pior ainda, é como que conseguiram trazer astros como o cantor Adam Levine e o ator dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau ( Jamie Lennester de "Game of thrones") para participarem do filme interpretando a si próprios.

quarta-feira, 25 de março de 2020

O cântico dos nomes

"The song of names", de François Girard (2019) Defintivamente, um filme sobre os efeitos do holocausto com Tim Roth e Clive Owen, não é para se perder. Os dois estão excelentes em seus papéis, dividindo com atores mais jovens que interpretam os papéis quando crianças e adolescentes. O filme é um épico que vai dos anos 40 até os anos 80, uma adaptação do livro escrito por Norman Lebrecht e dirigido pelo cineasta francês de "32 curtas metragens sobre Glenn Gould". Em 1951, em Londres, vai acontecer um grande concerto com o jovem prodígio Dovdl, um adolescente que renegou a sua cultura judaica após a morte de seus pais na Polônia. Martin, seu irmão de criação e sua família aguardam ansiosos a chegada de Dovdl no teatro, com casa cheia. Mas Dovdl não aparece e nunca mais é visto 35 anos depois, Marton (Tim Roth) é um professor de musica no Conservatório em Londres. Após uma apresentação de jovens estudantes, um aluno lhe chama a atenção, por tocar do mesmo jeito que Dodvl. A partir daí, Martin, que se tornou obcecado em saber o paradeiro de Dovdl durante todos esses anos, resolve descobrir o paradeiro dele seguindo pistas que o levam até Nova York e Polônia. Não é segredo, pois o material de divulgação fala em clive Owen como Dovdl mais velho. O que interessa aqui na narrativa e para o espectador é: Por qual motivo Dovdl não compareceu ao seu concerto e ficou sumido por 36 anos? A grosso modo falando, me lembrei de "infiltrados no Klan", de Spike Le,e pois é um filme que fala sobre o resgate de uma cultura por um personagem que perdeu a sua identidade cultural. Aqui, o resgate é em relação à cultura judaica. Quem gosta d eum bom melodrama ambientado na 2a Guerra, e se apaixonou por filmes que falam sobre amizade entre crianças judias e arianas, como em "Au revoir, les enfants"ou "O menino do pijama listrado", irá se emocionar bastante aqui.

Leões em espera

"Lions in waiting", de Jason Karman (2017) Drama canadense LGBTQI+, "Leões em espera" foi escrito e dirigido pelo cineasta Jason Karman. Com elenco jovem e masculino, o filme tem como tema o homossexualismo dentro dos esportes, e a consequente homofobia que obriga os esportistas a se manterem dentro de seus armários, tentando represálias, Ray mora sozinho com sua mãe. Gay não assumido, ele vive uma vida de introspecção e mentiras. Por pedido de seu pai, antes dele falecer, Ray entra em um time de Hockey. Um dia, no vestiário, ele observa um dos colegas de time, Dave, sofrer bullying pelos outros jogadores. Ray nada faz, e é obrigado a fazer parte da brincadeira. Quando o treinador assiste ao vídeo nas redes sociais, pune os autores da brincadeira, acusando-os de homofobia. Essa ação inesperada do treinador deflagra em Ra um desejo de afirmação. Com boas performances e uma boa direção, "Leões em espera" se torna um bom filme para se discutir os efeitos da homofobia dentro de um universo tão masculino e machista, que e o dos esportes. Boa reflexão.

Bloodshot

"Bloodshot", de Dave Wilson (2020) Anunciado como a primeira franquia da Valiant Comics, "Bllodshot" é o perfeito passatempo para se assistir e literalmente passar o tempo: tiro, porrada e bombas comandadas por Vin Diesel, astro de filmes de ação, e sua colega de cena, a atriz mexicana Eiza Gonzále, de "Baby driver". Ambos fazem parte da franquia "Velozes e perigosos", comandados pelos mesmos produtores de "Bloodshot". Quem já assistiu "Robocopo" vai achar até que o filme é uma refilmagem, Poderia até ser, só que não se passa no futuro, e sim, nos dias atuais. Mas a história é praticamente a mesma: O Mariner Ray morre durante uma ação de guerra no Afeganistão e é revivido por um cientista, Dr Emil (Guy Pearce). Só que Ray volta com uma outra forma: foram implantados nele seres microscópicos capazes de reconstruir o seu tecido. Dessa forma, a cada tiro e explosão, Ray é reconstruído, se tornando praticamente, um imortal. Outros soldados feridos em guerra também fazem parte dessa nova leva de soldados indestrutíveis., incluindo Katie . Só que Ray vai aos poucos descobrindo que nem tudo é o que parece, e que ele esá sendo usado como arma de guerra. Para quem curte aquelas aventuras sessão da tarde, com direito a trilha sonora épica, e muita explosão, vai se amarrar no filme. Com direito a caras e bocas mau humoradas de um Bad boy e uma bad Girl.

