terça-feira, 25 de junho de 2019

Deslembro

“Deslembro”, de Flávia Castro (2018) Diretora do belo documentário “ Diário de uma busca”, onde a Cineasta falava do pai ativista político assassinado na época da ditadura brasileira, Flávia Castro agora estreia na ficção com o belo e intimista “ Deslembro”. Novamente resgatando a vida do seu pai, Flávia faz um relato livremente autobiográfico, sobre uma adolescente, Joana ( Jeanne Boudier), nascida no Brasil mas exilada em Paris nos anos 70. Com a Lei da anistia de 1979, sua mãe resolve retornar ao Brasil, junto dos dois meio irmãos pequenos de Joana e do padrasto, um Chileno envolvido com o combate da ditadura no Chile. Joana protesta, não quer vir para o Brasil, País que segundo suas amigas francesas dizem, tem onça e cobra andando nas ruas. Mas para Joana, o Brasil é o País onde se mata e tortura, e onde seu pai foi dado como desaparecido político. Obrigada a vir, Joana se isola, mas acaba descobrindo o primeiro amor, a maconha e principalmente, a música brasileira, que junto da convivência com sua avó ( Eliane Giardini), a fazem se reconectar com o Brasil. O filme, um belo projeto feminino, conduzido por mulheres na equipe e protagonizado por elas, tem uma delicadeza e sensibilidade que traduzem em imagens o coming of age de uma adolescente. Sem rumo, sem Cultura, sem o amor do pai que desapareceu, Joana se vê sem lenço e sem documento, e precisa aprender a recomeçar uma nova história. O filme também é um passeio nostálgico e poderoso em torno da música e a importância dela como resgate da memória: Lou Reed, The Doors, Caetano Veloso e muitos outros artistas embalam cenas belamente orquestradas pelo conjunto da equipe e Elenco em primeiríssima forma. O filme foi selecionado para a Mostra Horizonte em Veneza 2018 e ganhou 3 prêmios no Festival do Rio no mesmo ano: atriz coadjuvante para Giardini, Melhor filme do público e Fipresci.

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