segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Click..click...

 


"Click..click..", de Toby Ross (1974)

 Nascido na Alemanha, o cineasta independente Toby Ross migrou para San Francisco e nos anos 60 a 80, realizou diversos filmes Lgbtqiap+ pornográficos. Nos dias de hoje, Ross mudou seu estilo e dirige comédias e suspenses no universo queer. As obras de Toby Ross são muitas vezes referidas como a Abercrombie & Fitch do pornô gay e seus filmes retratam o estilo de vida em San Francisco, conhecida no mundo todo pela sua acolhida à comunidade Lgbt. “Click..click..”é de 1974, antes da Aids e portando, seu elenco é formado por jovens de perfil universitário twinks, padrão da época, com corpos sem ser depilados e sem serem musculosos. O protagonista é um fotógrafo que monta um estúdio fotográfico em San Francisco e que lida com rapazes tímidos e que nunca fizeram fotos eróticas. O fotógrafo é bom de persuasão e não só motiva os modelos a ficarem nús, como ainda transa com eles.O filme é um registro histórico de uma época hedonista, com filmes rodados em película e exibidos em salas de cinema especializadas. A fotografia do filme é bastante estilizada, acentuando cores e enquadramentos ousados.


O último desejo


"Una ultima voluntad", de Marco Berger (2007)
Que peça sensacional esse filme daria! Antes do cineasta argentino Marco Berger lançar o seu 1o longa LGBTQIAP+, "Plano B", que o projetou para o mundo, ela havia lançado em 2007 esse ótimo curta, protagonizado pelos dois atores que mais tarde estariam em "Plano B".
"O último desejo" é um drama com tintas de absurdo e de humor ácido, rodado em preto e branco. Se um bom autor pegar essa premissa, certamente irá lançar uma ótima peça de teatro com um elenco masculino composto por 7 atores: o condenado (Manuel Vigneau), o soldado escolhido (Lucas Ferraro), o general )Oscar Alegre) e outros 4 soldados.
Um pelotão, comandado pelo general, caminha com o condenado por uma floresta isolada para cumprir uma missão de fuzilamento. O condenado tem direito a um último desejo, que por lei, deve ser cumprido, mas que desestabiliza a todos: ele quer um beijo. O general não entende o pedido, pois ali todos são homens. Consultando o manual, entendem que precisam cumprir. Resolvem então fazer uma aposta com caixinha de fósforos e o soldado escolhido deve beijar o prisioneiro.
Que filme incrível: simples, mas com uma metáfora muito bem estruturada: o condenado, um rebelde, desestabiliza e deixa plantada a sua semente no pelotão, e certamente o soldado escolhido nunca mais será o mesmo.

Romance


"Romance", de Sergio Bianchi. Assisti a esse drama polêmico de Sergio Bianchi no ano de seu lançamento, 1988, e revê-lo décadas depois me faz confirmar que são poucos os cineastas ousados como esse paranaense que atira para todos os lados, desfilando suas críticas ao governo e à sociedade burguesa.
O filme se tornou célebre por várias razões: pela colaboração no roteiro de Caio Fernando Abreu; pelas cenas cruas e explícitas de pegação na noite decadente paulista; pela morte por consequência da HIv do ator Hugo Della Santa, que no filme interpreta um gay que faz pegações sem proteção; pelo seu elenco composto de nomes globais e atores autorais, com Beatriz Segall, Imara Reis, Rodrigo Santiago, Elke Maravailha, Claudio Mamberti, Sergio Mamberti, Emilio di Biasi, Maria Alice Vergueiro.
Um escritor intelectual de esquerda, Antonio Cesar (Santiago) morre e alguns consideram sua morte suspeita. Seu último livro falava de escândalo internacional em que estavam metidas autoridades políticas, e sua morte repercute em três pessoas diferentes: Regina, jornalista, parte à procura de informações que desvendem o escândalo; Fernanda, companheira e vítima do discurso de António César sobre a liberdade do comportamento, tenta viver o seu discurso, mas perde-se e vê-se mergulhada na angústia; André, homossexual e amigo do morto, paga, também ele, o seu tributo à ideologia da libertação sexual.
O filme tem atuações empostadas de alguns atores que parecem estar no palco de teatro, mas esse é o olhar de Bianchi: seu elenco é porta voz de seus petardos sócio-políticos e comportamentais. Sobra para todo mundo. Bianchi traz incômodos em cada cena, desde a cena de pegação com orgias, até a cena da burguesa trazendo mendigos para sua casa para ela tomar banho com eles. É filme porrada e audacioso.

Gualeguaychú: O pais do carnaval


"Gualeguaychú: el pais del carnaval”, de Marco Berger (2019)
Definitivamente, os homens mais lindos e sexies do Cinema queer mundial estão em qualquer filme do cineasta argentino Marco Berger, a maior voz do cinema lgbt do seu país.
Junto do seu eterno parceiro de cinematografia Martin Farina, responsável por câmera e fotografia, ambos realizam o cinema mais voyeurístico prontos para ao seu público tudo o que eles pedem: homoerotismo no universo dos heteros tops. Dessa vez, o universo de Berger é o carnaval anual de Gualeguaychú, que ocorre nos meses de janeiro e fevereiro e é famoso no mundo inteiro. Muito semelhante ao carnaval carioca, com suas fantasias, desfiles, blocos e claro, corpos sarados e desnudos. Os seus protagonistas são dois amigos (Vilmar Paiva e Franco Heiler) que seguem com um grupo de rapazes para o Carnaval Gualguaychú . As câmeras focam nas imagens homoeróticas de homens tomando banho, vestindo suas fantasias, coçando os acos, bebendo até ficarem bêbados, dançando, dormindo e o prinicpal: desconstruindo a imagem dos heteros tops, com brincadeiras idiotas de machos alfa simulando sexo entre eles. É isso o que Berger faz em todos os seus filmes, trazer ao público esse olhar da desconstrução da heteronormatividade com muito tesão e desejo, tensão sexual.