Brahms"O Boneco do Mal 2

"Brahms: The Boy II", de William Brent Bell (2019) Continuação do terror "O boneco do mal" de 2016, dirigido pelo mesmo cineasta, William Brent Bell. A trama lembra todos aqueles filmes de bonecos maléficos que já assistimos: "Annabelle" e "Brinquedo assassino" são os exemplos mais conhecidos, além de buscar referências em “ A profecia” até pelo modelito de roupa usada pelo menino. O roteiro é o mesmo de sempre: uma família traumatizada se muda para uma casa nova, que fica afastada da cidade. A família: pai, mãe e o filho pequeno tentam aos poucos se acostumar com o local. O filho encontra na redondeza um boneco enterrado, e resolve adotá-lo. O menino apelida o boneco de Brahms e a partir desse momento, ele muda de atitude, causando estranhamento na mãe, que acha que o filho tem andado muito estranho ultimamente. O que diferencia esse filme de muitos outros, é o seu elenco. Katie Holmes e o ator irlandês Ralph Ineson conferem dignidade ao projeto. Por eles, e por alguns bons sustos, mesmo que óbvios, valem a conferida desse filme de terror .

terça-feira, 24 de março de 2020

Magnatas do crime

"The gentlemen", de Guy Ritchie (2019) Guy Ritchie fazendo um filme de Guy Ritchie. Depois do fracassos estrondoso de "Reu Arthur" e do mega sucesso de "Aladdin", da Disney, o inglês Guy Ritchie resolveu voltar ao universo que ele entende bem para manter a forma. Crime, máfia, maus encarados, ingleses bipolares e esquisitos. Tudo isso já foi feito em "Tiros, canos fumegantes"e "Snatch", mas a receita aqui desandou um pouco. Talvez pela sua passada pela Disney , Guy Ritchie tenha se auto-censurado. A violência aqui em "Magnatas do crime" existe, mas é implícita: não tem mais aquela sanguinolência explícita dos outros filmes. O que continua, além do tema, é a direção estilosa, movimentos de câmera rebuscados, trilha sonora esperta e um super elenco de famosos para darem vida a tipos brutos: Matthew McConaughey, Charlie Hunnan ( que protagonizou o "Rei Arthur"de Guy Ritche), Colin Farrel ( que está soberbo em um tipo muito louco), Hugh Grant (irreconhecível) , Henry Golding, fazendo papel de vilão e Eddie Marsan. Guy Ritchie é famoso por retratar um universo de machos alfa, que adoram dar tiro, dar porrada, xingar, cuspir na cara. Às mulheres, cabem sempre papéis de coadjuvantes. O universo de Ritchie não pertence à elas. Matthew McConaughey interpreta Mickey Pearson, um malandro americano que começa vendendo maconha para estudantes ricos de Universidade inglesa e aos poucos, constrói um Império. Outras máfias querem combater o seu domínio e trava-se uma luta onde entram editores de jornal, detetives particulares e capangas em quem não se deve confiar muito. O roteiro do filme achei confuso, e são tantos personagens na trama que acabei de perdendo. A narrativa é contada pelo ponto de vista de Fletcher (Hugh Grant), um detetive particular contratado para seguir os passos de Mickey. Fletcher acaba conseguindo muitas informações sigilosas e escreve tudo em formato de roteiro de cinema, que ele pensa um dia vender ( em uma cena, ele oferece o roteiro pra Harvey Weinstein na Miramax!!!!. (Claro que é um ator no papel de Harvey, mas é uma boa cutucada de Guy Ricthie). O filme mistura o roteiro de Fletcher com o que acontece na vid areal, então a gente nunca sabe exatamente o que vai acontecer. Vale como passatempo e para quem curte filmes de Ricthie. Para mim valeu para observar as performances de atores excelentes em transformações físicas e de personalidade, característica que Ricthie faz muito bem com seus atores.

