domingo, 30 de junho de 2019

A garota das tranças

"Mitsuami no kamisama", de Yoshimi Itazu (2015) Filme de animação japonês, adaptação do mangá escrito pela japonesa Machiko Kyou . O Animador Yoshimi Itazu já havia colaborado com Satochi Kon, criador de "Paprika" e "Perfect blue". "A garota das tranças" é um melancólico e desesperançoso conto que traça uma metáfora sobre o Tsunami que devastou a costa japonesa em 2011. A protagonista da história vive isolada em uma casa, à beira do litoral. Existe um muro que divide sua casa do outro lado do mundo. Um carteiro entrega cartas para ela, mas ela não consegue perceber que ele está apaixonado por ela. Cientistas em roupas radioativas fazem checagem nos dois diariamente. Percebemos então que com o acidente, uma usina nuclear explodiu e contaminou a população, matando muita gente. Um filme complexo, com roteiro que deixa muita coisa em aberto. Os seres humanos não falam, mas os objetos sim: escova de dentes, travesseiro, prendedores de roupa, guarda-chuva, balão vermelho: todos têm fala e procuram narrar o acontecido. Todo desenhado em tons pastéis, não é um filme para crianças. O filme ganhou dezenas de prêmios em Festivais de cinema.

O corvo branco

"The White crow", de Ralph Fiennes (2018) Cinebiografia do bailarino russo Rudolph Nureyev, dirigido pelo Ator Ralph Fiennes. O filme foca no ano de 1961, quando Nureyev viajou para Paris com a companhia Kiev e acabou pedindo asilo político à França, o que foi prontamente aceito, após um incidente politico que aconteceu no Aeroporto, quando Nureyev antes de embarcar para Moscou, teve ajuda de uma amiga francesa, Clara Saint ( Adèle Exarchopoulos, de "Azul é a cor mais quente"). Nureyev é interpretado pelo ator e bailarino ucraniano Oleg Ivenko, em excelente composição. O próprio Ralph Fiennes interpreta um professor de dança russo, Pushkin. O filme tem excelente ficha técnica: fotografia, direção de arte, maquiagem ( Ralph Fiennes está irreconhecível) , mas a direção de Fiennes tem mão pesada e torna o filme bastante burocrático. O filme vale pelo ótimo trabalho de Oleg Ivenko e por escalar atores russos de verdade para papéis importantes da trama.

A rebelião

"Captive state", de Rupert Wyatt (2019) Diretor da primeira parte da nova franquia de "O Planeta dos macacos", o cineasta Rupert Wyatt co-escreveu o roteiro de "A rebelião". Uma tarefe bastante ingrata: o roteiro é bastante confuso, com uma profusão de personagens que entram e saem e no final, ficam ainda dúvidas acerca de muitas sub-tramas. No ano de 2019, alienígenas invadem Chicago. Quase 10 anos depois, o mundo todo foi dominado pelos aliens. Humanos e alienígenas convivem juntos de acordo com as leis dos invasores. Os que forem contra as leis, sofrem consequências. Um grupo rebelde procura destruir os invasores, mas não encontram sucesso. O Policial Mullighan (John Goodman), que trabalha para os alienígenas, procura descobrir o paradeiro dos rebeldes, comandados pelos irmãos Gabriel e Rafe, cujos pais foram mortos pelos alienígenas em 2019. Com um elenco de apoio formado por Vera Farmiga e Ashton Sanders, de "Moonlight", "A rebelião" nunca empolga ou sequer decola. Sem ritmo, com algumas poucas cenas de ação e prejudicado principalmente porquê os alienígenas sempre aparecem no escuro, dificultando a sua visão, evidenciando o baixo custo da produção, de 25 milhões de dólares, pouco para uma ficção científica.

Anabelle 3- De Volta para casa

"Anabelle - Comes home", de Gary Dauberman (2019) Gary Dauberman é um roteirista de sucesso em Hollywood, tendo escrito toda a franquia "Anabelle", "A freira" e foi co-roteirista nas 2 partes de "It". ele agora estréia na direção com a terceira parte da franquia da boneca possuída, e surpresa das surpresas, realizou a melhor parte. Com uma decupagem que privilegia a criatividade nos planos, nos enquadramentos e movimento de câmera ( em especial, um recurso usado de espelhar na tela de uma tv tudo o que acontece com uma personagem) , Gary traz frescor à uma história que já dá sinais de cansaço. Espertamente, sabendo que somente a boneca não traria suporte suficiente para segurar o filme todo, Gary introduz outras entidades malignas, todas orquestradas pela Boneca: o cão do inferno, o barqueiro com olhos de moeda, a noiva assassina, entre outros. O filme mostra no prólogo como a boneca foi parar na casa do casal Lorraine e Ed Warren ( Vera Farmiga e Patrick Wilson). 1 ano depois, durante um final de semana onde o casal precisa se ausentar, sua filha pequena, Judy (Mckenna Grace, excelente) é cuidada pela babá, a jovem Mary (Madison Iseman). Daniela ( Katie Sarife) , melhor amiga de Mary, se convida para a casa e resolve visitar a ala secreta do lugar, onde todos os objetos secretos e malignos se encontram, incluindo a boneca. Daniela acaba libertando a Boneca de sua redoma, e fatos estranhos passam a ocorre na casa. Buscando referências em filmes clássicos de terror dos anos 80, como "Poltergeist", "Anabelle 3" tem como diferencial um belo roteiro onde existe conflito de personagens, majoritariamente femininos. Ótimos efeitos, excelente atmosfera de terror, que mesmo que faça uso de jump scares, faz de forma inteligente.

sábado, 29 de junho de 2019

O Rei da Montanha

"The mountain King", de Duncan Tucker (2000) Curta LGBTQ+ premiado, um clássico do ano 2000. Escrito e dirigido por Duncan Tucker, que em 2005 viria a lançar o cult "Transamerica". Em uma praia deserta, um jovem e tímido turista senta na areia para ler um livro. Um rapaz se aproxima dele, e o convida para ir em sua casa de praia. Tentado, o turista segue, seduzido pelo jeito liberal do outro rapaz. Ao chegar na casa, o rapaz confidencia ao turista de que é um garoto de programa. Curioso, o turista pergunta o porquê dele ter entrado nessa vida. O michê conta, e o turista acaba se deixando levar pelo flerte, transando e cheirando cocaína, se revelando para um universo totalmente diferente do seu. Com ótimas performances de John Sloan e Paul Dawson ( que trabalhou em 'Shortbus", "O Rei da montanha" é um instigante drama sobre descobertas e sobre sedução que pode levar ao perigo. Um Alerta sobre conhecer pessoas anônimas e se deixar seduzir sem conhecer o mínimo dessa outra pessoa. Bem dirigido, repleto de erotismo, é um filme que merece ser visto.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Turma da Mônica- Laços

“Turma da Monica -Laços”, de Daniel Rezende (2019) Adaptação da Graphic Novel de Lu e Vítor Caffagi , que faz uma releitura do universo dos personagens de Mauricio de Souza, é dirigido por Daniel Rezende, realizador de “Bongo”, o filme sobre o palhaços Bozo. É interessante perceber a diferença que um cineasta Cinéfilo faz com um roteiro singelo sobre a busca do sumiço do cachorro Floquinho, cujo dono, Cebolinha, junta seus amigos para irem em busca do fiel mascote. Daniel Rezende busca referências em clássicos juvenis que fizeram parte da vida de todo marmanjo: “Conta comigo”, “ Os Goonies”, “ It, a obra prima do medo” ( observem a capa de chuva amarela de Cascão), “Et” e até mesmo das séries “Dark” e “Stranger things”. Para os adultos, é possível até ver um toque atmosférico de “ O silêncio dos inocentes”. É difícil imaginar uma obra que conte a vida das crianças ou adolescentes hoje em dia sem a presença de bicicletas e cidade pequena do interior. O que mais me chamou a atenção nessa pérola nostálgica foi a excelente qualidade técnica que envolve a fotografia de Azul Serra, da direção de arte e dos figurinos, trabalhando em conjunto para dar vida aos personagens icônicos de Mauricio de Souza: uma tarefa bastante difícil, visto que durante décadas nos acostumamos a ver Monica, Cebolinha, Cascão e Magali nos quadrinhos. (Continua)

Divino Amor

“Divino Amor”, de Gabriel Mascaro (2018) Mais do que “ Black Mirror”, uma associação que muita gente tem feita ao filme do mesmo realizador dos ótimos “Boi neon” e “Ventos de agosto”, “Divino Amor” me remeteu o tempo todo à fantasia distópico e sem esperanças de “ A lagosta”, do grego Yorgos Lanthimos. Na fábula protagonizado por Colin Farrel, ninguém poderia ser solteiro. Todo ser humano deve formar um casal e se amar de verdade, e como punição aos que não cumprirem essa meta, se transformam em animais. No filme de Mascaro, acompanhamos um Brasil ambientado em Recife do ano 2027. O país agora é uma Republica evangélica. Assim como em “Matrix”, rolam raves sexualizada onde a população canta músicas louvando ao senhor, e na intimidade, transam entre si, como forma de pregar amor ao próximo. Joana (Dira Paes, fabulosa) é funcionária exemplar de um cartório. Religiosa fervorosa, ela tenta impedir que casais se divorciem, e para isso, os convence a frequentarem o “Divino Amor”, um culto terapia para casais onde todos transam como em uma orgia. Joana frequenta também um Pastor Drive Thru, interpretado por Emilio de Mello, para receber conselhos. Casada com Danilo ( Júlio Machado, excelente), que trabalha como preparador de coroas de flores em velórios, o casal tenta engravidar, sem sucesso. Danilo se descobre infértil, e pior, Joana se descobre grávida. Ela alega ser obra do Messias que está por vir. O roteiro é uma grande alegoria que faz crítica ao núcleo familiar e à Igreja, além da burocracia do Estado. O elenco está de forma geral excelente, e é incrível testemunhar o despudor de atores como Júlio Machado e Dira Paes, totalmente nus e à vontade em cenas de sexo vibrantes. A fotografia é do uruguaio Diego Garcia, um habitué dos filmes do tailandês Apitchchapong. Direção de arte, trilha sonora do Dj Dolores, é um conjunto de tantas qualidades nesse filme metafórico e brutalmente triste e visionário que a gente sai do cinema tentando entender em que mundo vivemos e que futuro reservamos às próximas gerações. O filme concorreu em Sundance e Berlin, além de ter sido exibido em mais de 20 Festivais.

