quinta-feira, 13 de junho de 2019

Fado tropical

"Fado Tropical", de Cavi Borges (2019) O que o Cineasta independente Cavi Borges e a cantora Madonna têm em comum? Em termos cinematográficos, pouco, mas musicalmente, tudo. Ambos buscaram recentemente inspiração musical em Portugal, através das variações globalizadas e estilísticas que vão do Fado, ao rap, ao samba, ao funk, à Batukada. Produzido pela Cavideo e pela JCaetano, "Fado Tropical" é o filme mais emotivo da premiada produtora carioca, falando diretamente ao coração e aos ouvidos. Isabel (Patrícia Niedermeier) é uma cineasta independente brasileira, que se encontra em Lisboa com o seu produtor interpretado pelo também Cineasta Felipe Bond. Apresentando seu novo filme no Festin, Festival de Cinema independente Brasil Portugal, ela reencontra o seu irmão Antonio (Jorge Caetano). Há anos, ele de mudou com o pai para Lisboa, diante do desejo do pai de morrer no País aonde nasceu. Antonio é cantor, mas atualmente trabalha como produtor musical. Isabel sofreu com a partida do irmão, e por isso, a sua relação com ele ficou estremecida. Com a morte do pai, e o desejo de ter suas cinzas jogadas por ambos os filhos em vários pontos de Lisboa. Isabel e Antonio reaprendem a se reconectar, ao mesmo tempo que fantasmas de um passado tortuoso e controverso, que fala sobre um Amor incondicional e além das convenções entre os irmãos, parece querer retornar. Terceiro e último filme da trilogia da Viagem, elaborado pela dupla Cavi Borges e Patrícia Niedermeier, enquanto rodavam países e estados brasileiros durante temporadas de Festivais e Workshops, foi iniciada em 2017 com "Salto no vazio" e depois em 2019 com 'Reviver". Os 2 primeiros filmes possuem uma narrativa mais experimental e poética, enquanto que "Fado tropical" fala sobre memória e sobre Saudade, a tal da palavra portuguesa que não encontra tradução em outras línguas. O roteiro, escrito a 4 mãos por Patrícia Niedermeier e Jorge Caetano, recorre ao elemento mais utilizado pelo gênero Road movie: antagonistas que precisam aprender a lidar com as diferenças e aprenderem a olhar para a frente. E essa trama é realizada com muita dignidade, com sentimentos aflorados que em momento algum, apostam no melodrama barato. É possível encontrar referências cinematográficas em 2 filmes de Walter Salles, acredito que até inconscientemente: "Terra estrangeira", clássico que fala sobre a falta de identidade entre ser brasileiro ou português, e "Diários de motocicleta", com a famosa cena final, com lindos portraits de pessoas anônimas, e aqui, representada por uma família portuguesa em um restaurante. Belamente fotografado, e com uma ficha técnica musical de primeira qualidade, com trilha composta por Rodrigo Marçal e edição de som do craque Bernardo Uzeda, "Fado Tropical" é um filme necessário, um grito de resistência Cultural, realizado com garra e incentivos próprios, que deixa claro o seu amor ao Cinema através de uma cena filmada dentro da Cinemateca portuguesa, onde os 2 irmãos conversam: ao fundo, temos um livro de capa dura intitulado "O Cinema não morreu". Depender desses realizadores, jamais.

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