Um clássico, Dois em casa, Nenhum jogo fora


"Um clássico, Dois em casa, Nenhum jogo fora", de Djalma Limongi Batista (1968)
Considerado o primeiro filme brasileiro a abordar abertamente a questão da homossexualidade( o filme é de 1968), foi dirigido por Djalma Limongi quando tinha 18 anos de idade e estudante de cinema da Usp. Djalma se apropria da linguagem do cinema marginal, criando alegorias e simbolismos contra o capitalismo e sociedade de consumo da classe média, temas comuns ao movimento. Mas a grande novidade aqui é a representatividade de jovens homossexuais e de que forma eles se sentem rejeitados pela sociedade, buscando a morte como forma de redenção.
Antônio (Eduardo Nogueira) mora com seus pais e está desempregado. Chamado de vagabundo por seu irmão, Antônio decide sair às ruas de São Paulo em busca de sexo . Antônio perambula por São Paulo. À noite, encontra um parceiro na Galeria Metrópole, Isaías (Carlos Alberto) , para se relacionar sexualmente. Apesar da intensa relação que acontece entre os dois, Isaías pede que Antônio o mate.
As cenas de Antônio perambulando por São Paulo trazem a crítica à sociedade burguesa, e deixando claro que o filme foi rodado durante a ditadura militar. Com linguagem experimental, e rodado em preto e branco e em 16 mm, Djalma ainda se apropria de músicas de Caetano Veloso e Barbra Streisand.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Rebento


"Rebento", de André Morais (2018)
Selecionado para a mostra competitiva Aurora da Mostra de Cinema de Tiradentes 2018, "Rebento" levou 10 anos para ser realizado. O cineasta e roteirista paraibano Andre Morais reuniu uma equipe e elenco paraibanos para dar vida a um drama existencialista e de realismo fantástico sobre uma mulher em busca de si e de seu pai. Não à toa, o filme é dedicado em memória ao pai de André.
O elenco conta com Ingrid Trigueiro, Zezita Matos, Fernando Teixeira e Zé Guilherme Amaral. Rebento conta a história de Ana, MAria, Rosa, várias mulheres em uma, interpretada por Ingrid Trigueiro. No prólogo do filme, ela dá à luz a uma criança, mas em seguida ela o mata afogado no rio. Abandonando casa, ela segue seu caminho, sem destino, cruzando com vários personagens que de certa forma, parece que a reconhece mas com um outro nome. Na casa de uma dessas pessoas, ela pega uma melancia e começa a vagar com ela na altura da barriga, como se estivesse grávida.
Simbólico e muitas vezes experimental, difícil dizer os sentidos do filme, e mesmo porque o cineasta repete a atriz Zezita Mattos em duas personagens distintas. É um filme interessante, onde a melhor cena é um almoço só com mulheres. Uma cena bem marcada, toda em plano fixo e sem corte, com mais de 10 minutos de duração.

Lui


"Lui", de Guillaume Canet (2021)
O ator e cineasta francês Guillaume Canet mais do que nunca, procura cada vez mais sair da sombra de sua esposa, a mega estrela Marion Cottillard. Canet tem luz própria: já dirigiu grandes filmes, e também atou em ótimos projetos, inclusive com carreira em Hollywood, sendo o mais recente, direção e atuação na série americana "Little white liars".
Mas os críticos acusaram que "Lui" é novamente uma expiação sobre o ego inflado do ator/cineasta, já exposta no grande fracasso "Rock'n roll", seu filme de 2017 onde ele interpreta a si próprio e mostra a sua crise criativa. Mas em 'Lui", Canet vai além: uma mistura de "Quero ser John Malkovich", de Spike Jonze, com "Providence", clássico de Alain Resnais.
Canet é Lui, um roteirista de cinema em crise. Seu produtor (Clive Owen, em voz) liga para ele insistentemente esperando o novo roteiro. Lui decide se isolar em uma casa à beira de um penhasco na Ilha Bretanha para buscar inspiração. Mas ele é visitado por todos aqueles que justamente, lhe trazem problemas: sua esposa, sua amante, seus pais, seu filho.
Com um super elenco que inclui o próprio Guillaume Canet, temos também Virginie Efira, Mathieu Kassovitz, Laetitia Casta, Nathalie Baye, Patrick Chesnais, Gilles Cohen. O filme foi escrito em apenas 3 semanas, quando Canet estava tentando finalizar o seu próximo filme, a super produção "Asterix", onde ele dirige e interpreta o protagonista. Paralisado por conta da covid, Canet aproveitou para falar de crise criativa e rodou o longa em 4 semanas.
O filme daria uma excelente peça de teatro. Como cinema, confesso que ficou chato e cansativo. O que salva são os ótimos atores. Mas a história serve mais ao intuito de um palco de teatro, seria muito mais instigante.

Curupira- O demônio da floresta


"Curupira- O demônio da floresta", de Erlanes Duarte (2021)
Polêmico terror trash brasileiro que provocou críticas de vários grupos acusando o filme de racismo religioso, por transformar a lenda indígena do Curupira, uma entidade do bem que protege a floresta, em um ser demoníaco e assassino.
O filme é uma produção de baixo orçamento maranhense, a primeira produção de terror local. O seu diretor e roteirista é Erlanes Duarte, que tinha feito carreira na comédia com a franquia "Muleque tá doido", produção local que levou mais de 60 mil espectadores aos cinemas. O roteiro de "Curupira" é o mais batido possível: um grupo de 6 amigos,interpretados por atores locais, Di Ramalho, Myla Arau,Lary Mourã, Carol Cunha. André Bakka. Luna Gandra.Rosanna Mualem e Ruan do Vale. Os amigos alugam um veleiro em Lençóis maranhenses e seguem até uma ilha afastada. Lá, fazem farra. Os rapazes maltratam um jabuti, jogam garrafas na areia. O Curupira vê e decide matar a todos.
O filme é trash até não poder mais, e pra turma do quanto pior melhor, certamente vai se divertir com tanta gritaria. Mas quem busca algo decente, acredito que já pelo título nem vai se atrever a querer ver o filme. Ruim, mas dá para dar umas gargalhadas e enxergar que o Curupira mais parece o Predador com visão de Raiox Térmico e visual de um zumbi.

The sky is everywhere


"The sky is everywhere", de Josephine Decker (2021)
Uma mistura de gêneros: drama, romance, musical, fantasia- "the sky is everwhere" busca trazer referências o tempo todo de "la la land", incluindo a famosa dança flutuando no céu. O filme tem um ótimo elenco adolescente, tem diversidade ao escalar asiáticos e negros como protagonistas, tem bela fotografia e locações em Eureka, na Califórnia. A direção sensível da cineasta Josephine Decker contribui, mas a junção de todos esses elementos acabou não tendo o efeito esperado, talvez o excesso disso tudo tenha feito o filme ficar sem uma personalidade própria. Ainda assim, vale como um bom sessão da tarde sobre a luta de uma jovem para sair de um luto.
Lennie (Grace Kauffman) e sua irmã mais velha Bailey (Bailey, de "Sem saída") são melhores amigas, unha e carne. Bailey é estudante de teatro e Lennie a venera. Quando Bailey começa a namorar o jovem Bailey, Lennie fica com ciúmes, mas nada a ponto de destruir a relação das duas. Lennie estuda flauta e quer se candidatar à Julliard em NY. Mas quando Bailey morre repentinamente de arritmia cardíaca no palco, que nem sua mãe, Lennie se sente sozinha no mundo e em luto eterno. Ela mora numa casa na floresta com sua avó e seu padrasto. Dois meses depois, ela decide retornar às aulas, e conhece Joe (Jacques Colimon), também estudante de flauta, que se apaixona por Lennie. Mas Lennie acaba se sentindo atraída por Bailey, ex-namorado de sua irmã.
Um roteiro com clichês adolescentes, mas acrescido de temas adultos como luto, além de toda a fantasia musical. As músicas e as coreografias nem são muito inspiradas, mas para uma produção independente, funcionam.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Asura