A espiã vermelha

"Red Joan", de Trevor Nunn (2018) Baseado na história real da Espiã inglesa Melita Norwood (1912-2005), que trabalhou para os russos durante os anos 40 e 50, enviando informações ultra-secretas sobre a fabricação da bomba atômica. Melita foi descoberta pelo governo inglês em 1992. Judi Dench e Sophie Cookson interpretam Joan Stanley, alter ego de Melita. A época fi atualizada para o ano 2000, quando ela foi presa pelo governo inglês. O filme passa então a mostrar em flashbacks o envolvimento de Joan com os comunistas , através de uma colega de faculdade, que a apresenta a Leo, um alemão erradicado a Inglaterra, por quem Joan se apaixona. Ele a apresenta a filmes, reuniões e ideais comunistas, e Joan acaba se tornando simpatizante. Ela também se apaixona por William Mitchell, um inglês que trabalha para o Ministério da mineração, fornecendo mineral para confecção de bombas. Estudante de Física, Joan acaba se aproveitando dessa sua aproximação com Willian para roubar segredos para Leo. Mais do que um filme de espiões, "A espiã vermelha" é um filme de amor, daqueles exacerbados pelos quais a protagonista entrega a alma pelo amor de sua vida. Mas as atrizes defendem bem a sua personagem, com clara evidência de fortalecimento do feminismo em uma época comandada por homens. O filme é muito didático, correto, mas não chega a arrebatar em momento algum. Parece aquelas produções televisivas da BBC. Vale e com certeza, por Judi Dench, que mesmo aparecendo pouco, sempre traz dignidade para as suas performances.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Atriz milenar

"Sennen joyû", de Satoshi Kon (2001) A animação japonesa sempre foi associada mundialmente ao famoso Studio Ghibli e seus grandes clássicos: "Meu amigo Totoro", "A viagem de Chihiro", "A princesa Mononoke", todos de Hayao Myasaki, alem de outros filmes de cineastas menos conhecidos. Mas existe um Estúdio pouco conhecido do grande público, a Madhouse, que tinha entre seus animadores um dos maiores animadores de todos os tempos, Satochi Kon: 3 dos seus filmes certamente figuram entre as grandes obras-primas do gênero: "Perfect Blue", "Paprika" e "Atriz milenar". Satochi Kon faleceu precocemente, aos 46 anos de idade, e seus filmes tornaram-se cults. "Atriz milenar" é antes de tudo, Ode ao Cinema e ao Amor. Genya, um documentarista, e seu cameraman Eiko, agendam uma entrevista com a grande atriz japonesa, a veterana Chyoko, de 70 anos, mas há mais de 30 anos reclusa e sem filmar. Chyoko mora isolada nas montanhas, solitária. Durante a entrevista, ela diz como entrou no cinema como atriz aos 17 anos de idade, e filmou até os anos 60, protagonizando épicos do Japão feudal, heroína da segunda guerra, filme de monstros e até ficção científica. Mas o que ninguém sabia, e ela confidencia, é que ela entrou no cinema por amor: aos 17 anos, ela conheceu um misterioso pintor, que estava fugindo da polícia. Ele lhe entrega uma chave e diz que ela abre "a coisa mais importante da vida." No dia seguinte ele desaparece, e Chyoko torna-se obcecada em descobrir o paradeiro dele para lhe devolver a chave. Ao descobrir que ele foi para a Manchúria para participar em uma brigada anti-governista, Chyoko decide ser Atriz quando lhe dizem que o filme será filmado na Manchúria, tendo assim, uma chance de localizar o homem. O que torna o filme algo especial e primoroso, e a forma como Satochi narra toda essa história de flashbacks: Genya e seu cameraman participam ativamente das cenas narradas em flashbacks, como testemunhas da narração de Chyoko. A parte final, mesclando a fuga de CHyoko com cenas de suas personagens nos variados filmes, é um primor de roteiro e de edição. Roteiro, direção, trilha sonora e principalmente, o trabalho técnico na fotografia, "envelhecendo"as fotografias antigas, é tudo um desbunde e um olhar apaixonado de Satochi pelo universo que ele tanto prima, que é o da animação. O filme tem uma narrativa complexa, e o final pode deixar muita gente desapontada. Mas todo esse esforço lhe valeu vários prêmios em Festivais Internacionais, merecidamente.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Deslembro

“Deslembro”, de Flávia Castro (2018) Diretora do belo documentário “ Diário de uma busca”, onde a Cineasta falava do pai ativista político assassinado na época da ditadura brasileira, Flávia Castro agora estreia na ficção com o belo e intimista “ Deslembro”. Novamente resgatando a vida do seu pai, Flávia faz um relato livremente autobiográfico, sobre uma adolescente, Joana ( Jeanne Boudier), nascida no Brasil mas exilada em Paris nos anos 70. Com a Lei da anistia de 1979, sua mãe resolve retornar ao Brasil, junto dos dois meio irmãos pequenos de Joana e do padrasto, um Chileno envolvido com o combate da ditadura no Chile. Joana protesta, não quer vir para o Brasil, País que segundo suas amigas francesas dizem, tem onça e cobra andando nas ruas. Mas para Joana, o Brasil é o País onde se mata e tortura, e onde seu pai foi dado como desaparecido político. Obrigada a vir, Joana se isola, mas acaba descobrindo o primeiro amor, a maconha e principalmente, a música brasileira, que junto da convivência com sua avó ( Eliane Giardini), a fazem se reconectar com o Brasil. O filme, um belo projeto feminino, conduzido por mulheres na equipe e protagonizado por elas, tem uma delicadeza e sensibilidade que traduzem em imagens o coming of age de uma adolescente. Sem rumo, sem Cultura, sem o amor do pai que desapareceu, Joana se vê sem lenço e sem documento, e precisa aprender a recomeçar uma nova história. O filme também é um passeio nostálgico e poderoso em torno da música e a importância dela como resgate da memória: Lou Reed, The Doors, Caetano Veloso e muitos outros artistas embalam cenas belamente orquestradas pelo conjunto da equipe e Elenco em primeiríssima forma. O filme foi selecionado para a Mostra Horizonte em Veneza 2018 e ganhou 3 prêmios no Festival do Rio no mesmo ano: atriz coadjuvante para Giardini, Melhor filme do público e Fipresci.

Cardigan Rosa

"Roosa kampsun", de Moonika Siimets (2016) Escrito e dirigido pela Cineasta Moonika Siimets, "Cardigan Rosa" é uma ótima comédia dramática LGBTQ+ da Estônia. Henrik é um jovem ator que ganha a vida fazendo stand ups em teatros pequenos. Aparentemente divertido e boa praça, Henrik na verdade é solitário e sem dinheiro, vivendo de empréstimos de amigos. Henrik tem um melhor amigo, Ken, que é liberal e compra um cardigan rosa. Henrk diz que o cardigan é para gays, e Ken o chama de homofóbico. Ao dizer que está sofrendo de mal jeito no ombro, Ken indica para Henrik praticar Yoga. No primeiro dia de aula, Henrik faz amizade com Sander, assumidamente gay. Ao descobrir que ele é gay, Henrik o evita. Henrik é chamado para fazer uma audição para um programa, e descobre que o apresentador é gay. Henrik procura lidar com sua homofobia e tentar escondê-la para poder agradar na audição. Com um excelente roteiro, que alterna comédia e drama, "Cardigan Rosa" apresenta, através do personagem de Henrik, uma sociedade que procura "aceitar' a cultura e comportamento gay só para agradar ou satisfazer outras pessoas, sem que isso queira dizer que eles aceitem de coração. Com essa crítica, o filme faz refletir bastante, e tem um desfecho coerente que "pune"o seu protagonista por estar "fakeando' uma persona que não é ele. Ótimas performances de todo o elenco, e uma bela direção de Moonika Siimets.

