sexta-feira, 31 de julho de 2020

Rise

"Rise", de Barbara Wagner e Benjamin de Burca (2019)
Premiado curta brasileiro que competiu nos Festivais de Berlin, Clermont Ferrand e outros bastante concorridos, 'Rise" é um musical de concepção social, e que parece até um filme de Spike Lee. COm elenco todo negro, o filme apresenta um grupo de imigrantes caribenhos que moram em um centro comunitário que existe no metrô recém inaugurado de Toronto. Poetas, artistas, rappers traduzem em seus textos os sentimentos que emanam de seus dramas sociais.
Com fotografia de Pedro Sotero, parceiro dos filmes de Kleber Mendonça. o filme é um libelo pela intolerância racial e social.

Isso muda tudo

“This changes everything”, de Tom Donahue (2018)
Com as questões de gênero, raça, sexismo e assédio sexual e profissional aflorados no audiovisual, filmes como ‘Revelação”, exibido pela Netflix, que explora o olhar do cinema e tv sobre as figuras trans, e “Isso muda tudo”, que faz um retrato contundente sobre o papel cada vez menor da representatividade feminina na frente a atrás das câmeras, se tornam importantes armas para colocar em pauta a disparidade na hora da contratação. Produzido por várias Associações, entre elas, a Geena Davis Institute on Gender in Media, o filme faz uma descrição minuciosa do papel da mulher na equipe técnica e como atriz no cinema desde o surgimento do cinema, até os dias de hoje. Na maioria das vezes relegada a um segundo plano, a presença feminina nas telas ganhou uma virada histórica com “Thelma e Louise”, de Ridley Scott. Várias atrizes, diretoras e roteiristas dão depoimento dizendo que pela primeira vez, se viram representadas na tela com força, errando, acertando, donas de si. Todas pensaram que o cinema iria mudar depois do filme, mas isso não aconteceu. Mas para Geena Davis, não havia mais volta. O filme mexeu com ela e ela decidiu que precisava ajudar a mudar isso. Outro fator que fez com que Geena Davis criasse seu Instituto: ela percebeu que toda a programação infantil que a sua filha via, a mulher tinha um papel menor, ou era sexualizada, ou simplesmente não existia. Nas princesas da Disney, boa parte ficava à espera de um príncipe, e não tinham vontades próprias.
Na pesquisa, alguns dados alarmantes: Dos 100 maiores sucessos de 2018, 85% dos diretores eram homens, 77,8% dos roteiristas eram homens.
Várias atrizes como Reese Winterspoon, Meryl Streep, Chloe Moretz, Sandra Oh, Taraji P Henson, Nathalie Portman, dão depoimentos. Meryl Streep diz que em “Kramer Vs Kramer”, a sua personagem abandonava a família por questões psicológicas. Na cena do tribunal, onde ela explicava porque abandonou o filho, o roteirista e o diretor escreveram falas que ela não concordou, e ela mesma decidiu escrever a defesa da personagem. Chole dá um depoimento assustador: aos 16 anos, ela foi fazer uma audição, e para sua surpresa, havia um sutiã no trailer. Ela entendeu que os produtores queriam escolher a atriz pelo tamanho dos seios.
Geena, em sua produtora, ao escolher roteiros, percebe que boa parte da descrição das personagens femininas descrevem características sexualizadas.
Sandra Oh diz que quando assistiu “O clube da felicidade e da sorte’, pela primeira vez ela se viu representada como oriental.
A diretora Kimberly Pearson, que dirigiu “Garotos não choram”, só conseguiu rodar seu segundo filme 9 anos depois. Foi o filme “Carrie”, e ela se sentiu coagida e pressionada por uma equipe majoritariamente masculina.
O filme também fala sobre o teste Bechdel, criado na Suécia e que é um teste que avalia filmes onde as personagens femininas não falam sobre homens entre si.
Um momento importante é quando se revela que em quase 100 anos de Oscar, somente uma mulher ganhou o prêmio de melhor diretora: Kathryn Bigelow, por "Guerra ao terror', em 2008.

Todas as cores do Giallio

"All the Colors of Giallo
", de Federico Caddeo (2019)
Importante documentário que descreve o gÊnero cinematográfico de terror italiano "Giallio", celebrizado no mundo inteiro pelos filmes de Dario Argento, Mario Bava e Lucio Fulci, entre outros.
Entrevistando críticos de cinema, historiadores, diretores e atores, o filme fala da origem do título "Giallio", que advém dos livros policiais publicados na Itália nos anos 20, que tinham capa amarela e que narravam histórias de assassinatos. O gênero policial "Krimi", surgido nos anos 60, baseado em obra de Edgar Wallacer, também foi fundamental para trazer a base da narrativa do Giallio. Esses filmes traziam violência extrema, um assassino que só tinha a identidade descoberta no final, e portando luvas de couro pretas. Mario Bava é considerado o precursor do gênero na Itália, com o filme "A bay of blood", em 1971, e que lançou vários códigos para o gênero, principalmente o ponto de vista do assassino. O filme inspirou 'Sexta feira 13". Dario Argento, que era escritor, surgiu na função de diretor com "O pássaro das plumas de cristal". O filme inicialmente foi um fracasso, mas em cidades como Florença e Nápoles foi tão bem recebido, que acabou fazendo sucesso em toda a Itália. O filme dedica um bom tempo aos filmes de Argento, que instituiu o sobrenatural e as mortes coreografadas ao gênero. É maravilhoso poder ouvir Argento contar histórias de bastidores. HItchcock teria dito, após assistir "O pássaro das plumas de cristal": Esse italiano está me preocupando".
Outros diretores explorados: Sergio Martino, Umberto Lenzi, Luciano Ercoli.
Obrigatório para cinéfilos. Eu mesmo j;a vou procurar assistir uns 10 filmes citados aqui.

Zumbis no canavial- O documentário

"

"Zombies in the Sugar Cane Field. The Documentary ", de Pablo Schembri (2019)

Ótimo documentário argentino, escrito e dirigido por Pablo Schembri, que traz à luz uma história inusitada: Em 1965, no município canavieiro de Tucuman, na Argentina, foi rodado um filme, dirigido por Ofelio Linares Montt e produzido pelo seu amigo Manucho Miranda, chamado 'Zumbis no canavial". O filme, se apropriando do tema de zumbis, usa a metáfora dos pobres e oprimidos se rebelando contra os ricos e burgueses. O filme fez enorme sucesso em exibições nos Estados Unidos e no Brasil, mas quando foi apresentado ao conselho de censura da Argentina, foi proibido e sua cópia confiscada e jamais devolvida. Pior: a produtora de Manucho pegou fogo e o negativo se perdeu, o filme não existe mais, apenas o trailer e algumas fotos de still. Fora isso, o produtor resolveu processar George Romero, alegando que seu clássico "A noite dos mortos vivos", considerado a pedra filosofal dos filmes de zumbis, copiou o seu filme descaradamente. Como não existe cópia do filme, o processo foi arquivado. Manucho acabou falecendo, segundo sua fila e sua esposa, de tristeza.

O filme acompanha o fã de filmes de terror Luciano Saracino, que sai em busca do roteiro original. Entrevistando vários críticos e historiadores de cinema, o filme também faz um pequeno retrospecto dos filmes B e exploitation americanos, italianos e chineses. Um filme delicioso, uma jóia para fãs de cinema e principalmente, terror.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Trem para Busan 2: Península

"Train to Busan 2: Península", de Sang-ho Yeon. (2020)
4 anos depois do grande sucesso do filme anterior, "Trem para Busan", que sacudiu o Festival de Cannes em 2016, com a história da invasão de zumbis na Coréia do Sul e a fuga dos sobreviventes em um trem, o diretor Sang-ho Yeon retoma o mote. Quatro anos depois da invasão e do isolamento da Coréia, deixando para trás uma Ilha repleta de zumbis, os sobreviventes foram levados de navio para Hong Kong. Sofrendo bullying dos chineses, que os consideram escória, dois irmãos coreanos são contratados por um mafioso para voltar para a coréia e trazer um carregamento de 10 milhões de dólares que estão dentro de um caminhão. Às escondidas, eles conseguem voltar para a Ilha, que foi cercada por segurança nacional, mas chegando lá, encontram outros sobreviventes que são tão malvados do que os zumbis.
O filme pega o mote da série "Walking dead", onde os sobreviventes se tornam mais cruéis que os zumbis. Infelizmente, o filme não chega nem perto do original, que era muito mais criativo e por isso, a razão do sucesso. Esse aqui se apropria do título "Trem para Busan", mas nem trem tem. Aqui o roteiro é bobo, fala sobre ganância, e ainda tem tempo de inserir dramas familiares. Os efeitos parecem ter sido feito às pressas, dá para perceber nitidamente a diferença de textura. Para quebrar o galho e ser um passatempo, dá para se levar, mas sem ter muita exigência.