"Asura”, de Kei'ichi Sato (2012)

Um anime aterrorizante e bastante trágico, baseado no mangá de mesmo nome de George Akiyama Violento, cruel e sem qualquer tipo de moral, o filme apresenta personagens que lutam para sobreviver, nem que tenham que se tornarem canibais e matar inclusive crianças. No século XV, Kyoto se tornou um lugar bastante pobre e seco. Mais de 80.000 pessoas morreram e as terras são dominadas por lordes que deixam a população morrendo. Uma mulher pobre e grávida dá à luz a um bebê, Asura. Ela o cria por uns anos, mas quando começa a surgir nela o desejo de comer seu próprio filho, ela o abandona. Asura agora com 8 anos, carrega um foice, e come carne humana para sobreviver. Ele mata crianças e mulheres. Seu caminho cruza com um monge, que diz que ele tem um coração. Depois, Asura conhece um mulher, Wakasa, que cuida dele. Mas o destino faz com que Asura volte a matar para sobreviver. Vencedor de prêmios internacionais e concorrendo no prestigiado Annecy, ‘Asura” é um filme difícil de assistir pela sua crueldade e violência. Mas ao final, existe uma linda mensagem budista de que todo ser humano pode se reconstruir. Considerado um clássico por muitos fãs de anime.

A primeira vez do cinema brasileiro


"A primeira vez do cinema brasileiro", de Denise Godinho Costa, Bruno Graziano e Hugo Moura (2013)
Ótimo documentário brasileiro que explora o filme, equipe, o elenco e os bastidores do primeiro filme de sexo explícito do cinema brasileiro, "Coisas eróticas", lançado em plena ditadura militar do governo Figueiredo, driblou a censura e fez 4 milhões e 800 mil espectadores oficialmente, mas dizem que fez mais de 25 milhões de espectadores.
O filme começa falando da Boca do lixo, surgido no final dos anos 60 no bairro da Luz em São Paulo. A curiosidade é que essas produtoras de filmes baratos, na maioria pornochanchadas, faroeste e terror foram instaladas ali pois as grandes distribuidoras como Paramount, Columbia, etc, estavam ali. Assim, quem ia comprar os filmes das grandes multinacionais, aproveitava a carona e comprava os produtos baratos. Vários cineastas da Boca dão depoimento: Zé do caixão, Reichembac, Claudio Cunha, que diz que as pornochanchadas eram o retorno do público brasileiro às das de cinema, afugentadas por conta dos filmes do cinema novo. Quando "O império dos sentidos" foi exibido na 3a Mostra de SP, os produtores da Boca entenderam que a partir dali, as pornochanchadas estavam mortas. Rafaelle Rossi, produtor italiano que tinha a fama de não pagar ninguém, decidiu produzir e dirigir "Coisas eróticas", filmado em 2 dias e envolvendo 3 histórias independentes. E;e convidou Oasis Minitti, que se tornou o rei do explícito e atrizes que não faziam idéia de que o sexo era real.
Quando ficou pronto, ele foi enviado à Censura em Brasília, que de cara censurou e obrigou a cortaram o "2o quadro". Os produtores, se fazendo de besta, se fizeram de desentendidos e cortaram o 2o frame do filme, quando na verdade, era o 2o episódio. O filme foi liberado, para surpresa de todos. COm a derrota do Brasil na Copa pra Itália, os produtores entenderam que agora era a hora de lançar o filme, para afogar as mágoas dos brasileiros. O filme estreou no Cine Windsor e fez filas quilométricas, depois ampliada para 70 cópias. Jornalistas e críticos como André Barcinsky, Luiz Carlos Merten e Rubens Ewald Filho dão depoimentos deliciosos.

A ultima chance


"A ultima chance", de Paulo Thiago (2019)
O cineasta Paulo Thiago é dono de vasta filmografia no cinema brasileiro, muitos deles produzidos pela sua esposa, a produtora Glaucia Camargos. Eu sou apaixonado pelo drama de bicheiros "Águia na cabeça", um dos grandes filmes dos anos 80. "A última chance foi o último filme rodado por Paulo Thiago, falecido em junho de 2021. Rodado em 2017, participou do Festival do Rio e agora encontra espaço no Canal Brasil.
O filme é baseado na história real de Fábio Leão, campeão de Muay Thai já aos 16 anos de idade, nascido pobre em Vila Kennedy. Abandonado pelo pai, ele morou com sua mãe, uma secretária, e sua avó. Fábio se envolveu com tráfico, comando vermelho, roubo de carros, enfim, toda uma sorte de inflações que vira e mexe o colocavam na cadeia, No filme, as pessoas que tentam fazer de tudo para tirar ele do mau caminho são Luciana (Juliana Lohman), sua namorada e futura esposa, e seu amigo interpretado por Erom Cordeiro. Fábio está muito bem defendido por Marco Pigossi, um dos melhores atores de sua geração.
O filme veio após o grande sucesso de "Aldo- mais forte que o mundo", de Afonso Poyart, e aí muitas comparações foram feitas. Mas o filme de Poyart era um blockbuster, ao contrário do filme de Paulo Thiago, e está mais interessado na tragédia humana do seu protagonista do que nas lutas. Um filme defendido por bons atores, incluindo Marília Medina, Helena Varvack, Aramis Trindade, Fabrício Santiago, Gutti Fraga.