Feriado

"Feriado", de Diego Araujo (2014) Raro drama LGBTQ+ do Equador, baseado nas memórias do Cineasta Diego Araujo, que também escreveu o roteiro. O Filme acontece no fatídico ano de 1999. Em 8 de março de 1999, foi declarado feriado bancário de 24 horas no Equador, que acabou durando 5 dias. Todas as operações financeiras foram suspensas. Quando acabaram as férias, o Governo anunciou o congelamento das contas. Muitos bancos faliram, e a população se desesperou. O protagonista do filme é Juan Pablo ( excelente performance de Juan Arregui), um adolescente que passa as férias nos Andes, na mansão de seus tios. Ali, ele tenta se divertir com seus primos, sem sucesso. A família é elitizada, mas Juan não se encaixa nesse universo. Uma noite, Juan é perseguido e acaba sendo salvo por Juano, um motoqueiro de descendência indígena, e fã de Heavy Metal. Juan Pablo acaba ficando amigo de Juano, mas acaba sentindo algo mais do que amizade. Misturando uma história de coming of age com saída de armário, e acrescentando conotação sócio -política à história, o filme apresenta um contexto histórico de um período conturbado do Equador. Um roteiro bem dirigido pelo cineasta Diego Araujo e bem interpretado pelos 2 atores principais. que encantam com personagens carismáticos. A fotografia noturna é bastante escura, o que prejudica bastante a visão. A cena da cachoeira é bastante homoerótica.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Filhas do sol

"Les filles du soleil", de Eva Husson (2018) Drama que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2018, é baseado em uma história real: um batalhão feminino de mulheres do Curdistão, um levante contra o Iraque após terem invadido uma comunidade Curda e assassinado todos os homens do vilarejo. As mulheres foram sequestradas, estupradas e vendidas como escravas sexuais, muitas deles assassinadas. As que conseguiram fugir, formaram um batalhão e lutaram contra os soldados iraquianos. Essa história aconteceu em 2014, e o filme ficcionaliza algumas das histórias dessas mulheres. Sob o ponto de vista da fotógrafa de guerra francesa Mathilde (Emmanuelle Bercot), esse combate foi comandado pela Comandante Bahar ( a excelente atriz iraniana Golshifteh Farahani, de "Paterson", "À procura de Ely", "Dois amigos"). em flashbacks, o filme vai mostrando o porquê de uma brilhante advogada, casada e com filho pequeno, acaba pegando em uma arma. Dirigido e escrito por mulheres, "Filhas do sol" é um drama de guerra tenso, repleto de suspense, e que faz lembrar "Sicario", filme de Dennis Villeneuve em termos de construção de personagens e de narrativa, em formatos flashbacks que aos poucos, vão trazendo ao espectadores informações reveladoras que emocionam e tornam tudo mais trágico. Muita gente reclamou do tom melodramático do filme, mas é gente chata que não consegue enxergar humanidade em dramas pessoais. Atuações arrebatadoras do elenco, mais focado na performance dessas duas mulheres espetaculares. A cena das mulheres atravessando a fronteira dos países é arrebatadora.

Meu amigo Rachid

"Mon copain Rachid", de Philippe Barassat (1998) "Meu amigo Rachid" é um clássico curta francês LGBTQ+ de 1998, e que hoje dificilmente seria realizado. O protagonista, Eric, tem 9 anos e é francês. Na aula de natação, ele fica obcecado com o tamanho do pênis de sue amigo árabe Rachid, de 14 anos. A todo momento, ele pede para Rachid mostrar o pênis e mais, ele quer tocar também. Rachid diz que somente gays podem ver de graça e que como Eric não é gay, precisa pagar para ver e pegar. Eric começa então a pedir dinheiro para sua mãe, mentindo para ela. Quando a mãe não oferece mais, Eric se desespera. Ousado, com nudez frontal de crianças, close no pênis, uma cena lúdica de ambos "voando" em um pênis voador, uma alusão à viagem do tapete mágico de Alladim e mais: uma cena de ambos na cama, em momento de alta voltagem erótica. Os dois meninos são ótimos, e fico imaginando os pais dos atores lendo o roteiro e concordando em participarem da história.

Mektoub, meu Amor: Canto um

"Mektoub, my love: Canto uno", de Abdellatif Kechiche (2017) Adaptação do livro "La Blessure, La Vraie", de François Bégaudeau, e adaptado pelo próprio cineasta Abdellatif Kechiche, "Mektoub my love" é uma ambiciosa produção cinematográfica composta por 3 partes, cada uma com mais de 3 horas de duração. "Canto um" foi lançado e 2017 e concorreu em Veneza, de onde saiu com vários prêmios.A segunda parte, 'Intermezzo", foi exibida em Cannes 2019 e foi atacada pela crítica, acusada de pornográfica e misógina por conter uma cena de sexo oral real envolvendo a atriz Ophélie Bau, protagonista da parte 1. Abdellatif Kechiche venceu em Cannes 2013 a Palma de Ouro de melhor filme por "Azul é a cor mais quente", um filme sensação por mostrar em mais de 3 horas, cenas de sexo explícito entre duas atrizes interpretando casal de lésbicas. O filme provocou polêmico posteriormente, pois as atrizes acusaram o Diretor de obrigá-las a fazer cenas de sexo contra o desejo delas. Em "Canto um", temos como protagonista Amin, um jovem de origem tunisiana que retorna para Sete, vilarejo pesqueiro ao sul da França, após 1 ano de estudo de Medicina na Faculdade em Paris. Ele vai passar as férias de verão de 1994 na cidade natal, e acaba reencontrando sua família, parentes e amigos, entre eles, Ophelia, por quem Amin sempre nutriu paixão platônica. Ophelie namora Clement que está fora do País em trabalho militar. Ela tem como amante Toni, primo de Amin, rapaz sedutor e que transa com todas as garotas da região. Amin está desiludido com a medicina e quer ser fotógrafo e roteirista de cinema. No caminho, ele conhece garotas em férias e circula pela praia, boite e bares com seus amigos e as meninas. Filme 100% hedonista, com a juventude linda e bronzeada percorrendo as 3 horas de filme transando, exibindo corpos, bebendo, dançando,falando futilidades, traindo, flertando e no caso de Ophelia, cuidando das ovelhas da fazenda do pai. É um filme totalmente em registro documental naturalista, como se ligassem a camera do celular e deixassem as pessoas falando por horas qualquer tipo de assunto. O que chama a atenção é a total espontaneidade do elenco, algo que Abdellatif Kechiche faz muito bem, extraindo o que há de melhor do seu elenco. Mas fora toda essa beleza visual do filme, intensificada por uma fotografia ensolarada e exuberante registrando as locações de forma paradisíaca, o filme entedia bastante com um discurso sobre o nada. Como é chata essa garotada!

domingo, 23 de junho de 2019

Casal improvável

"Long shot", de Jonathan Levine. Dirigido por Jonathan Levine, realizador dos excelentes "Meu namorado é um zumbi"e "50%", esse último um drama explorando o talento dramático de Seth Rogen, "Casal improvável"é uma excelente comédia romântica que explora a maravilhosa química entre o verdadeiramente improvável casal Charlize Theron e Seth Rogen. Revisitando as comédias malucas do casal Kathleen Hepburn e Spencer Tracy, que nas telas viviam um casal que se amava e se odiava, e a escatologia maravilhosa de filmes cults dos anos 90, como "Quem vai ficar com Mary", o filme diverte e faz refletir sobre o mundo político que se abate em todos os países. "Quem escolhemos para governar os desejos do povo? Será que realmente governam para o povo?" Diante dessas questões, surgem Fred (Rigen), um jornalista desbocado que defende as suas teses sem abaixar a cabeça para ninguém, e Charlotte (Theron), secretária do Governo e que está para lançar a sua campanha para Presidente dos Estados Unidos. O caminho de ambos se cruza quando Fred é demitido de sua editora, e Charlotte anda procurando um redator para os seus discursos. O caminho de ambos se cruza durante uma festa e Fred se recorda que Charlotte foi a sua babá quando ele tinha 13 anos de idade. Ela o contrata e ambos se dão bem, mas contra o casal, o próprio Presidente e seu amigo, um empresário corrupto, que desejam vender terras para desmatamento. O filme é longo para uma comédia, 125 minutos, mas são tantas as cenas divertidas e verdadeiramente engraçadas que a gente até releva a extensão do roteiro. Os personagens coadjuvantes, como a secretária e o hindu que trabalham para Charlotte, e o melhor amigo de Fred, roubam as cenas onde aparecem. O filme discute machismo, racismo, diversidade, feminismo e vários outros tópicos atuais que é quase impossível alguém não se identificar com o que é dito ali. Mas o brilho do filme é mesmo de Chariize e Seth Rogen, grandes comediantes, em cenas antológicas, como a dancinha ao som de "It must have been love", de Roxette.

Circuito

"Circuit", de Dirk Shafer (2001) O Cineasta Dirk Shafer co-escreu o roteiro de "Circuito", e acabou criando um ambicioso épico sobre o universo LGBTQ+ em Los Angeles do inicio dos anos 2000, antes mesmo do 11 de setembro. Sexo, drogas e música eletrônica são o cardápio de uma fábula hedonista sobre a busca do prazer, associado ao culto do corpo, da juventude, das pistas de dança e muito sexo sem compromisso. Dirk se baseou na história de um amigo para escrever o roteiro: seu amigo se suicidou aos 30 anos de idade, não suportando a dôr de envelhecer e perder o frescor da juventude. John é um policial de Illinois. Ele é transferido para Los Angeles e se hospeda na casa de um amigo, que namora um rapaz, Gill. Logo John é apresentado ao mundo gay da cidade, voltada para as festas de música eletrônica, frequentada por gays musculosos, mais preocupados em tomar hormônios e cultuar o corpo e a juventude. John conhece Hector, um garoto de programa que não aceita envelhecer. Hector apresenta as drogas sintéticas para John, que acaba se rendendo ao culto hedonista do corpo e do prazer desenfreado. Não dá para entender com um filme com um roteiro tão frágil, consiga ter 130 minutos de duração, é interminável. Sem ritmo, com personagens demais entrando e saindo do filme, Dirk Shafer quiz traçar um painel pretensioso do mundo gay de Los Angeles, mas acabou se afastando de seus protagonistas e enfraquecendo a trama. Tecnicamente o filme tem problemas: a fotografia é escura demais nas cenas noturnas, e a edição deixa sobras em muitas cenas, deixando o ritmo frouxo. Mas a parte mais crítica do filme é em relação ao elenco: provavelmente escalados pela beleza física e do corpo, os protagonistas não seguram a onda dos seus personagens. São atuações amadoras e em alguns casos, constrangedores. Se a intenção do espectador é dar uma de voyeur, pode ser que goste bastante. Mas se for buscar um filme com qualidades de interpretação, vai ficar devendo. O mais triste é ver que Nancy Allen, que estrelou vários clássicos de Brian de Palma, além da franquia "Robocop", está mal aproveitada e com uma triste performance.

