segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Luz

"Luz", de Tilman Singer (2018) Premiado em vários Festivais internacionais, 'Luz" é um filme de terror independente alemão, escrito e dirigido pelo cineasta Tilman Singer. Quando estudava na Faculdade de cinema, Tilman realizou um curta metragem, mais tarde adaptado para esse longa, "Luz". Pegando carona na onda dos anos 80, o filme se passa na época, com direito a pagers, trilha sonora de sintetizadores e foi todo rodado em película, conferindo uma imagem muito bem-vinda, repleta de grãos. Não é fácil acompanhar o filme: ritmo extremamente lento, e uma narrativa hermética, onde o espectador vai tentar entender o que está acontecendo na tela. O filme vai e volta no tempo, de forma lúdica e quase surreal. Para quem busca um filme de terror assustador, esse filme não é uma pedida. Sem cenas de gore, o filme apela para um suspense fantástico, lembrando um pouco o universo de Dario Argento. Luz é uma taxista em Berlin, de origem chilena. O filme se passa todo durante uma noite chuvosa. Luz entra na delegacia de polícia quase deserta. Ela está machucada. Ela diz que sofreu um acidente no seu táxi, e veio pedir ajuda. A detetive Bertillon e o técnico de som e tradutor Olarte tentam ajudá-la, mas ela está catatônica. Os policias chamam o Dr Olarte, um psiquiatra para fazer um tratamento de hipnose em Luz e tentar entender o que aconteceu cm ela. O Dr Olarte nesse momento está em um bar próximo, e acaba conhecendo Nora, uma mulher estranha que diz ao doutro que era a passageira de Luz no táxi. Nora está possuída por um demônio e o transfere ao Dr. Ao chegar na delegacia, o Dr quer repassar o demônio para Luz. Esse filme certamente é um dos mais bizarros que já assisti na vida. Não sei dizer se gostei ou não, mais provável que eu não tenha gostado. Com uma aura pretensiosa ao extremo, o filme tenta passar uma seriedade e uma atmosfera de encantamento para cinéfilos, que ao meu ver, são subterfúgios para esconder o fraco roteiro e o baixo orçamento. Vale a curiosidade, mas como passatempo, é um projeto muito falho. Faltou investir em tensão e violência, e quem sabe, um desfecho mais surpreendente. O filme foi exibido no Festival de Berlin 2018.

sábado, 28 de setembro de 2019

O projeto ousadia

"The dare project", de Adam Salky (2005/2018) Para quem gosta de romances LGBTQI+, esse filme é uma excelente pedida. Em 2005, o Cineasta Adam Salky e o roteirista David Brind lançaram o primeiro filme desse projeto que foi inspirado em "Antes do amanhecer", de Richard Linklater. "Ousadia", de 2005, ganhou diversos prêmios internacionais, e narra com extrema delicadeza, um amor platônico e repleto de tensão sexual entre dois amigos supostamente heteros da faculdade. Ben (Adam Fleming) e Jonnhy (Michael Cassidy). Exatamente 15 anos depois, em 2018, e com os mesmos atores, o diretor e o roteirista lançaram a 2a parte: Ben e Jonnhy, que terminaram separados no primeiro filme, agora se reencontram em uma festa em Los Angeles. Ben se assumiu gay, e Jonnhy agora namora uma moça. Ao se reencontrarem, fica impossível negar que o amor entre os dois continua. Entre uma conversa e outra, fica um incômodo, uma terrível sensação de que a vida dos dois poderia ter sido outra caso tivessem ficado juntos em 2005. Com linda fotografia, edição e um trabalho muito sofisticado de direção, o filme traz um romance melancólico sobre duas pessoas que poderiam ter sido felizes, mas que preferiram se esconder por uma fachada conservadora. Os dois protagonistas são bastante carismáticos, e o espectador torce pelo casal.

Homens à venda

"Hommes à louer ", de Rodrigue Jean (2008) Premiado documentário canadense, que explora a difícil e tortuosa vida de 11 jovens garotos de programa em Montreal. Com depoimentos contundentes, não só pelo conteúdo mas também pela aparência dos entrevistados, o filme foi realizado durante o período de 1 ano em uma Clínica de ajuda psiquiátrica para viciados em drogas. Todos os entrevistados disseram em depoimento que começaram na vida da prostituição para poder pagar as drogas que consumiam desde crianças, alguns com 12 anos de idade. As perguntas são as mesmas para os rapazes, entre elas: - Como começou na prostituição - O que você jamais faria durante o programa - Existe um sentimento ou relacionamento amoroso com os clientes - se pensa em algum dia sair dessa vida - Como se previne contra contaminação de doenças - se considera um homossexual Todos em uníssono responderam que no programa, jamais fariam passivo, que sentem repulsa, um chega a dizer que se o cliente insistir, ele dá porrada. As drogas consumidas são pesadas: crack, cocaína. Alguns rapazes apresentam dentes podres, feridas na boca. São todos de boa aparência, mas maltratados pela droga. O filme tem 150 minutos de duração, e possui um extenso material que serve de laboratório para Atores que querem observar gestuais, olhares, respiração, modo de fala dos profissionais do sexo. Muitos filmes poderiam sair facilmente de cada um dos entrevistados, narrando histórias de abuso sexual, desemprego, etc. Meses depois, o documentarista retorna à mesma clinica para entrevistas os garotos e saber o que mudou na vida deles. Um filme melancólico, brutal, que não possui nenhuma cena de nudez ou sexo, apesar do conteúdo explícito nos depoimentos.

Hebe- A estrela do Brasil

"Hebe- A estrela do Brasil", de Maurício Farias (2019) Concorrente no Festival de Gramado 2019, de onde saiu com o Kikito de Melhor montagem, o filme sobre a Atriz, cantora e apresentadora Hebe Camargo preferiu apresentar um aspecto mais sombrio na autobiografia, ao contrário da solaridade que Hebe possuía, estampada em seu programa que durou quase 60 anos na Televisão, sempre gargalhando e com um enorme sorriso destacado. HIV, ciúme possessivo, machismo, censura, desemprego, ditadura, alcoolismo, abuso doméstico, conflito patrão X empregado, homofobia, são tantos os conflitos apresentados no filme que somente a estrutura de um seriado poderia dar conta, e é justamente essa a proposta desse filme lançado primeiro no cinema e em seguida, como série na Tv. O elenco é bastante numeroso, sendo impossível para o filme dar conta: Gabriel Braga Nunes ( que faz o ex-marido de Hebe, Décio), Silvio Santos (Daniel Boaventura), Stella Miranda (Dercy Gonçalves) têm participações bem pequenas, mas de todas, é Stella Miranda quem rouba a cena em um momento sensacional, que gera todo o conflito com a Tv Bandeirantes, onde o programa era exibido nos anos 80. O filme, ambientado na década de 80, faz um recorte da carreira de Hebe, desde o auge na Tv Bandeirantes até o fim do programa, que era perseguido pela Censura, até sua recontratação pelo SBT de Silvio Santos. Paralelo, temos a relação de Hebe com seu filho, Marcello (Caio Horowitz), os ataques de ciúmes de Lélio (Marco Ricca, excelente) com Roberto Carlos (Felipe Rocha) e Chacrinha (Otavio Augusto) e a luta de Hebe a favor da luta contra a homofobia e a censura. O filme tecnicamente é impecável, com destaque absoluto para o figurino, requintado e luxuoso, do acervo da própria Hebe, misturado a alguns produzidos para o filme. Um dos grandes acertos do filme foi ter saído do formato de cinebiografia tradicional e esquemática para um recorte de um trecho da vida da biografada, formato muito comum em cinebiografias americanas. Andréa Beltrão, que está quase 100 por cento do filme, é o grande motivo de se assistir a esse filme, Ela está reluzente, totalmente envolvida nas várias camadas da vida da apresentadora, morta em 2012. O Diretor Maurício Farias imprime ao filme um visual estilizado, com uma câmera colada no rosto de Andrea, uma proposta comum ao cinema do chileno Pablo Larrain, quando realizou a biografa de Jackie Kennedy. Algumas cenas remetem à "Uma mulher fantástica", também de Larrain, principalmente nas cenas de boite, com câmeras lentas e angulos de câmera mais inusitados.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Dante Vs Mohammed Ali

"Dante Vs Mohammed Ali", de Marc Wagenaar (2018) Vencedor de vários prêmios internacionais, "Dante Vs Mohammed Ali" é um Drama LGBTQI+ inusitado. Produção holandesa, o filme traz elementos de encenação teatral à uma história de amor entre 2 jovens boxeadores, que lutam em uma balsa, enquanto os torcedores acompanham a luta pela margem do rio. Wolf e Alexander, conhecidos pelos nomes artísticos de Dante e Mohammed Ali, são concorrentes no ringue, mas na vida pessoal, sentem um amor platônico um pelo outro, que não pode ser revelado pelo conservadorismo e pela homofobia da população. Alexander quer fugir da cidade, mas Wolf o impede. Um filme estranho, que mistura realismo e elementos lúdicos, com boas interpretações e uma fotografia muito bonita, intensificando a melancolia de uma cidade rural da Holanda, como se tivesse parado no tempo, tal a falta de modernidade.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Sócrates

"Sócrates", de Alexandre Moratto (2018) Longa de estréia do documentarista e curta-metragista Alexandre Moratto, "Sócrates"ganhou mais de uma dezena de prêmios internacionais, entre eles, o Spirit Awards como diretor estreante, Festival do Rio com o Prêmio Felix, voltado para filmes LGBTQI+. e o Festival Mix Brasil. Herdeiro direto do estilo de filmagem dos belgas irmãos Dardenne, também documentarista, Morattto cola a sua câmera no rosto do ator Christian Malheiros e é ali que ela fica, durante os quase 80 minutos do filme. O drama remete a filmes clássicos dos irmãos Dardenne, como "Rosetta", e até mesmo a "Os incompreendidos", de Truffaut, só que aqui, o filme trabalha a sexualidade do protagonista, Sócrates, um rapaz de 15 anos de idade. Seu pai o abandonou quando descobriu que ele é gay. Sua mãe, faxineira d euma empresa, acaba de morrer. Sem família, sme amigos, Sócrates faz de tudo para manter sua dignidade, mas não consegue: faminto, sem dinheiro para pagar aluguel, ele tenta se prostituir, come lixo, pede favores que raramente vem. Nesse ato de desespero, ele recebe uma ajuda de um rapaz que ele conhece em uma obra, homossexual enrustido. Mas a felicidade dura muito pouco na vida de Sócrates. O filme é um verdadeiro mundo cão na vida de um adolescente que poderia ter virado "Pixote" ou qualquer um dos garotos de "Cidade de Deus". Impossibilitado de trabalhar, o filme discute várias questões sociais: homofobia, abandono familiar, desemprego, evasão escolar. O cineasta e roteirista Moratto escreveu o filme em homenagem à sua mãe falecida em 2014,e com o pensamento de um norte perdido na ausência da figura materna. 'Sócrates"é um bom filme, realizado da forma possível, com baixo orçamento mas com muita vontade de querer ser um filme vencedor. O ator Christian Malheiros é uma grande revelação.