Eu sou brasileiro


"Eu sou brasileiro", de Alessandro Barros (2019)
Para quem gosta de dramas de auto-ajuda, espíritas e com mensagens de positivismo, resiliência e de edificação, "Eu sou brasileiro" é um filme indicado. O filme tem um roteiro, escrito pelo cineasta Alessandro Barros, em seu filme de estréia, todo desenhado e construído para enaltecer a tão propagada crença do Brasileiro de que tudo irá dar certo no final, por mais obstáculos que venham a surgir no seu caminho. E isso o protagonista Léo (Daniel rocha) encontra aos montes, mas amparado pelo amor de sua mãe Carmen (Cristiane Oliveira) e de sua futura esposa Lu (Fernanda Vasconcellos), e o apoio de muita gente que surge em seu caminho, a gente conclui que o amor vence barreiras.
O filme teve apoio do município de Indaiatuba, São Paulo, e é lá que Léo tem o sonho de ser um jogador de futebol, e o sonho de dar uma vida melhor à sua mãe que é costureira. Mas um acidente impede que seu sonho avance.
O filme foi rodado em baixo orçamento e é evidente as questões técnicas. O roteiro contrói personagens maniqueístas, os obstáculos surgem uma atrás da outra parecendo querer testar o tempo todo o protagonista. O tom da narrativa é de melodrama de novela, mas de novo, quem busca um filme de auto-ajuda irá de satisfazer bastante. Daniel Rocha está bem, construindo um personagem com camadas, tentando driblar os revezes do roteiro. O elenco é composto por ótimos atores, como Zezé Motta, Letícia Spiller, Fernanda Vasconcellos, Ivan Mendes, mas que não trazem algo mais substancial pela singeleza da história.

Sem saída


"No exit", de Damien Power (2022)
Adaptado do romance de 2017 de Taylor Adams, “Sem saída" é um bom trhiller de suspense que segura a atenção do espectador até o final, repleto de plot twists.
Darby (Havana Rose Liu), é uma jovem que está se recuperando de seu vício em drogas. ela está internada em uma clínica de reabilitação. Ela recebe um telefonema de que sua mãe está internada e morrendo. Darby quer ir visitá-la, mas os médicos não deixam ela sair. De noite, Darby foge e rouba um carro. A estrada está com tempestade de neve e Darby é obrigada a aguardar em um centro de visitação na estrada, onde já se encontram 4 pessoas: o casal Ed e Sandi, e Ash e Lars. Quando Darby tenta pegar sinal de celular do lado de fora, ela descobre que uma criança está sequestrada em um dos carros. Ela precisa descobrir qual dos 4 estranhos é o sequestrador.
O filme tem uns buracos de roteiro, mas nada que impeça de se assistir ao filme, que no seu terceiro ato tem bastante violência. A protagonista Havana Rose Liu é muito boa e é um grande acerto do filme dar protagonismo à uma atriz asiática.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Zinzan


"Zinzan", de Ben Walton (2017)
Curta LGBTQIAP+ neo-zelandês, "Zinzan" apresenta Lewis (Chris Hobbs), pai de um jogador de Rugby, Liam (Simon Mead). Lewis acompanha o filho em todos os treinamentos, se certificando de que ele irá vencer o campeonato. mas dessa vez, algo preocupada Lewis: o namorado de seu filho, Michael (Dion Greenstreet) veio para acompanhar o treinamento. Lewis teme que o filho perca, pois começa a sofrer homofobia por parte dos outros jogadores.
Um filme simples mas bastante efetivo, sobre um pai que lida com as dificuldades do filho de forma respeitosa e estando sempre ali ao lado dele, dando apoio. Bons atores em um drama que cumpre e traz uma linda mensagem de solidariedade.

Crossroads


"Crossroads", de Katie Smith (2015)
Premiado curta inglês LGBTQIAP+, apresenta uma relação machucada emocionalmente entre um pai e um filho. Rex (Liam Hallinan) e seu pai Adrian (Paul Dewdney) estão de luto pela morte recente da mãe e esposa. No seu trabalho, Rex mantém uma relação às escondidas com o colega de trabalho Jamie ( Chris Clynes), abertamente gay. Quando o pai de Rex descobre que ele e gay, o destrata. Rex, abalado, tenta o suicídio, mas Jamie o salva e pede para que ele confronte o seu pai.
Um filme bastante dramático, com um bom trabalho dos atores e que traz a crise de Rex de não saber lidar com sua homossexualidade. Um filme sobre inclusão, respeito e tolerância.

Três meses


"Three months", de Jared Frieder (2021)
Drama adolescente LGBTQIAP+ independente, "Três meses" é uma simpática produção encabeçada por um elenco bastante eclético: tem o cantor pop e youtuber Troyer Sivan no papel do protagonista Caleb, tem Viveik Kalra, o protagonista do ótimo drama musical inglês "A música da minha vida", aqui no papel de Estha; e os veteranos ellen Burtsyn, no papel da avó de Caleb, e Louis Gosset jr, seu namorado.
Caleb é um jovem judeu que mora com sua avó, após a morte de seu pai e a deserção de sua mãe, que o renegou por descobrir que o filho é gay. Caleb trabalha em uma loja de conveniência , e sua melhor amiga, a lésbica Dara (Brianne Tju), namora a dona do local. O filme se passa em 2011. Caleb faz sexo e a camisinah estoura. Assustado, vai fazer teste de HIV e o médico diz que certeza se Caleb está soropositivo só em exame feito daqui a 3 meses. O médico sugere que Caleb frequente um grupo de homens soropositivos para e inteirar do assunto e lá ele conhece, Estha, um jovem paquistanês que teme estar positivo e que sua família descubra que ele é gay.
O filme é interessante e tem bons atores, mas o excesso de sub-plots e temas a discutir não cabem no filme: fala-se de homofobia, judaísmo, traição, violência doméstica, e claro, HIV. O filme começa leve mas no terceiro ato vai ficando pesado e depressivo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Querô


"Querô", de Carlos Cortez (2017)
Vencedor de mais de 13 prêmios em importantes festivais, 'Querô" é um primo-irmão de "Pixote, a lei do mais fraco". Ambos os filmes falam sobre menores de idade que precisam batalhar pela vida e para isso entram para o crime. Acabam sendo presos na Febem e sofrem torturas e barbáries lá dentro, até que a fuga em massa os coloca novamente no mundo do crime.
O filme é dirigido pelo documentarista Cqrlos Cortez, falecido em 2018. Amigo do autor Plínio Marcos, prometeu a ele que faria a adaptação da obra "Querô - Uma Reportagem Maldita".
Querô (Maxwell Nascimento) nasceu em um puteiro na região portuária de Santos. A cafetina (Angela Leal) expulsa a mãe de Querô, Piedade (Maria Luísa Mendonça), que acaba morrendo nas ruas. Querô retorna ao puteiro e é criado pelas putas. Já crescido, ele comete um assalto e é levado à Febem. O agente penitenciário Edgar (Millem Cortaz) trata à mão de força os meninos, que acabam fugindo.
Tratando de temas como evangelização, racismo, homofobia, misoginia, corrupção policial e violência urbana, "Querô" tem uma ótima direção de atores, potencializado por um vigoroso Maxwell Nascimento e o excelente elenco de apoio. Um filme porrada, com desfecho óbvio, mas não podia se esperar outro final.