Prelúdio para matar

"Profondo rosso", de Dario Argento (1975) Um dos maiores clássicos do cineasta italiano Dario Argento, para muitos fãs, o seu melhor filme ( eu particularmente gosto mais de "Suspíria"). Lançado em 1975, o filme tem como protagonista o ator inglês David Hammings, que trabalhou com Antonioni na obra-prima “Blow up, depois daquele beijo”. Repleto de referências ao cinema de Hitchcock, de onde Argento busca “Psicose” , entre outros, traz uma elaborada e complexa trama sobre traumas que rondam o assassino, que somente descobriremos quem é no último minuto. Em seus filmes, Argento adora brincar com o “who dunit”, que é o jargão “quem matou”, e lança mão de várias pistas falsas. David é Marcus, um professor de piano que trabalha no conservatório em Roma. Ao retornar para casa d enoite, ele testemunha uma médium ser assassinada na janela de seu prédio. Marcus não consegue ver o assassino, mas ao ter sua foto estampada no jornal, acaba se tornando seu próximo alvo. Com a ajuda da jornalista sensacionalista Gianna (Daria Nicolodi, que viria a se casar com Dario Argento, pais de Asia Argento), eles procuram descobrir a identidade do assassino, evitando que novas mortes venham a acontecer. São 2 elementos que eu amo em qualquer filme de Argento: a trilha sonora do grupo eletrônico Goblin, que aqui compõe trilha estranhíssima, barulhenta mas ao mesmo tempo, sedutora e que combina com as cenas, dando uma dimensão diferente: enquanto nos outros filmes de suspense se trabalha uma trilha aterrorizante ou o silêncio, o Goblin faz muito barulho, uma trilha rock. E também amo a forma como Argento filma as cenas de assassinato: são verdadeiras coreografia, tanto de câmera quanto de narrativa, praticamente uma cena de ópera. São cenas exageradas, grandiloquentes, épicas. Os atores exageram, o sangue é falso, mas tudo é de uma vibração incrível. A cena da morte na banheira com água quente, e uma que envolve um boneco no estilo de Jigsaw de “Jogos mortais”, são antológicas. Não adianta buscar coerência no roteiro, a história é feita para puxar o filme adiante, mesmo que não faça nenhum sentido e que os personagens ajam da forma mais estúpida possível. A resolução de quem é o assassino é sensacional, e nos faz relembrar d acena inicial. Há que se prestar atenção em cada detalhe. Clássico obrigatório para qualquer fã de terror. Detalhe: a fotografia de Luigi Kuveiller É brilhante, intensificando as cores vermelhas e reproduzindo pinturas famosas, como “Nighthawks”, de Edward Hopper, em uma cena noturna de bar.

segunda-feira, 23 de março de 2020

M, o vampiro de Dusseldorf

"M - Eine Stadt sucht einen Mörder", de Fritz Lang (1931) Considerado pelo Cineasta alemão Fritz Lang o seu melhor filme, "M- o vampiro de Dusseldorf"é livremente inspirado no serial killer Peter Kürten, que nos anos 20 aterrorizou a cidade alemã, sequestrando e matando dezenas de crianças. Considerado por críticos da Alemanha como o filme mais importante já produzido no País, foi realizado durante a República de Weimar, e o roteiro foi escrito a 4 mãos, por Fritz Lang e sua esposa, Thea von Harbou. É possível assistir a essa obra-prima de duas maneiras: literalmente, acompanhando os crimes do serial killer Hans Beckert (Peter Lorre, magistral) pelas ruas de Dussledorf, o seu esquema para seduzir suas vítimas e de como a cidade, interligada pela primeira vez entre a Lei e o crime organizado, juntam forças para prender o criminoso. Ou podemos assistir a um filme que retrata metaforicamente e assustadoramente visionário, sobre a ascenção do Nazismo na Alemanha, a perseguição a judeus e classes marginalizadas da sociedade, como mendigos, prostitutas e doentes mentais, que é a categoria onde se encaixa o personagem de Peter Lorre. A forma como Fritz Lang, brillhantemente induz o espectador a essa verdadeira caça às bruxas, é mercando a letra "M"nas costas do assassino, que era como os judeus foram marcados na Alemanha nazista, com a estrela de Davi. O filme faz um relato brutal sobre o Poder do Estado e o Poder do Cidadão, todos se achando capazes de julgar uma pessoa comum. Nessa roda vida de autoridades, discute-se a questão da Maldade, tanto dos que matam, quanto aqueles que governam e induzem outras pessoas a praticarem atos ilícitos. Na sequência quando Hans se esconde em um prédio, os criminosos invadem os apartamentos, sem qualquer autorização, quebrando e maltratando os moradores, assim como foi feito no Governo nazista. As crianças no filme têm sobrenomes judeus. Fritz Lang foi bastante corajoso ao realizar esse filme, que logo foi proibido de circular na Alemanha. Tanto Lang quanto Peter Lorre, com ascendência judia, fugiram para os Estados Unidos, temendo represálias. O filme é repleto de cenas antológicas, mas destaco duas, que são verdadeiras aulas de cinema, até hoje impressionam pela precisão de como foram realizadas: A da aparição do assassino, somente sua sombra, sobre um poster escrito ASSASSINO. A outra, é a do famoso julgamento, uma aula de interpretação de Peter lorre, que tenta se defender dizendo que o impulso de matar fala mais alto e ele não devera ser punido por esses desvios de conduta da qual ele não consegue ter domínio. Obrigatório.

