segunda-feira, 17 de junho de 2019

Os Príncipes

"Os Príncipes", de Luiz Rosemberg Filho (2018) No dia 19 de maio de 2019, faleceu o Cineasta Luiz Rosemberg Filho. Ativo na produção de filmes autorais e provocativos desde o final dos anos 60, Rosemberg nunca escondeu a sua influência ciinematográfica das filmografias de Godard e de Glauber Rocha. De Godard, ele buscou inspiração nas colagens, na montagem de imagem e som esquizofrênicas e nos protagonistas anti-heróicos. De Glauber, trouxe a narrativa teatral, épica e a câmera livre. Em "Os Príncipes", Rosemberg volta a filmar com alguns de seus atores recorrentes: Ana Abbot e Patricia Niedemeier, que trabalharam com ele em "Dois casamentos" e Guerra do Paraguay", e Alexandre Dacosta, também de "Guerra do Paraguay". Esses 3 filmes, aliás, foram produzidos por Cavi Borges, incansável batalhador do Cinema autoral brasileiro. "Os Príncipes" também teve produção da Cafeína Filmes, de Ph Souza, Produtor de Belo Horizonte. Competindo no Festival Cine PE 2018, "Os Príncipes" conseguiu o grande feito de ganhar 6 importantes Prêmios: Melhor Ator para Igor Cotrim; Melhor Atriz para Patricia Niedemeier, Melhor Ator Coadjuvante para Tonico Pereira, Melhor Fotografia, Edição de Som e Trilha Sonora. É difícil não enxergar algumas referências cinéfilas: podemos encontrar uma homenagem explícita à "A Laranja mecânica", quando os protagonistas, em busca de uma noite de sexo e violência, invadem uma casa e batem nos moradores, cantando 'Singing in the rain". Tem também ecos de "O bandido da Luz Vermelha", com o recorrente locutor de uma rádio ligada no carro narrando noticiários políticos. O filme acompanha a trajetória de 2 "Príncipes" urbanos no Rio de Janeiro: pilotando um carro anos 70, eles vagueiam pelas ruas da cidade, acompanhados de 2 prostitutas. Os 4 seguem uma epopéia de muito sexo, drogas e destilando uma metralhadora giratória de impropérios verbais que atiram para todos os lados. é uma crítica feroz à sociedade, ao governo, à corrupção, ao Cinema comercial e, impossível de não reparar, ao machismo. Para o público feminino, o filme deve incomodar bastante: as personagens femininas são vitimas da misoginia dos personagens masculinos, que comandam a narrativa. O filme reserva uma cena divertida, quando quer criticar o Cinema feito por Hollywood: o crítico de cinema Rodrigo Fonseca interpreta a ele mesmo, entrevistando uma Diva que representa Hollywood. É uma cena digna da melhor chanchada brasileira, ao som de samba e Nino Rota de "8 1/2"de Fellini, e muita avacalhação narrativa do cinema marginal. O elenco como um todo atua de forma visceral, sem pudores e sem amarras. Um filme brutal, sujo, violento, que choca e que faz refletir sobre o mundo que estamos vivendo.

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