Sem fôlego


"Sem fôlego", de Paulo Nascimento (2022)
Impressionante o quanto que o cineasta e produtor gaúcho Paulo Nascimento produz. Diretor de filmes, séries, além de produzir muitos outros projetos, em 2022 Paulo lançou 2 filmes: "Distrito 666" e agora, 'Sem fôlego". Ambos filmes de suspense noir, sendo que o primeiro na linha fantástica da distopia, enquanto "Sem fôlego" aposta na linha do detetive noir cm plot twist no desfecho.
Em uma pequena cidade do sul, Santa Barbara, com menos de 10 mil moradores, acontece um crime bárbaro contra um adolescente: ele é morto e o criminoso lhe colocou batom e saltos altos vermelhos. O policial local, Joe (Pedro Caetano) sofre racismo da população local. Um outro policial de uma cidade grande, Alex (Bruno Gisosni) é convocado para vir à cidade e fazer parceria com Joe para juntos, encontrarem o assassino, que vai fazendo mais vitimas entre os adolescentes da cidade.
Paulo Nascimento usa praticamente a mesma equipe técnica de "Distrito 666", além de parte do elenco. Aqui, Bruno Gissoni comprova a sua intimidade com o Gênero policial, que ele já havia experimentado em "Reação em cadeia", de Marcio Garcia. Felipe Kannemberg faz uma participação, de um elenco onde boa pare é formado por atores do sul.
Um bom suspense, com uma trama de vingança adequada, motivada por um tipo de crime muito comum hoje em dia entre os adolescentes.

A febre


'A febre", de Maya Da Rin (2020)
Vencedor de 29 prêmios internacionais, incluindo Locarno e Brasília, "A febre" é o longa de ficção de estréía da documentarista Maya Da Rin, que também co-escreveu o roteiro. Fotografado pela argentina Barbara Alvarez, o filme traz um olhar documental sobre a vida de Justino (Regis Myrupu), pai da enfermeira Vanessa (Rosa Peixoto). Ambos são indígenas convivendo pacificamente com a comunidade branca na periferia de Manaus. Nessa mistura de culturas e raças, Justino procura manter a tradição de falar a sua língua com o seu neto, contando histórias, para que essa língua não se perca com as novas gerações. Justino tem 45 anos e trabalha de segurança no porto. Quando sua filha passa para a faculdade de medicina em Brasília, Justino começa a sentir uma febre que não encontra explicação médica. Ao mesmo tempo, um animal ronda a comunidade, e as pessoas se sentem amedrontadas. O filme sai da seara do realismo para investir no simbolismo: Justino sente a crise cultural e de identidade, e cada vez mais percebe que deve buscar as suas origens. Com um ritmo contemplativo e bastante lentidão, o filme faz um olhar sobre a miscigenação em uma região complexa como a capital da Amazônia, onde comunidades indígenas se misturam, inclusive várias não conseguindo se comunicar entre si. Um drama melancólico sobre a perda da identidade, e a força de um homem para resgatá-la.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Trade center


"Trade center", de Adam Baran (2021)
Concorrendo no prestigiado SXSW, "Trade center" é um filme repleto de relatos pornográficos de homens gays que frequentaram os arredores do World trade ceter nos anos 80 e 90 e revelam as aventuras sexuais que tiveram. Baseado no livro "The towers of cums and horndogs of yore", de Billy Miller, "Trade center" mescla imagens das torres gêmeas desde os anos 70, incluindo o monumento que foi erguido como "Mark one" após a tragédia de 11 de setembro.
Os relatos são instigantes: um homem diz os banheiros públicos sempre foram fetiche e ponto de pegação para a comunidade gay. Orgias aconteciam direto nos banheiros e no estacionamento do World trade center. Uma mistura de genitálias de asiáticos, negros, judeus com pênis circuncisados, um paraíso, segundo outro depoimento.Os banheiros funcionavam 24 horas, sem câmeras, portanto, rolava de tudo, incluindo uso de drogas. Quando os seguranças surgiam e expulsavam as "ladies", minutos depois, todos voltavam.
As cinco vozes descrevem suas memórias de encontros sexuais públicos significativos em cada local no memorial atual, descritos em mapas. É um filme sobre uma época de permissividades, que mesmo com o advento da Aids nos anos 80, não parou de registrar alta frequência e rotatividade.

Shut in


"Shut in", de D.J. Caruso (2021)
O Cineasta D. J. Caruso dirigiu alguns produções interessantes em Hollywood, como "Disturbia" e 'Eu sou o número 4". Agora, ele dirige uma produção de suspense escrita pela roteirista Melanie Toast. Importante saber que o filme foi produzido pela Daily Wire, uma mídia conservadora americana, cujos temas em seus projetos falam sobre redenção e cristianismo.
Outro ponto curioso é a presença de Vincent Gallo, ator e diretor independente, mais afeito a projetos autorais, mas aqui interpreta um viciado pedófilo, espero que não seja uma recaída em sua carreira.
Jessica (Rainey Qualley) é uma ex-viciada, mãe de duas crianças pequenas. Ela vai até a fazenda de sua recém falecida mãe, para receber a pequena herança. Para sua surpresa, seu ex-namorado, o viciado Rob (Jake Horowitz) surge acompanhado de Sammy (Vincent Gallo), seu comparsa. Ele quer a droga que Jessica guardou, e também, o dinheiro da herança. Mas Rob tranca Jessica em uma dispensa, e impossibilitada de sair, ela teme que Sammy faça mal aos seus filhos. Desesperada, ela busca solução na bíblia que está ali guardada..
O filme é um bom exemplo de como fazer um bom filme com mensagens cristãs mas sem ser apelativo, podendo agradar a qualquer público. Com bons atores e boa direção, "Shut in" é um filme correto e bastante decente, um filme B que irá entreter o espectador com boas cenas de suspense.