domingo, 22 de março de 2020

Onde o céu aponta os seus ponteiros

"Onde o céu aponta os seus ponteiros", de Marco Aurélio Gal *2917( Espanta a simplicidade desse filme premiado de Marco Aurélio Gal, que também escreveu o roteiro. Simples, objetivo e com bastante emoção, assim é o filme rodado em são Paulo e que fala sobre luto e reconquistas. Tomas é um jovem que perdeu sua mão recentemente. De luto, esse se fecha para os amigos e familiares, se tornando depressivo. Um dia, Tomas esbarra em Gabriel, um fotógrafo de moda. Com as músicas que compõe, e com seu astral e carinho, Gabriel faz com que Tomas volte a se apaixonar pela vida. Boas atuações, belas músicas e um filme que conta sua história de amor LGBTQI+, sem rodeios, baseado no amor e na compreensão.

Ira do silêncio

"Bao lie wu sheng", de Yukun Xin (2017) Extraordinário drama de ação chinês, vencedor de diversos prêmios internacionais, e que mistura em um único filme "Oldboy", "Ultraman", kung Fu, os faroestes de Sergio Leone e "Um toque de pecado", de Jia Zheng Khe, que explora um homem em busca de vingança nas regiões isoladas e montanhosas da China. Yukun Xin escreveu e dirigiu o filme aos 32 anos. Formado na Universidade de Beijing, ele já é aclamado como um dos novos cineastas chineses a ser prestar atenção. Zhang Baomin ( o ator Yang Song, perfeito) é um mineiro mudo. De temperamento explosivo, ele provocou um acidente em seu trabalho anterior, o que o fez se afastar de sua esposa e seu filho pequeno e ir trabalhar em uma mina distante. Quando seu filho desaparece, Zhang retorna para a sua cidade natal, para tentar localizá-lo. Paralelo, um mafioso que quer dominar o império das minas, Chang, sequestra a filha do advogado XU Wenjie, que possui informações importantes que podem faezr Chang ser preso. Todos esses personagens acabam se cruzando, em uma narrativa repleta de tensão. O roteiro é repleto de situações tensas e com lutas muito bem coreografadas, e é impossível não se lembrar da luta icônica de "Oldboy". O filme tem personagens bem construídos e um plot twist no final de fazer cair o queixo. Direção precisa e cheia de referências pop, com uma fotografia e trilha sonora impecáveis, buscando nos clássicos de Sergio Leone e Enio Morricone base para se estruturar. Linda homenagem cinéfila. em um filme imperdível.

Blow the man down

"Blow the man down", de Bridget Savage Cole e Danielle Krudy (2019) Imaginem um filme dos Irmãos Coen dirigido e escrito por duas mulheres? Pois esse filme é "Blow the man down", que inclusive lembra bastante de "Fargo", principalmente no visual, locação e ritmo da narrativa. Premiado no Festival de Tribeca como melhor roteiro, o filme, escrito e dirigido por Bridget Savage Cole e Danielle Krudy, é um drama policial com olhar totalmente feminino. As protagonistas são mulheres e aos homens, cabem papéis totalmente secundários. Priscilla e sua irmã caçula Mary velam a mãe delas, que acabou de falecer. Elas moram em Maine, cidade pesqueira dos Estados Unidos. A mãe estava cheia de dívidas e elas correm o perigo de perderem a casa. A elas, resta a pescaria da família, que elas comandam. Quando Mary sai para beber e desafogar o stress, ela conhece um homem no bar, mas descobre que ele é serial killer. Ela o mata e desesperada, pede pra Priscilla ajudar a sumir com o corpo. Assim como nos filmes dos Coen, o filme segue mesclando drama, humor negro e ação policial, mas naquele ritmo bem arrastado que é peculiar à filmografia dos Coen. As atrizes são todas excelentes, em particular, Margo Martindale, que interpretou a carteira no filme "Paris, Eu te amo".

