quarta-feira, 28 de junho de 2017

A garota ocidental- entre o coração e a tradição

"Noces", de Stephan Streker (2016) Excelente drama em produção Bélgica/Paquistão, sobre o dilema de uma jovem belga de descendência paquistanesa que vive com a sua família de tradições arcaicas na Bélgica. Zahira é estudante e vive uma vida ocidental fora de casa. No entanto, dentro de casa, a sua condição é totalmente diferente: seus pais são absolutamente conservadores, e querem que ela se case com um paquistanês ( ela já atingiu a idade para se casar). O seu irmão mais velho tenta ajudá-la no inicio, mas logo vemos que ele também dá continuidade ao mundo machista da cultura de sue País natal. O filme, escrito e dirigido pelo belga Stephan Streker, discute temas muito atuais como aborto, amor livre, conflito de geração e de culturas, xenofobia, casamento imposto, modernidade X tradição ( até no uso do skype para celebrar casamento). Tudo no filme é defendido com extrema garra por um elenco irrepreensível e brilhante, desde a protagonista Lina El Arabi, passando pelo núcleo familiar e pelos atores que interpretam sua melhor amiga e o pai dela. O desfecho é contundente, de extrema crueza , porém necessário para se fazer discutir em rodas de cinéfilos. O monólogo da irmã que quer fazer Zahira se casar é digno de premiação.

Aprendiz

"Apprentice", de Boo Junfeng (2016) Excelente drama da Singapura, escrito e dirigido por Boo Junfeng. Premiado em vários Festivais, e exibido na Mostra Um certo Olhar em Cannes 2016, o filme discute o tema da Pena de morte. Aiman é um agente penitenciário que é transferido para um presídio de segurança máxima. Pelos bons serviços, ele é transferido para o setor onde executam pena de morte. Ele conhece o carrasco Rahim, um homem que trabalha nessa função ha mais de 30 anos. Em casa, Aiman conversa com sua irmã e revela que Rahim é o homem que executou a sentença de morte do pai deles. No entanto, Aiman aceita ser o aprendiz de Raiman na execução das penas de morte dos presos e vai aos poucos, entrando num grande dilema entre tirar a vida de uma pessoa, e entender o que se passou na história do seu pai, que ele não conheceu. Com um roteiro brilhante, que vai trazendo elementos novos para a trama até o seu desfecho, absolutamente surpreendente, mesmo que aparentemente óbvio, "Aprendiz" prima pela direção segura e sensível, ao mostrar friamente a rotina de um presidio de segurança máxima e as etapas que antecipam a execução de um morto. O elenco está formidável, e cada um tem direito a um monólogo arrebatador. Um filme que vale ser debatido e que provavelmente, acarretará discussões acaloradas prós e contras a pena de morte.

Luzes de outuno

"Autumn lights", de Angad Aulakh (2016) Escrito e dirigido pelo Cineasta islandes/americano Angad Aulakh, é o seu longa de estréia. Corajoso, Angad Aulakh realiza um drama de tintas Bergmanianas, tanto na performance dos atores quanto nas pequenas tragédias humanas que percorrem os seus personagens, `as voltas dom melancolia e depressão. Infelizmente, o resultado ficou aquém das expectativas, e o resultado é um filme bastante verborrágico e entediante. David é um fotógrafo americano de férias com sua namorada na Islândia. Mal o filme começa, e a namorada rompe relações e vai embora. Chateado, David vai caminhar pela orla, mas dá de cara com o corpo de uma jovem suicida. A policia local resolve investigar as causas da morte e pede para David esticar em 1 semana a estada. Sem ter muito o que fazer, David caminha pela vizinhança, e acaba conhecendo o misterioso casal Marie, uma italiana sedutora, e seu marido islandês Johaan. Marie, remos descobrir, é sexualmente livre, transando com homens e mulheres, e acaba seduzindo David. David se encanta com Marie, mas ele precisa entender que tipo de relação exatamente ela mantém com Johaan. O que realmente desponta como interesse para o espectador no filme, são as locações inebriantes da região da Islândia. O filme acontece durante o outono, quando a luz do dia ocupa quase que 24 horas do dia. Os atores atuam de forma quase naturalista, sem grandes arroubos de emoção. No meio do filme, eu já estava entediado, e no final do filme, eu me perguntei qual o real interesse do diretor e do ator principal, Guy Kent, em produzir esse filme. Podia ter sido um belo drama, mas ficou vazio de ideias realmente interessantes.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Retake

"Retake", de Nick Corporon (2016) Drama lgbt que pega o mote de "Um corpo que cai", de Hitchcock, e cria uma atmosfera de sedução e fetiche romanceado entre 2 homens: Jonathan, de meia idade, e o jovem miche Adam. Jonathan ( Tuc Watkins) sai de Nova York até San Francisco. Chegando lá, ele vaga pelas ruas de prostituição masculina e sai com Adam ( Devon Graye), um jovem que abandonou a sua casa e se aventurou pelas ruas para poder sobreviver. Jonathan propõe um jogo para Adam: que ele "vista" um personagem, se passando por Brandon, um ex-namorado que ele teve. Ele deve se vestir, cortar o cabelo e se comportar como o ex. Durante o filme, ficamos curiosos em saber se Brandon existiu de verdade, e o que aconteceu com ele. Esse mistério é resolvido no final, e até lá, a gente fica absorvido por essa relação fetichista entre os 2 participantes, regados a sexo e muito flerte. Com bela direção, linda fotografia que valoriza as locações naturais da Califórnia e do Grand Canyon, o filme é um tour de force dos 2 protagonistas, que estão bem a vontade em seus papeis. O filme poderia ter uns 15 minutos a menos, pois lá na metade fica meio encheção de linguiça, mas o desfecho comovente compensa.

Ao cair da noite

"It comes at night", de Trey Edwards Shults (2017) Incrível a reação que esse filme teve ao término de uma sessão com meia sala cheia. Em peso, toda a plateia riu, xingou e gritaram que era o pior filme da vida deles, e que queriam o dinheiro de volta. Fiquei triste. Ficou claro para mim o grande abismo que existe entre o público comum e o Cinefilo, que consegue assimilar as referências cinematográficas e de linguagem de um cineasta. Trey Edwards além de dirigir, escreveu o roteiro desse filme, que não é Terror, e provavelmente dai veio a repulsa da plateia, que esperava sustos e sangue jorrando na tela. O filme é um suspense psicológico, que faz dos personagens, joguetes nas mãos de um roteiro simples, mas habilidoso. Em uma época incerta, o mundo foi acometido por um vírus mortal. A família de Paul conseguiu sobreviver, se escondendo numa casa em uma floresta isolada. Paul ( Joel Edgerton, de novo envolvido em uma trama inter racial, depois de "Loving") é casado com a negra Sarah e são pais de Travis, um adolescente acometido por pesadelos recorrentes durante a madrugada. Um dia, um estranho, Will, tenta invadir a casa. Preso, Will diz que veio buscar água e comida para sua esposa e filho. Paul e Sarah resolvem ajudar o rapaz e convidam ele e a família para virem morar juntos. A partir daí, começa um jogo de paranoia entre os moradores, culminando em um desfecho trágico. Assim como o recente terror "Corra!", "Ao cair da noite" se apropria do tema da miscigenação entre brancos e negros para fazer uma metáfora sobre violência e intolerância. O diretor cria um excelente clima de suspense, através de silêncios e zooms, deixando o espectador em suspenso, sempre aguardando algo que talvez esteja por vir. Excelente fotografia, que provoca uma sensação de constante perigo, junto da trilha sonora econômica, evitando na edição de som aqueles sons estridentes habituais em filmes do gênero. Joel Edgerton é um ator maravilhoso, provando ser eclético e visceral nas suas performances. Uma das várias referências cinematográficas é a famosa porta "Red room", retirada de "O iluminado", de Kubrick.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Uma noite sem lua

"Una noche sin luna", de Germán Tejeira (2014) Representante do Uruguai para obter uma vaga no Oscar em 2016, "Uma noite sem lua" é o longa de estréia do curta-metragista Germán Tejeira. Co-produzido por Argentina e Uruguai, é um drama melancólico que acompanha 3 personagens loosers em uma noite de Ano Novo em uma cidade pequena no interior do Uruguai. Antonio é um taxista que sai de Montevideo para visitar sua filha pequena que mora com sua ex-esposa e o atual marido dela. Ele vai passar o ano novo com eles e assim, tentar recuperar o amor da filha, que o vê como a um estranho. Na 2a história, acompanhamos Cesar, um mágico, que tem o carro quebrado no meio da estrada. Ele vai até um pedágio e lá conhece a solitária Laura. Na 3a história, seguimos Miguel, um cantor que está preso em uma penitenciaria, mas consegue um indulto e a liberdade por 24 horas. Ele segue até a cidade para se apresentar no clube local e assim, tentar reaver um pouco de sua humanidade perdida. O filme tem um tom de tragicomédia pairando no ar, mas o que sobressai mesmo é um ar de eterna tristeza e pesar pelos personagens tão depressivos e infelizes. E' um filme que nao apresenta resposta para a busca da felicidade, mas sim, uma tentativa. Bela direção e trabalho dos atores, além de uma excelente fotografia, que valoriza a melancolia dos personagens.

