terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Brutal
"Brutal", de Takashi Hirose (2017)
Junto de "Grotesque", de Koji Shiraishi, "Brutal" é dos filmes mais explicitamente bizarros e violentos que já assisti. "Jogos mortais" e "O albergue" podem ser mais gore, mas aqui é um terror realista. O filme tem cenas cruéis de misoginia, onde mulheres são brutalmente espancadas, esfaqueadas e violadas. Mas o filme resreva uma segunda parte, onde os gêneros se invertem, subvertendo a maioria dos filmes de terror onde as vítimas são as mulheres.
Dividido em 3 capítulos, o filme é um festival de mutilações, decapitações, esfaqueamentos e socos.
No 1o capítulo, Butch é um rapaz que convida mulheres para o seu apartamento e depois as mata.
No 2o capítulo, Ayano é uma mulher que convida homens para seu apartamento e depois os mata.
No 3o capítulo, Bucth e Ayano se conhecem e seguem para o apartamento de um deles, para um final apoteoticamente violento.
A história, singela, é pretexto para a sanguinolência abissal que envolve os 70 minutos do filme. Filmado em estilo Grindhouse, com granulações e arranhões na tela, homenageando os filmes exploitation dos anos 70.
O roteiro dá a entender que tanto Bucth quanto Ayano se tornaram serial killers por traumas do passado: ele foi esnobado pelas mulheres, pelo seu pênis pequeno, e ela foi estuprada e mutilada nos órgãos genitais.
Uma das cenas mais angustiantes é a preparação de uma sopa de vísceras humanas, que tem até cabelo. Um filme para poucos.
A crab in the pool
"Um trou dans la poitrine", de Jean-Sébastien Hamel e Alexandra Myotte (2023)
Selecionado para mais de 120 Festivais e premiado em 30 deles, "A crab in the pool" é um curta de animação canadense que está no short list do Oscar da categoria 2025. O filme traz um tema doloroso para crianças: a morte da mãe por câncer, provocando uma ausência sentida pelos dois filhos. A imagem da filha Zhoe, quando pequena, vendo sua mãe sem um seio e calva a assombrou de tal jeito que ela tem tido pesadelos e se tornou insegura e reprimida. O filho Theo, o menor, criou em seu imaginário uma iomagem de que sua mãe era uma Amazona, por conta de um livro de ilsutração grega que ela deu a ele antes de morrer, se comparando à uma Amazona.
O filme tem uma montagem primorosa, unindo os planos por transição, por exemplo, o sangue que escorre de um nariza, se une ao catchup de um cachorro quente, e por aí em diante. Repleto de momentos lúdicos, retirados do imaginário do pequeno Theo, o filme é uma brilhante construção narrativa e de sentimentos.
That is all
"That is all", de Mark Weeden (2019)
Drama Lgbtqiap+ cadanese, "That is all" fala sobre a descoberta da bissexualidade por Ryan (Joel Ballanger). Ryan acaba de fazer 30 anos, e a idade está pesando em sua vida. Ele se isola, ficando a maior parte do seu tempo em casa, que ele divide com seu roommate Paul (Daniel Bossenberry). Quando Ryan vai para a festa de aniversário de um amigo gay, Brad (Dan Tait Brown), ele conhece o namorado dele, Sam (Al Braatz). Ryan e Sam se aproximam e se encontras às escondidas. Ryan descobre seus sentimentos por outro homem. Ao mesmo tempo, Ryan passa a namorar uma garota, Maya ((Sara Hinding), que tem interesse nele. Ryan entra em um grande conflito sobre a sua sexualidade, e o medo que ele tem que outras pessoas descubram que ele sente atração por homens, o que deixa Sam frustrado.
Eu queria muito ter gostado do filme. As locações são lindas, e tem uma cena onde Ryan e Sam passeiam em uma praia toda congelada que é belíssima. Mas independente do visual do filme e das boas intenções do roteiro, o ritmo é extremamente lento, tornando a experiência de assistir ao filme bem entediante. Talvez uma ou outra cena de sexo dê uma acendida no espectador, mas a história em si, não traz muitas novidades.
As siamesas
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"Las siamesas", de Paula Hernández (2020)
Paula Hernandez é a mesma roteirista e diretora do excelemte 'Os sonâmbulos" , um filme argentino que retrata uma família em crise. Pois esse mesmo mote retorna agora em "As siamesas", só que a família se resume à mãe e à filha. O filme daria uma excelente peça de teatro com 3 atores: uma atriz na faixa dos 60 anos, uma atriz na faixa dos 40 anos e um homem na faixa dos 40 anos. O filme ganhou mais de 12 prêmios em festivais, reforçando o excelente trabalho da direção de atores. Paula adaptou o romance de Guillermo Saccomanno,que mostra uma relação de amor e ódio de duas mulheres, mãe e filha, que sempre moraram juntas, com a mãe possessiva ditando todas as regras para a filha passiva.
Clota (Rita Cortese) e Stella (Valeria Lois), mãe e filha, moram sozinhas em uma casa em Junin, interior de Buenos Aires. Durante toda a sua vida, Stella cuidou de sua mãe: com os remédios, que ela sabe exatamente quais são e a hora de tomar, de casa, da comida, de todos os afazeres. Toda a vida de Stella foi dedicada à sua mãe, que a consome por inteiro. Quando recebem a notícia de que o pai de Stella, divorciado há anos de Clota, faleceu e deixou dois apartamentos para Stella, elas decidem seguir até a cidade de Costa Bonita, região litorânea, para assinar os papéis. Elas seguem de ônibus, comandado pelo motorista Primo (Sergio Prina). Durante a viagem, a relação das duas vai se deteriorando, e piora quando Stella passa a dar atenção ao mootrista, deixando Clota com a certeza de que Stella a partir de agora, irá querer seguir seu caminho sozinha.
Achei lindo o título do filme, e a forma como a diretora filma as duas mulheres, sempre juntas e unidas, mas que no ônibus, são obrigadas a se separar, e a partir daí, metaforicamente, dá se o início ao rompimento. Um show de performance das duas atrizes, em um filme econômico, som somente 3 atores e praticamente 80 por cento do filme dentro do ônibus.
As boas intenções
"Las buenas intenciones", de Ana Garcia Blaya (2019)
Que filme lindo e encantador, aconchegante e amoroso. Livremente inspirado em sua adolescência, quando teve que se separar de seu pai, a roteirista e diretora argentina Ana Garcia Blaya realiza um filme com o coração, e o dedica aos seus pais, em especial, a seu pai. O filme concorreu em importantes festivais: Toronto, Mar del Plata, Havana, San Sebastian e traz como protagonista Javier Drolas, do cult romântico 'Medianeras". O filme é ambientado na Argentina dos anos 90, no auge da crise econômica. Gustavo (Javier Drolas( é divorciado de Cecilia (Jazmin Stuart), que atualmente namora uma pessoa mais responsável do que Gustavo. Gustavo está na faixa dos 30/40 anos, e é dono de uma loja de discos, que ele divide com seu melhor amigo Nestor (Sebastian Arzeno). Com o aumento das fitas piratas, os negócios da loja vão mal. Gustavo é apaixonado por futebol, rock'n roll e pelos seus 3 filhos, 1 menino, 1 menina e a adolescente Amanda (Amanda Minujim, alter ego da diretora). Mas quando CEcília anuncia para Gustavo que está se mudando para o Paraguai para ir em busca de melhores condições financeiras, tanto Gustavo quanto Amanda sentem o peso da separação.
Tenho que falar que a cena final, uma linda cena entre pai e filho, é dos momentos mais lindos e huamanos que vi recentemente. É de uma melancolia enorme, de fazer soltar lágrimas. Um show de atuações, todas as performances falando com o coração, sentimentos. Um filme simples, mas que mostra o cotidiano de forma leve e gostosa.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
De volta ao paraíso
"Big Eden", de Thomas Bezucha (2000)
Romance LGBTQIAP+ indie americano, "De volta ao paraíso" é um feel good movie bastante simpático, ambientado em uma cidade fictícia em Montana, chamada Big Eden. A cidade parece um universo cor de rosa, onde toda a população torce para que um casal gay se forme, sem qualquer rastro sequer de homofobia. Henry Hart (Arye Grass) está na véspera de abrir a expoisção de suas pinturas em Nova York. Artista consagrado, ele recebe uma ligação de que seu avô Sam (George Coe) acabou de ter um derrame. Desesperado, ele decide retornar à sua cidade natal, que ele não visita há anos. Ele é recebido pela professora Grace (Louise Fletcher, Oscar de atriz coadjuvante em "Um estranho no ninho"). Ela pede ao dono de um mercado, o indígena Pike Dexter (Eric Schweig), que leve jantar todas as noites para Sam e Henry, preparado pela viúva Thayer. Como a comida dela é ruim, Pike, sem avisar ninguém, prepara ele mesmo a comida. Dean Stewart (Tim Dekay) retorna à cidade com seus dois filhos, após divórcio. Henry se anima, pois Dean foi seu melhor amigo de escola e seu grande crush. Henry acredita que Dean abrirá seu coração para se relacionar com Henry, agora que está solteiro. O que Henry não poderia imaginar, é a paixão de Pike por ele.