Predadores assassinos

"Crawl", de Alexandre Aja (2019) O Cineasta francês Alexandre Aja dirigiu dois dos filmes mais tensos que já assisti, de assassinos cruéis: 'Alta tensão", ainda na França, e "Viagem maldita", produção americana. Também nos Estados Unidos ele rodou a comédia de humor negro "Piranhas 3D", que acabou sendo um laboratório para o excelente "Predadores assassinos". Ambientado na Flórida, durante uma tempestade com direito a furacão, o filme une drama, ação, aventura e terror em doses generosas. É tenso do início ao fim, Tudo bem que é um passatempo, mas é daqueles bons, que mesmo que a gente ache o roteiro uma doideira, com tantas soluções fáceis para os personagens, e também, viradas na história que a toda hora impossibilitam nossos heróis de atingirem a salvação. Haley (Kaya Scodelario, de mãe brasileira e fluente em português, trabalhou na franquia "Maze runner"). é uma nadadora profissional. Durante uma tempestade, ela liga para o seu pai, Dave (Barry Pepper, de "O resgate do soldado Ryan"), seu ex-treinador e de quem se afastou após o divórcio com sua mãe. Haley resolve procurar seu pai, e acaba descobrindo ele no sótão da casa, ferido e com a água do temporal invadindo o local. Haley descobre o pior: que existem 4 enormes crocodilos doidos para devorarem quem estiver vivo. O plot, como se vê, é bem batido, e já foi feito bem parecido em "Bait", um filme australiano , onde uma tempestade invade uma cidade e os sobreviventes se refugiam em um supermercado, infestado de tubarões. O que faz a diferença aqui, é o excelente trabalho dos 2 atores principais. Mandando muito bem no drama e no suspense, os dois têm carisma e o espectador de verdade torce pelo dois. Claro que o filme tem bastante gore, intensificado por um elenco de apoio que existe só para servir de comida pro bichanos. E ainda tem a cadela de Dave, só pro espectador ficar ainda mais tenso. Ótimos efeitos, muito boa aula de direção e edição, o filme é um show de sofrimento e de torcida pelos heróis.

Colocando a maquiagem

"Bujang", de Nam Yeon-woo (2017) Excelente drama LGBTQI+ sul coreano, que joga para o espectador uma intrigante questão: como um Ator homofóbico pode interpretar uma Trans no palco, dando vida à ela? O filme é um impressionante debut do ator Nam Yeon-woo, que aqui também escreveu o roteiro e dirigiu. Song-Jun (Nam Yeon-woo) é um jovem aspirante a ator, desempregado e cheio de dívidas para pagar. Song sempre recorre ao seu irmão mais novo, um estudante de dança, para ajuda'-alo financeiramente. Um dia, Song fica sabendo da audição para um famoso livro chamado 'Dark Life", sobre uma Mulher trans que se revela para a sua família. Song decide fazer um estudo sobre o universo Trans e assiste a um documentário com entrevistas com algumas trans de Seul. Song acaba conhecendo uma das entrevistadas, Ina, que o ajuda em sua composição. O irmão de Song também o ajuda no trabalho de corpo. Song acaa pegando o papel e à medida que avança na personagem, vai se dando conta de sua inadequação ao papel: ele é homofóbico, e quando descobre que seu irmão é gay, bate nele. Mas a contradição é que essa raiva que Song tem do universo Lgbt, faz com que ele jogue a raiva para a performance, e assim, vai cada vez mais melhorando a sua performance. Com um roteiro brilhante, que discute o papel do Ator, os laboratórios que ele faz e a sua validade para o seu trabalho, as contradições entre ATOR X PERSONAGEM e a relação com equipe e direção, fazem desse filme um trabalho irretocável. Nam Yeon-woo tem uma performance irrepreensível, explorando todas as nuances do personagem, repleto de camadas. De verdade, esse texto adaptado para o Teatro seria um marco para qualquer Ator. Fiquem de olho!

Asterix e o segredo da poção mágica

"Astérix: Le secret de la potion magique", de Alexandre Astier e Louis Clichy (2018) Mais uma adaptação cinematográfica dos famosos personagens criados pelos cartunistas franceses René Goscinny e Albert Uderzo, o filme foi dirigido por Alexandre Astier e Louis Clichym que já haviam realizado um outro longa dos personagens em 2014. Asterix é um enorme sucesso no mundo inteiro, já tendo sido adaptado também em versão carne e osso, com Gerard Depardieu interpretando o obeso Obelix, Todo mundo já conhece o Universo dos gauleses e sua eterna luta contra o exército romano. Invencíveis por conta da poção mágica criada pelo druida Panoramix, dessa vez estão todos temerosos, pois o druida sofreu um acidente e por conta disso, resolve que ele precisa passar o segredo da poção para um sucessor. Asterix, Obelix e Companhia acompanham o Druida para testar vários possíveis herdeiros da poção, mas enquanto isso, o exército romano prepara um ataque à vila dos gauleses, enfraquecida pela falta da poção. Com uma excelente técnica, aprimorada à cada desenho, "Asterix e o segredo da poção mágica" talvez não funcione tanto com as crianças, pelo excesso de diálogos, mas com certeza fará a alegria de adultos nostálgicos. Com piadas divertida,s o filme tem ritmo e um colorido ótimo, ornamentado pelos deliciosos personagens e pela trilha sonora subversiva, que enfia músicas pop e eletrônicas, como "Spinning around", do Dead or Alive como música tema.

Diminuta

"Diminuta", de Bruno Saglia (2018) Premiado no Festival de Veneza 2015 com o Prêmio Starlight de melhor atuação masculina, Reynaldo Gianechini protagoniza esse drama musical escrito e dirigido por Bruno Saglia, em produção independente com o Produtor Paulo Medeiros De Lima. Um dos grandes trunfos do filme, além da trilha sonora jazzística composta por Luciano Alves, é o seu elenco: além de Gianechini, tem 2 grandes monstros sagrados do Cinema e do teatro, Carlos Vereza e o italiano Giancarlo Giannini. Deborah Evelyn e Daniela Escobar fazem participações afetivas. Gianechini interpreta Cristiano, italiano de nascença e criado quando criança por seu avô, Marco (Giannini). Quando o avô, um exímio fabricante de instrumentos de sopro falece, Cristiano é obrigado a vir ao Brasil. Já crescido, Cristiano trabalha a duras penas como vendedor de planos de saúde, Casado com Júlia (Evelyn), uma mulher possessiva e depressiva desde a morte do filho do casal por câncer, Cristiano conhece o professor de música Mark (Vereza), que o estimula a voltara tocar. Cristiano resolve voltar a tocar na Itália e recomeçar a sua vida do zero. Com belíssima fotografia, o filme traz um ainda inédito gênero no Brasil, que é um filme com música, tocado quase que cem por cento do filme, de forma diegética ou em números de palco. O roteiro é dividido em 2 partes: a vida no Brasil, e depois, Itália. Na 2a parte, o filme sofre um pouco por excesso de personagens e de ritmo, mas nada que tire o prazer de se assistir ao filme, muito pelo trabalho dos protagonistas, e também, da bela trilha.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Os jovens Baumann

“Os jovens Baumann”, de Bruna Carvalho Almeida (2018) Esse é um típico caso de filme que quando acende a luz no final da projeção, eu fico com uma cara que não sei dizer o que acabei de ver, e parafraseando Glória Pires, não tenho opinião formada sobre isso. Resolvo ler algumas críticas escritas por jornalistas ao filme, e fico mais chocado ainda, deixando claro o imenso abismo que existe entre mim e os filmes que vejo é a opinião dos profissionais. Só posso pensar na seguinte questão: “Será que vimos o mesmo filme???” “ Os jovens Baumann” é vendido como um mockmentary, um falso documentário Found footage onde fitas Vhs são encontradas de uma gravação realizada em 1992, em Plena Era Collor, em uma fazenda dos fazendeiros mais ricos e poderosos do município de Santa Rita do Oeste, Sul de Minas. Oito primos, herdeiros da família, se divertem uma vez por ano na fazenda, nadando no lago, fazendo fogueiras, falando bobagens típicas de pós adolescentes que ainda não sabem o que fazer de suas vidas abastadas. Nos dias de hoje, uma narradora comenta que ela desde criança foi vizinha dessa família, e ela era de família proletária. Ela acabou herdando as fitas Vhs, a pedido dela quando a fazenda foi finalmente vendida. Ao ver as fitas, ela descobre que não existe solução para o desaparecimento dos jovens. O meu grande erro foi tentar ver no filme um Produto de gênero suspense, típico dos Found footage como “ A bruxa de Blair”. Não existe a mínima possibilidade de se fazer qualquer comparação. Aqui não há um micro segundo de suspense, tensão, nada. São só os familiares jogando o maior papo naturalista fora. Nada que é dito é valioso. A única forma de eu poder entender o filme, se é que foi essa a proposta, é de enxergar uma metáfora e simbologia dos ricos x proletários e de como esses herdeiros cheios da grana “ sumiram” metaforicamente porque perderam tudo durante o Plano Collor. Muita gente se matou, muita gente se afundou em dívidas. Quero acreditar que foi esse o filme que assisti.