Memórias de Marnie

"Omoide no Mânî", de Hiromasa Yonebayashi (2014) Indicado ao Oscar de melhor animação, "Memórias de Marnie" foi o último filme lançado pelos Studio Ghibli em 2014, logo depois de "O conto da Princesa Kaguya". Adaptação do livro da escritora inglesa Joan G. Robinson , lançado em 1967, o filme é uma profunda e melancólica história sobre uma órfã que foi adotada mas cresce com o sentimento de abandono. Aos 12 anos, Anna é solitária e tem asma. Sua mãe adotiva, sentindo-se rejeitada do amor de Anna, a manda passar o verão em uma ilha na casa de amigos, para que Anna possa se recuperar da doença. Ao chegar lá, Anna é recebida por um casal gentil. Anna logo percebe que perto do lago tem uma mansão escondida, Ao se aproximar, ela encontra uma garota, Marnie. Ambas se tornam amigas, mas Marnie tem hora certa para aparecer e não pode se afastar muito da mansão. O filme é muito bem conduzido por Hiromasa Yonebayashi, que traz humor, romance e melodrama defendidos por muita garra por um belo e surpreendente roteiro, com direito a um plot twist no desfecho. As personagens principais são todas femininas, mostrando força e determinação de meninas e mulheres que passam por transformações importantes em suas vidas. Linda trilha sonora e cores, é um file que certamente irá preencher o coração dos espectadores com muito amor e alegria.

sábado, 21 de março de 2020

De Caligari a Hitler

“Von Caligari zu Hitler: Das deutsche Kino im Zeitalter der Massen”, de Rudiger Suchsland (2014) Importante e excelente documentário que faz um retrospecto preciso e detalhado do cinema alemão durante a República de Weimar (1919/1933), período do pós guerra na Alemanha, englobando o cinema mudo e o início do cinema falado nos anos 30. Tendo como base o livro do crítico de cinema alemão Siegfried Kracauer, o mais importante teórico sobre cinema na Alemanha da época e que migrou para os Estados Unidos em 1933, aonde escreveria seus livros sobre o cinema alemão. O livro se chama “De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão”. No livro, Siegfried faz um paralelo entre o cinema produzido na Alemanha e o surgimento do nazismo no País. Siegried e Rudiger falam dos filmes mais importantes da República de Weimar, e fazem um paralelo entre os protagonistas dos filmes, que são na sua maioria, tiranos, assassinos, lunáticos, mágicos, hipnotistas, vampiros, todos retratos da Alemanha que eclodiria com a 2a guerra mundial. Assim que acabou a 1a Guerra, a Alemanha se reconstruía, e a população ia aos cinemas em massa. Os filmes produzidos alternavam esse cinema de entretenimento com a busca de novas linguagens, surgindo assim, o expressionismo alemão. Diretores como Frtiz Lang, Murnau, Pabst, e também muitos outros que surgiram com um cinema mais realista, como Ernst Lubitsch, Robert Siodmak, Billy Wilder surgiram nessa fase do cinema alemão. O filme faz um detalhamento sobre a estética do expressionismo, através de cenas dos filmes e depoimento dos cineastas da época e de hoje em dia, como Fatih Akin e Volker SChloendorf. Depois, fala sobre o cinema realista, e de que forma personagens como Dr Mabuse foram premonitórios sobre o surgimento de Hitler. Com a perseguição política e o caos social que se instaurou na Alemanha depois de 1933, com alta taxa de desemprego, crimes e aumento dos preços, criou-se o cenário perfeito para que o Nazismo toma-se o Poder. Muitos artistas e diretores fugiram para outros países, se estabelecendo ou em Hollywood, ou em Paris ou Londres. Dá uma vontade desesperada de assistir a cada filme citado no documentário, fora isso, conhecer também os vários cineastas citados que hoje em dia estão esquecidos. Também fiquei curioso de conhecer mais sobre os “filmes de montanha” escapistas, de onde surgiu a cineasta Leni Riefehenstal, que valorizavam a natureza e saiam dos centros urbanos, que segundo a ideologia nazista, era um lugar do submundo, dos crimes e prostituição. Imperdível.