O que mais gostei no filme, é que os personagens gays são todos de meia idade, e mostrar o amor entre personagens na faixa dos 40 anos é bastante belo e sincero em sentimentos. Nesse mundo sem aplicativos de pegação. os sentimentos de afeto são reais. É um filme que mais parece um conto de fadas, mas que tem a sua mensagem positiva de aceitação entre pessoas de qualquer idade e gênero, ainda mais em uma das regiões mais homofóbicas ds Estados Unidos.
Interstellar
"Interstellar", de Christopher Nolan (2014)
Rever "Interstelar" 10 anos depois de seu lançamento, e em uma tela Imax, me fez repensar o sentimento que eu tive quando assisti pela 1a vez: apesar de ter gostado do filme, tive a impressão de que o filme tinha mais de meia hora sobrando, que era longo, cansativo. Me enganei profundamente. o filme é um primor em todos os seus niveis, e impressiona como os seus efeitos continuam impecáveis, poderia facilmente ter sido lançado nos dias de hoje. A trilha sonora matadora e de arrepiar de Hans Zimmer, a fotografia de Hoyte Van Hoytema, a montagem de Lee Smith, complexa como todos os filmes de Nolan, e finalmente, o roteiro, co-escrito pelo irmão de Nolan, Jonathan. O elenco é top: Matthew Macnauchney, Michael Caine, Ellen Burstyn, Anne Hathaway, Jessica Chainstain, Matt Damon, Timotheé Chalamet, John Lightgow, Topher Grace.
Uma expedição espacial é mandada para a galáxia para que busquem um planeta que tenha as mesmas condições de vida da Terra para enviar a população, uma vez que o Planeta está morrendo. Eles devem entrar em uma fenda, chamada de o buraco da minhoca, onde supostamente do outro lado existe uma outra galáxia e possivelmente, com planetas habitáveis. Só que o tempo em um dos planetas visitados é sete vezes maior do que o da Terra. Um dos tripulantes, Cooper (Matthew McConaughey) deixa na Terra seus dois filhos, Murphy (Mackenzie Foy na fase adolecente, Jessica Chainstain na fase adulta e Ellen Burtsyn idosa) e Tom (Timothée Chalamet na fase adolescente e Casey Afleck na fase adulta) com a promessa de que voltará. O tempo passa, e a esperança da filha vai morrendo, assim como a expectativa de salvamento da população. Murphy vai trabalhar como cientista na Nasa, e Tom se mantém fazendeiro. O filme apresenta muitas cenas antológicas, mas destaco quatro pela emoção e pela direção estupenda de atores: A fuga dos tripulantes de um planeta de água com uma enorme onda avançando, um primor de realização; quando Cooper assiste as mensagens atrasadas no monitor: o câmera fica em McConaughey, e vê-lo chorando é arrebatador. Depois, a cena da perseguição entre 2 personagens, que começa no solo, daí encaminha-se para uma corrida espacial ate chegar na nave-mãe. Essa cena deve durar uns 20 minutos, mas é de um preciosismo técnico e de direção impressionantes. E a cena final, que confesso, soltei muitas lágrimas.
Plano B
"Plan B", de Brandon Tamburri (2024)
Comédia dramática indie americana, "Plano B" parte de uma premissa eticamente provocadora: Piper (Jamie Lee) é uma mulher de 30 anos que não mede as consequências de querer ser livre: bebe até cair, ama umas baladas. Expulsa de um bar por beber demais, ela chega em casa e encontra seu vizinho nerd, Evan (Jon Heder, o protagonista do excelente "Napoleon Dynamite"), que nutre paixão platônica por Piper. Bêbada, ela acaba se jogando nele e transam, dizendo que ama ele. No dia seguinte, já consciente, ela diz à sua melhor amiga e roommate Maya (Subhah Agarwal) que se arrependeu e que não qer nada com Evan, apesar dele achar que eles estão namorando. Para a surpresa de Piper, ela se descobre grávida. Sem falar nada para Evan, ela decide ir atrás de um homem rico com quem ela irá dormir no primeiro encontro e dizer que o filho é dele.
Comédia é um gênero que precisa de um bom diretor e um bom elenco afinado com o humor, e aqui infelizmente não é o exemplo. O filme não tem ritmo, as cenas que eram para ser divertidas, não têm o timing correto. O elenco faz o que pode, mas são quase todos muito forçados e sem intimidade comn o humor. Para piorar, o sujeito rico com quem ela fica, Cameron, é um cara super gente boa e fica todo feliz ao descobrir que é pai. e o desfecho da história, para ele e para a sua família, foi bastante injusto e cruel.
domingo, 12 de janeiro de 2025
O cristal encantado
"The dark crystal", de Jim Henson e Frank Oz (1982)
Um clássico da fantasia dirigido por Jim Henson e Frank Oz. Assisti a esse filme quando era adolescente e fiquei chocado o quanto ele era sommbrio e trágico. O filme me perturbou muito e nunca mais revi. Decidi rever agora e entendo o porquê de eu ter ficado traumatizado: personagens queridos são mortos, uma das protagonistas é esfaqueada!!!!!!!!! e na cena mais chocante: um dos skeksies, que são os vilões em forma de urubus, sugam a energia de um fofo podling ( tipo os Ewoks do 'Star wars") e bebe o líquido com a essência do bichinho, para rejuvenescer! O bicho fica esquelético e se torna escravo. É uma cena chocante para uma criança, e sse foi o maior erro de marketing do filme na ocasião, vendê-lo como filme infantil.
No mundo de Thra, os Skeksis e Gelflings viviam em harmonia. Mas a cobiça dos skeksis fez com que eles matassem todos os Gelfklings e se apossassem do poderoso Cristal negro. Uma profecia que se aproxima diz que um Gelfling irá controlar o cristal e fazer reinar a paz novamente no planeta. Jem, um gelfling sobrevivente, criado por um Mestre, é incumbido da missão de recuperar o cristal fragmentado e uni-lo ao original. No caminho, ele encontra outra gelfling sobrevivente, Kira, e seu animal de estimação fizzgig.
O filme é repleto de personagens encantadores: fizzgig é apaixonante, assim como os podlings e a genial Aughra, uma guardiã dos segredos, uma anciã que faz lembrar o Mestre Yoda. O visual do filme é um primor, assim como a fotografia, que dá o tom soturno e a trilha sonora. Jim Henson havia dado um depoimento dizendo que queria com esse filme, recuperar as histórias assustadores para as crianças, no estilo dos contos dos irmãos Grimm. E certamente, conseguiu. Em 2019, a Netflix lançou uma série no mesmo universo do filme.
Abruptio
"Abruptio", de Evan Marlowe (2023)
Vencedor de mais de 20 prêmios internacionais, a animação "Abruptio" é um filme bizarro, que une ficção científica, gore, fantasia, suspense e drama. Ele lembra clássicos como "Os invasores de corpos", de Don Siegel, 'Eles vivem!", de John Carpenter e visualmente, lembra "Anomalisa", de Charlie Kauffman. O filme é todo realizado com fantoches em tamanho de seres humanos, e filmados em locações reais. O diretor e roteirista Evan Marlowe levou 6 anos filmando o longa. O mais curioso são os dubladores: o cineasta Jordan Peele, Robert Englund ( Freddy Krugger), entre outros.
Les Hackel, um homem de meia idade, é um homem que vive uma rotina burocrática. Ele mora com seus irritantes pais, odeia seu trabalho em um escritório e a sua namorada acaba de pedir a separação. Ele se tornou umm alcóolatra e de noite costuma sair em bares. Um dia, ele acorda e encontra um corte em seu pescoço, na parte de trás. Ao procurar seu amigo Danny (Peele), que também tem o mesmo corte, ele passa a receber mensagens pelo celular, obrigando-o a executar ações, caso contrário, a bomba instalada no pescoço dele irá explodir. As missões envolvem assassinatos à sangue frio, comandadas por uma raça de alienígenas.
Os fantoches do filme são a grande atração, principalmente porque interagem com locações reais. Tem momentos que dá para perceber que são atores vestindo a fantasia (momentos onde os personagens correm), mas é interessante mesmo assim ver um filme onde todo o trabalho de manipulação dos bonecos é artesanal, sem uso de CGI. O roteiro vai caminhando para um espiral de sandices, como em um filme de Charlie Karfman, e o espectador fica curioso para saber como tudo termina. Existe uma cena em particular que é bem tensa: a da chacine de uma família. Mesmo usando bonecos, é cruel e sádica.