Minhas tias


"My aunties", de Richard O’Connor (2020)
Excelente e emocionante curta de animação canadense LGBTQIAP+. Baseado em uma comovente e trágica história real, adaptado d uma entrevista de 2010 que Stefan Lynch Strassfeld gravou para o podcast storytelling e a fundação sem fins lucrativos StoryCorps .
Stefan Lynch foi criado por pais gays no início dos anos oitenta. Ele foi cuidado e amado por um grupo de adultos, em sua maioria homens gays, que ele chamava de suas “tias”. Stefan se lembra da sucessão de doenças relacionadas à AIDS em sua família, incluindo a morte de seu pai em 1991. Mesmo diante de uma terrível doença e perda, suas tias lhe mostraram como sobreviver e cuidar umas das outras. Seu pai, Michael Lynch, foi um ativista da liberação gay nas décadas de 1970 e 1980, uma figura proeminente em Toronto que fundou o AIDS Memorial da cidade e ministrou o primeiro curso de estudos gays no Canadá .
Lynch Strassfeld tinha 10 anos quando o amigo de seu pai, Steve, foi diagnosticado com AIDS. A partir daí, um por um, vão morrendo os amigos e amantes.
É um filme bastante sensível, e fiquei muito encantado com a sutileza e emoção com que é narrado e apresentado na animação. Um filme amoroso, sobre a comunidade gay, batalhadora e fiel aos seus princípios de amor ao próximo.

Girls and boys- Sex and british pop


"Girls and boys- Sex and british pop”, de Ben Whalley (2005)
Ambicioso documentário de 4 horas de duração que percorre a cena musical inglesa dos anos 60 aos anos 90, pelo prisma da sexualidade, gêneros e política.
Os anos 60 foram os anos dos escândalos, com o surgimento dos Rolling Stones e outros artistas que desafiaram o status quo e vieram visualmente extravagantes, embalados pelas drogas e efervescência do flower power.
Os anos 70 foram os anos da androginia, com o surgimento da andrognia, capitaneada por David Bowie. Mas o que mas me interessou foram os anos 80 e 90, que sou totalmente apaixonado. Os anos 80 vieram com o Glam rock, o pop, o punk, o gótico. O final dos anos 70 trouxeram para a Inglaterra um ambientação bastante depressiva: greves, desempregos e o governo conservador de Margareth Tatcher, Os artistas resolveram escancarar de vez, vindos da geração Bowie, vieram com muita androginia, maquiagem e indefinição de gênero. Foram os anos da festa, do colorido, da alegria e hedonismo. Duran Duran, Culture Clube, Frankie goes to Hollywood, Human League, Bananarama, Soft Cell, Spanday Ballet, Wham, Depeche Mode, Bronski beat, Pet shop boys, erasure, Queen e Freddie Mercury.
Mas na metade dos anos 80, a partir de 87, veio a Aids, que dizimou boa parte da população gay e a música voltou a ser menos sexualizada e mais política: entraram The Smiths, Eurythmics, entre outros. O filme reserva boa parte para a importância de Madonna na música e comportamentos ingleses, e o contraponto, Kylie Minogue, com sua doçura e inocência. Madonna representou mulheres no Poder.
Os anos 90 vieram com grupos como Suede, Blur, vindos de uma cultura do ecastay e do mundo dos Djs e eletrônico. Take that e Right said Fred vieram para trazer o conceito da objetificação do corpo masculino. Mais pro final dos 90, Robin Willians e Kylie Minogue voltaram com o conceito de homens e mulheres que agradam a todos os públicos, até a explosão das Spice Girls e a importância delas para trazer o conceito de Girl power para as adolescentes. O filme finaliza dizendo que grupos como Spice Girls foram importantes para o surgimento de programas de tv como the voice , pois disseram ao público que todos seriam capazes de cantar. Mesmo para quem não queira ver o filme, só deixar tocar o aúdio já vira uma super playlist de 4 décadas.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles

Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, de Chantal Akerman (1975)
Um drama intimista e claustrofóbico que acompanha uma dona de casa viúva em sua rotina em casa e nas ruas que dura exatamente 201 minutos, ou 3 horas e 21 minutos. Parece loucura imaginar que algum espectador irá passar esse tempo mastodôntico assistindo a protagonista cozinhando batata, arrumando a cama do filho, preparando café da manhã, preparando carne moída, comprando batatas no mercado, comprando pão, engraxando os sapatos do filho e indo dormir isso pelo período de 3 dias e em tempo real. Pois é justamente esse filme que faz parte da lista de vários críticos como sendo um dos melhores filmes da história do cinema. A cineasta belga Chantal Akerman tinha impressionantes 25 anos de idade quando realizou essa obra-prima em planos fixos e longos, tableaux vivos que mostram a rotina árdua e sem conflitos de uma mulher, Jeanne, viúva e mãe de Sylvain, um adolescente que passa o dia todo na escola. De tarde, Jeanne recebe clientes em seu apto, uma forma de poder ganhar dinheiro. Akerman se inspirou em sua mãe para criar a personagem, em sua rotina exasperada. Uma crítica violenta à sociedade machista da época ( o filme é de 1975), o filme foi considerado como um dos pilares do cinema feminino. Submissa, enclausurada, maltratada pelos clientes e pelo filho que nem sequer falam com ela direito, Jeanne irrompe em fúria no seu 3o e último dia, em um ato descontrolado e inesperado.
Delphine Seyrig já era uma grande estrela, tendo protagonizado “O ano passado em Mariembad”, de Alain Resnais, e “O discreto charme da burguesia”, de Bunuel.

O filme é uma representação de como Akerman era na vida real: depressiva, enigmática, valorizando as pequenas coisas. Após a morte de sua mãe, a quem era muito ligada, Akerman se suicidou em 2015, aos 65 anos de idade.

A jaula


"A jaula", de João Wainer (2021)
Quem for assistir ao filme achando que vai encontrar uma violência gore no estilo de "Jogos mortais", conforme muitas criticas anunciam, vão ficar bastante frustrados. O filme é um trhiller com violência branda, é mais um suspense claustrofóbico sobre a luta de um homem em sair de um carro em que ele fica preso.
Refilmagem do argentino "4X 4", de Mariano Cohn, "A jaula" é bastante fiel ao original, apenas acrescentando à sua história um pano de fundo com uma repórter sensacionalista, interpretada por Astrid Fintenelle, que faz um estilo Datena de ser, em um programa onde o público vota se querem que mate ou não o bandido, como um reality.
Djalma da Rocha (Chay Suede) é um bandido que tenta roubar um carro. Ele fica todo feliz ao entrar no SUV e conseguir tirar o rádio, e sacana, ainda mija nos bancos. Mas qual a sua surpresa ao querer sair: descobre que o carro está travado, as janelas revestidas com película que ninguém consegue enxergar e nem tampouco escutar. Seu celular, para piorar, morreu a bateria. Ao recolocar o rádio, ele tem uma ligação chamada e descobre que foi tudo armadilha do ginecologista e obstetra Henrique Ferrari (Alexandre Nero), que já foi assaltado 28 vezes durante a vida e resolveu dar um basta. Cansado, sem ar, sede e fome, Djalma perde suas forças, enquanto o médico vai cheio de sadismo torturando o rapaz.
Certamente a inspiração do original argentino foi "Jogos mortais", mas aqui por ser uma produção do Disney, tudo fica mais brando. É bem dirigido, com bons enquadramentos que conseguem superar a dificuldade de se filmar mais da metade do filme dentro do carro. Chay está bem e fica fácil do espectador torcer pelo bandido boa pinta, pai de família e casa para manter. <as quanto ao médico de Alexandre Nero, a opção criativa em fazer dele um psicopata fez perder a chance de se fazer um discurso mais de inclusão social e entendimento das razões da necessidade do furto, e mais um personagem no estilo Michael Douglas de "Um dia de fúria" , repleto de ódio no coração e que decidiu que aquele dia seria o dia do juízo final. Ainda assim, um bom filme de entretenimento.

