domingo, 11 de outubro de 2020

Um animal amarelo


"Um animal amarelo", de Felipe Bragança (2019)
Competindo em importantes Festivais como Rotterdan e IndieLisboa, "Um animal amarelo" segue a linha narrativa que o roteirista e cineasta Felipe Bragança tem buscado em sua filmografia, que é a de se alinhar a um Cinema de símbolos, de realismo fantástico, de metáforas que falem sobre a condição política e social em que vivemos. Foi assim em "A fuga da mulher gorila", "Não devorem meu coração", Tragam-me a cabeça de Carmem M". "Um animal amarelo". A ousadia narrativa do filme, filmado no Brasil, Moçambique e Lisboa, rendeu ao filme um record de premiações no Festival de Gramado 2020: melhor atriz (Isabél Zuaa), roteiro , direção de arte, e menção honrosa para o ator
Higor Campagnaro
, em performance visceral e rica em nuances. O filme também levou o prêmio da crítica.
Dividido em capítulos, "Um animal amarelo" é uma alegoria triste sobre países colonizados e como o efeito da exploração da riqueza nacional, da população negra tornada escrava e da corrupção sofrem consequências até os dias de hoje. Uma clara crítica ao Brasil de direita, que eliminou a cultura e o cinema da ordem do dia, traz como protagonista Fernando (Higor Campagnaro), alter ego do próprio Felipe Bragança. Com uma narrativa em off de uma moçambicana, o filme traz a história do avô de Fernando, interpretado por Herson Capri em um papel pequeno mas glorioso, incluindo cenas de relação com um outro rapaz, por quem se apaixona. O avô é um símbolo desse desse colonialismo, em eterna busca por riquezas em terras nacionais. Fernando resolve escrever um roteiro sobre a história de seu avô, mas faltando maiores informações, resolve seguir até Moçambique para explorar mais o passado dele. Logo, o contato com Moçambique e Portugal, colonizado e explorador, farão mudar a perspectiva sobre o filme que quer fazer, e sobre a sua própria existência e a de seu país.
Os cinemas de Jodorowsky e de Bunuel me vinham à mente o tempo todo. Felipe Bragança faz um cinema de experimentação, com a diferença que procura aliar a um cinema também comercial, e nesse híbrido, equilibra escalação de atores da grande mídia, como Herson Capri , Sophie Charlotte e Thiago Lacerda, a uma leva de premiados atores de teatro e cinema autoral, como Campagnaro, Isabel Zuaá, Marcio Vito, Digão Ribeiro e a portuguesa Catarina Wallenstein, esposa do cineasta.
A fotografia de Glauco Firpo e a direção de arte de Dina Salem Levy merecem aplausos pela excelência técnica.

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