Ad Astra- Rumo às Estrelas

"Ad Astra", de James Gray (2019) Ad Astra é uma frase em latim que significa "Rumo às Estrelas". E também é um belíssimo e emocionante filme de ficção científica, produzida pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, de "Frances Ha" e "Me chame pelo seu nome", e dirigido por James Gray, de "Z- a cidade perdida", Amantes"e "Os donos da noite". O filme concorreu no Festival de Veneza 2019 e recebeu muitos elogios da crítica e público. É impossível não lembrar de momentos de clássicos do gênero, como "Gravidade", "2001", "Interestellar", "Solaris" e "Alien, o 8o passageiro". Mas dramaturgicamente o roteiro escrito pelo próprio James Gray e Ethan Gross me fez lembrar mesmo foi de Apocalipse now": No futuro, onde planetas como a Lua e Marte estão sendo povoados, o Major Roy McBride (Brad Pitt) , astronauta e engenheiro espacial, é convocado para uma Missão: é possível que seu pai, o astronauta Clifford Macbride (Tommy Lee Jones) , desaparecido há mais de 20 anos durante uma missão espacial para Netuno, e dado como morto, esteja vivo. O que se acredita é que ele tenha enlouquecido e matado toda a tripulação. A missão de Ray é trazer seu pai de volta, acusado de cometer crimes contra o sistema solar, que está reverberando na humanidade dos planetas, entre eles, Terra. Roy se ressente da ausência de seu pai em sua vida, que o largou quando era criança, em busca de vida alienígena em Netuno. Com mistura de outros gêneros, como suspense, terror, aventura, drama e melodrama, basicamente "Ad Astra"é um grande filme filosófico e existencialista, na linha de "2001", 'Solaris"e "Intersetellar", e a ânsia do Homem querer descobrir a existência de Deus ou de outros seres que expliquem a vida. Tecnicamente o filme é brilhante: a fotografia do Mestre Hoyte Van Hoytema , que fotografou "Dunkirk", "Insterestellar"e "Ela", e trilha sonora poderosa de Max Richter, de "A ilha do medo". Sua música é sedutora e nos deixa constantemente suspensos. A direção de James Gray, apesar de tudo, valoriza os closes dos atores, mesmo com cenas de ação. Brad Pitt está no seu auge, variando em emoções, em um papel complexo e doloroso, mostrando suas rugas totalmente sem pós produção. A sua cena com Donald Sutherland ou Tommy Lee Jones, são verdadeiras aulas de interpretação. Um filme que mescla a produção de entretenimento com o valor artístico, "Ad Astra" é um filmaço.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O fanático

"The fanatic", de Fred Durst (2019) John Travolta tem uma carreira semelhante a de Nicholas Cage: são 9 filmes ruins a cada 10 filmes realizados. E claro, “O fanático” está no rol dos filmes ruins. O problema é que “O fanático” não é apenas ruim. É Muito ruim. Dirigido e escrito por Fred Durst, integrante da banda Limp Bizkit, o filme traz elementos reais que aconteceram com Fred Durst. Durante um bom temo, ele foi stalkeado por um fã, que o assustava e o seguia em todos os lugares. “O Fanático” se passa em Los Angeles, e a voz off da personagem Leah narra o filme: ela ambienta o espectador dando o discurso mais manjado de Los Angeles que se pode ter: que é a terra do cinema terra de oportunidades e também de fracassos, de famosos e de loosers. Loho Leah apresenta Moose (John Travolta), um autista fã de filmes de terror. Moose é mega fã de Hunter Dunbar (Devon Sawa, protagonista do primeiro “Premonição”). Hunter é o Rei dos filmes B de terror. Ao tentar um autógrafo de Hunter, Moose acaba sendo maltratado pelo muso e como vingança, o sequestra. Sim, você já viu esse filme cem vezes, desde “O Colecionador” a “Misery”, de Stephen King. E sério, esse deve ser o pior de todos os filmes. Tudo aqui é péssimo: Direção, roteiro, atuações. John Travolta exagera em todas as expressões e na caracterização do autista, em uma performance absolutamente irritante. É um desserviço que Travolta faz ao universo dos autistas. O filme, como suspense, é zero. Não se torce por ninguém, pois não existe carisma algum. Se você quiser assistir o filme como uma comédia, pode ser que se divirta bem mais.

Nós somos uma Gaymília

"Wei Hun Nan Nv", de Zero Chou (2017) Comédia dramática LGBTQI+ de Taiwan, escrita e dirigida pela Cineasta Zero Chou. Tudo parecia bastante promissor, até eu ler que o filme tem 130 minutos de duração. Mas como assim, uma comédia com tanto tempo? Resolvi apostar. No final das contas. valeu a pena, mas é indiscutível o desejo de ter pensado nesse mesmo filme com 40 minutos a menos. O jovem taiwanês Wu namora Sam, um estrangeiro. Eles vivem uma vida feliz de casal, até que a mãe de Wu decide visitá-lo. Wu sempre viveu de forma enrustida para a sua família. Com a morte do pai, ele decidiu esconder sua homossexualidade de sua mãe e sua irmã. Aconselhado por um amigo, Wu contrata Yang, uma jovem em crise com seu namorado, para se passar por sua namorada quando sua mãe chegar. Sam fica com ciúmes, mas aceita. A mãe de Wu chega e o tempo todo ela precisa ser despistada de qualquer elemento que entregue o relacionamento do filho com Sam. Um dia, a irmã de Wu vem visitá-lo, e acaba se apaixonando por Yang, que retribui. Uma autêntica comédia de costumes , formato vaudeville e com muita semelhança a "A gaiola das loucas". O filme tem personagens trabalhados na caricatura, mas a boa qualidade dos atores ameniza o tom da farsa. No fundo, a mensagem de aceitação é bem apresentada, e o filme emociona. Belas imagens de Taipei, a capital de Taiwan, e a trilha sonora ajudam a dar mais sabor ao filme. Me surpreendeu a picardia e a sensualidade do filme, repleto de elementos LGBTQI+, para um país tão conservador como Taiwan.

domingo, 22 de setembro de 2019

Bloodline

"Bloodline", de Henry Jacobson (2018) Longa de estréia do Cineasta Henry Jacobson, “Bloodline” é um filme de terror que mistura “Drive”, de Nicholas Winding Refn, e o universo dos filmes de Brian de Palma dos anos 80, como “Vestida para matar” e “Síndrome de Caim”. O diretor Henry Jacobson se apropria do revival dos anos 80, utilizando na trilha sonora sintetizadores, cujas batidas lembram o tema principal de “Stranger things”, a fotografia hiper-realista e estilizada de “Drive” e a cena dividida em 2 telas de Brian de Palma. Seann William Scott, famoso comediante da franquia “American Pie”, interpreta um frio e calculista Serial Killer, cujo trabalho corporal, silêncios e olhar distanciado ele copiou de Ryan Gosling no filme de Nicholas Winding Refn. Sean interpreta Evan, um conselheiro de adolescentes de uma escola. Diariamente, ele ouve relatos dos estudantes. Sensibilizado com histórias de violência doméstica, Evan sai de noite de casa e mata os pais abusivos dos jovens. Casado e pai de um recém nascido, Evan traz sua mãe para passar um tempo em sua casa. A esposa de Evan passa a desconfiar das saídas noturnas do marido, ao mesmo tempo que se incomoda com a presença da sogra em casa. Logo, ela irá descobrir segredos ocultos da família de Evan. Exibido em competição no consagrado Festival Fantaspoa, “Bloodline” é um eficiente suspense com cenas gráficas de violência explícita. Os atores estão bem em seus papéis, e para quem busca cenas tensas e gore, o filme vai cumprir o seu papel, apesar do roteiro não oferecer muitas novidades ao gênero.

Aligarh

"Aligarh", de Hansal Mehta (2014) Comovente drama indiano LGBTQI+ baseado em trágica história real. Na Índia, a seção 377 do Código Penal criminaliza o homossexualismo. Somente em 2009 essa lei foi abolida, porém em 2013 , por decisão da Suprema Corte, ela retornou, condenando qualquer atividade entre pessoas do mesmo sexo. Em fevereiro de 2010, na cidade de Aligarh, o professor Ramchandra Siras, gay assumido e de 64 anos, foi flagrado por outros professores tendo relações sexuais com outro homem dentro de sua casa. Siras era um dos professores mais respeitados da Universidade, considerada a 3o melhor do País e sumidade em linguística. Com o vídeo viralizado, Siras entrou em desgraçam sendo desligado da Universidade e maltratado por toda a população conservadora. Um jornalista de Nova Delhi, Deepu, resolve ir até Alagarh e entrevistar Siras. Relutante em princípio, Siras acaba cedendo ao jornalista e lhe concede uma matéria. Após sua publicação, a corte decidiu dar ganho de causa a Siras para retornar a dar aulas na Universidade. Mas no dia seguinte à decisão, Siras foi encontrado morto em sua casa. Suspeita-se que Siras foi vítima de conflitos ideológicos e políticos dentro da própria Universidade. Com uma boa Direção e ótimas atuações de Manoj Bajpayee, no papel de Siras, e de Rajkummar Rao no papel do jornalista, o filme faz um sério levantamento do ocorrido tanto no dia do flagrante do sexo de Siras, até o dia de sua morte, mesclando com cenas reais de movimentos LGBTQI+ nas ruas do País. Um filme que discute homofobia e isolamento social, um apelo contundente às autoridades indianas para que fiquem atentos ao extermínio da comunidade gay.