O poço

“El hoyo”, de Galder Gaztelu-Urrutia (2019) Atenção: esse filme não é recomendado para pessoas sensíveis nem depressivas. Nesse momento de quarentena, só assista ao filme se você não tiver questões morais com uma ficção distópica que metaforicamente, muito se assemelha ao que estamos vivendo nesse período de quarentena: falta de solidariedade, confinamento, falta de comida, futuro incerto. O filme lembra bastante do curta de Dennis Villeneuve, "Próximo piso", de 2008. Em um futuro incerto, a sociedade distópica vive um terrível momento de falta de comida, e passa isso, o Governo faz uma seleção natural entre os habitantes do planeta. Todos passam por uma entrevista, e dependendo do resultado, a pessoa acorda em um determinado nível de um poço. A idéia é que os “Organizadores” preparam um elevador onde são colocadas comida e bebida, e esse mesmo elevador desce e em cada nível, ele fica por 2 minutos, até descer para o próximo nível. Cada nível possui 2 pessoas, e elas devem comer o suficiente para que a comida chegue no último nível e alimente quem está lá. No entanto, a cobiça e a ganância fazem com que a comida já acabe logo nos primeiros níveis, deixando para os que estão abaixo a comida já devorada e degustada. Cada pessoa pode levar para a sua cela um objeto pessoal. Muitos fazem uso desse objeto pessoal para se protegerem, pois na falta de comida, o outro pode ser devorado. De tempos em tempo, um gás surge e a pessoa desmaia, acordando em um outro nível. Goreng (Ivan Massegué) é um dos prisioneiros do poço. Ele traz consigo o livro de Miguel de Cervantes, ‘Dom Quixote”, para surpresa de seu companheiro de cela, Trimagasi (Zorion Eguileor), que traz uma faca. Goreong procura uma forma de fugir do lugar. Trimagasi diz que é impossível, e faz Goreng entender de que precisa se adaptar às regras do lugar, se quiser sobreviver. O filme possui cenas fortes de canibalismo e de violência extrema. Escrito e dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, e com ótimas performances do elenco, “O poço” é a metáfora sobre a reconstrução da humanidade, em um mundo onde falta solidariedade e compreensão, e sobra individualismo e ganância.

Emma

"Emma", de Autumn de Wilde (2019) Divertida adaptação da obra de Jane Austen, escrita em 1815 e que retrata a vida das mulheres aristocráticas inglesas no início do Século XIX. Vista como uma comédia de costumes, a obra já foi adaptada diversas vezes no cinema e na tv, sendo a mais famosa versão a de 1996 com Gwyneth Paltrow. A diretora americana Autumn de Wilde estréia em longas, após ter fotografado e dirigido diversos clips musicais. Autumn de Wilde disse em entrevista que trouxe modernidade ao livro de Austen, temperando com a independência da mulher moderna e uma história de amor queer. Emma (Anya Taylor-Joy, de "A bruxa", ótima) é uma jovem rica que mora com seu pai, Mr. Woodhouse (Bill Nighy). Emma se sente na obrigação de casar sua melhor amiga, Harriet (Mia Goth) e para isso, faz o papel de cupido. Mas todas as ações de casar a amiga com pretendentes saem frustradas. Emma é independente e nem de longe pensa em casamento, fechando seus olhos para as intenções de todos os que querem se casar com ela, que coincidentemente, são os que ela pretende oferecer para Harriet. Com uma ficha técnica absolutamente impecável, com requinte de figurino, maquiagem e direção de arte, o filme reproduz com muita elegância o período retratado, com luxo e glamour. É uma visão sobre um universo aristocrático, e para muitos detratores de Jane Austen, uma visão açucarada das futilidades da classe burguesa. Mas ainda hoje, nas novelas e romances, todos os subterfúgios utilizados em sua vasta obra são copiados à exaustão, deixando claro a grande influência de Jane Austen na dramaturgia. Suas protagonistas são mulheres fortes e determinadas, muito diferente das mulheres recatadas que existiam na vida real. O elenco todo, formado por jovens atores e veteranos ingleses, estão muito bem em seus papéis. Mas confesso que o tempo todo via em minha mente o filme de Ang Lee, "Razão e sensibilidade", que tem uma trama muito semelhante, e ficava querendo ver Emma Thompson, Hugh Grant e Kate Winslet nos papéis principais.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Dew