Um crime argentino
"Un crimen argentino", de Lucas Combina (2022)
Adaptação do romance homônimo do jornalista Reynaldo Sietecase , "Um crime argentino" é baseado em uma história real: o desaparecimento do empresário Jorge Salomón Sauan, ocorrido em 16 de dezembro de 1980 no Clube Social Sirio Argentino, onde foi tomar alguns drinks com o advogado Juan Carlos Masciaro, responsável pelo seu desaparecimento e exigiu da família da vítima a quantia de um milhão de dólares como pagamento de resgate. No filme, o empresário tem o nome de Gabriel Samid, e o advogado, Nelson Marquez (Darío Grandinetti, ator de "Fale com ela" e "Relatos selvagens"). Dois jovens assessores de juízes, Antonio González Rivas (Nicolás Francella) e Carlos Torres (Matías Mayer) são incumbidos de fazer a investigação e descobrir o paradeiro do empresário. Uma ligação exige 1 milhão de dólares de resgate. Policiais militares também entram na investigação.
O filme faz um paralelo entre o poder judicial de uma Argentina pós ditadura, e os militares, que mesmo fora do poder, ainda querem jogar suas cartas e mostrar que ainda mandam. "Um crime argentino" tem bons momentos de suspense, seguindo uma cartilha Hitchcockiana, para saber quem é o culpado e aonde está Gabriel Samid. O filme faz até uma homenagem à Hitckcock, onde os assessores ficam de vigia no prédio da frente de um dos suspeitos, assim como em "Janela indiscreta". Os atores são ótimos, e a direção é bem segura. Para ficar melhor, era ter tirado uns 20 minutos do filme, que acaba se arrastando mais do que o necessário.
How to make gravy
"How to make gravy", de Nick Waterman (2024)
"How to make gravy" é o nome de uma música escrita por Paulo Kelly em 1996, e desde então se tornou uma música obrigatória nas comemorações de Natal na Austrália. A letra, de mais de 5 minutos, traz o relato de um homem, Joe, que está na prisão. Ele escreve a carta no dia 21 de dezembro, 4 dias antes do Natal, para seu irmão mais novo Dan, onde relata a tristeza de não poder passar seu 1o Natal longe da família.
O filme é uma adaptação cinematográfica da música, com roteiro escrito pelo próprio diretor, Nick Waterman e Meg Washington.
Às vésperas de comemorar o Natal em família, Joe Daniel Henshall), sua esposa Rita (Agathe Rousselle, protagonista do francês "Titane", em seu 1o filme de língua inglesa) e o filho de 10 anos Angus (Jonah Wren Phillips) preparam a ceia para receber a família: a irmã Stella e seu marido Roger, o irmão mais novo Dan (Brenton Thwaites) e sua filha adolescente Meg, e o pai e avô dos irmãos. Joe cresceu amargurado pelo suicídio do pai e quando sua mãe morreu, foi ele quem cuidou dela, os irmãos não estiverem juntos. Joe e Roger brigam, e Joe acaba indo preso, ficando 6 meses na cadeia. Ali, ele conhece o cozinheiro Noel (Hugo Weaving), que procura ensiná-lo a como lidar com a tristeza e a solidão. Noel ensina a Joe a como preparar o gravy perfeito (molho tradicional feito com carne). Mas no dia que Joe irá receber a visita de sue filho Angus, ele briga com um outro preso e acaba tendo a sua pena aumentada.
Quem está acostumado a assistir dramas carcerários que envolvem famílias separadas ( como o turvo "Milagre na cela 7"), sabe que vai chorar bastante ao longo do filme, principalmente no final. O filme não economiza em cenas melodramáticas. Contando com um numeroso elenco e claro, com o ator australiano onipresente Hugo Weaving, "How to make gravy" pode não ser o filme de Natal ideal para assistir com. a família, até porque ele é bem depressivo e melancólico, mas vai fazer a cabeça de quem gosta de filmes de redenção. O músico Paul Kelly faz uma ponta como o motorista de ônibus.
O sequestro
"El rapto", de Daniela Goggi (2023)
Concorrendo no Festival de Veneza 2023, "O sequestro" é adaptado do livro "O salto de papai" de Martin Sivak. O filme retrata o período que se sucede após o fim da ditadura na Argentina, que durou de 1976 a 1983, com mais de 30 mil mortos. Com a anistia política, muitas famílias retornaram para a Argentina para um recomeço. Entre elas, a família de Julio (Rodrigo de La Serna), que retorna com sua esposa e seus dois filhos. Julio é recebido com festa pela sua família: seu irmão mais velho, Miguel (German Palacios), sua cunhada, seu pai, dono de uma empresa de financiamento de imóveis onde os filhos trabalham. Os dois irmãos se amam e juntos, convivem com a possibilidade de um futuro melhor para as suas famílias. Um dia, saindo do trabalho, Miguel é sequestrado. Julio faz de tudo para atender os pedidos dos sequestradores: fornece cada vez mais dinheiro, até se endividiar e endividar a emrpesa, e ainda assim, Miguel não aparece, transformando a vida de todas as famílias em um beco sem saída.
"O sequestro" poderia fazer dobradinha com "O clã", de Pablo Trapero, de 2015. Em ambos os filmes, a história traz a tragédia de famílias que sucumbiram à quadrilhas formadas por torturadores e agentes que serviam à ditadura, e que, com o fim da mesma, formaram grupos que extorquiam, sequestravam e matavam civis. É um filme muito duro, cruel, mostrando a derrocada emocional de um homem bom e que sucumbe à tragédia. A cena final é arrebatadora e de cortar o coração. Um trabalho formidável de todo o elenco, com excel6encia técnica na fotografia, direção de arte. ötimo trabalho de direção de Daniela Goggi, mesclando cenas de drama, suspense e ação.
sábado, 11 de janeiro de 2025
Álbum de família
"Temas propios", de Guillermo Rocamora (2023)
Indicado pelo Uruguai para uma vaga ao Oscar de filme internacional em 2024, "Álbum de família" é uma co-produção Argentina e Uruguai. O filme é um drama feel good movie, um sensível, divertido, dramático e apaixonante retrato de uma família de classe média uruguaia esfacelada. O protagonista é Manuel (Franco Rizzaro), 18 anos. Ele mora com sua mãe, Virginia (Valeria Lois), que dá aulas de inglês particular na cozinha de sua casa. O irmão de MAnuel, Augustin (Vicente Luan), 15 anos, tambem mora ali. Os pais de Manuel são divorciados. Manuel desiste de estudar engenharia e quer ser músico e montar uma banda, para desespero de sua mãe. Manuel decide sair de casa e morar com seu pai, César (Diego Crimonese), um homem endividado, que mora de favor em uma loja vazia que está à venda. Manuel quer montar uma banda junto de seu irmão Augustin, que é baterista, a sua namorada Eli (Angela Torres), que é vocalista e agora precisa de um baixista. Seu pai foi baixista em bandas nos anos 90, e se coloca à disposição para estar na banda do filho, que aceita. A banda se chama "Los automatas" e eles se apresentam em pequenos bares. Cesar vai aos poucos recuperando o tesão de sua juventude, enquanto MAnuel vai se perdendo em inseguranças.
Um filme excelente que retrata com muito realismo, as angústias de crescer e também, de querer voltar a ser jovem, no caso do pai. Esse contraste geracional é apresentado com um roteiro lindo, emocionante. A figura da mãe também é melancólica: uma mulher que se dedica aos filhos, ao seu trablho, em querer ser independente, mas entende que a vida não foi gentil com ela. A música cantada pelo grupo, "No soy yo", é um encanto, um rock indie muito gostoso de ouvir.
A descoberta
"En forelskelse", de Christian Tafdrup (2008)
Premiado drama lgbtqiap+ dinamarquês, "A descoberta" é um ousado e complexo filme que apresenta o despertar sexual de um adolescente de 16 anos, Carsten (Allan hyde), que se apaixona perdidamente pelo pai de sua namorada Melissa (Julie Grundtvig Wester). Os pais de Melissa, Stig (Lars Brygmann) e Birgitte (Ellen Hillingso) estão na faixa dos 40 anos e casados há 20 anos. Quando Carsten passa o final de semana na casa de veraneio dos pais de Melissa, ele sai para caçar patos com Stig. Sem poder aguentar o seu desejo, ele beija Stig, que de início recusa, mas depois se entrega. Todas as idas de carsten para a casa de Melissa acabam sendo desculpa para ele poder encontrar Stig.