Faz que vai

"Faz que vai", de Benjamin de Burca e Bárbara Wagner (2015)
Escrito e dirigido pela dupla Benjamin de Burca e Barbara Wagner, ele alemão, e ela brasiliense radicada em Pernambuco, esse premiado curta apresenta 4 dançarinos de frevo, uma dança popular do Nordeste. O filme, lindamente fotografado por Pedro Sotero, o fotógrafo de Kleber Mendonça, pauta a questão de raça e gênero, apresentando dançarinos pretos, trans e gays. Dançando com muita energia, garra e vibração, e exalando alegria, a metáfora do filme provoca o espectador, que se encanta com a liberdade e a desenvoltura de pessoas tão talentosas em uma máscara de um frevo, mas que talvez não encontrem esse reflexo na vida real, pautada por crimes contra negros e trans.O título, "Faz que vai", é o nome de um passo de Frevo que simula um momento de instabilidade

Hanna K


"Hanna K", de Costa Gavras (1983)
 Costa Gravas é um dos cineastas mais celebrados mundialmente, e igualmente polêmico. Difícil dizer um filme de sua filmografia que não tenha provocado discórdia ou grande celeuma polarizada. Mas poucos foram tão agredidos e atacados quanto "Hanna K". Na época de seu lançamento, 1983, os movimentos para que o filme saíssem de cartaz, além das críticas negativas, fora, decisivas para que tivesse uma vida curta no circuito. Quase não circulou em Festivais, apesar da performance irretocável de Jill Clayburgh. Realizado após a sua ora-prima "Missing", que venceu a Palma de Ouro em Cannes, a expectativa sobre "Hanna K" era enorme. Mas assim que estreou, o desconforto foi enorme: O filme , filmado em Israel e na Palestina, deixa clara a sua simpatia à causa dos palestinos. Foi o suficiente para que Israel condenasse o filme. "Hanna K"conta a história de Hanna Kayffman, que por conta da separação com o seu marido francês, usa o sobrenome K. Essa metáfora sobre uma mulher descendente de sobreviventes do Holocausto, e que imigrou dos Estados Unidos para morar em Israel, traz o conflito de Hanna, que não se vê culturalmente associada à cultura judaica. Hanna é advogada, e convocada para defender um palestino, Salim, acusado de invadir ilegalmente as terras israelenses e por isso, considerado terrorista. Aos poucos, Hanna descobre que Salim é herdeiro de uma família dona de terras em Israel, mas com o surgimento do Estado de Israel em 1948, foram expulsos de suas terras.
Dirigido com garra por Costa Gavras, e cm fotografia do mestre argentino Ricardo Aronovich, o filme é prejudicado por um roteiro que mostra Hanna sendo cortejada por 3 homens!!!!!!! Além de seu ex, o amante, o advogado de acusação Joshua (Gabriel Byrne) e depois, o seu cliente, o palestino Salim. Esse exagero de tramas de romance acabam enfraquecendo a grande história do filme, que é o conflito moral de Hanna em relação ao seu País. Mesmo assim, é um filme que vale ser visto, e certamente, discutido.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Ilha da Fantasia

"Fantasy island", de Jeff Wadlow (2020) Sabe aquele filme que você fica toda sacudindo a cabeça em reprovação e pensando pra você mesmo, "Isso não pode estar acontecendo/". Assim é "A ilha da Fantasia", o reboot da famosa série de tv que ficou no ar de 1978 a 1984, celebrizando a frase "Um avião, um avião", dito em voz alta por Tattoo (Hervé Villechaize), assistente do Mr Roarke (Ricardo Montalban). Pois essa série ficou tão famosa que até hoje está no imaginário do público. Mas o filme, dirigido por Jeff Wadlow e roteirizado por Jillian Jacobs, Christopher Roach e Jeff Wadlow é tão, mais tão bizarro, que é difícil até descrever o roteiro. Em primeiro lugar, o filme é um prequel do seriado, ou seja, acontece antes do seriado e conta as origens da ilha e de onde vem a realização dos desejos. O filme, pasmem, esquece toda a magia do seriado e sabe-se lá o porquê, resolveram transformar em um filme de terror, uma mistura insana e ruim de "Twilight zone", "Jogos mortais", "Relatos selvagens"e todos aqueles filmes de vingança. Um grupo de 5 convidados, que ganharam pela internet uma estadia na Ilha de Fantasia, chegam ao local e conhecem Mr Roarke (Michael Pena, perdido em cena), e sua secretária, Julia ( Parisa Fitz-Henley, uma subversão de Tattoo). os desejos são loucos, e o desenvolvimento da história, sem pé nem cabeça, envolvendo até zumbis e uma referência a Jason em 'Sexta feira 13". Fosse ruim, seria divertido, mas não é uma coisa nem outra. Uma pena, e o final ainda supõe haver uma continuação.
"Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita não É um Urso que Dança", de Thiago B. Mendonça (2016) Vencedor da Mostra de Tiradentes em 2016, "Jovens infelizes..." é dirigido pelo premiado curta-metragista e documentarista paulistano Thiago B. Mendonça, que aqui arrisca uma mistura de gêneros e linguagem. Se aproximando da narrativa da Nouvelle Vague e do cinema marginal, 'Jovens infelizes" não tem uma definição certa sobre que filme é. É teatro filmado, é ficção, é documentário, são sketches dramatizadas. Dividido em 6 passagens ou capítulos, misturando cenas em cor e preto e branco, o filme fala sobre o desencanto de uma geração mediante os caminhos d apolítica no Brasil ( vale mencionar que o filme foi rodado entre 2013 a 2015, na transição do Governo de Dilma e Michel Temer). Um grupo de atores (interpretados por Renan Rovida, Camila Urbano, Alex Rocha, Clarissa Moser, Ieltxu Ortueta, Rafaela Penteado, Cel Oliveira, expoentes do teatro de raiz) moram em uma espécie de república: entre um discurso esquerdista contra a sociedade burguesa, existe um hino da Nacional socialista, existem cenas de orgias viscerais, existem encenações teatrais ao vivo, com platéia. A revolta social e política , tanto na ficção, quanto na vida real ( foram gravados momentos do grupo desafiando a polícia durante a manifestação contra a Copa do Mundo em 2014, contra o aumento da passagem de ônibus que gerou um quebra quebra dos black bocs, e outros manifestos). tem uma cena bastante ousada e polêmica de uma celebração de um casamento na igreja, e na hora dos votos dos presentes, rola uma grande orgia. Definitivamente, não é um filme para todos. Para fãs de Cinema marginal, de uma arte visceral e provocativa, o filme é um prato cheio. Para conservadores, melhor ficarem bem distante do filme.

Swinguerra

"Swinguerra", de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (2019) Representante do Brasil na 58a Bienal de Veneza 2019, "Swinguerra" é um belíssimo documentário musical LGBTQIA+ pernambucano, cujas coreografias remetem ao clássico "West side story". O elenco é formado por dançarinos de três companhias de dança pernambucanas:Cia. Extremo, La Máfia e O Passinho dos Maloka. O grupo é formado por pretos, trans e não binários, uma representação da diversidade de gêneros, e que metaforicamente, fazem uma crítica contundente ao Governo que prega o conservadorismo e é contra a questão da diversidade. Os diretores são a brasiliense Barbara Wagner e o alemão Benjamin de Burca, que também assinam o roteiro. Segundo a diretora, o filme homenageia a swingueira, "uma espécie de atualização de um conjunto de tradições como a quadrilha, a escola de samba e o trio elétrico, praticada de forma autônoma e independente por jovens que se encontram regularmente em quadras esportivas na periferia do Recife. É um fenômeno que nasce da necessidade de integração social, passa pela experiência de identidade e chega ao palco e ao Instagram como uma forma de espetáculo alimentado pelo mainstream, mas que sobrevive absolutamente fora dele”. Com coreografias arrojadas belamente filmados, é um filme com mensagem clara e imagens fortes. Um registro do talento de artistas brasileiros, que passam o ano todo ensaiando a coreografia para poder disputar em competições dentro e fora do País.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Mentira nada inocente