Mixed Kebab

"Mixed Kebab", de Guy Lee Thys (2012) Escrito e dirigido pelo cineasta belga Guy Lee Thys, "Mixed Kebab" é uma espécie de "Faça a coisa certa" ambientado na Antuérpia, maior cidade da Bélgica. A história é um caldeirão fervilhante, onde conflitos raciais, sexuais e culturais se misturam de forma explosiva. Intolerância religiosa, xenofobia, homofobia, desemprego, machismo, são muitos temas discutidos nesse belo drama filmado na Antuérpia e na Turquia. Ibrahim é um jovem belga de descendência turca. Ele mora com sua família na Antuérpia. Seus pais são conservadores, seu irmão é um marginal que se envolve com o fundamentalismo islâmico. Ibrahim trabalha como garçon, mas ganha um dinheiro extra fornecendo cocaína nas baladas. Ibrahim está prometido para se casar com sua prima turca, Elif. Porém, Ibrahim é gay e está apaixonado por Kevin, filho de Marina, dona de um restaurante. Ibrahim viaja até a Turquia para se casar com Elif, e Kevin decide ir junto. O filme, apesar de ser um drama, tem elementos de humor. Os atores estão ótimos, e a fotografia e a direção tem um cuidado em tornar toda essa história verossímil e pungente. As cenas de romance entre Ibrahim e Kevin são filmadas com bastante sensibilidade. Curioso como o filme apresenta a Turquia como uma Pais extremamente machista, onde a mulher está reclusa sem poder se manifestar, correndo o risco de serem confundidas com prostitutas. Fiquei comovido com a personagem de Elif e seu destino. O desfecho do filme é bastante comovente. Um filme que merece ser visto pelas discussões acaloradas que ele propõe.

sábado, 24 de junho de 2017

Meu querido companheiro

"Longtime companion", de Norman René (1989) Drama que ficou mundialmente conhecido por ser o primeiro filme de Hollywood a tratar do tema da Aids de forma honesta e digna. Lançado em 1989, o filme acompanha 8 anos na vida de um grupo de amigos moradores de Nova York, entre a ilha de Fire Island e Manhattan. Um ator enrustido, um advogado, um milionário, um roteirista, entre outros tipos comuns da comunidade gay, se entrelaçam em pequenas histórias que falam sobre o início da Aids em 1981, quando a mídia chamava de "Câncer gay". Sem saber a causa da doença que afetava principalmente os homossexuais, o grupo de risco continuou fazendo sexo sem precauções devidas ( tinha gente que achava que a contaminação acontecia via Poppers). Sem sensacionalismo, o filme tem um ótimo roteiro escrito por Craig Lucas, e boa parte do elenco é composto por atores heteros ( Bruce Davison, que foi indicado ao Oscar de coadjuvante), Dermot Mulroney, Campbell Scott e ainda uma jovem Mary Louise Parker. O filme recebeu vários prêmios na época, entre eles, o de melhor Direção no Festival de Sundance. Como na época do filme ainda estava recente os estudos sobre a doença, vale como um registro sobre o terror da Aids perante a sociedade. Uma época onde as pessoas morriam de medo de usar privadas, pias e até mesmo beijar no rosto os contaminados. Um belíssimo e corajoso trabalho de todo o elenco.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O último verão

"Last summer", de Frank Perry (1969) Clássico filme independente americano de 1969, foi um verdadeiro escândalo na época do sue lançamento, pela visão pessimista da juventude e pelo desfecho que apresenta um estupro de uma das personagens. O filme é uma adaptação do livro de Evan Hunter, mesmo escritor de "Os pássaros", adaptado por Hitchcock. O filme lançou 3 jovens atores: Barbara Hershey, Richard Thomas ( o "John Boy" do seriado " The Waltons") e Bruce Davinson, que depois trabalhou em "X-Men" e "Meu querido companheiro". Mas quem rouba o filme é Catherine Burns, no personagem de Rhoda, uma menina frígida e tímida. Por esse papel, Burns foi indicado ao Oscar de atriz coadjuvante. O filme recebeu na época a classificação de X, o mesmo que "Perdidos na noite", lançado no mesmo ano. O filme é uma espécie de versão adulta e cruel de "Houve uma vez um verão", clássico adocicado de Robert Mulligan, lançado 2 anos depois. 2 amigos ricos, os jovens Peter e Dan, passam as férias em Fire Island, Nova York. Andando pela praia, eles conhecem Sandy (Hershey), uma menina mimada e sexualmente precoce. Juntos, os 3 bebem, se drogam e aprontam muitas na região. Um dia, conhecem Rhoda, uma jovem gordinha, que vira objeto de bullying dos 3. Ousado, o filme apresenta cenas de menage a trois, estupro, sexo gay, amor livre, discriminação racial. Descobri o filme recentemente ao assistir a "Filhos e amantes", de Francisco Ramalho Jr. Em uma resenha, o autor citou "Last summer", e fiquei curioso. Nunca tinha ouvido falar do filme e gostei bastante. 47 anos depois, o filme pode parecer datado, mas ainda mantém um olhar sobre uma geração muito próxima ao que estamos vivendo hoje em dia, alienada e pronta para provocar o ódio e a discriminação.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Uma noite em Sampa

"Uma noite em Sampa", de Ugo Giorgetii (2016) Ugo Giorgetti é bastante conhecido pelos seus filmes "Sábado" e " Festa", dois exemplos de comédias anárquicas que acontecem em São Paulo, com personagens perambulando em uma única locação e fazendo critica ácida ao universo burguês contrastando com as pessoas do povo. Agora em "Uma noite em Sampa", Giorgetti radicaliza o seu tema favorito em uma alusão explicita `a obra-prima de Luiz Bunuel, "O anjo exterminador". Giorgetti se apropria da metáfora de luta de classes e de burgueses que não conseguem sair do local sem nenhuma explicação lógica, e transforma tudo em uma grande pantomina teatralizada. Após o encerramento de uma noite em um espetáculo no Teatro Ruth Escobar, no centro de São Paulo, um grupo de paulistas ricos do interior seguem a guia até o ônibus que os levará de volta pra casa. Para a surpresa de todos, o motorista despareceu. A guia se desespera, as pessoas se irritam e tudo vira um caos. No entanto, algo inexplicável os impede de pedirem ajuda para as pessoas que passam por ali. Pior: eles não sem de lá! Poderiam caminhar até o centro e de lá pegar taxi ou Uber. Mas aí seria um outro filme. O que Giorgetti quer, é criar a mesma fábula de humor negro exasperante sobre um grupo de burgueses que nada fazem para saírem daquela situação de inércia. Discutem, discutem e continuam no mesmo lugar. A narrativa de Giorgetti é totalmente teatral, e para deixar mais clara essa informação, os atores se misturam a manequins, sem terem nenhum estranhamento em relação a isso, como se eles também fossem meros marionetes. O filme é bem curioso e sustentado por um excelente time de atores de teatro paulista. Os tipos são bem definidos em seus estereótipos. Diverte, mas também cansa, pois lá pela metade do filme tudo se repete e fica redundante. A fotografia do Mestre Walter Carvalho ajuda a criar uma atmosfera onírica, pois o filme todo acontece durante a noite ( que loucura deve ter sido rodar esse filme todo na noturna!!)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Curve

"Curve", de Tim Egan (2016) Excelente curta de terror fantástico, dirigido e escrito pelo australiano Tim Egan. Premiadíssimo em mais de 10 Festivais mundo afora, o curta tem um trabalho excepcional de direção, decupagem, direção de arte, atuação e atmosfera. Tudo isso com apenas uma atriz, uma parede curva e muito 3D. Isso sem contar que o filme não tem um dialogo sequer, apenas atmosfera. Uma mulher acorda em um abismo, apoiada na beira de uma curva. Qualquer passo em passo a fará cair no abismo. Ela olha para cima e vê o topo do precipício, e fará de tudo para conseguir subir. Li em uma matéria que o filme poderia ser visto como uma metáfora sobre a depressão. Pode até ser, mas prefiro assistir pensando apenas que poderia ter sido um belo episódio de "Além da imaginação". Parabéns ao trabalho da atriz Laura Jane Turner. https://vimeo.com/221821296