sábado, 21 de setembro de 2019

Aya Arcos

"Aya Arcos", de Maximilian Moll (2014) Longa de estréia do cineasta e artista plástico alemão Maximilian Moll, "Aya Arcos" é um drama LGBTQI+ que promete, promete e não entrega quase nada. Fosse um curta teria sido muito mais interessante, mas como longa faltou um roteiro com plot e diálogos melhor desenvolvidos. Tudo no filme é amador: direção, fotografia, captação de som, diálogos. Os atores brasileiros ( o filme é rodado no Rio de Janeiro) fazem o que podem em desenvolvimento pobre de personagens. Nos anos 80, foi rodado um filme alemão no rio de Janeiro chamado "Via Appia", que esse sim, foi honesto com a sua proposta, mesmo não sendo um filme tecnicamente bom. "Via Appia" é um filme obscuro, sujo, fetichista, repleto de imagens e cenas viscerais que praticamente documentam a rotina de garotos de programa na Via Appia ( zona de prostituição masculina no Rio) e nas saunas gays da cidade, com cenas eróticas registradas sem censura. "Aya Arcos" quer falar da mesma ambientação, mas falha por se censurar: quer falar de HIV, garotos de programa, fetiches, orgias, submundo, mas mostrando cenas de sexo com personagens cobertos por lençóis ou filmados apenas em closes. O filme não ficou nem uma coisa nem outra: é sim, frio, sem emoção, vazio e totalmente de ambientação fake: dá para acreditar em um apartamento de garotos de programa todo decorado e arrumadinho e com um Poster do clássico brasileiro 'Sinhá Moça"???? Edu é um homem de meia idade, escritor e morador da Lapa que se apaixona por Fabio, um garoto de programa de 21 anos. O problema é que Fabio não transa com camisinha e nem se preocupa se contrair doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV. Edu se preocupa, fica tenso, mas nem por isso deixa de continuar transando com Fabio, sem camisinha. Edu fica com ciúmes dos amigos de Fabio, também garotos de programa e mais jovens. O fato do filme ter sido rodado sem dinheiro não justifica entregar um filme ruim. Faltou alguém que desse um selo de qualidade ao projeto.

Cineastas Em Exílio - Do Terceiro Reich A Hollywood

"Cinema's Exiles: From Hitler to Hollywood", de Karen Thomas (2009) Documentário obrigatório para estudantes de Cinema, Cinéfilos e estudiosos, “Cineastas em exílio” foi escrito e dirigido por Karen Thomas. O filme narra a Era de Ouro do Cinema alemão do pós 1a Guerra Mundial, quando os grandes clássicos do País foram lançados e mundialmente aclamados: “O gabinete do Dr Caligari”, “Metropolis”, “M , o vampiro de Dusseldorf”, e tantas outras obras-primas. Muitos cineastas e técnicos migraram para os Estados Unidos à convite de Hollywood, antes mesmo da explosão da 2a Guerra Mundial. Com a criação da UFA, um estúdio que produzia grandes filmes da Alemanha, a indústria efervescia. Muitos técnicos de todas as áreas vinham de outros países da Europa para trabalharem na Alemanha, entre eles, o Vienense Billy Wilder, Fred Zinemann e Robert Siodmack. Marlene Dietrich explodiu com o sucesso de “O Anjo azul” de Ernst Lubitsch, e tanto ela quando o cineasta foram imediatamente trabalhar nos Estados Unidos. “Metropolis” era considerado por Hitler o seu filme preferido. O surgimento do nazismo veio com um aumento do cenário da criminalidade e do desemprego. Os judeus eram considerados os grande vilões do que Hitler chamava de “Cultura mundana”: “Os judeus e suas champagnes borbulhantes destruíram nossa sociedade”. O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, baniu todo os cineastas judeus da UFA e fez uma lista de 12 filmes que ele considerava exemplares para a Alemanha, sem se dar conta de que 11 desses filmes foram filmados por judeus. Logo, muitos técnicos fugiram da Alemanha nazista, saindo do País praticamente sem um tostão no bolso: segundo pesquisas, mais de 800 técnicos foram para os Estados Unidos. Alguns fizeram sucesso estrondoso, como Billy Wilder, Robert Siodmack, os atores Peter Lorre, Marlene Dietrich. Fritz Lang nunca conseguiu repetir o sucesso que teve em seus filmes alemães. Muitos dos técnicos sucumbiram à falta de interação com a cultura americana. Os exilados se ajudavam, e criaram um fundo do Cinema Europeu, destinado a ajudar técnicos a fugirem da Alemanha e vissem aos Estados Unidos. “Casablanca” foi um filme síntese para os exilados: quase todo o seu elenco foi formado por atores banidos ou fugidos de países da Europa Os cineastas alemães foram fundamentais para a implantação do cinema de terror, Filmes B e filmes noir para o cinema americano, influenciados pelo expressionismo alemão. O documentário é narrado pela atriz Sigourney Weaver, e é formado por entrevistas com os sobreviventes, imagens documentais da época e principalmente, por trechos de quase uma centena de filmes alemães e americanos, verdadeiras obras primas do tesouro do cinema mundial.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O Mal não espera a noite- Midsommar

"Midsommar", de Ari Aster (2019) Ao acender das luzes, ao final da projeção, tive um deja vu, como se estivesse vendo 'Hereditário", o filme anterior do mesmo diretor, exibido há 1 ano atrás: as pessoas se olhando, muitos rindo e dizendo em alto e bom som: "Que filme merda!"" E eu pensei: "Gente, será que só eu gostei do filme?"" "Midsommar", assim como os outros trabalhos de Aster, demandam paciência e um olhar menos comercial sobre o significado do termo "entretenimento de terror". Não existem jump scares, trilha estridente, gatos que pulam do nada, facas que surgem do além: existe sim, um cineasta autoral, com total domínio de sua narrativa, seduzindo o espectador aos poucos, como em uma hipnose, sem pressa para entregar os golpes baixos. E eles são vários: cenas hiper violentas, daquelas de revirar o estômago. são rápidas, mas brutais. Ao contrário dos movimentos de travellings que percorriam os estreitos corredores da casa de "Hereditário", aqui temos steadicans que acompanham os personagens em longos trajetos pelo exterior da comunidade que se encontra no interior da Suécia. Impossível não se lembrar do clássico "O Homem de palha": de lá, Ari Aster retirou várias referências: o incêndio, o amor livre, a dança com as fitas, a brancura da população e aquele eterno ar de que uma grande merda irá acontecer. O filme todo é pelo ponto de vista de Dani (Florence Pugh, de "Lady Macbeth"). Após a morte trágica de seus pais e sua irmã, Dani entra em depressão. Para tentar ajudá-la, (Jack Reynor), seu namorado, a convida para vir com ele e seus três amigos da faculdade para uma comunidade na Suécia, onde a cada 90 anos, acontece uma Festividade que celebra a Vida. Estudantes de antropologia, os amigos querem estudar as atividades pagãs de seus moradores. Ao chegarem na comunidade, os amigos são muito bem recebidos, mas logo percebem que existe algo de estranho ali e que não existe a possibilidade de ir embora. Ari Aster tem um profundo domínio sobre a sua cena: conduzindo o filme lentamente, quase como um estudo de antropologia de seus personagens, vamos aos poucos entendendo quem é cada personagem e um pouco do vilarejo. Florence Pugh está soberba no difícil papel de Dani, repleta de camadas. Jack Reynor também tem um papel complexo e no final protagoniza uma cena que dificilmente um ator aceitaria fazer. Violento, bizarro, doentio, provocador...tudo já foi dito pela crítica. Parte do público odiou. Mas é inegável a extrema beleza das imagens, captadas pelas lentes do fotógrafo Pawel Pogorzelski, o mesmo de "Hereditário".

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Late night

"Late night", de Nisha Ganatra (2019) Ótima comédia dramática, "Late night" é um dos vários projetos de Hollywood que foram resultado do Movimento #MeToo, focando em histórias com protagonismo feminino, dirigido e escrito por mulheres e que falam sobre assédio moral e sexual. Nisha Ganatra é diretora de séries de tv, entre elas, a premiada "Transparent". Mindy Kaling é descendente de indianos, e famosa por dublar desenhos como "Divertida mente"e "Detona Ralph". Mindy escreveu o roteiro e produziu essa comédia que evoca "O diabo veste Prada"todo o tempo. Emma Thompson interpreta Katherine Newbury, apresentadora de um famoso Talk Show por mais de 30 anos. Maltratando os seus funcionários, praticando assédio moral, Katherine vê sua popularidade cair. Acusada de não gostar de trabalhar com mulheres, ela decide contratar Molly Patel (Mindy), uma ex-funcionária de uma fábrica e novata em entretenimento, para escrever os monólogos de abertura de seu programa, junto de um grupo de roteiristas homens. Molly sofre tanto com a indiferença de Katherine, quanto de seus colegas homens, mas o seu desejo de querer vencer na vida e fazer parte daquele programa lhe impedem de deixar a peteca cair. A Katherine de Emma Thompson é totalmente a Miranda de Meryl Streep. Emma, com um look Ellen de Generis, está radiante, e como ela é excelente atriz! Mindy também tem muito carisma, e me lembrei da roteirista e atriz grega Nia Vardalos, de "Casamento grego": nessa Hollywood, cada um tem que correr atrás do seu. O time dos atores masculinos está bem representado por John Lightgow, que interpreta o marido de Katherine que sofre de Mal de Parkinson ( soberbo, como sempre) e atores talentosos que interpretam o grupo de roteiristas. Digno representante do "Feel good movie", "Late night" infelizmente foi um grande fracasso nos Eua, apesar de receber ótimas críticas. Um olhar cruel sobre o entretenimento, não costuma ser um chamariz para os espectadores.