"Dew", de Chookiat Sakveerakul (2019) Adorei esse melodrama LGBTQI+ tailandês, que fala de primeiro amor na adolescência e daí desenvolve para uma história de amor tipo "Ghost". O filme é repleto de clichês, mas todos bem amarradinhos para quem quer assistir ao filme sem ficar raciocinando muito, apenas se deixando levar pela história de amor de Dew e Pob ao longo de 23 anos. O filme é dividido em 2 partes: a 1a acontece em 1996, na cidade do interior chamada Pion Nai. Dew é um adolescente que no 1o dia de aula, conhece Pob, filho de uma família chinesa. Os dois se tornam melhores amigos, mas a repressão ao homossexualismo acaba interferindo na amizade dos dois, que se desenvolveu para um namoro. Com medo que a família descubra, Pob se afasta de Dew, que implora para que fujam juntos. 23 anos depois, Pob retorna para a cidade, agora casado e trabalhando como professor na mesma escola que ele estudou. Entre seus alunos adolescentes está Liu, uma jovem rebelde, que traz em si muitas características de Dew, deixando Pob atordoado. O filme tem excesso de trilha melodramática, mas nada que atrapalhe a emoção de se assistir a esse lacrimoso romance, com um desfecho dramático mas bem bonito, deixando claro que o amor é o que importa nesse mundo. Os atores adolescentes são duas estrelas pops da Tailândia, e trazem bastante carisma aos seus personagens. Para fazer soltar lágrimas. O diretor e roteirista Chookiat Sakveerakul é o mesmo do clássico gay adolescente "O amor de Siam", cult de toda uma geração, datado de 2007.

Martin Eden

"Martin Eden", de Pietro Marcello (2019) Vencedor do Prêmio de melhor ator no Festival de Veneza 2019 para o italiano Luca Marinelli, "Martin Eden" é a adaptação da obra escrita pr Jack London em 1909. A obra Martin Eden, para muitos críticos, seria uma biografia da própria vida de Jack London: morreu jovem aos 40 anos de idade, viveu no submundo: foi ladrão, marinheiro, militante socialista, jornalista, correspondente de guerra. O diretor Pietro Marcello fez uma linda versão bastante autoral da obra. Documentarista, trouxe o olhar da câmera do documentário para o drama. Filmado em 16 MM ( câmera que registar em película e por ser leve, permite movimentos de câmera na mão). A fotografia, granulada, mescla às imagens de arquivo e também, a várias cenas de filmes de época, numa belíssima composição, poética, lírica, ressaltada pela trilha sonora de Marco Messina e Sacha Ricci. Pietro ainda subverte na época do filme: não é claro e que momento histórico preciso o filme se passa, pois Pietro mistura sonoridades e a direção de arte parece flutuar sobre épocas distintas. A trilha combina música dos anos 50, 60 e ritmos eletrônicos. Martin Eden é um marinheiro pobre que sai de casa para tentara sorte em Nápoles. Lá, ele vai morar com sua irmã, casada com um homem bronco. Quando Martin salva um rapaz de apanhar no porto, este o leva até sua casa, para apresentá-lo à sua família. Para surpresa de Martin, a família do rapaz é aristocrática e burguesa. De imediato, Martin e a filha do casal, Elena, se apaixonam. Mas existe uma enorme barreira socio-cultural-econômica entre eles. Martin promete à Elena que irá estudar e ler muitos livros para poder ascender socialmente. Mas a convivência de Martin com a pobreza e os operários fazem ele querer escrever relatos crus em sua literatura, e tenta vender para as editoras. À medida que Martin vai se aprofundando no socialismo e na vida da classe operária, mais ele vai se afastando de Elena e de seu modo de vida. Um filme cruel, trágico e que apresenta um eterno dilema entre a luta de classes, aqui acrescido de uma história de amor impossível. A cena em que Martin leva Elena à força para conhecer o submundo é antológica. É um filme elegante, requintado e com uma proposta estética muito interessante. Lindos os planos e os movimentos de câmera quando e aproximam do rosto dos personagens. Luca Marinelli, talvez o maior galã da Itália, empresta o seu belo rosto para um personagem sedutor, mas que ascende não pela beleza, mas sim, pelo seu desejo de querer ter uma voz própria nesse mundo.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Port of call