Animal Politico

"Animal político", de Tião (2016) Concorrendo no prestigiado Festival de Rotterdan em 2016, o longa de estréia do curta-metragista pernambucano Tião é uma fábula que mescla linguagem de documentário e de ficção. Usando a premissa de clássicos como "Zabriskie Point", de Antonioni, e "Na natureza selvagem", de Sean Penn, Tião coloca como protagonista de seu filme, uma vaca ( de verdade!), que se mistura aos humanos de forma espontânea, fazendo parte da rotina dos seres humanos. Ela faz o cabelo no salão de beleza, malha na academia, come em restaurantes chiques, vai pra balada, perambula pelas ruas da cidade, trabalha...criada em uma família de classe média, composta por um casal e uma filha pequena, a vaca vive feliz. Até que um dia, ela sucumbe na mais cruel crise de existencialismo. Disposta a saber qual o sentido da vida, ela desamba a caminhar pelas ruas, até chegar ao deserto, crente que o lugar irá lhe trazer iluminação ( qualquer semelhança com a passagem de Cristo pelo deserto, não será mera coincidência). A vaca encontra no caminho um ser robótico, uma espécie de oráculo do Google, que irá que dar resposta par qualquer de suas perguntas. Insatisfeita, logo ela dá de cara com macacos e com o monolito de "2001, uma odisseia no espaço". Uma vez iluminada, a vaca consegue ficar de pé, e a partir daí, ela resolve retornar para cidade grande e repensar toda a sua trajetória. Seria muito fácil dizer que o realizador desse filme tomou um forte ácido para conceber o projeto. Pode até ser que isso tenha acontecido, mas o resultado é muito curioso, bizarro e divertido. A primeira parte, com a vaca real, é bem debochada e parece sketch de um programa de humor televisivo. Na segunda parte, já com um ator vestindo a roupa da vaca, é mais tosca, divagando nas questões já propostas nos filmes citados acima: consumismo, critica ao modo de vida burguês, racismo, imperialismo etc. em determinado momento, o filme para e somos obrigados a assistir a um curta muito doido, chamado de " A pequena caucasiana", que não sei porque, não foi criticado pelas feministas, por conta de uma jovem branca totalmente nua proferindo palavras de ordem sobre racismo, terceiro mundo e coisas e tal. Um filme com certeza ousado e polemico, que teria sido mais interessante se ficasse mais nas brincadeiras de referencias cinéfilas.

Rock'n roll - Por trás da fama

"Rock'n Roll", de Guillaume Canet (2016) Porque assistir ao filme: - para assistir Marion Cotillard dublando Celine Dion em uma deliciosa cena musical brega - para assistir a uma das comédias de humor negro mais cruéis sobre o mundo das celebridades - para assistir o casal de atores mais famosos da Franca, Guillaume Canet e Marion Cottlilard, atuarem juntos novamente, algo que não acontecia desde 2003 - para assistir Canet e Cotillard viverem uma ficção documental interpretando a si mesmos - para ouvir uma das melhores trilhas sonoras pop com clássicos dos anos 80 - para presenciar uma das maquiagens mais impressionantes que você já viu recentemente no cinema ( Canet com botox e corpo malhado) - obrigatório para todos os atores que ficam em crise de vaidade e idade - referencia a " Nasce uma Estrela": o ator que não consegue viver sob a sombra de sua esposa, que é mais famosa e recebeu mais prêmios pelos trabalhos - para assistir uma das visões mais destruidoras do mundo do cinema, algo que não acontecia desde "O jogador", de Robert Altman Por essas e outras razões, "Rock'n Roll" é um filme imperdível. Mas atenção: se você não curte comédias malucas, talvez não aprecie esse filme com todo o seu sarcasmo acachapante. O que será uma pena. Canet e Cotillard são casados e tem um filho. Ela estuda sotaque de Quebec para um filme de Xavier Dolan ( ouvir Mario falando com sotaque é engraçado demais) e ele interpreta um filme onde faz o pai de uma jovem. Durante uma entrevista, a jornalista questiona Canet o que significa ele não ser mais jovem. Isso faz ele pirar. Canet faz de tudo para voltar a ser um rebelde: cheira cocaina, veste roupas de roqueiro, etc. Não contente, malha pesado e faz botox para ficar com visual mais jovem. Sua vida pessoal e profissional passa a entrar em parafuso. Com direção inteligente de Canet, que brinca e sacaneia vários gêneros: séries de TV, vídeo clips e etc, o filme diverte e faz pensar. Os atores estão hilários, e fiquei pensando aonde Canet iria chegar com tamanha maluquice. Participação especial do ator Ben Foster em uma cena bem cruel. O melhor fica para a crítica que o filme faz com atores que, para ganhar prêmios, precisam remodelar seus corpos ou interpretando deficientes físicos.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Tour de France

"Tour de France", de Rachid Djaidani (2016) Comovente e emocionante comédia dramática, sustentada pelas atuações assombrosas de Gerard Depardieu e de Saedk, nos papéis de Serge, um pintor que reproduz pinturas de Vernet, e Farhook, cantor de rap da periferia. Farkooh mora na periferia de Paris e tem como agente e produtor o jovem Bilal. Farhook tem origem árabe, e Bilal é francês convertido ao islamismo. Ameaçado de morte por um rival do rap, Farhook é enviado por Bilal para uma cidade do interior para ser motorista de Serge, um decadente pintor mau humorado, que quer fazer uma viagem de caminhão pela França para cumprir uma promessa para sua falecida esposa. Bilal e Serge não se falam desde que ele se converteu ao islamismo. O filme segue a relação de amor e ódio entre Serge e Farhook. `A primeira vista, o filme parece uma refilmagem de "Conduzindo Miss Dayse". Mas é muito mais do que isso: o filme discute vários temas, entre eles a paternidade, a globalização da Europa, a questão dos refugiados, o preconceito contra árabes, a multiculturalidade musical e racial na Franca. Como um road movie, vamos acompanhando vários registros musicais e gastronômicos no trajeto dos personagens. O filme é dirigido com muita sensibilidade, e confesso que chorei varias vezes ao longo do filme. Imperdível e obrigatório, Depardieu confere uma performance extraordinária. Exibido na Mostra Quinzena dos realizadores de Cannes 2017.

O filho uruguaio

"Une vie ailleurs", de Olivier Peyon (2017) Drama dirigido e escrito por Olivier Peyon, na melhor tradição dos melodramas de Pedro Almodovar, principalmente "Volver" e " Tudo sobre minha mãe". O filme começa apresentando Sylvie (Isabelle Carré, excelente atriz da comédia romântica "Românticos anônimos") e Mehdi ( Ramzy Bedia), assistente social francês de origem árabe. Eles se encontram em Montevideo com a missa de resgatar o pequeno Felipe, menino de 10 anos, cujo pai o sequestrou quando casado em Paris com Sylvie e o trouxe para o Uruguay. Morto, o menino ficou sob s cuidados da tia e da avó, que o amam incondicionalmente. Bem dirigido e com ótimas atuações de todo o elenco, o filme discute com propriedade a questão da maternidade: o filme manipula o espectador, e a gente fica refém dos acontecimentos dignos do melhor melodrama mexicano. Linda trilha sonora, que ajuda a trazer uma narrativa melancólica, lírica. O Desfecho é belíssimo e simbólico.

Rosemberg - Colagem e afetos

"Rosemberg - Colagens e afetos", de Cavi Borges e Cristian Caselli (2017) Documentário que faz um registro afetivo sobre o cineasta Luis Rosemberg Filho, que por muito tempo, durante os anos 70 e 80, foi considerado maldito e banido do circuito exibidor brasileiro, pelo conteúdo considerado polemico e subversivo. Adorado por intelectuais como Glauber Rocha, Rosemberg é dono de uma extensa filmografia de longas e curtas com uma linguagem extremamente pessoal, se utilizando de colagens (material de arquivo de outros filmes, fotos, musicas etc), linguagem essa proveniente de seu passado como artista plástico e pintor. A direção de Cavi e Cristian brinca com essa linguagem da colagem, se apropriando de filmes famosos como "Cidadão Kane" e subvertendo a famosa cena do close da boca murmurando "Rosebud", e em seu lugar, botando "Rosemberg". E' um filme de diretores fãs do seu objeto de analise, e que com certeza, instigará muitos cinéfilos e buscarem os filmes de Rosemberg para assistir.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Z - A cidade perdida