The Strange Thing About the Johnsons

"The Strange Thing About the Johnsons", de Ari Aster (2011) Aos 24 anos de idade, o Cineasta Ari Aster, mais conhecido como o diretor de dois clássicos do moderno cinema de terror, "Hereditário" e "Midsommar", realizou o seu filme de formatura da American Film Institute da California. Em 2011, "The Strange Thing About the Johnsons" viralizou e se tornou um filme amado e odiado, e quem não gostou, exigiu o seu banimento. é muito fácil observar elementos no filme que futuramente, Ari Aster iria se aprofundar em seus dois longas: o tema da família desestabilizada psicologicamente, o terror que vai consumindo dessa relação familiar e principalmente, um tema complexo e que renderia muitas sessões de terapia- O incesto entre pai e filho. Uma família de classe média alta afro americana vive em uma bela mansão no subúrbio. O filme começa com um prólogo: o famoso poeta Sidney Johnson (Billy Mayo) entra no quarto de seu filho de 12 anos, Isaiah (Brandon Greenhouse), e o flagra se masturbando. Sidney conversa sobre essa fase d avida de um adolescente e vai embora. Isaiah retira uma foto que tinha em suas mãos: ele se masturbava olhando a foto de seu pai, sem camisa. 14 anos se passam: Isaiah agora está casado, mas continua obrigando o seu pai a manter relações sexuais com ele, inclusive o espancando quando ele não quer. Joan (Angela Bullock), esposa de Sidney flagra os 2 tendo relações sexuais e fica chocada, mas prefere se manter calada. O filme tem um desfecho sanguinolento, como na sobras de Ari Aster. Ele desenvolve toda a estrutura dramática nos 2 primeiros atos e no final, explode em sangue e violência. Para pessoas sensíveis, não é fácil assistir ao filme. É perturbador, doentio. Os 3 atores estão soberbos, e a direção de Ari evoca "Hereditário": tudo acontece ali nos interiores da mansão, com traveliings lentos desvendando os segredos da casa. Ari prova de que um bom Cineasta precisa ter um bom roteiro para poder construir a sua carreira, sem medo de ser feliz.

Chucuarotes

"Chicuarotes", de Gael García Bernal (2019) O Ator mexicano Gael García Bernal dispensa apresentações: o mundo inteiro o conhece de filmes de Almodovar, Inarritu, Babenco e tantos outros Cineastas consagrados. Como Cineasta, 'Chicuarotes" é o seu segundo longa, exibido em importantes Festivais, como Cannes, Shanghai e San Sebastian. É inegável que as obras que ele filmou como ator tiveram influência nas suas colhas como realizador: seus filmes falam em conflitos sociais e econômicos, e de que forma influenciam a população da periferia. Chicuarotes é o nome dado aos moradores de San Gregorio Atlapulco, bairro na região de Xochimilco, periferia da grande Cidade do México. Ali moram milicianos, vagabundos, favelados, desempregados. Nesse ambiente de extrema pobreza, moram os amigos adolescentes Cagalera (Benny Emmanuel) e El Moloteco (Gabriel Carbajal), que tentam ganhar a vida se apresentando em ônibus como Palhaços. Revoltados com o povo que não lhes dá trocado, resolvem assaltar os passageiros. O sonho de Cagalera é ter dinheiro o suficiente para fugir da cidade com a sua namorada Sugahelli. Em casa, o ambiente é o pior possível: sua mãe vive apanhando do seu pai, um miliciano bêbado. A irmã não tem ambições na vida e eu irmão é um gay enrustido. Após uma tentativa frustrada de assalto a uma loja, Cagalera faz seu ultimato: sequestra o filho do açougueiro da cidade. Mas o açougueiro bota todos os milicianos em busca do filho. Com roteiro escrito por , "Chucuarotes" exagera em todas as suas doses, concentrando em um único filme praticamente todas as mazelas do mundo. São tantas as sub-tramas e personagens que mal dá para desenvolver uma que é muito importante, a do irmão gay enrustido. Fica tudo meio jogado pro alto, um carrossel de lugares comuns já apresentados em filmes com o italiano "La ciambra", os brasileiros "Pixote" e "Cidade de Deus", o mexicano "Os esquecidos" e tantos outros exemplares. De excelente, o ótimo trabalho do elenco, em especial a de Dolores Heredia, que interpreta a mãe de Cagalera, e a trilha sonora pop vintage.

O Grande Ditador

"The great Dictator", de Charles Chaplin (1940) Difícil citar a maior das obras-primas de Chaplin, mas "O Grande Ditador" certamente está entre os seus 3 melhores trabalhos. Chaplin escreveu, dirigiu, protagonizou, produziu e compôs a trilha sonora do filme, até hoje a sua maior bilheteria. O Mais impressionante, revendo o filme, é confirmar a genialidade de Chaplin, que escreveu o roteiro ainda no ano de 1939, quando a 2a Guerra Mundial tinha acabada se dar início, e os Estados Unidos ainda nem haviam entrado na Guerra. Uma sátira impiedosa contra o Fascismo e Nazismo, Chaplin debocha de Hitler e Mussolini, que na época eram os grande Ditadores do Mundo. "O Grande Ditador" foi banido de exibição em todos os países nazistas. Recebeu 5 indicações ao Oscar, incluindo Melhor filme e ator, e perdeu todas. Muitos Cinéfilos nunca assistiram ao filme, mas certamente duas cenas devem ter visto em antologias de melhores filmes de todos os tempos: a cena de Chaplin brincando com o Globo flutuante, uma metáfora aterrorizante sobre o Poder, e a cena final, com o seu discurso anti-belicista, considerado por muitos estudiosos como um discurso à favor do Comunismo ( Chaplin foi comunista e perseguido pelo Governo americano). O filme começa durante a 1a Guerra Mundial. Chaplin é Carlitos, um soldado e durante a batalha, ele salva a vida de um soldado aliado, Schultz. Ao pilotar o avião, Carlitos acaba batendo e perde sua memória, enquanto Schultz é condecorado. Quase 20 anos depois, Chaplin retoma a memória e volta à sua barbearia, no gueto judeu da Tomania (uma alusão à Alemanha). O País cedeu ao nazismo, liderado pelo Ditador Adenoid Hynkel ( também Chaplin, uma alusão à Hitler). Schultz agora é Comandante e trabalha para Hynkel, apesar de ser contra os seus ideais de Poder. Após ser esnobado por um banqueiro judeu, Hynkel decide destruir o gueto judeu. Chaplin, agora dono de barbearia, se apaixona pela filha do vizinho, a jovem Hannah (Paulette Godard, esposa de Chaplin na época). Schultz é preso e foge, e vai parar no gueto, sendo ajudado por Carlitos. "O Grande Ditador" é o primeiro filme falado de Chaplin, que levou muitos anos para ceder ao uso do som. Ele temia que seus fãs fossem se assustar com Carlitos falando, mas felizmente esse temor não aconteceu. Até hoje, o filme é considerado uma das melhores comédias da história do cinema, tendo uma cópia preservada no American Film Institute.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Alemanha no Outono

"Deutschland im Herbst", de Werner Rainer Fassbinder, Volker Schlöndorff e mais 9 Cineastas (1978) Poderoso drama documentário dirigido pelos mais importantes Cineastas alemães dos anos 70, todos ativistas políticos. Assistir a esse filme nos dias de hoje, do Brasil de 2019, é algo aterrorizante. É fácil perceber os paralelos entre os discursos polarizados Direita X Esquerda, e o que o filme propõe é uma ampla discussão sobre verdades, valores , a importância do Estado e de grupos combatentes do Governo. O filme provocou muita polêmica na época pela posição extremamente radical tomada por Fassbinder, que defende no filme a posição de ataques terroristas, validando os seus atos. Volker Schlöndorff se desentendeu na época com Fassbinder por não concordar com o seu pensamento radical. “Quando se chega a um determinado grau de crueldade pouco importa quem a cometeu: ela simplesmente tem de parar”. Identificada como a frase Frau Wilker, mãe de cinco filhos em 8 de abril de 1945, logo após o término da 2a Guerra, essa frase simboliza a proposta do filme. Dividida em pequenos curtas, cenas documentais e vinhetas animadas, o filme é um primor de realização. É um filme complexo, de difícil assimilação, pois existe uma discussão política e intelectualizada intensa durante toda a projeção, merecendo até ser convertida em peça de teatro. O ponto de partida para o filme, são os terríveis acontecimentos políticos e sociais que afloraram na Alemanha de 1977, conhecido como "Alemanha no Outono: o clímax, após o sequestro de um avião, foi o sequestro e assassinato do empresário alemão Hanns Martin Schleyer, considerado um fascista pelos integrantes da Facção Exército Vermelho (RAF) e sequestrado pelos militantes Gudrun Ensslin, Andreas Baader e Jan-Carl Jaspe - que são encontrados mortos em sua cela na prisão de Stammheim depois de serem presos. O Estado diz que eles se suicidaram, mas o Movimento diz que foram assassinados. Esse evento inspirou o excelente "Edukators". O filme é todo costurado pelo velório e enterro do empresário, em imagens reais, tendo o clímax no cemitério com manifestantes se desentendendo com políticos e policiais. Um momento brilhante, é quando o entrevistador pergunta a um garçon que está preparando um coquetel de recepção para os 1000 convidados do velório quem bancou o buffet: o garçon diz que foi o estado. O episódio de Fssbinder é o mais polêmico, sem dúvida: ele mesmo interpreta um ativista de esquerda radica;l, casado com um homem mais conservador. Fassbinder atua totalmente nu, cheira cocaína. Tem uma cena espetacular dele discutindo com a sua própria mãe na cozinha: ela conservadora, defendendo o Estado, e ele, defendendo os radicais. Semelhanças com o Brasil de hoje mais clara, impossível. Tem um outro episódio também contundente: uma professora de história começa a ter dúvidas sobre qual história ela deve contar aos seus alunos. Ela começa a rever momentos marcantes contados por livros oficiais já com olhar mais politizado. Outro momento brilhante é quando uma produtora resolve filmar "Antígona" para um canal de Tv usando como referência, filmes de resistência dos anos 20 , como os de Eisenteisn. Mas os diretores da Tv proíbem, achando que os jovens espectadores se deixarão influenciar pela ideologia do projeto. É de fato difícil assistir ao filme pensando como entretenimento. existem segmentos onde militantes são entrevistados e ficam meia hora dando seu ponto de vista sobre o País, a população e o caminho da sociedade. Esse filme é uma jóia, filmada na época dos acontecimentos, um Ato revolucionário de seus realizadores, que quiseram manter o mais verdadeiro possível, o que estava acontecendo no País em 1977.