"White lies", de Yonah Lewis e Calvin Thomas (2019) Premiado em diversos Festivais, incluindo melhor filme em Miami 2019, "Mentira nada inocente" é um drama baseado em história real, ocorrido no Canadá em 2012. Katie Arneson (Kacey Rohl, em atuação memorável) tem câncer. Por conta de sua doença, ela virou uma celebridade na sua Faculdade de dança. Cortejada pelos colegas, que contribuem com dinheiro para uma campanha levantada por ela, matéria de capa de revista da faculdade, Katie é um sucesso. Mas Katie esconde uma grande mentira: o seu câncer não existe, e ela forjou a doença para arrecadar dinheiro. Quando a instrutora da faculdade pede para ela uma cópia do exame médico comprovando a doença, para ela poder se habilitar à uma bolsa, Katie se apavora. Ela tem 2 dias para conseguir forjar um exame, que custa caro, e ela precisa urgente conseguir o dinheiro. O mais complexo de se assistir ao filme, é que é impossível se apiedar pela protagonista. Ela não faz o mínimo esforço em ser simpática, e engana absolutamente a todos: além dos colegas, ela engana seu pai, sua namorada e tenta extorquir dinheiro de todos. A dupla de diretores e roteiristas Yonah Lewis e Calvin Thomas conseguiram a proeza de fazer o espectador acompanhar o filme até o final, e trazendo um ritmo de suspense, uma tensão para descobrimos se Katie conseguirá ou não entregar os documentos a tempo. Um belo trabalho de direção e de atuação, com participação especial de Martin Donovan, ator fetiche dos filmes de Hal Hartley.

Esperança

"Håp ", de Maria Sødahl (2019) Premiado no Festival de Berlin 2019 e em outros festivais importantes, "Esperança" é o tipo de drama visceral que você já viu mil vezes, mas sempre vale assistir porquê o tema propõe um show de atuação. Eu amo filmes sobre personagens que descobrem ser pacientes terminais e com pouco tempo de vida, pois certamente virá uma atuação digna de prêmios. Andrea Bræin Hovig e Stellan Skarsgård, dois dos maiores astro suecos da atualidade, interpretam o casal Anja e Tomas. Ela, diretora e coreógrafa de um grupo teatral, descobre ter um câncer no cérebro, sem chance de cura. Estamos na véspera de Natal, e ela teme dar a noticia para os filhos. Ao passar dos dias, vamos descobrindo que a aparente felicidade do casal era tudo fachada para uma relação infeliz. Bem dirigido, com ótimos diálogos, contundentes, o filme tem uma personagem muito complexa, defendida com maestria por Andrea Bræin Hovig: o de defender uma personagem que, a medida que os dias passam e a insegurança e o medo dela aumentam, ela vai se tornando mais cruel, antipática com as pessoas. Não é um filme fácil de se assistir pela sua natureza dramática e depressiva do conteúdo. Mas vale o ingresso pela performance, certamente.

O dia depois que você partir

"The Day After I'm Gone", de Nimrod Eldar (2019) Sou apaixonado por filmes depressivos. Esse premiado drama israelense, que circulou em importantes Festivais mundo afora, como Berlin e Mostra de São Paulo, tem como tema feridas que não cicatrizam. Pessoas feridas, uma cidade ferida, animais feridos. Yoram, um veterinário de meia idade, trabalha em um safari de Tel Aviv. Ele passa mais tempo cuidando dos animais do que de sua filha, a adolescente Roni, órfã de mãe, a quem ela era íntima, e que morrer de grave doença. Yoram e Roni quase não se falam pai. A dôr da perda da esposa e mãe afastou pai e filha. Uma noite, paramédicos batem na porta de Yoram e avisam que receberam um código via chat de que Roni tentou o suicido. Quando o pai abre a porta, sua filha está desacordada, após tomar uma cartela de comprimidos. Quando a filha se recupera, Yoram resolve tirá-la da cidade e levá-la até a periferia de Israel, e visitar a família, que não se falam há muito tempo. Mas a família cobra uma postura de Yoram e de Roni, piorando a situação. O filme começa de forma documental, apresentando a rotina de Yoran no safari. Muito depois, vamos conhecer a sua vida pessoal. É uma narrativa pesada, fria, sem emoção. Com roteiro e direção de Nimrod Eldar, o filme apresenta o tema da falta de comunicação, com performances espetaculares do elenco. Não é um filem fácil de se ver, não somente pelo tema, duro, mas também pelo ritmo lento. A cena do embate com a família é um primor de interpretação.

domingo, 26 de julho de 2020

Sem controle

"Spetters, de Paul Verhoeven (1980) É impressionante perceber que Paul Verhoeven faria, 7 anos depois, o seu primeiro clássico americano, "Robocop", em 1987. Até então, Verhoeven fazia filmes independentes malditos, com cenas de extrema violência, sexo explícito, tabus, misoginia, amores bizarros e doentios. Depois de "Sem controle", ele faria "O quarto homem"e o seu primeiro filme de ação, anda na Holanda, "Conquista sangrenta", que lhe abriu portas para Hollywood, fazendo uma carreira de sucesso: além de "Robocop", faria "O vingador do futuro" e depois, "Instinto selvagem". "Sem controle" é um filme desesperançoso, que apresenta 3 jovens amigos, Fientje, Rien e Eef. Inconsequentes, são apaixonados por aventura, mulheres, bebidas e música que varia entre a Disco music, Abba, rock indie. Quando um casal de irmãos chega na cidade, os três procuram seduzir a moça. O filme foi fortemente criticado pela sua misoginia, racismo e homofobia: em uma cena, um rapaz é estuprado por uma gangue. Além dessa cena, o filme apresenta cenas de sexo explícito. Verhoeven nunca escondeu de ninguém a sua predileção por fetiches e tabus: adora cenas de estupro e adoro expôr os instintos mais animalescos do ser humano. É definitivamente um cult obscuro, corajoso, ousado/ Titger Hauer, ator fetiche de Verhoeven, que já trabalhou com ele em "Delícia turca" e "Conquista sangrenta", também começou a trabalhar em filmes de Hollywood muito graças aos filmes de Verhoeven.

Um dia na Disney

"One day at Disney", de Fritz Mitchell (2019) Excelente documentário que entrevista profissionais talentosos em cada braço da Disney. O filme faz um retrospecto da Empresa criada em 1920 por Walt Disney, com imagens históricas do terreno da Califórnia sendo aos poucos ocupado pelo mais famoso parque temático do mundo, atualmente com várias filiais distribuídas no Mundo, como zOrlando, Shangai e Paris. O filme é obrigatório para empreendedores, produtores, criativos, animadores, artistas que um dia sonham em trabalhar na Disney ou que querem usar o exemplo da Empresa para fortalecerem a sua própria. É clara a mensagem de evolução na Empresa, abraçando histórias e equipe diversificadas em gênero, etnia e talentos. "Um dia na Disney" entrevista profissionais da Pixar, Disney, Abc, Musical da Broadway, funcionários da Disneyland, da Marvel, da LucasfIlm, e principalmente, o atual CEO da Disney, Bob Iger, todos têm um ponto em comum: quando crianças, assistiram filmes da Disney e se sentiram tocados pela mensagem, e desejaram um dia trabalhar na empresa. Além de Bob Iger, o filme entrevista um animador da Disney, uma diretora de arte chinesa da Pixar, um escultor, um condutor de trem do parque da Disney, a apresentadora do "Good morning America", programa da Abc, uma atriz do musical 'The lion King" e outros. Ouvir os seus depoimentos edificantes, de luta, de buscar sempre se aprimorar, de focar, e como diz a ilustradora chinesa, parafraseando a frase de Dory, 'Nade sempre". Jamais desistir, saber trabalhar em equipe, extrair melhor que cada colega tem, compartilhar e semear. Tudo parece óbvio, mas quando você ouve esses profissionais falando, de onde vieram e onde estão agora, faz sentido acreditar e não achar que é clichê. Claro que o filme traz cena de desenhos famosos, de Star Wars, filmes da Marvel, Pixar, além de trecho de "Circle of life", cantada na Broadway, e o que gente faz, que cresceu com Disney desde criança, é chorar de emoção. O filme ainda lida com emoção dos problemas pessoais de cada profissional, lidando com câncer, morte na família, fracassos e a virada na trajetória, graças à paixão que têm pelo que fazem.