"PDap huet cam mui", de Philip Yung (2015) Premiado drama de suspense de Hong Kong, foi o filme selecionado para concorrer a uma vaga ao Oscar de filme internacional. Baseado em uma trágica história real, o filme reconta o assassinato de Jiamei, uma prostituta de 16 anos em Hong Kong. Fotografado pela luz estilizada de Christopher Doyle, o fotógrafo inglês de Wong Kar Wai, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, divide em 3 atos a história de Jian Mei: No 1o ato, Jiamei ja surge morta, e o detetive Chong procura identificar o assassino. No 2o ato, o filme reconta a história de JianMei: morando com sua mãe e sua irmã em uma cidade pobre da China Continental, ela sonha em ser modelo. Ela acaba fugindo para Hong Kong e acaba se tornando prostituta, para não depender do dinheiro de sua mãe. No 3o ato, o assassino confesso narra o dia do assassinato de JianMei, que foi esquartejada e teve a pele retirada do corpo. Aliás, esse 3o ato é hiper violento, no nível de "Jogos mortais", com requintes de gore. As atrizes que interpretam Jian Mei e sua mãe são excelentes. O flme tem um tom muito melancólico, e no desfecho, é impossível não sentir uma dor no coração pela história de Jian Mei e de sua mãe. A performance do assassino e seu testemunho no tribunal também são dignos de nota.

Brincando nos campos do Senhor

"At play in the files of the Lord, de Hector Babenco (1993) Desde que o livro escrito pelo americano Peter Matthiessen foi publicado em 1965, o mega produtor Saul Zaentz ( de "O paciente inglês", "A insustentável leveza do ser", "Um estranho no inho" e "Amadeus") tinha o desejo de levá-lo às telas. Por desavenças de direitos de adaptação entre a Warner bros e a Universal, somente em 1989 Saul Zaents pôde finalmente concretizar seu sonho. Bruno Babenco vinha de 2 grandes sucessos em Hollywood: "O beijo da mulher aranha" e logo depois, "Ironweed", que teve indicações ao Oscar para melhor ator, Jack Nicholson, e melhor atriz, Meryl Streep. Junto de uma equipe técnica extraordinária, transformaram o livro em um grande épico, comparável à grandiosidade de obras-primas como "Fitzcarraldo", de Werner Herzog, e "A missão", de Roland Jafeé, todos filmes que falam sobre evangelização e processo de civilização e aniquilação de povos indígenas. "Brincando nos campos do Senhor" é certamente o filme mais incompreendido de Babenco, e injustamente, não participou das premiações em Festivais. Assistindo ao filme, fica muito, muito difícil compreender como que a fotografia esplendorosa de Lauro Escorel não foi indicada? Ou a bela trilha sonora do compositor polonês Zbigniew Preisner, que criou as trilhas de Kristoph Kieslowsky? A direção de arte ompecável do mestre Clovis Bueno? E o mais chocante de tudo, as performances viscerais, provavelmente o melhor momento das carreiras de Aidan Quinn, Kathy Bathes, Daryl Hannah e Tom Berenguer? Do time dos atores brasileiros, é sempre um prazer assistir ao trabalho de Nelson Xavier e José Dumont. Mas quem rouba a cena é Stenio Garcia, no papel do Cacique de uma tribo indígena, totalmente despido de vaidade e fazendo qualquer um acreditar na suas performance como um índio nativo. O grande tema do filme é o pertencimento. Lewis Moon ( Tom Berenger), um americano de sangue indígena, entra em conflito, pois não sabe dizer se pertence ao mundo dos brancos ou aos indígenas. Os missionários interpretados por Aidann Quinn, Kathy Bathes, Daryl Hannah e John Lightgow entram em crise de fé ao serem confrontados com questões como morte, doença, segurança e sexualidade. Para muitos, a solução é apenas uma: a loucura. Ambientado na fictícia cidade de Mãe de Deus, na Floresta Amazônica, todos os personagens estão conectados à tribo de "selvagens" indígenas Niaruna: Lewis e seu colega Wolf (Tom Waits, insano) são induzidos a jogarem bomba na tribo para afastá-los da região. Já os missionários têm a missão de catequizá-los. No caminho, são confrontados com o catolicismo do Padre Xantes (Nelson Xavier). O filme possui muitas cenas antológicas: a cena da loucura de Kathy Bathes; a cena do vôo de Lewis em direção à Floresta amazônica, a morte do menino Billy, a pajelança, e a cena de Stenio Garcia. Uma obra-prima do cinema, um filme fundamental para se entender a relação entre as co-produções Brasil e estados Unidos e também para infelizmente entender que dificilmente o País irá produzir um épico dessas proporções novamente.