Segurança Nacional

"Segurança Nacional", de Roberto Carminati (2010) Co-escrito e dirigido por Roberto Carminati, "Segurança Nacional" é uma verdadeira pérola do Cinema Filme Z nacional. Tendo o auxílio da Força Aérea Brasileira, que colocou à disposição da produção do filme soldados para fazerem figuração, bases militares, aviões, helicópteros, além de toda uma assistência estratégica e de assessoramento técnico, o filme diverte mais pelo humor involuntário provocado pelos diálogos duros, situações bizarras de roteiro e pelos efeitos especiais toscos, produzidos em pós. Realizado com a intenção de ser um filme de ação e aventura patriótico, repleto de ufanismo pela Bandeira Brasileira verde e amarela, somos apresentados a agentes da Polícia Federal super treinados, a traficantes mexicanos bigodudos, a bombas atômicas que querem acabar com a Floresta Amazônica!!!!, e claro, políticos corruptos. Tudo isso emoldurado por canções românticas da cantora Marina Elali, que ainda aparece ao vivo cantando o Hino Nacional durante uma visita do Presidente da República ( Milton Gonçalves) à uma Escola Pública, O elenco all star, que inclui Thiago Fragoso, Ailton Graça, Angela Vieira e Gracindo Jr, fazem o que podem. Um cult absoluto, uma diversão deliciosa para se assistir com os amigos e rir do início ao fim.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A carruagem Fantasma

"Körkarlen", de Victor Sjöström (1921) Uma das maiores obras-primas do cinema, esse clássico do cinema mudo sueco simplesmente foi o responsável por influenciar 4 dos maiores Cineastas de todos os tempos em suas grandes obras inesquecíveis e eternas. 1) Stanley Kubrick em "O iluminado": Kubrick copiou a cena em que Jack Nicholson arrebenta uma porta com um machado, ante os gritos da mulher que está do outro lado, e bota sua cara pelo buraco que ele abriu com as machadadas 2) Ingmar Bergman em "O sétimo selo"e "Morangos silvestres": a cena da Morte vindo buscar a pessoa que está para morrer, e em "Morangos silvestres", o protagonista revendo toda a sua história em flashbacks 3) Frank Capra em 'A felicidade não se compra": o protagonista, às vésperas do Natal ( em "A carruagem Fantasma", estamos às vésperas do Ano Novo) está a um passo de se suicidar. Mas um espírito lhe diz que ele foi importante para a vida de várias pessoas, e lhe faz um retrospecto de sua vida 4) Steven Spielberg em "Além da eternidade": Um homem morre. Seu espírito sai de seu corpo, e se junta à outra Entidade. Juntos, observam as pessoas circundando o corpo e avaliam a importância do morto Realizado em 1921, esse inacreditável filme foi adaptado do livro homônimo da escritora sueca Selma Lagerlöf, primeira Mulher a ganhar um Nobel da literatura. O Cineasta Victor Sjostrom fez a adaptação para o cinema e também protagoniza o filme, no papel de David Holm. O filme é complexo em sua narrativa: dividida em 5 capítulos, e utilizando flashbacks para entendermos melhor a história e entender como todos os personagens que surgem na história, se relacionam com o protagonista. Repleto de reviravoltas, é um filme que fala sobre Culpa, redenção e Fé cristã, temas fundamentais na Filmografia de Bergman. O próprio Bergman dizia que todo ano ele revia "A carruagem Fantasma", considerado por ele, "O filme dos filmes". A história começa com a Irmã Edit em seu leito de Morte na casa do Exército da Salvação. Estamos na véspera do Ano Novo. Ela pede para que chamem David Holm para que ela possa morrer em Paz. Quando encontra David, ele se recusa a visitar a Irmã. David está no cemitério, rodeado de outros dois amigos bêbados. David conta uma lenda narrada por um amigo dele , George, no ano passado, também às vésperas do Ano Novo: que a última pessoa pecadora que morrer nas badaladas finais da virada do ano, terá como punição que guiar uma carroça durante todo o ano seguinte recolhendo as almas que acabaram de falecer. Durante uma briga com os bêbados, que o obrigam a visitar a irmã Edit, David acaba levando uma garrafa na cabeça e desfalece. Seu espírito sai do corpo, e presencia a chegada de uma charrete, guiada pelo espírito de George. George então traz David consigo para testemunhar as próximas mortes, entre elas, a da Edit e da esposa de David com seus filhos, prestes a se suicidarem. É a hora de David se arrepender de seus atos e impedir que a família se mate, mas como, se ele é um espírito? Unindo brilhantemente Drama, terror, fantasia, romance, aventura, "A carruagem Fantasma" impressiona até hoje pela sua narrativa coesa, tensa, que prende a atenção do espectador do início ao fim. O desfecho é emocionante, e as atuações do elenco são incríveis, sem aqueles exageros do cinema mudo americano de caras e bocas, aqui menos pantomina. Um filme obrigatório para todos os amantes do cinema, inclusive para entender como em pleno ano de 1921, foram realizados os complexo efeitos de fusão para apresentar o Mundo dos espíritos. A mais bizarra delas, com a carruagem andando por sobre o mar e resgatando a alma de um afogado!!!!!

Who's that man inside my house?

"Who's that man inside my house?", de Lucas Reis (2019) Premiado no Festival de Gramado 2019 com os troféus de Melhor montagem e melhor direção de arte em curtas gaúchos, "Who's that man inside my house" venceu também o Prêmio de Melhor filme da Mostra horror do Festival Internacional Cinefantasy 2019, além de ter participado de importantes Festivais de gênero, como o Fantaspoa. O filme é um excelente exercício do gênero Terror, e segundo seu diretor, é uma metáfora da situação política do Brasil de hoje. Todo narrado em off por um adolescente, o filme mistura fotos, polaroids e uma fotografia escura. O filme se passa nas noites da casa de um adolescente. Deitado na sua cama, ele vê todas as noites, um homem sinistro postado ali na sua frente, ameaçador. O rapaz não sabe o que fazer para afugentar a aparição. Só sabe que se ele não fizer nada, a aparição não mexerá com ele. Uma analogia da população que se acomoda e que não mexe um dedo para mudar as coisas, o filme assusta de verdade. É uma aula de cinema e de filme de gênero, surpreendente para um filme realizado com uma galera do sul, totalmente dominando a linguagem e a atmosfera de um filme de horror. Nota especial para a maquiagem da criatura, assustadora, e para o trabalho da Direção de arte.

Colidiremos

"Colidiremos", de George Pedrosa (2019) O Cineasta George Pedrosa é uma das raras vozes LGBTQI+ no Estado do Maranhão. Realizador de Mostras de cinema independentes no Estado, George Pedrosa também escreveu o roteiro de "Colidiremos", uma história de gays canibais que devoram carne humana enquanto transam. O filme me lembrou bastante o cult de terror de Julia Ducournau, "Grave", que escandalizou Cannes em 2016 com suas cenas gráficas de canibalismo. Dois rapazes transam e ao mesmo tempo, se mordem até sangrar, tudo com bastante tesão. Um deles segue até a cozinha e prepara uma vitamina de carne para beber. Mais tarde, um terceiro homem chega para transar com o casal gay. Ele mal imagina que ele será o jantar. Bizarro, repulsivo e também repleto de tesão e voyeurismo, "Colidiremos" é um filme sobre fetiches gays. Um filme para adultos que buscam um filme diferente, violento, cruel, obscuro. Com direção instigante e criativa, trabalhando os enquadramentos e fotografia de forma estilosa, o filme traz interpretações viscerais do elenco que se entregam em cenas de erotismo pulsante e muito gore. Filme exibido no Festival Internacional Cinefantasy 2019.

Charlie

"Charlie", de Paolo Casarolli (2019) Divertida comédia de humor negro LGBTQI+ apocalíptica de zumbis!!!!!!!, "Charlie"participou de inúmeros Festivais Internacionais, incluindo o Festival Internacional Cinefantasy 2019. Em um futuro apocalíptico, o mundo sucumbe à praga dos zumbis. Em Roma, um casal gay permanece dentro do apartamento. Matteo e Marco se preparam para pegar carona com Antonio, um vizinho, para seguir até a Suiça, País onde teoricamente a praga inda não se alastrou. Mas existe um problema: Matteo não quer deixar o seu pai ali, sozinho. Problema: o pai de Matteo virou um zumbi. Engraçado e repleto de humor negro, o filme ainda faz homenagem ao cinema de Charles Chaplin: em um determinado momento, Matteo sossega seu pai mostrando para ele uma cena clássica do filme de Chaplin. Realizado com baixo orçamento, o filme foi rodado nas suas externas provavelmente em horários onde não circulavam passantes. O próprio Cineasta Paolo Casarolli dirige, roteiriza e protagoniza o filme.

Amor precoce

"L'amour debout", de Michaël Dacheux (2018) Concorrendo no Festival de Cannes 2018 na Mostra Queer Palm, dedicados a filmes com temática LGBTQI+, "Amor precoce" é um filme de interpretações naturalistas, em cima de um roteiro que explora o amor após a fase adolescente. Ambientada em Paris, cidade homenageada no filme com belas paisagens, somos apresentados a Marton e Léa: ambos tiveram seu primeiro amor anos atrás, quando se conheceram em Toulouse. Agora em Paris, já separados, eles se reencontram, mais velhos e com outras perspectivas na vida. Ela é guia turística, levando os turistas a caminhar a pé por Paris e apresentar a sua arquitetura. Ele, estudante de cinema e que sonha em realizar seu primeiro filme. Tanto Léa quanto Martin descobrem novas possibilidades no amor: ela descobre estar apaixonada por um homem com o dobro de sua idade, e Martin se descobre apaixonado por seu amigo de colégio, com quem passa a dividir um apartamento. O filme, com 1:30 de duração, tem um registro minimalista. Nada de grande impacto acontece na vida dos protagonistas. Acompanhamos a rotina, como se fossemos testemunhas de uma câmera voyeur. O filme é bonito, mas não empolga. Vale pelas lindas locações de Paris e pela evidente paixão ao Cinema.

domingo, 15 de setembro de 2019

Estigma

"Estigma", de David Velduque (2019) Serofobia é o preconceito, medo, rejeição e discriminação contra as pessoas que vivem com HIV. A discriminação é uma manifestação de estigma social. O roteirista e Cineasta espanhol David Velduque faz da serofobia o protagonista de sua pequena obra-prima "Estigma". Através dessa metáfora do medo e do terror social, David elabora um instigante filme de terror, trazendo referência ao clássico "A mosca", de David Cronemberg, para mostrar o processo psicológico pelo qual passa Alex, um adolescente como outro qualquer, mas soropositivo. Alex está de noite em sua casa, sozinho. Dani, seu amigo, está no whatsapp e diz estar por perto da casa de Alex e quer lhe fazer uma visita. Dani chega e vai para o quarto de Alex. Entre um papo e outro, os dois acabam sentindo tesão e vão para a cama. Durante o sexo, um estranho inseto surge e pica Alex. Sentindo muita dor, Alex pede para Dani ir embora. AO se ver no espelho, Alex percebe que o seu corpo está em decomposição e vai se transformando em um aterrorizante monstro. O filme , sob a excelente direção de David Velduque, tem 3 grandes méritos: fazer um filme de terror LGBTQI+, algo raro no gênero; as cenas de sexo entre os adolescentes é de extremo bom gosto e ainda assim, repletas de tesão, com um trabalho visceral dos atores que se entregaram aos personagens; e o ótimo nível da maquiagem e efeitos especiais. O filme participou de diversos Festivais de filmes de Gênero e venceu o Prêmio de Melhor Filme da Mostra Diversidade Fantástica no Festival Internacional Cinefantasy 2019.