sábado, 25 de julho de 2020

You don’t Nomi- o curioso fascínio por “Showgirls

“You don’t Nomi”, de Jeffrey McHale. Que maravilha esse documentário, que traz à tona o culto a “Showgirls”, o filme de Paul Verhoeven que foi destruído pela crítica quando lançado em 1995. Hoje em dia, mais de 20 anos depois, foi alçado à categoria de cult pelo público, reverenciado por muitos críticos, ganhou uma versão musical de grande sucesso no teatro e um livro escrito pelo crítico Adam Neyman, que resgata o filme, enaltecendo o roteiro, as qualidades técnicas e a força imagética. O filme traz um retrospecto da carreira de Verhoeven, descrevendo os seus filmes holandeses, e depois, a fascinante carreira em Hollywood, realizando grandes blockbusters, como “O vingador do futuro”, “Robocop”, “Instinto selvagem”, “Tropas estelares”, “O homem sem sombra” e finalmente, o seu retorno aos filmes europeus. Mas o filme é sobre “Showgirls”, e o documentário comenta temas bastante comuns aos filmes de Verhoeven: vingança, estupro, fetiche por unha, nudez, cenas de sexo viscerais e quase pornográficas. Após o grande sucesso de “Instinto selvagem”, o filme que em 1992 sacudiu o puritanismo americano, Verhoeven recebeu carta branca para continuar com o tema do erotismo em uma trama dramática. Com o mesmo roteirista Joe Ezterhas, desenvolveram ‘Showgirls”, um drama lésbico, baseado na trama de “A malvada”, sobre ambição e ganância. O filem foi acusado pela crítica na época de ser lixo, obra-prima de merda, o elenco teve a carreira destruída, principalmente Elisabeth Berkley, que havia acabado de sair de uma sitcom de sucesso para enfrentar uma personagem que ela acreditava poderá mudar sua vida para melhor, mas o resultado foi o oposto. Durante décadas Berkley teve a sua performance sacaneada, ganhou o Framboesa de pior atriz ( Verhoeven foi a primeira pessoa a receber pessoalmente os Framboesas, de Pior filme e diretor, e agradeceu). Mais de 20 anos depois, o filme foi alçado ao status de cult ( o documentário apresenta exemplos de filmes massacrados que viraram cult, como “Xanadu”, “Mamãezinha querida”). Em um evento para comemorar os 20 anos do filme, Elisabeth Berkley esteve presente, para uma plateia de 4 mil pessoas, que a ovacionaram. Em entrevistas, ela tem falado sobre a segunda vida do filme, e como ela agora se sente mais à vontade para falar do filme, que por muito tempo, e demonizou. O crítico Adam Neyman entrevista Verhoeven e relata o quanto o filme é bom, e o livro está em sua segunda edição. Um filme muito interessante para se entender mais sobre a definição de cult e de marketing.

Essa estranha atração

“Torch song trilogy”, de Paul Bogart (1988) Rezo para um dia poder ver esse texto primoroso ganhar de volta os palcos. Vencedor dos Tonys de melhor espetáculo e melhor ator para Harvey Fierstein, “Torch song trilogy” teve sua estréia na Broadway em 1982. Escrito por Harvey Fierstein, baseado em sua história. O espetáculo foi adaptado pelo próprio Harvey Fierstein para as telas. Matthew Broderick já havia encenado nos palcos, mas em outro papel, o de David, o filho. Agora, ele interpreta Alan, o namorado de Arnold (Harvey Fierstein), uma drag queen que faz parte de um grupo que se apresenta emu ma casa noturna de Nova York. O filme, que cobre todo os anos 70, antes do advento da Aids, se passa em 3 épocas: o envolvimento de Arnold com Ed (Brian Kerwin), por quem se apaixona, mas depois descobre ser bissexual e rompe a relação. Três anos depois, Arnold se envolve com Alan (Broderick), um modelo assumido e que resolvem morar juntos e adotar uma criança. Em 1980, Arnold mora com David, seu filho adotivo de 16 anos. Arnold prepara a casa para receber sua mãe judia e supre protetora, Ma (Anne Bancroft), que nunca aceitou a homossexualidade do filho. A direção de Paul Bogart acerta o tom do filme, evitando a teatralidade, apesar dos diálogos longos, mas poderosos, variando no drama, comédia com bastante emoção. É um crime a Academia do Oscar não ter indicado Harvey e Anne Bancroft para as suas performances. Ambos estão brilhante se fascinantes, em embate antológico. Um filme honesto, contundente, divertido e que fala do orgulho gay e da homofobia com bastante verdade, sem caricatura. E Arnold ainda precisa lidar com a religião judia, que sempre o fez se sentir culpado pela sua vida. Obrigatório, aula de atuação.

Starfish- Vozes e segredos

"Starfish", de A.T. White (2018) Premiado drama de horror e ficção científica, 'Starfish" é uma metáfora sobre o luto e sobre o perdão. O interessante do filme é trazer uma atmosfera de produção independente que é, e mesclar com monstros bem realizados por computação gráfica. Aubrey (Virginia Gardner, presente em todos os planos do filme, visceral), está no velório de sua amiga Grace, que morreu de câncer. Aubrey se distanciou de Grace por conta de um namoro tempestuoso com seu ex- namorado, Edward. Sentindo-se culpada, Aubrey invade o apartamento de Grace e fica por ali, tentando reviver memórias da amiga. Aubrey encontrar escritos e também uma carta pedindo para que ela junte 7 fitas K-7 e tocá-las na estação de rádio. Quando acorda no dia seguinte, Aubrey percebeu que todos desapareceram, e que monstros invadiram o mundo. O filme é repleto de alegorias, Aubrey precisa se livrar de seus demônios internos para poder seguir sua vida. Ou se preferirem, podem levar o filme ao pé de letra, e acreditar que o mundo acabou e está dominado por monstros, e Aubrey precisa juntar as fitas para poder fechar o portal que liberou a entrada dos demônios. Seja qual for a interpretação, é um filme belíssimo, com excelente fotografia, enquadramentos, e a atriz Virginia Gardner está excelente. Mas não é um filme fácil: não existem explicações e tudo corre mesclando linguagens e narrativas: tem um trecho de desenho animado, e pasmem, um trecho onde Aubrey se vê no próprio set de filmagem!!!!!! Para quem liberar a mente, vai curtir.

The rental

"The rental", de Dave Franco (2020) Ótima estréia do ator Dave Franco na direção, "The rental" faz parte daquele sub-gênero de filmes de suspense e terror, que é o de inquilinos ameaçados pelos locatários. A novidade é que aqui, o Airbnb faz parte desse rol de proprietários serial killers que resolvem brincar com as pessoas que alugam suas casas. Dois casais, os irmãos Charlie (Dan Stevens, a Fera de "A bela e a fera"), e Josh, um ex-drogado e presidiário. passam um final de semana em uma casa que alugam, acompanhados de suas esposas. Uma casa isolada, na costa, cenário ideal para a ação de um assassino. O roteiro se baseia em todos os clichês que você já viu muitas e muitas vezes, mas isso não inviabiliza a produção. Dave Franco, que co-escreveu o roteiro com Jon Swanberg, o Rei dos filmes Mumblecore ( de baixíssimo orçamento), calçam sua história com a ótima interpretação dos atores, que fazem tudo ficar mais crível. Dave filma bem, dando ritmo, belos enquadramentos e decupagem. Uma ótima atmosfera de suspense, que provoca alguns sustos.