"Z- The lost city", de James Gray (2016) Exibido no Festival de Berlin 2017, "Z- A cidade perdida", é uma cinebiografia em tom de aventura intimista, quase um "Fitzcarraldo", sobre a obsessão do explorador britânico Percy Fawcett (Charlie Hunnan) de encontrar o que seria o Eldorado da Amazonia, uma região que fazia limite entre Bolivia e Brasil, intitulada de "Z". De 1905 a 1926, Percy fez 9 viagens ao local, sem sucesso. Ele chegou a encontrar resquícios da civilização, mas os cientistas britânicos o ridicularizaram, pois consideravam os indígenas um povo inferior culturalmente. Percy largava sua esposa, Nina (Sienna Miller) e os 3 filhos para se aventurar na floresta junto do fiel Henry Costin (Robert Pattinson). Da última vez, ele viajou sozinho com seu filho já crescido, Jack (Tom Holland), e ambos acabaram desaparecendo. Percy chegou a servir o exercito britânico lutando contra os alemães na 1a guerra mundial, e Henry o acompanhou. O filme discute também o feminismo, através da personagem de Nina, que em determinado momento, diz querer acompanhar uma das viagens e Percy recusa, dizendo que não é coisa para mulheres. Bem dirigido, tem uma ótima atuação de Charlie Hunnan. A participação de Robert Pattinson é bastante discreta, pois seu personagem aparece pouco e fica muito na sombra de Percy. Tom Holland somente surge na parte final da história. Sienna Miller cumpre com discrição a esposa devotada. O que prejudica bastante o filme, é a sua longa duração, de quase 145 minutos, e sua fotografia extremamente escura. Tinham muitos momentos que eu não conseguia enxergar quase nada. Sei que a proposta provavelmente é fazer o espectador se sentir na pele dos personagens e não enxergar nada, mas ficou muito exagerado.

Filhos e amantes

"Filhos e amantes", de Francisco Ramalho Jr (1981) Um belo drama brasileiro de 1981, um filme pouco visto e que agora, revisitado, me fez pensar que poderia render uma ótima refilmagem. Ele toca em temas muito atuais, e que imagino que na época eram verdadeiros tabus. Aborto, amor livre, vicio em heroína. As personagens femininas do filme são as que movimentam a história. Frágeis, determinadas, condutoras de suas vidas, para o bem ou para o mal. Silvia (Lucia Verissimo) é uma professora que narra em seu diário as férias que ela passou em um sitio de Itaipava com o seu namorado Roberto (André de Biase). O sitio pertence a 2 amigas: Marta (Denise Dumont) e Bebel (Nizole Puzzi), que vivem como se estivessem em uma comunidade riponga. Logo eles recebem a visita do casal Dinho (Hugo Della Santa) e Carminha (Rosina Malbouisson), que descobriremos mais tarde serem viciados em drogas pesadas. As histórias de todos se entrecruzam, mostrando uma geração que viveu sob a sombra da ditadura militar, fazendo desse período de ferias um momento de libertação que eles não podem usufruir na cidade grande. No elenco, ainda temos a participação de Walmor Chagas e Renne de Vielmond. ele interpreta um homem que está com cancer terminal e que luta pela sua vida. A partir dessa história, o filme faz um contraponto entre o pensamento destruidor dos jovens, e a vontade de viver dos mais velhos. O filme é muito bonito, com lindas locações em Itaipava, fotografado pelo mestre Antonio Luiz Mendes Soares, e com uma interpretação quase naturalista dos seus atores. O filme é bastante ousado para a época, com nudez total de todo o elenco em belas cenas registradas com muita poesia e uma sensação de lirismo. entre altos e baixos, é um filme que merecia ser revisto e discutido.

domingo, 18 de junho de 2017

Gaga, o amor pela dança

"Mr. Gaga", de Tomer Heymann (2016) Documentário premiado em diversos Festivais, tem o coreógrafo israelense Ohad Naharin, Diretor da Companhia de dança Batsheva de Israel como tema. O filme acompanha a vida de Ohad desde que ele era criança, criado em um Kibutz, os seus anos como soldado do exército israelense, depois a sua passagem por Nova York por anos na tentativa de se tornar um dançarino e a sua frustração com as famosas companhias de Martha Graham e Maurice Bejart. Nesse meio tempo ele conheceu sua primeira esposa, Maia, que era a dançarina de Alvin Ailey. Olhas acabou sendo convidado para dirigir a Batasheva e voltou par Israel. Lá ele criou a técnica de Gaga, que é um método de linguagem corporal e de interpretação, com adeptos do mundo inteiro. O filme em si é uma cinebiografia correta, mas acompanhar a trajetória de Ohad é uma grande inspiração para quem busca o seu lugar no mundo, e sem se deixar abater pelos infortúnios da vida. Extremamente obcecado com o seu trabalho, o filme termina com um puxão de orelha em Ohad, que pede para sua nova esposa, que é Coreografa do grupo, continuar o trabalho mesmo que a filha deles esteja chorando. Ela simplesmente ignora o pedido do marido e vai cuidar da filha. Lições de vida.

Duas garotas romanticas

"Les demoiselles de Rochefort", de Jacques Demy (1967) Clássico romântico Musical de um dos diretores franceses mais subestimamos na França, muito por conta da perseguição artística que os Cineastas da Nouvelle Vague faziam em relação ao seu cinema escapista, influenciado pelos musicais de Hollywood. Há 3 anos atras, Demy havia ganho a Palma de Ouro em Cannes por outro Musical, "Os guarda chuvas do amor". Em 1967, ele trabalha de novo com Catherine Deneuve, dessa vez em parceria com sua Irma, Françoise Dorleac. Elas interpretam as irmãs gêmeas Delphine e Solange, filhas de Yvette, dona de um restaurante em Rochefort. As irmãs são apaixonadas por música: uma é professora de ballet e a outra compositora. Elas sonham com o amor ideal. Outros personagens surgem na trama, igualmente em busca de um amor: 2 artistas mambembes, um compositor e dançarino americano (Genne Kelly, sensacional), um dono de loja de instrumentos musicais(Michel Picolli) e um marinheiro pintor. Todas as histórias se cruzam em um vai e vem de encontros e desencontros. Formidáveis planos sequência, fotografia e figurinos deslumbrantes realçando as cores fortes saturadas. Trilha sonora antológica de Michel Legrand com canções cujas letras introduzem elementos para a história. Li em uma matéria que inicialmente, Demy queria Brigitte Bardot e Audrey Hepburn para os papéis. Poderia até ter sido igualmente maravilhoso, mas o fato de Deneuve e Dorleac serem irmãs de verdade trouxe um charme extra ao filme. "La la land" deve muito ao filme. Foi com certeza uma grande inspiração. O desfecho de "Duas garotas românticas" é sublime e emocionante. Um filme charmoso que fala sobre o Amor, sem vergonha de assumir o sentimento.

sábado, 17 de junho de 2017

Aquilo que os jovens chamam de música

"Aquilo que os jovens chamam de música", de Fernando Nogari e Thales Banzai (2016) Delirante curta-metragem, que na verdade é um projeto piloto para uma web serie de 5 episódios. A idéia da dupla de diretores é mostrar a cena musical brasileira. Nesse piloto, o foco é a noite underground e hype da capital paulista. O filme mescla linguagem documental e ficcional. Através de uma protagonista sem nome, anônima como todos os que aparecem no filme, descobrimos sensações referentes a o que significa pertencer a esse universo tão particular, tão hedonista, tao libertador. Nas festas, nos clubes, a pessoa pode ser quem ela quiser. Ela cria fantasias, se entregue a um mundo de prazeres, conectados ao som de musica eletrônica. Não importa a raça, o sexo, a camada social ao qual a pessoa pertence. O que interessa, é que ela se entregue ao som e a hipnótica magia das pistas de dança. Narrado em voz pela protagonista, que compara a sensação de prazer ao universo em efervescência, o filme apresenta belas imagens da cena eletrônica, sempre permeado por cores vibrantes. Um filme que faz "viajar", se desplugar da vida real. https://vimeo.com/196527734

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O circulo

"The circle", de James Ponsoldt (2017) Segundo filme de Tom Hanks baseado em livro de Dave Eggars ( o primeiro foi "Um holograma para o Rei"), "O circulo" parece uma mistura de episódios de "Black mirror" misturado a "Steve Jobs", versão de Danny Boyle. Tom Hanks personifica uma versão mais vilanesca de Steve Jobs, com o talento e carisma habitual. A grande surpresa, novamente, é observar o quanto que Emma Watson cresce cada vez mais como atriz. Ela está excelente, carregando o filme todo nas costas, uma vez que ela é a protagonista e Tom Hanks, uma escada. Os outros atores também são muito bons: Karen Gillan ( a Nebula, de "Guardiões das galáxias") , aqui interpretando Annie, a amiga obcecada e psicótica de Mae (Watson); os recém falecidos Glenny Headley e Bill Paxton, nos papéis dos pais de Mae, estão comoventes; e o jovem Ellar Coltrane, de "Boyhood", lembrando bastante o seu personagem do filme de Richard Linklater. O filme é um drama de fantasia, com elementos de trhiller. Mae é uma jovem introvertida que passa em uma entrevista para a Empresa O Circulo ( uma espécie de Facebook) e se deixa envolver com os objetivos da empresa, que é criar suporte tecnológico para invadir a privacidade das pessoas, se alimentando de todos os dados possíveis. sem se dar conta das reais intenções de dono da empresa, Bailey (Tom Hanks), Mae vai cada vez mais se seduzindo pelo Poder, até que percebe que foi longe demais. Um ótimo filme, que exige concentração do espectador, é um entretenimento inteligente, muito bem dirigido e conduzido, com maravilhosa trilha de Danny Elfman. Assim como nos episódios de "Black mirror", o filme faz uma critica pesada no quanto a sociedade se permite deixar dominar pela tecnologia no dia a dia de suas vidas. O visual do filme é incrível, incluindo o desenho de arte visual da parte das telas de computador e de celular.