Raimundo Quintela, o caçador de Vira Porco

"Raimundo Quintela, o caçador de Vira Porco", de Robson Fonseca (2018) Premiado curta paraense, vencedor do Prêmio de melhor curta na Mostra Brasil Fantástico do Festival Internacional Cinefantasy 2019, e também de melhor ator coadjuvante para Francisco Gaspar e melhor direção de arte no Festival Maranhão na tela 2018. Vira Porco é o Lobisomem tupiniquim. Reza a lenda, que nas noites de sexta feira, um homem ou mulher pode se transformar num enorme porco humanóide e atacar as pessoas na floresta. Para dar conta dele e de outras seres fantásticos, é acionado o Caçador Raimundo Quintela (Paulo Marat, divertido) e seu fiel assistente, o taxista atrapalhado e sacana Nairton (Francisco Gaspar, antológico). A dupla é chamada para resolver o caso de galinhas mortas no quintal do dono de um sítio. Ao começarem as investigações, descobrem estar diante do caso de um Vira porco. As suspeitas recaem sobre uma senhora, Matinta (natal Silva, excelente). Raimundo Quintela é descendente de uma linhagem que tem o dom de matar os seres fantásticos. Logo no início do filme, ele te o corpo fechado por um Pajé, em um divertido ritual que emula a obra-prima de Nelson Pereira dos Santos, "O Amuleto de Ogum". O Cineasta e roteirista Robson Fonseca bebeu também de outras fontes cinematográficas pop, como "A invocação do mal", de onde ele pega a referência do casal de investigadores paranormais que é acionado para resolver casos de entidades malígnas, e também da fanfarronice e aventura de "Indiana Jones". "Raimundo Quintela" é um produto 100% realizado com Equipe e elenco do Pará, formando assim mais um bem-vindo Pólo cinematográfico, divulgando a cultura local para o restante do País.

O Bem Aventurado

"O Bem aventurado", de Tulio Viaro (2018) Livre adaptação do conto russo "A conversão do Diabo", de Leonid Andreyev, "O Bem aventurado" é um filme escrito e dirigido pelo cineasta curitibano Tulio Viaro. O filme apresenta 3 técnicas de animação: bonecos de espuma em tamanho natural, manipulados por atores; teatro de sombras e marionete com fios. O filme se passa em uma pequena cidade de um interior. Com poucos moradores, a cidade possui uma pequena igreja, comandada por um padre idoso e muito ranzinza. Um dia, um dos poucos fiéis que ainda restam na Igreja vem procurar pelo Padre pedindo ajuda. Para a surpresa do Padre, o fiel é um enviado do Inferno: um demônio. No entanto, esse Demônio não quer mais praticar o Mal, e pede ajuda para o Padre. Relutante no início, o Padre concorda em ajudar o demônio. O Padre escreve um livro com todas as boas ações que o demônio deverá fazer, mas tudo da errado. Com vozes e manipulação dos bonecos pelos atores Duda Paiva, André de Campos Mello, Abmael Henrique, "O Bem aventurado" tem 2 problemas: 1) não se define a qual público o filme se destina, infantil ou adulto. Complexo e arrastado para as crianças, infantil e ingênuo para os adultos. Outro problema é a longa duração, 1:45 hora. Como o ritmo do filme é lento, tem se a impressão de que o filme tem mais tempo de duração. Uma questão técnica me incomodou: já no final, os atores que manipulam os bonecos surgem em cena, e isso me quebrou totalmente o encanto lúdico que os n me proporcionavam. Ressalto no entanto a excelência da execução dos bonecos, do teatro de sombras e as marionetes, confirmando o grande talento desses artistas brasileiros. As vozes dublando os bonecos são incríveis e divertidas. A história em si é uma delícia, lembrando bastante a atmosfera de filmes como "O Auto da compadecida", sem o mesmo humor, mas com o mesmo talento nas áreas técnicas.

Desabafo

"Desabafo", de Marcio Venturi (2017) Adaptação para o cinema da premiada peça de Wilson Sayão, 'Extravagância brasileira", também conhecida como "Uma casa brasileira com certeza" e montada pelo Diretor teatral Amir Haddad em 1989, com o seu grupo "Tá na rua". O filme segue a tradição dos filmes italianos dos anos 60 e 70, dos cineastas Vittorio de Sica, Dino Risi e Mario Monicelli: são filmes em episódios, sempre com o mesmo elenco, interpretando papéis diferentes. Era uma forma de chamar a atenção do público e mostrar a versatilidade dos atores, geralmente grandes estrelas. Mas diferente dos italianos, que investiam em comédias de costumes, o universo do texto de Wilson Sayão é sombria, claustrofóbica, investindo na violência física e emocional. Na primeira cena do filme, vemos imagens documentais da explosão da Perimetral, famoso viaduto do rio de Janeiro. Essa cena trará todo o contexto da violência que veremos nos 3 episódios a seguir, mais precisamente, nos 2 últimos contos. No filme de Bruno Safadi, "O Prefeito", as obras intermináveis da cidade do Rio de Janeiro, que transforma o vai e vem dos cidadãos em caos, é usada de forma simbólica, com os personagens transitando entre os escombros. Aqui em 'Dasabafo", todo esse caos emocional é internalizado através da falta de comunicação de seus personagens, que abruptamente, irrompem em fúria e não medem consequências de seus atos. O filme retrata o descaso de 3 casais, cada uma pertencente a uma classe social: temos os personagens Dário ( Fernando Alves Pinto) e Tannia (Inez Viegas) transitando no 1o episódio no universo da classe média alta falida, que vice de renda. Morando em uma enorme mansão, o casal vive sob o signo do tédio. Bebendo sem parar, os dois falam futilidades e a mulher chega a comentar que gostaria de adotar o primeiro garoto de rua que quisesse assaltá-la. Esse olhar debochado dos ricos diante os desassistidos é apresentado com mais leveza do que os dois próximos episódios, que investem em trágicos desfechos. No 2o episódio, casal mora na cidade de pedra chamada Barra da Tijuca. Casados, com 2 filhos, a história parece ter sido inspirada em recente história de um homem que decidiu matar sua família e depois cometer o suicídio. Uma terrível crônica carioca que inspirou esse embate de atores, e uma violenta cena talvez desnecessária, melhor tivesse sido sugerida do que apresentada como está no filme. Mas provável que o Diretor quisesse chocar a platéia com uma cena forte de violência doméstica. Ficou pesado, ainda mais com a fotografia densa e a trilha sonora pungente. O último episódio, ambientado em um barraco da favela, repete o mesmo arco final. Novamente a inspiração parece ter vindo de tantas histórias do cotidiano: fome, desemprego, frustração. "Desabafo" é um filme de baixíssimo orçamento. Fosse nos Estados Unidos, teria recebido a classificação de "Mumblecore". Inicialmente um projeto de crowdunding, depois complementado pela idealizadora do projeto e atriz Inez Viegas, o filme teve um custo final, segundo o Imdb, de 70 mil reais, valor muito baixo para um longa. O Cineasta Marcio Venturi fez milagre com o dinheiro que tinha em mãos: seu filme tem qualidades técnicas, uma variada gama de locações e investimento em fotografia, trilha sonora, som e edição. Sinto, como espectador, que o filme ficou carregado demais no drama realista. Um pouco de humor do cotidiano poderia ter ajudado no tom do filme, fazendo os personagens contrastarem mais a gritaria que se instala em determinado momento do filme, que não esconde a sua origem do Teatro. Principalmente no 1o episódio, com frases carregadas em efeitos e pouco naturalistas. Mas no cômputo geral, um filme digno, de atores.

sábado, 14 de setembro de 2019

Capri Revolution

"Capri revolution", de Mario Martone (2018) Vencedor de mais de 11 prêmios internacionais, "Capri Revolution" concorreu no Festival de Veneza 2018. O filme se baseia em uma história real: Antes da explosão da 1a Guerra mundial, em 1914, na Ilha de Capri instalou-se uma Comunidade de naturistas, formado por artistas e pensadores vindos do Norte da Europa. Entre eles, o pintor alemão Karl Willem Diefenbach, aqui no filme com o nome fictício de Seybu (Reinout Scholten van Aschat). Uma jovem analfabeta, criadora de cabras, Lucia ( Marianna Fontana, excelente), torturada por seus irmãos abusivos e machistas, se encanta com a comunidade quando os vê totalmente nus, pegando sol no rochedo. Escondida da família, aos poucos Lucia vai se envolvendo com a comunidade, e ao mesmo tempo, estudando, aprendendo inglês e tendo auto-afirmação como mulher e seus direitos. Mas a sua família planeja casá-la com um homem mais velho e rico, contra a sua vontade. Com uma estonteante fotografia de Michele D'Attanasio , que valoriza a luz natural da região e a pele nua de seus atores, tanto em cenas diurnas quanto noturnas, o filme remete a filmes como "Midsommar" e "O homem de palha", ambos de terror. Na cena noturna, com todos nus e dançando em torno de uma figueira, parece até que veremos um momento de iniciação como bruxa, visto no cult "A bruxa". É um filme belo, mas lento e com muitos sub-plots, que arrastam o filme mais ainda e tiram o foco do protagonismo de Lucia. existe um plot de um jovem médico, que cuida do pai doente de Lucia, e que faz um embate ideológico com Seybu, numa discussão enfadonha entre Arte X Ciência. O desfecho é cruel com a trajetória de Lucia, provavelmente uma metáfora sobre os novos tempos de censura e de sufocamento ideológico pelo qual passa a Europa, consumida pela extrema direita. As cenas de nudez , coreografadas com muito esmero por Raffaella Giordano, são de uma beleza impressionante.