Cisne de cristal

"Khrustal", de Darya Zhuk (2019) Premiado em diversos Festivais internacionais, "Cisne de Cristal" é um ótimo drama da Bielorussia, e foi indicado pelo seu país para concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2019, 22 anos depois de sua última participação no evento. O filme se passa no ano de 1996, poucos anos depois da sua separação da União Soviética, ocorrido em 1991. Muitas pessoas ainda não aceitaram o fim do comunismo e da independência, alegando que ficaram mais pobres e sem o suporte do governo. Velya (Alina Nasibullina, excelente) é uma jovem Dj, amante da House, e que sonha em morar em Chicago, berço americano do gênero da música eletrônica. Viyela quer aplicar para o Visto americano no consulado, mas sem um emprego fixo, ela sabe que não conseguirá. Viyela compra no mercado negro um documento de uma fábrica dizendo que ela trabalha como gerente e tem emprego fixo. No entanto, o seu namorado, Alya, um porra louca drogado, preenche um número aleatório de telefone na ficha. O consulado diz que irá ligar ara o numero para confirmar que ela trabalha lá. Desesperada, Vyela rouba dinheiro de sua mãe para viajar e seguir uma cidade chamada Crystal, onde boa parte da população trabalha em uma fabrica de fabricação de artigos de cristal. Vyela descobre o paradeiro do número do telefone: uma família de desajustados, e ela fará de tudo para poder atender o telefone da casa quando o consulado ligar. Mesclando forte crítica social ( desemprego, fim do comunismo, falta de perspectiva) , o filme traz um delicioso humor que remete muito aos filmes de Emir Kusturika. O roteiro é genial, e dá vontade de fazer uma versão brasileira, onde burocracia, sociedade patriarcal e corrupção andam de mãos dadas. O filme tem uma ótima trilha repleta de clássicos de House dos anos 90.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Sempre você

"Un'avventura", de Marco Danieli (2019) Talvez o primeiro drama romântico musical italiano contemporâneo, é evidente a influência de "La La Land" no filme. O filme fala sobre sonhos, desejos profissionais, romance, primeiro amor, separações, reencontros, e tudo isos embalado por muita música e coreografia. Escrito por Isabella Aguilar, o filme acompanha o casal Matteo e Francesca pelos anos 70, desde o período da flower power, até o surgimento da Disco Music. É uma delícia de assistir. Infelizmente o roteiro é bem frágil, apostando em uma história de amor que não traz novidades, aqueles eternos vem e vai na relação, triângulo amoroso, etc. O que faz valer assistir, é ouvir as canções cantadas em italiano, em gêneros bastante ecléticos, com referência a "Hair" em seu primeiro ato, e as lindas locações na Itália. É um filem bonito, bem defendido pelo elenco, e com pitadas de humor e bastante romance. Valeu super a sexta feira de noite.

Murder death Koreatown

"Murder death Koreatown", de Anônimo (2020) Ótimo exercício de found footage que provoca o espectador, transitando no limite entre o que é ficção e o que é documental. É tão inusitado, que o filme não tem ficha técnica: não tem nome de elenco, personagens, roteirista, diretor, absolutamente nada. Na mídia, não existe assinatura do filme, nem d roteiro ou produção, e tudo fica como "anônimo". O filme é baseado em uma história real: em 2017, no bairro Koreatown, habitado por coreanos em Los Angeles, um mulher assassina seu marido. O vizinho da frente, o anônimo, autor do filme, registra no dia seguinte as manchas de sangue na rua, e começa a investigar por conta própria o que poderia ter feito a mulher assassinar seu marido. O anônimo é casado, mas ele mesmo está desempregado há um tempo, sendo sustentado pela espoa. À medida que ele avança na investigação, ele percebe que existe uma consagração que envolve culto satânico, pastores do mal, uma garagem que é a porta para o Inferno, inscrições na parede que podem indicar frases malígnas. Sua esposa nem as pessoas que ele entrevista acreditam nele, até que fatos estranhos passam a ocorrer. Quem curte Found footage, vai gostar de ver esse respiro no gênero, que realmente instiga pela sua atmosfera "amadora": som sujo, fotografia desfocada, personagens que mais parecem pessoas reais que foram abordadas na hora. O mais interessante do filme, é ver, ao longo do filme, o processo de loucura pelo qual passa o protagonista que jamais se deixa filmar. O roteiro arma bem, deixando o próprio espectador acreditando que o que o homem diz, pode ser real.

Meus encontros com Amber

"Dating Amber", de David Freyne (2020) Aiiii, que lindo esse filme irlandês. Uma comédia dramática LGBTQIA+, "Namorando Amber" acontece no ano de 1995, e acompanha dois personagens, e seus conflitos de sexualidade: os adolescentes Eddie (Fionn O'Shea, excelente) e Amber (Lola Petticrew, brilhante). Na escola onde estudam, ambos sofrem bullying de todos os colegas. Tanto Eddie quanto Amber são confrontados pela suposta homossexualidade: todos chamam Eddie de gay e Amber de sapatão. Confrontados pelos estudantes, pelas famílias e no geral, pela sociedade, ambos decidem se passar por um casal de namorados. O pai de Eddie, um militar, quer que ele preste serviço militar e vá lutar em uma guerra. Eddie não tem a mínima habilidade para o exército, mas se sente pressionado pelo pai a apresentar uma persona machista que ele não tem. Tudo vai indo bem no namoro fake, até que os dois vão para uma boite gay, e ali, Amber se apaixona por Jill, uma lésbica assumida, e Eddie tem o primeiro beijo com um rapaz. Com um roteiro delicioso, repleto de momentos românticos e dramáticos, e com um time excelente de atores irlandeses, o filme ainda possui uma trilha gostosa com músicas dos anos 90 e um visual que eu amo nos filme da região. Super recomendado.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Pulador

"Podbrosy", de Ivan I. Tverdovskiy (2019) Premiado em diversos festivais, "Pulador"é um filme russo que lembra bastante o filme húngaro "Lua em Júpiter". Ambos lidam com a fantasia e o protagonismo de um super -herói realista, um jovem que possui poderes, e através dessa história, o filme expõe a corrupção nos poderes: polícia, juizado e medicina. Denis é abandonado pela sua mãe Oksana em um orfanato quando era bebê. 16 anos depois, sua mãe vem para buscá-lo. Logo descobrimos o motivo: Denis possui uma rara doença que o torna imune à dor. Sabendo disso Oksana forma um pequeno grupo de corruptos: uma médica, um policial, uma juíza e uma advogada de acusação, que juntos, forjam crimes; Denis se joga em frente de carros de pessoas ricas, para poder ganhar dinheiro em cima deles. Mas Denis aos poucos, é punido pelo grupo quando não age de acordo, e osso faz com que ele reflita sobre os seus atos. Um filme bastante curioso, com boa direção, com roteiro escrito pelo próprio cineasta. O filme apresenta um sistema podre na Rússia, uma metáfora de um País em crise.

Equinox

"Equinox", de Jack Woods e Dennis Murren (1970) Cult de terror de 1970, um clássico absoluto que teve a grande honra de ser convidado para fazer parte da The Critterion Collection, filmes considerados relevantes para a história do cinema. "Equinox" foi a grande referência para Sam Raimi dirigir nos anos 80 seu clássico 'Eil dead": a história é praticamente a mesma. "Equinox" é uma verdadeira pérola do cinema: hoje em dia muitos o verão como um filme trash, mas na época foi um grande assombro de técnica: um filme de terror, com os demônios realizados através da técnica do stop motion. O filem custou 8 mil dólares, e é um prodígio de criatividade do estudante da Pasadena City College, Dennis Murren, que realizou com Dave Allen e Jim Effort ( que inclusive batizam os personagens do filme) um curta intitulado "The Equinox ... A Journey into the Supernatural". Uma pequena produtora viu o filme e sentiu um grande potencial, contratando o editor Jack Woods para filmar cenas adicionais e transformar em um longa. Baseado em contos de Lovecraft, o filme conta a história de 4 amigos, dois casais, que vão de carro saber do paradeiro de um geólogo, amigo de Jim. Chegando na região, descobrem que o professor desapareceu. Em uma caverna, conhecem um idoso que lhes entrega um livro proibido, o Necrominion. Durante um piquenique, Dave l6e trechos do livro, e acaba liberando, sem querer, demônios que os perseguem. O filme tem um quê de "O Exorcista", antes mesmo do famoso filme de "Willian Friedkin, com temas sobre exorcismo. e possessão demoníaca. O filme é ma delícia cinéfila: com péssimos atores, e por isso mesmo uma diversão sem fim, com efeitos toscos, e muito motivo para gargalhar. Mas no final, fica muito evidente a paixão pelo cinema de todos os envolvidos, um Ed Wood do terror juvenil, uma prova de criatividade e de realização acima de qualquer empecilho orçamentário.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Somente os animais