Baywatch

"Baywatch", de Seth Gordon (2017) Diretor de filmes e seriados, Seth Gordon é um expert em comédias. Agora, ele faz uma versão cinematográfica do seriado de grande sucesso, que levou Pamela Anderson e David Hasselhoff ao status de ícones pop (em "Guardiões das Galáxias", David faz uma participação). Com um elenco estelar encabeçado por Zac Efron e Dwayne Johnson, o filme aposta bastante em ação e aventura, mas fazendo um híbrido com as comedias maliciosas dos anos 80, com piadas bastante sacanas envolvendo penis, bundas e seios fartos. Zac Efron é Matt, campeão olímpico dono de duas medalhas de ouro em natação, mas que entrou em decadência. Agora, ele tenta entrar no famoso time dos guarda-vidas de Baywatch, coordenado por Mitch (Johnson) e sua turma, que envolve beldades sensuais e destemidas. eles se envolvem com traficantes de metanfetamina, e precisam da união para poder destruir a quadrilha liderado por uma mega vila, a latina Leeds. O filme não tem o mínimo pudor em mostrar latinos e negros como vilões. E mais: para mostrar que estão cagando pro politicamente correto, todas as mulheres do filme são apresentadas em trajes sumários e vistas como objetos de desejo sexual. As feministas irão reclamar bastante, mas pelo que se viu no cinema, o publico não esta nem ai, a galera ria bastante. O filme em si tem uma ou outra piada engraçada, o que parece é que tudo foi feito para agradar um publico adolescente e infantil. Zac Efron e Dwayne apresentam a clássica dupla de justiceiros que não se combinam, e vivem as turras. eles estão divertidos. O filme, no entanto, é bastante longo, e eu em determinado momento já estava torcendo para que acabasse logo. A grande surpresa do elenco é John Bass, no papel do maluquinho Ronnie: ele parece um Fabio Porchat nos trejeitos.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

De volta `a paulicéia desvairada

"De volta `a Paulicéia desvairada", de Lufe Steffen (2013) Documentário financiado pelo Governo de Sao Paulo, foi concebido pelo mesmo documentarista do divertido "Sao Paulo em Hi Fi", Lufe Steffen, que também escreveu, editou e produziu. "De volta `a paulicéia desvairada" é um delicioso registrado da noite Lgbts paulistana, com a diversidade sexual, social e de baladas. Entrevistando dezenas de frequentadores, Djs, Hostess, travestis, transformistas, o filme procura traçar um painel da sociedade brasileira atual que mora na grande metrópole e que busca nas baladas um lugar hedonista onde tudo é permissivo. Depoimento hilários e ouros contundentes apresentando o novo perfil de relacionamentos, muito na base do " ficar" do que para namorar. O filme foi rodado em 2012, e segundo a cartela de apresentação do filme, a noite paulistana é bastante movimentada e dinâmica, e provavelmente, muitas das baladas apresentadas nem existem mais. Um retrato social que mostra que até mesmo dentro do grupo Lgbts, existe uma segmentação, dividida em barbies, bichas Ploc, travestis, ursos, etc. Em 2016, Steffen lanou "Sao Paulo em Hi Fi", que falava da Noite de ao Paulo dos anos 70 a 90, através das histórias de casas noturnas famosas e que hoje não existem mais.

Breaking bad- O filme

"Breaking bad- The movie", de Vince Gilligan. Versão de 126 minutos editada por 2 fãs de uma das séries mais prestigiadas da televisão. Lucas Stoll e Gaylor Morestin passaram mais de 2 anos condensando 62 episódios de 50 minutos cada, exibidos em 5 temporadas de 2008 a 2013. Para pessoas que como eu, não conseguiram assistir a todo o seriado, assistir a esse filme pode ser uma oportunidade de conhecer o universo dessa tão aclamada narrativa sobre um homem comum que sucumbe `a ambição. Obviamente que muito da relação de Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) se perdeu. Fora isso, outros personagens importantes foram eliminados, e algumas mortes famosas, como a de Gus, sequer são mostradas. Tive que buscar cenas isoladas no youtube para entender melhor a historia. O filme editado só funciona para quem ja viu a série e quer matar saudades rápidas. Para quem nunca viu, fica a impressão de estar assistindo a uma colcha de retalhos, pois é a nítido que estão faltando elementos narrativos importantes para se entender melhor a dramaturgia e o desenvolvimento dos personagens. De qualquer forma, para mim valeu, pois eu jamais teria condições de assistir a todos os episódios inteiros. Assistir ao filme e algumas cenas isoladas no youtube já funcionaram bastante. E fico imaginando para quem acompanhou a serie semanalmente, a grande aflição que foi esperar o próximo episódio, e pior, testemunhar o destino cruel de vários personagens. Que puta direção! E que grande ator é o Bryan Cranston!

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Gatos

"Kedi", de Ceyda Torun (2016) Dirigido pela documentarista Ceyda Torun, "Kedi" é um lindo filme que fala sobre paixão por gatos. Ambientado na Turquia, o filme apresenta a cidade através de imagens belíssimas, mostrando o subúrbio, os bairros ricos, a área pesqueira. Ceyda Torun apresenta, pelo olhar dos gatos e de seus donos, um retrato sobre a sociedade Turca: o feminismo, a solidão na grande cidade, a especulação imobiliária, o contraste das castas sociais. Somos apresentados a 7 gatos, cada um com uma personalidade diferente. Fico imaginando a dificuldade de se fazer esse filme, de acompanhar os gatos pelas ruas, telhados, registrar momentos lúdicos e fofos. Para quem ama felinos, é um documentário imperdível, com menos de 80 minutos de duração. E também um bom motivo para ficar apaixonado pela Turquia e sua cultura, lindamente apresentadas no filme.

Paper memories

"Paper memories", de Theo Putzu (2010) Premiado curta-metragem italiano, escrito, produzido, editado, fotografado e dirigido por Theo Putzu. Usando a técnica de stop motion e se apropriando de uma narrativa experimental, o filme fala sobre solidão, terceira idade e memórias afetivas. Um homem solitário permanece apático em sua poltrona, sozinho. Ele resolve revirar uma pequena caixa aonde guarda fotos de sua amada. Súbito, memórias dela veem `a tona, e o homem resolve seguir a mulher dentro das fotos, até um desfecho poético e envolvente. Com apenas 7 minutos e muita sensibilidade e criatividade, o diretor Teho Putzu conduz o espectador para uma linda história de amor, sem pieguices e sem uso de diálogos. https://vimeo.com/13831362

segunda-feira, 12 de junho de 2017

O passe

"The pass", de Ben A. Willians (2016) Nomeado para vários prêmios no prestigiado Festival inglês Bafta, "O passe" é uma adaptação da peça teatral de sucesso de mesmo nome, "The pass". A peça se baseia livremente na história do jogador de futebol inglês Justin Fashanu, que se tornou o 1o jogador da primeira divisão a declarar oficialmente a sua homossexualidade. Acuado e sofrendo bullying de todos os lados, Fashanu acabou se suicidando. O filme é dividido em 3 atos, todos ambientados em diferentes quartos de hotel e em épocas distintas. No 1o ato, ambientado em 2006, na Romênia, 2 jovens jogadores de um time de futebol dividem um quarto de hotel. Enquanto conversam sobre o universo típico do macho alfa, Jason (Russel Tovey) e Ade (Arinzé Kene) se olham diferente e, no meio de uma enorme farra, se beijam e se amam. 2o ato: 5 anos depois, Jason, já casado e com bastante sucesso na carreira, passa a noite com uma amante, sem saber que ela está com uma câmera escondida em sua bolsa. 3o ato: 5 anos depois, Jason e Ade se reencontram. Com ótimas atuações (Russel Tovey fez sucesso com o personagem Kevin, da série "Looking"), "The pass" não esconde a sua origem teatral e se torna bastante cansativo e sem ritmo. Limitado a espaços apertados ( os quartos de hotel), , o filme acaba se atendo aos diálogos e ao trabalho dos atores. Como o 1o ato quase todo se desenvolve em cima de uma linguagem que circunda o universo de futebol, para quem é leigo no assunto ( como eu), torna-se um enorme fardo. O 1o ato para mim foi o melhor, mais tenso e dramático, além de excitante. O filme tem de melhor a discussão dos temas da homofobia e da não aceitação da homossexualidade dentro do universo dos esportes.