Não me mate


"Non me uccidere", de Andrea de Sica (2021)
O mais curioso dessa fantasia de terror não é ele ser praticamente igual a "Crepúsculo", e sim, dele ter sido dirigido pelo neto de Vittorio de Sica, Andrea de Sica.
"Não me mate" é a adaptação da 1a parte da trilogia escrita pela romancista Chiara Palazollo, que traz ao invés de vampiros e lobisomens, mortos vivos e devoradores de carne humana brigando contra uma seita de caçadores de bruxas e zumbis.
A crítica inteira sentou o cacete no filme, mas confesso que achei até divertido, ainda mais que traz várias referências cinéfilas, como a porradaria no corredor de "Oldboy". E o filme também traz protagonismo feminino e sororidade para lidar com um mundo de relacionamentos tóxicos e machismo.
Mirta (Alice Pagani) e Robin (Rocco Fasano) são namorados que gostam de viver a vida intensamente. Robin leva o perigo ao extremo e dirige na estrada com perigo, o que o fascina. Ao chegarem a uma pedreira, ele convence Mirta a usar drogas, o que provoca a morte de ambos. Mas para surpresa de Mirta, ela ressuscita como morta viva. Para se manter viva, ela precisa comer carne humana. Os Benandanti, seita que caça mortos vivos surge e quer matá-la. ,mas ela é salva por outra morta0viva, sara (Silvia Calderoni).
O filme tem ação, romance, terror em doses que servem de passatempo decente, e um desfecho que deixa em aberto para a possibilidade de uma continuação. As duas protagonistas são bad ass e super seguram o filme. O que deu ruim foi quererem que Robin fosse um clone de Robert Pattinson: ele é caracterizado exatamente igual, corte de cabelo, maquiagem figurino e principalmente, aquele jeito emo de ser. Isso ficou risível.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Peter, o pinguim


“Peter, the pinguin”, de Andrew Rutter (2020)
Premiado curta de terror e humor ácido, uma fantasia bizarra e surreal ambientada em Londres. Um home, Nigel, segue de carro com sua nova namorada, Rachel, até a casa dela para ela lhe apresentar a sua filha pequena. Nigel está inseguro em conhecer a menina e lhe compra um pequeno leão de pelúcia. Rachel diz para ele não dar o boneco, pois não é grande o suficiente. Ao chegar na casa, Emily, a filha, vem desesperada procurar sua mãe, dizendo que Peter, o pinguim, está morrendo. Ao entrar na casa, Nigel leva um susto: Peter é um pinguim de pelúcia. Mas para sua surpresa, tanto a filha, mãe e dois paramédicos que chegam, agem como se o boneco fosse real.
O filme lembra fantasia loucas como “O homem de pilha”, onde o protagonista se vê num espiral de bizarrices. É um ótimo curta, premiado em diversos festivais, e com um desfecho muito, muito estranho.

Sabor do desejo


"A taste of hunger", de Christoffer Boe (2021)
Drama dinamarquês co-escrito e dirigido por Christoffer Boe, traz a história de um casal, donos de um restaurante, ele Chef da cozinha, que desejam obssessivamente uma Estrela do prestigiado Michelin.
O filme tem uma narrativa que vai e volta no tempo, confuso no início mas depois a gente entende a estrutura. O filme traz o primeiro do encontro do casal, as brigas, os filhos, a obsessão que faz com que os filhos fiquem em 2o plano, e principalmente muita tensão na preparação dos pratos de comida e entender quem será o famoso crítico do Michelin que vai incógnito para os restaurantes. O filme é lindo em todos os sentidos: um lindo casal formado pelos atores Nikolaj Coster-Waldau (Carsten, o Jaime Lennister de "Game of thrones") e Maggie (Katrine Greis-Rosenthal). Eles têm um lindo casal de filhos, Chloe e August. As locações são lindas, fotografia linda, trilha linda, direção e enquadramentos lindos. Mas o que de certa forma estragou a narrativa? Uma decisão do roteiro de trazer um caso de infidelidade, e consequentemente, uma punição horrorosa para a protagonista feminina. Confesso que achei desnecessário e me irritou bastante, por mais que na última cena as coisas tentem mudar. Não precisava mesmo, a questão da busca insistente pela estrela já era um tema incrível o suficiente para o espectador acompanhar.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

A primeira onda


 “The first wave”, de Matthew Heineman (2021)

Premiado documentário, contundente e emocionante e bastante corajoso por parte da equipe de filmagem de Matthew Heineman, que pelo período de 4 meses, de março a junho de 2020, acompanhou a equipe médica, enfermeiros e pacientes portadores do covid-19 no Centro Médico Judaico de Long Island, no Queens, Nova York. O estado de Nova York batia recordes mundiais de contaminação por covid e estar nesses ambientes era uma bomba relógio, onde qualquer um poderia se contaminar, ainda mais no estágio inicial da doença, quando pouco se sabia sobre o que fazer.

O ambiente retratado pelas câmeras é de um completo caos no hospital. Médicos e enfermeiros sem descanso, sendo acionados o tempo todo, fatigados, estressados e com medo de serem os próximos a contrair a doença, tal a proximidade com os pacientes. A médica Nathalie Douge, negra e descendente de haitianos, é a chefe do setor no Hospital, e é através dela que o filme vai sendo costurado. A câmera a acompanha em sua casa, dirigindo o carro e chegando ao hospital, onde ela não tem um segundo de sossego. Pelo seu depoimento, ficamos sabendo que o hospital atende em sua maioria negros, hispânicos e imigrantes, e acabam sendo aa maiores vítimas da covid. Nathalie atende mulheres negras e diz que qualquer uma delas poderia ser sua mãe.
O filme acompanha alguns doentes, entre eles, o policial negro Ellis, 35 anos, e a enfermeira filipina Brussels, lutando por suas vidas, enquanto fazem conexão com seus familiares via Ipad, já que nessa fase era proibido que os familiares entrassem no hospital.
Mas o filme dá uma guinada brutal, quando, 90 dias após a pandemia, acontece o assassinato de George Floyd e as ruas, que até então estavam vazias, são tomadas por milhares de manifestantes, protestando “Black lives matter”. Nathalie participa também da manifestação, e faz um paralelo duro e emocionante da frase proferida na manifestação: “I can’t breathe”, uma analogia tanto ao assassinato de George, quanto às suas lembranças dos pacientes da covid, que também não conseguem respirar.
não é um filme fácil de se assistir, principalmente quem teve pessoas próximas mortas pela doença Um filme que certamente virará documento histórico de uma época de trevas.