O filme é dirigido com muita sensibilidade e respeito pelo diretor, que evita transformar um filme com temas tão tabus em algo escandaloso. O filme romantiza o primeiro amor gay de um adolescente por um homem mais velho. A questão é o que o pai também sente desejos pelo menino, e aí a questão da pedofilia fica bastante complexa. Os dois atores trazem dignidade aos personagens, em um filme que fala sobre saída do armário, primeiro amor e desejos reprimidos.
O paraíso dos espinhos
"Wiman Nam", de Naruebet Kuno (2024)
Um intenso dramalhão Lgbtqiap+ tailandês, "O paraíso dos espinhos" é co-escrito e dirigido pelo cienasta Naruebet Kuno. Ambientado em Mae Hong Son, área rural do país, o filme acompanha um jovem casal gay, Thongkam (Jeff Satur) e Sek (Pongsakorn Mettarikanon). Com muito trabalho, eles compraram um terreno, plantaram árvores de Durians (fruto local e muito apreciado pelos asiáticos) e construíram a casa onde moram. Um dia, ao subir em uma árvore para colher os frutos, Sek cai e bate a cabeça, ficando inconsciente. Desesperado, Thongkam o leva para o hospital, mas para ser atendido, ele precisa que um parente assine um atestado. Sem poder comprovar que é casado com Sek, pois o documento atestando o casamento não saiu. Thiongkam aciona a mãe de Sek, a idosa paraplégica Saeng (Srida Puapimol), que segue para a região junto de sua filha adotiva, Mo (Engfa Waraha) . Mas elas se acidentam no caminho e não chegam a tempo: Sek morre. Saeng e Mo, após o velório, decidem dar uma cartada em Thongkam: elas querem o tereno e a casa, pois como estava tudo em nome de Sek, elas se vêem no direito de reinvidicar tudo.
O roteiro não tem o mínimo pudor de trazer as personagens femininas como as grandes vilãs da história. O espectador torce bastante pelo personagem de Thongkam, e ainda mais, pelo de Jingna (Harit Buayoi), o irmão de Mo que chega para ajudar mas, para o desespero de Mo, se apaixona por Thogkam e o ajuda. Os gays são as grandes vítimas da história, e as viradas na história, todas bastante rocambolescas, são deliciosamente vis. O desfecho vai deixar muita gente chateada, pelo destino de um personagem querido. A fotografia é um grande destaque, realçando as locações tanto nas dirunas, quanto nas noturnas. (Engfa Waraha), no papel de Mo, mostra-se uma das grandes vilãs do cinema tailandês, merece aplausos pela complexa camada da sua personagem.
Teenage angst
'Teenage angst", de Thomas Stuber (2008)
Premiado drama juvenil alemão, recebeu prêmio especial no Festival de Berlin. O filme tem influências de "O jovem Torless:, obra de Robert Musil e adaptada por Volker Schlöndorff nos anos 70. O filme relata um grupo de 4 rapazes da elite alemã, que são enviados pelos pais para a melhor escola do país. Lá, os 4 decidem matar as aulas. Dois dos rapazes, mais violentos e rebeldes, estupram uma garota e ameaçam o mais frágil do grupo com socos e pontapés, humilhando o rapaz em tudo quanto é tipo de espancamento. Um dos rapazes vai até o diretor fazer a denúncia, mas o rapaz humilhado e espancado nega todas as agressões. "Angústia da juventude" não é um filme LGBTQIAP+, mas o diretor filma tudo com cenas de forte teor homoerético, com seu jovem e belo elenco semi-nús nas cenas e em situações sedutoras. Um filme aterrorizante, mostrando o quanto figuras tóxicas destroem a vida de jovens mais fragilizados. Os atores são ótimos e a fotografia intensifica o drama da história.
Escorregando para a glória
"Blades of glory", de Josh Gordon e Will Speck (2007)
Uma divertida comédia maluca estrelada por Will Farrel, no papel do campeão de patinação artística no gelo Michael Michaels. Ele tem como seu maior concorrente, Jimmy Macelroy (John Heder), um órfão adoptado quando criança por um milionário. Rivais, os dois se engalfinham na premiação e são expulsos, entrando em total declínio e levando uma vida de obscuridade. Jimmy trabalha como vendedor de patins, e Michael como animador de circo. Três anos depois, o ex-treinador de Jimmy, (Craig T. Nelson). decsobre que existe uma brecha no regulamento, permitindo que Jimmy possa se apresentar em dupla. Inesperadamente, e resolvendo as diferenças, ele se une a Michael. Mas eles precisam lidar com a concorrência na dupla Stranz e Fairchild, que farão de tudo para derrubar os concorrentes.
O filme é uma comédia para quem gosta de piadas politicamente incorretas e grotescas. Tudo no filme é over the top: os figurinos, as falas, os vilões, a caracterização e os números de dança de patins mega hiper kistchs, tendo músicas famosas como pano de fundo: "Con te partiró" abre o filme e é genial. Outra cena sensacional é o número da dupla ao som de Aerosmith, "I Don't want to miss a thing". é de se esborrachar de rir. Eu amo o tipo de humor de Will ferrel e aqui ele encontrou um parceiro à altura de suas sandices, John Heder, que também está incrivelmente engraçado.
Bacalhau
"Bacalhau", de Adriano Stuart (1976)
O que me chama mais atenção nessa paródia erótica de "Tubarão", clássico de Steven Spielberg, dirigida e escrita por Adriano Stuart, é pesquisar a carreira do diretor. Além de diretor, ele foi ator e produtor. Começou sua carreira dirigindo pornochanchadas e paródias, depois dirigiu 6 longas de "Os trapalhões" e ainda dirigiu o programa infantil na Globo "Tv Fofão". Outro feito foi ter realizado "Bacalhau" apenas 7 meses depois do filme "Tubarão" ter sido lançado nos cinemas, um recorde, o que deixa claro que o cinema comercial sempre funcionou como uma indústria, faturando em cima do que fazia sucesso. O filme é um mega trash divertido, e jamais se leva à sério. O bacalhau veio de Portugal, chamado de Bacalhau do Guiné, mas tem escrito na parte traseira "Made in Ribeirão Preto". A história segue exatamente igual ao original de Spielberg: ambientado em uma praia litorânea de São Paulo, logo no prólogo uma jovem é atacada pelo Bacalhau (repetindo a mesma cena de "Tubarão"). O prefeito da cidade, Petrôneo (Dionísio Azevedo), que tem uma amante, Ana (Helena Ramos), se recusa a escutar o delegado Breda (Helio Souto). de que um enorme bacalhau está matando banhistas, pois não quer que a notícia se espalhe e atrapalhe o turismo. O elenco é formado por Mauricio do Vale, no papel de um pescador que parodia o personagem de Richard Dreyfuss, Matilde Mastrangi, Neusa Borges, Canarinho, entre outros. O deboche maior é usarem como isca pedaços do disco de Amália Rodrigues, cantora portuguesa, para atrair o peixão.
Tudo no filme é caricato: piadas homofóbicas, sexistas, objetificadas. Mas em se tratando de pornochanchada, eram os temas recorrentes. Ainda assim, dá para se divertir bastante com tanta bizarrice na história e nos efeitos mega toscos.
Crônicas sexuais de uma família francesa
"Chroniques sexuelles d'une famille d'aujourd'hui", de Pascal Arnold e Jean-Marc Baar (2012)
Jean Marc Baar é mais conhecido como ator dos filmes "Europa", de Lars Von Trier e "Imensidão azul", de Luc Besson. Aqui, ele resolve co-dirigir esse filme de forte contexto sexual, recheado de cenas de sexo explícito envolvendo atores de várias faixas etáreas. A idéia de Jean Marc e seu colega Pascal Arnold, foi fazer uma provocação sobre a moralidade da sociedade, trazendo atores que emprestam seus corpos para falar de sexualidade , de cenas de sexo reais e não simuladas, uma alternativa aos filmes pornográficos.
