segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Romance


"Romance", de Sergio Bianchi. Assisti a esse drama polêmico de Sergio Bianchi no ano de seu lançamento, 1988, e revê-lo décadas depois me faz confirmar que são poucos os cineastas ousados como esse paranaense que atira para todos os lados, desfilando suas críticas ao governo e à sociedade burguesa.
O filme se tornou célebre por várias razões: pela colaboração no roteiro de Caio Fernando Abreu; pelas cenas cruas e explícitas de pegação na noite decadente paulista; pela morte por consequência da HIv do ator Hugo Della Santa, que no filme interpreta um gay que faz pegações sem proteção; pelo seu elenco composto de nomes globais e atores autorais, com Beatriz Segall, Imara Reis, Rodrigo Santiago, Elke Maravailha, Claudio Mamberti, Sergio Mamberti, Emilio di Biasi, Maria Alice Vergueiro.
Um escritor intelectual de esquerda, Antonio Cesar (Santiago) morre e alguns consideram sua morte suspeita. Seu último livro falava de escândalo internacional em que estavam metidas autoridades políticas, e sua morte repercute em três pessoas diferentes: Regina, jornalista, parte à procura de informações que desvendem o escândalo; Fernanda, companheira e vítima do discurso de António César sobre a liberdade do comportamento, tenta viver o seu discurso, mas perde-se e vê-se mergulhada na angústia; André, homossexual e amigo do morto, paga, também ele, o seu tributo à ideologia da libertação sexual.
O filme tem atuações empostadas de alguns atores que parecem estar no palco de teatro, mas esse é o olhar de Bianchi: seu elenco é porta voz de seus petardos sócio-políticos e comportamentais. Sobra para todo mundo. Bianchi traz incômodos em cada cena, desde a cena de pegação com orgias, até a cena da burguesa trazendo mendigos para sua casa para ela tomar banho com eles. É filme porrada e audacioso.

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