A múmia

"The mummy", de Alex Kurtzman (2017) Eu havia lido numa matéria que a produtora Dark Adventures estava querendo fazer remake de seus filmes de monstros, mas não imaginava que iriam fazer híbridos deles em um mesmo filme. Talvez influenciados pelo sucesso da Marvel e da Dc comics, esse " A Múmia" virou um samba do crioulo doido que mistura uma porrada de referências. Da Mumia mesmo, ficou pouco: tem zumbis a lá Walking dead, tem Dr Jekyl e Hyde ( na pele de Russel Crowe), tem brincadeira com o amigo morto de "Um lobisomem americano em Londres" e tem Tom Cruise querendo mais uma vez dispensar dublês de ação e protagonizar cenas de adrenalina. A história todos já sabem: durante um evento militar no Iraque, dois mercenários, Nick ( Cruise) e Chris (Jake Johnson, divertido) se unem a Jenny, uma arqueóloga e descobrem a tumba de uma filha de um Faraó egípcio. Logo descobrem que se trata de Ahmanet, que quer fazer de Nick o seu amado eterno. O filme é cheio de piadinhas bobas e ingênuas que não cabem mais no cinquentão Cruise. O filme carece também de ritmo e as cenas de efeito especial parecem que saíram da versão da Munia dos anos 90 com Brandon Fraser. Para quem quer uma sessão da tarde, ainda que com certa violência, vale como passatempo que se esquece dois minutos depois.

domingo, 11 de junho de 2017

My name is love

"Love", de David Fardmar (2008) Premiado em diversos Festivais Lgbts, "My name is love" é um curta sueco que tem como tema o abuso sexual contra homossexuais. Um drama forte, que tem como maior curiosidade a presença no elenco da então desconhecida Alicia Vikander, que logo depois ficaria mundialmente conhecida pelos filmes "Ex-Machina" e "A garota desconhecida", pelo qual ganhou um Oscar de atriz coadjuvante. Um jovem passa a noite em uma balada hetero com os seus amigos. Resolve ir embora mais cedo, e no caminho, conhece Sebastian, um rapaz atraente que o leva para a sua casa. Usando o apelido de LOVE, o jovem se deixa seduzir por Sebastian, sem imaginar a noite de terror que irá passar. Com bela interpretação de Adam Lundgren no papel de Love, o filme coloca na pauta o perigo que jovens que não se assumem, correm ao buscar no anonimato da noite um refúgio para os seus prazeres desconhecidos. Contundente e dramático, é um filme que vale ser visto e discutido nesses tempos de aplicativos de sexo anónimo. Ao desfecho do filme, surge uma cartela informando que todos os que trabalharam no filme, o fizeram de graça em prol da campanha contra o abuso sexual contar jovens gays.

The Belko experiment

"The Belko experiment", de Greg Maclean (2016) Inspirado no cult japonês "Batalha real", que por sua vez foi a inspiração para a franquia "Jogos vorazes", "The Belko experiment" foi escrito por James Gunn, roteirista e realizador de "Guardiões das galáxias". O Diretor Greg Maclean é o responsável pela franquia de "Wolf Creek", sobre o serial killer no deserto da Austrália. Ambientado em Bogotá, acompanhamos um dia na rotina de funcionários americanos que trabalham para a multinacional Belko. Por conta da violência no Pais, cada um dos empregados possui um chip de segurança, facilitando o rastreamento deles caso sejam sequestrados. O que eles não esperavam, é que naquele dia especifico, todos os 80 funcionários ficarão presos no prédio, sem poder sair. Uma voz em off anuncia que eles devem se matar e apenas um sobreviver, caso contrário, todos morrerão. A partir dai, se inicia uma verdadeira chacina, onde qualquer objeto pode ser usado como arma. Violento mas sem ser tão explicito como "Jogos mortais", "The Belko experiment" não chega a fazer parte do gênero que se consagrou como "Torture porn", apesar da sua violência ainda chocar pessoas mais sensíveis. Os produtores provavelmente "amansaram" o filme para que atingisse um maior potencial de público. O filme não chega a assustar, e tudo soa bastante óbvio. Não há absolutamente nada de muito original aqui, apenas um passatempo para quem curte filmes de sobrevivência. Vale como passatempo, e a presença de Michael Hooker, habitueé de projetos de James Gunn e excelente ator. Aqui, o que pega é a falta de carisma dos personagens, logo, ninguém sentirá falta se o personagem vier a morrer.

sábado, 10 de junho de 2017

Poesia sem fim

"Poesia sem fim", de Alejandro Jodorowsky (2016) Lançado em Cannes na Quinzena dos Realizadores em 2016, "Poesia sem fim" foi quase todo financiado em um Crowdfunding bancado por 10 mil seguidores do cineasta chileno Jodorowsky, um dos mais ousados e polêmicos cineastas do mundo, autor de "A montanha sagrada" e "El topo", clássicos dos anos 70 e cultuados no mundo inteiro. O filme é uma continuação de seu filme anterior, "A dança da realidade", lançado em 2013. Ambos fazem parte de um projeto ambicioso de Jodorowsky, de narrar a sua cinebiografia em 5 partes. "A dança.." vai até a sua adolescência, na cidade de Tocopilla. "Poesia sem fim" segue o trajeto do cineasta, quando sua familia se muda para Santiago, Já adulto, Jodorowsky enfrenta a fúria de seu pai conservador, que não quer que ele seja um poeta, e sim, um médico. Jodorowsky foge de casa, vai conviver com artistas boêmios de Santiago e enfrenta as primeiras experiências com sexo, política e amizades. O filme termina com a sua partida para Paris, e com uma despedida fictícia de Jodorowsky e seu pai, um exorcismo de um passado que o cineasta precisava expor. Assim como no filme anterior, a parte técnica é um brinde ao espectador. Mesclando uma linguagem teatral ao cinematográfico, o filme encanta com a sua poesia e o seu olhar surrealista sobre a vida. Menos encantador que "A dança da realidade", o filme tem ousadas cenas de sexo e nudez. Tanto pai e filho são representados pelos filhos de Jodorowsky. Visualmente, o filme é um esplendor carnavalesco, com muitas cores e brilhos. Para fãs cinéfilos do cineasta, é um verdadeiro presente essa reminiscência de um "Amarcord". A fotografia agora ficou por conta de Christopher Doyle, fotografo habituee de Wong Kar Wai.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A noite

"La noche", de Edgard Castro (2016) "A noite" é " Shame " em versão gay, mesclado `a trilogia de Andy Warhol, "Flesh", "Trash", "Heat" e acrescentado da estética e do sexo explicito de "Love", de Gaspar Noé. Aliás , sexo explicito existe aos borbotões aqui no filme. O cineasta, roteirista e ator Edgard Castro protagoniza essa história onde muito pouco se narra, mas muito se mostra. Edgard é um homem viciado em sexo e drogas. ele vaga nas noites de Buenos Aires em busca de sexo com garotos de programa, travestis, mulheres. Sexo sem culpa, sem freios. Nesse vale tudo da cultura hedonista, temos muitas cenas de orgias, clubes do sexo, povo cheirando pó, absolutamente cagando para o futuro. Nesse mundo não existe sexo seguro, e nem isso é uma preocupação. O filme é um verdadeiro tapa na cara da caretice que se instaurou no novo milênio. E' difícil aconselhar esse filme. Além do que, ele é longo, chato, entediante, assim como os filmes de Andy Warhol. Nada acontece de interessante. Um fruto do hiper naturalismo, como se a câmera estivesse escondida documentando tudo, e os personagens ( interpretados por não atores), não soubessem que estão sendo filmados. As cenas de sexo mostradas no filme são corajosas, mas nada excitantes, pois essa nem é a proposta do filme. O sexo é mostrado como uma necessidade, uma urgência para os personagens poderem se manter vivos. Melancólico, triste.