sábado, 22 de junho de 2019

Perdido no Paraíso

"Hot Boy Noi Loan", de Vu Ngoc Dang. Considerado o primeiro drama gay do Vietnã, por ter protagonistas LGBTQ+, "Perdido no Paraíso" é um melodrama dividido em 2 histórias ambientadas na Metrópole Saigon. Ambas as histórias têm como tema central a prostituição. Na primeira história, Khoi (o cantor pop Ho Vinh Khoa) é um rapaz que chega em Saigon para tentar a vida, depois de ter sido expulso de sua casa no interior quando os pais descobriram que ele é gay. Ele conhece Dong, um rapaz que lhe oferece dividir um apartamento. Quando chega no apartamento, Dong lhe apresenta Lam, dizendo ser seu primo. Khoi vai tomar banho, e acaba sendo roubado pela dupla. Desesperado, sem dinheiro, Khoi faz bicos em qualquer tipo de serviço pesado, até que se machuca. Lam é abandonado por Dhing, que foge com o dinheiro. Ao encontrar Khoi na rua, Lam o traz para seu quarto e cuida dele. Ambos acabam se apaixonando, e Lam revela a Khoi que faz programas para sobreviver. Na outra história, Hahn, uma prostituta quarentona, é protegida nas ruas por um deficiente metal que cria um pato. Quando a cafetina ameaça Hhan, o rapaz deficiente, Cuoi, tenta defênde-la. Exagerando no melodrama, principalmente pelo uso excessivo de música, "Perdido no Paraíso" vai fazer a alegria de quem gosta de uma trama novelesca e cheia de vilões. É um filme com bastante sensualidade, e uma fotografia realista que acentua a vida mundo cão dos personagens. Os atores estão todos bem, e para uma filmografia que até então a pouco deixou de ser conservadora, o filme é bem usado com cenas de nudez. "Perdido no Paraíso" fez muito sucesso em seu País e foi exibido em dezenas de Festivais mundo afora.

Burn your maps

"Burn your maps", de Jordan Roberts (2016) Adaptado pelo próprio Cineasta Jordan Roberts de um conto escrito por Robyn Joy Leff, "Burn your maps" é um emocionante drama sobre a jornada de uma família que perdeu o seu rumo após a morte da filha pequena. Alise (Vera Farmiga)é professora de inglês para imigrantes. ela é casada com Connor e possuem 2 filhos, a adolescente Becca e o pequeno Wes (Jacob Tremblay, de "O quarto de Jack"). Cada um dos integrantes da família enfrenta o luto pela morte da bebê de uma forma diferenciada. Wes acredita ser a reencarnação de um pastor de ovelhas da Mongolia e passa a agir como tal. O pai se preocupa, a mãe estimula a fantasia do filho. Juntos de Ismail, um aluno hindu de Alise, Alise e Wes viajam até a Mongolia e lá, buscam respostas para o drama de suas almas. Com ótimas performances de Vera Farmiga e de Jacob Tremblay, "Burn your maps" enfrentou o pouco caso da distribuição nos Estados Unidos. exibido no Festival de Toronto em 2016, só agora conseguiu uma distribuição pequena. O filme traz uma bela reflexão sobre a religiosidade budista, fazendo os pais acreditarem que a pequena bebê não morreu, mas encontrou um outro estagio. Um personagem mongol diz ao pai: "Você não perdeu sua filha. Você a encontrou." Para quem gosta de filmes road movies, que geralmente são metáforas sobre jornadas da alma, vai gostar bastante desse filme. As locações da Mongólia foram filmadas no Canadá.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

O Amor dos leões

"Lions Love (... and Lies)", de Agnes Varda (1969) Drama experimental dirigido por Agnes Varda na sua fase "Californiana", quando ela foi morar em Los Angeles em 1958 com Jacques Demy, seu marido. O filme tem toda a narrativa que se esperava de um filme de Agnes Varda: artes plásticas, fotografia e muita discussão acerca da Arte, Cinema, Política e relacionamento poliamor, em voga na época por conta do movimento Hippie. Muito sexo, drogas e rock'n roll sob o ponto de vista da liberação sexual e do comportamento, e o mais interessante, sob o olhar feminino e revolucionário de Agnes Varda. Varda convidou os atores Gerome Ragni e JAmes Rado, que haviam participado do filme "Hair", de Milos Formam, para fazerem parte do filme. A eles se juntaram a Artista e performer Viva, famosa por sua contribuição artística na The Factory de Andy Warhol, e a cineasta independente de Nova York Shirley Clarke, convidada por Varda para dar vida a uma cineasta que filma o relacionamento dos 3 hippies que convivem em uma mansão. O filme parece, aos olhos de hoje, um reality show sobre comportamento. Através da rotina filmada de Viva, Jim e Jerry, em momentos de performance, sexo e divagações acerca de política ( a candidatura e assassinato de John Kennedy), Televisão e Star System das celebridades de Hollywood, Shirley interage com eles. Em determinado momento, Shirley discute com Agnes Carda, or se recusar a fazer uma cena onde ela se suicida. Agnes assume a cena e ela mesmo interpreta. O filme é bastante ousado em termos de nudez e comportamento, e na cena final, vemos crianças pequenas fumando e bebendo álcool. Agnes Varda sempre foi uma Artista militante, que provocava em seus filmes discussões sobre todas as áreas artísticas e políticas.

Linha direta da Crise

"Crisis hotline", de Mark Schwab (2019) Thriller LGBTQ+ escrito, produzido e dirigido por Mark Schwab, é uma produção independente americana. Simon trabalha em um tele atendimento voltado para o público LGBTQ+ que se encontra em depressão. Entre vários trotes, ele recebe a chamada de Kyle, um jovem millenial de SIlicon Valley que diz estar prestes a se suicidar e antes, matar algumas pessoas. Simon vai tentando entender o caso, enquanto procura extrair de Kyle o motivo dele querer praticar o crime. Curioso suspense psicológico, mostra o submundo do sexo da deep web, onde pessoas são inocentemente procuradas em chats de namoros online e acabam se envolvendo em um mercado clandestino de sexo virtual. Os atores são medianos, mas como o foco do filme são cenas eróticas, acabam dando conta do recado.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Quem você pensa que sou

"Celle que vous croyez", de Safy Nebbou (2019) Adaptação da novela escrita por Camille Laurens , "Quem você pensa que sou"foi dirigido pelo mesmo realizador do excelente "Na floresta da Sibéria", Safy Nebbou. Exibido em Berlin 2019, o filme mistura vários gêneros: drama, romance e suspense, com uma trama diabólica que no terço final, dá vários plot twists. Claire (Binoche) é uma mulher divorciada. Seu marido se separou para ficar com uma mulher mais jovem. Claire mora com seus dois filhos adolescentes, e nos dias que eles estão com o pai, ela traz um jovem amante, Ludo. Quando Ludo pede para dar um tempo, Claire responde mal e fica frustrada. Ao ligar para o celular dele, o roommate dele, Alex (François Civil), um fotógrafo, atende e destrata Claire. irritada e querendo se vingar, Claire cria um perfil falso no Facebook, com o codinome de Clara, 24 anos. Dessa forma, ela tenta se aproximar de Ludo, mas o que ela não poderia esperar, era que Alex focasse interessado em 'Clara". Sentindo-se desejada, Claire entra no jogo virtual. Para aliviar a adrenalina, ela frequenta uma psicóloga, Dra Catherine, e faz dela a interlocutora desse jogo erótico e perigoso. Com uma performance arrebatadora de Juliette Binoche, que em segundos, transforma um sorriso em lágrimas, o filme aposta no olhar feminino sobre as relações humanas. O filme também faz uma pesada crítica à lavagem cerebral que são as redes sociais e o afastamento das gerações, principalmente as mais velhas, que não conseguem acompanhar a juventude. Desfecho arrebatador. François Civil prova ser um dos grandes talentos da nova geração francesa.

Toy Story 4

"Toy Story 4", de Josh Cooley (2019) E pensar que o primeiro "Toy Story" acaba de fazer 25 anos! Quando John Lassiter escreveu e dirigiu o filme original, talvez não fizesse idéia da grande catarse que a futura franquia faria no imaginário de toda uma geração. Recentemente John Lassiter sofreu acusações de assédio sexual, e portanto sue nome foi relegado a colaborador no roteiro dessa parte 4, tendo a direção sido entregue para Josh Cooley. Em 2010, quando foi lançada a Parte 3, todo mundo achou que a franquia havia terminado. Afinal, Andy, o menino, cresceu, foi pra faculdade e se desfez de seus bonecos, em uma das cenas mais tristes da história do cinema. Mas povo da Disney e Pixar adoram dinheirinho fácil, e porquê não retomar o filme exatamente de onde parou? Os bonecos agora estão com a pequena Bonnie. Ela tem seus boneco preferidos, e definitivamente, Woody não é um deles. Woody sente-se triste. Mas quando descobre que Bonnie vai começar a frequentar as aulas, relembra de como foi com Andy e se enfia na mochila dela, para ajudá-la a encarar a barra pesada da escola. Bonnie acaba criando um boneco novo, feito de material descartável: o Garfinho. Quando vão para as férias da semana acampar, Bonnie leva os bonecos. Mas Garfinho sofre de crise existencial e acaba se jogando da estrada. Woody sente-se na missão de salva-lo. Repleto de personagens novos, e recuperando alguns antigos, como a Pastora Betty e suas ovelhas, "Toy Story 4" novamente fala daquilo que mais lhe cabe: amizade e desapegos. O filme é recheado de ótimas piadas, e também muito drama, culminando com muitas lágrimas derramadas no cinema. A trilha sonora é excelente, e as vozes originais imperdíveis: além dos tradicionais Tom Hanks e Tim Allen, temos também Keanu Reeves no papel do motoqueiro Duke, genial. O filme reserva homenagens a vários filmes, entre eles, "ET".

