sexta-feira, 28 de outubro de 2022

As histórias de meu pai


“Profession du pére”, de Jean Pierre Améris(2022)

O Cineasta francês Jean Pierre Améris realizou uma das comédias românticas que eu mais amo na vida, “Românticos anônimos”, com o seu ator fetiche Benoit Poelvoorde. Agora ambos repetem a dobradinha em “As histórias de meu pai”, que diferente do que aparenta ser pelo postar do filme, não é uma comédia, e sim, um melancólico drama sobre distúrbios mentais. O filme é adaptação do romance escrito por Sorj Chalandon, e Jean Pierre Améris misturou com histórias de sua infância. Tanto o protagonista do livro quanto Jean Pierre viveram em Lyon e tiveram pais abusivos nos anos 60.  Lyon, década de 1960. Emile (Jules Lefebvre, excepcional), tem doze anos. Seu pai, André (Poelvoorde, sempre ótimo) é um herói para Emile. Ele se diz campeão de judô, pára-quedista, jogador de futebol e até conselheiro pessoal do general de Gaulle. A mãe de Emile, Denise (Audrey Dana, também ótima) testemunha as mentiras do marido calada. Agora ele quer salvar a Argélia Francesa após anúncio de sua independência. Fascinado e orgulhoso, Emile voluntariamente segue seu pai em missões de maior perigo: perseguir, espionar, entregar cartas secretas. Emile cumpre suas ordens com toda a seriedade. Ele até recruta Luca, um novo colega de classe pé negro (Argelinos que voltaram a morar na França), para seu combate secreto. 

O filme tem uma trama bastante complexa. O personagem de Poelvoorde além de mitômano, é violento, abusador, pertence à OAS (organização ultra nacionalista que não aceita a independência da Argélia e acusa de Gaulle de traição) e maltrata também a esposa. Ele também é portador de transtorno de personalidade, e abusa da violência para adquirir seus intentos. É um filme denso, às vezes tentando entrar num universo lúdico infantil, mas logo parte para a violência novamente. Em uma cena, o cineasta homenageia “TAxi driver”, de Scorsese, quando o pequeno Emile treina o uso de arma de forma improvisada em frente a um espelho. Um belo filme, doloroso, defendido por um excelente elenco. Poelvoorde defende um personagem difícil, e o faz com brilhantismo. 

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