As massagistas profissionais

"As massagistas profissionais", de Carlo Mossy (1976) Clássico da pornochanchada brasileira, realizado em 1976. Revisto nos dias de engajamento social e do politicamente correto, esse filme não poderia ter sido realizado atualmente. Bullying contra obesos, discriminação racial ( orientais e negros), estereótipo do homossexual, abuso sexual contra empregadas domésticas, mulheres vistas como objeto de desejo. glamourização da malandragem. Esse filme só pode ser apreciado se esquecermos tudo isso e nos transportarmos para uma época onde tudo era permissivo. A bem da verdade, o filme tem um humor bastante ingênuo, quase "Os Trapalhões". Muitas gags infantis, besteirol. Obviamente, que tudo acrescentado de mulheres com seios de fora, homens de cueca e muita picardia, e uma visão sobre o sexo livre que nos faz pensar que o mundo já foi muito mais ousado em termos de comportamento. O filme se passa no Rio de Janeiro. O cenário principal é uma casa de massagens, "As Mãos de puro". Seu dono, o Dr Jacinto Bochart, e seu fiel assistente, o gay Florzinha, demitem 2 massagistas. em seu lugar, contratam 2 caipiras do interior de Minas, famosas por ordenhar vacas. O que eles não imaginavam, é que as duas mocas são virgens e fora dos padrões de beleza. Virgem (Wilza Carla) é obesa, e Berta (Tutu Guimarães) é acanhada. Paralelo, temos a história de Dudu, um malandro carioca boa pinta que dá em cima de todas as mulheres que surgem no seu caminho. No elenco de apoio, temos Moacyr Deriquém e Licia Magna, que já eram atores na Globo. Carlos Mossy, na época, já era um famoso ator e diretor de pornochanchadas, e com "As massagistas profissionais", ele obteve mais um grande sucesso de público. Tecnicamente, o filme é bem franco e tosco. As atuações são caricatas, condizentes com o gênero, e é tudo tao over, que acaba ficando involutariamente engraçado. O que dizer das perucas nos personagens de Jacinto e Florzinha, totalmente fakes ( nos créditos finais, vemos que houve apoio das perucas Fizzpan). Alieas no filme todo, muitos merchandisings circulam. Curioso como que na época, os anunciantes não tinham preconceito embotar seus produtos em pornochanchadas. O filme vale como um grande documento histórico da cidade do Rio de Janeiro na época, além de mostrar os costumes.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Tal mãe, tal filha

"Telle mère, telle fille", de Noémie Saglio (2017) Roteirista da divertida come´dia "Beijei uma garota", Noémie Saglio se aventura novamente na comédia romântica, mas dessa vez, assumindo a direção. Com a tarefa de conduzir a diva Juliette Binoche em um filme de gênero, Noémie Saglio tenta, mas o resultado, é apenas um filme morno e sem ritmo, com direito a algumas poucas boas piadas e um amontoado de situações que não fizeram muita graça, com piadas até de mau gosto. Juliette interpreta Mado, quase 50 anos, e mãe da trintona Avril (Camille Cottin). Mado está desempregada, divorciada do marido, o famoso Maestro Marc (Lambert Wilson) e mora com a sua filha e seu genro. Avril anuncia que está grávida, o que irrita profundamente Mado, que não desejava ser avó tão jovem. Para piorar a situação, Mado transa com seu ex e acaba ficando grávida também, mas esconde de sua filha quem é o pai do bebe. Tecnicamente, o filme é bem produzido: fotografia colorida, trilha sonora fofa. A edição que corre frouxa, mantendo uma narrativa sem ritmo. O elenco todo procura ficar antenado com o humor maluco do filme, que ora vai pro caricato, ora pro pastelão, ora pro nonsense. Tem um cachorro, que pertence a Marc, cujas gags remetem a de "Quem vai ficar com Mary"? Eu queria de verdade ter gostado do filme, mas não consegui. A personagem de Juliette é bastante carismática e ela está linda e jovial. Mas a personagem de sua filha é antipática e muito histérica, o que me incomodou.O que valeu a pena, foi constatar que Juliette Binoche ataca em todas as frentes, indo do cinema autoral ao mais puro cinema de entretenimento.

Paris pode esperar

"Paris can wait", de Eleanor Coppola (2016) Na melhor tradição de clássicos românticos como "Shirley Valentine" e " Pão e tulipas", que falam da mulher de meia idade afogada pela rotina da vida de casada e sem perspectiva de uma vida feliz, "Paris pode esperar" é uma apaixonante e apetitosa aventura romântica imperdível para quem curte viagens, gastronomia e paixão avassaladora. E mais: para quem é curioso pelo universo dos produtores de Cinema e festivais, vai adorar assistir ao filme. Diana Lane ( brilhante) interpreta Annie, uma americana casada com um famoso produtor de cinema, Michael (Alec Baldwin). Eles estão no Festival de Cannes. Michael precisa viajar para Budapeste, mas Annie não pode viajar por causa de dor de ouvido. Ela aceita o convite de Jacques ( Arnaud Viard, sensacional), sócio francês de Michael, e pega uma carona de carro até Paris. No entanto, durante o percurso, Jacques apresenta o melhor da gastronomia e do turismo para Annie, que fica indecisa dia te das investidas de Jacques. A cineasta Eleanor Coppola é casada com Coppola e e' mais conhecida pelo seu documentário, "Apocalipse de um cineasta", registrando o dia a dia da filmagem de "Apocalipse now". Aos 81 anos, Eleanor estreia na ficção. "Paris pode esperar" tem em sua protagonista Annie, um alter ego para Eleanor, que assim como a personagem, o acompanhou anos e anos por festivais e por Filmagens tumultuadas. Muito gostoso de se ver, o filme não é nenhum primor, nem inesquecível, mas é tão saboroso quanto as iguarias e locações apresentadas. Para assistir e levantar o astral de qualquer um.

Neve negra

"Neve negra", de Martin Hodara (2017) Hodara foi assistente de direção no cult "Nove rainhas" e agora lança esse ambicioso thriller de suspense nos moldes de "Fargo", dos irmãos Coen. Além de "Fargo", o filme pega emprestado referencia de "O iluminado", usando e abusando do elemento claustrofóbico e do isolamento em região com neve. Unindo dois dos maiores ícones mundiais da Argentina, Ricardo Darin e Leonardo Sbaraglia, o filme, co-produzido pela Espanha, inclui a talentosa Laia Casta, espanhola protagonista do famoso filme de plano-sequência alemão "Vitoria". No filme, acompanhamos o casal Marcos (Sbaraglia) e Laura (Casta). Ela está grávida e eles passam aperto financeiro. O pai morre e ele recebe uma herança milionária, ma apara recebe-la, precisa confrontar o seu passado: rever o seu irmão Salvador (Darin), acusado de ter matado o irmão deles, Juan, quando todos eram crianças e moravam em uma casa na montanha. Desde então, Salvador mora nessa casa isolada. Marcos precisa reencontrar o irmão, e fazer com que assine o contrato de venda do terreno. Mas paira a dúvida sobre o verdadeiro autor do crime. Com bela direção, segura, apoiada no talento dos atores, o filme tem uma atmosfera de constante tensão no ar. A fotografia ressalta bastante o Branco da neve e o vermelho do sangue. Ótima edição de som e trilha sonora. O roteiro se torna óbvio a partir de antes da metade do filme, mas nada que prejudique o entretenimento. Vale como um passatempo pipoca argentino, sem a preocupação de ser mais um clássico de Ricardo Darin.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O espantalho

"Scarecrow", de Jerry Schatzberg (1973) Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme em Cannes, "O espantalho" é um drama independente americano dirigido por Jerry Schatzberg, que jea havia trabalhado com Al Pacino em 1971 no visceral "Os viciados". Fico chocado quando descubro que nem Al Pacino, nem Gene Hackman, sequer ganharam qualquer prêmio de interpretação pelos papéis antológicos nessa história triste e humanista. O filme me lembra bastante a temática e a trajetória dos personagens de "Perdidos na noite", com Dustin Hoffman e John Voight. Max (Gene Hackman) e Lion (Al Pacino) se conhecem em uma estrada. Logo se tornam amigos. Max acaba de sair da prisão e quer seguir até Pittsbutgh, para sacar seu dinheiro e montar um lava-jatos. Lion quer reencontrar sua namorada, que ele abandonou há anos atrás, grávida. Durante o percurso, eles tentam arranjar dinheiro fazendo bicos, e conhecem pessoas que trarão alegria e tristeza em suas vidas. Todo o elenco está fabuloso. Ann Wedgeworth, no papel de Frenchy, uma solitária carente quarentona que seduz Max, e Riley ( Richard Lynch) , um presidiário que tenta estuprar Lion, estão geniais. O filme é repleto de cenas antológicas e de verdade, as performances naturalistas de todo o elenco merecia um prêmio coletivo. A direção de Jerry Schatzberg privilegia o trabalho dos atores e dentro da proposta de naturalismo, existe um enorme espaço para a improvisação. Jerry Schatzberg evita o melodrama, e mesmo na cena do telefonema de Lion com sua ex-namorada, o tom é de amargura. Uma obra-prima que deve ser vista por todos os atores, que aqui testemunharão verdadeiras aulas de interpretação.