Romain (Matthias Melloul) é um adolescente de 18 anos pêgo em sala de aula se masturbando. O rapaz é repreendido e toda a sua família de classe média alta fica sabendo: a mãe, o pai, o irmão mais velho, sua irmã e seu avô. O fato provoca nos integrantes da família, individualmente, uma busca pela sua sexualidade, os dilemas e tabus. O filme destrincha a vida sexual de todos os integrantes da família do rapaz. Acompanhamos a rotina de cada pessoa da família em suas inseguranças acerca de sua sexualidade. O avô que contrata com uma prostituta; o irmãos mais novo que quer perder a virgindade; o irmão mais velho que só faz sexo a três; os pais que tentar recuperar o tesão que tinham há anos atrás; e a irmã que se excita ouvindo sacanagem. Como o próprio titulo diz, são crônicas de uma família que se expõe em seus tabus, taras e fetiches. Os diálogos são naturalistas, como se os diretores quisessem que o espectador estivesse ali como voyeur, espreitando as intimidades de cada um. O que mais impressiona, é a forma como os atores franceses lidam com o sexo nas cenas. Aqui, todos participam de cenas de sexo explícito, se expondo por inteiro em cenas intensas de tesão.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
No 24
"No 24", de John Andreas Andersen (2024)
Baseado na história real do herói de guerra norueguês Gunnar Sønsteby (Sjur Vatne Brean quando jovem e Erik Hivju quando idoso), o cidadão com maior número de condecorações, falecido em 2012 aos 93 anos. O filme se passa em 2 épocas: 2007, durante uma palestra que Gunnra, idoso, dá para fãs e leitores de seu livro, e durante a 2a guerra, que vai de 1937 a 1945. Em 1937, Gunnar e seu melhor amigo, Erling Solheim (Jakob Maanum Trulsen), estão esquiando na montanha e discutem sobre o avanço do nazismo. Para surpresa de Gunnar, Erling é simpatizante aos naxistas. Os anos se passam, a guerra explode e a Noruega é tomada por 800 soldados nazistas. Erling está do lado dos nazistas, e Gunnar em seu trabalho, se sente incomodado com a situação do país. Ele decide integrar em um grupo de resistência, e após ser recrutado pelos espi!ões, ele recebe o No 24. Ele é o mestre dos disfarces, e acaba dificultando a busca dops nazistas pela sua pessoa. Enquanto seus colegas de resistência sucumbem à bebidas e mulheres, Gunnar leva tudo à sério.
Quem curte um filme de espeionagem ambientado na 2a guerra, vai gostar desse filme de orçamento modesto, mas que traz boa produção e belas locações, rodado na Lituânia, se passando pela Noruega. É uma grande novela, com traições, romances e amizade rompida, com direito a um desfecho emocionante.
Madame Ida
"Madame Ida", de Jacob Moller (2024)
Produzido pela Zentropa, produtora do cineasta Lars Von Triers, "Madame Ida" é um denso drama intimista escrito e dirigido pelo dinamarquês Jacob Møller. Assim como nos filmes de Lars Von Teriers, as protagonistas femininas sofrem abusos, misoginia e violência. Angustiante, clastrofóbico, "Madame Ida" se passa nos anos 50. Em um orfanato, Cecília (Flora Ofelia Hofmann Lindahl), é uma das menores com mais idade ainda a permanecer no local. Cecília já foi devolvida algumas vezes, e o passar dos anos a deixa amargurada. Cecília está grávida, e quando a diretora descobre, a esboteia, querendo saber quem é o pai. O tutor de Cecília, um dos diretores do local, um homem mais velho, abusou dela, mas pede para que Cecília mantenha em segredo. Cecília acaba sendo adotada temporariamente por Ida (Christine Albeck Børge), uma mulher de meia idade que mora sozinha em uma mansão afasyada, junto de sua governanta Alma (Karen-Lise Mynster). Segundo o acordo, assim que Cecília der à luz, ela será devolvida ao orfanato. Porém, durante a gestação, Ida manifesta carinho por Cecília, ensinando-a a dançar, interagem, trazendo alegria para as duas mulheres. mas quando a bebê nasce, tudo muda. Ida torna a se tornar rancorosa, e durante um jantar, apresneta a bebê para os convidados como sendo sua.
O filme me lembrou Bergman, principalmente "Gritos e sussurros", que tem uma ambientação muito semelhante, de mulheres dentro de uma mansão e como o relacionamento delas traz muita tristeza e sofrimento. O elenco feminino ganhou um prêmio coletivo no Festival de Torino.
Luciferina
"Luciferina", de Gonzalo Calzada (2018)
Esse filme de terror argentino faz o que "O bebê de Rosemary" não fez: mostrar de forma explícita a cena de sexo entre o Diabo e uma mulher, no caso, uma noviça, Natália (Sofia Del Tuffo). E mais: mostra também a única sessão de exorcismo do cinema onde o Diabo é expulso através do sexo. Parece até uma paródia, mas não: o filme é levado à sério, e bastante realista. Escrito e dirigido por Gonzalo Calzada, o filme ficou famoso por essa longa cena de sexo selvagem. Mas acaba sendo uma metáfora sobre os abusos do poder e da violência da ditadura argentina dos anos 70, e como o amor é a única solução para expulsar os fantasmas da opressão.
Natália é uma noviça de 19 anos que saiu da casa de seus pais e foi morar em um convento. Natália tem tido visões sinistras. A madre lhe dá um recado de que seus pais sofreram um grave acidente e a sua mãe morreu. Ao visitar a casa dos pais, ela reencontra sua irmã Angela (Malena Sanchez), que diz que tem tido visões e que algo no passado com seus pais deve ser revirado para que elas entendem o significado de tudo. Angela convida Natalia para irem até uma Ilha deserta, onde é dado um ritual por indígenas, que servem o Ayuaska. Elas vão junto de um grupo de amigos da faculdade de psicologia de Angela, entre eles Abel (Pedro Merlo). Todos têm tido pesadelos e visões. Acredita-se que no ritual, eles irão se libertar de seus medos e entender o significado de tudo. O grupo descobre que nos anos 70, funcionava no prédio da ilha um hospital psiquiátrico, onde o governo da ditadura levava presos políticos.
O filme lida com muitos temas distintos, o que acaba saindo do foco inicial e esticando a trama além do necessário, com uma duração de quase 2 horas. É um filme interessante, eu teria amado se a questão da ditadura militar viesse mais ativamente na história, mesclado à uma ritual satânico. Para quem gosta de terror, o filme tem bons momentos. não é tão gore como gostaríamos, e os efeitos lembram os filmes de Lucio Fulcii ou Lamberto Bava dos anos 80.
And Mrs
'And Mrs", de Daniel Reisinger (2024)
Quando sua mãe faleceu de complicações da Covid em 2022, o cineasta inglês Daniel Reisinger decidiu fazer seu luto através do roteiro escrito por
Melissa Bubnic. No final do filme, surge a cartela para quem ele direciona o projeto: "Para os enlutados e para aqueles que se foram."
O filme é uma comédia dramática sobre um casal apaixonado prestes a se casar: a inglesa Gema (Aisling Bea) e o americano Nathan (Colin Hanks, filho de Tom Hanks). Os dois moram juntos. De manhã, Gema segue para sua aula d eioga, deixando Nathan dormindo. Ao retornar, ela o descobre morto na cama. O diagnóstico do médico é de que ele sofreu embolia pulmonar ao vestir a meia, uma fatalidade. Gema fica enlutada, mas para surpresa e choque de sua melhor amiga Ruth (Susan Wokoma) e de seus pais, (Sinéad Cusack e Peter Egan), ela decide seguir com a cerimônia do casamento, a sua forma de enfrentar o luto. Todos são contra, e ela ainda precisa enfrentar um processo judicial, pois para a justiça, esse caso inédito vai contra todas as leis. A única que lhe dá apoio é a irmã de Nathan, Billie Lourd, filha de Carrie Fisher), uma hippie com mentalidade liberal, que se sente culpada por ter ficado tanto tempo sem ver seu irmão.
O filme tem diálogos muito inspirados ( em determinado momento, Gema diz à Billie que Nathan só chorou 2 vezes na vida: quando a irmã não veio pro Natal para comemorar com ele, e quando Nemo reencontra seu pai). Os atores são todos adoráveis, e o filme traz Nathan o tempo todo, como um pensamento de gema. Mesmo sendo uma comédia , o filme tem um tom melancólico e no desfecho, chorei bastante. É muito emocionante e pode ser gatilho para quem entende o posicionamento de Gema.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
Babygirl
"Babygirl", de Halina Reijn (2024)
A roteirista e diretora holandesa Halina Reijn dirigiu em 2019 seu primeiro longa, "Instinto", sobre uma psicóloga que se apaixona por um detento que ela atende. Essa relação sobre poder e sobre ética profissional é repetida no seu excelente "Babygirl". (curiosamente, o 2o longa de Halina é o cult de terror "Bodies, bodies, bodies", também da A24, mesma produtora de "Babygirl"). E vale fazer uma comparação com outro filme vigoroso igualmente escrito e dirigido por uma mulher européia: Coralie Fargeat e "A substância". os dois filmes têm muito a ver, não só pelas pautas misógenas, etaristas e de auto crítica e auto estima, quanto pela homenagem que fazem às suas estrelas, em auto referências à sua história de vida e como são vistas pela mídia: Demi Moore e Nicole Kidman, que tem uma cena emblemática aplicando botox e sua filha comentando que ela está com cara de peixe morto.