As fábulas negras

"As fábulas negras", de Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins (2015) Antologia de Terror, baseada em lendas do folclore brasileiro. O Cineasta capixaba Rodrigo Aragão, realizador de "Mata negra", coordenou esse filme e convocou mais 3 diretores, entre eles, Zé do Caixão, para darem sua visão de lendas como Saci, Lobisomem e Iara. Para costurar as 5 histórias, temos 4 meninos fantasiados de super heróís, que ficam narrando histórias de terror para um deles, que é totalmente descrente da veracidade das lendas. Rodrigo Aragão dirige o primeiro e o último episódios: "O monstro do esgoto"e "A lenda da Iara". No primeiro, um prefeito corrupto é morto pelo monstro do esgoto, que atava todos aqueles que são favoráveis à burocracia e a corrupção; em "A lenda da Iara", uma mulher se une ao demônio para matar o marido traidor e a amante dele. Zé do Caixão dirige "O Saci": um casal é avisado por um Pai de Santo para não atravessar a mata e zoar o Saci. Desobedecendo a ordem do homem, o casal sofre as consequências. "Pampa feroz", dirigido por Petter Baiestorf, conta a história de um Coronel que quer matar um lobisomem que ameaça suas terras. "A loira do banheiro". de Joel Caetano, conta a famosa lenda urbana da loira que foi morta em um banheiro de um colégio e que agora se vinga das pessoas. O episódio da "Loira do banheiro" é disparado o melhor de todos, não que isso seja um grande mérito. O filme como um todo só funciona para o espectador se ele souber de antemão que o filme é trash, uma homenagem ao Cinema de terror B e sem dinheiro, como Zé do Caixão fazia em seus filmes. Aqui, o que vale é o quanto pior , melhor: Atores ruins e exagerados, maquiagem tosca, efeitos de quinta, enfim, para quem estiver nessa vibe, vai se divertir bastante, assim como eu. É o famoso terror baixo orçamento tupiniquim, que visto com amigos se torna uma grande diversão. Os episódios são irregulares, mas o mais divertido em termos de trash é "O Monstro do esgoto". Esse merece um troféu pela insanidade que ele é como uma obra de resistência, de querer fazer um cinema a qualquer custo.

O Círculo

"Der kreis", de Stefan Haupt (2014) Comovente docudrama LGBTQ+ sueco, indicado pela Suiça uma vaga para o Oscar de filme estrangeiro em 2016. Baseado em uma história real, o filme narra a história da Revista The Circle", voltada para o público gay masculino. Lançada em 1934 na Suíça, ela durou até dezembro de 1967. Durante a sua existência, ela publicou matérias jornalísticas , eventos e fotos com homens semi-nus e tinha milhares de assinantes pela Europa, a maioria, enrustidos. Na Suíça, o homossexualismo era permitido, mas assim que os primeiros crimes contra homossexuais surgiram, eovocados por garotos de programa que vinham de outros países para chantagear gays na Suíça, a polícia resolveu intervir e ameaças contra os gays começaram a acontecer. A derrocada da Revista aconteceu porquê Holanda e Dinamarca começaram a publicar revistas com fotos explícitas de nus masculinos e aí, as assinaturas foram desaparecendo. O filme também conta a história de amor entre Ernst e Robi. O primeiro era um professor de literatura enrustido, que trabalhou clandestinamente para a Revista como colaborador. Lá, ele conheceu a transformista Robi. O Casal foi o primeiro a se casar na Suiça em 2003, aonde vivem até hoje. O filme alterna cenas ficcionadas que vão dos anos 50 a 70, com entrevistas com o casal real e sobreviventes da Revista. Um filme importante historicamente, com ótima reconstituição de época e bons atores.

Barragem

"Demnig", de Paul Tunge (2015) Segundo filme dirigido pelo Cineasta norueguês Paul Tunge, que também escreveu o roteiro, "Barragem" é um drama LGBTQ+ intimista e com forte influência do cinema documental. Dois rapazes, j e Jo, se conhecem em um bar e passam uma noite juntos. No dia seguinte, J convida Jo para fazerem montanhismo. Jo aceita eles passam um dia inteiro solitários nas montanhas. Aos poucos, eles vão conhecendo a verdadeira faceta de cada um: J tem uma índole violenta, e Jo, é carente e desesperado em busca de um amor. Um filme totalmente carregado nas costas pelos 2 jovens atores, "Barragem" é um titulo metafórico sobre a "muralha"que se constrói sobre os dois: no inicio se divertem, riem, brincam, lutam, mas depois, quando os segredos mais íntimos de ambos afloram, fica uma terrível sensação de isolamento. O filme tem um ritmo muito arrastado e pode atrair cinéfilos mais afeitos a um cinema independente com olhar mais autoral e quase experimental. Bela fotografia e paisagens. O filme vale mesmo pela performance de Joachim Kvamme e Jørgen Hausberg Nilsen, nos papéís de Jo e J, respectivamente.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Inocência roubada

"Les chatouilles", de Andréa Bescond e Eric Métayer (2018) Casados na vida real, Andréa Bescond e Eric Métayer se conheceram em 2012. Eric tomou conhecimento da história traumática de Andréa Bescond, e juntos, escreveram uma peça teatral, intitulada "As cócegas", e agora transformada em premiado filme. Concorrendo em Cannes 2019 na Mostra "Un certain regard", o filme ganhou diversos prêmios internacionais, entre eles, o de Melhor roteiro e de melhor atriz coadjuvante para Karin Viard, no papel da mãe de Odette, pseudônimo de André ano filme. Odette ( Andréa Bescond) é uma dançarina contemporânea que resolve ir até uma psicóloga e contar finalmente o seu grande trauma de infância: ela foi estuprada aos 10 anos de idade pelo melhor amigo de seus pais, Gilbert (Pierre Deladonchamps, ótimo em um papel muito complexo e difícil). Odette passou a vida toda escondendo o fato dos pais, mas com a ajuda da psicóloga, ela toma a iniciativa. O filme utiliza um recurso utilizado em filmes como 'Eu minha mãe e os meninos"e "Rocketman": fazer do filme uma sessão de terapia, falando das relações familiares e botando para fora todos os fantasmas, de forma lúdica. O filme pode ser visto como uma grande sessão de terapia, e o final é uma grande catarse. Ecos de Bergman, em um filme que mistura drama, musical e alguns poucos elementos de humor para suavizar uma história tão barra pesada. Algumas cenas são bastante difíceis de se assistir, e a bravura de Andréa em expôr seu drama merece todos os aplausos. Cyrille Mairesse, no papel de Odette criança, é um talento e muito expressiva, além de dar vida a uma personagem bastante polêmica.

Duas vezes

"Due volte", de Domenico Onorato (2018) Intenso curta LGBTQ+ italiano, "Duas vezes" tem como tema a homofobia e o bullying. Antonio e Diego são melhores amigos. De classe média alta, os dois passam os dias curtindo o que a vida tem de melhor: festa, bebidas, garotas, praias. Diego é enrustido e platonicamene, apaixonado por Antonio. Antonio percebe, e para instigar a masculinidade de Diego, o obriga a estuprar uma garota que conheceram em uma festa. Com ótimas interpretações dos 3 atores, o filme é quase todo narrado em Off por Diego, em construção narrativa que torna o drama um grande suspense. Muito boa edição, fotografia e trilha sonoras.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Thirsty

"Thirsty", de Margo Pelletier (2016) Musical cinebiográfico da Drag Queen Thisrty Burlington, nascido Scott Townsend em PrinceTown, Massachussets. O filme acompanha Scott desde que ele tinha 11 anos de idade em 1970, até os dias de hoje. Nos anos 90, ele personificou a cantora Cher em quase todos os seus números musicais apresentados em cabarets e shows. A cineasta e roteirista Marg Pelletier faleceu de câncer logo após finalizado o longa. Famosa por realizar filmes e documentários que têm em comum o tema do transgênero, Margo foi uma lésbica militante. O filme faz um apanhado musical de várias décadas, e de certa forma, lembra bastante Hedwig", de John Cameron Mitchell ( o ator Scott Towsend interpreta a si mesmo já na fase adulta). Scott sofreu durante sua infância e adolescência com o bulllying de estudantes e de vizinhos , que sempre o consideraram afeminado. Sua mãe era alcóolatra. Foi seu tio quem motivou Scott a cantar em pequenos shows. O filme em si é interessante, bem dirigido, mas longo e sem ritmo. A história de Scott é narrada em uma edição que vai e volta no tempo, tornando a narrativa confusa. Mas a mensagem que o filme passa acaba sendo o grande motivo para se assistir ao filme. Produção de médio orçamento, e com desfecho reunindo todo o elenco em um grande número musical. O filme foi exibido em diversos Festivais e ganhou alguns prêmios.

