segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Confisco


 "Confisco", de Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli (2021)

Excelente documentário que traz de volta à memória dos brasileiros o terror do Plano Collor, criado pela equipe econômica do presidente eleito nas eleições de 1989, derrotando Lula, Ulysses Guimarães, Brizola, Paulo Maluf, Mario Covas e outros. Collor na época era Governador do Alagoas e desconhecido pelos brasileiros. O filme faz um paralelo com o Brasil de hoje e mostra como a mídia, no caso da época, a Rede Globo e a imagem de 'Salvador da pátria" foram fundamentais para a vitória. A equipe econômica, pela primeira vez na história do país, foi liderado por uma mulher, Zélia Cardoso de Mello, 36 anos. No mundo, foi a única mulher na pasta do Ministério da economia, atrás apenas de uma alemã. Com a inflação na casa dos 2000 mil por cento ao ano, o cruzado novo, moeda da época, não resistia à alta e mudanças de preços. A população já revoltada e promovendo quebra quebras creditava a um novo governo a chance de um país melhor.

O filme traz dois pontos de vista sobre o Plano Collor, e em cima disso, muitas matérias de jornais da época, liderados por Lilian Wite Fibbe, sumidade das conversas sobre economia com a população brasileira. De um lado, Zélia Cardoso, de Nova York, onde mora, fala sobre o plano e como ela sofreu ataques de misoginia. Do outro lado, uma família de Bauru, São Paulo, que sofreu na pele com o Plano, falindo, entrando em depressão. É notório que houveram muitos suicídios após o anúncio do Plano, pessoas que não puderam honrar com os compromissos e se desesperaram.
O Plano Collor bloqueou as reservas bancárias da população brasileira, numa tentativa de conter a inflação que ultrapassava a marca dos 80% ao mês. Todo mundo só podia sacar até 50 mil cruzeiros, moeda criada no Plano, e resgatar o restante após 18 meses. Foi um alvoroço geral. O mais interessante é ouvir economistas dizendo que a maioria da população não sofreu com o plano , pois não tinham contas em banco. Quem mais sofreu foi a classe média.
O filme termina com o depoimento de Zélia, que após ser demitida do governo, se casou com Chico Anysio e teve dois filhos com ele, dar um mea culpa e pedir perdão. ela acreditava realmente que estava criando um país melhor. Collor, através de um tweet publicado 30 anos depois, também pede desculpas. É um filme doloroso para quem viveu as consequências do plano, esclarecedor para quem não o conhecia.

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