O filme é repleto de sub-textos: sororidade, relações de poder, pautas geracionais, liberdade sexual, luta de classes, assédio moral e sexual, frigidez, crise no casamento. Ofilme deu à Nicole Kidman o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza 2024, merecido, pois ela está totalmente vulnerável em cena, se apresentando nua e em cenas de sexo de alta voltagem. Preciso mencionar também o grande talento e força do jovem Harris Dickinson, que teve culhão o suficiente para dividir quase metade do filme em cenas de embates psicológicos e sexuais com Nicole Kidman, que notoriamente não é uma atriz fácil de lidar. Antonio Banderas, que interpreta o bom marido de Romy (Nicole), Jacob, interpreta um diretor de teatro feliz com seu casamento e duas filhas e que aos poucos, vê o relacionamento ruir. Romy é uma poderosa Ceo de uma empresa de alta tecnologia, que ao conhecer o estagiário Samuel (Dickinson), tem sua vida totalmente desestruturada. O jogo se inverte, e Samuel assume o pdoer no jogo de sedução com Romy, em cenas tórridas que lembram muito o cult "9 1/2 semanas de amor", de Adrian Lyne.
Baby
"Baby", de Marcelo Caetano (2024)
Vencedor do prêmio Louis Roederer Foundation Rising Star de 2024 no Festival de Cannes para o ator Ricardo Teodoro, no papel do garoto de programa Ronaldo, e trambém de diversos prêmios internacionais e macionais, entre eles, o Teddy e melhor filme no Festival do Rio 2024, dividido com "Malu", e melhor filme latino americano em San Sebastian. O filme nos apresenta a Baby (João Pedro Mariano), um rapaz de 18 anos de São Paulo que é liberado da Febem após 2 anos presos por tacar fogo na escola, uma forma de se vingar dos alunos que eram homofóbicos. Seus pais, envergonhados, se mudaram para Santos. Sem ter aonde ficar, Baby mora nas ruas, até conhecer por um acaso Ronaldo, um garoto de programa de 42 anos, que faz michê dentro de um cinema de pegação. Ronaldo decide levá-lo para sua pequena casa na periferia, e vê em Baby potencial para fazer dupla como garotos de programa. Ronaldo, apaixonado por Baby, tem ciúmes dele com outros clientes e faz de tudo para protegê-lo. A situação se complica quando eles vendem drogas para poder aumentar a renda.
Com participações de Bruna Linzmeyer, Marcelo Várzea e um elenco numeroso e com muito talento, "Baby" tem uma excelente fotografia de Pedro Sotero e Joana Luz e uma trilha sonora envolvente de Bruno Prado e Caê Rolfsen, com destaque para a música cult de Dalida "Monday tuesday" em uma deliciosa cena numa balada de terceira idade.
O filme faz um painel sobre a vida da comunidade lgbt marginalizada, sem teto e de periferia de São Paulo, com referências às houses de Vogue. Além de Ricardo Teodoro, João Pedro Mariano também entrega uma linda e bela performance, com doçura, coragem e seduçao para seu personagem Baby.
Data de validade
'Expiration date", de Aj Lovelace (2024)
Vencedor de vários prêmios internacionais de melhor curta Lgbtqiap+, "Data de validade" é um drama comovente e honesto que fala sobre o poder do amor como cura para doenças terminais. O filme é escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Aj Lovelace.
Lovelace interpreta Leo, um homem com tumor cerebral. O diagnóstico que recebeu indica que ele está em estágio terminal. Leo se recusa a fazer tratamento. Quando ele conhece Jesse (Edwin Walker) ao passar mal na garagem, ele descobre que Jesse é médico. Jesse insiste que Leo faça tratamento, mas Leo recusa. Com o tempo, os dois v!ão se curtindo e formma um casal. Ao passar mal novamente, Leo, já apaixonado pro Jesse, decide aceitar fazer o tratamento.
É um filme sobre o amor, e de que forma a atenção e o carinho das pessoas próximas que nos amam, são a melhor receita para yuma cura. Um filme sobre fé, resiliência e sobre afeto.
Beautiful friend
"Beautiful friend", de Truman Kewley (2023)
Thriller psicológico indie americano, "Beautiful friend" flerta com o terror ao apresentar um psicopata misógeno que decide sequestrar uma jovem durante a pandemia da covid na Califórnia. A narrativa do filme me lembrou muito o cult de terror austráico "Medo/angústia", de Gerald Kargl, onde o filme é todo narrado em off pelo protagonista, para que o espectador entenda as motivações, pensamentos e reflexões da mente de um assassino.
Na verdade, 'Beautiful friend" é dividido em 2 segmentos: o 1o é todo narrado em off pelo psicopata, com divagações existenciais sobre os seus atos. O 2o ato já traz uma estrutura mais narrativa, com conversas entre o sequestrador e sua vítima em cativeiro.
Daniel (Adam Jones) é um estudante de cinema introvertido e anti-social. Ele nunca teve nenhum relacionamento com mulhers e não entende porque elas o evitam. Ele sequestra uma mulher, Madison (Alexandra Meyer) e decide fazer um filme sobre essa experiência, documentando todo o processo.
O filme é controverso e traz cenas que irão provocar revolta no público, e a mais problemática, é a cena do estupro de Madison. Daniel decide gravar o ato, dá um banho na jovem e em um único plano sequência, ele a violenta. É uma cena brutal e bastante incômoda. Mais adiante, ele procura, já no cativeiro, fazer com que ela se apaixone por ele, e Madison decide entrar no jogo, forjando ser uma vítima da síndrome do Estocolmo. Não é um filme que possa ser recomendado pelo teor problemático e que pode provocar gatilhos. Os dois atores foram corajosos e bastante envolvidos com o processo do filme, junto ao diretor Truman Kewley.
Bibi
"Bibi", de Christopher Beatty (2023)
Uma boa idéia que renderia um ótimo ctra, acabou estendido em um longa e acaba se tornando tedioso e repleto de cenas que enchem linguiça, com sub-tramas e personagens paralelos que pouco acrescentam à ação. O filme é um trhiller psicológico sobre uma mulher traumatizada pela morte de sua filha pequena, Ava, morta na banheira. Desde então, Vivian Ashwood (Elizabeth Paige) faz terapias com um psiquiatra, que receita remédios para ele poder lidar com os tomentos mentais que a deixam desestabilizada. Vivian mora com sua outra filha, Bibi (Judith Ann Di Minni), que sofre as consequências da doença mental de sua mãe. Ambas passam a ter visões envolvendo um homem vestido de padre.
Eu já esperava a revelação final, que me pareceu óbvia. O que é real e o que é imaginação? O filme, através de sua montagem propõe ao espectador entrar na mente das personagens e procurar desvendar o trauma da protagonista. Mas não é difícil descobrir. Cono o filme se estendeu demais, acaba que as pontas vão se ligando. Tivesse sido um cyrta, a revelação teria sido mais assustadora. O elenco alterna entre bons e maus momentos, e a tensão praticamente inexiste. Faltou um toque de Shyamalan para provocar mais suspense e um plot twist matador.
Pânico na floresta 2
"Wrong turn 2- dead end", de Joe Lynch (2007)
4 anos depois do filme original, que fez um grande sucesso em lançamento em dvd, "Pânico na floresta 2" (que nos cinemas e dvd teve na época o título de "Floresta do mal") traz de volta os mutantes canibais na floresta de West Virgínia. O filme ignora totalmente o filme anterior, pois não há nenhum link ( até porque sobrevivem 2 personagens no filme de 2003, e aqui nada mudou ou aconteceu).
Um reality show foi montado na floresta, no estilo de "No limite"". Um grupo de 6 candidatos está preparado para enfrentar a floresta em ritmo de sobreviv6encia, comanbdados por um apresentador que foi ex militar, Dale. Uma das candidatas, Kimberly Caldwell ( interpretando a si mesma, ela ficou famosa como uma das participantes de "American idol") erra o caminho e acaba sendo morta pelos canibais. A partir daí, os candidatos, equipe vão sendo caçados um a um.
Muita coisa difere desse filme do excelente filme de 2003: o tom aqui é menos sério e mais debochado; as cenas de tensão, muito bem construídas no filme anterior, aqui sofre com o ritmo e com o roteiro; e principalmente, os atores, aqui menos talentosos. De positivo, as cenas de morte são mais brutais e gore ( mas de verdade, nenhuma bate a originalidade da machadada no maxilar do filme de 2003). É uma pena que o melhor personagem do filme acabe morrendo no final.
Wrapped up in you
"Wrapped up in you", de Tosca Musk (2018)
Adaptação do conto escrito por Ella Frank e Brooke Blaine, "Wrapped up in you" é um romance lgbtqiap+ adocidado, sobre um casal gay apaixonado.