terça-feira, 6 de junho de 2017

4:30

"4:30", de Royston Tan (2005) Premiado drama da Singapura, "4:30" narra uma estranha obsessão de um menino chinês de 11 anos, Xiao Wu (o excelente Yuan Xiao Li) pelo seu inquilino, um rapaz coreano com tendências suicidas. Com uma bela premissa homoerótica, o filme fala sobre solidão nas grandes cidades. Ambos moram sozinhos no mesmo apartamento. A mãe de Xiao Wu está sempre ausente, trabalhando em Beijing. Sozinho, o menino acorda todas as madrugadas `as 4:30, para espiar o inquilino, o sedutor Jung, que sempre volta para casa bêbado. Xiao Wu cheira o hashi para saber o que o rapaz comeu, mexe em suas coisas, veste suas roupas e até mesmo corta seus pelos pubianos. Todos os dias, Xiao Wu escreve em seu diário sobre o inquilino, inclusive colando coisas pessoas dele. Belamente dirigido, interpretado e fotografado, "4:30" é um melancólico estudo sobre paixões não correspondidas, a falta de comunicação ( pela idade distante entre os 2, e pela língua, pois eles não falam o mesmo idioma) e a falta de perspectiva na vida. Jung quer se matar pois o rompimento amoroso com sua namorada o deixou depressivo. O filme tem pouquíssimo diálogo, quase todo em imagens longas e poéticas. Lembra bastante o cinema de Hou Hsiao Hsieng, provavelmente uma grande inspiração para Royston Tan.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Prometo um dia deixar essa cidade

"Prometo um dia deixar essa cidade", de Daniel Aragão (2014) Segundo longa do cineasta pernambucano Daniel Aragão, "prometo um dia deixar essa cidade" concorreu no Festival do Rio em 2014, levando o merecido prêmio de melhor atriz para Bianca Joy Porte. Ela interpreta Joli, uma ex-drogada que é liberada da clínica psiquiátrica e volta para o convício social. Retornando para casa, ela precisa lidar com o seu pai (ZeCarlos Machado) e o seu namorado, Hugo (Sergio Marone). Seu pai é candidato a prefeito na cidade, e procura esconder Joli para que a sua condição de viciada não venha a tona e estrague a sua campanha. Joli vai trabalhar em uma Ong para dependentes de crack, mas aos poucos ela vai surtando, misturando realidade e fantasia. Assim como seu filme anterior, " "Prometo.." é um filme de baixo orçamento. A curiosidade fica por conta do seu elenco bastante eclético. Além de Bianca Joy, tem ZeCarlos Machado, Sergio Marone e em participação especial, Miele, no papel do diretor da clinica. O filme tem problemas, tanto no roteiro quanto nas escolhas da direção, que apostou em um tipo de tom que as vezes beira o tosco. Se tivesse apostado em um filme totalmente realista, o longa teria sido mais bem sucedido, principalmente pela entrega visceral de Bianca Joy, que em várias cenas fica completamente nua.

domingo, 4 de junho de 2017

Peso pesado

"Heavy weight", de Jonny Ruff (2016) Curta inglês que tem como o tema a homofobia e o homossexualismo enrustido dentro do universo dos lutadores de peso pesado. Paris é um talentoso lutador de boxe, que treina compulsivamente em uma academia. Um dia, a chegada de um novo lutador, Connor, fará com que Paris entenda a sua vida real, escondida dentro de preceitos de um universo essencialmente masculino e homofóbico. Com bela atuação dos 2 atores protagonistas, o filme é um delicado estudo sobre o quanto precisamos nos privar da felicidade e de ser quem nós realmente somos, em detrimento de uma vida fake mas que agrade a todos os que nos rodeiam. O tema não é absolutamente nada inédito e já vimos isso mil vezes, aqui no curta é apenas um bom produto que vale ser visto para quem aprecia o tema.

sábado, 3 de junho de 2017

Sobre nós

"Sobre nós", de Mauro Carvalho e Thiago Cazado (2016) Delicado e belo drama gay sobre 2 jovens apaixonados, "Sobre nós" foi dirigido, escrito e protagonizado pelo ator brasiliense Thiago Cazado, que co-dirigiu o longa com Mauro Carvalho. Em muitos momentos, o filme lembra bastante a atmosfera de "Hoje eu quero voltar sozinho": fala sobre o encontro de 2 jovens que se apaixonam, tem uma trilha sonora pop romântica, tem drama, humor, melancolia e o mais importante, 2 atores desconhecidos extremamente talentosos. O filme tem um que de auto-biografia de Thiago Cazado: narra a história de Diego (Cazado), fotógrafo e aspirante a cineasta, que conhece Matheus, um estudante de arquitetura. O filme é narrado pelo ponto de vista de Diego, que está escrevendo um roteiro e resolve narrar a sua história com Matheus, que desde o inicio do filme, sabemos que teve um fim. Narrado em tom de melancolia, a história provoca no espectador uma linda emoção do primeiro amor, com muito romantismo e sentimentalismo. O dia a dia, apresentado com um tom naturalista nas performances dos jovens atores, como se tivesse uma câmera registrando a rotina dos personagens. Realizado com recursos próprios pelos dois cineastas, é um baixo orçamento com uma qualidade de fotografia e trilha sonora impressionantes. Um exemplo de cinema barato a ser feito, com muito profissionalismo e talento. O desfecho é emocionante.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Berlin Syndrome

"Berlin Syndrome", de Cate Shortland (2017) Suspense psicológico adaptado do livro homônimo, escrito por Melanie Joost. "Berlin syndrome" estreou no Festival de Sundance 2017, e é uma produção australiana dirigida por Cate Shortland, mesma realizadora do ótimo "Lore". Protagonizado pela australiana Teresa Palmer, de "Meu namorado é um zumbi" e "Até o último homem", e pelo astro alemão Max Riemelt ( de "Sense 8"), foi rodado em Berlin e na Austrália. Teresa interpreta Claire, uma jovem australiana que visita Berlin pela 1a vez. Fazendo uma viagem como mochileira, Claire conhece ao acaso Andi, um professor de inglês, bonito e sedutor. Logo ela se deixa encantar pelo charme dele e resolve passar uma noite com ele em seu apartamento, em um bairro distante e deserto. No dia seguinte, Claire descobre que está presa no apartamento e não pode sair. Fica claro que And é um psicopata que que já tiveram outras mulheres antes dela morando ali. Nesse jogo de gato e rato, Claire precisa entender como fugir dali. O título é uma alusão ao termo "Síndrome de Estocolmo", quando a vitima acaba se apaixonando pelo seu algoz, o que não é o caso aqui. O filme tem umas reviravoltas na trama, mas o que mais me incomodou foram algumas situações que irritam qualquer um: as pessoas não avisam a policia e resolvem sempre investigar tudo sozinhos; porque quando a vitima consegue fugir por uma porta usando a chave, ela não a tranca por fora, deixando-a aberta? A direção de Cate é boa, mas o filme é longo demais, quase 2 horas, e não se sustenta nesse tempo todo, tornando-se repetitivo e sem ritmo. Tivesse meia hora a menos teria sido bem mais interessante. O que vale no filme, é o trabalho da dupla principal, e alguns cartões postais de Berlin.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Comeback: um Matador nunca se aposenta

"Comeback: Um matador nunca se aposenta", de Erico Rossi (2016) Escrito e dirigido pelo cineasta goiano Erico Rossi, "Comeback" é um belo canto do cisne de Nelson Xavier, que aqui interpreta Amador, um pistoleiro aposentado que acaba voltando `as atividades de assassino profissional. Rodado na periferia de Anápolis, o filme tem uma estrutura narrativa que mistura faroeste e filmes de suspense psicológico, com uma pitada de humor negro. Simbolicamente, o filme fala sobre solidão e velhice. Não só Amador envelheceu, como também a sua fiel pistola, que trava na hora de atirar. Com um excelente elenco de apoio (Elcir de Souza, Everaldo Pontes, Paschoal da Conceição, Wellington Abreu, entre outros) e uma estudada direção, o filme tem uma fotografia primorosa e uma trilha sonora regada a canções bregas espanholas e nacionais. O ritmo é bastante ;lento, mas na terça parte final o ritmo ganha um impulso de filme de ação. Divertido, melancólico, o filme foi premiado no Festival do Rio 2016 com o prêmio de melhor ator para Nelson Xavier.