Fakir

"Fakir", de Helena Ignez (2019) Grande vencedor do Prêmio do público de melhor filme no Festival Internacional Cinefantasy 2019, "Fakir" é um instigante e sempre assustador documentário que fala do Universo do Faquirismo. eu mesmo pouco sabia da existência desses artistas que faziam a alegria de uma platéia afeita a sensacionalismos, que tiveram o auge nos anos 40 e 50 e atingiram o seu declínio com o advento da chegada da televisão, que lhe roubou praticamente todo o público. O universo desses artistas circenses era bem amplo: tinham os faquires e faquiresas que se deitavam sobre uma cama de pregos; outros que engoliam espadas; outros que passavam meses dentro de uma redoma de vidro, junto de cobras e cama de pregos, se alimentando somente de água; os que caminham sobre cacos de vidro e pregos. Com um extenso e minucioso trabalho de pesquisa, a roteirista e diretora Helena Ignez, musa do cinema marginal, evoca a falta de memória do Brasil com os seus artistas, que entram na obscuridade e decadência. Helena também traz um discurso atual, sobre o olhar feminista em relação às mulheres que foram objeto de desejo, erótico e fetichista, de toda uma platéia masculina, que viam nessas mulheres, além dos desafios da profissão, apenas corpos esculturais e provocantes em suas roupas mínimas. O filme apresenta a disputa que havia entre faquires do Brasil, países da América Latina e França, onde a competição era tão grande que muitos viravam celebridades, sendo convidados a viajar para outros países. Muitos desses artistas estão expostos em suas vidas pessoas: suicídios, traições, assassinatos foram alguns casos ocorridos com alguns dos artistas. É muito triste ver ao filme e entender o quanto um Artista aqui no Brasil sofre com o desemprego, o preconceito da sociedade conservadora que viam muitas dessas faquiresas como prostitutas, e o declínio, em função da idade e do corpo que já não suporta mais tanta violência. Helena Ignez traz depoimentos de alguns sobreviventes, e faz linda homenagem conceitual, criando um universo de cabaret, onde elas se apresentam com outros artistas contemporâneos, deixando claro a importância da Arte do Fakir para a Cultura moderna. Narrado pela voz sedutora e inconfundível de Helena Ignez, o filme ainda reserva um capítulo à parte à Luz del Fuego, talvez a mais famosa vedete do Brasil, famosa pela sua apresentação em shows totalmente nua, envolta em cobras.

O último pôr do sol

"Zui hao de ri chu ", de Wen Ren (2019) Grande vencedor do Festival Fantasporto de 2019, de onde saiu com o prêmio de melhor filme, "O último pôr do sol" já ganhou diversos outros prêmios internacionais, entre eles, melhor filme e roteiro no Festival Internacional Cinefantasy 2019. O filme é uma mistura de drama, ficção científica, ação e romance, dosados de forma orgânica, puxados pela excelência da interpretação de seus dois protagonistas. De baixo orçamento, o roteirista e diretor Wen Ren fez a melhor escolha: optou por focar no drama dos protagonistas, e deixando a parte dos efeitos especiais como pano de fundo. Trazendo referências a filmes como "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e "Procura-se um amigo para o Fim do mundo" , "O último pôr do sol" é um filme que vai emocionando à medida que o filme avança. Em um futuro onde o Sol se apaga, a população do mundo tenta encontrar uma forma de sobreviver à última semana de vida, uma vez que a previsão é que a temperatura caia drasticamente e mate todos congelados. Um jovem astrônomo, Sun Yang (Juen Zhang) tenta chegar até o Distrito 4, um lugar onde ele acredita, terá a solução para evitar o fim do mundo. Ele se une à sua vizinha, a maluquete Chen Mu ( Yue Zhang), que tem um carro mas não sabe dirigir, para seguir até a região. mas no caminho, eles precisam lidar com o medo, fome, frio e pessoas que querem matá-los para pegarem o carro. Além do elenco excelente, a fotografia é outro ponto alto do filme: a cargo de Matthias Delvaux, os enquadramentos, estilosos, primam por trazer melancolia e drama ao destino fatal dos personagens, além de driblar questões de orçamento, resolvendo através de iluminação boa parte da dramaturgia futurista, trazendo credibilidade ao projeto. O casal traz um carisma enorme, e de fato, torcemos por eles. O desfecho é de fazer o espectador sair soluçando dos cinemas.

Você não sai da minha cabeça

"You go to my head", de Dimitri de Clercq (2017) Vencedor de quase 40 prêmios internacionais, "Você não sai da minha cabeça"é uma co-produção Alemanha/ Bélgica e França, escrita e dirigida por Dimitri de Clercq. O roteiro é bastante polêmico, e por isso mesmo, instigante e aterrador. Jake (Svetozar Cvetkovic) é um antropólogo que mora no deserto do Marrocos, em uma linda e suntuosa mansão. Um dia, ao seguir de jipe até a cidade, ele encontra um carro acidentado. Dentro do carro, um casal: o homem morto, a mulher, ferida e desmaiada. Jake leva a mulher até sua casa para cuidar dela. Ao recobrar os sentidos, Jake percebe que ela está desmemoriada, sem saber quem é e de onde veio. A mulher é linda, sensual. Jake resolve se aproveitar da situação: diz à misteriosa mulher que ele é seu marido, que são casados. A partir daí eles convivem como casal, transam. A mulher está muito feliz. Mas Jake não poderia imaginar que a memória dela, aos poucos, vai retornando. O filme poderia facilmente ser alvo de militantes por conta da história pesada de assédio sexual. Mas essa questão passa longe, a partir do momento que a gente vai entendendo quem é essa mulher. Com interpretação fabulosa dos 2 atores ( o filme é praticamente eles dois), uma fotografia estonteante do deserto de Marrocos, filmado todo em luz natural e uma direção segura e conduzindo com estilo as cenas de sexo e nudez, "Você não sai da minha cabeça" é um delírio estilístico de ótima qualidade. Um filme para adultos, envolvente, lento mas sublime.

Cine Pesadelo

"Nightmare cinema", de Alejandro Brugués, Joe Dante, Mick Garris, Ryûhei Kitamura, David Slade (2019) É aquela velha história: Filme de terror dividido em episódios, diretores convidados, e claro, alguns episódios melhores que os outros. Aqui não seria diferente: São cinco contos, colados com uma história que acontece em uma sala de cinema chamada Rialto, e onde o projecionista é Mickey Rourke, com a cara mais monstruosa devido às plásticas que qualquer outro monstro que aparece em algum dos episódios. - O 1o ep é sobre um acampamento adolescente. Uma nave alienígena pousa e dele saem milhares de aranhas que querem matar geral. Cada um tenta salvar a si próprio, e além das aranhas, são ameaçados por um soldados serial killer. Razoável. - O 2o ep é sobre um casal. A mulher tem uma cicatriz no rosto e quer fazer uma plástica. Ela vai até uma clínica, comandada por Richard Chamberlain, e ela descobre que o lugar na verdade deixa as pessoas com aparência monstruosa. Fraco. - O 3o ep é de uma escola católica, onde as crianças são possuídas pelo demônio e o padre e a freira, que são amantes, precisam matar todas as crianças. O melhor de todos, pelo politicamente incorreto: as crianças são mutiladas, decapitadas! - O 4o ep se passa em um futuro distópico: filmado em preto e branco, uma mulher supostamente paranóica procura ajuda: ela vê todo mundo com aparência monstruosa. Estranho, não curti, - O 5o ep é sobre um garoto que leva um tiro e fica entre a vida e a morte. Quando ele sai do coma, tem o poder de ver os mortos, até ser perseguido por um serial killer O filme de uma forma geral é muito fraco, uma frustração enorme. Ver nomes como Joe Dante fazer um curta tão longe de tudo o que ele já fez de bom nos anos 80, é desolador. Um desperdício incrível de Mickey Roruke, que praticamente faz figuração.

Quando ladram os cães

"Quando ladram os cães", de Rafael Farina (2014) Curta realizado por alunos da FAAP, "Quando ladram os cães" já participou de diversos Festivais e traz um mosaico interessante sobre a escalada da violência nas grandes cidades, no caso, São Paulo. O filme, realizado em 2014, remete bastante ao drama de Walter Salles, "Linha de passe", que mostra a mesma tensão da Metrópole, inclusive tendo como protagonista o mesmo Ator, Vinícius de Oliveira. Ele interpreta um motoboy, que precisa fazer uma entrega urgente em uma casa. Paralelo, temos um casal de classe média alta, que mora nessa casa onde será feita a entrega. Eles estão paranóicos com a questão da violência e armam a casa com todos os tipos de equipamento de segurança. Uma visão caótica de São Paulo e um olhar melancólico e sombrio sobre a vida das pessoas que moram na cidade, "Quando ladram os cães" é um ótimo exemplo de filme universitário realizado com esmero técnico e qualidade. Participação dos atores Milton Aires, Renan Bleastè, Yazbek e Tatiana Rehder, além de Vinícius. Link para assistir ao filme: https://vimeo.com/162855303