A lenda do Golem

"The Golem", de Doron Paz e Yoav Paz (2018) Raro filme de terror israelense, "A lenda do Golem" é um ótimo exemplo de que filmes de gênero podem ser muito bons. Com um drama bastante acentuado, o filme conta a história de Hannah (Hani Furstenberg, sósia de Jessica Chainstain) , uma mulher que vive em uma Vila Lituana na Europa do Século XVII. O mundo está sendo devastado pela Peste Negra. Hannah vive com seu marido em uma comunidade judaica. O casal perdeu recentemente o marido. Invasores pagãos surgem na vila exigindo que salvem a filha do chefe deles, que está morrendo da peste negra. O Chefe pagão afirma que os judeus são feiticeiros, pois não contraíram a doença. A vila fica ameaçada. Hannah descobre que ela pode invocar o Golem, uma figura mítica feita de barro, para proteger a vila e também para substituir o filho morto. Mas a criança nasce com desejo de sangue, e foge do controle de Hannah. Violento, o filme apresenta mortes brutais, principalmente cabeças explodindo. É um filme que se aproxima dos recentes "Brightburn"e "Cemitério maldito", apresentando crianças sanguinárias e assassinas. 'A lenda do Golem" além de ser filme de terror, também é um ótimo drama, apresentando a cultura machista e misógina dos judeus, que não oferecem espaço para a mulher na religião e no comando da sociedade.

O Adeus

"The gooodbye", de George Velez Junior (2018) Um jovem descobre que tem 6 meses de vida. Ele se desespera, e evita refazer as pazes com seu ex-namorado que o traiu, e com seu pai, que abandonou a família quando o filho anunciou que era gay. Dramas sobre pessoas comuns que descobrem ter doença terminal e pouco tempo de vida são bastante comuns. Mais comum ainda, é quando essa pessoa é jovem. Talvez o melhor filme sobre esse tema seja "O tempo que resta", de François Ozon. "O Adeus" é um drama inglês, e por conta disso, merece crédito pelo seu bom elenco, e pelo carinho com que o Diretor e roteirista George Velez Junior lida com esse tema sempre tão delicado, evitando excessos de melodramas.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Os Príncipes

"Os Príncipes", de Luiz Rosemberg Filho (2018) No dia 19 de maio de 2019, faleceu o Cineasta Luiz Rosemberg Filho. Ativo na produção de filmes autorais e provocativos desde o final dos anos 60, Rosemberg nunca escondeu a sua influência ciinematográfica das filmografias de Godard e de Glauber Rocha. De Godard, ele buscou inspiração nas colagens, na montagem de imagem e som esquizofrênicas e nos protagonistas anti-heróicos. De Glauber, trouxe a narrativa teatral, épica e a câmera livre. Em "Os Príncipes", Rosemberg volta a filmar com alguns de seus atores recorrentes: Ana Abbot e Patricia Niedemeier, que trabalharam com ele em "Dois casamentos" e Guerra do Paraguay", e Alexandre Dacosta, também de "Guerra do Paraguay". Esses 3 filmes, aliás, foram produzidos por Cavi Borges, incansável batalhador do Cinema autoral brasileiro. "Os Príncipes" também teve produção da Cafeína Filmes, de Ph Souza, Produtor de Belo Horizonte. Competindo no Festival Cine PE 2018, "Os Príncipes" conseguiu o grande feito de ganhar 6 importantes Prêmios: Melhor Ator para Igor Cotrim; Melhor Atriz para Patricia Niedemeier, Melhor Ator Coadjuvante para Tonico Pereira, Melhor Fotografia, Edição de Som e Trilha Sonora. É difícil não enxergar algumas referências cinéfilas: podemos encontrar uma homenagem explícita à "A Laranja mecânica", quando os protagonistas, em busca de uma noite de sexo e violência, invadem uma casa e batem nos moradores, cantando 'Singing in the rain". Tem também ecos de "O bandido da Luz Vermelha", com o recorrente locutor de uma rádio ligada no carro narrando noticiários políticos. O filme acompanha a trajetória de 2 "Príncipes" urbanos no Rio de Janeiro: pilotando um carro anos 70, eles vagueiam pelas ruas da cidade, acompanhados de 2 prostitutas. Os 4 seguem uma epopéia de muito sexo, drogas e destilando uma metralhadora giratória de impropérios verbais que atiram para todos os lados. é uma crítica feroz à sociedade, ao governo, à corrupção, ao Cinema comercial e, impossível de não reparar, ao machismo. Para o público feminino, o filme deve incomodar bastante: as personagens femininas são vitimas da misoginia dos personagens masculinos, que comandam a narrativa. O filme reserva uma cena divertida, quando quer criticar o Cinema feito por Hollywood: o crítico de cinema Rodrigo Fonseca interpreta a ele mesmo, entrevistando uma Diva que representa Hollywood. É uma cena digna da melhor chanchada brasileira, ao som de samba e Nino Rota de "8 1/2"de Fellini, e muita avacalhação narrativa do cinema marginal. O elenco como um todo atua de forma visceral, sem pudores e sem amarras. Um filme brutal, sujo, violento, que choca e que faz refletir sobre o mundo que estamos vivendo.

O mais jovem

"The younger", de Etsen Chen e Yen-Hung Chen (2014) Dirigido, escrito e protagonizado por Etsen Chen, que co-dirigiu com Yen Hung Chen, "O mais jovem" é um premiado drama LGBTQ+ de Taiwan. O filme narra a rotina barra pesada do jovem Chen Hao-Zhi: seus pais o abandonaram sozinho com sua avó, que sofre de Alzheimer. Sem ter dinheiro para pagar os medicamentos caros de tratamento da avó, Chen acaba indo trabalhar em uma casa de massagem gay. O que de início era só massagem, acaba aos poucos sendo sexo, para que possa ganhar uma diária maior e poder arcar com os custos domiciliares. Mas Chen se apaixona por um cliente casado, que lhe promete presentes e carinho. Intenso no drama e com uma cena especialmente sensual e provocativa, quando Chen faz sexo pela primeira vez com o cliente casado, "O mais jovem" apresenta a dura realidade da juventude que teve que abdicar de seus estudos por motivos vários, e que precisa enfrentar a realidade do mercado do sexo. Comovente e com ótimas performances dos atores Etsen Chen, no papel principal, e de Chun-Mei Hou, no papel da avó.

domingo, 16 de junho de 2019

Rastros de um sequestro

"Gi-eok-ui bam", de Hang-jun Zhang (2017) Excelente suspense sul-coreano, com uma trama absolutamente diabólica. O roteiro, do próprio Hang-jun Zhang, possui pelo menos uns 10 Plot twists, daqueles de fazer virar na cadeira. Claro, muitas dessas viradas de roteiro sôam bastante forçadas, para fazer a história avançar, fora algumas coincidências da trama. Mas nada que tire o grande prazer de acompanhar tenso do início ao fim uma história que o espectador pode até tentar adivinhar logo de cara, mas que vai ser constantemente surpreendido com o típico "Achei que seria isso." No ano de 1997, uma família acaba de se mudar para uma casa nova: os pais e os irmãos, Jin-seok, o mais novo ( excelente trabalho de Ha-Neul Kang) e Yoo-seok (o igualmente ótimo Mu-Yeol Kim). Jin Seok venera o seu irmãos mais velho, que sempre foi bastante estudioso e dedicado. Um ano atrás, a família sofreu um acidente de carro e Yoo Seok ficou com defeito na perna. Uma noite, ao retornarem de um passeio, o irmão mais velho é sequestrado, para o desespero de Jin Seok. 19 dias depois, o irmão retorna, mas Yoo Seok estranha a postura do irmão e acredita que ele é um impostor. Um filme obrigatório para quem curte suspense com trama rocambolesco e que propõe um monte de charada. Boas cenas de ação e trilha sonora que remete à trilha de Bernard Hermann, compositor de Hitchcock.

I Am Mother

"I Am Mother", de Grant Sputore (2019) Exibido em Sundance 2019, "I Am Mother" é um excelente filme de ficção cientifica, um surpreendente filme de estréia do australiano Grant Sputore. Co-escrito pelo próprio, o filme é um amálgama de muitos clássicos de terror e ficção científica: 'Alien", "O iluminado", "O exterminador do futuro", "2001" , "Cloverfield 10" são alguns exemplos, com cenas muito semelhantes que claramente são uma homenagem dos criadores. Com apenas 3 atrizes em cena, sendo que uma apenas com a voz ( Rose Byrne) , que dá vida à "Mother", uma andróide emotiva e carinhosa mas também perigosa, uma máquina assassina. As outras atrizes são Hillary Swank, no papel da "Mulher", e Clara Rugaard, no papel da "Filha". No futuro, uma adolescente é criada pela "Mother", uma andróide, que faz o papel de sua mãe, educando-a. A Filha é a única humana existente no universo: a Mãe diz que a humanidade se extinguiu por conta de um vírus e portanto, a menina não pode sair do bunker sob o risco da também ser contaminada. Um dia, uma Mulher surge ferida no bunker, e a Filha se surpreende: a Mulher diz que existem sobreviventes no exterior e que precisam de ajuda. O que está acontecendo de verdade: Teria a mãe mentido sobre o mundo externo? Com um roteiro inteligente e instigante, ótima Direção, atrizes excelentes e efeitos especiais de arrepiar, "I Am Mother" surpreende e cria uma grande expectativa sobre o que de fato está acontecendo. O desfecho é complexo, há que se raciocinar um pouco sobre tudo o que foi visto. É um filme melancólico, claustrofóbico, intimista. Uma grande pedida para quem busca filmes provocadores.