“Seules les bêtes ”, de Dominik Moll (2019) O cineasta alemão Dominik Moll, radicado na França, tem em sua filmografia um grande cult do suspense, o excelente “Harry, o amigo que chegou para ficar”. Depois, realizou outros filmes menores, como “Lemming”. Em 2019, “Somente os animais”, que ele co-escreveu e dirigiu, concorreu no Festival de Veneza, voltando em grande forma. O filme tem a estrutura narrativa de “Babel”, de Inarritu, misturado ao conceito de vários pontos de vistas sobre uma mesma ação, de “Rashomon”, de Kurosawa. O filme se passa em dois países, e apresenta cinco histórias intercaladas por um crime. Uma mulher, Evelyne (Valeria Bruni Tedeschi), desaparece. ACompanhamos cinco personagens que direta ou indiretamene, estão relacionados ao seu sumiço: Armand, na África, um golpista que extorque dinheiro criando falsos perfis de mulheres sensuais. Na França, em uma região rural, moram o casal Michel e Alce, ele fazendeiro, ela enfermeira. Joseph, um fazendeiro que está emocionalmente desestabilizado, com quem Alice tem um caso. Marion, uma garçonete que tem um caso com Evelyne, mas se revela ser uma psicopata. Todos os personagens são infelizes, problemáticos. Os personagens de Armand e Michel foram os que mais me irritou fiquei com uma raiva fenomenal. E o desfecho, me irritou pela coincidência inverossímil. Mas fora isso, é um filme com um roteiro, salvo essas exceções, bem costurado, performances poderosas e uma sensação de que a vida, para alguns é uma merda sem fim.

terça-feira, 21 de julho de 2020

O orfanato

"Parwareshghah", de Shahrbanoo Sadat (2019) Que filme extraordinário! Imaginem uma versão de drama musical à la Bollywood, de “Pixote, a lei do mais fraco”? Assim é “O orfanato”, um ousado filme dirigido e escrito pela cineasta afegã, nascida no Irã, Shahrbanoo Sadat, que concorreu no Festival de Cannes em 2019. O filme é um raro exemplar do cinema do Afeganistão, em um esquema de co-produção com Alemanha e Dinamarca. O filme se passa no final dos anos 80, quando a União Soviética ainda ocupava o Afeganistão e antes da invasão doa Talibãs. O país, pobre e bastante sofrido, é apresentado através do personagem do órfão Qodtat (Quodratollah Qadiri, brilhante). Ele é apaixonado por musicais de Bollywood, e sonha um dia ser um ator dos filmes indianos. ( Obs: os filmes indianos faziam enorme sucesso na época no Afeganistão). Qodrat vive de vender ingressos do cinema como cambista, uma prática proibida. Preso, ele é enviado a um orfanato. Lá, ele faz amizade com outros órfãos, todos sob a guarda do supervisor Anwar (Anwar Hashimi, em um trabalho lindo). Qodrat tem a sua passagem de rito ali: ele se apaixona, amigos morrem, e uma grande tragédia surge no final, tudo pelo seu olhar, transformando momentos de amor e de tristeza em números musicais de Bollywood. A ideia do filme é semelhante ao de “O labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro. Nos momentos de grande tensão, os personagens recorrem ao lúdico. Com uma bela e precisa direção da cineasta Shahrbanoo Sadat, o filme comove pela sua contundente visão sobre a tragédia de um país que nunca encontrou paz. O jovem elenco, formado por não atores, traz um registro naturalista muito eficaz, muito provável, próximo às suas vidas pessoais. Os números de Bollywood são belíssimos, usando a linguagem dos filmes dos anos 80. A cena final é de comover qualquer espectador de coração duro.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

O sonho não acabou

"O sonho não acabou", de Sergio Rezende (1982) Clássico brasileiro lançado em 1982, "O sonho não acabou" representa a estréia de muita gente famosa no Cinema: Sergio Rezende, o diretor, realiza o seu primeiro filme de ficção, um retrato melancólico e contundente da geração que nasceu durante a ditadura no país. Miguel Falabella, Chico Diaz, Lauro Corona, Catarina Abdalla, Carlos Gregório, Denise Bandeira, estréiam no cinema, junto de veteranos como Lucéiia Santos, Laura Cardoso, José Dumont e Daniel Dantas. Em 1981, um grupo de amigos na faixa dos 20 anos, mostram a sua frustração e insatisfação com a situação no Brasil. Os amigos formam um pout pourri de arquétipos já conhecidos: o filho de político, rebelde, interpretado por Falabella; o idealista de esquerda, representado por Daniel Dantas; a atriz que sonha com um a carreira, participando de um grupo teatral engajado, Louise Cardoso; o casal romântico que acredita em um futuro melhor, Lucélia Santos e Lauro Corona; o pobre que se mistura com quem não presta, Chico Diaz. O filme também tem uma ficha técnica exemplar, com o melhor da equipe técnica: Fotografia de Edgar Moura, Som de Juarez Dagoberto e Zezé D’alice; produção executiva de Marisa Leão, equipe de câmera com Nonato Estrela e Jacques Cheuiche. Direção de arte e figurino de Rita Murtinho, roteiro com colaboração de Jorge Duran e José Joffily. Nesse verdadeiro festival de talentos, “O sonho não acabou” é um marco histórico na filmografia brasileira, realizado no calor de um momento que antecede a anistia no país, mas ainda assim, representativo de um marasmo que advém de um triste período político.

Sputnik

"Sputnik", de Egor Abramenko (2020) Blockbuster russo, "Spuynik"é uma mistura de drama, ficção científica e terror, ambientado nos anos 80 na União Soviética, antes de Gorbatchev e a Perestroika. Toda a atmosfera lembra a série "Chernobyl", com todos aqueles políticos e militares russos, malvados que só. Dois astronautas retornam de uma missão espacial e pousam no Cazaquistão. Um está morto, com a cabeça devorada. O outro, está tendo espasmos. Levado para um laboratório militar, o astronauta, Konstantin, é mantido sob observação. Uma cientista especialista em estudo do cérebro, Tatyana, é chamada para entender o que se passa com o astronauta. Até que descobrem que um alien habita dentro dele. O alien está em simbiose com o astronauta, usando-o como hospedeiro. A base militar usa alien para proveito próprio. É clara a referência a tanto filmes, que a gente até se perde: "Venon", com o alien que cohabita o personagem de Tom Hardy, "Alien, o 8 passageiro" e tantas e tantas cópias. O filme vai frustrar quem busca um filme de ação e terror, pois o ritmo é bem lento e as mortes, não vemos. E para quem busca um drama, também fica no meio do caminho. s efeitos do alien, no entanto, são bem feitos.

domingo, 19 de julho de 2020

O silêncio é bem vindo

"El silencio es bienvenido", de Gabriela García Rivas (2017) Drama mexicano que participou de dezenas de Festivais internacionais, é a estréia na direção de Gabriela García Rivas, que também escreveu o roteiro. O filme é visto pela ótica feminina, e as personagens são 3 mulheres e 1 homem: uma família, pai, mulher e duas filhas, a adolescente Amanda e a pequena Andrea. A família segue nas férias para a região de Tiahuaca, para visitarem a avó, que está doente. Amanda é a típica adolescente: não larga o celular, e reclama que suas amigas foram para Acapulco e que ela tem que ir para um lugar que ela não gosta, muito menos visitar a avó doente. A família passa um final de semana em um Spa. Amanda testemunha a crise de seus pais, que vivem discutindo uma relação que já não encontra mais espaço para o amor. Mas a região passa por um tumulto político, que deixa tudo bastante tenso. A diretora Gabriela Garcia realiza seu filme com bastante ousadia: um registro máximo de minimalismo e de naturalismo nas cenas e nas performances dos atores. Apenas no ato final, a dinâmica se transforma radicalmente, tornando a história tensa. O filme é uma metáfora sobre o fim do relacionamento tanto familiar, quanto social e político. As pessoas já não se comunicam mais, as redes sociais tornaram tudo um vício onde ninguém mais se olha. O filme ainda abre espaço para a prematura sexualização de Amanda, que se torna objeto de desejo de seu próprio pai, dos soldados e dos plantadores de banana. Eu gostei do filme, mas quem não estiver acostumado com o ritmo lento do minimalismo, certamente vai detestar.