Ted K


"Ted K", de Tony Stone (2021)
Cinebiografia do terrorista Ted Kaczynks, mais conhecido como Unabomber. O filme concorreu no Festival de Berlim, e apesar de toda a história repleta de ação e reviravoltas, provocando a maior caçada da história do FBI, o filme é curiosamente introspectivo, narrado em 1a pessoa por Ted (Sharlto Copley, o ator sul africano, protagonista de 'Distrito 9", também produtor do filme). O filme tem uma narrativa existencialista, como um ponto de vista do personagem tentando entender o mundo que o rodeia. Impossível não se lembrar de "Na natureza selvagem", de Sean Penn, ambos manifestos contra uma sociedade de consumo e capitalista. No caso de Ted, sua luta era contra a tecnologia: "Tecnologia é a pior coisa que aconteceu ao mundo, e promover o seu progresso e á nada mais do que um crime.". Ted escreveu um manifesto de 25 mil páginas, que o diretor e roteirista John Rosenthal leram para escrever o roteiro do filme.
Com seus atos, Ted provocou a morte de 3 pessoas, além de 27 feridos, em 25 anos de atividades criminosas. Ele enviava as bombas pelos correios. Foi através do manifesto que Ted mandou publicar na Ny Times que ele foi preso: seu irmão, com quem ele tinha desavenças, reconheceu a escrita e chamou a FBI, que o localizou em uma cabana que ele morava nas montanhas nevadas de Montana, Colorado.
Fiquei com a impressão que o filme poderia ter sido mais interessante, afinal, a história é muito boa e eletrizante. A opção do cineasta Tonu Stone, em seu filme de estréia, não de ixa de ser corajosa, mas certamente irá afastar curiosos que queriam entender mais da vida de Unabomber. Ele se encontra em prisão perpétua: Ted era prodígio da matemática, abandonou a carreira acadêmica em 1969 para buscar um estilo de vida primitivo.. Como se vê, um personagem maravilhoso, mas que veio em um filme sem emoção.

The pool


"The pool", de Tom Bianchi (1998)
Documentário cult LGBTQIAP+ que fez grande sucesso em 1998. O filme traz o famoso fotógrafo americano Tom Bianchi, que tornou-se o fotógrafo de nu masculino mais publicado do mundo ao celebrar o espírito e a beleza de homens gays orgulhosos. O filme faz um registro de um dia de Tom Bianchi com 9 amigos em uma piscina. Entre os nove homens estão os medalhistas de ouro no fisiculturismo dos Jogos Gays de Amsterdã. Todos os homens ficam totalmente nús na piscina, se amando e admirando os corpos um dos outros.
O filme fez grande sucesso por apresentar um mundo hedonista, típico do universo das fotos de Tom Bianchi, que aqui faz registro de um foto shoot para o seu livro. Tom queria resgatar o orgulho gay e o desejo de se sentir atraído novamente pelo sexo, destruídos pela epidemia da Aid que dizimou milhares de homens gays nos anos 80 e 90. Um filme belamente fotografado, em preto e branco e a cores, um estudo de como fotografar nús masculinos em still e em movimento.

O golpista do Tin


"The Tinder swindler", de Felicity Morris (2022)

"Jamais culpe a vítima". Essa é uma frase que guardarei para mim após assistir a esse documentário inglês de grande sucesso. Na verdade, durante todo o filme, fiquei com estômago embrulhado, uma sensação horrível de não poder fazer nada, vontade de dar uma de Cecilia de 'A rosa púrpura do Cairo" e falar: 'Sai dessa, é um vigarista, você não consegue enxergar?". Não sei se é porque aqui no Brasil estamos tão acostumados com golpistas e salafrários que faz com que fiquemos mais espertos com esse povo 171. Li vários comentários criticando as vítimas, dizendo que não existe esse conto de fadas do príncipe encantado. Mas de novo, não estou aqui para julgar ninguém. E lendo matérias recentes dá tristeza ver que esse vigarista do Simon Liever parece que vai se dar bem. Foi pra Hollywood vender sua história, já tem uma agente americana e infelizmente, é um péssimo exemplo para as pessoas. Parece dizer que nos dias de rede social, você acaba se tornando um herói por se dar bem após aplicar golpe. Que seja cancelado e proibido de exercer qualquer atividade, além de ser preso e ter que pagar as dívidas dessas mulheres. O filme é dirigido com muita habilidade pela documentarista Felicity Morris, que traz uma narrativa quase que de um thriller de suspense, espionagem e ação.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O Bom Patrão


"El buen patrón", de Fernando León de Aranoa (2021)
Depois de terem trabalhado juntos no filme sobre Pablo Escobar, o realizador espanhol e o astro Javier Bardem retornam em "O bom patrão", uma fábula de humor ácido e cruel sobre os limites éticos na relação patrão e empregados em uma empresa de produção de balanças. Vencedor de mais de 20 prêmios internacionais, entre eles, 4 Goyas: melhor filme, ator. roteiro e diretor.
Bardem é Blanco, herdeiro da empresa, que ele comanda com mão de ferro, apesar da aparente humildade e generosidade. Ele demite um funcionário, que monta acampamento do lado de fora da fábrica protestando contra a demissão; ele transa com a estagiária Liliana, sem saber que ela é filha de seu melhor amigo; e e;e tem que lidar com os problemas pessoais de seu chefe de produção, que está tendo problemas com a esposa. E tudo isso, tendo que receber daqui a alguns dias uma comissão do governo que avalia a qualidade de produção da empresa.
O filme conta com excelentes atuações do elenco, e um roteiro que coloca Blanco em uma situação parecida com "Talentoso Ripley": a cada passo que ele dá, ele vai se ferrando cada vez mais. ë um filme bem articulado, bem dirigido, mas que tem uma duração excessiva que dá uma cansada lá pelo 2o ato. Ma