sábado, 29 de dezembro de 2018

Rio 40 graus

"Rio 40 graus", de Nelson Pereira dos Santos (1955) Longa de estréia de Nelson Pereira dos Santos, que também escreveu o roteiro. Com uma forte influência do Neo-realismo italiano, o filme deixa de lado as chanchadas da Atlântida e os romances da Vera Cruz para mostrar as mazelas sociais de uma das cidades mais lindas do mundo, mas que esconde uma desigualdade econômica que as lentes do fotógrafo Helio Silva mostram cm muita comoção. Rodado 100% em locações reais, o filme apresenta um contraste entre o Rio turístico, das paisagens lindas de exportação, e do Rio da periferia, das favelas, do submundo. "Rio 40 graus" é considerado o filme seminal para a criação do Movimento do Cinema novo que aconteceria anos depois, apresentando um retrato nu e cru do Brasil, dentro das alegorias, e falando de política, do brasileiro marginalizado, da corrupção da elite, da opressão do homem do povo. Nelson Pereira era filiado do Partido comunista, e quiz fazer um filme do ponto de vista do favelado. O filme foi censurado pelo Governo, que na falta de um argumento melhor para poder proibir o filme, disse que "o filme apresenta uma mentira para a população, pois no Rio o máximo de temperatura registrada era de 39,6 o". O filme também foi acusado de divulgar idéias comunistas. Com a pressão dos intelectuais, o filme acabou sendo liberado. A trama é dividida em diversos sub-plots, mas todos derivados de um grupo de 5 meninos negros que moram em uma comunidade: eles saem de seus barracos para vender amendoim na rua e assim, ganhar dinheiro para comprar uma bola de futebol. O filme acompanha cada uma das crianças, e também, as histórias das pessoas com quem essas crianças interagem. O filme critica a política, o futebol, os estrangeiros turistas e na época ( hoje seria praticamente impossível), filmou em vários cartões postais da cidade: Praia de Copacabana, Pão de açúcar, Museu Histórico Nacional ( que pegou fogo em 2018) , Maracanã. Como herdeiro do neo-realismo, o filme mescla atores profissionais com não-atores, e isso fica claro em diversas cenas a diferença de qualidade de performance. Mas dado a natureza do projeto, que é a de mostrar com o máximo de realidade a rotina das pessoas reais da cidade, esse fato acaba sendo deixado em segundo plano. Várias cenas antológicas: a do menino no Zoológico, sorridente, olhando a paisagem; a cena final, que vai do festejo para a imagem da mulher na janela, esperando o retorno do filho. Obrigatório.

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