sábado, 18 de julho de 2020

Jogo de xadrez

"Jogo de xadrez", de Luis Antonio Pereira (2014) Longa de estréia do ator e curta-metragista Luis Antonio Pereira, que também escreveu o roteiro e teve a atriz Priscila Fantin como produtora associada. Apesar de ser escrito e dirigido por homens, "Jogo de xadrez"é um filme sob a ótica feminina, subjulgadas e massacradas pelo sistema dominado pelos homens que comandam a política e o sistema carcerário, todos contaminados pela corrupção. Outras personagens femininas que entram nesse jogo também foram seduzidas pelo jogo do poder. O filme procura apresentar a podridão que se estabeleceu no Brasil, totalmente viciado em jogos de corrupção e de mentiras para se dar bem. Mina (Fantim) é uma ex-funcionária da previdência presa por ter participado de um esquema de roubo de dinheiro da previdência. Ela na verdade encobriu o senador Franco (Antonio Calloni), o grande mentor do roubo e que está em liberdade e atuando. Mina é auxiliada por Martona (Luana Xavier), uma presa que lhe dá cobertura. O diretor do presídio, Geraldo (Tuca Andrada) é conivente com o senador e mantém as presas em condições desumanas. Quando uma nova presa chega na casa de detenção, Beth (Carla Marins), Mina encontra nela uma pessoa a mais para ajudá-la a se vingar de quem a colocou ali. O filme recebeu diversos prêmios e participou de dezenas de festivais. ele é da tradição dos dramas carcerários femininos que fazem grande sucesso em produções B, repletos de porradaria, estupro, e mulheres falando e caminhando igual a homens, sabe-se lá o porquê. Pois aqui, todo o elenco feminino faz uso dessa caricatura da Bad ass girl, do tipo "Mexeu comigo, tá fudido". Todo mundo é mal, não tem único personagem que você se simpatize e torça por ele. A edição é bizarra, a trilha sonora também, entrando músicas estranhas em momentos nada a ver. Mas confesso que foi justamente todo esse conjunto que me seduziu: Me diverti e achei o maior barato. É visível a dificuldade orçamentária que a produção teve, e por isso, du um mega crédito ao filme e ao seu resultado.

Chove sobre nosso amor

"Det regnar på vår kärlek", de Ingmar Bergman (1946) No ano de 1946, o cineasta sueco Ingmar Bergman lançou seus dois primeiros filmes de sua vasta filmografia: o 1o, "Crise". Logo depois, o drama "Chove sobre nosso amor". Ambos filmes bastante pessimistas, apresentando o lado mais sombrio e cruel do ser humano, e curiosamente, tramas sobre mentiras e falsas aparências. "Chove sobre nosso amor" tem como pano de fundo uma história de amor entre dois desajustados; a aspirante à atriz, Maggi (Barbro Kollberg), que após tentativas fracassadas e para sobreviver, tendo trabalhado como empregada. E o ex-presidiário David (Birger Malmsten). Os dois se encontram em uma noite de chuva na estação de trem: sem destino, sem família. David sugere à Maggi de passarem a noite no albergue do Exército da Salvação. A paixão é imediata. O casal decide ir em busca de uma vida a dois, e enquanto caminham na chuva, descobrem uma casa abandonada. Por um tempo, eles ficam pouso ali, até que um homem se diz ser dono da casa e quer alugar para o casal. Impressionante como a estrutura narrativa do filme lembra bastante a estética do neo-realismo italiano, que aflorava na época do pós-guerra na Itália. E mais incrível é perceber que a trama é muito semelhante a de "Noites de Cabíria", de Fellini, de 1957. São figuras marginalizadas pela sociedade, e que possuem um coração muito bom, e por isso, são enganados por pessoas escroques. Curioso é como Bergman insere um personagem de um narrador que interfere na história e narra o filme quebrando a quarta parede. Os dois atores principais são bastante carismáticos, além de um cachorro que se torna companheiro do casal, muito fofo. Um filme do início de carreira de Bergman, distante da filmografia mais conhecida do Mestre, em filmes onde fala sobre a doença da alma.

O silêncio

"The silencing", de Robin Pront (2020) Suspense estrelado por Nikolaj Coster-Waldau, o eterno Jamie Lannister de "Game of thrones", e Annabelle Wallis. "O silêncio" é uma trama de serial killer ambientada em uma cidade pequena próxima à uma floresta. Ali mora Rayburn, ex-caçador, e agora cuidador do santuário da floresta, batizado com o nome de sua filha, Gwen, desaparecida há 6 anos. Meninas têm desaparecido e um serial killer age na área. A sherife Alice (Wallis) procura o assassino, mas um dos suspeitos é o seu irmão mais, novo, o desajustado Brooks. O filme é interessante, tem uma atmosfera que busca referência em 'O silêncio dos inocentes" e "Procurados" , e tem ótimos atores nos papéis principais. O final surpreende com a revelação do assassino. Mas o ritmo da primeira parte do filme é arrastada, e dá uma canseira. Ma sé um filme que vale ser visto, tem boa direção e fotografia.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Quarto 212

“Chambre 212”, de  Christophe Honoré (2019) Vencedora da Palma de Ouro de melhor atriz em Cannes 2019, na mostra Um certo olhar, a atriz Chiara Mastroiani é uma habitueé dos filmes do cineasta romântico  Christophe Honoré, um apaixonado por musicais e histórias de personagens que ilustram amores desencantados. Foi assim em vários de seus filmes: “Canções de amor”, “Em Paris”, Bem amada”, Conquistar, beber, viver”. Em “Quarto 212”, Honoré traz ao cinema a magia e a ilusão do”E se...”, uma possibilidade dramatúrgica que faz referências a clássicos como “A felicidade não se compra”, “Peggy Sue”, O Fundo do coração” e até mesmo “La La Land”, e o seu famoso final, onde os personagens refletem numa possibilidade de uma vida que poderia ter sido. Maria (Chiara) é uma professora casada desde os 20 anos com Richard ( Benjamin Biolay, o sósia de Benio del Toro francês). Richard sabe que sua esposa o trai desde que se casaram, mas agora ele dá um ponto final. Após uma discussão, Maria resolve sair de casa, e se muda para o hotel que fica em frente, no quarto 212, que dá de frente para o apartamento onde mora. A sua chegada no quarto irá lhe trazer memórias e magicamente, os personagens de sua vida surgem, para fazer com que ele reflita os seus passos, do passado e do futuro: Richard aos 20 anos (Vincent Lacoste), a amante de Richard desde que ele ra adolescente, e com quem ele poderia ter se casado, Irene (Camila Contin, e mais velha, Carole Bourqet), a professora de piano. Fico imaginando que peça teatral maravilhosa esse filme não daria. O filme basicamente e uma peça encenada em 2 cenários, e a forma como os personagens vêm e vão, é deliciosamente mágica. Honoré sabe dirigir seus atores, e traz sutilezas e bom gosto em tudo. A cena final, ao som de “Could it be magic”, de Barry Manilow, é maravilhosa. O filme tem momentos de pura música, inclusive “Eu sei que eu vou te amar”, em versão francesa. Os atores estão todos ótimos, e eu sou muito fã de Vincent Lacoste um dos melhores atores da nova geração.

Herança

“Inheritance”, de Vaughn Stein (2020) Um drama de suspense, ambientado nos altos escalões da advocacia de Nova York, protagonizado pelos ótimos atores Lilly Collins e Simon Pegg, e que competiu no prestigiado Festival de Tribeca em 2020, certamente vai render um bom filme. Mas infelizmente, essa afirmação não se concretizou. Com uma trama fraca, repleta de incoerências e de personagens propositadamente dúbios, cheios de segredos para serem revelados nos últimos 20 minutos, “Herança” busca referências em sucessos como “O silêncio dos inocentes” e “O segredo dos seus olhos”, exemplos máximos de suspense sobre pessoas encarceiradas. Mas a química do elenco não funcionou, o roteiro não constrói bem os seus personagens e o pior de tudo, a edição confusa, que mais complica que traz informações. Laureen (Lilly Collins) é uma super advogada de Nova York. Seu pai, um homem poderoso, morre subitamente do coração. Quando o advogado lê o testamento da família, Laureen recebe um envelope que contém um pen drive com informações de seu pai acerca de um misterioso alçapão que fica nos fundos da mansão onde mora com sua mãe, Catherine (Connie Nielsen). Ao brir o alçapão, Laureen se assusta: ali, preso e maltratado, está Morgan (Simon Pegg), que diz que o pai dela o prendeu ali para colocar a culpa nele em um crime acontecido há quase 30 anos atrás. O primeiro minuto em que aparece o personagem de Simon Pegg, eu já queria mudar de filme: a peruca pavorosa e falsa que colocaram nele, é para destruir qualquer performance de qualquer ator. Parece uma ratazana na cabeça dele. A partir dai, é só ladeira abaixo. Uma pena, pensando no elenco que tenta fazer o que pode, mas o roteiro, e a peruca, não ajudam.