sábado, 15 de junho de 2019

Ray e Liz

"Ray and Liz", de Richard Billingham (2018) Em 1997, uma exposição fotográfica chamada "Sensation" exposta na The Royal Academy of Art em Londres chamou a atenção do mundo: fotos de um casal decadente, o homem alcóolatra e desdentado e uma mulher obesa e toda tatuada, em momentos de pura degradação humana. As fotos foram tiradas em um apartamento de classe média baixa, em um prédio de periferia durante o Governo Tatcher. Descobriu-se depois que o casal eram os pais do fotógrafo, Richard Billingham. No ano anterior, ele já havia lançado um livro de fotos chamado "Ray's a laugh", onde expunha fotos do cotidiano de seus pais. Essa foi a forma que Billingham conseguiu exorcizar a sua difícil relação com seus pais, e que agora ele próprio complementa com o seu filme de estréia. Intitulado "Ray e Liz", nome de seus pais, acompanhamos 3 fases distintas na vida do casal: anos 80, anos 90 e anos 200, já no fim da vida. Richard, nos anos 80, então com 10 anos, morava com seu irmão pequeno Jason em péssimas condições de higiene. Seus pais eram negiigentes e passavam o dia todo bebendo. Quando Jason é esquecido do lado de fora de casa, quase morrendo de frio, a assistência social resolveu tirá-lo da guarda dos pais e entregá-lo a pais adotivos. Richard permaneceu morando com os pais, e sua vida foi eternamente marcada por uma vida de depressão e pobreza. Dramaturgicamente o roteiro parece ter sido extraído de filmes de Ken Loach e Mike Leigh, mas esteticamente, se diferencia bastante. A rotina da classe desempregada da era Tatcher, às voltas com fome e alcoolismo, é apresentada com extremo rigor narrativo. Planos fixos ou com movimentos lentos de travellings, com uma estilização na fotografia que não vemos nos filmes de Ken Loach, mas afeito ao olhar documental. Os atores estão todos excelentes. É um filme barra pesada, difícil de ser visto não pelo ritmo extremamente lento da narrativa, mas pelas cenas fortes e escatológicas. Uma pedrada. O filme ganho quase 20 prêmios internacionais em Importantes Festivais, incluindo Locarno e BFI.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Amarrados para o perigo

"Strapped for danger", de Richard Griffin (2017) Comédia trash LGBTQ+, repleta de erotismo e nudez explícita. Richard Griffin, diretor, editor e produtor do filme, já ganhou dezenas de prêmios em sua filmografia, baseada em filmes B de horror e comédias Lgbtq+, tudo dentro do universo trash. Em "Amarrados para o perigo", ele conta a história de 3 amigos: o casal gay Joey e Matt e o hetero Chuck. Os 3 trabalham como Streapers de um club gay. Cansados da dura rotina, eles resolvem assaltar a clientela e roubar todo o dinheiro da casa. Durante a fuga, eles são encurralados por uma policial homofóbica. Eles sequestram o parceiro da policial, que vira refém. O grupo foge até uma fraternidade universitária masculina. Lá, eles transam com todos os alunos, ao mesmo tempo que tentam descobrir uma forma de fugir da polícia. Impossível não rir de tantas cenas verdadeiramente toscas do filme. Abusando da caricatura gay, mas voltadas para um público Lgbtq+, o filme usa e abusa de closes de genitálias, e sacaneia o feminismo, o machismo, as drag queens, os musicais e tudo o mais que envolve o universo gay. Tecnicamente amador, e com uma deliciosa trilha sonora que evoca os sintetizadores dos anos 80, o filme tem um elenco formado por péssimos atores, mas por isso mesmo, divertidos e totalmente dentro da proposta do filme.

Matar Jesus

"Matar a Jesus", de Laura Mora Ortega (2017) Co-escrita e dirigida pela Cineasta colombiana Laura Mora Ortega, "Matar Jesus" ganhou mais de 18 prêmios importantes em renomados Festivais. O filme é um relato da rotina de violência em Medellin, capital da Colômbia. Uma história como outra qualquer, que acontece a cada minuto em um País da América Latina. Paula ( a ótima Natasha Jaramillo) é uma jovem estudante de Artes. Seu pai é um professor de universidade pública de ciências sociais. Ao voltar para casa com seu pai, ele é assassinado na rua com um tiro. Paula consegue enxergar o assassino na garupa de uma moto. Desconsolada pela forma como a polícia atua no caso de seu pai, Paula resolve sair em busca de vingança. Uma noite, na balada com amigos, ela reconhece o assassino. Se aproximando dele, ela descobre o nome dele, Jesus. Aos poucos, ela vai invadindo a intimidade dele, e descobre que ele também é vítima de violência. O inevitável acontece: ela se afeiçoa a ele. Bem dirigido e com uma câmera documental que vai atrás dos personagens. "Matar Jesus" tem um título dúbio que fala sobre a perda da inocência em todos os sentidos. Sem um desfecho conclusivo, o que poderá irritar muitos espectadores, o filme procura apresentar um flash de violência em uma grande Metrópole, ciente de que não existe solução a longo prazo, diante da total apatia d Governo.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Fora de série

"Booksmart", de Olivia Wilde (2019) A atriz Olivia Wilde estréia na direção com essa comédia dramática premiada em San Francisco e Palm Spings. O filme tem um roteiro já visto diversas vezes em comédias americanas inconsequentes, como na franquia 'Se beber não case", "Finalmente 18", "Projeto X", Superbad" e tantos outros similares. A diferença, é que nesse filme produzido pelo ator Will Ferrel, o foco é no ponto de vista feminino. Dirigido, escrito e protagonizado por mulheres, "Fora de série" destaca a adolescência inconsequente e mais do que isso, fala sobre o tema do desapego e o fim da inocência. Molly e Amy ( as ótimas Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever) são cdf e dedicam seu tempo aos estudos. Ao descobrirem que outros colegas que elas consideravam vagabundos também passaram para importantes faculdades, elas decidem ir a uma festa para, pela primeira vez, aproveitarem a vida como elas nunca fizeram antes. Amy saiu do armário há pouco tempo, e Molly morre de ciúmes da amizade de Amy. Juntas, elas tentam descobrir o endereço da festa, mas até chagarem lá, passarão por muitos percalços em uma noite muito azarada e repleta de descobertas. O que difere esse filme de todos os outros citados, é o tratamento dado a ele, com uma narrativa mais autoral e independente. Os diálogos são espertos e o filme ainda flerta com o universo Lgbtq+ e as diferenças, representadas através da gordofobia, bullying contra latinos e a melhor de todas as piadas, o desemprego: o reitor da escola trabalha de noite como motorista de Uber para aumentar sua renda.

Bem vindo de volta

"Bem vindo de volta", de Lucas Vasconcelos (2018) Curta de estréia do roteirista e Cineasta Lucas Vasconcelos, "Bem vindo de volta" poderia também se chamar de "Crônica de uma morte anunciada", em um País como o Brasil onde a cada duas horas, uma mulher é morta, segundo pesquisas. A maioria dessas mortes é causada por ciúmes ou suspeitas de traição. Luiza (Giulia Buscacio) e Felipe (Victor Thiré) formam um jovem casal de classe média alta. Alegres, apaixonados. Um dia, porém, Luiza resolve terminar o relacionamento. Inconformado, Felipe vai na rede social de Luiza e encontra evidências de que ela está saindo com alguém. Felipe pega a sua arma e resolve ir tomar satisfações. Lucas busca referências estilísticas em clássicos do cinema de suspense psicológico, protagonizados por sociopatas, como "Psicopata americano" e "Seven". Com uma fotografia hperrealista e uma montagem frenética, o filme traz elementos de horror, para intensificar o desespero emocional dos protagonistas. Bom trabalho dos atores e um desfecho curioso, que justifica o título do filme.

Fado tropical

"Fado Tropical", de Cavi Borges (2019) O que o Cineasta independente Cavi Borges e a cantora Madonna têm em comum? Em termos cinematográficos, pouco, mas musicalmente, tudo. Ambos buscaram recentemente inspiração musical em Portugal, através das variações globalizadas e estilísticas que vão do Fado, ao rap, ao samba, ao funk, à Batukada. Produzido pela Cavideo e pela JCaetano, "Fado Tropical" é o filme mais emotivo da premiada produtora carioca, falando diretamente ao coração e aos ouvidos. Isabel (Patrícia Niedermeier) é uma cineasta independente brasileira, que se encontra em Lisboa com o seu produtor interpretado pelo também Cineasta Felipe Bond. Apresentando seu novo filme no Festin, Festival de Cinema independente Brasil Portugal, ela reencontra o seu irmão Antonio (Jorge Caetano). Há anos, ele de mudou com o pai para Lisboa, diante do desejo do pai de morrer no País aonde nasceu. Antonio é cantor, mas atualmente trabalha como produtor musical. Isabel sofreu com a partida do irmão, e por isso, a sua relação com ele ficou estremecida. Com a morte do pai, e o desejo de ter suas cinzas jogadas por ambos os filhos em vários pontos de Lisboa. Isabel e Antonio reaprendem a se reconectar, ao mesmo tempo que fantasmas de um passado tortuoso e controverso, que fala sobre um Amor incondicional e além das convenções entre os irmãos, parece querer retornar. Terceiro e último filme da trilogia da Viagem, elaborado pela dupla Cavi Borges e Patrícia Niedermeier, enquanto rodavam países e estados brasileiros durante temporadas de Festivais e Workshops, foi iniciada em 2017 com "Salto no vazio" e depois em 2019 com 'Reviver". Os 2 primeiros filmes possuem uma narrativa mais experimental e poética, enquanto que "Fado tropical" fala sobre memória e sobre Saudade, a tal da palavra portuguesa que não encontra tradução em outras línguas. O roteiro, escrito a 4 mãos por Patrícia Niedermeier e Jorge Caetano, recorre ao elemento mais utilizado pelo gênero Road movie: antagonistas que precisam aprender a lidar com as diferenças e aprenderem a olhar para a frente. E essa trama é realizada com muita dignidade, com sentimentos aflorados que em momento algum, apostam no melodrama barato. É possível encontrar referências cinematográficas em 2 filmes de Walter Salles, acredito que até inconscientemente: "Terra estrangeira", clássico que fala sobre a falta de identidade entre ser brasileiro ou português, e "Diários de motocicleta", com a famosa cena final, com lindos portraits de pessoas anônimas, e aqui, representada por uma família portuguesa em um restaurante. Belamente fotografado, e com uma ficha técnica musical de primeira qualidade, com trilha composta por Rodrigo Marçal e edição de som do craque Bernardo Uzeda, "Fado Tropical" é um filme necessário, um grito de resistência Cultural, realizado com garra e incentivos próprios, que deixa claro o seu amor ao Cinema através de uma cena filmada dentro da Cinemateca portuguesa, onde os 2 irmãos conversam: ao fundo, temos um livro de capa dura intitulado "O Cinema não morreu". Depender desses realizadores, jamais.