Vaughn Bennett (James Austin Kerr) é um médico que dedica muito do seu tempo ao hospital e aos pacientes. Carter Pierce (Thomas Hobson) é seu marido. Em todos os feriados, Vaugh nunca consegue dedicar o seu tempo a Carter, pois sempre existe uma emergência no hospital. Em flashback, o filme apresenta como os dois se conheceram: Carter se acidentou e acabou sendo atendido por Vaugh. FOi paixão à primeira vista. Mas chegou o período natalino, e dessa vez, Vaugh quer faezr um anúncio para Carter.
O filme é tão açucarado e tão sem conflitos, que parece aquelas produções da Hallmark, feito para as pessoas assistirem e acharem que o mundo é lindo e maravilhoso. É um filme fofo, que se assiste desejando ter alguém que nos ame da mesma forma. Uma ótima química entre os atores que representam o casal.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Rapado
"Rapado', de Martin Rejtman (1992)
Longa de estréia do premiado cineasta argentino Martin Rejtman (cujo filme "Dois disparos", de 2014, eu acho espetacular) , "Rapado" teve inspiração no cinema da Nouvelle vague taiwanesa, principalmente os filmes de Edward Yang, segundo o próprio Rejtman. Assistindo ao filme, no entanto, é possível enxergar uma referência direta à "Ladrões de bicileta", de Vittorio de Sica. Rejtman traz em seus filmes um tipo de humor que lembra as filmografias de Aki Kaurismaki e Jim Jarmush em seus primeiros filmes: filmes onde os personagens não expressam emoção, e onde as situações focam no corriqueiro, sem grandes reviravoltas. A vida é apresentada com total apatia, uma vida sem cor e sem charme. Em seus filmes, geralmente os protagonistas jovens representam uma sociedade falida, sem rumo e sem ambição. O filme concorreu no Festival de Locarno.
Lúcio (Ezequiel Cavia) é um jovem que mora com seus pais. Uma noite, a sua motocicleta é roubada. Lúcio passa os dias vagando pelas ruas de Buenos Aires tentando localizar a sua moto. Sem esperança, e influenciado pelo seu amigo Damian (Damian Dreizik), que rouba motos, Lucio também decide roubar uma para si.
O filme apresenta a rotina de jovens sem muito o que fazer: paqueram, frequentam lojas de games. Os atores do filme representam bem o estilo narrativo de Rejtman, totalmente apáticos ( eu amo a forma como os americanos chamam, 'wooden face"). O humor é muito particular, aquela graça que vem do pat;etico e do constrangimento.
Pânico na floresta
"Wrong turn", de Rob Schmidt (2003)
"Pânico na floresta" é um ótimo slasher dos anos 2000, uma tentativa de reviver o gênero que andava esquecido. Infelizmente, o filme acabou gerando mais 6 continuações, cada uma com uma história independente e com tramas bizarras. O melhor mesmo é esse original, datado de 2003 (o último é de 2021). A trama é bem batida: em uma floresta na West Virgínia, moram 3 canibais, resultantes de produtos quimicos jogados no rio. Existe uma encruzilhada no início da estrada e todo mundo que pega a curva errada, vai se deparar com os famintos por carne humana. Entre eles, o médico Chris, que acaba batendo no carro de um grupo de 5 jovens turistas, entre eles, Jessie (Eliza Dushku). Com os carros danificados, eles vão andar à pé e tentar localizar alguém que os ajude.
O filme não traz nenhuma novidade no roteiro, repleto de clichês ( em 2006, foi lançado "Viagem maldita", que é quase a mesma história, só que acontece em um deserto). O que torna esse filme um grande destaque e um dos favoritos dos fãs de terror, são as cenas de tensão e suspense muito bem construídas, e mortes brutais, especialmente uma que é uma machadada que separa o maxilar de um personagem, uma cena inesquecível na antologia de mortes de filmes slasher.
Sugar baby
'Sugar baby", de Christian Paolo Lat (2023)
Drama erótico com uma sub-trama policial, "Sugar baby" é um filme filipino que retrata a vida de garotas de programa de luxo em Manilla, capital das Filipinas. Jennifer (Azi Acosta) mora com seu companheiro Spencer e são pais do pequeno Alex. Jennifer é religiosa e uma mãe atenta à saúde de seu filho, que tem leucemia. Seu marido é viciado em jogos e deve uma fortuna aos agiotas. Jennifer trabalha em uma joalheria, e ao pedir um adiantamento pro patrão para pagar os custos do hospital, ele tenta estuprá-la e ela revida. Rica (Robb Guinto), sua amiga de adolescência, retorna de viagem e sugere que Jennifer venha trabalhar com ela como Sugar daddy, e assim, poder pagar os custos do filho doente. Rica apresenta Jennifer ao cafetão Santos, e Jennifer, incialmente tímida, é iniciada no sexo pela própria Rica. Um cleinte de Jennifer, Eric, revela ser um agente da polícia infiltrado, querendo prender Santos e sua quadrilha, e usa Jennofer como isca.
"Sugar baby" é repleto de cenas de sexo e nudez feminina, deixando clara a intençãp do diretor e produtores de objetificar os corpos das mulheres. Fosse no Brasil, o filme seria facilmente identificado como pornochanchada, sem a parte de humor. Uma trama simples, com uma protagonista que percorre uma verdadeira via crucis para se sacrificar pelo tratamento do filho. Os personagens masculinos são todos machistas e exploradores misógenos. Cabe às mulheres a sororidade esperada para enfrentar um mundo violento e cruel.
Miss Kicki
"Miss Kicki", de Hakon Liu (2009)
Protagonizado pela estrela sueca Pernilla August, que trabalhou com Ingmar Bergman em "Fanny e Alexander", "Billie AUgust em 'As melhores intenções" e até mesmo com George Lucas em 'Star Wars- A ameaça fantasma", no papel de Shmi Skywalker, mãe de Anakin Skywalker, futuro Darth Vader. "Miss Kicki" é uma co-produção Suécia e Taiwan, rodada nos dois países. O filme fala sobre a complex e conflituosa relação entre uma mãe solteira. Kicki, e seu filho de 17 anos, Viktor (Ludwig Palmell), com quem ela não se relacionava há anos, desde que se mudou para os Estados Unidos e o deixou com sua mãe. Retornando para a Suécia, Kicki é solitária e depressiva. Ela mantém um relacionamento à distância com um chinês de TAiwan, Mr Chang, que a convida para visitá-lo em Taiwan. No dia de seu aniversário, Kicki recebe a visita de sua mãe e de seu filho. Para poder se aproximar mais de Viktor, ela o convida para passar uma semana em Taiwan, escondendo dele a real intenção dela querer visitar o país. Chegando lá, Viktor perambula sozinho pelas ruas, enquanto Kicki vai procurar Mr Chang, e ele conhece Didi (River Huang), um jovem taiwanês que faz parte de uma gangue de rua. Entre os dois rapazes, nasce um sentimento de atração mútua.
Um belo filme, dirigido com bastante sensibilidade por Hakon Liu, um cineasta nascido na Noruega, de pai Taiwanês e mãe norueguesa. O filme é melancólico e tem um tom depressivo ue percorre toda a narrativa. Com belas imagens de Taiwan, e uma fotografia que enaltece a geografia do país e os neons noturnos da cidade. O elenco está excelente, incluindo os personagens coadjuvantes. A cena do jantar na cada de Mr Chang é um primor de roteiro e direção de cena.
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Dois disparos
"Dos disparos", de Martin Rejtman (2014)
Que delícia de filme! Eu amo qualquer filme que traga referências do tipo de humor do cineasta finlandês Aki Kaurismaki. Escrito e dirigido por Martin Rejtman, essa comédia dramática argentina traz todo aquele universo de personagens apáticos e que não expressam emoções, e situações corriqueiras e banais apresentadas de forma sêca e fria pela narrativa. Concorrendo no prestigiado Festival de Locarno, o filme começa com uma sequência inusitada e patética, que me lembrou do clássico de Louis Malle, "30 anos essa noite": a preparação de um homem para o sue suicídio. Só que no filme de Malle, existe toda uma densidade dramática. Aqui, é um olhar documental, registrando friamente cada passo do protagonista, Mariano (Rafael Federman), 16 anos: ele dança na balada, chega em casa, toma banho de piscina, arruma a sua garagem, encontra uma arma, vai até seu quarto e sem qualquer motivação, dá um tiro na sua cabeça e outra no estômago. Mariano não morre: 2 semanas depois, ele chega em casa com sua mãe Susana (Susana Panpim) e seu irmão Ezaquiel (Benjamin Coelho) como se nada tivesse acontecido. Mariano é flautista e faz parte de um quarteto de flautas. Ezequiel conhece uma atendente de fast fodd, Ana (Camila Fabbri), por quem se apaixona. Num final de semana na praia, Mariano conhece Lucia (Manuela Martelli) e a convida para fazer parte do quarteto, após a saída de uma integrante.