We are Freestyle love supreme

‘We are Freestyle love supreme”, de  Andrew Fried (2020) Documentário que concorreu no Festival de Sundance 2020, é uma bela e comovente homenagem à atores que começam de forma improvisada, juntando amigos para poder exercitar e juntos, criarem sonhos que se tornem realidade. Freestyle love supreme é um grupo de improviso que une performance teatral, comédia e hip hop, formada por um grupo eclético de 6 amigos americanos, cada um com particularidade cultural: Lin Manuel Miranda, o atual mega astro da Broadway e da Disney, é porto riqueho. Seus amigos são formados por negros, latinos, americanos. Quando o grupo se formou, no início dos anos 2000, em Nova York, com o nome de Freestyle love supreme, foi justamente para dar voz ao talento do grupo, que improvisava na rua e em qualquer lugar. Quando começaram a se apresentar em pequenos pacos, chamaram atenção de um produtor, que os chamou para fazer show em Edinburgh, Escócia. O grupo praticamente criou um estilo que logo depois foi copiado por espetáculos de improviso e de stand up: os integrantes perguntam ao público uma palavra chave para que eles componham na hora um rap e texto com a palavra. O grupo parou de performar em 2004, pois cada integrante teve que seguir seu caminho, principalmente Luis Manuel Miranda e Thomas Kalil, que estavam começando a estourar na Broadway com o musical “In the Heights”, e em 2015, explodiram de vez com “Hamilton”. Em 2019, o grupo resolveu se juntar novamente, para um encontro onde pudessem se despedir definitivamente de seus fãs. Agora na faixa dos 40 anos, o grupo entende que não têm mais a juventude para ficar cantando rap. O filme traz imagens do grupo em 2004./2005, e é lindo ver como todos eles se amam, é uma amizade que perdurou pela vida, e a paixão pelo teatro, pelo improviso, os une de forma admirável.

A casa da praia

“The beach house”, de Jeffrey A. Brown (2020) Filme de estréia de Jeffrey A. Brown , que escreveu o roteiro e dirigiu esse interessante filme de terror que remete a clássicos dos anos 80, como “Invasores de corpos” e “O nevoeiro”. O filme poderia ter sido escrito por Stephen King, e provavelmente foi a referência do diretor. Produção independente e com apenas 4 atores em cena “A casa da praia” apresenta um jovem casal de namorados, Emily (Liana Liberato) e Randall (Noah Le Gros). Logo eles descobrem que um casal, amigo do pai de Randall, também está por lá. Mitch e Jane. Os quatro jantam juntos na casa, mas algo estranho acontece: um estranho nevoeiro encobre a região, proveniente de algas que soltaram gases, por conta do aquecimento global. Ess egás faz com que as pessoas se transformem em figuras disformes. Os efeitos são simples , mas efetivos. Os 4 atores estão bem, mas com destaque para Liana Liberato, que é quem carrega o filme nas costas. É um filme de ritmo lento, que não deve agradar quem quer algo mais dinâmico. Para quem curte um filme que vai se construindo aos poucos, é uma boa pedida. O curioso é o filme ser lançado em período de pandemia, pois o que está acontecendo é que muita gente comenta que a natureza está agindo contra as atrocidades do homem.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Um crime entre nós

“Um crime entre nós”, de Adriana Yañez. Com depoimentos de Drauzio Varela, Luciano Huck, a jornalista e youtuber Jout Jout, a socióloga Adriana Araújo e um tanto de meninas e adolescentes espalhadas pelo Brasil, “Um crime entre nós” faz um relato trágico e cruel sobre a prostituição e exploração sexual infantil. Segundo dados, 4 entre 10 meninas até 13 anos são estupradas por hora no País!!!!!!!! Jout Jout diz que a palavra mais procura em sites de pornografia é “novinha”, associada à sexo, pornografia, prostituição. Drauzio Varela dá depoimento contundente sobre a permissividade do brasileiro em relação à prostituição infantil, quando todos ficam calados. Jout Jout alerta que como importantes políticos estão envolvidos com a pornografia, não é do interesse deles derrubar os sites. Meninas dão depoimentos sobre seus sonhos, seus desejos materiais e profissionais, e todas dizem que já foram assediadas. A exploração sexual já não precisa se mostrar nas ruas, através de whastap, redes sociais oferecendo. A prostituição já não precisa das ruas: crianças são oferecidas em conversas de whatspp, redes sociais, evitando assim, se expor. É muito triste assistir ao filme. Ainda mais que se entende que a exploração sexual infantil não tem classe social: ricos, pobres, todos têm desejo pelas novinhas, que cedem pela pressão, ou pelo desejo de ganhar presentes, ou por serem ameaçadas.

Me rotule

“Label me”, de Kai Kreuser (2019) Drama visceral alemão LGBTQIA+, exibido em dezenas de Festivais, escrito e dirigido por de Kai Kreuser, narra a complexa relação entre o garoto de programa sírio Wasseen (Renato Schuch) e o seu cliente, o alemão Lars (Nikolaus Benda). Lars é jovem, rico, mora em um enorme Loft no centro de Berlin. Wasseen é um refugiado sírio, que fugiu de Aleppo, abandonando a faculdade de música. Wassen mora em um acampamento para refugiados, na periferia de Berlin, e ali, os gays são estuprados pelos outros refugiados. Temendo ser descoberto em sua profissão, Wasseen tem as suas regras quando vai atender um cliente: não beija e não faz passivo, acreditando, que dessa forma, ele poderá manter a sua masculinidade hetera. Mas Lars, que cria um estranha fixação de desejo e amor por Wasseen, aos poucos tenta quebrar esse padrão de Wasseen. O melhor do filme são as performances dos dois atores principais, em cenas intensas de sexo e cm complexa camada de emoções. O roteiro é ouco improvável: difícil acreditar que alguém como Lars, podendo ter quem ele quiser, vá se apaixonar por Wassseen, só se for fetiche, o que não é o caso. Talvez uma metáfora do primeiro mundo querendo abraçar o terceiro mundo, uma atitude generosa e altruísta dele.

Mestres do amor

“Masters of love”, de Matt Roberts (2011) m 2003, quando a comédia romântica inglesa “Simplesmente amor” surgiu, imediatamente se tornou um dos filmes preferidos de muita gente: lindas histórias de amor entrecruzadas com personagens que surgem entre várias histórias. O elenco era formado pela nata do cinema inglês. “Mestres do amor”, comédia romântica inglesa, aposta nessa fórmula, mas com outra pegada: totalmente indie, com elenco desconhecido e dosando com toques de drama. São 5 personagens que entrecruzam as histórias, repletas de amor, melancolia e desafeto. Os personagens estão todos na faixa dos 30 anos, naquela idade onde o peso da carreira e da estabilidade profissional e pessoal se abate sobre todos. Com essa estrutura, acompanhamos Emmy, que se sente pressionada pelo entusiasmo de sua namorada Samantha em se casar às pressas; O irmão de Emmy, Josh, descobre que sua namorada está transando com outros; Nial, um comediante de stand up decadente, divide o apartamento com Josh, e também sofre por estar solteiro. Todos esses personagens s entrecruzam em suas investidas fracassadas no amor e na tentativa de se firmarem em um emprego que os faça feliz. Com excelente time de atores, o filme tem o charme do sotaque inglês e repleto de realismo e carisma de seus personagens.

Nós estávamos aqui

“We were here”, de David Weissman (2011) Premiado documentário LGBTQIA+, concorreu no Festival de Sundance e ganhou vários prêmios em importantes festivais. O filme traz relatos de sobreviventes do surgimento da Aids no início dos anos 80 em San Francisco, e de que forma as suas vidas foram destruídas pela perda de incontáveis amigos, familiares e alguns ate convivendo com o vírus. Ed, o desajustado que encontrou seu lugar na comunidade gay ao se voluntariar com pessoas com AIDS no início da epidemia; Daniel, o artista judeu que sentiu que havia encontrado sua verdadeira família entre os gays de São Francisco e depois os perdeu em poucos anos; Paul, o ativista políticol; Guy, o grande e filosófico vendedor de flores; e Eileen, a enfermeira lésbica que serviu no marco zero da epidemia. Todos eles trazem relatos dolorosos sobre perdas e como conseguiram se manter emocionalmente até os dias de hoje. Com imagens raras de San Francisco dos anos 80, o filme explora o preconceito contra os homossexuais, as saunas gays como disseminadores do vírus e a ajuda da comunidade lésbica para apoio de doação de sangue para a comunidade gay. É um filme importante, um documentário histórico, repleto de imagens e depoimentos contundentes e esclarecedores sobre como a Ainda mudou a história de uma cidade e de seus moradores para todo o sempre.