Dor e Glória

“Dolor y Gloria”, de Pedro Almodóvar (2019) Premiado em Cannes 2019 com a Palma de Ouro de melhor ator para Antonio Banderas, "Dor e Glória"encerra a trilogia do Desejo, iniciada com "A lei do desejo" em 1987 e em seguida, por "Má educação", em 2004. Os 3 filmes são autobiográficos, se envolvem no ambiente do cinema e trazem um realizador de cinema em crise existencial e criativa, trazendo seu passado e seus fantasmas à tona. "Dor e Glória" é o "Amarcord" e "8 1/2"de Almodovar, um retrato comovente e cativante de um Cineasta apaixonado pela sua profissão. Aqui, Almodovar exorciza a figura de sua mãe, belamente interpretadas por Penelope Cruz e depois, por Julieta Serrano; fala de sua relação conturbada com Antonio Banderas, aqui representado por Leonardo Sbaraglia; a sua infância e descoberta dos desejos homossexuais, através da performance encantadora do menino Asier Flores, responsável por uma das cenas mais lindas do filme, que é ele desmaiando vendo um pintor totalmente nu; fala de suas doenças crônicas e de como elas o impediram por um tempo de continuar filmando, e o seu envolvimento com drogas. O que é real ou fictício no filme, cabe ao espectador tentar descobrir. Almodovar joga muitas pistas, muitas bastante corajosas, abrindo seu baú emocional e seu coração para todo o mundo. Os seus eternos colaboradores continuam firmes e fortes: o fotógrafo José Luis Alcaine, o compositor Alberto Iglesias. O filme reserva pouquíssimos momentos de humor, focando na angústia e na frustração de um Artista que parou de criar. Tem uma frase que o Cineasta de Antonio Banderas, Salvador, diz a um Ator, que resume bastante o cinema de Almodovar: "Eu não quero um Ator que faça chorar. Eu quero um Ator que contenha as suas lágrimas." Particularmente, continuo preferindo "Tudo sobre minha mãe" como meu Almodovar preferido. Mas definitivamente, 'Dor e Glória"está entre seus melhores trabalhos.

Um homem fiel

“L'homme fidèle”, de Louis Garrel (2018) Ninguém tem dúvidas de que Louis Garrel é dos melhores atores franceses de sua geração, filho de um grande Cineasta, Philipe Garrel, de onde veio sua paixão Cinefila. Agora em seu segundo longa, depois do divertido “Dois amigos”, Garrel novamente volta ao tema do triângulo amoroso. Dessa vez, ele convidou para escrever o roteiro Jean Claude Carriere, um mito do Cinema de Bunuel a Godard, passando por todos os importantes cineastas europeus dos anos 60 aos dias de hoje. Garrel trouxe um olhar de Nouvelle Vague ao filme, com um tratamento estético e temático que muito se assemelha a vários clássicos dos anos 60. Rodado em 35 mim, Garrel também interpreta o protagonista Abel. Ele mora com Marianne ( Laetitia Costa, radiante), que mais tarde, ele descobre ter traído ele com Paul, seu melhor amigo é pior, grávida do amigo. 9 anos de passam e Paul morreu. Viúva, Marianne se reaproxima de Abel, que sempre a amou. Só que agora existem 2 obstáculos: o ciumento filho de Marianne, Joseph, que diz a Abel que seu pai foi assasinado por envenenamento pela mãe, e Eve (Lily Depp, filha de Jonnhy Depp com Vanessa Paradis”, irmã de Paul e que sempre foi apaixonada por Abel. Nessa confusão de paixões e traições, Garrel evoca o humor sofisticado de Woody Allen, em cenas bem orquestradas com ótimas performances de todo o elenco. Enxuto, com 75 minutos, é um filme charmoso, com linda trilha sonora e fotografia.

Os dois filhos de Joseph

“Deux fils”, de Félix Moati (2018) O Cineasta Félix Moati também é ator e interpretou um dos personagem do sucesso “Um banho de vida”. Agora, ele escreve o roteiro de “ Os dois filhos de Joseph”, um filme onde ele quer discorrer sobre a masculinidade dentro de uma família formada apenas por homens: pai, Joseph ( Benoit Poolvedore” e seus dois filhos, Ivan, de 13 anos, e Joaquim ( Vicente Lacoste, um dos jovens atores mais prolíficos da França atualmente). A família se dá muito bem. O pai é médico, Joaquim um brilhante estudante de psicologia e Ivan os vê como um espelho. Mas quando o irmão de seu pai morre, Joseph perde o rumo e desiste de ser médico, se voltando para a escrita, seu grande sonho. Joaquim por outro lado, vai se tornando relapso e péssimo estudante. Fora isso, os dois irmãos estão as voltas com desejos e paixões de um Primeiro amor. Comédia dramática mais puxada pro drama, com fotografia bastante escura e um tom narrativo mais sóbrio. O filme carece de ritmo, e o roteiro perde o foco ao querer narrar as histórias dos três homens e suas relações com varios personagens paralelos. Apesar dos três bons atores, o filme não decola. Faltou se apaixonar mais pelos personagens, fundamental para quem quer falar sobre “loosers”.

terça-feira, 11 de junho de 2019

The Mustang

"The Mustang", de Laure de Clermont-Tonnerre (2019) Drama independente americano, dirigido pela atriz francesa Laure de Clermont-Tonnerre, e vencedor de um prêmio especial em Sundance 2019. Tomando como base o programa de reabilitação de prisioneiros perigosos, que são obrigados a treinar cavalos selvagens, os Mustangs", como forma de treinar o psicológico e a reabilitação em sociedade, o filme conta a história de Roman (Matthias Schoenaerts), um homem violento e temperamental que recebeu pena de 12 anos por ter batido na sua ex-companheira, que ficou com traumas físicos sérios. Roman evita qualquer contato com pessoas, evitando inclusive sua filha adolescente Martha, que o visita para pedir para que ele assine uma carta de emancipação. Ao receber a missão de treinar o mais selvagem dos mustangs, ao qual ele apelida e Marquês, Roman vai entendendo o paralelo da vida desse animal e a sua própria vida: arredio, anti-social, violento e intempestivo. Seguindo a tradição do sub-gênero americano que se utiliza de cavalos para falar sobre virada de personagens, através do convívio e aceitação de sua fraquezas e virtudes, "The mustang" é um filme muito bem dirigido, com atuação exemplar do ótimo Matthias Schoenaerts, e também de Bruce Dern. Tecnicamente o filme é impecável, principalmente na fotografia e na edição. O desfecho é emocionante e mesmo caminhando para um melodrama, vale pelo trabalho do elenco.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Mapplethorpe

"Mapplethorpe", de Ondi Timoner (2018) A cineasta independente americana Ondi Timoner foi, por 2 vezes, Ganhadora do Sundance por dois de seus documentários, tendo ganho o Grande Prêmio do Juri. Em 2018, ela lançou a sua cinebiografia do Artista plástico e fotógrafo americano Robert Mapplethorpe, morto aos 42 anos de idade em 9 de março de 1989, em decorrência do HIV. Nascido no Queens, e tendo estudado Artes Plásticas, no final dos anos 60 Mapplethorpe conheceu a poetisa e cantora Patti Smith. Moraram juntos e criaram parcerias artísticas. Ao se assumir gay e revelar casos com outros homens, Mapplethorpe se afasta de Patti. ele conhece vários amantes, assistentes, empresários que acabaram levantando exposições que expusessem suas fotos explícitas de sexo e nudez para um público seleto que começou a venerar as fotos. No limite da Pornografia e Arte, as fotos enfrentaram resistência e galeristas, público, mas adquirindo um status de cult entre celebridades. Mapphetorpe, já no auge, contraiu HIV vindo a falecer. Toda sua obra foi doada pela fundação para a Getty Research Institute, com trabalhos indo dos anos 1970 até 1989. Até hoje, mais de 50 milhões de dólares foram arrecadados para pesquisa de apoio ao HIV. Assim como o filme "Linda Lovelace", "Mapplethorpe" sofre com a extrema caretice da narrativa. Linda Lovelace ficou famoso pelos seus filmes pornôs e pela famosa cena de sexo oral, no filme "Garganta profunda". O filme ficou pudico, nem mesmo nudez teve. "Mapplethorpe "até tem algumas cenas de nudez, mas as cenas de relacionamento, sessões de fotografia provavelmente foram pensadas para atingir um grande público. O filme ficou chato, arrastado, os personagens sem carisma, tudo muito burocrático. A essência da vanguarda artística e polêmica passou longe, para um público cinéfilo que vai em busca de algo mais avassalador.