O filme tem um título que tanto serve para os dois tiros que Mariano dá em si, quanto também para a narrativa do filme, dividido em 2 segmentos distintos: a 1a parte, acompanha Mariano, Ezequiel e as mulheres por quem se interessam. Na 2a parte, a protagonista é Susana e outros personagens adultos. Eu particularmente gosto muito mais da 1a parte, os personagens são mais divertidos e as situações são muito mais constrangedoras e bizarras. A 2a parte com os adultos perde muito do humor de situação, e os atores não exploram tão bem o tipo de humor apático que o filme exige. Mas no geral é um filme interessantíssimo e que me fez gargalhar bastante.
Pássaro branco- Uma história de extraordinário
"White bird", de Marc Foster (2023)
Continuação direta de "Extraordinário", grande sucesso do cinema estrelado por Julia Roberts e Jacob Trembley em 2017 e dirigido por Stephen Chbosky, "Pássaro branco - uma história de extraordinário" curiosamente ganha vida acompanhando um dos personagens coadjuvantes do filme anterior. Ninguém queira assistir ao filme achando que Julia Roberts ou Jacob Trembley irão aparecer. O filme começa com Julian Albans (Bryce Gheisar), o garoto que foi expulso da escola por estimular o bullying contra o personagem de Jacob Trembley, August, por ele ser "diferente". Frustrado e depressivo, sem amigos, Julian está em uma escola nova, mas não fez nenhuma amizade. Ao chegar em casa, ele recebe a visita de sua avó, a famosa artista plástica Sara Albans (Helen Mirren). Para estimular e fazer seu neto repensar os seus atos, ela lhe conta a sua história de vida, ocorrida durante a 2a guerra mundial na França. Sofrendo bullying na escola por ser judia, Sara tinha o dom do desenho. Com a ocupação nazista, ela se refugia na casa de uma família, que a esconde. Proibida de sair pelo casal para evitar de ser presa, Vivianne (Gillian Anderson) e Jean Paul, Sara acaba ficando amiga do filho deles, Julien (Orlando Schwerdt), portador de poliomielite e que ensina a ela tudo o que ele aprende na escola. Os dois acabam se apaixonando.
Claro que com tanto melodrama e romance, o filme irá terminar em tragédia. O filme comove e para quem é fã de filmes para chorar, será bem recompensado aqui. Helen Mirren é uma isca para o filme, ela não deve ter mais que 15 minutos de tela. Mesma coisa Gillian Anderson, que também faz participação pequena. O filme é dos jovens Ariella Glaser, que interpreta Sara adolescente, e de Orlando Schwerdt. Os dois possuem excelente química em cena, e confesso que fiquei revoltado com o desfecho de um deles.
Freddy Vs Jason
"Freddy vs Jason", de Ronny Yu (2003)
Crossovers entre personagens icônicos do cinema de gênero sempre foi um fan service que deixou a galera ávida para assistir. Teve "Alien vs Predador", "Godzilla vs Kong", "O grito vs O chamado". Mas a verdade, é que nenhum desses filmes foi bom, era tudo caça níquel. Claro que "Freddy vs Jason" entra nessa levada. Lançado em 2003, a maior bizarrice foi entender que Crystal Lake e Elm Street fazem parte do mesmo universo. E quando as duas icônicas trilham tocam juntas, vira fan service total. Ronny Yu, que dirigiu o filme, realizou o mega cult "A noiva de Chucky", um dos mais celebrados da franquia do boneco assassino. "Freddy vs Jason" foi um grande sucesso de bilheteria. Custou 30 milhões de dólares e rendeu 114 milhões. No inferno, Freddy lamenta que os jovens não o conhecem mais, pois as autoridades médicas criaram um remédio que impede que os jovens sonhem. Freddy decide entrar no sonho de Jason, e fazer com que ele mate a garotada de Elm Street para colocarem a culpa em Freddy e ele poder fortalecer novamente. Mas quando Jason toma gosto pelas mortes, Freeddy fica com ciúmes.
Diferente das franquias de 'Sexta feira 13" e até de "A hora do pesadelo", dá para rir bastante com "Freddy vs Jason". Não porquê ele seja trash ou ruim, mas porque Freddy está mais irônico do que nunca e soltando um monte de piadinhas, e Jason comete umas mortes bem toscas que nem dá para assustar como em seus filmes solo. Tem uns fetiches bizarros no filme: Freddy fazendo sexo com uma morta, Freddy se fazendo passar pelo pai de uma mocinha e beijando de língua a própria filha. O qiue é legal , é que o filme mostra as origens de Freddy e de Jason, e faz um clip em flashback pro espectador quem não conhece nenhum dos dois explicando direitinho. Uma das melhores sequências é a de Jason passando o facão em uma rave no milharal, bem divertida.
Soulmate
"Soulmeiteu", de Young-Keun Min (2023)
Remake sul coreano de um grande sucesso chinês de 2016, "Soulmate" apresenta a amizade de 2 mulheres pelo período de 14 anos, começando quando elas tinham 11 anos de idade. O filme é um melodrama clássico, com traições, mortes e uma amizade que se mostra inabalável, mesmo com tantos dissabores. Em 1998, Ha-eun (Jeon So-nee), uma menina introvertida de 11 anos, mora com seus pais na ilha de Jeju, sul do país. Uma nova aluna chega na sala: Mi-so (Kim Da-mi) , também de 11 anos e que veio trazida por sua mãe, de Seul. Mi-so é extrovertida e tem um espírito livre. As duas logo se tornam amigas. A mãe de Mi-so a abandona, e Mis-o é adotada pelos pais de Ha-eun, tornando-se grandes amigas inseparáveis. No ensino médio, Ha-eun se apaixona por um aluno de medicina, Jin-woo (Byeon Woo-seok), e esse fato irá abalar a amizade das duas.
O filme mostra a paixão das duas amigas pelas artes pláasticas, e tem como pano de fundo a busca pelo sonho profissional, independente do desejo dos pais por uma profissão mais convencional. Para quem gosta de melodramas lacrimosos, o filme é uma grande pedida, com boas atuações das protagonistas e suas versões mirins. Nesses 14 anos de amizade, o filme traz diversos contextos sócio econômicos do país, como a grande crise econômica de 2012, que gerou muitos suicídios. O filme pode confundir bastante por conta de sua montagem, que vai e vem nos tempos. Eu mesmo me perdi em diversas vezes, até porque são outras atrizes que a sinterpretam em outras idades.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Doze
"Dose", de Senedy Que (2009)
Quando ALmodovar lançou em 2019 'Dor e glória", muitas pessoas ficaram comovidas com o relato autobiográfico onde um menino de 10 anos tinha o seu primeiro desejo sexual por um homem adulto, em cenas sensíveis e delicadas devido ao teor polêmico. O filme filipino "Doze", um relato autobiográfico do cineasta filipino Senedy Que, vai muito além. O filme tem cenas sugeridas de sexo entre o menino Eddy (Fritz Chavez) e o jardineiro que trabalha na casa de sua tia, Danny (Yul Servo). Eddy é enviado pela sua mãe para morar na casa de sua tia Helena (Irma Adlawan), por n!ão ter como sustentar mais um fiho, e também pelo fato de Eddy ter trejeitos afeminados. Eddy se sente solitário ao morar na imensa casa de sua tia Helena, sem amigos. Na escola, ele sofre bullying. Quando Eddy conhece o jardineiro, ele se apaixona de imediato. Danny estranha as investidas do menino, mas aos poucos, passa a gostar de Eddy. Eddy descobre que Danny é amante de sua tia Helena e fica enciumado.
O personagem de Eddy é apaixonado por atrizes antigas de televisão e por isso, ele tem o desejo de ser escritor e cineasta. O filme transita em 2 épocas, a de Eddy aos 12 anos, e Eddy aos 40, indo em busca de Danny.
O filme nunca mostra as cenas íntimas de Eddy e Danny de forma expositiva, deixando tudo nas entrelinhas e nos diálogos. É corajoso o filme ter sido realizado. Aqui no Brasil dificilmente ele teria sido feito, muito por conta do juizado de menores que jamais deixaria um ator mirim participar do projeto. O que é visto como pedofilia (quem toma a iniciativa é o menino, inciialmente) , é uma perversão apresentada de forma romantizada no filme até porque é um relato apaixonado do cineasta sobre as memórias do primeiro amor de sua vida. Um filme que pode gerar debates calorosos sobre o complexo tema.
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